quinta-feira, 25 de julho de 2024

Indústria 4.0

Para alguns pesquisadores, as transformações relacionadas à inserção de novas tecnologias nos setores produtivos representam o início de uma nova revolução, a Quarta Revolução Industrial, ou Indústria 4.0 - Introdução de novas tecnologias: IoT, IA, nuvem, Big Data, sistemas ciber-físicos. A Indústria 4.0 irá provocar grandes mudanças no mundo do trabalho e elas não ficarão restritas apenas às indústrias. A previsão é que nos próximos anos surjam até 30 novas profissões nos diferentes setores da economia. 

As etapas de produção e distribuição da Indústria 4.0 são controladas digitalmente, englobando tecnologias de automação e troca de dados. É possível, por exemplo, controlar os estoques, aumentar ou diminuir o ritmo de produção, entre outras ações, além de aumentar a produtividade e reduzir os custos. No entanto, para implementar a Indústria 4.0, é necessária a adoção de um conjunto de tecnologias. Os países mais desenvolvidos já avançaram nesse sentido e os países emergentes estão fazendo essa transição de forma gradual.

No Brasil, a maior parte das indústrias ainda guarda características dos modelos produtivos da Segunda e da Terceira Revolução Industrial. Uma pesquisa feita pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) revelou que o custo de implantação dessas tecnologias foi apontado como a principal barreira para sua adoção. Além disso, o Brasil ainda precisa promover ampliações na infraestrutura digital e capacitação profissional.

Em 2018, o governo brasileiro lançou a Agenda Brasileira para a Indústria 4.0, com o objetivo de garantir a competitividade da indústria do país no cenário internacional, além de aumentar a eficiência e reduzir os custos de manutenção de equipamentos e de energia. Entre as ações do governo, destaca-se a criação de linhas de crédito para as empresas que pretendem adotar ou desenvolver novas tecnologias.

A pegada ecológica

A produção e o consumo de alimentos, bens e serviços e a realização de obras de infraestrutura são exemplos de atividades que demandam uso direto ou indireto dos recursos naturais biológicos renováveis. Para avaliar a pressão do consumo das populações humanas sobre esses recursos, foi criada a Pegada Ecológica.
A revisão dos nossos hábitos de consumo é cada vez mais urgente. Os problemas ambientais enfrentados atualmente indicam que já sofremos as consequências desse modo de vida baseado no consumo desenfreado.
Como forma de quantificar o consumo humano e relacioná-lo aos recursos naturais da Terra, os pesquisadores canadenses William Rees e Mathis Wackernagel criaram, em 1990, o termo pegada ecológica. De modo resumido, esse conceito indica quantos hectares produtivos na superfície terrestre seriam necessários para recompor os recursos gastos por um indivíduo, considerando seu padrão de consumo.

Os componentes da Pegada Ecológica

O termo Pegada Ecológica foi criado na década de 1990 por William Rees e Mathis Wackernagel, ecologistas canadenses. O cálculo da Pegada Ecológica é feito por categorias de consumo (as principais são: alimentação, habitação, energia, bens de consumo e transportes) convertidas em uma ou mais áreas de terreno. Isto é, para comparar a demanda humana com a biocapacidade – capacidade dos ecossistemas em produzir recursos úteis e absorver os resíduos gerados pelos seres humanos –, são somadas as extensões das áreas necessárias ao fornecimento dos recursos naturais biológicos renováveis consumidos pelas pessoas, das áreas ocupadas por infraestrutura e das áreas necessárias para a absorção de resíduos (CO2). Conheça a seguir os componentes da Pegada Ecológica.

Florestas - Áreas florestais necessárias para o fornecimento de produtos madeireiros, celulose e lenha.
Áreas construídas - Áreas ocupadas por infraestrutura humana, inclusive transportes, habitação, estruturas industriais e reservatórios para a geração de
energia hidrelétrica.
Dióxido de carbono - Áreas florestais capazes de absorver as emissões de CO2 derivadas da queima de combustíveis fósseis, com exceção da parcela absorvida pelos oceanos.
Pastagens - Áreas usadas para a criação de gado de corte e leiteiro, para a produção de couro e produtos de lã.
Áreas de cultivo - Áreas usadas para produzir alimentos.


Minorias no mundo globalizado

Minorias são grupos de pessoas que se diferenciam do restante da população do país onde vivem por se encontrarem em situação de desvantagem, opressão, discriminação ou exclusão de direitos. Isso os torna o público-alvo de organizações que promovem a garantia dos direitos humanos, como a Anistia Internacional ou os Direitos Humanos sem Fronteiras.

Esses grupos de pessoas podem ser considerados minorias por motivo de origem social, cultural, de gênero, de sexualidade, étnica ou religiosa. No trabalho com esse tema, você conhecerá um pouco melhor a questão das minorias étnicas.

O que são minorias étnicas

Grupos étnicos em geral se diferenciam uns dos outros por um conjunto de características herdadas de seus antepassados e transmitidas de geração em geração ao longo do tempo, como costumes socioculturais, língua e religião. As minorias étnicas são grupos que resistem, unidos, às opressões dos grupos étnicos majoritários.
Em muitos casos, as minorias étnicas não têm o território reconhecido internacionalmente e são consideradas grupos invasores em determinado país.
Outra questão que se destaca entre as minorias étnicas é a influência da cultura de massa dos grupos majoritários em sua cultura original. Nas últimas décadas, essa influência vem ocorrendo, sobretudo, pelo uso da internet entre a população mais jovem, ou seja, adolescentes das minorias têm adotado novos hábitos e costumes.

Imigrantes também se tornam minorias

Atualmente, imigrantes de diferentes etnias têm sido vítimas de exclusão ou restrição de direitos. Além de terem fugido de seus países de origem devido a situações de guerra, pobreza extrema ou perseguição religiosa, muitas vezes são discriminados nos países que os acolhem. Essas condições podem afetar a saúde física e mental dessas pessoas.
Em todos os continentes são encontrados grupos de imigrantes que se tornaram minorias e têm um longo passado de conflitos e opressões. Um exemplo é o povo cigano, que é nômade e migra constantemente há mais de mil anos, sobretudo entre a Europa e a Ásia.
Em alguns países europeus, por exemplo, é proibida a permanência de ciganos em seu território. Outros permitem que se estabeleçam, mas limitam seus direitos sociais básicos, como o acesso a serviços públicos de saúde e educação. Além disso, a população majoritária costuma agir com preconceito e discriminação em relação a esse povo.

Povos nativos tornaram-se minorias na Austrália, na Nova Zelândia e no Brasil

Outra situação comum relacionada às minorias é o caso de povos que, originalmente, eram majoritários, mas após o contato com colonizadores europeus, entre os séculos XVI e XVIII, passaram a ser minoria em seu próprio território.

Os povos aborígenes ocupavam a Austrália antes da chegada dos ingleses, no final do século XVIII. Com a chegada dos colonizadores, os aborígenes foram submetidos à escravidão e suas características socioculturais foram quase totalmente extintas. Somente há pouco mais de uma década o governo australiano reconheceu os aborígenes como os primeiros povos a habitar o país. Com isso, abriu espaço para a garantia de direitos básicos desses grupos, com a demarcação de suas terras e a manutenção de seus costumes e tradições.

A origem dos povos maoris, habitantes da Nova Zelândia, ainda não é totalmente conhecida pelos pesquisadores. Acredita-se que eles já habitavam o país séculos antes da chegada dos colonizadores ingleses, o que ocorreu em meados do século XVII. Batalhas travadas com os colonizadores e doenças transmitidas por eles foram responsáveis pela grande diminuição da população original. Os maoris tiveram seus direitos reconhecidos em 1840, em um acordo no qual a Inglaterra assumiu que esses povos são os verdadeiros proprietários das terras neozelandesas. Atualmente há, na Nova Zelândia, um forte movimento de reconhecimento e resgate da cultura dos maoris, que busca diminuir preconceitos e a forte exclusão social sofrida por esse povo.

Até o início do século XVI, os povos indígenas ocupavam livremente o território onde hoje é o Brasil. Os conflitos e as doenças trazidos pelos colonizadores europeus dizimaram grande parte desses povos. Além disso, os indígenas têm uma longa história de tentativas de escravização e de exploração das riquezas de suas terras pelos colonizadores europeus. O Brasil tornou ‑se um país independente em 1822, mas somente com a Constituição de 1934 os povos indígenas passaram a ter direito à posse das terras que ocupavam. A atual Constituição de 1988 assegura outros direitos a eles, como o respeito a seu modo de organização social, ao uso de sua língua e à prática de suas tradições.

Imigrantes na Europa

A diminuição da PEA nos países europeus gera uma demanda por mão de obra estrangeira. Isso estimula o fluxo de imigrantes oriundos de outros continentes para esses países.

Nas últimas décadas, grandes fluxos migratórios de países subdesenvolvidos da África, da Ásia (sobretudo das ex-colônias) e da América Latina têm se direcionado principalmente para os países europeus mais industrializados, como França, Bélgica, Alemanha, Itália e Reino Unido. De acordo com dados da Comissão Europeia, em 2020 existiam aproximadamente 60 milhões de imigrantes internacionais vivendo em países da União Europeia.

Desde a década de 1990, também é grande o fluxo migratório para as nações mais desenvolvidas da Europa de trabalhadores vindos dos antigos países socialistas, como Sérvia e Montenegro, da Hungria e dos países da ex-União Soviética. Destaca-se também o caso de milhões de deslocados ucranianos que acabaram migrando para países europeus mais a oeste devido ao confronto bélico entre a Ucrânia e a Rússia em 2022.
Até o final da década de 1980, esses países absorveram, sem muitas restrições, as correntes migratórias provenientes dos países europeus mais pobres e do mundo subdesenvolvido.
Desde essa época, várias transformações econômicas provocaram progressivo aumento de demissões. Tais transformações, ligadas ao processo de globalização, incluem medidas como a abertura dos mercados e a reestruturação das empresas, sobretudo pela introdução em massa da automação industrial.
Durante a década de 2010, países como França, Itália e Espanha apresentaram taxa de desemprego média em torno de 14%, número considerado alto para os padrões europeus. Com isso, cresceram as reações contrárias à imigração, pois tanto partidos políticos como sindicatos de trabalhadores e outras entidades civis associaram a falta de emprego ao grande número de trabalhadores estrangeiros. Intensificaram-se, então, os movimentos de grupos xenófobos, que se apoiam em doutrinas racistas, repudiam explícita e violentamente a presença de estrangeiros e exigem do governo que sejam repatriados.
A pressão política dos grupos xenófobos tem levado muitos governos a adotar medidas que restringem a entrada de imigrantes. Contudo, esse controle acaba estimulando o crescimento da imigração clandestina e o tráfico de trabalhadores.
Ao entrar ilegalmente em um país, os imigrantes enfrentam muitas dificuldades para encontrar trabalho, o que, por vezes, contribui para situações de exclusão, pois sua situação não é regularizada no país.


Conflitos no Cáucaso

Azerbaijão, Geórgia e Armênia formam a região conhecida como Cáucaso, localizada entre os mares Cáspio e Negro.
No Cáucaso vivem, aproximadamente, 100 grupos étnicos, com cultura e línguas próprias.
Além dos países independentes – Geórgia, Armênia e Azerbaijão –, há repúblicas e regiões autônomas pertencentes à Rússia. A diversidade étnica e a importância econômica do Cáucaso, que é rico em minérios e petróleo, são fatores que ajudam a explicar a ocorrência de conflitos na região.
A região de Karabakh é disputada por Armênia e Azerbaijão desde o início do século XX. Em 1994, após um período de guerra, um acordo foi assinado entre as partes. Porém, os conflitos recomeçaram em 2020 e a situação na região ainda é bastante instável. A Armênia, cuja maioria da população é cristã, é apoiada pela Rússia. O Azerbaijão, por sua vez, tem maioria da população muçulmana e é apoiado pela Turquia.
Na Geórgia, os maiores conflitos e movimentos separatistas ocorrem na Ossétia do Sul e na Abcásia. Em 1990, logo que a Geórgia declarou sua independência da União Soviética, a Ossétia do Sul e a Abcásia também declararam independência da Geórgia, que não aceitou a decisão. A tensão aumentou quando a Rússia passou a defender a autonomia da Ossétia do Sul.

A  Chechênia

O fim da URSS não significou o fim das tensões na região: após a queda do socialismo, ocorreram diversos conflitos  entre a Rússia e os países vizinhos. A região do Cáucaso está localizada entre os mares Negro e Cáspio e é palco de um dos conflitos mais relevantes que envolvem a Rússia e a província da Chechênia, de maioria muçulmana.

O movimento separatista checheno iniciou-se em 1859, quando o território foi anexado pelo Império Russo. Em 1991, após o enfraquecimento da União Soviética e o começo da independência das ex-repúblicas soviéticas, intensificou-se a luta armada por meio de organizações terroristas.

O conflito mais recente entre Rússia e Chechênia ocorreu em 1994, quando o exército russo invadiu a província e entrou em conflito armado com os separatistas chechenos, resultando em um saldo de aproximadamente 100 mil mortos.

Derrotados, os rebeldes separatistas intensificaram as ações terroristas contra o governo russo. Em 2002, por exemplo, invadiram um teatro em Moscou e fizeram mais de 700 reféns; após reação do Exército russo, cerca de 50 rebeldes e 150 reféns foram mortos.
O governo russo não tem interesse em aceitar a independência da Chechênia. Se isso ocorrer, abrirá um precedente para que outras regiões do sul do país reivindiquem a separação, entre elas Daguestão, Inguchétia, Abecásia e Ossétia do Sul. Não somente o fator econômico pesa, mas também o político. Na região, há reservas de petróleo e de gás natural e, por ela, passam oleodutos vindos do Azerbaijão.
A exemplo da Chechênia, o Daguestão e a Inguchétia também
reivindicam a independência da Rússia e aspiram formar repúblicas islâmicas. A Rússia mantém forte controle militar nessas áreas, a fim de conter a ação dos rebeldes separatistas.

Conflitos na Crimeia

Atualmente, uma das questões geopolíticas mais relevantes que envolvem a Rússia é o conflito com a Ucrânia pela posse da Península da Crimeia. A região já pertenceu à Rússia e foi anexada pela Ucrânia, em 1954, como presente do então líder soviético Nikita Khrushchov, que era de origem ucraniana.
Diferentemente do resto da Ucrânia, a maioria da população da Crimeia é de origem russa. A história desse conflito começou em novembro de 2013, quando o então presidente da Ucrânia, Viktor Yanukovych, desistiu de assinar um acordo de livre-comércio com a União Europeia, dando prioridade a acordos com a Rússia. Isso gerou protestos populares, repressão militar violenta do governo e o afastamento do presidente (no ano seguinte) pelo Parlamento do país. Ao convocar novas eleições, as tensões separatistas do leste do país, de maioria russa, tornaram-se mais acirradas.
Na Crimeia, o Parlamento local foi tomado por um comando pró-Rússia, que nomeou um novo premiê e aprovou a independência e posterior anexação à Rússia. O governo foi considerado ilegítimo pela Ucrânia, que pediu às forças internacionais que não o reconhecessem. Com as tensões, o Parlamento russo aprovou o envio de tropas à Crimeia.
Os Estados Unidos e outros países ocidentais posicionaram-se a favor da Ucrânia, impondo sanções e exigindo que a Rússia retirasse imediatamente seu contingente militar da região.
Mesmo com oposição da ONU, foi realizado um referendo popular na Crimeia, que, com 96% dos votos, decidiu pela separação da Ucrânia e anexação à Rússia. Atualmente, a Rússia administra a península, e a Ucrânia continua a afirmar seu direito sobre a Crimeia.
A questão central desse conflito é o desejo da Rússia de retomar sua influência na Europa, evitando o avanço do Ocidente até zonas próximas de suas fronteiras. Isso porque, com o fim da Guerra Fria e a desintegração da União Soviética, a Rússia perdeu grande parte de seu poder de influência mundial. A Crimeia é uma região de grande importância estratégica: tem acesso ao Mar Negro (único porto de águas quentes da Rússia, que leva ao Mediterrâneo) e um dos solos mais férteis do mundo.
Mais recentemente, em fevereiro de 2022, iniciou-se um conflito entre Rússia e Ucrânia que já causou danos aos dois países, com inúmeras mortes de ambos os lados.

A PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO

A reestruturação das relações de produção e de circulação da economia no sistema financeiro impactaram fortemente o mundo do trabalho. A passagem do regime de produção fordista para o de acumulação flexível, a partir da década de 1970, promoveu a maximização de receitas e lucros de bancos, associados a ganhos cada vez maiores das empresas responsáveis pela produção de bens de consumo duráveis e não duráveis.

Nesse cenário, houve a intensificação dos regimes de trabalhos terceirizados e precarizados, uma alternativa do capital para a diminuição dos custos de produção com a mão de obra. Esses regimes de trabalho são caracterizados pelo pagamento por horas trabalhadas, a ausência de vínculos trabalhistas e a redução dos salários. Também há flexibilização ou mesmo desestruturação dos direitos trabalhistas, como férias, 13° salário e licença médica.
Apesar da história de luta dos trabalhadores pela conquista de seus direitos, o trabalho informal sempre foi uma realidade, em maior ou menor escala, dependendo da região e do período histórico.
O desenvolvimento das tecnologias de comunicação e a ampliação do acesso à internet, aliados às mudanças na economia mundial e ao desemprego, contribuíram para o surgimento de uma nova face da precarização do trabalho, a uberização. O termo faz referência ao nome de uma das maiores empresas do mundo de aplicativos de transporte privado de passageiros e entrega de refeições e mercadorias.

No entanto, a precarização e a terceirização do trabalho não ocorrem de forma homogênea, tendo em vista que atinge mais intensamente os países em desenvolvimento, que apresentam legislações trabalhistas mais flexíveis e mão de obra mais barata justamente para atrair empresas multinacionais para seus territórios.
A principal linha da produção industrial das megacorporações europeias e estadunidenses, o Sudeste Asiático, concentra as maiores taxas de precariedade das condições de trabalho, pois uma parcela considerável da população trabalhadora exerce sua função recebendo baixos salários e dedicando extensas jornadas em locais muitas vezes desprovidos de infraestrutura de higiene e segurança. A América Latina também tem sofrido com a precarização do trabalho. De acordo com dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT), entre 2020 e 2021, houve um aumento de 80% no número de trabalhadores informais na região.
Por não possuírem vínculos empregatícios, os trabalhadores autônomos não têm acesso a direitos trabalhistas básicos, como salário-mínimo, férias e repouso semanal remunerados, seguro-desemprego, jornada de trabalho de oito horas por dia, aposentadoria, entre outros.
Em algumas situações, o trabalhador deve usar recursos próprios para arcar com custos relacionados ao serviço prestado: manutenção dos veículos e combustível, compra ou aluguel do carro, moto ou bicicleta, mensalidade do plano de celular para receber as chamadas nos aplicativos etc.
Durante a pandemia de covid-19, a vulnerabilidade dos trabalhadores autônomos foi agravada. Enquanto parcelas da população estavam em isolamento social, pois suas condições de trabalho permitiam, os trabalhadores dos aplicativos continuaram nas ruas para garantir seu sustento, expostos à contaminação pelo vírus com pouco ou sem nenhum respaldo para cuidar da saúde.
A partir de 2020, a pandemia causada pelo coronavírus e a crise econômica e sanitária instensificaram as mudanças do mundo do trabalho. Nesse período, houve um aumento das taxas de desemprego e da precarização do trabalho, tendo em vista que muitas atividades sofreram limitação, como medida de segurança para conter a propagação do vírus. Com isso, muitos trabalhadores sofreram a perda ou a diminuição de sua renda durante a pandemia.
Além disso, ocorreram mudanças nas rotinas de trabalho, que passaram a ocorrer de forma remota ou híbrida em muitas profissões. Esses trabalhos exigem o acesso à internet e às tecnologias digitais, o que ainda não é uma realidade para muitos grupos sociais. Diante desse cenário, pode-se afirmar que as desigualdades no mercado de trabalho se intensificaram durante a pandemia.

OS CONFLITOS E OS NÔMADES GLOBAIS

Os conflitos armados são catastróficos para os países envolvidos e costumam afetar também os países vizinhos. Dentre esses problemas, podemos citar a violência, a fome, a inflação, a destruição de residências e infraestruturas diversas e a disseminação de doenças.

Todos esses problemas fazem com que muitas pessoas se arrisquem tentando fugir desse contexto e busquem melhores condições de vida em outros lugares. Os imigrantes tiveram um papel muito importante no processo de ocupação do território europeu e de sua formação econômica e social. Alguns governos europeus procuram tornar as restrições aos imigrantes menos rígidas em razão da oferta de mão de obra cada vez mais reduzida e da baixa natalidade das populações de seus países. 
Os imigrantes tendem a buscar na Europa destinos com idiomas próximos de seus países de origem. Além disso, os países mais ricos também costumam atrair mais imigrantes que buscam uma vida melhor. Apesar disso, parte dos imigrantes que se fixam na Europa é submetida à baixa remuneração, tem pouco acesso à rede de proteção social e de serviços públicos e enfrenta situações de exclusão habitacional, com condições de moradia e infraestrutura de serviços públicos inferiores à média das cidades onde se encontram.
Apesar de os países europeus precisarem da mão de obra oferecida por muitos imigrantes, têm crescido na Europa movimentos de grupos extremistas que propagam um discurso anti-imigração.
Embora muitos cidadãos europeus apoiem a garantia de direitos aos migrantes, parte da população europeia teme que pessoas vindas de outros países ameacem seus postos de trabalho.
Em países centrais da Europa, esse temor aos estrangeiros fundamenta discursos alarmistas e preconceituosos, que desconsideram a localização periférica de outros países europeus, onde o fenômeno migratório é ainda mais intenso.
Em geral, os países que recebem mais migrantes localizam-se no entorno da região em crise e têm menos recursos para abrigar essa população. 

O CONFLITO ENTRE CHINA E TAIWAN

A ilha de Taiwan está estrategicamente localizada entre o Mar da China Oriental e o Mar da China Meridional e sempre foi um ponto de interesse de potências europeias e asiáticas. Nos séculos XVI e XVII, espanhóis, neerlandeses e chineses exerceram domínio sobre a ilha, que era habitada por uma população local. No século XIX, a ilha caiu sob domínio japonês e só após o fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) voltou a pertencer a China.
Após o fim da Guerra Civil Chinesa em 1949, o exército nacionalista derrotado deixou o continente e se refugiou na ilha de Taiwan, onde foi proclamada a República da China.
Na China continental, o vitorioso Exército de Libertação Popular, de ideologia comunista, proclamou a República Popular da China. Desde então, os dois países se consideram
a única China e qualquer país que mantiver relações diplomáticas oficiais com um não pode ter com o outro. Até 1971, a República da China (Taiwan) era o país reconhecido na ONU como o legítimo representante chinês quando a Assembleia Geral da ONU reconheceu a República Popular da China como a representante oficial na organização.
Por conta da importância econômica e de seu grande mercado consumidor, a maior parte dos países hoje reconhece a República Popular da China como a única China, no entanto, muitos deles mantêm relações com Taiwan por meios não oficiais.
Atualmente, a República Popular da China exerce forte pressão diplomática sobre qualquer país que tente estabelecer relações oficiais com Taiwan, uma vez que considera o território uma província rebelde e busca sua unificação com o continente. Historicamente, a ilha recebeu muitos chineses que fugiram do país após a Revolução Comunista de 1949.
Apesar do recente processo de aproximação entre China e Taiwan, muito em função das relações comerciais, o governo chinês já ameaçou invadir a ilha diversas vezes.
Mesmo com o não reconhecimento oficial da comunidade internacional, Taiwan é, na prática, um país soberano, possui governo próprio, eleições e forças armadas. 
Em 2020, em uma lista divulgada pela revista The Economist, Taiwan ocupava o 11º lugar no ranking de índice de democracia, a mais alta posição dentre os países do Leste da Ásia.
Essa situação gera uma grande tensão no estreito de Taiwan, que separa os dois países, o que inclusive desperta interesse e preocupação de outras potências, como os Estados Unidos.
A ilha de Taiwan é o território que, estrategicamente, pode bloquear a expansão chinesa para o oceano Pacífico. A partir dali, é possível monitorar os fluxos de embarcações chinesas ao norte e ao sul do território. Esse é um dos motivos pelos quais os Estados Unidos apoiam Taiwan.
Os Estados Unidos mantêm diversas bases e instalações militares na região, além de terem firmado alianças militares e estratégicas com países que também buscam conter a influência chinesa no Pacífico. Com a Austrália e o Reino Unido, os Estados Unidos firmaram a aliança militar Aukus, e com Austrália, Índia e Japão, estabeleceram o Diálogo de Segurança Quadrilateral (Quad). A China vê com grande preocupação essa crescente influência estadunidense na região e os movimentos de países vizinhos para isolá-la.
Em 2022, as tensões envolvendo China, Taiwan e, consequentemente, Estados Unidos aumentaram com a visita da presidente da Câmara dos Deputados estadunidense, Nancy Pelosi, a Taiwan. A visita foi considerada pelo governo chinês como uma ameaça a seu território e, como forma de retaliação ao acontecimento, a China anunciou uma série de medidas econômicas contra a ilha e os Estados Unidos, além de realizar exercícios militares com munição real que simulavam um bloqueio naval à Taiwan.

O INTERESSE GEOPOLÍTICO NO AFEGANISTÃO

O Afeganistão é detentor de riquezas minerais significativas e localização estratégica privilegiada, porém, é um país pouco desenvolvido. Por essas razões, foi alvo de diversas invasões e ocupações estrangeiras ao longo da história (inclusive da União Soviética, entre 1979 e 1989).
O Afeganistão tem uma história colonial distinta das outras regiões asiáticas. Durante o imperialismo do fim do século XIX, o país chegou a ser invadido por tropas britânicas, mas não foi efetivamente colonizado, pois era um “Estado-tampão” que separava o Império Russo e domínios coloniais do Império Britânico. Se por um lado o país evitou, assim, a exploração colonial, por outro teve seu desenvolvimento econômico muito reduzido.

Durante o século XX, o Afeganistão foi um país independente, mas que passou por diversas mudanças de regimes e golpes de estado. Em 1978, no contexto da Guerra Fria, partidos de orientação comunista apoiados pela União Soviética tomaram o poder no país, o que também deu início à insurgência de grupos armados oposicionistas. Em 1979, tropas soviéticas invadiram o Afeganistão, dando início a uma ocupação que duraria até 1989. Durante esse período, o exército soviético lutou contra os mujahidins, combatentes islâmicos que foram apoiados por diversos países, sobretudo pelos Estados Unidos. A guerra vitimou aproximadamente 15 mil soviéticos e, estima-se, mais de 1 milhão de afegãos.
Após a retirada das tropas soviéticas, o Afeganistão mergulhou em uma guerra civil que resultou na tomada do poder pelo grupo extremista islâmico Talibã, uma das principais facções do conflito e que recebeu forte apoio do serviço secreto paquistanês.
Após o atentado de 11 de setembro de 2001, nos Estados Unidos, o governo estadunidense atribuiu o ataque à rede terrorista internacional Al-Qaeda, liderada por Osama Bin Laden, cuja base estava instalada no Afeganistão. Após a organização ter se recusado a cumprir a exigência do Conselho de Segurança da ONU de entregar Osama Bin Laden, os Estados Unidos deram início à invasão do Afeganistão, em 2002. 
Uma coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos invadiu o Afeganistão, no contexto da guerra contra o terrorismo internacional, derrubou o governo talibã e iniciou uma ocupação militar do país que duraria quase 20 anos. 
Na época, o Afeganistão estava sob domínio do Taleban, que havia implantado um regime repressivo sobretudo às mulheres, entre 1996 e 2001. Após a invasão, os Estados Unidos estabeleceram um novo governo e instalaram novas bases militares estadunidenses no Oriente Médio.
A partir de 2011, as tropas internacionais começaram a se retirar gradualmente do país e o ambiente de segurança se deteriorou ainda mais com a escalada de ataques de grupos insurgentes.
Em 2020, os Estados Unidos firmaram um acordo com o Talibã para a retirada de suas tropas do Afeganistão. Em contrapartida, o grupo afegão se comprometeu a cortar laços com o grupo terrorista Al-Qaeda. No ano de 2021, o último soldado estadunidense deixou o solo afegão. No entanto, o governo afegão, reconhecido internacionalmente, não possuía força militar para contrapor os insurgentes talibãs, e a retirada estadunidense ocorreu às pressas em meio aos rápidos avanços militares do grupo fundamentalista. 
A comunidade internacional criticou duramente a forma como se deu a retirada das tropas, que ficou marcada por tumultos, com milhares de afegãos que haviam colaborado com a presença estadunidense tentando escapar do país por medo de represálias por parte do Talibã. A guerra deixou um saldo de aproximadamente 176 mil mortos, sendo 46 mil civis e 3,5 mil integrantes da coalizão internacional.
Com a retirada do exército dos Estados Unidos do Afeganistão, o Talibã derrubou rapidamente o governo e retomou o controle central do país. Agora no poder, o grupo tem adotado medidas restritivas em relação à liberdade das mulheres e imposto uma interpretação mais estrita da lei islâmica a toda a população. Embora tenha tomado o controle do país, o Talibã tem sido contestado interna e externamente. O grupo vem sofrendo críticas por parte de outros países e de organismos internacionais por não respeitar os direitos humanos. Além disso, dentro de seu próprio território, o atual governo sofre contestação de outras organizações que buscam tomar o poder, como, por exemplo, o Estado Islâmico.

A GUERRA CIVIL SÍRIA

A disputa territorial entre Síria e Turquia sempre foi uma questão geopolítica importante no Oriente Médio. Depois da Primeira Guerra Mundial, a Turquia reivindicava o território de Alexandreta (atual província turca de Hatay). No entanto, a França, que administrava a região, manteve esse território sob domínio sírio. 
Em 1939, quando uma decisão política indicou que Hatay deveria pertencer aos turcos, foi a vez de os sírios não aceitarem, apesar de essa província ser habitada majoritariamente por turcos. As relações entre os países se deterioraram quando o presidente sírio Hafez al-Assad (pai do atual ditador Bashar al-Assad) apoiou o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) em sua causa, ou seja, a busca pela independência contra a Turquia.
Em 2011 teve início um conflito na Síria, originado nas revoluções da Primavera Árabe, nome dado ao período em que a população de algumas nações árabes se revoltou contra os governos de seus países, há anos no poder.
Os protestos na Síria foram contidos violentamente pelo governo de Bashar al-Assad e resultaram numa guerra civil. Bashar al-Assad representa uma etnia minoritária e de elite na Síria, a alauíta (setor do xiismo), enquanto a maioria da população (sunita) não se vê representada pelo governo.

Como reação às manifestações populares durante a Primavera Árabe, o ditador Bashar al-Assad, da Síria, iniciou violenta repressão armada, resultando em centenas de mortes. A repressão aos grupos políticos oposicionistas rapidamente evoluiu para uma sangrenta guerra civil, que opôs o exército nacional sírio contra diversas facções, como o Exército Livre Sírio, fundamentalistas islâmicos, curdos, entre outros.
Após um acordo entre Estados Unidos e Rússia, o governo de Bashar al-Assad, para evitar a intervenção internacional, comprometeu-se a assinar um tratado e permitir que o arsenal químico sírio fosse destruído. O governo sírio foi acusado de ter usado armas químicas contra seus opositores em 2013.
Enquanto os rebeldes afirmavam tentar acabar com a ditadura e implantar a democracia, o governo alegava defender o país de terroristas.
Um dos principais agravantes dentro do conflito sírio é a atuação do grupo terrorista Estado Islâmico (EI), que, inicialmente, lutava a favor dos opositores de Bashar al-Assad. O EI chegou a controlar efetivamente áreas do território sírio e, após a tomada de Raqqa, escolheu a cidade como capital de seu autoproclamado califado em 2014. A partir de 2016, o exército nacional sírio (apoiado pela Rússia) e outros grupos beligerantes realizaram ofensivas contra o grupo e reduziram amplamente o seu poder no país.
Há grande interesse geopolítico internacional na Síria, e potências estrangeiras como Estados Unidos, países europeus, Rússia, Turquia e Irã realizam intervenções militares no território do país.
Os russos e os iranianos apoiam o ditador sírio Bashar Al-Assad e lutam ao lado das forças governamentais. Os russos foram responsáveis por uma intensa campanha de bombardeios aéreos a grupos contrários ao governo, a qual foi marcada, sobretudo, pela destruição da cidade de Alepo, na época controlada pelos rebeldes.
Os Estados Unidos e países europeus, como Reino Unido e França, apoiam diversos grupos de oposição ao governo sírio, como as Forças Democráticas Sírias (FDS) e as forças curdas. Além disso, a imposição estadunidense se faz presente por meio bombardeios que têm como alvo instalações do governo, grupos radicais islâmicos e milícias apoiadas pelo Irã.
Em meio aos interesses externos, turcos e curdos travam disputas na faixa norte do território sírio, enquanto grupos terroristas como Estado Islâmico e Al-Qaeda tentam sobreviver ao novo arranjo territorial produzido pela guerra.
A Guerra Civil Síria já vitimou aproximadamente 500 mil pessoas desde o seu início em 2011, além de obrigar que mais de 5 milhões de pessoas deixassem as suas casas. As ações de tropas do governo sírio, de rebeldes e das potências estrangeiras não raro vitimam civis, o que contribui para o alto número de mortos e feridos no conflito.

CONFLITOS NA TURQUIA: TURCOS E CURDOS

País marcado por conflitos e disputas territoriais, a Turquia tem como uma de suas principais questões geopolíticas o conflito territorial com os curdos, povo que ocupa sobretudo áreas no oeste do país. Os curdos também ocupam áreas nos territórios de outros países, como Iraque, Irã, Síria, Geórgia e Armênia.

O povo curdo reivindica a criação de um país autônomo – o Curdistão – para a preservação de sua identidade cultural, prometido pelos britânicos desde o período colonial da região. No entanto, especialmente por ocupar uma área estratégica de nascentes de rios e reservas petrolíferas, sua autonomia é negada. Os curdos formam o quarto maior grupo étnico do Oriente Médio.

A luta pela autonomia do povo curdo começou a ser travada a partir da década de 1980, com a atuação do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), e tem como objetivo formar o Estado curdo e abrigar sua população, que se mantém dispersa e reprimida por toda a região. O PKK já realizou ações armadas e ataques à bomba contra forças de segurança turcas, motivo pelo qual é considerado uma organização terrorista pelo país.

Outro problema enfrentado pela Turquia e que afeta diretamente os curdos se refere à disponibilidade hídrica e energética. Para solucioná-lo, o governo turco deu início ao projeto da Grande Anatólia, cujo objetivo é construir 22 represas e 19 usinas hidrelétricas ao longo dos rios Tigre e Eufrates. Além disso, o projeto também prevê a melhoria da infraestrutura urbana e rural em toda a área contemplada. No entanto, esse projeto prevê o alagamento de áreas do país ocupadas pelos curdos, que seriam obrigados a deixar suas terras. Outras críticas ao projeto vieram de países vizinhos, como Síria e Iraque, que protestaram por entenderem que ficariam privados de água. Já os sauditas e os israelenses apoiaram o projeto de construção do grande sistema, que inclui um duto que ligará as barragens do sudeste da Turquia a Israel e a Riad.

Além disso, a Turquia é um dos principais destinos de refugiados provenientes de países que passam por guerra civis e instabilidade política na região, como é o caso da Síria e do Iraque. A guerra civil na Síria, iniciada em 2011, é o principal fator de expulsão de pessoas na região e aproximadamente 3,5 milhões de sírios se encontravam refugiados no território

turco em 2021. O governo turco está diretamente envolvido no conflito e frequentemente facilita que os refugiados sírios abandonem seu território em direção aos países europeus como forma de exercer pressão geopolítica sobre a União Europeia.

O governo turco é criticado pela comunidade internacional por violar os direitos humanos por meio de ações que reprimem a liberdade de expressão e a democracia, atuando de forma autoritária em episódios que envolveram a prisão de jornalistas críticos ao governo, a repressão de movimentos LGBTQIAPN+ e a prisão de refugiados sírios pela polícia secreta turca, que os entrega ao país de origem.

Os curdos também foram fortemente reprimidos no Iraque, durante o governo de Saddam Hussein (1979-2003). Com a deposição de Saddam Hussein após a invasão estadunidense, havia a esperança de que os curdos se fixassem pacificamente nos territórios ao norte do país. A partir de 2006, o Iraque chegou a ter dois presidentes, que participaram da guerrilha curda durante o governo do antigo ditador. Receosa de que o fortalecimento curdo poderia atingir também seu território, a Turquia passou a atacar a região curda no Iraque.


A ÍNDIA E O PAQUISTÃO

Segundo dados do Banco Mundial, em 2020, a população da Índia era de aproximadamente 1,4 bilhão de habitantes, o que corresponde a cerca de um sexto da população mundial. O país apresenta mais de 20 idiomas, originados, em parte, da influência linguística dos colonizadores (inglês e francês). A cultura indiana é marcada pela religião hindu, tradição presente há 4 mil anos.

O processo de independência da Índia – a chamada Partilha da Índia – deu origem a dois países: Índia e Paquistão. O Paquistão, por sua vez, tinha seu território separado em duas partes: Oriental e Ocidental, a leste e a oeste da Índia.
Desde 1947, três guerras já ocorreram entre Índia e Paquistão por causa da região da Caxemira, que tem grande relevância estratégica, pois apresenta terras altamente férteis, compõe o eixo de ligação norte-sul e abriga nascentes de rios importantes, como o Indo, que corre em direção à Índia. Esses conflitos geram grande preocupação mundial, já que os países envolvidos possuem arsenal nuclear. Com o fim do domínio britânico, Índia e Paquistão retomaram a disputa pela
Caxemira, uma região com maioria muçulmana, mas que está sob o domínio indiano.
Atualmente, movimentos separatistas da Caxemira, como a Frente de Libertação de Jammu e Caxemira, com a interferência do Paquistão, lutam pela independência da região em relação à Índia. A maioria dos habitantes da Caxemira é muçulmana (predominante no Paquistão), perfil que destoa da maioria da população hinduísta que vive na Índia.
Além do Paquistão e da Índia, a China também participa da disputa pelo território da Caxemira. Com um histórico anterior de conflitos armados, a ameaça de confronto na região é constante. Na década de 1970, as constantes divergências entre duas das áreas que compunham o Paquistão provocaram a divisão deste em dois países independentes: Paquistão e Bangladesh. Foi nesse período que a Índia e o Paquistão retomaram a disputa pela Caxemira.

A QUESTÃO DO TIBETE

Além dos movimentos separatistas na Europa, merecem destaque também os movimentos separatistas presentes na Ásia, em especial o que ocorre no Tibete, que foi uma jurisdição chinesa por mais de 700 anos. A região é localizada em uma das áreas mais altas do mundo e abriga importantes afluentes e nascentes de rios asiáticos, por isso foi historicamente muito disputada.
O Tibete, província localizada ao norte da Cordilheira do Himalaia, no oeste da China, era um país soberano até 1950. Ao anexar o território tibetano, o governo da China, liderado por Mao-Tsé-Tung, que já o considerava uma área estratégica, incentivou a migração chinesa para a região. A China ampliou, então, suas fronteiras, aproximando-se da Índia. A região é rica em urânio, matéria-prima essencial para o funcionamento de usinas nucleares.

No século VII, o Tibete foi anexado ao império chinês, o que ia contra os interesses dos dalai-lama, a liderança política e espiritual do país. No século XVIII, a região também foi alvo de interesses colonialistas britânicos, tendo em vista que, nesse contexto, o Reino Unido buscava estabelecer novos entrepostos comerciais.

Em 1912, o 13° dalai-lama declarou a independência do Tibete. No entanto, a independência tibetana nunca foi legitimada no cenário internacional. Em 1951, um ano após a fundação da República Popular da China, o governo chinês decidiu reincorporar o Tibete ao seu território. Desde esse período, a população tibetana reivindica a sua independência.
Em 1951 foi firmado o Acordo dos 17 Pontos, pelo qual China e Tibete se comprometiam a encontrar uma solução democrática para o conflito. Contudo, a China seguia pressionando os membros do governo tibetano. Desde então, os tibetanos se tornaram prisioneiros na própria terra e um povo sem pátria. O tibetano não é chinês, não fala a língua chinesa e não aceita o domínio chinês.
Desde a década de 1960, o Tibete é considerado uma região autônoma, mas a autonomia ainda é questionada pela China, que não abre mão do controle do território. Uma das razões são as já mencionadas riquezas minerais do subsolo do Tibete. A população tibetana considera a administração pelo governo chinês uma ocupação militar ilegítima. 
Nas últimas décadas, foram realizadas uma série de tentativas de negociação para que a autonomia do Tibete fosse reconhecida, assim como suas tradições religiosas budistas, seu idioma e suas práticas culturais. Em 1995, uma criança considerada o número dois na hierarquia político-religiosa do budismo tibetano foi presa pelo governo chinês e nunca mais foi vista.

A situação se agravou a partir de 1998, quando Dalai-lama e outros tibetanos foram para o exílio na Índia; desde então, buscam apoio internacional para o reconhecimento da soberania do território tibetano. Há diversas ações e discursos de repúdio ao domínio chinês na comunidade internacional. No entanto, até então essas ações não levaram à consolidação de medidas práticas pela emancipação do território.
A China é muito criticada, principalmente entre os países ocidentais, por manter o Tibete como província. O atual Dalai-lama, Tenzin Gyatso, vencedor do Prêmio Nobel da Paz em 1989, é amplamente respeitado. Contudo, não vive no Tibete por determinação do governo chinês.
Em 2021, a anexação do Tibete ao território chinês completou 50 anos. Em discursos comemorativos, o Partido Comunista Chinês destacou a necessidade de ensinar o idioma chinês nas escolas e de coibir outras práticas culturais tibetanas, justificando essa opressão cultural em função do desenvolvimento econômico da região nas últimas décadas. No entanto, a população tibetana e alguns países consideraram essa prática extremamente violenta.

Conflito entre Rússia e Ucrânia

O conflito entre a Rússia e a Ucrânia, iniciado em 2022, tem origem na formação histórica desses países e na disputa por territórios economicamente estratégicos. 
Entre os principais motivos para a invasão da Ucrânia pela Rússia (em fevereiro de 2022), estão:
- Conflitos separatistas no leste da Ucrânia (com maioria da população de ascendência russa) — nas províncias de Donetsk e Luhansk, reconhecidas como independentes por Putin.
- Aproximação da Ucrânia com o Ocidente — a possibilidade do país fazer parte da Otan e da União Europeia.
Ao longo dos séculos, a Ucrânia fez parte de impérios, sofreu inúmeras invasões, foi incorporada pelos russos e pelos soviéticos, se tornou independente, mas nunca resolveu por completo sua relação com a Rússia.
A queda do Muro de Berlim e o fim da Guerra Fria provocaram a diminuição da influência da URSS e a consolidação da hegemonia estadunidense. Por meio da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), os Estados Unidos aumentaram sua influência política e cultural em diversos lugares.

Nesse contexto, muitos países do leste europeu conquistaram sua independência, como a Ucrânia, em 1991. No entanto, o país continuou sob a influência da Rússia, que considera o território estratégico, tendo em vista o acesso ao Mar Negro e os oleodutos e os gasodutos que passam pela região.

A Rússia aumentou sua influência no cenário internacional a partir da década de 2000, quando Vladimir Putin assumiu a presidência do país. Ele tem como uma das estratégias de ascensão econômica do país as parcerias comerciais com os países ex-membros da URSS e a China – o último atualmente se configura como principal parceiro econômico da região – além do domínio do Mar Negro e da produção de gás natural para abastecer o continente europeu.

Em 2014, o ex-presidente da Ucrânia, o líder pró-russo Viktor Yanukovych, foi deposto após uma série de protestos. Isso levou a Rússia a buscar o aumento do controle sobre a região da Crimeia, território ucraniano. Com a independência da Ucrânia em 1991, a Rússia ficou com o controle de uma base naval na região, sede da Frota do Mar Negro.

Nesse mesmo ano, com 95,5% de aprovação dos eleitores da Crimeia, a região foi anexada ao território russo, em um referendo que foi considerado ilegal pelos Estados Unidos e pelo Reino Unido por ter sido realizado sem a presença de observadores internacionais. Desde então, as relações geopolíticas entre a Ucrânia e a Rússia ficaram mais tensionadas. Com a anexação da Crimeia, a região tem sido um ponto de disputa geopolítica entre a Rússia, a Ucrânia, países europeus e os Estados Unidos.
A região de Donbass tem minorias que pedem a separação da Ucrânia e anexação à Rússia e, por isso, é considerada outra zona de conflito. O argumento é que a formação cultural, econômica, social e política estão mais próximas à Rússia. Após a anexação da Crimeia, os movimentos separatistas se intensificaram na região de Donbass, exigindo autonomia política. Esses movimentos tiveram apoio militar da Rússia e foram fortemente reprimidos pelo governo ucraniano.

A região de Donbass

A partir de 2014, a Ucrânia passou a vivenciar um período de profunda crise econômica, social e política. Entre os motivos que contribuíram para essa instabilidade, no final de 2013, por pressões da Rússia, o governo do então presidente ucraniano Viktor Yanukovych recusou assinar um acordo de livre-comércio com a União Europeia – possibilidade que, caso fosse concretizada, a afastaria da influência russa –, optando pela assinatura de um tratado de assistência econômica oferecido pela Rússia no qual, inclusive, era proposta a redução de 30% no preço do gás russo fornecido à Ucrânia.
Tal desistência foi o estopim para que se intensificassem as manifestações contrárias ao governo do presidente Yanukovych em várias regiões da Ucrânia, e provocou, sobretudo na porção ocidental do país, a sua destituição, a realização de novas eleições e o estabelecimento de um novo governo, que contava com o apoio das potências ocidentais e, ao mesmo tempo, prometia afastamento da influência russa.
Os desdobramentos desse episódio foram graves para a Ucrânia, pois a deposição do governo pró-Rússia não foi bem recebida em todo o país, ocasionando o fortalecimento de movimentos separatistas em sua porção leste. Especificamente, isso ocorreu nas regiões de Donetsk e Lugansk, que abrangem cerca de um terço da região de Donbass, densamente povoada – com cerca de 6 a 7 milhões de habitantes –, e que é considerada o coração industrial da Ucrânia por concentrar metalúrgicas, termelétricas e empresas de extração de carvão mineral. De 2014 a 2021, nas duas regiões, ocorreram acirramento de tensões e embates militares entre as forças militares ucranianas – com o apoio dos Estados Unidos e de outros países – e os separatistas – com o apoio da Rússia –, resultando em mais de 14 mil pessoas vitimadas pelos conflitos. Nesse período, vários acordos firmados entre Rússia e Ucrânia (Acordos de Minsk I e II), com a participação de outros países, não foram capazes de colocar um fim à guerra civil.
As relações entre Rússia e Ucrânia se deterioraram ainda mais em 2019, com a eleição de Volodymyr Zelensky à presidência da Ucrânia, que sempre declarou a intenção de se alinhar à Europa.
Em 2022, o governo da Ucrânia anunciou a sua intenção de ingressar na OTAN como estratégia para se desvincular da influência russa. A Ucrânia anunciou, também, uma abertura em um dos canais fluviais mais importantes geopoliticamente para o Leste Europeu, além de abrir espaço para uma aproximação da influência estadunidense.
A presença militar da OTAN no leste da Europa ameaça a influência russa na região, o que provocou o descontentamento do presidente Vladimir Putin. Em fevereiro de 2022, o governo russo reconheceu formalmente a independência das zonas separatistas das autoproclamadas repúblicas populares de Lugansk e Donetsk e as tropas russas cruzaram a fronteira, levando a uma enorme crise diplomática internacional.

A invasão militar da Ucrânia

E apoiando-se na justificativa de que elas estavam sob a ameaça de uma invasão militar da Ucrânia e que um genocídio estaria ocorrendo contra a população civil russa, ele determinou a ofensiva militar contra a Ucrânia em larga escala, em 24 de fevereiro daquele ano, considerando esses territórios como seu principal objetivo militar.
Diante da ofensiva militar russa, Estados Unidos, Alemanha, França, Reino Unido e muitos outros países condenaram a decisão unilateral do governo russo e providenciaram de imediato sanções econômicas à Rússia. 
Assim que o conflito teve início, graves sanções foram aplicadas à Rússia, entre as quais se destacam o congelamento de bens do presidente Putin, membros do governo e empresários; restrições ao acesso da Rússia aos mercados e serviços financeiros e de capitais da União Europeia; fechamento do espaço aéreo e dos portos da União Europeia a aeronaves e navios russos; suspensão das importações de petróleo e carvão provenientes da Rússia; proibição da exportação de bens e tecnologias para a produção de petróleo e de realização de novos investimentos no setor energético russo.
O estabelecimento dessas sanções foi a maneira encontrada pelas potências ocidentais de evitar um confronto direto com a Rússia, o que certamente levaria a uma guerra de proporções sem precedentes, inclusive com a utilização de armas nucleares.
Tal situação, segundo analistas internacionais, poderia levar a reviver o ambiente de Guerra Fria, quando ainda existia a União Soviética e sua disputa com os Estados Unidos e seus aliados por áreas de influência no mundo. Na verdade, essa questão em andamento trata-se novamente de disputa geopolítica: a Rússia não quer perder a sua área de influência sobre a Ucrânia e não aceita que ela faça parte da Otan – que é entendida pelo governo russo como uma ameaça às suas fronteiras –, nem que seja integrante da União Europeia, fatos, esses, desejados pelos Estados Unidos e por muitos países da Europa.
Na opinião de vários especialistas, no entanto, esses e outros conflitos em que a Rússia tem se envolvido na região mostram claramente o projeto político e estratégico implementado pelo presidente Vladimir Putin, que, há vários anos, governa a Rússia. Esse projeto consiste em reincorporar ao território russo parte dos territórios que, no passado, formavam a antiga União Soviética.

Essas sanções levaram a economia russa a uma profunda recessão. Mas o conflito entre os dois países causou impactos no mundo todo, percebidos rapidamente. São eles:
- Crise alimentar. Em 2021, a Ucrânia produzia 15% do milho e 12% do trigo comercializados no mundo. Com a guerra, o país não pode exportar o que já havia produzido e as novas safras foram reduzidas. Como resultado, os preços dos grãos e de alimentos básicos aumentaram, levando milhões de pessoas à insegurança alimentar.
- Crise energética. Em 2021, a Rússia era um dos líderes mundiais na exportação de gás natural, petróleo e carvão. A União Europeia, que importou 45% da produção de gás e 25% de petróleo, começou a estudar possibilidades para reduzir a dependência da Rússia. O embargo ao petróleo russo fez com que os preços da commodity disparassem, aumentando o preço dos combustíveis em muitos países.

A invasão russa no território ucraniano provocou intensos conflitos armados. De acordo com a Armed Conflict Location & Event Data Project (Acled), até julho de 2022 mais de 10 mil pessoas já haviam morrido em decorrência do conflito. E, segundo o Alto-comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), o número de pessoas que fugiram da Ucrânia para escapar da invasão da Rússia passou de 6 milhões, o que configura a pior crise de refugiados na Europa desde o fim da Segunda Guerra Mundial.

OS MOVIMENTOS SEPARATISTAS

Os movimentos separatistas estão relacionados às ações de um povo em busca da sua independência, muitas vezes decorrentes de conflitos históricos atrelados aos processos de colonização.
Na Europa, como em várias partes do mundo, existem povos que nutrem o sentimento nacionalista, que os move a conquistar a independência política e territorial do Estado ao qual estão subjugados. Muitos deles são reprimidos, controlados e dominados pelo Estado e, em alguns casos, movimentos separatistas são formados. Muitos desses movimentos acabam recorrendo à violência para conquistar seus objetivos.
Esses movimentos reivindicam, por meio de protestos e referendos, a garantia de manutenção da sua nacionalidade e tradições culturais.
Assim, esses grupos lutam por novas delimitações territoriais que respeitem seus princípios identitários, pelo fim da opressão contra sua cultura, pela manutenção das tradições, pela garantia da diversidade linguística, entre outras questões.

A Eurásia é marcada por conflitos e disputas territoriais, em geral motivados pelas demandas de autodeterminação de minoriais étnicas e culturais, como é o caso da Catalunha e da Caxemira. Alguns conflitos ocorrem pelo embate direto entre os povos, o que pode levar a guerras e a mudanças territoriais; outros envolvem embates políticos devido à intervenção ou à instalação de bases militares nos territórios. Há também casos em que as tensões são motivadas ou agravadas por questões econômicas e estratégicas, como o acesso a recursos naturais e a disputa por maior influência no comércio internacional.
Catalães, bascos, galegos, andaluzes e espanhóis travam disputas geopolíticas, culturais e linguísticas existentes desde o governo de Felipe IV, em 1632. Nesse período, os reinos de Castela e de Aragão se uniram, constituindo parte das bases do Estado-nação espanhol moderno e centralizado. O mesmo caso se dá com os corsos em relação à França e os escoceses em relação ao Reino Unido.
O sentimento de pertencimento a uma nação distinta e a contestação contra a gerência dos espanhóis nos problemas regionais ampliam os movimentos autonomistas e separatistas na Espanha. Bascos e catalães constituem 25% da população espanhola e concentram-se nas duas regiões industriais mais importantes da Espanha.
A luta pelas reivindicações separatistas agravou-se durante a Guerra Civil Espanhola (1936-1939). A ditadura do general Francisco Franco instituiu diversas proibições às manifestações culturais dessas nações, como à língua, aos símbolos (presentes na bandeira), às tradições e aos costumes. Por 25 anos, Franco reprimiu as diversas formas de representação cultural de bascos, catalães e castelhanos.
Nas disputas geopolíticas desses povos, o que fica presente nas reivindicações linguísticas, culturais, religiosas e econômicas é a superação da opressão e da repressão vivenciadas por séculos. Seus idiomas eram vistos como dialetos, sendo excluídos das funções oficiais e inferiorizados.
Após a morte do ditador, em 1975, e uma nova carta constitucional, o povo catalão voltou a reivindicar seus direitos.
Vejamos as características principais de alguns conflitos e de algumas regiões da Europa em que minorias étnicas e nacionais ou outros grupos buscaram ou buscam a soberania ou a independência de diferentes formas e por diversas razões (religiosas, étnicas, territoriais, nacionalistas, etc.).

Separatismo na Espanha

A Espanha é um país muito diversificado. Esse aspecto pode ser constatado na luta de alguns grupos pela separação e por maior autonomia. 

País Basco

O povo basco reivindica a independência em relação à Espanha e o reconhecimento de um novo país – o País Basco. Com população composta de mais de 2 milhões de pessoas, ele ocupa parte do território norte da Espanha e mais uma porção sudoeste do território francês. Embora, em sua maioria, os bascos estejam fixados em território espanhol, eles falam uma língua própria, a língua basca, ou euskera, e, em sua maioria, não desejam pertencer à Espanha. Há mais de 40 anos lutam por sua autonomia política.
Na ditadura de Francisco Franco, na Espanha, que durou de 1939 a 1975, a língua basca foi proibida. Em 1959, foi fundado o grupo Euskadi Ta Askatasuna (ETA – “Pátria Basca e Liberdade”), movimento cuja finalidade é manter a língua, os costumes e as tradições culturais bascas na região. A partir de 1966, o ETA iniciou manifestações violentas para alcançar seus objetivos.
Apenas em 2011 integrantes do ETA anunciaram o cessar-fogo. Desde então, eles vêm obtendo maior êxito nas negociações com o governo espanhol pela independência da região.

Catalunha

Localizada no nordeste da Espanha, a Catalunha – anexada pelo país há 300 anos – é uma comunidade autônoma que, desde a década de 1970, está passando por um forte renascimento cultural. O idioma catalão vem ganhando maior impulso, e a cidade de Barcelona, capital da Catalunha, passou a ser considerada um dos mais importantes centros culturais da Europa.
Com o fortalecimento financeiro e a grande influência na economia nacional, essa região tem buscado autonomia com bastante relevância, embora o governo federal tenha conseguido impedir campanhas e referendos sobre o assunto.
Os cortes em serviços básicos determinados pelo governo para conter os efeitos da crise econômica enfrentada pelo país nos últimos anos fizeram aflorar o sentimento de independência tanto na Catalunha quanto no País Basco.
Em 2014 foi realizada uma votação não oficial, espécie de consulta informal, em que a separação foi aprovada por 80% dos eleitores. 
Em 2017, os separatistas organizaram um referendo para que a população pudesse votar a favor ou contra o processo de independência da região. De acordo com o governo local, 90% dos votantes queriam que a Catalunha se tornasse um Estado soberano. No entanto, o governo espanhol não reconheceu o resultado do referendo e as tratativas para o processo de independência não avançaram.
O governo da Espanha não reconheceu a consulta por não concordar com a soberania da Catalunha.

Reino Unido: a questão irlandesa e a Escócia

A Irlanda do Norte (Ulster) integra o Reino Unido. Por esse motivo, as decisõespolíticas (como a escolha de lideranças locais) são tomadas em Londres. Já a República da Irlanda (Eire) é independente do Reino Unido desde 1922.
Os católicos da Irlanda do Norte lutam há pelo menos 30 anos pela unificação com a República da Irlanda, opondo-se aos protestantes, que são a maioria e querem permanecer subordinados ao Reino Unido.
A partir da década de 1970, o Exército Republicano Irlandês (IRA, sigla em inglês de Irish Republican Army) promoveu diversos atos terroristas contra alvos ingleses com o objetivo de fazer pressão pela independência da Irlanda do Norte e sua posterior unificação com a República da Irlanda.
Em 1990, cessaram os atos violentos, e o IRA abandonou a luta armada, destruindo todo o seu arsenal; no entanto, mantém sua luta por meios políticos, mesmo existindo grupos dissidentes em ação.
Outra questão que envolve o Reino Unido são os movimentos para a independência da Escócia. Em 2014, esse sentimento foi reforçado, movido pelo desejo de maior autonomia política e pela devolução, pelo Reino Unido, de poderes ao Parlamento escocês.
Assim, foi realizado um referendo para que a população decidisse pela independência do país em relação ao Reino Unido. A rejeição foi de 55,3% dos votos.

Caxemira

A Índia e o Paquistão são países com um passado colonial comum, já que ambos foram dominados pela Inglaterra. O histórico de rivalidades, desentendimentos e guerras que os caracterizam hoje é também motivado pelas diferenças religiosas.
A formação do território indiano provocou conflitos entre os adeptos do hinduísmo e os do islamismo. Da época da independência até hoje, o problema persiste entre a Índia (hindu) e o Paquistão (islâmico). Uma área na Índia que concentra muita tensão e onde há conflitos permanentes é a Província da Caxemira, no norte do país. Embora esteja situada na Índia de maioria hindu, a Caxemira tem população islâmica, motivo pelo qual parte de sua população deseja separar-se da Índia e se integrar ao Paquistão. 
A Caxemira abriga a nascente de quatro dos cinco rios do Paquistão; por isso, é uma região em que o controle da água é bastante disputado. Na província, há conflitos armados entre grupos extremistas e o exército indiano, que reprime qualquer manifestação de independência. Esses grupos já promoveram vários atentados terroristas contra alvos hindus, no campo e nas grandes cidades.
A Índia e o Paquistão têm bombas nucleares, consequência da inimizade histórica e das relações políticas tensas. Ambos os países são muito criticados no meio internacional por gastarem importantes recursos em armamentos e investirem pouco na área social, como saúde, educação, saneamento básico etc.

Problemas habitacionais nas cidades globais

O fenômeno da urbanização intensifica-se a partir dos anos 1940 não apenas na Europa e na Ásia, mas também em vários lugares do mundo. Como estudamos anteriormente, a urbanização acelerada gerou diversos problemas sociais nas cidades, uma vez que o espaço urbano não estava preparado para receber o grande contingente de pessoas vindas do campo. Muitos desses migrantes tiveram que se instalar em áreas distantes do centro, onde as habitações eram precárias e não havia infraestrutura básica. Agora vamos abordar alguns exemplos desses problemas nos continentes europeu e asiático.

Na França, políticas públicas adotadas nos anos 1950 e 1960 ajudaram a erradicar as habitações precárias do país já na década de 1980. O governo investiu grande quantidade de recursos na construção de moradia acessível para essa população. No entanto, décadas depois, as chamadas bidonvilles são novamente uma realidade em algumas cidades francesas. As bidonvilles são um conjunto de habitações precárias construídas próximo a linhas de trens, viadutos e rodovias, semelhantes às favelas brasileiras.
As ameaças de despejo e remoção são constantes. Estima-se que, atualmente, em Paris, haja mais bidonvilles que na década de 1960, quando houve uma explosão demográfica no
país. De acordo com a Delegação Interministral do Alojamento e do Acesso à Moradia (Dihal), existem cerca de 571 de favelas pela França, onde vivem cerca de 16 mil habitantes.
Na Espanha, a capital Madrid abriga a maior favela da Europa, chamada Cañada Real. Aproximadamente 44 mil pessoas vivem no bairro onde falta saneamento básico e as moradias são precárias, geralmente de madeira ou lonas. Com a crise econômica enfrentada pela Espanha a partir de 2008, muitas pessoas perderam as suas casas e buscaram outros lugares para sobreviver, como Cañada Real.
A pandemia de covid-19 intensificou os problemas relacionados à moradia nos grandes centros urbanos. Os grupos vulneráveis, como pessoas que estão em situação de rua e que habitam moradias precárias, sofreram de maneira desproporcional os efeitos da doença, uma vez que não puderam praticar o isolamento social de maneira apropriada e, muitas vezes, não dispunham de itens de higiene de básica que os auxiliariam a evitar o contágio.
Além disso, houve o fechamento de indústrias, empresas e estabelecimentos do setor de serviços, o que aumentou o número de desempregados e, consequentemente, de pessoas em situação de vulnerabilidade social.

Os altos valores dos aluguéis, somados ao baixo valor ou até
mesmo à falta de auxílios sociais, fizeram com que milhares de pessoas fossem despejadas de suas casas e ficassem sem lugar para morar. Uma das formas encontradas por essas pessoas foi morar dentro de barracas de camping montadas no meio de locais públicos da cidade, como calçadas, embaixo de viadutos e pontes, marquises, lotes vazios, praças, entre outros lugares. Na cidade de São Paulo, dados da prefeitura revelam que 6,1 mil pontos da cidade eram ocupados por pessoas que viviam em barracas em 2021, um aumento de 330% comparado com os dados de 2019.
Na Índia, país que abriga quatro das maiores megacidades do mundo, os problemas habitacionais atingem mais de 400 milhões de pessoas segundo dados do governo indiano. Muitos deles vivem em casas com seis pessoas e apenas dois cômodos, com banheiro compartilhado com outros vizinhos. Em cidades como Délhi e Nova Délhi, muitas dessas moradias estão nos pisos superiores dos mercados de especiarias da cidade.

AS CIDADES INTELIGENTES

O desenvolvimento acelerado das tecnologias no campo da comunicação, da inteligência artificial e das engenharias de software tem feito com que muitos países planejem e construam cidades inteligentes.
Podem ser chamadas de Smart Cities (expressão em inglês) as localidades com projetos ou iniciativas de reformulação de suas áreas urbanas que empregam inovação tecnológica para melhorar a qualidade de vida de seus habitantes, ou seja, para ser considerada uma Cidade Inteligente, o projeto da localidade deve unir os avanços científicos disponíveis às necessidades urbanas em geral, fazendo com que as soluções para determinados tipos de problema sejam eficientes.
Para isso, nas Cidades Inteligentes utiliza-se a Internet das Coisas (conhecida pela sigla IoT, do inglês Internet of Things) para desenvolver e executar ações no cotidiano urbano. Isso quer dizer que, nessas cidades, objetos pessoais e equipamentos urbanos – como aparelhos celulares, semáforos, sensores de abastecimento e distribuição de água, entre outros – conectam-se uns com outros e trocam informações de maneira automatizada e em tempo real, sem que uma pessoa precise operá-los.
Um exemplo são os sensores em semáforos, que se autorregulam ao detectarem congestionamentos, por exemplo, liberando o fluxo dos veículos ou dando prioridade ao transporte público de passageiros. Outro exemplo são cidades que investiram em sistemas digitais de segurança, que monitoram e controlam o fluxo de pessoas em lugares públicos, ou, ainda, alagamentos ou deslizamentos de terra em áreas de risco.

As cidades inteligentes apresentam características para além de tecnologias digitais em boa parte do seu funcionamento, como acesso à educação de qualidade em todos os níveis de ensino, acesso a sistemas de saúde, boa conectividade de dados e utilização de diferentes modais de transporte.

A redução dos níveis de estresse, o aumento da quantidade de empregos formais e a redução do custo de vida são indicadores de boa qualidade de vida para a população. Em contrapartida, a implantação dessas cidades demanda alto custo e necessidade de mão de obra qualificada, o que faz com que se concentrem, sobretudo, em países desenvolvidos.

As cidades que comandam a economia mundial do século XXI dedicam-se às atividades do setor terciário e são as que centralizam a produção inteligente, reunidas em start-ups, escritórios organizados em coworking, verdadeiros centros estruturados para produzir inovações no setor informacional.

Melbourne, Dubai, Shenzhen, Hong Kong, entre outras, são exemplos de cidades voltadas à produção de sistemas de alta tecnologia, sobretudo aqueles relacionados à indústria da informação, da comunicação digital e de desenvolvimento de softwares e entretenimento (games).

Além do Vale do Silício, na Califórnia, os complexos industriais tecnológicos e informacionais difundiram-se para outras cidades estadunidenses e europeias desde 2010, formando o Beco do Silício (em Nova York), as Pradarias do Silício (Nebraska, Texas, Boston) e as Docas do Silício, em Dublin, Irlanda.
A cidade de Curitiba, capital do Paraná, é considerada um bom exemplo de Cidade Inteligente do país. Ela foi pioneira em implantar um sistema inteligente de transporte coletivo urbano e de monitoramento do tráfego que proporcionou maior mobilidade à população.

O VALOR DA AGRICULTURA: COMMODITIES

No mundo, o mercado de commodities é um dos maiores e pode afetar a economia de um país a depender do valor do produto. Isso acontece, por exemplo, com o trigo: se o preço aumenta, isso interfere no preço da farinha e, consequentemente, do pão, impactando a vida das pessoas.
O comércio mundial de produtos agropecuários abrange tanto os produtos alimentícios (cereais, frutas, carne, laticínios etc.) como as matérias-primas para a indústria e o setor energético. Essa comercialização acontece principalmente na forma de commodities, cujos preços são estabelecidos em escala internacional nas bolsas de mercadorias, como as de Chicago e Nova York, nos Estados Unidos, e Londres, no Reino Unido.

As commodities são mercadorias principalmente agropecuárias e minerais, que são a base de outros processos de fabricação de mercadorias. A produção é em larga escala e suas características não variam de país para país. As commodities são importantes na economia mundial, influenciando o valor dos produtos consumidos pela população. Países cuja economia é estruturada com base no setor primário e na exportação dependem da cotação elevada das commodities e do volume das exportações para manter a balança comercial positiva. Os valores são definidos nas bolsas de valores.
A variação dos preços das commodities reflete em toda a economia, já que são matérias-primas usadas para a fabricação de diversos produtos. Em caso de elevação, os alimentos ficam mais caros, prejudicando os consumidores – especialmente a população mais pobre, que, em geral, destina grande parte de seu rendimento para a aquisição de alimentos.
Os preços das commodities sofrem grandes alterações ao longo do tempo. Por exemplo, em períodos de alta da produção e grande oferta de produtos, os preços tendem a cair. Em contrapartida, quando há escassez do produto no mercado, os preços sobem. É o caso do trigo em 2022: a alta dos preços desse produto está relacionada com o conflito envolvendo a Ucrânia, pois 50% da produção de trigo ucraniana encontra-se armazenada e sem possibilidade de escoamento, uma vez que seus portos no Mar Negro se encontram sob bloqueio russo.
No entanto, as projeções econômicas de valor das commodities tendem a diminuir, uma vez que a China, principal comprador desses produtos, fechou temporariamente seus portos devido à pandemia de covid-19 e houve redução do consumo na Europa devido ao conflito na Ucrânia.
Além dos problemas que envolvem o estoque e o transporte da produção, as alterações climáticas podem interferir diretamente na produção agrícola mundial, resultando em aumento ou redução do valor desses produtos. Essas alterações no valor e na produção de commodities afetam todo o setor de alimentos, uma vez que eles são utilizados também para a produção de ração para produção pecuária.
O mercado mundial de commodities é controlado por um restrito conjunto de trading companies, que são, principalmente, transnacionais. Elas têm grande poder, influenciam a formação de preços no mercado internacional, o valor dos fretes marítimos para transportá-las etc.
No Brasil, as tradings de commodities atuam na comercialização de soja, milho, açúcar, café, algodão e outros produtos e, nos últimos anos, têm atuado na aquisição de usinas de açúcar e etanol e no financiamento de sementes, agrotóxicos e fertilizantes para o agronegócio.
Países que são grandes exportadores de produtos agropecuários, mas não se destacam como produtores e exportadores de produtos industrializados, estão mais suscetíveis e vulneráveis à oscilação dos preços das commodities. Essa característica se aplica principalmente aos países em desenvolvimento, bem como aos emergentes, que em geral são economias dependentes da produção e da exportação de commodities, como é o caso do Brasil.

A População Economicamente Ativa (PEA)

Uma contradição demográfica atual está relacionada aos índices de População Economicamente Ativa (PEA). Esse índice nos mostra a quantidade da população com potencial para vender sua força de trabalho. Com o aumento da população, tem-se um crescimento da demanda produtiva e, consequentemente, a necessidade de mão de obra. No entanto, nem sempre esse fato ocorre sem problemas e desafios socioeconômicos.

Com a transição demográfica que vem ocorrendo, principalmente nos países europeus, há muitas pessoas classificadas como população economicamente inativa, ou seja, pessoas consideradas sem potencial para vender sua força de trabalho, como jovens abaixo de 15 anos e, sobretudo, idosos acima de 60 anos. Analise o gráfico a seguir, que mostra a porcentagem da população economicamente ativa nos países do G20.
Os países pertencentes à União Europeia apresentam 64,2% da população na PEA. Como forma de reduzir os impactos da redução de mão de obra disponível, países como Itália, Portugal, Países Baixos e Alemanha, entre outros, têm investido em condições de trabalho e de vida atrativas para imigrantes, além de políticas públicas que incentivem seus cidadãos a ter filhos.
Nos Países Baixos, por exemplo, o governo oferece os itens básicos para montar o enxoval, como fraldas e leite, para famílias que optam por ter filhos, além de disponibilizar uma enfermeira para acompanhar a mãe no primeiro mês após o parto. Na Alemanha, os jovens recebem bolsas de estudo e financiamento estudantil para qualificação profissional.
Já a China, a principal economia asiática, tem quase 70% da população disponível para o mercado de trabalho, acima da média mundial, que é de 64,3%, e uma das mais altas do G20, atrás de Coreia do Sul e Arábia Saudita.

A indústria do futebol

A disseminação do futebol pelo mundo ocorreu a partir do século XX, acompanhada da expansão do modo de vida urbano, das atividades industriais e, a partir dos anos 2000, do investimento de capital da indústria de petróleo árabe no futebol mundial. A fundação da Federação Internacional de Futebol (Fifa), em 1904, em Paris, e a criação da Copa do Mundo de Futebol, em 1930, fortaleceram ainda mais o esporte como prática globalizada.

As empresas de diversos setores passaram a investir no futebol e a expor suas marcas, aumentando potenciais mercados consumidores. Também houve inovações relacionadas à ciência e à tecnologia ao fabricar uniformes e acessórios e ao construir arenas e estádios. Os jogadores passaram a ter um papel maior do que apenas em campo: suas imagens agregam valor e geram renda às marcas, o que resulta em rendimentos muito altos. Analise a fotografia a seguir.

Em 2022, o jogador francês Kylian Mbappé, de 23 anos, era o mais valioso do mundo do futebol, com valor de mercado superior a R$ 1 bilhão. 

Os principais investidores e patrocinadores dos times de futebol são empresas de telecomunicações e indústrias petroquímica e automobilística, o que reforça a influência do capital industrial sobre todos os setores da economia, incluindo as modalidades esportivas.

Grandes eventos relacionados ao futebol, como a Copa do Mundo, geram grandes impactos socioambientais nos lugares que recebem esses eventos. Eles envolvem a construção de estádios e outras infraestruturas para receber os jogos, o que muitas vezes acarreta na desapropriação da população que vive no entorno das obras e na transformação de paisagens que possuem importância histórica e cultural.
Atualmente, a cadeia produtiva relacionada a futebol integra diversos países e setores da economia. As atividades envolvem desde o desenvolvimento de designs e tecnologia para uniformes, chuteiras e meias até a produção das bolas, além de todas as matérias-primas utilizadas nos processos.
Isso resulta em um fluxo comercial e cultural intenso entre os países. Um exemplo é a cidade de Sialkot, localizada na região central do Paquistão, onde são costuradas milhões de bolas de futebol utilizadas em grandes campeonatos, como a Copa do Mundo.

Produção de energia no Brasil

Movimentar máquinas, cargas e pessoas por longas distâncias demanda muita energia. No Brasil, usam-se combustíveis derivados de fontes não r...