OS ESTUDOS BRASILEIROS SOBRE AS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS
Dentre
os autores brasileiros que têm desenvolvido estudos e pesquisas sobre as
tendências pedagógicas e a construção do pensamento educacional nacional,
podemos destacar Candau (1994); Fazenda (1998); Freire (1987; 1996); Pimenta
(1999; 2000; 2002) e Libâneo (1990; 1994). Ao longo do texto, poderemos
identificar claramente os pressupostos apresentados nos temas anteriores deste
livro (pedagogias de base psicológica renovadas, pedagogias de bases
neurológicas e outras), nas tendências estudadas por Libâneo e os outros
autores brasileiros. Segundo Libâneo (1994), a prática educativa é o objeto
central do estudo da Didática, e para que essa prática ocorra, são necessários
alguns meios, e um deles é a aula que pode ser desenvolvida de diversas
maneiras, dependendo da tendência pedagógica adotada pelo professor que
lecionará essa aula.
A
adoção de uma determinada tendência ou de outra depende, segundo o autor,
diretamente, dos “condicionantes sociopolíticos que configuram diferentes
concepções de homem e de sociedade e, consequentemente, diferentes pressupostos
sobre o papel da escola, da aprendizagem, da relação professor-aluno, das
técnicas pedagógicas etc.” (LIBÂNEO,
1994, p. 19).
Os autores, em geral, concordam entre si e classificam as tendências pedagógicas em dois grupos: as de cunho liberal e as de cunho progressista.
PEDAGOGIA LIBERAL |
PEDAGOGIA PROGRESSISTA |
1 –
Tradicional |
1 –
Libertadora |
2–Renovada progressivista |
2 –
Libertária |
3 –Renovada não-diretiva |
3 – Crítico
– social dos conteúdos |
4 –
Tecnicista |
|
Quadro
1 – Tendências Pedagógicas Fonte: LIBÂNEO, J. C. – Didática, São Paulo: Cortez, 1994.
Caracterizemos
cada uma dessas tendências e, no fim, teremos um quadro elaborado, com esta
caracterização: papel da escola, conteúdos de ensino, métodos de ensino,
relação professor-alunos e pressupostos da aprendizagem, evidenciando o estudo
feito por Libâneo (1994) sobre o tema.
PEDAGOGIA LIBERAL –
Primeiramente, precisamos pensar o que significa a palavra liberal neste contexto. Segundo LIBÂNEO (1994, p. 21):
“o termo liberal não tem o
sentido de ‘avançado’, ‘democrático’, ‘aberto’, como costuma ser usado. A
doutrina liberal apareceu como justificação do sistema capitalista que, ao
defender a predominância da liberdade e dos interesses individuais na
sociedade, estabeleceu uma forma de organização social baseada na propriedade
privada dos meios de produção, também denominada sociedade de classes”.
Portanto,
nos últimos 60 anos, os professores têm adotado essa pedagogia, ora adotando um
caráter mais conservador, ora um mais renovado, mas sempre tendo como objetivo
preparar os alunos para desempenhar papéis sociais de acordo com as suas
aptidões individuais. Para isso, segundo Libâneo (1994) os indivíduos precisam aprender a adaptar-se aos valores e às normas
vigentes na sociedade de classes.
Pedagogia Liberal Tradicional
A Pedagogia Tradicional teve sua
vigência do período que vai dos “jesuítas até os anos que precedem o lançamento
do Movimento dos Pioneiros da Educação Nova” (LIBÂNEO, 2000, p. 87). Mas
sabemos que essa tendência continua prevalecendo na prática educativa atual. É
caracterizada por ser centrada na figura do professor, que, geralmente, se
utiliza da oralidade para transmitir seus conhecimentos aos alunos, que devem
prestar a máxima atenção às palavras daquele para aprender. Nessa tendência,
acredita-se que o aluno aprende por ouvir o professor, visualizar os objetos,
os mapas, as gravuras e por realizar exercícios repetitivos: lembram quando o
professor pedia para fazermos cinco vezes cada cópia? Ou cem vezes a tabuada?
Pois é, assim pensavam que aprenderíamos mais rapidamente. C om isso,
objetiva-se “formar um aluno ideal, desvinculado de sua realidade concreta”,
como diz o autor (1994, p.64).
O objetivo inicial dessa
pedagogia, que era o de formação geral do indivíduo, fica hoje
descaracterizado, com um ensino meramente decorado, sem sentido, reduzido à
simples memorização de conteúdos desconexos da realidade do aluno.
Pedagogia Liberal Renovada Progressivista
Essa
pedagogia está baseada na teoria de John Dewey, autor que acreditava na ideia
da relação entre a teoria e a prática, e na crença de que o conhecimento é
construído quando compartilhamos experiências, num ambiente democrático.
Portanto o objetivo dessa
pedagogia é formar o indivíduo para atuar no meio, por isso deve-se “adequar as
necessidades individuais ao meio social” (LIBÂNEO, 1992, p. 85), e por isso
também, a escola deve fornecer ao aluno a oportunidade de experienciar, para
que satisfaça os interesses deste e as exigências sociais.
Tendência Liberal Renovada não-Diretiva:
A escola, nessa tendência, tem
o papel de formar atitudes; para tanto, o professor deve ser um facilitador,
como diz Carl Rogers, principal teórico que aborda essa tendência. Para este
autor, o professor deve aceitar a pessoa do aluno, fazendo que este se
autodesenvolva a partir da busca daquilo que é de seu interesse, adequando sua
pessoa àquilo que o ambiente solicita. Como diz Libâneo (1992, p. 27), “O
resultado de uma boa educação [na tendência não-diretiva] é muito semelhante ao
de uma boa terapia”.
Tendência Liberal Tecnicista
Como o
próprio nome sugere, essa tendência está baseada na técnica. A preocupação é
com a formação de indivíduos para atuar no mercado de trabalho, mantendo a
ordem vigente, o capitalismo.
Está embasada, teoricamente,
pela análise comportamental, que tem como teórico principal B. F. Skinner, o
que garante a objetividade da prática escolar. O objetivo é transmitir ao aluno
“eficientemente informações precisas, objetivas e rápidas” (LIBÂNEO, 1994, p.
29). Há alguns exemplos de escolas que se utilizam desta tendência, escolas que
oferecem cursos apostilados de digitação, programação, cursos de aprendizagem
em instituições como S ENAC e S ENAI.
PEDAGOGIA PROGRESSISTA
De acordo com Libâneo (1992,
p. 32), “o termo ‘progressista’ [...] é usado aqui para designar as tendências
que, partindo de uma análise crítica das realidades sociais, sustentam
implicitamente as finalidades sociopolíticas da educação”. Por isso, essas são
tendências que analisam, criticam e discutem os aspectos sociopolíticos e
econômicos da sociedade, realidade em que vivemos. Fato que leva essas
tendências a serem utilizadas mais na educação informal do que na formal.
Tendência Progressista Libertadora
Essa
tendência é mais conhecida como Pedagogia Paulo Freire e está mais presente em
situações não-formais de ensino, apesar de, como diz Libâneo (1994, p. 33)
“professores e educadores engajados no ensino escolar vêm adotando pressupostos
desta pedagogia”.
É uma educação crítica porque
tenta entender as relações do homem com a natureza e dos homens entre si, para
que haja o entendimento e a apreensão da realidade para, posteriormente, poder
interferir-se no processo de transformação desta mesma realidade; portanto essa
pedagogia tem um caráter político intenso.
Tendência Progressista Libertária
Tendência Progressista Crítico-Social dos Conteúdos
O
objetivo primordial dessa tendência é a difusão de conteúdos, mas não qualquer
conteúdo, e sim de um conteúdo contextualizado, um conteúdo que não pode
dissociar-se da realidade social, porque a escola é parte integrante da
sociedade, portanto “agir dentro dela é também agir no rumo da transformação”
(LIBÂNEO, 1992, p.39), ou seja, esta escola irá formar adultos que se
apropriarem de conteúdos contextualizados, por meio do professor e de sua
própria participação, para atuar na realidade social em que vivem.
Tendências Pedagógicas Pós-LDB
Após a Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional, revaloriza-se as ideias de Piaget, Vygotsky e
Wallon. Um dos pontos em comum entre esses psicólogos é o fato de serem
interacionistas, porque concebem o conhecimento como resultado da ação que se
passa entre o sujeito e um objeto. De acordo com Aranha (1998), o conhecimento
não está, então no sujeito, como queriam os inatistas, nem no objeto, como
diziam os empiristas, mas resulta da interação entre ambas.