Posição estratégica
O Oriente Médio está localizado em uma região estratégica entre a Europa, a África e o restante do continente asiático.
Nessa região se desenvolveram várias civilizações. A denominação “Oriente Médio” é fruto de uma visão eurocêntrica do mundo, consolidada no período das Grandes Navegações, quando os europeus estabeleceram rotas marítimas de comércio para a África, para a Ásia e para a América. Foi uma das regiões mais ricas e desenvolvidas e, a partir dela, os muçulmanos difundiram para o resto do mundo notáveis saberes científicos, artísticos e filosóficos. No século XV, a região foi dominada pelo Império Turco Otomano, permanecendo assim até o fim da Primeira Guerra Mundial, quando franceses e britânicos obtiveram o apoio dos povos árabes contra os turcos otomanos. Entretanto, Reino Unido e França já haviam acertado a partilha dessa região em um acordo secreto — o acordo Sykes-Pikot, pelo qual Síria e Líbano foram ocupados pelos franceses; Palestina, Iraque e Transjordânia (atual Jordânia), pelos ingleses. Somente no período entre as guerras mundiais e após a Segunda Guerra se consolidou o processo de independência, e as fronteiras entre os países foram sendo delimitadas. Esse processo, no entanto, não significou o fim dos conflitos. Pelo contrário, após a Segunda Guerra Mundial, eles continuaram a ocorrer em virtude principalmente da formação do Estado de Israel, dos fortes interesses das grandes potências pela região e das disputas internas pelo poder, que contribuíram para a deposição de governantes e alterações em regimes de governo.
Atividades econômicas
No Oriente Médio, com exceção de Israel, a atividade industrial é pouco expressiva. Destacam-se na Turquia a indústria siderúrgica e, nos países produtores de petróleo, refinarias e algumas indústrias petroquímicas. Acrescentam-se ainda os setores tradicionais, como o têxtil e o alimentício, que estão instalados próximo às grandes cidades. O turismo é também uma atividade com grande potencial. A região apresenta um rico e milenar patrimônio histórico e, no litoral do golfo Pérsico, os corais e a vida submarina do mar Vermelho e de toda a costa mediterrânea ainda apresentam riquezas naturais preservadas. Apesar das condições favoráveis ao turismo, os conflitos e a imagem difundida pela mídia sobre o fanatismo religioso e os valores culturais opostos aos do mundo ocidental constituem barreiras a essa atividade econômica. Abu Dhabi e Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, são hoje importantes polos turísticos mundiais. Detentores de grandes reservas de petróleo, os Emirados diversificaram sua economia em aplicações financeiras no exterior e na aquisição de empresas. Um investimento significativo está relacionado à alteração de sua paisagem natural, com a construção de hotéis luxuosos, praias e ilhas artificiais. Isso foi acompanhado pela modernização dos aeroportos e toda essa estrutura tem contribuído também para atrair turistas de todas as partes do mundo. O petróleo deixou de ser sua atividade econômica exclusiva e, no Emirado de Dubai, a renda do turismo já supera a renda do petróleo.
A Turquia, com sua arquitetura herdada de dois grandes impérios — o Otomano e o Bizantino — e seu extenso litoral nos mares Egeu e Mediterrâneo, é também outro importante destino dos turistas que se dirigem ao Oriente Médio. A agricultura está restrita a algumas áreas, uma vez que existem extensos desertos no Oriente Médio. Ela se desenvolve principalmente nas planícies fluviais, em áreas irrigadas e na costa dos mares Mediterrâneo, Negro e Cáspio. Na agricultura voltada ao mercado interno, destacam-se arroz, milhete, trigo e algumas frutas. Entre as culturas destinadas também à exportação, sobressaem oliveira, chá, fumo, algodão e tâmara.
O petróleo
No Oriente Médio está grande parte das maiores reservas e centros de produção petrolífera. O interesse pelo controle de áreas produtoras de petróleo é uma das causas de guerras e revoluções na região, uma vez que este é o principal combustível da sociedade industrial e a fonte de matéria-prima para mais de 6 mil produtos. A concentração de aproximadamente 45% das reservas mundiais de petróleo no Oriente Médio e a exploração associada às grandes empresas multinacionais ou transnacionais do setor transformaram a região em proprietária da principal fonte de riqueza natural do último século, mas também resultaram em áreas com focos de tensão, disputas e intensos conflitos. Apesar da enorme riqueza gerada pela exportação de petróleo e de gás natural, parcela considerável da população não desfruta boas condições de vida. A riqueza flui para grupos minoritários, que detêm o poder político e econômico. Os países que apresentam as maiores reservas mundiais.
Interesses externos
Na atual política de “guerra contra o terrorismo”, os Estados Unidos e outros países europeus (particularmente o Reino Unido) acentuaram sua presença no Oriente Médio e na Ásia Central e promoveram o apoio a governos pró-ocidentais. Dessa forma, garante-se certo controle sobre reservas de petróleo e gás natural, oleodutos e gasodutos existentes ou que estão em projeto e em construção nos países da região. As relações do Ocidente com os governos do Oriente Médio e os interesses econômicos das grandes potências ficam claros quando consideramos que os Estados Unidos, apesar de se declararem defensores da democracia e da liberdade de expressão, apoiam governos que não prezam esses valores, como os da Arábia Saudita e do Kuwait.
Israel: desenvolvimento econômico
Israel é o único país do Oriente Médio considerado desenvolvido, em razão de suas características socioeconômicas. Além das boas condições de vida da população, a economia é diversificada, com os setores secundário e terciário bastante desenvolvidos. Há também nesse país importantes centros de pesquisa tecnológica. Israel conta com duas fontes de recursos fundamentais para a manutenção de seu crescimento econômico e de seus gastos militares: as doações da comunidade judaica mundial e a ajuda financeira dos Estados Unidos. No atual território de Israel, uma faixa litorânea, de clima Mediterrâneo, é densamente povoada (quase 300 hab./km2 ). No sul de Israel estende-se o deserto de Neguev, que ocupa praticamente a metade de seu território e onde vivem apenas 7% da população do país. Nessa região, ocorreu uma expressiva modificação no espaço. Com a construção de um eficaz sistema de irrigação, o deserto transformou-se em área fértil ao cultivo agrícola. Vale ressaltar que Israel, para tanto, passou a controlar os suprimentos de água da bacia do rio Jordão (inclusive suas nascentes nas colinas de Golã, território sírio) e os sistemas de aquíferos, que deveriam ser partilhados com os palestinos, resultando em uma das razões de conflito deste povo com Israel. A prosperidade agrícola deve-se também ao tipo de organização produtiva, representada pelo kibutz e pelo moshav. Cerca de 3% da população do país vive nos kibutzin (plural de kibutz). O kibutz convencional é uma fazenda agrícola comunitária, cujos integrantes compartilham toda a propriedade e, de comum acordo, distribuem as tarefas, configurando um modo de vida comunal. Atualmente, ocorreram adaptações em diversos kibutzin. Dessa forma, existem kibutzin com produção industrial com os mesmos modos de vida comunal que os kibutzin convencionais.
O moshav é uma vila agrícola onde cada família é proprietária de sua terra. Com uma administração central, nos moldes de uma cooperativa, as famílias dividem os equipamentos, compram sementes e outros implementos agrícolas e realizam a comercialização de sua produção. Apesar da carência de petróleo e de outros recursos energéticos característicos de grande parte do Oriente Médio, Israel tem os setores industrial e agrícola muito bem estruturados. Os principais setores industriais de alta tecnologia são bastante diversificados e destinam-se à produção de equipamentos militares, produtos químicos e farmacêuticos, softwares, aviação, telecomunicações, etc. A renda per capita é alta e apresenta um padrão de distribuição próximo ao dos países desenvolvidos.
O islamismo e o fundamentalismo islâmico
No Oriente Médio, a população é predominantemente árabe, contando também com turcos (na Turquia), persas (no Irã) e judeus (em Israel). Além desses povos, vivem na região curdos, armênios, entre outros. A maior parte dos habitantes dessa região, conforme visto na seção Para começar, professa a religião islâmica ou muçulmana. Os judeus formam o segundo maior grupo religioso. A palavra árabe islam quer dizer resignação ou total submissão à vontade de Deus. Os termos islâmico, muçulmano e maometano têm o mesmo significado, ou seja, denominam pessoa sujeita aos desígnios de Deus, ou Alá. A religião islâmica é a que mais cresce no mundo, contando com mais de 1 bilhão de adeptos.
Apesar de o islamismo ser a religião de quase 90% da população do Oriente Médio, existe uma diversidade de segmentos dentro dessa religião, dos quais os xiitas e os sunitas são maioria da população. A principal diferença desses dois segmentos está na visão de sucessão de Maomé, criador do islamismo: os sunitas acreditam que o sucessor deveria ser eleito pelo povo e os xiitas entendem que os descendentes de Ali (genro do profeta Maomé) deveriam liderar os islãs. Com base nisso, surgiram disputas relacionadas à doutrina e também se diferenciaram as práticas religioso-culturais.
O predomínio de uma ou de outra vertente na população de cada país é um importante fator para compreender tensões e conflitos regionais. Em ambas as vertentes pode estar presente o fundamentalismo islâmico.
Atualmente, os grupos fundamentalistas, que atuam em vários países da região, no sul e no sudeste asiáticos e no norte da África, têm como objetivos principais, de modo geral, a necessidade de romper com o Ocidente – considerado o “Grande Satã” –, desestabilizar governos pró-ocidentais nos países de maioria muçulmana e substituir a lei dos homens pela Lei Divina, expressa no Corão (livro sagrado transmitido por Deus ao profeta Maomé). Alguns radicais islâmicos defendem o uso da força para expandir a religião islâmica, como os que atuam no Iraque e na Síria e que, em 2014, declararam a criação de um país, o Estado Islâmico, como veremos adiante neste capítulo. Os movimentos fundamentalistas defendem um conjunto rígido de regras para o vestuário, rituais de casamento e alimentação, princípios de justiça social, normas de educação das crianças e condutas de vida para as mulheres (que não têm os mesmos direitos dos homens). No entanto, ressalva-se que em vários países de maioria muçulmana tem havido maior participação da mulher na sociedade. Mesmo no Irã, um Estado teocrático, vem aumentando o número de mulheres que frequentam centros universitários — onde cerca de 40% dos estudantes são do sexo feminino —, participam do mercado de trabalho e da política. Na Arábia Saudita, até meados de 2018, era proibido que mulheres dirigissem veículos. Esse era o único país no mundo em que as mulheres não podiam obter habilitação de motorista. Apesar de restrições e desigualdades históricas, não há, no Corão, restrições à atuação da mulher na vida social.
A questão Palestina e o Estado de Israel
Com a criação do movimento sionista no século XIX, milhares de judeus, de todas as partes do mundo, começaram a migrar para a Palestina, transformando a região em palco de permanentes conflitos com os árabes. Em 1917, a Palestina foi ocupada pelos ingleses. Esse movimento de caráter nacionalista tinha como objetivo a criação de um Estado judaico (Israel) em um território considerado sagrado para esse povo, ou seja, a “Terra Prometida”. Durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), milhões de judeus foram mortos. Outros tiveram de abandonar seus países de origem. Essa situação foi determinante para a institucionalização de um Estado judaico e a aprovação da ONU para a criação, em 1947, de um plano de partilha da Palestina, que previa a formação de dois Estados: um árabe e outro judeu. Em 1948, os ingleses retiraram-se da Palestina, e Israel constituiu-se em Estado. A partilha da Palestina entre árabes e judeus causou grande insatisfação aos povos árabes. Logo após a criação do Estado de Israel, os exércitos dos países árabes vizinhos (Egito, Síria, Líbano, Iraque e Transjordânia) atacaram o país, dando início a uma guerra violenta. Em janeiro de 1949, terminavam os combates, que conferiam a Israel novas áreas, ampliando em 50% a área original de seu território. Ainda em 1949, foram assinados acordos de armistício, segundo os quais o Estado Árabe da Palestina seria dividido entre Israel, que conquistara a Galileia e o deserto de Neguev; Transjordânia, que ficaria com a Cisjordânia (a oeste do rio Jordão), passando a se chamar Reino Hachemita da Jordânia; e Egito, que ficaria com a Faixa de Gaza.
Em 1967, eclodiu outro conflito armado, a Guerra dos Seis Dias. No fim da guerra, Israel obteve a península do Sinai e a Faixa de Gaza, do Egito; Golã, da Síria; e a Cisjordânia (margem ocidental do rio Jordão), da Jordânia. Em 1973, o Egito, a Síria e a Jordânia envolveram-se em nova guerra com Israel para a retomada dos territórios perdidos na Guerra dos Seis Dias, porém sem sucesso. Em 1979, por meio de um acordo intermediado pelos Estados Unidos, o Acordo de Camp David, Israel concordou em devolver ao Egito a península do Sinai.
Entre judeus e palestinos o conflito teve outros desdobramentos. Em 1964, foi criada a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), que reunia diversos grupos extremistas palestinos com um alvo comum: lutar pela criação de um Estado palestino e pela destruição do Estado de Israel. Em 1969, Yasser Arafat (líder da Al Fatah — atualmente um partido, mas que foi fundada, em 1964, como uma organização política e militar) assumiu a presidência da OLP. Até 1987, a organização utilizava métodos terroristas para alcançar seus objetivos. Em 1988, o líder da OLP apresentou um “plano de paz” na Assembleia Geral da ONU, no qual reconhecia o Estado de Israel. Esse acontecimento marcou o início de uma nova fase para a OLP, que conquistou mais espaço no campo diplomático, passando a negociar com os Estados Unidos e, posteriormente, com Israel. Foi nesse mesmo período que surgiu em Gaza o Hamas, outro importante grupo de combate palestino. No dia 13 de setembro de 1993, após dois meses de negociações secretas com a mediação do governo da Noruega, Arafat, pela OLP, e o então primeiro-ministro israelense, Yitzhak Rabin, assinaram na Casa Branca (Estados Unidos) um acordo de paz. Partes da Cisjordânia e de Gaza foram devolvidas aos palestinos e se tornaram regiões autônomas e de administração palestina. Foi, então, criada a Autoridade Nacional Palestina (ANP) — representante legal dos palestinos, responsável pela administração de seus territórios. As terras palestinas encontram-se divididas. O Hamas detém o controle de Gaza, e a ANP controla a Cisjordânia. Enquanto o Hamas se nega a reconhecer o Estado de Israel e qualquer negociação, a ANP ainda acredita que consiga reconquistar parte das terras palestinas com a negociação. Observe a figura 29. Em 2005, foi concluída a desocupação israelense do território de Gaza. No entanto, até o final de 2018, Israel ainda mantinha os bloqueios aéreo, marítimo e terrestre, restringindo a circulação de mercadorias, pessoas e serviços entre o território e o mundo. Essa situação agrava a situação de pobreza e o desemprego em Gaza. São várias as questões pendentes para um acordo de paz mais duradouro entre os dois povos: a questão do “muro de proteção” que contorna boa parte da Cisjordânia; a definição dos limites entre Israel e o futuro Estado palestino; a disputa por Jerusalém; e a existência de assentamentos judaicos em territórios da Autoridade Nacional Palestina. Além dessas e de outras questões, há sempre a preocupação de como grupos extremistas judeus e palestinos enfrentarão um processo de negociação que de fato encaminhe a região para a paz.
Em 2017, o governo estadunidense do então presidente Donald Trump reconheceu Jerusalém como capital de Israel e, no ano seguinte, foi inaugurada a embaixada dos Estados Unidos nessa cidade, interferindo na questão das negociações entre a ANP e Israel. Atualmente, mais de 130 países na ONU deram reconhecimento ao Estado da Palestina, que tem condição de Estado observador, não membro, das Nações Unidas (figura 30). Apesar disso, Israel, Estados Unidos e vários países europeus ainda não reconhecem a existência desse Estado.
Irã: Revolução Islâmica, oposição ao Ocidente e transformações recentes
Até 1979, o Irã foi um dos principais aliados dos Estados Unidos entre os países do Oriente Médio. Em 1953, o governo estadunidense apoiou o golpe de Estado promovido pelo xá Reza Pahlevi. Com Reza Pahlevi, o Irã constituiu uma política econômica e social apoiada no modelo ocidental. Do ponto de vista econômico, foi um período de desenvolvimento industrial e de crescimento. Apesar disso, ocorreu um profundo questionamento das correntes mais radicais do islamismo. Líderes religiosos foram perseguidos e alguns foram expulsos do país. Em 1979, uma onda de manifestações populares depôs o governo do xá e empossou o líder xiita aiatolá Khomeini. Surgiu a República Islâmica do Irã, que se caracterizou pela busca de um caminho próprio, não alinhado a nenhuma das grandes potências, Estados Unidos e ex-União Soviética. A partir de 1980, o Irã rompeu relações com os Estados Unidos e passou a ser controlado pelos chefes religiosos (aiatolás), que estabeleceram normas sociais rígidas, de acordo com os princípios do islamismo, formalizando um Estado teocrático (o atual governo do Irã, apesar de civil, está submetido ao poder dos aiatolás). Apesar do rígido controle do governo do Irã, nos últimos anos vêm ocorrendo mudanças de comportamento por parte de alguns iranianos, especialmente dos jovens, que têm buscado acesso à informação e à cultura ocidental, por meio de filmes, músicas e internet. Atualmente, o Irã é, entre os países islâmicos, aquele que exerce maior influência no Oriente Médio e tem mantido relações estáveis com praticamente todos os países vizinhos. É o maior opositor à existência do Estado de Israel. O atual governo mantém fortes relações com a China e a Rússia. Essas relações incluem cooperação técnica, associação para a exploração de petróleo em subsolo iraniano e venda de armas e de combustível para as usinas termonucleares.
Outro motivo de enfrentamento entre o Irã e o Ocidente é o desenvolvimento de um programa nuclear. Os Estados Unidos sempre alertaram que o governo iraniano teria a ambição de produzir armas de destruição em massa e que o país estaria próximo de conquistar a tecnologia necessária para alcançar tal objetivo. Alemanha, França e Reino Unido apoiavam os argumentos estadunidenses sobre a ameaça que o programa nuclear representaria para o Oriente Médio e outras regiões do mundo. Em 2013, o Irã, que sempre defendeu que seu programa nuclear teria objetivo exclusivamente pacífico e energético, firmou um acordo visando a uma redução desse programa, em troca da diminuição de sanções econômicas que sofria por parte da comunidade internacional. No mesmo ano, com a eleição de Hassan Rohani, um governante moderado, o então presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, teve, por telefone, uma conversa histórica com o presidente iraniano, sinalizando uma reaproximação diplomática. Em 2015, foi assinado um acordo nuclear entre o Irã e o grupo de países do P5+1 (formado pelos 5 países-membros do Conselho de Segurança da ONU e a Alemanha), após mais de uma década de negociações, visando restringir a possibilidade de os iranianos desenvolverem a bomba atômica.
No entanto, em 2018, os Estados Unidos saíram do acordo e uma das alegações utilizadas pelo então presidente Trump, que restabeleceu as sanções econômicas ao país, foi a de que o governo iraniano apoiaria grupos terroristas e milícias, como o Hezbollah, o Hamas, a Al-Qaeda e o Taleban.
Iraque e Afeganistão: guerras e ocupação
Parte dos conflitos atuais no Iraque teve início em 1979, com a instauração da ditadura do governo de Saddam Hussein. O novo governo, apoiado pelos Estados Unidos, envolveu-se em uma longa guerra contra o Irã pela disputa por uma faixa de terra ao sul da fronteira entre os dois países, delimitada pelo canal Chat al-Arab, junto ao golfo Pérsico. Esse fato deflagrou a Guerra Irã-Iraque (1980-1988). No fim da década de 1980, os dois países assinaram um acordo de paz, em que o Chat al-Arab permaneceu sob o domínio do Irã. Em 1990, endividado pela guerra contra o Irã, o Iraque invadiu o Kuwait — um pequeno país da península Arábica pontuado de poços de petróleo. Em decorrência, houve uma reação imediata dos Estados Unidos, da França, do Reino Unido, da Arábia Saudita e de outros países, dando origem, em 1991, à Guerra do Golfo. As forças iraquianas renderam-se sem impor condições. Após essa guerra, foi imposto ao Iraque um embargo econômico pela ONU e a inspeção sobre o controle de armas no país. Em 1998, Saddam Hussein expulsou os funcionários da ONU e expôs novamente o país à possibilidade de um novo confronto internacional.
Guerra e ocupação do Afeganistão
No dia 11 de setembro de 2001, os Estados Unidos foram atingidos pela maior ação terrorista realizada no país. O atentado foi atribuído pelo governo estadunidense à rede terrorista internacional Al-Qaeda, liderada pelo saudita Osama Bin Laden. A Al-Qaeda mantinha naquele momento sua base no Afeganistão, que era praticamente dominado pelo grupo fundamentalista Taleban, que implantou um regime de governo islâmico repressivo, sobretudo às mulheres, entre 1996 e 2001. Elas eram obrigadas a ocultarem-se sob a burca e viverem em suas casas, praticamente confinadas, ficando proibidas de frequentar escolas e locais de trabalho.
Após o atentado de 11 de setembro, o Conselho de Segurança da ONU exigiu que o grupo entregasse Osama Bin Laden. Em 2002, diante da negativa do Taleban em entregar o terrorista, os Estados Unidos invadiram o Afeganistão, depuseram o governo Taleban, estabeleceram um novo governo e instalaram novas bases militares estadunidenses no Oriente Médio (figura 32). Em 2011, os Estados Unidos iniciaram a retirada parcial das tropas do país, comprometendo-se a fazer a retirada total até 2016. No entanto, a partir de 2017, o governo Trump passou a enviar mais soldados ao país.
Guerra e ocupação do Iraque Depois da ocupação do Afeganistão, os Estados Unidos miraram um novo alvo: o Iraque. Junto ao Reino Unido, argumentavam que o Iraque constituía um risco à segurança mundial, pois o governo iraquiano desenvolvia programas de armas de destruição em massa, mantinha armas químicas e bacteriológicas estocadas e estabelecia ligações com grupos terroristas. Em 2002, os Estados Unidos, sob o governo de George W. Bush, pressionaram o Conselho de Segurança da ONU solicitando uma revisão da questão iraquiana. A relação do Iraque com o resto do mundo ainda estava em impasse desde a expulsão dos inspetores da ONU, em 1998. O Conselho de Segurança obrigou o Iraque a aceitar a volta dos inspetores ao país. Enquanto ocorria o trabalho dos inspetores da ONU no Iraque, os Estados Unidos e o Reino Unido deslocaram milhares de soldados e equipamentos de combate para o Oriente Médio. Em 2003, foi tomada a decisão de atacar o Iraque, independentemente da posição da ONU e contra a posição de três dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança: Rússia, China e França. A guerra contra o Iraque, nesse contexto, atropelou o órgão máximo para julgar essas questões. A ofensiva militar resultou na derrubada do regime ditatorial de Saddam Hussein e em sua posterior prisão. Em 2006, Saddam Hussein foi julgado sob o governo interino iraquiano e condenado à pena de morte.
A ocupação militar não conseguiu estabilizar politicamente o país. Uma sucessão de atentados contra militares e civis (tanto estrangeiros como iraquianos), promovidos por grupos insurgentes contrários à presença estadunidense, passou a fazer parte do cotidiano. Com o pretexto de combater o terrorismo, a ocupação do Iraque estimulou esse tipo de embate. Além disso, ficou comprovado que o Iraque não produzia armas de destruição em massa, principal alegação que justificou a ação militar das tropas ocidentais. Em dezembro de 2011, os Estados Unidos retiraram oficialmente suas tropas do país.
Curdos
Exemplo da maior nação constituída sem Estado, o povo curdo soma cerca de 30 milhões de pessoas distribuídas por seis países: predominantemente na Turquia, onde estão cerca de 15 milhões de pessoas, no Iraque, no Irã, na Síria, na Armênia e no Azerbaijão. Os curdos enfrentam uma longa trajetória de perseguição e de dura repressão às tentativas de formação política do Curdistão, principalmente na Turquia e no Iraque. Isso ocorre porque o território onde pretendem construir seu país dispõe de recursos naturais, como o petróleo, e é onde se localizam as nascentes dos rios Tigre e Eufrates. Na década de 1980, os curdos foram massacrados pelo exército iraquiano de Saddam Hussein, inclusive com o uso de armas químicas. Acredita-se que tenham morrido mais de 800 mil curdos nesse período. A presença estadunidense no Iraque, a partir de 1992, beneficiou o povo curdo. Os curdos iraquianos fizeram alianças com os Estados Unidos e ganharam uma rede de proteção aérea; em troca, apoiaram a intervenção no Iraque. Os curdos pretendem manter ou mesmo ampliar a autonomia que conquistaram nessa região, rica em petróleo, na qual são maioria e têm hegemonia cultural. Eles acreditam na criação de uma república federativa que garanta sua autonomia. Em 2005, com a volta das eleições para a escolha de novos governantes no Iraque, depois da queda de Saddam Hussein, a Aliança Curda conquistou 25% das cadeiras da Assembleia Legislativa. Um sistema democrático poderia garantir maior estabilidade para o povo curdo nesse país. No entanto, entre 2014 e 2018, propriedades rurais e cidades de maioria curda no Iraque foram dominadas pelo Estado Islâmico, levando a uma nova onda de violência e destruição. Os curdos fizeram alianças vitoriosas com países do Ocidente para combater o EI, mas não conseguiram apoio posterior desses países para levar adiante a reivindicação de criação de um Estado nacional.
Em 2016, na Turquia, os grupos de guerrilheiros Falcões da Liberdade do Curdistão (TAK) e do Partido dos Trabalhadores Curdos (PKK) assumiram atentados terroristas em busca de instabilidade política para a conquista da independência. Em decorrência dos eventos, o governo do presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, abriu uma temporada de forte repressão à oposição.
Síria No Oriente Médio, as atenções dos Estados Unidos também estão focadas na Síria, país de grande diversidade populacional, majoritariamente muçulmano sunita. Segundo autoridades governamentais estadunidenses, o governo sírio financia e facilita a atuação de grupos terroristas, principalmente no Iraque e em Israel. Em 2011, a Síria foi um dos países envolvidos na onda de movimentos pró-democracia, conhecida como Primavera Árabe. Esses movimentos foram desencadeados em vários países árabes contra seus regimes ditatoriais. Desde então, a Síria vem passando por uma guerra civil que adquiriu contornos de conflito étnico-religioso, ao opor os principais grupos que habitam o país. O presidente da Síria, ditador Bashar al-Assad, pertence ao grupo alauita (uma das vertentes do grupo islâmico xiita) e é apoiado por seus integrantes que representam apenas 10% da população. Outros grupos também minoritários apoiam o regime. Essas minorias foram privilegiadas durante a ditadura da dinastia Assad. Formaram o grupo social mais rico e preencheram os principais postos de comando do Estado sírio e do Partido Baath (partido único do regime). Em contraste, mais de 70% da população do país, socialmente discriminada, é formada por muçulmanos sunitas e curdos. A ONU estima que entre o ano de 2011 e os primeiros meses de 2018 cerca de 5 milhões de sírios, especialmente mulheres e crianças, saíram do país em busca de refúgio. Nesses anos, a Turquia foi o principal destino da maioria dos refugiados.
Os radicais do Estado Islâmico
No contexto de instabilidade política na Síria e no Iraque, estruturou-se uma organização terrorista formada por radicais islâmicos sunitas desses dois países, além de estrangeiros não árabes que abraçaram a sua causa, ou seja, estabeleceu-se um califado, o Estado Islâmico (EI), regido pela lei do Islã e que teria como objetivo governar todos os muçulmanos. Na prática, esses radicais formam uma milícia: uma organização militar composta de terroristas, muitos deles vinculados a grandes redes terroristas, como a Al-Qaeda. Observe o mapa da figura 36. Os radicais muçulmanos do EI controlam trechos dos territórios da Síria e do Iraque, inclusive cidades desses países. Esses radicais, chamados de jihadistas pela imprensa internacional, dominam poços e refinarias de petróleo na Síria e no Iraque; recebem doações de células terroristas de diversos países, principalmente da Arábia Saudita e do Catar; arrecadam impostos nas cidades controladas; saqueiam bancos; e fazem reféns com o intuito de cobrar resgates e impressionar a comunidade internacional (muitas vezes, executam alguns reféns e postam os vídeos em redes sociais). É também por meio da internet que muitos jovens, que abraçam a causa dos radicais islâmicos, são cooptados.
O avanço do EI foi combatido a partir de 2015 por uma coalização liderada pelos Estados Unidos por meio de ataques aéreos, pelos curdos e pelo exército iraquiano, no Iraque, e pelo exército sírio, na Síria. O enfrentamento militar reduziu progressivamente os territórios dominados pelo EI (figura 37). Em 2017, quase quatro anos depois de o grupo terrorista ter estabelecido controle sobre áreas no Iraque, o governo iraquiano declarou o fim da guerra contra o EI. Apesar das grandes perdas militares e territoriais, os episódios não derrotaram o grupo, que ainda é considerado uma ameaça. Em 2017, combatentes se dirigiram à Líbia para formar outras bases.