quarta-feira, 1 de janeiro de 2025

A EUROPA EM CRISE

Na Europa, milhares de manifestantes saíram às ruas nas cidades de Bruxelas, Madrid, Barcelona, Roma e Londres para protestar contra a crise econômica iniciada nos Estados Unidos em 2008. Por causa dessa crise, muitos países europeus, como Grécia, Portugal e Itália, ficaram com excessivas taxas de endividamento ou, como a Irlanda, com bancos em situação precária. O crescimento da economia desses países ficou em níveis mínimos, com cortes de gastos públicos e ameaças de calote de dívidas públicas. No entanto, a principal consequência da crise de 2008 na Europa foram o desemprego e sérios problemas sociais. Em 2017, autoridades da União Europeia anunciaram que julgavam superada aquela que consideraram ter sido a pior crise financeira vivida desde o período pós-Segunda Guerra Mundial. As economias tinham voltado a crescer e o desemprego havia diminuído na maioria dos países europeus. Contudo, em 2020, a economia dos países europeus foi afetada pelos impactos da pandemia de covid-19. Após mais de dois anos de restrições, a aplicação em massa de vacinas possibilitou a redução dos índices de mortalidade e uma tímida retomada econômica.

O BREXIT

Além da crise econômica, outra importante questão enfrentada pela União Europeia foi a decisão do Reino Unido de sair do bloco político-econômico, aprovada em plebiscito pela maioria da população britânica em 2016. Em 2020, iniciou-se o processo transitório de saída do Reino Unido da União Europeia, que foi concluído oficialmente no início do ano seguinte. A resolução enfraqueceu politicamente a União Europeia, e muitos políticos e estudiosos argumentaram que o maior perdedor em longo prazo, do ponto de vista econômico, será o próprio Reino Unido.

A GUERRA NA UCRÂNIA

A tensão entre a Rússia e a Ucrânia vinha crescendo desde a anexação da Crimeia pelos russos em 2014. Incentivados pelo governo russo, grupos separatistas ucranianos se insurgiram até tomar o poder das cidades Donetsk e Luhansk. Nas eleições de 2019, na Ucrânia, Volodymyr Zelensky saiu vitorioso com uma plataforma de não alinhamento ao Kremlin, o que ampliou as tensões entre os dois países. Em 2021, a diplomacia ucraniana dava sinais de aproximação com a Organização do Tratado Atlântico Norte (Otan). Para Vladimir Putin, essa possível aproximação foi tida como um avanço do Ocidente à sua suposta zona de influência. Diante disso, o presidente russo ordenou o deslocamento de suas tropas para as fronteiras da Ucrânia. Apesar de o presidente francês Emmanuel Macron e o chanceler alemão Olaf Scholzs se encontrarem com Putin em Moscou, todos os esforços diplomáticos desses países não foram suficientes para garantir a paz no Leste Europeu e a Rússia invadiu a Ucrânia, cercando e bombardeando em poucos dias as principais cidades ucranianas.

O 11 DE SETEMBRO DE 2001

Em 1979, durante a Guerra Fria, a União Soviética invadiu o Afeganistão, na Ásia, para garantir que o governo socialista que tinha se instalado naquele país no ano anterior se mantivesse no poder. Em resposta, os Estados Unidos ofereceram armas e treinamento aos guerrilheiros que se opunham à União Soviética. Entre esses guerrilheiros, acredita-se, estava Osama bin Laden, líder islâmico que comandava uma organização paramilitar. Dez anos após a invasão, a União Soviética se retirou do Afeganistão, e diferentes grupos armados passaram a disputar o poder. Depois de uma sangrenta guerra civil, em 1996, o governo afegão foi controlado pelo grupo fundamentalista islâmico Talibã, que estabeleceu uma ditadura teocrática e antiocidental. Ao mesmo tempo, consolidava-se a organização terrorista Al Qaeda, chefiada por Bin Laden, que tinha o objetivo, em nível global, de combater a influência da cultura ocidental sobre os países islâmicos. No dia 11 de setembro de 2001, as torres gêmeas do World Trade Center (símbolos do poder econômico estadunidense), em Nova York, e o Pentágono (símbolo do poder militar estadunidense), em Washington D.C., foram atingidos por três aviões sequestrados por membros da Al Qaeda naquele dia. Os ataques deixaram quase 3 mil mortos e a nação em choque.

OS ESTADOS UNIDOS APÓS OS ATAQUES

Após os ataques de 11 de setembro, o governo do então presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, aprovou leis que, entre outras medidas, permitiam aos Estados Unidos atacar outros países sob a justificativa de combater o terrorismo. Essa política ficou conhecida como Doutrina Bush. Em outubro de 2001, as forças militares dos Estados Unidos e de seus aliados iniciaram um ataque ao Afeganistão, com o objetivo de prender Bin Laden, eliminar a Al Qaeda e depor o governo do Talibã. O passo seguinte, em março de 2003, foi invadir o Iraque, governado por Saddam Hussein, alegando que o país dispunha de armas de destruição em massa e que estaria compactuando com os terroristas. Embora essas armas nunca tenham sido encontradas e a ligação do governo iraquiano com a Al Qaeda não tenha sido comprovada, a invasão militar do Iraque durou cerca de quarenta dias e matou mais de 100 mil civis.

Em 2004, George W. Bush reelegeu-se, apesar do grande descontentamento popular com os efeitos da Doutrina Bush, principalmente as mortes de soldados estadunidenses no Afe ganistão e as acusações de violações dos direitos humanos nas prisões de acusados de terrorismo. Ao longo de seu segundo governo, essa insatisfação se agravou, devido a uma profunda crise econômica que atingiu seu ápice em 2008, poucos meses antes da eleição presidencial daquele ano. A principal razão da crise foi a falta de regulamentação das atividades bancárias, o que permitiu que os bancos dos Estados Unidos emprestassem dinheiro a quem não podia pagar, criando lucros inexistentes.

A impopularidade de Bush ajudou o candidato de oposição a seu governo, o democrata Barack Obama, a se eleger em 2008. Obama tinha o compromisso de mudar as políticas públicas no país com algumas medidas: retirar as tropas estadunidenses do Oriente Médio, controlar o sistema financeiro, proteger o em - prego e a renda dos trabalhadores e criar um sistema público de saúde eficiente. Nem todos os compromissos firmados na cam - panha foram cumpridos por Obama, mas, mesmo assim, ele foi reeleito em 2012.

Em 2016, a empresário Donald Trump, do Partido Re publicano, venceu as eleições presidenciais. No governo, Trump estabeleceu medidas para reverter a reforma no sistema de saúde promovida no governo Obama e diminuir os fluxos de importação e adotou maior rigidez no controle das fronteiras. A controversa política adotada por Trump para conter os impactos da pandemia de covid-19 levou à redução de sua popularidade. Nas eleições de 2020, Trump foi derrotado pelo ex-vice-presidente Joe Biden, que assumiu o governo no ano seguinte.

O Brasil no cenário da globalização

A globalização levou a uma nova realidade econômica, vinculada às ofertas e às demandas internacionais. Os Estados nacionais tiveram de promover regulações internas para que não fossem deixados de lado nessas articulações globais. Nesse sentido, o Brasil precisou repensar sua política externa. Durante a ditadura militar, os esforços brasileiros estiveram focados no desenvolvimento nacional. No entanto, desde a redemocratização e, sobretudo, a partir dos anos 1990, a situação alterou-se profundamente. O Ministério das Relações Exteriores (ou Itamaraty) e a presidência da República passaram a refletir sobre o lugar do Brasil no mundo globalizado.
Com o fim da ditadura, como você já sabe, uma Assembleia Nacional Constituinte foi instalada no Congresso Nacional, em Brasília, no dia 1o de fevereiro de 1987. A nova Constituição foi promulgada em setembro de 1988. Todo o processo de redemocratização no Brasil, assim como a elaboração da Constituição Federal de 1988, também chamada de “Constituição Cidadã”, foi marcado por muita esperança: o desejo dos cidadãos e cidadãs brasileiros, naquele momento, era o de vivenciar a democracia. No entanto, podemos considerar que a redemocratização no país é até o momento um processo em construção. O Brasil, mantendo um regime democrático há mais de três décadas, enfrenta alguns desafios no aperfeiçoamento de suas instituições e na ampliação dos direitos sociais e da cidadania plena a toda a população. 
No início do século XXI, o país alcançou avanços importantes, com a diminuição das desigualdades, com a ampliação do acesso a diversos direitos por grupos sociais marginalizados, como indígenas, negros, mulheres, homossexuais, camponeses e pobres. No entanto, muitas das conquistas de direitos sociais e avanços econômicos entraram em uma fase de retração após a crise que se iniciou no país com a pandemia da covid-19, com o recente aumento da pobreza, do desemprego e das desigualdades. Atualmente, ainda são grandes os desafios para o amplo desenvolvimento humano, econômico e social no Brasil.

AS POLÍTICAS ECONÔMICAS NA AMÉRICA LATINA

O conceito América Latina é usado para fazer referência à quase totalidade dos países da América do Sul e da América Central, além do México, na América do Norte. Entre os países da América Latina estão Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai, Peru, Colômbia e Cuba.
Em novembro de 1989, foi realizada na cidade de Washington uma reunião convocada por algumas instituições financeiras, como o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial e o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos da América, com o objetivo de definir um conjunto de medidas econômicas voltado aos países em desenvolvimento, colocando em prática os princípios das políticas neoliberais. Esse evento ficou conhecido como o Consenso de Washington. Durante a década de 1990, a política oficial do FMI para os países em desenvolvimento baseou-se nesse consenso neoliberal. A instituição só realizava empréstimos para os países que seguissem suas recomendações. O Chile foi o país pioneiro na implementação de uma política neo liberal, ainda durante o regime militar de Augusto Pinochet. No entanto, a reunião realizada em Washington visava discutir e promover esses princípios também em outros países da América Latina, como Argentina, Brasil, México, Peru, Venezuela, Bolívia e Colômbia.
Com o início do processo de globalização, na década de 1990, se de um lado ocorreu um aumento da integração entre os países, de outro ocorreu a dependência econômica entre eles.
Nesse contexto, ocorreu a formação de blocos econômicos e acordos de comércio entre diferentes regiões do mundo. No continente americano, os principais blocos formados foram o Mercado Comum do Sul (Mercosul), estabelecido entre Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai em 1991, e o North Free Trade Agreement (Nafta), assinado entre Estados Unidos, Canadá e México, em 1994.
Com o Nafta, intensificou-se a exploração da força de trabalho dos mexicanos pelos estadunidenses por meio da maquila, um regime industrial no qual fábricas dos EUA são instaladas na fronteira com o México com o objetivo de não pagar impostos e obter mão de obra barata. Essas fábricas, chamadas de maquiladoras, já existiam desde a década de 1960, mas se espalharam pelo México com o processo e globalização.

O Mercosul 

O Mercado Comum do Sul (Mercosul) é considerado por especialistas latino- -americanos um importante meio de fortalecimento econômico dos países signatários, entre eles, Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai. Para que o Mercosul se consolide de fato como um bloco econômico forte, os especialistas apontam que os líderes desses países precisam agir em prol da efetiva integração e cooperação entre eles. Essa integração seria favorável para que o Mercosul pudesse negociar melhores condições comerciais diante das maiores economias mundiais, como os Estados Unidos, a China e alguns países europeus.

Políticas neoliberais na América Latina 

Na América Latina, o marco fundador do neoliberalismo foram as políticas implementadas pelo governo do ditador Augusto Pinochet, no Chile, entre 1973 e 1990. Em 1981, por exemplo, o Chile foi o primeiro país do mundo a privatizar a previdência. Com isso, cada trabalhador passou a destinar parte do salário para uma caderneta de poupança. No Brasil, a adoção das políticas neoliberais teve início posteriormente, com o governo de Fernando Collor de Mello, em 1990. 
Na Argentina, as políticas neoliberais foram implantadas principalmente no governo de Carlos Menem, entre 1989 e 1999. Esse governo privatizou estatais, enxugou o quadro de funcionários públicos e reduziu gastos em praticamente todos os setores sociais, como o da educação. Apesar de reduzir a inflação e valorizar a moeda em relação ao dólar, as políticas neoliberais no país causaram empobrecimento da população e concentração de renda. 
Em 1974, os mais ricos concentravam 43,7% da renda do país e, em 1998, 53,2%. O neoliberalismo provocou efeitos diversos na América Latina. Analisemos o caso brasileiro como exemplo: expandiu-se o consumo, principalmente de artigos importados, mas em contrapartida o país se tornou cada vez mais dependente da exportação de matérias-primas – as chamadas commodities – em razão da desvalorização da indústria nacional.
O controle fiscal, a abertura econômica e comercial para o capital estrangeiro e a adoção de uma economia de mercado são princípios centrais na experiência neoliberal na América Latina. A privatização de empresas estatais de infraestrutura, de telecomunicações e de mineração foi amplamente instituída no período. No Brasil, por exemplo, foram aplicadas medidas neoliberais com a privatização da empresa Telebrás, responsável pelas telecomunicações brasileiras, e da mineradora Companhia Vale do Rio Doce. O governo argentino de Carlos Menem vendeu cerca de quatrocentas empresas, incluindo a petrolífera Yacimientos Petrolíferos Fiscales (YPF). Na Bolívia, companhias elétricas, ferrovias e empresas de abastecimento de água foram privatizadas. Já no México, ocorreram privatizações de bancos, redes de televisão e serviços como portos e estradas.

O impacto das políticas neoliberais foi enorme em todos esses países latino-americanos. Na Argentina, por exemplo, elas levaram a uma crise econômica que culminou na queda do presidente Fernando de la Rúa, em 2002. Como as proteções sociais nesses países eram frágeis, os índices de desemprego aumentaram e a precarização do trabalho se tornou regra. O desemprego também acirrou a concorrência por vagas e a busca de produtividade, excluindo os cidadãos acostumados com o trabalho assalariado formal.

O impacto das políticas neoliberais foi enorme em todos esses países latino-americanos. Na Argentina, por exemplo, elas levaram a uma crise econômica que culminou na queda do presidente Fernando de la Rúa, em 2002. Como as proteções sociais nesses países eram frágeis, os índices de desemprego aumentaram e a precarização do trabalho se tornou regra. O desemprego também acirrou a concorrência por vagas e a busca de produtividade, excluindo os cidadãos acostumados com o trabalho assalariado formal.


A FORMAÇÃO DOS BLOCOS ECONÔMICOS

Os blocos econômicos foram formados para enfrentar o poder econômico conquistado com a globalização pelos países mais ricos. Na Europa, formou-se a União Europeia (UE), um bloco econômico e político que tem suas origens na Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (Ceca) e na Comunidade Econômica Europeia (CEE). A União Europeia foi instituída com este nome em 1993. Dentro da UE, a circulação de pessoas, de bens, de serviços e de capitais dos 28 países-membros é facilitada. Em 2016, o Reino Unido, por divergir em questões relacionadas com a imigração, a segurança e a economia, iniciou o processo de saída do bloco. Os países em desenvolvimento também se organizaram em blocos, como o Mercado Comum do Sul (Mercosul) e a Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC). O Mercosul foi criado em 1991 com o objetivo de integrar política, econômica e socialmente seus países-membros. Já a SADC foi criada em 1992 para promover a união comercial e a cooperação econômica.

BRICS Em 2001, sob a configuração da Nova Ordem Mundial, o economista inglês Jim O’Neill criou a sigla Bric para se referir aos quatro países que, segundo se previa na época, apresentariam as maiores taxas de crescimento econômico do planeta nas primeiras décadas do século XXI: Brasil, Rússia, Índia e China. Em 2006, esses países formaram uma associação política e comercial, a fim de aumentar seu espaço de atuação e seu papel econômico em escala global. Com a inclusão da África do Sul no grupo, em 2011, a sigla passou a ser Brics – o “s” vem de South Africa, o nome oficial da África do Sul em inglês. Os países que compõem o Brics apresentam algumas características em comum, como um mercado consumidor em crescimento, mão de obra disponível e com possibilidade de maior qualificação, recursos naturais em abundância, capacidade de atrair investimentos externos, crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e elevação dos níveis do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Reunidas essas condições, e salvaguardadas as diferenças culturais, para Jim O’Neill, o conjunto garantiria aumentos recordes de crescimento econômico. Nos últimos anos, esses países, com exceção da África do Sul, apresentaram índices de crescimento substanciais. No entanto, em 2016, apesar de a Índia ter mantido seu crescimento, a Rússia, o Brasil, a África do Sul e a China registraram desaceleração de suas economias. A importância internacional do Brics representa uma grande modificação da influência dos países-membros nas decisões globais, que, até então, limitava-se às potências, como Estados Unidos, Alemanha, Reino Unido, França, Itália, Japão e Canadá.

O Brics tem buscado formas de solucionar problemas gerados pelos subsídios que muitos governos dos países ricos concedem a seus próprios produtores. Para isso, criaram um banco de reservas financeiras destinado a socorrer os países-membros do bloco em dificuldade econômica. Nesse pacto, também existe o cooperativismo nas relações entre os países, com ajuda científica, acadêmica, cultural, etc. Ao instituir um polo alternativo de poder, o Brics espera criar soluções para a distorção do sistema econômico, que enriquece os países mais ricos e mantém os pobres na miséria.

A DIVISÃO MUNDIAL DO TRABALHO E DA RIQUEZA

A partir da década de 1970, as empresas multinacionais expandiram suas áreas de atuação ao negociar diretamente com os governos dos países nos quais instalavam suas filiais, aproveitando oportunidades de investimentos, ou seja, em troca dos empregos que seriam gerados pelas novas filiais, que obtinham benefícios fiscais. No entanto, esse processo causou – e ainda causa – diversos problemas aos países que acolhem tais multinacionais. Isso porque, cada vez mais, elas buscam benefícios próprios, desconsiderando as implicações econômicas, sociais e ambientais que a instalação de suas filiais gera nos países em que atuam.

A ESPECULAÇÃO

A facilidade de movimentar altas somas de dinheiro em poucas horas e entre diversos países possibilitou aos investidores percorrer o mundo em busca de maiores lucros. Os mercados mais atraentes, mesmo os de países pobres, recebiam muito dinheiro enquanto oferecessem grandes lucros. Porém, a qualquer sinal de ameaça de queda na lucratividade, os investidores transferiam o dinheiro para mercados mais seguros, causando crises e falências nos países que abandonavam. Essa grande quantidade de dinheiro que circula em diferentes países à procura de lucro imediato é chamada de capital especulativo.

Os críticos da política neoliberal apontam para o fato de ela não ter realmente promovido um aumento dos investimentos. Eles argumentam que o fim da regulamentação financeira – ou seja, da participação do Estado em alguns setores – estimulou a especulação, o que favoreceu apenas o enriquecimento de grandes instituições financeiras. Como resultado, ocorreu o avanço do desemprego e da pobreza, agravado pela redução dos gastos públicos com políticas sociais.

A adoção de políticas neoliberais, principalmente por países pobres, tem provocado o enriquecimento de alguns setores empresariais, ao mesmo tempo que tem aumentado a desigualdade e a exclusão social das camadas mais carentes da população.

A DITADURA MILITAR NO PERU

Em 3 de outubro de 1968, o general Juan Velasco Alvarado liderou os militares na derrubada do então presidente Fernando Belaúnde Terry, com o pretexto de expropriar as empresas petroleiras estadunidenses que operavam no Peru. Um dos primeiros atos do novo governo peruano foi nacionalizar a International Petroleum Company (Companhia Internacional de Petróleo), que detinha os direitos de exploração no país. Com base em um discurso nacionalista e contrário à influência dos Estados Unidos na América Latina, Alvarado iniciou uma reforma agrária que garantiu o acesso da população rural a pequenos lotes de terra. Esse processo esteve relacionado a um movimento iniciado em 1963 e que tinha por lema os dizeres: “Tierra o muerte!” (Terra ou morte!). Na ocasião, mais de 300 mil trabalhadores rurais mobilizaram-se para ocupar fazendas improdutivas. Ainda que o regime peruano fosse considerado progressista em comparação aos de outros países da região, ele também restringiu a liberdade de imprensa, fazendo uso da censura, derrubou parlamentares democraticamente eleitos e militarizou todos os aspectos da política nacional.

A partir de 1975, com o governo do general Morales Bermúdez, iniciou-se um processo de abertura política democrática. A influência do regime militar na economia começou a perder força e as medidas reformistas iniciadas na década anterior chegaram ao fim.

A ditadura no Uruguai

O regime militar uruguaio teve início no mesmo ano em que a ditadura chilena. Os militares declaravam que o regime era “cívico-militar” por ter sido iniciado com o presidente eleito Juan María Bordaberry Arocena. Ainda que tenha chegado à presidência pelo voto, em 1973, Bordaberry agiu como ditador: dissolveu o Senado e a Câmara dos Deputados do país, suspendeu a Constituição e extinguiu os partidos políticos existentes. Para substituir os poderes parlamentares, foi criado o Conselho da Nação, órgão formado pela classe judiciária, por ex-presidentes do país e por membros das Forças Armadas. Não era, porém, uma instituição eleita. Os escolhidos para participar eram sempre indicados por pessoas que já compunham o conselho.

Em 1976, Bordaberry propôs algumas alterações na organização do governo que não foram aceitas pelos militares. Isso levou à sua substituição pelo vice-presidente, Alberto Demicheli, e, mais tarde, por Aparicio Méndez Manfredini. Já na década de 1980, os militares organizaram um plebiscito popular para discutir mudanças na Constituição. Foi alto o índice de recusa da população a essas mudanças, o que demonstrava uma demanda pela abertura democrática no país.

As eleições diretas foram convocadas em 1984 e vencidas pelo Partido Colorado. Em 1985, formou-se um novo parlamento. No ano seguinte, foi promulgada a Lei da Caducidade, segundo a qual os crimes cometidos por militares não poderiam ser punidos. Essa lei permaneceu vigente até 2011, quando o parlamento a revogou por considerar que os crimes eram contra a humanidade. Muitos uruguaios foram perseguidos e assassinados pelo governo também em territórios estrangeiros, o que aponta para uma ação repressiva conjunta entre as ditaduras do continente. Tais crimes são investigados até os dias atuais.

A ditadura no Chile

Em 1970, os chilenos elegeram o socialista Salvador Allende como presidente da República. Ao assumir, Allende avançou com a reforma agrária e nacionalizou empresas para realizar a transição ao socialismo, o que desagradou os Estados Unidos, as companhias estrangeiras e os grupos conservadores. Outro grande obstáculo enfrentado pelo governo foi uma grave crise de falta de alimentos em 1972, decorrente da queda da produção agrícola e do boicote de grupos econômicos. O governo chileno era cobrado tanto pela classe média como por empresários ligados ao capital internacional.

Os militares, apoiando esses grupos e por considerarem perigosas as posições socialistas de Allende, organizaram um golpe para retirá-lo do poder. O golpe teve desfecho em 11 de setembro de 1973. Allende assistiu às Forças Armadas do país incendiarem o palácio presidencial de La Moneda, onde estava entrincheirado. Resistiu a se entregar e acabou suicidando-se. A ditadura que se seguiu foi comandada pelo general Augusto Pinochet, que ficou no poder durante 17 anos. As atividades políticas e sindicais e a liberdade de imprensa foram banidas. A repressão foi intensa, capitaneada pela Diretoria de Inteligência Nacional (Dina), responsável pela tortura e morte de milhares de chilenos.

Em 1988, devido a pressões internas e da comunidade internacional, Pinochet convocou um plebiscito para decidir se deveria, ou não, continuar no poder até 1997. Como a decisão foi por seu afastamento, ele deixou a presidência em 1990, e o Chile voltou a viver sob o regime democrático.

A DITADURA ARGENTINA

A crise econômica interna na Argentina em 1975 e a ação de grupos guerrilheiros serviram como pretexto para um golpe militar nesse país. Em 24 de março de 1976, uma junta militar depôs a então presidente Isabelita Perón e dissolveu o Congresso, dando início a uma violenta ditadura.

As manifestações populares e as greves foram proibidas, e adotou-se uma rígida censura aos meios de comunicação. A repressão foi violenta, com torturas, assassinatos e desaparecimentos de pessoas que se opunham ao regime. Os corpos das vítimas eram destruídos ou levados a lugares em que não pudessem ser encontrados. Sem vestígios, essas pessoas foram consideradas desaparecidas pelas autoridades. Estima-se que cerca de 30 mil cidadãos tenham sido vitimados durante o período ditatorial na Argentina.

Uma das mais marcantes reações contra o regime veio das Mães da Praça de Maio, mulheres que se encontravam semanalmente em frente à sede do governo para exigir explicações sobre o paradeiro de seus filhos desaparecidos. Ainda hoje essas mulheres se encontram nesse local para protestar.

A ditadura argentina só chegou ao fim em 1983. Uma crise militar, econômica e política e a militância de grupos contrários à ditadura, além da pressão internacional, levaram à convocação de eleição presidencial e ao retorno da democracia.

Um dos fatores que levaram à crise militar foi a guerra contra o Reino Unido provocada pelo governo argentino para recuperar o domínio das ilhas Malvinas (chamadas pelos ingleses de Falkland), localizadas ao sul da Argentina. A propaganda oficial fazia crer que os argentinos venceriam a disputa, mas, após dois meses, o resultado foi uma humilhante derrota, pois o Exército argentino estava despreparado e mal equipado.

DOUTRINA DE SEGURANÇA NACIONAL E OPERAÇÃO CONDOR

Durante a Guerra Fria, os Estados Unidos apoiavam, abertamente ou não, grupos que defendessem a manutenção da ordem conservadora nos países latino-americanos. Para isso, firmavam convênios para o treinamento de militares latino-americanos em instituições estadunidenses. A União Soviética, por sua vez, formava e financiava grupos guerrilheiros opositores aos regimes locais. Nesse contexto, nos anos 1950, desenvolveu-se entre os militares latino-americanos a Doutrina de Segurança Nacional, segundo a qual a integridade territorial e a da população estariam ameaçadas por ações anticapitalistas. Assim, a defesa da liberdade, da segurança e da ordem justificaria os golpes militares e a instituição de ditaduras. 
A partir dos anos 1960, para combater os movimentos que lutavam contra os regimes militares, estabeleceu-se uma aliança político-militar entre os governos conservadores do Brasil, da Argentina, do Chile, da Bolívia, do Paraguai e do Uruguai que foi chamada de Operação Condor. Os militares ligados à repressão nesses países agiam em conjunto e foram responsáveis por milhares de mortes e casos de tortura de pessoas. A operação só foi desmontada a partir dos anos 1980.

A PRIMAVERA ÁRABE


Causas 

Mudanças sociais não são promovidas de um momento para outro, muito menos pela ação isolada de um indivíduo. A Primavera Árabe foi um conjunto de manifestações populares que questionaram a falta de liberdade nos países do norte da África e do Oriente Médio no fim de 2010 e ao longo de 2011. A luta era por mais democracia, ou seja, a participação do povo no governo, pelo fim da corrupção, por melhores condições de vida e por mais empregos. Essas características eram comuns aos países onde ocorreram as manifestações.
Aspectos econômicos, políticos e sociais comuns dos países onde ocorreram manifestações podem ser associados às causas da Primavera Árabe. A pouca oferta de vagas de trabalho gerou inquietação nos jovens, que marcaram presença nas manifestações. Além disso, os países envolvidos eram governados por ditadores, em alguns casos com mais de 40 anos no poder. Os jovens queriam conquistar liberdades individuais, mudar o cenário político e influenciar na escolha dos governantes, na expectativa de que essas medidas melhorassem as condições de vida. A elevada desigualdade social é outro aspecto comum aos países que registraram protestos. A concentração da riqueza nas mãos de poucas famílias da elite gerou uma situação que poderia explodir a qualquer momento. Um dos destaques das manifestações populares na Primavera Árabe foi o uso das redes sociais. Em países autoritários, nos quais a organização popular e as manifestações públicas críticas ao governo são proibidas, as redes sociais podem ser uma alternativa para veicular mensagens de cunho político e, com isso, conseguir adeptos para determinada causa.


Tunísia: a Revolução de Jasmim 


País de colonização francesa, que se tornou independente em 1956, a Tunísia era governada, em 2010, por Zine El Abidine Ben Ali (1936-) desde 1987. O ditador criou um sistema no qual foi reeleito cinco vezes. A família de Ben Ali comandava os negócios de setores estratégicos do país, como o turismo, que nos últimos anos foi uma aposta do governo. Entretanto, oferecer suas belezas naturais e seu patrimônio histórico à visita de turistas como forma de gerar riqueza causou desconforto entre a população. Muita gente começou a questionar essas ações, dando origem a mais uma fonte de insatisfação contra o governo de Ben Ali, que também era acusado de ser antidemocrático e corrupto. Em 18 de dezembro de 2010, um jovem chamado Mohamed Buazizi ateou fogo ao próprio corpo como forma de protesto contra a corrupção policial. Buazizi tinha uma barraca de frutas, que foi confiscada pela polícia porque o jovem se recusou a pagar propina. A ação do jovem foi o estopim para que começasse uma onda de protestos pelo país.
O povo se reuniu em diversas situações nas ruas, com presença maciça dos jovens, até que, em 14 de janeiro de 2011, Ben Ali fugiu da Tunísia para a Arábia Saudita. Os vários enfrentamentos com a polícia do governo deram resultado positivo para os manifestantes. Como as manifestações foram muito bem-sucedidas e duraram menos de um mês, esse movimento popular contra o governo de Ben Ali foi chamado de Revolução de Jasmim; era a primeira “flor que brotava” da Primavera Árabe. Logo após a saída do presidente Ben Ali, foi formado um novo governo de transição até a posse de outros dirigentes eleitos. A Tunísia é vista pela comunidade internacional como o único caso de sucesso da Primavera Árabe. Eleições foram realizadas e as tensões entre as forças islâmicas e laicas não se converteram em um confronto armado graças ao papel de mediação da sociedade civil que, por isso, obteve o Nobel da Paz em 2015. As manifestações na Tunísia inspiraram outras nos países próximos, alastrando-se por Egito, Líbia, Argélia, Bahrein, Iêmen, Marrocos, Jordânia e Síria.


A propagação da Primavera Árabe e seus resultados 

Egito 


O general Hosni Mubarak (1928-) foi eleito em 1981 e manteve-se no poder até a Primavera Árabe. Muitas das suas sucessivas vitórias foram questionadas pela oposição, como em novembro de 2010, quando a Irmandade Muçulmana, partido de oposição com matriz islâmica, denunciou fraudes eleitorais e se retirou do pleito. Também acusado de corrupção, o governo de Mubarak enfrentou resistências influenciadas pelos fatos que se passaram na Tunísia em 2010. O movimento pela sua derrubada do poder usou as redes sociais para mobilizar a população para uma greve geral, convocada por sindicatos de trabalhadores e ativistas sociais. Os manifestantes se concentraram na praça Tahrir, no Cairo, capital do país, em 25 de janeiro de 2011. Mubarak renunciou no dia 11 de fevereiro daquele mesmo ano. Em 2012, Mohamed Morsi (1951-), da Irmandade Muçulmana, foi eleito presidente do Egito. Ele tomou medidas que apontavam para a criação de uma nova constituição baseada em leis islâmicas, além de concentrar muitas decisões políticas. Esses fatos levaram a novas manifestações que culminaram com a deposição de Morsi, em 2013, e a ascensão do general Abdul Al-Sisi ao poder. Entre outras ações, ele coordenou uma perseguição aos membros da Irmandade Muçulmana, que causou cerca de mil mortos.

Uma onda de violência atingiu o Egito em 2014. Surgiram novos grupos políticos que tentaram, por meio de manifestações públicas (cada vez mais raras, já que estavam proibidas) e ações contra o Estado, desestabilizar o governo do general Al-Sisi. Muitos descrevem seu governo como mais brutal e autoritário do que o de Mubarak. Estima-se que, em quatro anos de governo, 60 mil pessoas tenham sido presas por razões políticas, com uso recorrente da tortura. Além disso, devido ao aumento dos casos de terrorismo e à instabilidade política, os investimentos estrangeiros e o turismo no país diminuíram drasticamente, levando a uma crise econômica.

Líbia 


Em 1969, o então coronel Muammar Kadafi (1942-2011) promoveu um golpe contra o rei e instaurou a ditadura na Líbia (figura 34). Além disso, nacionalizou as empresas de petróleo, principal fonte de renda do país, e adotou leis islâmicas. Isso era apenas o começo. Com a entrada de dinheiro estrangeiro, Kadafi investiu em armas e passou também a apoiar ações de grupos terroristas.
Em 2011, a influência da Primavera Árabe chegou às cidades litorâneas do Mediterrâneo, as mais populosas da Líbia. Mesmo com o melhor padrão de vida entre todos os países africanos, os líbios queriam mais. Eles aspiravam por liberdade para escolher seus governantes e, assim, saíram às ruas, principalmente em Benghazi, em fevereiro de 2011. Os rebeldes avançaram rapidamente e passaram a controlar várias cidades da Líbia, mas o governo reagiu com a contratação de mercenários. Diante da nova ofensiva das tropas de Kadafi, os rebeldes recuaram. As imagens de tropas bombardeando civis levaram o Conselho de Segurança da ONU a impor uma zona de exclusão aérea à Líbia. O órgão também autorizou medidas mais drásticas, caso fossem necessárias, com o argumento de que era preciso acabar com a morte de civis. Logo depois, uma coalizão de países liderados pela França invadiu a Líbia. Tratava-se de uma ação da Otan, que contou com forte apoio dos Estados Unidos e do Reino Unido. Depois da ofensiva das tropas da coalizão, o governo de Kadafi não conseguiu resistir. Ele foi morto em outubro de 2011, em Sirte (Líbia), sua cidade natal. Logo após sua morte, a Otan retirou as tropas do país. Foi criado um Conselho Nacional de Transição para preparar as eleições. Porém, uma série de eventos ocorreram após a deposição de Kadafi, muitos deles violentos, envolvendo grupos que defendiam um país sob as leis islâmicas e outro, mais moderado. Em meio às lutas surgiram grupos terroristas em algumas áreas (o Estado Islâmico dominou Sirte até 2016) e máfias de traficantes que lucram à custa de migrantes subsaarianos que tentam atravessar o Mediterrâneo para chegar à Europa. Nessa situação, imagina-se que a instabilidade política deva ser longa na Líbia. 

Iêmen 


Manifestantes forçaram a renúncia do ditador Ali Abdullah Saleh (1942-2017), presidente do Iêmen de 1978 a 2012. Foram convocadas eleições no mesmo ano e Abdrabbuh Mansour Hadi (1945-), que era vice de Saleh, chegou ao poder, mas enfrentou resistências. Universitários, separatistas do sul, rebeldes hutis do norte, desprestigiados partidos políticos e ativistas islâmicos: cada um passou a defender os próprios interesses. Em janeiro de 2015, a situação culminou em uma guerra entre os hutis – apoiados pelo Irã e por iemenitas descontentes com a transição da administração – e o governo de Mansour Hadi – apoiado pelos sunitas e pela Arábia Saudita. Os hutis cercaram o palácio e colocaram o presidente e seu gabinete em prisão domiciliar. Mansour Hadi conseguiu fugir para a cidade de Áden, de onde passou a governar. A ONU tentou negociar um acordo de paz três vezes, sem sucesso. O ex- -presidente Saleh foi morto pelos hutis em 2017. Os jihadistas da Al Qaeda na Península Arábica e rivais de organizações parceiras do Estado Islâmico têm se aproveitado do caos, confiscando territórios no sul e cometendo ataques mortais. Em 2017, a ONU classificou a situação no Iêmen como a pior crise humanitária do mundo. Além da guerra civil, havia milhões de pessoas desabrigadas morrendo de fome e uma epidemia de cólera.

Síria 


Bashar al-Assad (1965-), que governa o país desde o ano 2000, reprimiu duramente os manifestantes, que exigiam sua saída. Estima-se que mais de 220 mil pessoas tenham morrido nos confrontos com a polícia do governo, acusada de usar armas químicas contra a população. Essa ação gerou respostas de potências militares, que pressionaram al-Assad a destruir suas armas químicas em 2013. Em 2014, em reunião em Genebra (Suíça), o governo sírio não aceitou as condições dos rebeldes para pôr fim à guerra, que consistia em formar um governo de transição que convocaria novas eleições no país
A guerra civil na Síria não pode mais ser vista apenas como uma tentativa de democratizar o país. Diversos grupos islâmicos disputam o poder e possuem visões distintas das leis islâmicas. Parte da maioria sunita da Síria combate os alauitas, minoria à qual pertence al-Assad e muitos membros do governo. Em 2014, o Estado Islâmico passou a apoiar os sunitas na guerra civil da Síria, o que levou a intervenções militares dos Estados Unidos. Além das mortes, estima-se que cerca de 5 milhões de sírios tiveram de abandonar suas casas, indo para campos de refugiados em países vizinhos ou migrando para outros países. As duas principais fontes de renda do país – petróleo e agricultura – foram dizimadas pelos conflitos. A guerra destruiu quase metade dos centros médicos e escolas da Síria. Em 2017, a guerra se refreou, com as tropas de Bashar al-Assad retomando dois terços do país. 



Em dezembro de 2010, teve início na Tunísia, no norte da África, um movimento popular por democracia e contra a corrupção. Milhares de pessoas saíram às ruas para exigir o afastamento do presidente, que governava o país desde 1987. O movimento triunfou e logo se estendeu a outros países do norte da África e do Oriente Médio. Como envolveu países de população árabe e muçulmana em sua maioria, esse movimento foi chamado de Primavera Árabe. Uma das características da Primavera Árabe foi o uso das redes sociais digitais pela população civil para disseminar as ideias em favor da democratização e convocar a sociedade para os protestos.
O processo iniciou-se na Tunísia, em dezembro de 2010, quando um jovem ambulante teve suas frutas e legumes apreendidos pela polícia local. Inconformado com a situação de desempregado, com a corrupção e com a repressão que imperava no país, ateou fogo ao próprio corpo, o que o levou à morte. O episódio escancarou o clima de indgnação e penúria pelo qual passsava o país, presidido por uma ditadura familiar desde 1987. Esse fato levou a uma onda de revolta contra o regime que saqueava o país hasvia anos: o ditador Zine el Abidine Ben Ali cairia no início de 2011. A partir  daí, o movimento alastrou-se de forma rápida e contagiante por todo o mundo árabe.
Entre 2010 e 2011, uma série de manifestações populares ocorreram em países árabes, muitas delas organizadas por meio das redes sociais. Denominado Primavera Árabe, o movimento teve início na Tunísia e espalhou-se para outros países, como Egito, Líbia e Síria. Os manifestantes foram às ruas reivindicar, entre outras coisas, a democratização dos regimes políticos. Na Tunísia, após o movimento houve eleições para a formação de um novo governo. Já na Líbia e na Síria, a reação às manifestações foi violenta, o que deu início a uma guerra civil que vitimou milhões de pessoas.
A segunda mobilização no Egito, contra o regime de Hosni Mubarak, líder apoiado pelos Estados Unidos. Foi um movimento espontâneo e anárquico que causou a queda do ditador meses depois.
Ao contrário da Tunísia, o Egito é um país cental na geopolítica do Oriente Médio e de todo o mundo árabe. Desde tempos remotos esteve no centro da história dos povos árabes. Nos últimos anos exerceu papel de mediador no conflito Israelo-palestino, o que foi, o que visto com desconfiança por grande parte da população crítica das ações israelenses. Na visão de muitos egípcios, a postura de Mubarak era condescendente demais com Israel e Estados Unidos.
O Egito é marcado por um interessante mosaico estratégico. como a "ponte geográfica" entre África e Ásia, o país faz parte do cenário regional do Oriente Médio e da África setentrional. O Canal de Suez, construído no final do século XIX, ainda hoje é uma importante rota de petróleo mundial, apesar de sua absolescência. Internamente, a sombra do fundamentalis é problema antigo. Após o asssassinato do Presidente Anwar al sadat, em 1981, Hosni Mubarak também foi vítima de atentado do terror islâmico, em 1995; escapou por pouco. Com o objetivo de prejudicar as finanças do país, os extremistas realizaram atentados contra turistas nas pirâmides do Egito nos anos 1990.
Al-Gama'a al-Islamiyya, jihad Islâmica e a tradicional Irmandade Islâmica (ou Fraternidade Muçulmana) são os mais importantes grupos. Os dois primeiros são fundamentalmente extremistas, enquanto o último tem uma longa trajetória política na história do Egito. Apesar da atuação parlamentar, a Irmandade foi colocada na clandestinidade tanto por Gamal Abdul Nasser como por Mubarak. Sua bandeira é a contrução de um Estado Islãmico no Egito. Foi taxado como grupo terrorista por esses governos, mas tem respaldo popular. já recorreu a métodos extremistas, porém renunciou a tais propósitos. Com a realização das eleições parlamentares após a queda de Mubarak, o partido ligado a Irmandade Islãmica foi o mais votado e elegeu o presidente Muhammad Mursi. Seu slogan: "o Islã é a solução". No entanto, o presidente eleito ficou apenas um ano no poder e foi derrubado por um golpe de Estado. Questionáveis eleições foram convocadas e os militares, maior força política do país, voltaram ao poder em 2013 na figura do general Abdul al Sisi.
A Líbia é outro país inserido nesse contexto de transformações no mundo árabe. Lá se configurou o lado mais violento das revoltas, culminando com com a execução do líder líbio, Muammar Kadafi, que estava há mais de quarenta anos no poder.
Nesse período, Kadafi oscilou entre a inimizade e a proximidade com as potências ocidentais. Chamado de "cachorro louco" pelo ex-presidente, Ronald Reagan (1981-1989), e colocado no isolamento, encaminhou uma reaproximação com líderes europeus e com outro ex-presidente estadunidense, George W. Bush (2001-2009). Além do interesse no petróleo do país, a busca por informações sobre a rede terrorista Al Qaeda foi uma justificativa dada por líderes ocidentais para a reaproximação com Kadafi, após os atentados terroristas aos Estados Unidos em 2001.
Kadafi foi derrubado por um movimento armado que se iniciou na parte oriental do país. Os insurgentes foram gradativamente se organizando e contaram com o apoio da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), que lhes dera retaguarga aérea enquanto as forças terrestre avançavam até Trípoli, sede do poder. Kadafi fugiu para o interior até ser capturado e, em seguida, executado.
Outro país importante na história dos povos árabes é a Síria, cuja capital, damasco, foi sede do primeiro califado árabe, o Omíada. O país também foi atingido pela Primavera Árabe em ondas de protestos contra o governo de Bashar al-Assad, que assumira o poder em 2000, substituindo seu pai, Hafez al-Assad, que  por sua vez, ficara trinta anos no comando do país.
Os protestos iniciaram-se em março de 2011 e se estenderam até março de 2013, sendo violentamente reprimidos pelas forças policiais; estimativas da ONU falavam em mais de setenta mil mortes em dois anos de conflito, levando ``a condenação internacional do governo sírio. 
A Síria é um complexo mosaico cultural, onde há várias comunidades religiosas; distribuição do poder não reflete a paridade dessa divisão. O presidente sírio é membro de um clã minoritário, os alauitas, enquanto o país é majoritariamente sunita, embora haja outras comunidades islãmicas e cristãs.
Tal qual o Egito e ao contrário da Líbia, a Síria é fundamental para o equilíbrio do Oriente médio, pois está localizada no centro da região não apenas geográfica, mas também no que se refer às questões políticas: é rival de Israel, com a qual, inclusive, tem pedências territoriais em relação às Colinas de Golã. Além disso, tem uma aliança velada com o Irã contra Israel; apoia o regime do Hezbollah uma força política no Líbano, igualmente anti-israelense, além de ter uma histórica influência no país libanês.
A importância estratégica da Síria a colocou no centro das preocupações das revoltas árabes e o confuso cenário geopolítico tinha nesse país um elento decisivo para o futuro da região.
Inicialmente vista como esperança por dias melhores ao mundo árabe, a Primavera árabe síria, somada aos distúrbios do Iraque, trouxe a cena o grupo Estado Islâmico (ou Organização do Estado Islâmico, novo protagonista na geopolítica do Oriente Médio.

Vários países da região são hoje governados por ditaduras, monarquias absolutistas ou grupos religiosos fundamentalistas. Além da Tunísia, os protestos levaram à queda dos chefes de Estado do Egito e da Líbia e provocaram inúmeras manifestações na região. No entanto, alguns anos depois do início da Primavera Árabe, não se pode dizer que a democracia avançou na região. 
No Egito, em 2013, ocorreu um golpe de Estado liderado por militares. Isso barrou os movimentos que lutavam por reformas democráticas e criou um regime autoritário que governa o país até hoje. No Egito atual, por exemplo, a repressão permanece. Milhares de oposicionistas estão presos; há restrições ao uso das mídias e à presença de ONGs e grupos de direitos humanos.

Em 2019, o Parlamento egípcio aprovou uma emenda constitucional que concentra os poderes nas mãos do presidente Abdel Fattah El-Sisi (1954-) e assegura sua permanência no poder até 2030. A Tunísia viveu um processo de democratização, viabilizado por meio da realização de eleições presidenciais. Porém, em julho de 2021, o presidente tunisiano, Kais Saied (1958-), dissolveu o parlamento após uma série de protestos, revelando que a democracia no país é ainda frágil e precisa percorrer um longo caminho.
No Iêmen, parte da população que se manifestou para derrubar o governo daquele país acabou desiludida com as reformas implementadas a partir de 2012 e começou a apoiar um golpe para derrubar o governo. Isso deu início a uma guerra civil em 2015. Até o fim de 2021, o conflito, ainda em andamento, havia provocado a morte de mais de 10 mil crianças. 
Todas essas situações demonstram o fracasso das aspirações sociais e democráticas da Primavera Árabe. Com exceção da Tunísia, que passou por um processo de efetiva democratização do Estado, os demais países acabaram mergulhados em conflitos ou sofreram golpes de Estado que implantaram novos governos autoritários. 

DISPUTAS GEOPOLÍTICAS CONTEMPORÂNEAS

No início de fevereiro de 2022, a Rússia iniciou uma operação militar de invasão no território da Ucrânia, disparando um dos maiores conflitos em território europeu desde a Segunda Guerra Mundial. Para entender melhor as causas desse conflito, é fundamental retomar a história da região, principalmente o cenário de Guerra Fria e as tensões que marcaram a crise do socialismo e a desintegração da União Soviética, no início dos anos 1990.

A Ucrânia é o segundo maior país da Europa, com extensão inferior apenas à da Rússia, e se formou como nação independente com o fim da União Soviética, em 1991. Isso fez com que a Rússia mantivesse fortes vínculos com o país vizinho, o que inclui a existência de algumas regiões do território ucraniano dominadas por grupos pró-Rússia, os quais defendem ideias separatistas.

Em 2014, o presidente eleito na Ucrânia, aliado da Rússia, foi derrubado por oposicionistas e, em seu lugar, assumiu um governo apoiado por grupos de direita e extrema direita. Na ocasião, o governo russo anexou aos seus domínios a região da Crimeia, até então pertencente à Ucrânia, porém com população de maioria russa. A anexação se tornou ponto de antagonismos entre Rússia, Ucrânia, países europeus e Estados Unidos, contrários a essa ofensiva russa. Desde então, separatistas ucranianos apoiados pela Rússia e as forças armadas da Ucrânia se enfrentam em conflitos armados.

A perseguição do governo ucraniano a esses grupos separatistas é um dos elementos que compõem o quadro geral por trás do ataque russo ao país vizinho. Outro elemento importante para compreender o conflito tem relação com a atuação da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) na região. A OTAN foi criada no contexto da Guerra Fria para articular os países do bloco capitalista liderados pelos Estados Unidos. Desde então, o organismo tem sido fundamental na defesa dos interesses geopolíticos estadunidenses e, com o fim da União Soviética, vem buscando atrair para sua zona de influência os novos países que se formaram na região.

A Ucrânia e a Otan

A Ucrânia foi um dos países do Leste Europeu que buscaram uma aproximação com a Europa ocidental, negociando sua colaboração com a União Europeia e a entrada na OTAN. Esse movimento se intensificou a partir de 2014. A Rússia, por sua vez, atuou intensamente na tentativa de impedir a expansão da influência da OTAN e dos Estados Unidos nos países de sua fronteira. Uma das condições impostas pelos russos para cessar a invasão em 2022 foi justamente o compromisso da Ucrânia com a neutralidade e sua não integração à OTAN.

Os Estados Unidos acompanharam de perto o desenrolar do conflito e impuseram sanções e restrições à Rússia a fim de reduzir seu potencial bélico, em um movimento que remeteu às rivalidades e disputas típicas da Guerra Fria. Uma série de medidas econômicas também foram tomadas por outros países no sentido de isolar a Rússia e enfraquecê-la economicamente, o que gerou grandes impactos nos mercados internacionais. Como resultado, as populações de países europeus sofreram um agudo aumento no custo de vida, relacionado principalmente ao preço do gás natural e de outros combustíveis. Outra consequência do conflito está ligada à produção de um novo contingente de refugiados, já que milhares de pessoas deixaram a Ucrânia desde o início do conflito, fugindo dos ataques e bombardeios e buscando abrigo em países vizinhos. O conflito envolveu, ainda, uma grande guerra de informações, com a imprensa internacional tomando partido dos lados do conflito. Isso impôs dificuldades ao acesso a informações precisas e à compreensão do real quadro da guerra. Mais uma vez, ecos da Guerra Fria, com posições polarizadas e uma disputa de versões e informações, pareceram dominar a política internacional.

A INTENSIFICAÇÃO DAS MIGRAÇÕES

Os deslocamentos populacionais vêm se tornando mais intensos nas últimas décadas, sobretudo os de países do continente africano, do Oriente Médio e do Leste Europeu em direção à Europa Ocidental. Esses deslocamentos têm causas diversas. As pessoas que fogem de conflitos armados ou de perseguições por motivos de origem étnica, religião, nacionalidade, opinião política ou participação em grupos sociais e necessitam de asilo em outro país são reconhecidas internacionalmente como refugiadas. De acordo com o direito internacional, não devem ser expulsas ou reenviadas ao país de origem enquanto estiverem em perigo. Já aquelas pessoas que deixam seu país de origem em busca de melhores condições de vida são chamadas de migrantes. As migrações quase sempre ocorrem por razões econômicas de pobreza extrema associada à fome ou em decorrência de desastres naturais. No Brasil, em 2020, havia mais de 26 mil pessoas vivendo oficialmente na condição de refugiadas, segundo o relatório Refúgio em números, elaborado pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública.

O termo migrante abrange diferentes realidades. Muitos migrantes são trabalhadores qualificados que mudam de seus países com empregos garantidos ou com plenas condições de viver no exterior. Eles integram um fenômeno conhecido como “fuga de cérebros”, isto é, a dispersão de talentos de um país. Existem também os trabalhadores com baixa qualificação que decidem deixar seus países de origem em busca de melhores condições de vida. Os migrantes com esse perfil costumam enfrentar muitas dificuldades. Geralmente, exercem trabalhos pouco valorizados, insalubres e mal remunerados. Também são frequentes os casos em que, por falta de documentação, veem-se obrigados a viver clandestinamente, correndo o risco de serem deportados.

O crescimento das migrações internacionais nas últimas décadas tem criado diversos focos de tensão, pois há vezes em que governos e cidadãos não aceitam de forma pacífica a chegada de estrangeiros em seus países. Essa postura faz com que os Estados endureçam as políticas migratórias e criem regras cada vez mais rígidas para autorizar o ingresso de migrantes em seus territórios. Um efeito preocupante do crescimento das migrações é a intensificação de discursos xenófobos e autoritários. Em muitos países, políticos de extrema direita ganharam poder por causa desses discursos. Esses políticos afirmam que os migrantes são responsáveis pelo agravamento da crise econômica, pelo crescimento do desemprego e, até mesmo, pela disseminação de doenças.

Esse tipo de discurso não condiz com a realidade, já que os problemas econômicos são causados principalmente pelas políticas sociais e econômicas adotadas pelos governos. Além disso, como parte da população economicamente ativa, os migrantes contribuem com seu trabalho para o desenvolvimento nacional e pagam impostos como qualquer cidadão.

Refugiados

Outro tipo de migrante é o refugiado, isto é, aquele que deixa seu local de origem devido a guerras, a perseguições, a catástrofes ambientais ou outras ameaças que colocam sua vida em risco. As crises econômicas provocadas pelo modelo neoliberal, os eventos extremos provocados pelo aquecimento global e os conflitos sociais e militares em diversas regiões do mundo têm levado milhões de pessoas a abandonarem seus lares em busca de refúgio em outros países. Segundo dados da Agência das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR, na sigla em inglês) cerca de 100 milhões de pessoas encontravam-se em situação de deslocamento forçado no mundo em maio de 2022. A maior parte delas vivia em países vizinhos de suas nações. 

DIFICULDADES ENFRENTADAS PELOS QUE SE DESLOCAM 
Refugiados e migrantes não têm as mesmas proteções legais quando estão em um país estrangeiro. O governo de cada Estado estabelece a legislação e os procedimentos que tratam dos imigrantes, enquanto as normas e a proteção dos refugiados são definidas por acordos internacionais. Muitas vezes, as dificuldades enfrentadas pelos migrantes ou refugiados agravam-se na chegada ao país de destino. É muito comum que um migrante atue como mão de obra desqualificada e tenha baixa remuneração no país de destino, vivendo em grande medida em regime de semiescravidão e na clandestinidade. Já em países que recebem refugiados são frequentes as atitudes xenofóbicas, ou seja, de aversão ao estrangeiro e de medo ou antipatia por aqueles que vêm de fora, que não pertencem originariamente a determinado local, ou, ainda, em relação àqueles que professam uma cultura diferente.
Na Hungria, em 2015, por exemplo, o primeiro-ministro Viktor Orbán declarou que os refugiados, especialmente os muçulmanos, eram uma ameaça às origens cristãs da Europa. No mesmo ano, o Parlamento húngaro aprovou a construção de um muro na fronteira com a Sérvia, para impedir a entrada ilegal de refugiados ou imigrantes. Nesse período, em vários países europeus, sobretudo na França, na Grécia e na Alemanha, aumentavam os casos de agressão contra refugiados. Outra dificuldade que enfrentam imigrantes e refugiados relaciona-se à chegada ao destino pretendido. Eventualmente, os governos de países europeus, para onde tem havido enorme afluxo de imigrantes do Oriente Médio e de regiões da África, recusam-se a recebê-los. 

Desigualdades sociais na América Latina

As práticas econômicas neoliberais disseminaram-se rapidamente pela América Latina. Entre as décadas de 1980 e de 1990, muitos países da região adotaram medidas para promover a abertura da economia, diminuir o papel do Estado na regulamentação das atividades produtivas e flexibilizar as relações trabalhistas. Os defensores dessas medidas afirmavam que isso promoveria a modernização das economias latinas. Porém, as práticas neoliberais ampliaram as desigualdades e acabaram intensificando os problemas sociais da América Latina. Serviços como saúde, educação e moradia tiveram seus recursos reduzidos. A pobreza aumentou: até os anos 1990, mais de 200 milhões de pessoas viviam em condições de pobreza e de pobreza extrema. Na década de 1970, esse número era de 130 milhões. 
No final da década de 1990 e no início da década seguinte, diversos países da região elegeram governantes que defendiam mudanças de rumo na economia, rompendo com certas medidas neoliberais e promovendo ações para a redução das desigualdades sociais. Entre elas estavam a distribuição de renda, a redução da pobreza e da fome, a criação de empregos, o aumento de mercado consumidor e a valorização dos salários dos trabalhadores. Essas ações apresentaram bons resultados iniciais, mas a crise econômica iniciada em 2007 provocou o enfraquecimento de muitos desses governantes. Nos anos seguintes, a crise se intensificou. Os efeitos sociais das políticas adotadas perderam força e os problemas econômicos e sociais voltaram a crescer. Uma onda de conservadorismo se espalhou na década de 2010 pelo continente, e em muitos países, como o Brasil, governos chegaram ao poder defendendo o retorno de preceitos inspirados no neoliberalismo. No entanto, a grave crise desencadeada no cenário da pandemia de covid-19 mostrou, mais uma vez, os limites das políticas neoliberais, já que a ação do Estado, inclusive na regulação de relações econômicas, se mostrou fundamental para a superação das crises política, social e sanitária.

O NEOLIBERALISMO ENTRA EM CENA

Com o fim da Guerra Fria, entrou em crise o modelo conhecido como Estado de bem-estar social, no qual o Estado deve garantir mecanismos e leis de proteção aos trabalhadores. Esse modelo criou sistemas de aposentadoria e o salário-desemprego, além de realizar investimentos em áreas sociais, como a saúde e a educação. Adotado inicialmente na União Soviética, o Estado de bem-estar social foi também um fenômeno de grande força no pós-guerra na Europa Ocidental, em alguns países capitalistas, com o objetivo de conter o avanço da influência da União Soviética.
As mudanças econômicas a que nos referimos até aqui não ocorreram de repente. Em grande parte, tiveram início na década de 1970. Foi nessa época que alguns políticos e economistas passaram a defender um conjunto de princípios econômicos conhecido como neoliberalismo. 
A partir dos anos 1990, o Estado de bem-estar social foi considerado ultrapassado por muitos políticos ocidentais que adotaram ideias neoliberais. Segundo o neoliberalismo, o Estado deve regular apenas a justiça e a segurança, deixando que o mercado atue livremente na economia, de forma que esta seja regulada pelas leis da oferta e da procura.
Uma das características dos primeiros governos neoliberais foi a redução das medidas de proteção criadas durante a vigência do Estado de bem-estar social. Para os neoliberais, o Estado deve intervir o mínimo possível na economia e restringir os gastos públicos. As empresas estatais (como as que cuidam de serviços de saneamento, telefonia e abastecimento de água) devem ser privatizadas, ou seja, vendidas à iniciativa privada. Os neoliberais afirmam que o Estado deve afrouxar as regras dos sistemas financeiros para facilitar a atuação das empresas e eliminar as barreiras alfandegárias para intensificar o comércio mundial. Essas ideias se concretizaram após a eleição de Margaret Thatcher para primeira-ministra da Inglaterra, em 1979, e de Ronald Reagan para presidente dos Estados Unidos, em 1980. Esses dois políticos e suas equipes iniciaram um amplo processo de retirada de investimentos públicos da economia e abertura para a iniciativa privada – seguido por muitas nações do mundo, inclusive o Brasil, a partir da década de 1990.
Na maior parte do mundo, a implantação de políticas neoliberais envolveu a privatização de empresas estatais, o fim do controle de preços e dos subsídios a determinados setores da economia, a redução do número de funcionários públicos, a limitação dos gastos com a previdência social, a diminuição dos encargos trabalhistas e a abertura da economia a investimentos externos. A aplicação dessa política gerou reações da sociedade civil organizada que se viu prejudicada com essas medidas. No contexto da globalização, tal política levou os países mais ricos a pressionar os países mais pobres para que extinguissem as tarifas alfandegárias protecionistas e liberassem a entrada de produtos e de investimentos estrangeiros.

A crise do capitalismo

A promessa de que as políticas neoliberais resolveriam os problemas econômicos, reduzindo a pobreza e acelerando o desenvolvimento global, não se efetivou na prática. Muitos estudos revelam que esse tipo de política deixou a população mais pobre sem a assistência do Estado, enquanto as empresas privadas e os grupos mais ricos da sociedade saíram favorecidos. Em 2016, um artigo publicado por três economistas do Fundo Monetário Internacional (FMI), um dos maiores defensores dos preceitos neoliberais, apontou que algumas políticas neoliberais acabaram por aumentar as desigualdades, o que coloca em risco uma expansão econômica mais duradoura. Observe os dados do infográfico a seguir, que evidenciam essas desigualdades.

Tais diferenças se acentuaram ainda mais com a crise econômica de proporções globais iniciada em 2007. Uma de suas causas foi justamente o afrouxamento do controle exercido pelo Estado sobre os sistemas financeiros (uma das propostas dos neoliberais). Bancos poderosos e grandes seguradoras desenvolveram formas de especulação antes proibidas. Quando esse sistema veio abaixo, empresas de financiamento, bancos e seguradoras de vários lugares do mundo decretaram falência. Bolsas de valores do mundo inteiro despencaram, e teve início uma crise mundial. A fome e o desemprego aumentaram nos países que aplicaram políticas neoliberais, inclusive nos Estados Unidos. Diante desse cenário, e contra os princípios do neoliberalismo, governos de diversos países injetaram mais de 4 trilhões de dólares na economia a fim de impedir o agravamento da crise.

Geopolítica e os organismos internacionais

Após o fim da Segunda Guerra, ganhou força a ideia de se criar organismos internacionais capazes de mediar as relações entre os países e, assim, garantir a manutenção da paz mundial. Foi nesse cenário que, em 1945, 51 nações de todos os continentes fundaram a Organização das Nações Unidas (ONU). Hoje, 193 países fazem parte da ONU. As organizações internacionais se multiplicaram e se fortaleceram nas últimas décadas, ao mesmo tempo que o processo de globalização e a integração econômica global se intensificaram. Nesse contexto, tais organizações assumiram a missão de promover o ordenamento das relações internacionais, elaborar acordos entre as nações e regular seus cumprimentos. Buscam, assim, garantir a viabilização dos interesses coletivos e promover um entendimento em torno de demandas globais.

Atualmente, além da ONU, existem diversas organizações internacionais, entre elas a Organização Mundial do Comércio (OMC), o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial e a Organização Mundial da Saúde (OMS).

No contexto da pandemia da covid-19, a OMS assumiu um papel de destaque, atuando pela integração das políticas internacionais de combate à pandemia, pela regulamentação dos protocolos adotados pelos países e pela ampla vacinação em todo o mundo. Também esforçou-se em conter a disseminação de fake news e de informações imprecisas que pudessem comprometer a prevenção contra a doença.

Os blocos econômicos Outra característica da segunda metade do século XX foi a formação de blocos econômicos. O objetivo era assegurar melhor capacidade de negociação de cada nação e eliminar barreiras alfandegárias entre os membros de cada bloco. Dessa forma, os países de um bloco poderiam comerciar entre si sem cobrar impostos sobre as importações.

O mais antigo desses blocos começou a ser criado em 1957, com a formação da Comunidade Econômica Europeia (também chamada de Mercado Comum Europeu). Em 1992, depois de várias mudanças e ampliações, esse bloco passou a se chamar União Europeia (UE). Atualmente, a UE reúne 27 Estados-membros, principalmente na Europa Ocidental. Dezenove deles adotam a mesma moeda, o euro.

Outros blocos se formaram nos anos 1990, entre eles o Acordo de Livre-Comércio da América do Norte (Nafta, na sigla em inglês), formado por Estados Unidos, Canadá e México; e o Mercado Comum do Sul (Mercosul), que reúne Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai. Em 2021, entrou em vigor um novo bloco formado por 54 dos 55 países africanos, a Zona de Livre Comércio Continental Africana (AfCFTA, na sigla em inglês).
Nos últimos anos, os blocos econômicos começaram a ser avaliados de maneira negativa por grupos nacionalistas. Movimentos de extrema direita afirmam que esses blocos são prejudiciais para as economias nacionais, e defendem que os países endureçam as barreiras alfandegárias e abandonem os acordos de livre circulação. Além disso, apoiam medidas anti-imigração, estimulando, inclusive, a expulsão de imigrantes de certos países. Um dos principais desdobramentos desse movimento contrário aos blocos econômicos deu-se em 2016, quando 52% dos eleitores britânicos decidiram que o Reino Unido deixasse a União Europeia. A saída, votada em plebiscito, se concretizou em 2020. Esse movimento ficou conhecido como Brexit, termo em inglês que combina as palavras Britain, que significa “Bretanha”, e exit, que significa “saída”.

O consumismo: o planeta ameaçado

No mundo globalizado, é cada vez maior o estímulo ao consumo. A ideologia dominante incentiva a substituição constante de produtos por outros mais avançados tecnologicamente. Adquirir produtos que acabaram de sair das fábricas ou que foram divulgados por determinado artista ou influencer tornou-se o objetivo de vida de muitas pessoas. Nessa toada, boa parte das mercadorias que as pessoas consomem se torna descartável após pouco tempo de uso. Segundo alguns especialistas, o consumismo tem se revelado um problema sério e de graves consequências para as sociedades contemporâneas, especialmente aquelas de maior poder aquisitivo. Seduzidas e embaladas pelo consumismo, algumas pessoas tendem a substituir as relações afetivas (familiares e de amizade) pela compra compulsiva.

Esse tipo de comportamento está atrelado à ansiedade e à depressão, e pode levar ao endividamento. Com o descarte cada vez maior e mais rápido dos produtos, o acúmulo de lixo, principalmente de produtos tecnológicos, tornou-se outro sério problema para o planeta. Muitos produtos (como o plástico) levam séculos para se desfazer na natureza e vários têm componentes que poluem o solo, levando substâncias tóxicas para as plantações e para os lençóis freáticos que abastecem as populações.

Estudiosos do tema afirmam que o planeta não tem condições de continuar a fornecer os recursos necessários a esse consumo desenfreado e corre o risco de entrar em colapso. Portanto, é preciso repensar urgentemente a relação com o consumo e desenvolver formas mais sustentáveis de suprir nossas necessidades cotidianas, considerando sobretudo o manejo equilibrado dos recursos naturais.

A globalização e a cultura

A globalização tem também transformado o campo cultural. As trocas culturais entre sociedades tão distintas vêm promovendo um processo que alguns sociólogos chamam de transculturação, isto é, quando traços culturais de uma sociedade passam a fazer parte de outra. Assim, elementos culturais de sociedades ocidentais, por exemplo, passam a ser observados em sociedades orientais, africanas ou indígenas. Porém, essas trocas culturais nem sempre acontecem de forma igual.

Os países com maior poder econômico disseminam seus valores, suas ideias e seus costumes de forma muito mais intensa e abrangente que os demais países. Pense, por exemplo, no grande poder de distribuição da indústria cinematográfica estadunidense. Um filme produzido nos estúdios de Hollywood pode ser lançado simultaneamente nos cinco continentes, alcançando um público de milhões de pessoas. O mesmo não ocorre com produções de outras nações que, muitas vezes, mal ultrapassam as fronteiras de seu país de origem.

A internet e as plataformas de streaming de música e de filmes também desempenham importante papel nesse processo, contribuindo para a disseminação de determinados produtos em detrimento de outros, impulsionando uma homogeneização cultural. E isso também pode ser observado em outros hábitos culturais, como na alimentação. Pense no caso das redes de fast-food: um sanduíche comprado em uma lanchonete tipo fast-food em Nova York será bem semelhante a outro sanduíche adquirido em Londres, Tóquio ou Salvador, por exemplo. A globalização e a homogeneização culturais, contudo, não implicam o fim das culturas locais.

A internet, um dos principais símbolos do mundo globalizado, tem sido usada por muitos povos tradicionais para a preservação e a difusão de seus valores culturais. Por isso, estudiosos afirmam que, ao mesmo tempo que vivemos um processo de homogeneização cultural, também atravessamos um processo de heterogeneização cultural, pois a humanidade nunca pôde travar contato com povos e culturas tão diversos quanto agora.

A GLOBALIZAÇÃO

Uma das características marcantes do mundo atual é a aceleração das comunicações e dos transportes. Informações, produtos industriais e culturais (estilos de vida, músicas, filmes ou apresentações de artistas transmitidas ao vivo), e mobilizações sociais (em torno de causas como o feminismo e o antirracismo, por exemplo) chegam rapidamente a quase todos os lugares do mundo. Atualmente, quase todos os países estão profundamente ligados. As fronteiras que separavam as economias e as culturas dos diversos povos tornaram-se praticamente inexistentes. Esse processo é conhecido como globalização. Na economia, ele tornou possível encontrar fontes de matérias-primas mais acessíveis em qualquer lugar do mundo, transportar essas matérias-primas de um lugar para outro e fabricar produtos cada vez mais sofisticados em pouco tempo.

Na sociedade, ele tem expandido a chamada cultura de massa, como estudaremos mais adiante. Assim, com a globalização, tornou-se possível o desenvolvimento de uma economia transnacional. A sede de uma empresa transnacional, por exemplo, pode estar em um país que oferece benefícios fiscais (como isenção de impostos), enquanto a equipe que projeta seus produtos pode localizar-se em outro país, geralmente em centros de inovação e alta tecnologia. A matéria-prima utilizada por essa empresa, por sua vez, é extraída em países economicamente pobres, onde é mais barata.

Às vezes, os componentes de um único produto são fabricados em países diferentes e, depois, reunidos para serem montados em fábricas instaladas em regiões pobres, onde os salários são mais baixos. Por fim, a venda do produto ao consumidor final pode ser feita em lugares do mundo que ofereçam margens de lucro mais atraentes para a empresa transnacional. Essa oferta muitas vezes tem abrangência global, o que faz com que consumidores de lados opostos do globo tenham acesso às mesmas mercadorias.

A NOVA ORDEM MUNDIAL

Em 1991, com a queda da maior parte dos regimes comunistas do planeta e a desintegração da União Soviética, a divisão do mundo em dois blocos opostos – um dos marcos do século XX – chegou ao fim. Essa nova configuração provocou uma importante reorganização das relações internacionais em um processo marcado por rupturas e permanências. De um lado, novas formas de organização de blocos de países ganharam força, especialmente os chamados blocos econômicos. Por outro lado, o fim das disputas entre os Estados Unidos e a União Soviética não afastou o perigo de um conflito nuclear. Atualmente, muitos países produzem armas nucleares, como a bomba atômica. Isso representa um sério perigo para a paz mundial, pois entre alguns desses países há rivalidades e disputas que podem levar a uma nova guerra. Ao mesmo tempo, Estados Unidos e China, as duas maiores potências econômicas da atualidade, vivem um período de rivalidade. De acordo com analistas internacionais, o principal motivo é a disputa sobre quem assumirá o protagonismo da economia global nas próximas décadas. Segundo essas análises, o governo estadunidense teme que a China ocupe um papel de liderança em muitas áreas, principalmente a tecnológica, onde o país asiático vem apresentando grande desenvolvimento nos últimos tempos. Aliada a essa situação, a Rússia, detentora de grande arsenal nuclear, busca exercer supremacia na região da antiga URSS. Tudo isso evidencia as permanências históricas do contexto da Guerra Fria nas relações internacionais na passagem do século XX para o XXI. Entretanto, não restam dúvidas de que o ano de 1991 marcou o fim de certas características do mundo contemporâneo e o começo de novos processos históricos.

O fim da Guerra Fria

Com o clima de liberdade, as manifestações contrárias ao regime intensificaram-se na União Soviética. Diante dessas manifestações, em 1991, alguns militares e dirigentes comunistas que não concordavam com as mudanças tentaram dar um golpe de Estado a fim de afastar Gorbachev do poder, barrar as mudanças e fazer o país retornar a um regime autoritário. Entretanto, o golpe não recebeu apoio de parte da população e foi rapidamente derrotado. Gorbachev manteve-se no poder, e o processo de mudanças prosseguiu. Mas a estrutura do Estado soviético era tão rígida que não suportou essa política de reformas. Assim, no fim de 1991, Gorbachev renunciou à presidência, e foi declarado o fim da União Soviética. A URSS desintegrou-se com a independência das repúblicas que formavam o país. A grande diversidade étnica do imenso território da URSS contribuiria para o surgimento de lutas de caráter nacionalista e separatista, algumas das quais permanecem até hoje. Um dos países criados nesse processo é a Federação Russa (mais comumente chamada de Rússia), que reúne algumas repúblicas e regiões autônomas da extinta União Soviética, e mantém grande parte do antigo território soviético. A desintegração da União Soviética significou também o fim da Guerra Fria.

A DESINTEGRAÇÃO DA URSS

A União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) chegou aos anos 1980 como a maior nação do mundo. Mas, diferentemente de outros países, a URSS era uma reunião de 15 diferentes repúblicas, onde viviam cerca de 270 milhões de pessoas de grupos étnicos distintos. Seu governo era composto de dirigentes do Partido Comunista, o único partido autorizado a funcionar no país, cabendo a ele controlar toda a produção industrial e a agrícola. O governo soviético assegurava à população recursos básicos como assistência à saúde e à educação básica, mas atravessava crises políticas e econômicas sucessivas. Como destinava a maior parte do orçamento para as Forças Armadas, a população da URSS carecia de artigos de primeira necessidade, como roupas, alimentos ou eletrodomésticos. Essa situação estimulou a formação de um mercado paralelo, no qual era possível adquirir produtos contrabandeados a preços muito altos. Isso incitava o descontentamento da população com o regime comunista, além de dificultar ainda mais a expansão econômica do país.

Do ponto de vista político, as relações da URSS com os chamados países satélites eram tensas, principalmente a relação com a Polônia. Ali, no começo dos anos 1980, ganhou força um movimento sindical independente que fazia críticas ao comunismo e à repressão do governo soviético. Além disso, a URSS sofria frequentes sanções da comunidade internacional. Os Jogos Olímpicos de 1980, ocorridos em Moscou, foram marcados pelo boicote dos Estados Unidos e de parte de seus aliados, que se recusaram a enviar atletas à competição. Todas essas dificuldades obrigaram o governo soviético a adotar medidas reformistas e iniciar uma abertura política e econômica. Essas mudanças ganharam força a partir de 1985, quando Mikhail Gorbachev (1931-2022) assumiu a liderança da União Soviética.

A perestroika e a glasnost O governo de Gorbachev propôs um conjunto de reformas para modificar as estruturas políticas e econômicas do país. Essas medidas se baseavam em dois princípios: a perestroika (que significa ”reconstrução”) e a glasnost (”transparência”). Com a perestroika, Gorbachev buscava acabar com os monopólios estatais; autorizar o investimento privado e a entrada de empresas estrangeiras no país; e garantir a liberdade dos empresários na economia.

O objetivo era aumentar a produtividade da economia soviética, além de combater a corrupção de funcionários do governo. Ao mesmo tempo, promoveu cortes nos gastos militares e retirou as tropas soviéticas do Afeganistão, país que ocupara em 1979. A proposta da glasnost era garantir a abertura política no país, acabar com a perseguição aos opositores do regime, libertar os presos políticos, abolir a censura e possibilitar a criação de novos partidos. Com essas medidas, permitiram-se a liberdade de imprensa e a livre circulação de livros e jornais. O desejo de se libertar do domínio da URSS fez com que manifestações contrárias ao regime comunista se tornassem cada vez mais constantes no Leste Europeu, no bloco de nações influenciadas pela União Soviética.

Entre 1988 e 1990, um após o outro, esses países conseguiram romper com o regime comunista. Em geral, o processo de abertura foi pacífico. Seu marco principal foi a queda do muro de Berlim, em 1989. No ano seguinte, a Alemanha, dividida em dois países desde o fim da Segunda Guerra Mundial, se reunificou sob o sistema capitalista. Um dos poucos regimes comunistas que caíram de forma violenta foi o da Romênia, onde, em dezembro de 1989, a população prendeu e executou o ditador Nicolae Ceausescu.

A REVOLUÇÃO IRANIANA

De 1941 a 1979, o Irã foi governado pelo xá (rei) Mohamed Reza Pahlevi. Ele procurou modernizar o país por meio da industrialização e de reformas educacionais e políticas. Entretanto, a modernização beneficiava apenas uma pequena parcela da população, formada pela burguesia e pelos grandes proprietários de terras. A maioria da população vivia em condições de pobreza. 
Além disso, Reza Pahlevi governava de maneira autoritária, como em uma ditadura, sem deixar espaço para os opositores. Tudo isso provocava descontentamento cada vez maior nas camadas pobres e médias da população.
Até 1979, o Irã foi um dos principais aliados dos Estados Unidos entre os países do Oriente Médio. Em 1953, o governo estadunidense apoiou o golpe de Estado promovido pelo xá Reza Pahlevi. Com Reza Pahlevi, o Irã constituiu uma política econômica e social apoiada no modelo ocidental. Do ponto de vista econômico, foi um período de desenvolvimento industrial e de crescimento. Apesar disso, ocorreu um profundo questionamento das correntes mais radicais do islamismo. Líderes religiosos foram perseguidos e alguns foram expulsos do país.
A importância que o petróleo adquiriu ao longo do século XX, o fato de o Irã deter a segunda maior reserva mundial do combustível e as ótimas relações do xá com o Ocidente favoreceram o estilo tirano de Reza Pahlavi, que transformou o país em um dos mais desiguais em todo o Oriente Médio: o palácio não tinha o menor pudor em contrastar a luxúria imperial com a pobreza da população; o xá era conhecido por suas estravagâncias. Esse regime autárquico era amplamente apoiado pelos Estados Unidos; vinha daí, em grande parte, o ódio que as camadas populares nutriam por essa potência. Essa camada popular era, igualmente a mais arraigada aos valores tradicionais do xiismo.
Era nos líderes religiosos e nos comunistas que esse déspota via a maior ameaça ao seu poder e não hesitou em persegui-los. comunistas, liberais e religiosos foram presos. O líder espiritual dos xiitas, o aiatolá Ruhollah Khomeini, exilou-le na França, depois de uma tentativa frustada de se refugiar no Iraque, que, como o Irã, é um pais de maioria xiita.
Em 1978, a insatisfação popular chegou ao limite e os protestos saíram do controle do governo. O principal líder da oposição era um religioso muçulmano, o aiatolá Ruhollah Khomeini, que nessa época se encontrava refugiado em Paris. Em janeiro de 1979, acuado pelas manifestações populares contrárias a seu governo, o xá foi obrigado a fugir do Irã. Khomeini retornou ao país, assumiu o poder, proclamou a República Islâmica do Irã e organizou um governo com base nos ensinamentos muçulmanos. Esse movimento ficou conhecido como Revolução Iraniana.
Surgiu a República Islâmica do Irã, ou seja, desde 1979, apresenta um regime teocrático. Igualmente, desde a revolução, o Irã adotou uma postura antiocidental e antiestadunidense, com quem tem sérios problemas diplomáticos até os dias atuais.
Apoiado por amplos setores da população, o líder religioso passou a combater os costumes ocidentais. A divulgação de música secular (não religiosa) foi proibida, e as mulheres foram obrigadas a usar véu para esconder os cabelos em lugares públicos. O uso de roupas consideradas impróprias também foi proibido.
A partir de 1980, o Irã rompeu relações com os Estados Unidos e passou a ser controlado pelos chefes religiosos (aiatolás), que estabeleceram normas sociais rígidas, de acordo com os princípios do islamismo, formalizando um Estado teocrático (o atual governo do Irã, apesar de civil, está submetido ao poder dos aiatolás). 
O clero xiita sagrou-se vitorioso, e o xá refugiou-se no Egito, onde morreu em 1980, depois de um tratamento contra um câncer. Esse episódio é considerado um marco do fundamentalismo islãmico, pois a ortodoxia xiita adotada serviu de inspiração para muitos outros movimentos islãmicos, xiitas e sunitas. Também significou uma grande ameaça aos demais regimes do oriente Médio, sobretudo na região do golfo Pérsico.
Apesar do rígido controle do governo do Irã, nos últimos anos vêm ocorrendo mudanças de comportamento por parte de alguns iranianos, especialmente dos jovens, que têm buscado acesso à informação e à cultura ocidental, por meio de filmes, músicas e internet. 
Atualmente, o Irã é, entre os países islâmicos, aquele que exerce maior influência no Oriente Médio e tem mantido relações estáveis com praticamente todos os países vizinhos. É o maior opositor à existência do Estado de Israel. O atual governo mantém fortes relações com a China e a Rússia. Essas relações incluem cooperação técnica, associação para a exploração de petróleo em subsolo iraniano e venda de armas e de combustível para as usinas termonucleares. 
Outro motivo de enfrentamento entre o Irã e o Ocidente é o desenvolvimento de um programa nuclear. Os Estados Unidos sempre alertaram que o governo iraniano teria a ambição de produzir armas de destruição em massa e que o país estaria próximo de conquistar a tecnologia necessária para alcançar tal objetivo.
Alemanha, França e Reino Unido apoiavam os argumentos estadunidenses sobre a ameaça que o programa nuclear representaria para o Oriente Médio e outras regiões do mundo. 
Em 2013, o Irã, que sempre defendeu que seu programa nuclear teria objetivo exclusivamente pacífico e energético, firmou um acordo visando a uma redução desse programa, em troca da diminuição de sanções econômicas que sofria por parte da comunidade internacional. No mesmo ano, com a eleição de Hassan Rohani, um governante moderado, o então presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, teve, por telefone, uma conversa histórica com o presidente iraniano, sinalizando uma reaproximação diplomática. 
Em 2015, foi assinado um acordo nuclear entre o Irã e o grupo de países do P5+1 (formado pelos 5 países-membros do Conselho de Segurança da ONU e a Alemanha), após mais de uma década de negociações, visando restringir a possibilidade de os iranianos desenvolverem a bomba atômica.
No entanto, em 2018, os Estados Unidos saíram do acordo e uma das alegações utilizadas pelo então presidente Trump, que restabeleceu as sanções econômicas ao país, foi a de que o governo iraniano apoiaria grupos terroristas e milícias, como o Hezbollah, o Hamas, a Al-Qaeda e o Taleban.

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