Em cada bioma terrestre, destaca-se na paisagem um tipo de formação vegetal principal, que está adaptado às condições do clima e ao solo, entre outros fatores. Existem também biomas nos oceanos, rios e lagos. Para começar o estudo sobre as formações vegetais, é importante reconhecer que elas podem ser classificadas em dois grandes grupos de acordo com o porte da vegetação predominante na paisagem: as formações florestais, que são aquelas em que predominam árvores de grande porte, como as Florestas Tropicais, as Subtropicais, as Temperadas e as Boreais, e que serão tratadas neste capítulo, e as formações não florestais, que são aquelas em que predominam arbustos e/ou vegetação rasteira, como Savanas, Estepes e Pradarias.
A distribuição da vegetação pelo planeta
As grandes formações vegetais originais do planeta podem ser observadas no mapa a seguir. Ele apresenta como deveria ser a distribuição da vegetação natural no período geológico atual sem as alterações causadas pela ocupação dos seres humanos. Procurar entender o que determina essa distribuição é importante para compreender a relação entre os elementos naturais que nela exercem maior influência (clima, relevo e solo).
A vegetação reflete as características naturais, principalmente as climáticas, do local onde se desenvolve e, ao mesmo tempo, interage com elas. Por exemplo, nas regiões mais quentes e úmidas do planeta encontram-se as florestas tropicais, e em regiões onde há longos períodos sem chuva desenvolve-se uma vegetação adaptada à escassez de água (vegetação de deserto). Assim, podemos afirmar que o clima é determinante no tipo de vegetação que se desenvolve em uma região.
As florestas no mundo
Vegetações arbóreas
Entende-se por vegetação arbórea as áreas formadas, normalmente, por árvores de grande porte. Esta classificação engloba as florestas Tropical,
Equatorial, Temperada, Subtropical e Boreal.
Floresta Tropical
As florestas tropicais desenvolvem-se em regiões de clima quente e úmido, localizadas na zona intertropical do planeta (climas tropical e equatorial). O calor e a umidade favorecem o desenvolvimento de grande biodiversidade, uma vez que todas as formas de vida dependem da presença de água, que é abundante nesse bioma. São compostas de vegetação de porte variado, destacando-se as grandes árvores, que formam uma cobertura fechada. Essas florestas permanecem verdes o ano inteiro, são classificadas como perenifólias (vegetação perene, que nunca perde totalmente as folhas) e, por estarem adaptadas à grande disponibilidade de água, muitas de suas espécies vegetais são latifoliadas (folhas largas para favorecer a transpiração). Nessas florestas, por causa da grande umidade e das temperaturas elevadas, troncos, galhos, folhas e animais mortos que se acumulam no chão sofrem rápida decomposição, tornando a camada superior do solo muito rica em matéria orgânica.
Floresta Boreal (Taiga)
As florestas boreais desenvolvem-se em regiões onde predomina o clima frio, especialmente no norte da América do Norte, da Europa e da Ásia. Essa formação vegetal é esparsa, com características de bosque, e dominada por algumas espécies como os pinheiros e outras árvores que produzem pinha na forma de cone. Por isso, essas árvores são chamadas de coníferas (do latim coniferae, que significa ‘cone’). A menor densidade de vegetação e de variação no número de espécies das florestas boreais em comparação com as tropicais ocorre porque, durante o inverno, essas florestas ficam com o solo coberto por neve, o que dificulta o crescimento de vegetação de pequeno e médio portes.
Florestas Subtropical e Temperada
As florestas subtropicais e temperadas desenvolvem-se predominantemente em regiões de latitudes médias (entre os trópicos e os círculos polares), na América do Norte, na Europa Central e no sul e sudeste da Ásia. No outono e no inverno, quando as temperaturas são baixas e quase não chove, as árvores e demais plantas perdem suas folhas. Já na primavera e no verão, quando as temperaturas são mais elevadas e o índice de chuvas aumenta, essas folhas voltam a brotar. Por isso são chamadas de caducifólias (do latim caducus, ‘que caem’) ou decíduas (do latim deciduus, ‘queda’). Nessa classificação encontram-se vários tipos de florestas, associados a diferentes tipos climáticos de latitudes médias. Por exemplo, no Brasil, as florestas subtropicais estão concentradas na região serrana dos estados do sul do país, onde predominam as araucárias, que são árvores com características bem diferentes das que se encontram nas florestas temperadas do hemisfério norte.
Vegetações arbustivas
O grupo arbustivo é composto de
uma vegetação menos densa do que a
das florestas. Suas plantas são de médio
e pequeno porte, espaçadas umas das
outras e com a presença de espécies rasteiras. Fazem parte deste grupo as Savanas e a Vegetação Mediterrânea.
As Savanas
A Savana é um bioma que se desenvolve na zona intertropical do planeta, em regiões onde predomina o clima tropical, com verão quente e chuvoso e inverno com temperaturas amenas e baixo índice de chuvas. Ela é formada por espécies rasteiras e arbustivas, além de pequenas árvores.
As Savanas podem ser encontradas
em todos os continentes que sofrem influência climática intertropical, onde há
verões quentes e baixos índices de chuvas ao longo do ano.
A paisagem mais
conhecida das Savanas, em especial pela
grande influência cinematográfica, é a
africana, onde grandes animais habitam esses espaços. Por lá se encontram
zebras, girafas, elefantes, falcões e leões, entre outros.
Porém, assim como acontece com as florestas temperadas, há variações de
Savanas espalhadas pelos continentes.
No Brasil, essa formação tem características diferentes das Savanas dos outros continentes e recebe os nomes de Cerrado e Caatinga. Onde se apresentam com enorme biodiversidade.
Durante a primavera e o verão, geralmente época de ocorrência de chuvas frequentes, nascem folhas e flores, tornando a vegetação esverdeada. No período seco, sem chuvas, de outono e inverno, as folhas caem (o que dificulta a transpiração durante essas estações), a vegetação rasteira seca e os solos, os galhos de árvores e os arbustos ficam expostos, alterando a cor da paisagem.
Em várias regiões do planeta, muitas áreas estão sendo desmatadas, principalmente para a expansão da agropecuária, realizada muitas vezes sem considerar as características locais de solo e clima. Nas Savanas africanas, por exemplo, além das atividades econômicas, o aumento da densidade populacional nas últimas décadas é um fator de desmatamento. Como já estudamos, quando a vegetação é retirada, a erosão provocada pelas chuvas intensifica-se e transporta a camada superficial do solo. Com isso, a camada inferior, que é naturalmente compactada, fica exposta ao sol. O resultado é um solo ressecado e endurecido, que não tem condições de ser utilizado para o cultivo ou a criação de gado. Nas regiões onde predominam os climas árido ou semiárido, ou submetidas a períodos sem chuvas, as atividades humanas vêm intensificando a degradação do solo, processo chamado de desertificação, que compromete sua capacidade produtiva.
A Vegetação Mediterrânea
A Vegetação Mediterrânea se desenvolve no sul da Europa e no norte da África, junto às áreas banhadas pelo mar Mediterrâneo. Ocorre também no sul do continente africano e no oeste dos Estados Unidos, onde é chamada de Chaparral. Ela é composta de espécies rasteiras e arbustivas, adaptadas aos verões quentes e secos e aos invernos com temperaturas amenas e chuvas moderadas (clima mediterrâneo). Essa vegetação foi bastante devastada, principalmente no entorno do mar Mediterrâneo, para a ocupação urbana e o desenvolvimento da agropecuária, em especial com o cultivo de oliveiras, videiras, pessegueiros e amendoeiras.
Vegetações herbáceas ou campestres
Encontrado em todos os continentes habitados do planeta, o grupo Herbáceo ou Campestre possui como característica principal a composição rasteira
de sua vegetação, com grande ocorrência de gramínea e adaptada ao clima
úmido.
Na América do Norte ela é conhecida como Pradaria e, na América do Sul,
como Pampa ou Campanha. Quando se localiza em ambientes mais secos, como
na Mongólia, é chamada de Estepe.
Estepe e Pradaria
Estepe e Pradaria são formações de vegetação herbácea (do latim herbaceus, ‘verde, da cor de erva’) e rasteira, principalmente gramíneas, e desenvolvem-se predominantemente em relevos planos. As estepes localizam-se em regiões de clima semiárido, onde os índices de chuva são baixos. Podem ser consideradas uma zona de transição entre a Savana e o Deserto e, portanto, apresentam características dessas duas formações. As maiores extensões de estepes localizam-se na Europa, na Ásia, na África e na Oceania (Austrália).
As maiores extensões de pradarias do mundo localizam-se em regiões de clima temperado: na região central dos Estados Unidos, no leste da Europa e na América do Sul (distribuem-se entre a Argentina, o Uruguai e o Brasil). No Brasil, estendem-se pelo estado do Rio Grande do Sul, onde é conhecida como Pampa. O relevo predominantemente plano e os solos profundos e férteis tornam essas regiões muito propícias à agricultura mecanizada e à criação de gado. Com o crescimento dessas atividades, hoje restam poucas áreas de pradaria preservada.
Vegetação de Altitude
Como vimos anteriormente, à medida que a altitude aumenta, diminui a temperatura média anual. Essa relação entre clima e relevo também influencia a distribuição das formações vegetais.
Nas regiões montanhosas, os solos vão ficando mais rasos, o que propicia o desenvolvimento de Campos de altitude, com predomínio de vegetação mais rasteira. Embora as regiões montanhosas sejam menos ocupadas pelos seres humanos, em alguns casos elas são utilizadas para a criação de animais e o cultivo. Para impedir a erosão dos solos e o deslizamento das encostas são feitos terraços. Essa prática é realizada há milênios pela população nativa dos Andes, das montanhas da América Central e do Himalaia, do sul da Ásia e do Japão.
Vegetação de Deserto
Existem áreas no planeta de ocorrência do clima desértico, onde geralmente chove pouco ao longo do ano (menos de 250 milímetros). Nas proximidades dos trópicos de Câncer e de Capricórnio, o clima desértico se caracteriza pelo contraste de temperatura durante o dia e à noite, podendo variar de 50 oC no período de insolação intensa (dia) a temperaturas próximas de 0 oC ou negativas à noite. Como vimos no capítulo 10, essas áreas são sujeitas à aridez por se localizarem em zonas de alta pressão, onde o ar seco dificulta a ocorrência de chuvas. Nessas regiões, em função da limitação imposta pela escassez de chuva, desenvolvem-se plantas adaptadas à falta de água (chamadas de xerófilas). Além da baixa umidade relativa do ar e do alto índice de evaporação (causado pela radiação solar intensa durante o dia), a escassez de água nos desertos também ocorre porque os solos são predominantemente arenosos. Nesses casos, a água das chuvas que não evapora se infiltra rapidamente nas camadas mais profundas, deixando secas as camadas mais superiores, onde estão instaladas as raízes. São solos com pouca matéria orgânica, portanto, pouco férteis. O solo arenoso propicia grande reflexão e menor absorção da radiação solar, contribuindo para a queda de temperatura durante a noite.
Predomina a vegetação rasteira, com a presença de arbustos isolados e cactáceas. Muitas plantas desenvolvem espinhos no lugar de folhas, para diminuir a perda de água pela transpiração, e armazenam grande quantidade de água em seu caule. Suas raízes podem ser rasteiras, funcionando como um guarda-chuva invertido para reter a água das chuvas antes que ela se infiltre no solo, ou finas e profundas, para captar água no subsolo, já que o lençol freático, quando existe, fica distante da superfície. Nas margens dos rios e nas áreas em que o lençol freático se aproxima da superfície, há maior abundância de vegetação. Os maiores desertos quentes são o do Saara, no norte da África, que é o maior do mundo; o Grande Deserto de Areia, na Austrália; o Kalahari, que vai do Sul de Angola ao norte da África do Sul; o da Arábia, na Arábia Saudita; e o do Atacama, no Chile.
Há também desertos frios, localizados em altas latitudes. Neles o inverno é muito frio, mesmo durante o dia. É o caso dos desertos da Patagônia, na Argentina; do Colorado, nos Estados Unidos; e de Gobi, na Mongólia e na China. Cada um deles tem características próprias de vegetação. Por exemplo, em grande parte da Patagônia o solo congela durante o inverno e no verão renasce uma vegetação rasteira com pequenos arbustos; e no de Gobi o solo é arenoso com vegetação rasteira. Alguns pesquisadores consideram que as regiões polares são desertos com água congelada, como é o caso da Antártica e da Groenlândia.
Tundra
A Tundra se desenvolve em regiões do hemisfério norte, sob a influência do clima polar, entre a Floresta Boreal (Taiga) e o gelo das calotas polares, onde as médias de temperatura se mantêm próximas de 0 ºC. Ela também se desenvolve no alto das grandes cadeias montanhosas. O solo dessas regiões fica coberto por gelo durante aproximadamente sete meses do ano, o que impede o desenvolvimento de vegetação. No verão, quando as temperaturas chegam a 10 ºC, o gelo derrete e possibilita o desenvolvimento de uma vegetação rasteira pouco diversificada, composta de gramíneas e outros pequenos vegetais.
Embora a ocupação humana e as atividades econômicas desenvolvidas nas áreas onde se encontra esse tipo de vegetação sejam muito esparsas, há exploração de petróleo e de alguns minérios, como o níquel, com a infraestrutura necessária para a produção e o transporte desses produtos, provocando poluição e desmatamento. Outro problema ecológico dessas regiões é a caça clandestina, que coloca alguns animais em risco de extinção.
As florestas e as atividades humanas
Grande parte das áreas originalmente recobertas por vegetação natural foi modificada pela ação humana. No processo de construção e reconstrução do espaço geográfico, os seres humanos modificaram as paisagens ao longo da história para atender às suas necessidades. Assim, extensas áreas de florestas (e também de outros tipos de vegetação) foram derrubadas para a expansão das cidades e o desenvolvimento das atividades econômicas, entre elas a agropecuária.
Em uma Floresta Tropical, a maioria das plantas tem muitas folhas, quase sempre largas (por isso chamadas de latifoliadas), que favorecem a transpiração, processo em que os vegetais retiram umidade do solo pelas raízes e a eliminam pelas folhas, aumentando a umidade atmosférica. Quando uma grande área recoberta por floresta é desmatada, o solo fica desprotegido e vulnerável à ação das águas das chuvas e do escoamento superficial, que carregam nutrientes, causando seu empobrecimento, além de a umidade do ar diminuir, reduzindo também as chuvas. Ocorre ainda a elevação das temperaturas, pois os raios solares passam a atingir diretamente a superfície do solo, que irradia mais calor.
Além disso, quando uma floresta é desmatada, as espécies vegetais e animais perdem seu habitat ou não conseguem sobreviver nos pequenos trechos que restam, podendo ser extintas se forem espécies que só existam naquela área geográfica. Dessa forma, o desmatamento compromete a preservação da biodiversidade local e global. Muitas espécies animais e vegetais são recursos naturais por serem utilizadas no consumo da população e como matérias-primas na produção de bens e na fabricação de medicamentos, tendo grande importância econômica. Acredita-se que existam entre 10 milhões e 100 milhões de espécies animais e vegetais no mundo, mas somente cerca de 2 milhões já foram estudadas e catalogadas pelos cientistas. É possível que algumas espécies desapareçam antes mesmo de se tornarem conhecidas.
Além da agropecuária, outras atividades econômicas vêm desmatando as florestas, provocando sérios impactos ambientais e sociais. Um exemplo é o corte de árvores para a exploração de madeira destinada à produção de móveis e papel e ao uso na construção civil. Atualmente parte dessa madeira é cultivada em projetos de silvicultura e, assim como no manejo florestal, é considerada madeira certificada. No entanto, ainda existem muitos casos de extração irregular, com retirada de madeira de áreas de floresta nativa, o que compromete o equilíbrio ambiental. O desmatamento provoca também problemas sociais, porque os povos tradicionais das florestas, como os indígenas e os seringueiros, que praticam, entre outras atividades, o extrativismo em pequena escala, dependem de sua preservação para manter seu modo de vida.