quarta-feira, 25 de maio de 2022

Literatura - Humanismo

 

Humanismo

É interessante ressaltarmos que o termo Humanismo é polissêmico, podendo ser considerado sob vários enfoques, ao mesmo tempo distintos e interdependentes. Para os limites desta aula, interessa-nos o seu sentido mais estrito ou histórico, entendido enquanto o movimento literário e cultural de uma época marcada por profundas transformações na sociedade europeia.

O Humanismo, segunda Escola Literária Medieval, também conhecido como Pré-Renascimento ou Quatrocentismo, corresponde ao período de transição da Idade Média para a Idade Clássica. Tem como marcos iniciais as nomeações de Fernão Lopes como Guarda-Mor da Torre do Tombo (local onde se guardavam os documentos oficiais), em 1418 e, como Cronista-Mor do Reino, em 1434, quando recebeu de D. Duarte, rei de Portugal, a incumbência de escrever a história dos reis que o precederam.

Historicamente o Humanismo foi um movimento intelectual italiano do final do século XIII que se irradiou para quase toda a Europa, isto porque, após a queda de Constantinopla em 1453, muitos intelectuais gregos (professores, religiosos e artistas) refugiaram-se na Itália e começaram a difundir uma nova visão de mundo, mais antropocêntrica, indo de encontro à visão teocêntrica medieval. Entre as principais ideias humanistas estavam:

 - retomada da cultura antiga, através do estudo e imitação dos poetas e filósofos greco-latinos;

- revalorização da filosofia de Platão, especialmente no que diz respeito à distinção entre o amor espiritual e o carnal neoplatonismo;

- crítica à hierarquia medieval, o homem reivindicando para si uma posição de destaque no Universo - não aceitação passiva das imposições místicas difundidas na ideia de destino;

- bifrontismo, coexistência de características medievais (feudalismo, teocentrismo) e renascentistas (mercantilismo, antropocentrismo, pragmatismo burguês).

 I - CONTEXTO HISTÓRICO-CULTURAL

No final da Idade Média, Portugal estava passando por profundas transformações. O desenvolvimento de outras atividades econômicas estimulou a crise do sistema feudal e deu início ao chamado mercantilismo – a economia de subsistência é substituída gradativamente por atividades comerciais. Surgem as pequenas cidades, chamadas burgos, e com elas uma nova classe social, a burguesia. Muitas descobertas são feitas, entre elas a invenção da imprensa (em 1448, por Gutenberg) e de instrumentos relacionados à expansão ultramarina. Mas é, sem dúvida, a Revolução de Avis (1383-1385) o marco cronológico da consolidação do Estado Nacional Português. Através dela se estabelece a política centralizadora do poder nas mãos do rei, respaldada pela burguesia mercantilista. A partir da primeira conquista ultramarina portuguesa, a Tomada de Ceuta, em 1415, inicia-se o período das Grandes Navegações, que consolidam o nacionalismo português.

 PRODUÇÃO LITERÁRIA

 A produção literária desse período subdivide-se em:

Poesia Palaciana                

• Prosa     

-crônicas de Fernão Lopes

-prosa doutrinária                  

-novelas de cavalaria

Teatro – Gil Vicente

A Poesia Palaciana, como próprio nome já diz, era poesia produzida no ambiente dos palácios, feita por nobres e destinada à corte. Ao contrário dos códices (manuscritos) trovadorescos, grande parte da produção poética desse período foi recolhida por Garcia Resende, no Cancioneiro Geral, formado por 880 composições, impresso em 1516. Entre suas principais características estão:

-separação entre música e texto – a poesia destina-se à leitura. Assim, a própria linguagem é responsável pelo ritmo e expressividade. O termo trovador aos poucos assume um caráter pejorativo e começa a surgir a figura do poeta;

-utilização dos redondilhos – versos compostos por cinco (redondilhos menores) ou sete sílabas poéticas (redondilhos maiores);

-temática variada – com composições religiosas, satíricas, didáticas, heróicas e líricas. O lirismo amoroso trovadoresco, a partir da influência de Petrarca (um dos precursores do Humanismo italiano), assume uma nova conotação, a mulher idealizada, inatingível, carnaliza-se e a sensualidade reprimida nas cantigas de amor passa a ser frequente.

Fernão Lopes é a principal figura da prosa humanista, considerado o fundador da historiografia portuguesa. Sua importância se deve não só pelo aspecto histórico de sua produção, mas também pelo aspecto artístico de suas crônicas. Em suas crônicas, apesar de regiocêntricas, o povo aparece pela primeira vez com coautor das mudanças históricas portuguesa. Entre suas características destacam-se: a imparcialidade, o registro documental, a criticidade e o nacionalismo. São de autoria de Fernão Lopes:

 Crônica de El-Rei D. Pedro I

Crônica de El-Rei D. Fernando

Crônica de El-Rei D. João I

A prosa doutrinária, também chamada de ensinanças, corresponde a textos de caráter didático, destinados à nobreza. São obras para o aprendizado de certas artes da época, como a montaria.

As novelas de cavalaria conservam basicamente as mesmas características do Trovadorismo.

- O Teatro de Gil Vicente

Antes da produção gilvicentina é praticamente impossível falar-se em teatro. A manifestação teatral da Idade Média limitou-se a encenações de caráter litúrgico, presas aos ritos da religião católica. As encenações religiosas apresentadas no interior das igrejas dividiam-se em:

-mistério – representação da vida de Jesus Cristo

-milagre – representação da vida de santos

-moralidade – representações curtas com finalidade didática ou moralizante.

 As encenações que ocorriam fora dos templos religiosos recebiam o nome de profanas e apresentavam um caráter mais popular e não estavam relacionadas aos cultos católicos. Dividiam-se em:

-arremedilho ou arremedo – imitação cômica de acontecimentos ou pessoas;

-pantomima alegórica – espécie de palhaçada circense da atualidade, na qual atores mascarados imitavam as pessoas.

farsa – encenação satírica com um humor primário, situações absurdas e ridículas;

sotie – (sotie vem do francês sot e significa tolo) semelhante à farsa, mas com um parvo, tolo no papel principal;

momo – encenação carnavalesca com uma temática variada.

As pessoas utilizavam máscaras e imitavam pessoas e animais;

entremeze – encenações breves apresentadas entre os atos de peças mais longas. Sua função era preencher os intervalos;

sermão burlesco – monólogo recitado por um ator mascarado;

écloga – auto pastoril. Atores vestidos de pastores pregavam os valores da vida no campo.

Pouco se sabe sobre os dados biográficos de Gil Vicente. Acredita-se que tenha tido muito prestígio na corte portuguesa, desempenhando a função de organizador das grandes festas palacianas. Para outros, entretanto, desempenhava a função de ourives, atraindo a atenção da rainha Leonor. Mas é unanime o seu reconhecimento como o fundador do teatro português e o maior representante do Humanismo.

Assim como o período, suas peças apresentavam o bifrontismo como característica central. Ora com fortes marcas medievais, ora com antecipações renascentistas.

Gil Vicente criticou toda a sociedade da época, suas peças apresentam indivíduos de todas os segmentos sociais. Só não criticou mordazmente a Família Real, da qual dependia. É importante destacar que todo o moralismo gilvicentino não é contra as instituições, mas contra os indivíduos que as corrompiam. Tanto que em nenhum de seus trabalhos questionou qualquer verdade cristã, apresentava uma visão teocêntrica e conservadora da sociedade. Na realidade, era contra as novidades trazidas pelas mudanças do período que punham em risco a integridade do povo português, seus autos representam uma tentativa de resgate dessa integridade que se perdia través da corrupção, do adultério e da ambição.

Por outro lado, Gil Vicente inovou, mesmo escrevendo em redondilhos, não seguiu a rigidez do teatro clássico vigente até então (unidade de ação, tempo e espaço).

Suas representações apresentavam uma grande variedade temática, povoadas por inúmeros personagens, amplitude temporal e justaposição de lugares. A alegoria, as personagens-tipos e a variedade linguística também o distinguem de seu tempo. Suas personagens não apresentam características particularizadas, ao contrário, são generalizações, estereótipos, que representam toda categoria profissional ou uma classe social (povoam suas peças as alcoviteiras, os fidalgos, os frades, os judeus). Outras vezes, através da abstração, as personagens representam idéias ou instituições (a Fama, a Igreja, a Lusitânia, Todo-o-Mundo e Ninguém). As personagens gilvicentinas expressavam-se através de diversos registros linguísticos: arcaísmos, castelhano, saiaguês (falar típico de Saiago, região que faz fronteira com Portugal), latim, português chulo, coloquial, popular, culto e erudito.

A produção teatral de Gil Vicente divide-se em três fases:

Primeira Fase – marcada pelos traços medievais e pela influência espanhola de Juan del Encina. São desta fase: O Monólogo do Vaqueiro, o Auto Pastoril Castelhano, o Auto dos Reis Magos, entre outros.

Segunda Fase – aparecem a sátira dos costumes e a forte crítica social. São desta fase: Quem tem farelos? O Velho da Horta, o Auto da Índia e a Exortação da Guerra.

Terceira Fase – aprofundamento da crítica social através da tragicomédia alegórica, da variedade temática e linguística, é o período da maturidade expressiva. São desta fase: A Trilogia das Barcas, a Farsa de Inês Pereira, o Auto da Lusitânia.

 A Farsa de Inês Pereira

 Conta a história que a Farsa de Inês Pereira surgiu por volta de 1523, quando a autoria dos textos de Gil Vicente foi questionada. Ele, a fim de provar sua inocência, pediu que lhe dessem um tema qualquer para que produzisse uma peça. O tema dado foi um dito popular: “mais quero um asno que me leve que cavalo que me derrube”, expressão conhecidíssima da célebre farsa.

Inês Pereira, jovem ambiciosa e namoradeira, cansada dos afazeres domésticos decide se casar, mas não com qualquer rapaz de sua classe social, deseja um casamento nobre, com um homem que seja galante, discreto e que saiba cantar. Recusa o casamento com Pêro Marques, que mesmo rico era camponês e casa-se com Brás da Mata, falso escudeiro que a maltrata após o casamento.

Com a morte do marido, a jovem casa-se novamente com o primeiro pretendente, mesmo sem amá-lo. Ingênuo e devotado, Pêro Marques não percebe a traição da mulher com um falso religioso e, na cena final da farsa, leva a própria esposa para os braços do amante, daí a frase: “mais quero um asno que me leve que cavalo que me derrube”.


Literatura em Portugal e no Brasil

 

Periodização da Literatura em Portugal e no Brasil:

A história da literatura portuguesa, tal qual conhecemos hoje, tem início em meados do século XII, quando Portugal se constitui como um estado independente.

Os mais de oito séculos de produção literária portuguesa são divididos em três grandes eras:

ERA MEDIEVAL

•ERA CLÁSSICA

•ERA ROMÂNTICA OU MODERNA

Em função dos estilos individuais dos artistas (maneira particular de utilizar a língua), do contexto histórico e das tendências de cada período, estas eras literárias foram subdivididas em fases menores, chamadas Estilos de Época ou Escolas Literárias.

                                               TROVADORISMO

O início das chamadas literaturas de línguas modernas ocorre com a produção dos poetas da Idade Média, conhecidos como trovadores. O termo trovador origina-se de trobadour, que significava “achar”, “encontrar”. Cabia ao poeta “encontrar” a música e adequá-la aos versos. Neste período as composições eram basicamente compostas para serem cantadas ao som de instrumentos como a lira, a cítara, harpa ou viola, daí serem chamadas de cantigas.

Os artistas medievais eram classificados em:

Trovador – geralmente nobre, possuidor de uma cultura erudita, não recebia por suas composições;

Jogral – compositor, saltimbanco ou ator que recebia por suas apresentações;

Segrel – fidalgo decaído que se apresentava nas cortes, em troca de dinheiro, juntamente com seu jogral. Pode ser considerado um trovador profissional;

Menestrel – artista que servia a uma determinada corte;

Jogralesa ou soldadeira – moça que acompanhava os artistas dançando, cantando e tocando castanholas.

O primeiro texto literário português que se tem registro é a “Cantiga da Guarvaia” ou “Cantiga da Ribeirinha” (1189 ou 1198), cantiga de amor de autoria de Paio Soares de Taveirós. 

CONTEXTO HISTÓRICO-CULTURAL 

Os séculos XI e XII são marcados pelo feudalismo, no plano político-econômico e pelo espírito teocêntrico (deus como o centro de todas as coisas), no plano religioso.  A sociedade medieval, composta basicamente pelo clero, nobreza e camponeses, estava estruturada numa relação de suserania e vassalagem, através da qual os vassalos (povo) serviam e obedeciam ao suserano (senhor feudal) em troca de proteção e assistência econômica. Tal estrutura era mantida graças ao teocentrismo, que difundia a ideia de destino, fazendo com que o povo aceitasse sua posição subalterna sem contestação, uma vez que esta era ordem divina.

Este dois traços histórico-culturais irão influenciar toda a produção literária trovadoresca, não só na poesia mas também na prosa. 

PRODUÇÃO LITERÁRIA
CANTIGAS

O que conhecemos da poesia trovadoresca, anterior ao aparecimento da escrita, está contido em obras conhecidas como cancioneiros, manuscritos antigos encontrados a partir do final do século XVIII. Os três mais importantes são:

•Cancioneiro da Ajuda ou do Real Colégio dos Nobres – reúne 310 composições, das quais 304 são cantigas de amor, foi organizado por D. Dinis e é o mais antigo de todos. Encontra-se na Biblioteca da Ajuda, em Portugal.

•Cancioneiro da Vaticana – reúne 1205 poesias, de autoria de 163 trovadores. Conserva-se ainda hoje na Biblioteca do Vaticano, em Roma.

•Cancioneiro da Biblioteca Nacional – também conhecido por Cancioneiro de Colocci-Brancuti, em homenagem a um de seus antigos possuidores. É o mais completo de todos, contendo 1647 cantigas de todos os gêneros. Encontra-se na Biblioteca Nacional de Lisboa, em Portugal.

Há ainda, segundo alguns estudiosos, as Cantigas de Santa Maria, um cancioneiro de poesias religiosas composto por 426 produções acompanhadas das respectivas músicas.

 PROSA

A prosa medieval, posterior à poesia, é representada basicamente pelas novelas de cavalaria, narrativas de cunho cavaleiresco e religioso que contavam as aventuras de grandes reis e seus cavaleiros. Destacam-se entre elas a História de Merlim, José de Arimatéia e a Demanda do Santo Graal. Havia também outros textos em prosa, assim divididos:

Hagiografias – biografia de santos

Livros de Linhagens ou Nobiliários – relatos genealógicos de famílias nobres

•Cronicões – livros de crônicas

Costuma-se afirmar, didaticamente, que o Trovadorismo termina com a nomeação de Fernão Lopes para o cargo de cronista-mor da Torre do Tombo, em 1418, marcando o início do Humanismo.

A literatura brasileira, desde suas origens (com a Carta de Pero Vaz de Caminha) até meados do século XVIII, foi reflexo e prolongamento da portuguesa, pois as precárias condições da Colônia impediram que houvesse um processo literário autônomo. Por isso, alguns críticos falam em isoladas manifestações literárias nesse período ou “ecos” da literatura portuguesa. 

Não houve no Brasil, pelo menos até a primeira metade do século XVIII, as condições necessárias para o surgimento da literatura, ou seja:

a) grupo de escritores conscientes de seu papel e que, num processo coeso de intercomunicação e interdependência, assegurassem a continuidade literária;

b) grupo de receptores ativos que pudessem influenciar a produção dos escritores;

c) vida cultural intensa.

Esse quadro perdurou até o momento em que, em função do ciclo da mineração, começaram a surgir não só as cidades, mas também escritores unidos pelo sentimento de independência da Colônia e comprometidos com a Inconfidência Mineira. No entanto, nossa literatura, que se esboçou como sistema na primeira metade do século XVIII, só adquiriu plena nitidez e autonomia no século XIX, quando o Brasil deixou de ser colônia.

Não devemos nos esquecer de que, nos primeiros tempos de nossa história, a comunicação entre os agrupamentos urbanos era praticamente nula. Predominava o isolamento das capitanias em que se explorava a cana-de-açúcar em latifúndios.

A maioria da população da Colônia, nessa época, era analfabeta e preocupava-se antes com problemas práticos de sobrevivência do que com literatura.

A vida cultural na Colônia foi abafada pela proibição de atividade editorial, pela censura, pela inexistência de centros ou instituições culturais e pela precariedade do ensino. 

Em função desse quadro, a literatura brasileira divide-se em duas grandes eras: a Colonial e a Nacional.

ERA COLONIAL (1500-1808) 

- Quinhentismo – 1500-1601
- Seiscentismo ou “ecos” do Barroco – 1601-1768
- Setecentismo ou Arcadismo –1768-1808

PERÍODO DE TRANSIÇÃO – (1808-1836 )

ERA NACIONAL (a partir de 1836)

- Romantismo – 1836-1881
- Realismo/Naturalismo/Parnasianismo –1881-1893
- Simbolismo – 1893-1902
- Pré-Modernismo – 1902-1922
- Modernismo – 1922 ➟

Esta delimitação cronológica, recurso puramente didático, não deve ser entendida de forma rígida, como se as Escolas fossem compartimentos estanques presos a certas datas arbitrariamente estabelecidas. Ao contrário, um mesmo autor pode apresentar características de várias escolas, independentemente da época e, as datas representam apenas marcos históricos, isto porque, sempre há um período de transição entre a ascensão de um Estilo e o declínio de outro.

QUINHENTISMO: século XVI

Contexto histórico:

a)    na Europa

- ascensão da burguesia

- invenções

- progresso científico

- Reforma

- Contra-Reforma

- Grandes Navegações

    b) no Brasil

1500 – descobrimento do Brasil – exploração do pau-brasil

1530 – início das expedições de exploração e povoamento

1534 – criação das capitanias hereditárias

1549 – vinda dos jesuítas – catequese dos índios e fundação dos primeiros colégios

Características:  — literatura documental sobre o Brasil escrita por portugueses (que acompanhavam as expedições) e por viajantes estrangeiros

— literatura pedagógica dos jesuítas visando à catequese dos índios e à orientação moral e espiritual dos colonos. 

Quinhentismo (1500-1601) 

A literatura do século XVI foi uma literatura sobre o Brasil. Refletindo ideais do Renascimento e da Contra-Reforma, traduziu o espírito de aventura, a sedução do exótico, o expansionismo geográfico e a propagação da cristandade. 

Contexto Histórico 

A Europa do século XVI assistiu à desestruturação da sociedade feudal. Os florescentes centros urbanos atraíam a população rural e neles se desenvolveu o comércio que propiciou o aparecimento da burguesia mercantil. Por sua vez, esta financiou as Grandes Navegações, cujo objetivo era a procura de novos mercados produtores e consumidores.

Portugal gozava de uma situação privilegiada: a precoce centralização política na figura do rei, a posição geográfica estratégica (seus portos eram passagem obrigatória entre as cidades italianas, que monopolizavam o comércio do Oriente, e o norte da Europa), a rápida formação de uma burguesia mercantil, a Escola de Sagres – o mais completo e inovador centro de estudos náuticos da época – propiciaram a expansão de Portugal na procura de novas rotas comerciais, uma vez que o comércio no Mediterrâneo era monopólio das cidades italianas. Essa expansão iniciou-se com a Tomada de Ceuta, em 1415, e estendeu-se da conquista e colonização da África e da Ásia até a descoberta do Brasil.

No entanto, o Feudalismo não foi minado somente pelo aparecimento da burguesia mercantil, mas também pela Reforma Protestante, que atraiu essa mesma burguesia. A reação da Igreja não se fez esperar e a ContraReforma, sustentada pela Companhia de Jesus, iniciou um movimento de reconquista espiritual.

As Grandes Navegações e a Contra-Reforma determinaram as duas tendências da produção literária do século XVI:

preocupação com a conquista material: literatura informativa que descreve as riquezas da terra;

preocupação com a conquista espiritual: literatura dos jesuítas, voltada para a catequese do índio e para a orientação moral e espiritual dos colonos. 

A Literatura Informativa 

Em 1500, Cabral “descobriu” o Brasil e Pero Vaz de Caminha, cronista de sua armada, escreveu a Carta a EL-Rei Dom Manuel sobre o achamento do Brasil, documento que marca o início da literatura brasileira.

 Portugal, no entanto, não explorou de imediato a nova terra. Interessado no ouro da África e no comércio garantido com o Oriente, de onde vinham especiarias, sedas e pedrarias, arrendou a exploração da costa brasileira a comerciantes que exploravam o pau-brasil, mas que eram impotentes para evitar ataques de estrangeiros.

 Endividado com os investimentos nas viagens ao Oriente, Portugal iniciou a colonização do Brasil com a expedição de Martim Afonso de Sousa, em 1530, esperando aqui encontrar metais e pedras preciosas.

 Nesse cenário, cronistas portugueses e estrangeiros escreveram textos que revelam seu deslumbramento frente à nova terra tropical, exótica, misteriosa. Não são textos propriamente literários, mas têm um valor documental inestimável para a história de nossos primeiros tempos e já contêm um sentimento nativista que encontrará sua expressão máxima no Romantismo.

A origem do nome Brasil

Muita gente diz que o nome Brasil deriva do pau-brasil, uma madeira que era extraída do litoral brasileiro e a partir da qual se fabricava uma tinta cor de brasa, usada para tingir

tecidos. A história não é bem assim. Nos mapas medievais, o mundo conhecido aparecia rodeado de ilhas imaginárias. Uma delas era a Ilha Brasil, que se situava a oeste da Irlanda. Essa localização foi encontrada em um mapa de 1324 e repetida em diversos planisférios. Também chamada “Hy Brazil”, essa ilha mitológica afastava-se no horizonte sempre que os marujos se aproximavam.

A raiz de Brasil é bress, que, na língua celta, significa “feliz, encantado, sortudo”. A Ilha Brasil seria, portanto, a ilha da felicidade, um verdadeiro paraíso. Logo, o nome Brasil é de origem celta, grupo de línguas faladas pelos antigos habitantes da Irlanda, da Escócia e do País de Gales. Já o pau-brasil era conhecido entre os italianos, que o importavam do Oriente, durante a Idade Média. O nome científico da madeira é Lignum brasile rubrum, derivado da Ilha Brasil, pois se acreditava que o pau-brasil seria seu produto principal. O nome Brasil, logo adotado pela maioria das pessoas, fez com que todos os outros fossem deixados de lado, tornando-se oficial em poucos anos. 

Pero Vaz de Caminha (1437? -1500) 

Com a Carta de 1o de maio de 1500, Caminha fundou a literatura brasileira. Numa linguagem pitoresca e agradável, que revela um observador minucioso, relatou ao rei D. Manuel tudo o que vira na nova terra: 

De ponta a ponta é toda praia rasa, muito plana e bem formosa. Pelo sertão, pareceu-nos do mar muito grande, porque a estender a vista não podíamos ver senão terra e arvoredos, parecendo-nos terra muito longa. Nela, até agora, não pudemos saber que haja ouro nem prata, nem nenhuma coisa de metal, nem de ferro; nem as vimos. Mas, a terra em si é muito boa de ares, tão frios e temperados, como os de Entre-Douro e Minho, porque, neste tempo de agora, assim os achávamos como os de lá. Águas são muitas e infindas. De tal maneira é graciosa que, querendo aproveitá-la dar-se-á nela tudo por bem das águas que tem. Mas o melhor fruto que nela se pode fazer, me parece que será salvar esta gente; e esta deve ser a principal semente que Vossa alteza nela deve lançar. 

Nesse texto podemos perceber os dois objetivos que nortearam as Grandes Navegações: conquista de bens materiais (ouro, prata, metais) e conquista espiritual (conversão dos indígenas, dilatação da fé cristã).

Muitos outros cronistas, portugueses e estrangeiros, descreveram nossa terra. Entre eles destacam-se:

Pero de Magalhães Gândavo, português de origem flamenga, amigo de Camões, cujas obras Tratado da terra do Brasil e História da Província de Santa Cruz, a que vulgarmente chamamos de Brasil (1576), além de descreverem a gente, os bens e o clima da Colônia, aconselham os portugueses, que vivem em extrema miséria na Metrópole, a que venham para cá.

Gabriel Soares de Sousa escreveu Tratado descritivo do Brasil (1587), a mais rica fonte de informações sobre o Brasil no século XVI. Nele fez um inventário da flora e da fauna da Bahia e alertou o rei para a necessidade de povoar e fortificar certas regiões para que estrangeiros não as tomassem.

Hans Staden, alemão que esteve no Brasil por volta de 1520, escreveu Viagem ao Brasil (1557).

A Literatura dos Jesuítas

Desde que chegaram à Bahia em 1549 com Tomé de Sousa (o primeiro governador-geral do Brasil), os jesuítas, comandados pelo Padre Manuel da Nóbrega, incumbiram-se de catequizar os indígenas, educar e dar orientação moral e espiritual aos colonizadores. Escreveram poesia, teatro pedagógico, sermões e cartas, nas quais informavam os superiores da Companhia de Jesus sobre o desenvolvimento de seus trabalhos na Colônia.

Quem mais se destacou entre os jesuítas foi Padre José de Anchieta.

Padre José de Anchieta (1534-1597)

O fundador de São Paulo chegou ao Brasil em 1553 com o segundo governador-geral, D. Duarte da Costa. Foi uma das figuras mais importantes do século XVI pela relevância literária de sua obra e por ter sido o primeiro a escrever para brasileiros.

Anchieta escrevendo na areia, de Benedito Calixto.

Sempre com intenção pedagógica, produziu sermões, autos (de inspiração medieval, seguindo o modelo de Gil Vicente) e poemas simples e ingênuos, mas cheios de lirismo. Dentre estes destaca-se “De Beata Virgine Dei Matre Maria” (“Poema à Virgem”).

Devido à intenção didática de seus textos, usa linguagem de fácil assimilação e imagens claras. Anchieta escreveu em latim, tupi e português e foi o autor da primeira gramática em língua tupi: Arte da gramática da língua mais usada na costa do Brasil.

Observe neste fragmento, como as redondilhas menores e as rimas (sem esquema rígido) dão ao texto um ritmo que facilita a memorização, enfatizando sua função pedagógica. 

A Santa Inês

Cordeirinha linda,

como folga o povo

porque vossa vinda

lhe dá lume novo!

Cordeirinha santa,

de Iesu querida,

vossa santa vinda

o diabo espanta.

Por isso vos canta

com prazer, o povo,

porque vossa vinda

lhe dá lume novo.


CÉLULA ANIMAL

 


Glicocalix


A primeira estrutura que encontramos, sem precisar penetrar na célula, é conhecida como glicocalix. Ele pode ser comparado a uma "malha de lã", que protege a célula das agressões físicas e químicas do meio externo. Mas também mantem um microambiente adequado ao redor de cada célula, pois retém nutrientes e enzimas importantes para a célula. O glicocalix é formado, basicamente, por carboidratos e está presente na maioria das células animais.


Membrana Plasmática


Membrana plasmática é uma película finíssima e muito frágil composta, principalmente, por fósfolipídios e proteínas. Ela tem importantes funções na célula, e uma delas é isolar a célula do meio externo. Seu tamanho é tão pequeno que se a célula fosse aumentada ao tamanho de uma laranja, a membrana seria mais fina do que uma folha de papel de seda. Água, substâncias nutritivas e gás oxigênio são capazes de entrar com facilidade através da membrana, que permite a saída de gás carbônico e de resíduos produzidos dentro da célula. A membrana é capaz de atrair substâncias úteis e de dificultar a entrada de substâncias indesejáveis. Exercendo assim um rigoroso controle no trânsito através das fronteiras da célula. É comum compará-la a um "portão" por suas funções e a um saco plástico pela sua aparência.


Citoesqueleto


Citoesqueleto é complexa rede de finos tubos interligados. Estes tubos, que são formados por uma proteina chamada tubolina, estão continuamente se formando e se desfazendo. Outros componentes do citoesqueleto são fios formados por queratina, formando os chamados filamentos intermediários. Finalmente existem os chamados microfilamentos, formados por actina.
Suas funções são: organizar internamente, dar forma e realizar movimentos da célula.


Citoplasma


Após atravessar a Membrana Plasmática, mergulhamos na parte mais volumosa da célula: o Citoplasma. Ele é o espaço entre a membrana e o núcleo. Sua forma não é definida e é nele que se encontram bolsas, canais membranosos, organelas citoplasmáticas que desempenham funções específicas nas células e um fluido gelatinoso chamado Hialoplasma


Parede Celular


A parede celular é um componente exclusivo das célula vegetal. Ela é uma feita a partir de longas e resistentes microfibrilas da celulose. Estas ficam juntas por meio de uma matriz feita de glicoproteínas (proteínas ligadas a açúcares), hemicelulose e pectina (polissacarídios).

A membrana esquelética celulósica (parede celular) é formada por duas paredes: a primária e a secundária. A primeira é presente nas células mais jovens, sendo finas e flexíveis (possibilitando o crescimento da célula). A segunda só é formada após o término do crescimento da célula. Esta, mais espessa e rígida, é secretada através da ámembrana plasmtica depositando-se entre esta e a superfície interna da parede primária.


Hialoplasma


É no hialoplasma que ocorrem a maioria das reações químicas da célula e também o armazenamento de energia para a célula. Sua concentração no citoplasma varia entre o Ectoplasma e o Endoplasma.


Retículo Endoplasmático -O labirinto intracelular


Nossa primeira visita no citoplasma é o Retículo Endoplasmático. Ele é um sistema de tubos e canais que pode-se destinguir em 2 tipos: rugoso e liso. Mesmo sendo de diferentes tipos eles estão interligados. Este complexo sistema, é comparável à uma rede de encanamentos, onde circulam substâncias fabricadas pela célula.


Aparelho de Golgi (ou complexo de Golgi)


O aparelho de Golgi (cujo nome é uma homenagem ao cientista que o descobriu, Camillo Golgi) é um conjunto de saquinhos membranosos achatados e empilhados como pratos. E estas pilhas, denominadas dictiossomos, se encontram no citoplasma perto do núcleo. O complexo é a extrutura responsável pelo armazenamento, transformação, empacotamento e "envio" de substâncias produzidas na célula. Portanto é o responsável pela exportação da célula. É comum compará-lo a uma agência do correio, devido ambos terem funções semelhantes. Este processo de eliminação de substâncias é chamado de secreção celular. Praticamente todas as células do corpo sintetizam e exportam uma grande quantidade de proteinas que atuam fora da célula.


Lisossomos - Reciclando Resíduos


As células possuem no citoplasma, dezenas de saquinhos cheios de enzimas capazes de digerir diversas substâncias orgânicas. Com origem no complexo de golgi, os lisossomos existem em quase todas as células animais. As enzimas são produzidas no RER , depois são transferidas para o dictiossomo do complexo de golgi. Lá, são identificadas e enviadas para uma região especial do complexo e por fim serão empacotadas e liberadas como lisossomos.

Eles são as organelas responsáveis pela digestão da célula (a chamada digestão intracelular). Num certo sentido, eles podem ser comparados a pequenos estômagos intracelulares. Além disso, os lisossomos tem a função de ajudar no processo de autofagia. Também podem ser comparados à centros de reciclagem, ou até mesmo a desmanches pois digerem partes celulares envelhecidas e desgastadas, de modo a reaproveitar as substâncias que as compõem.


Mitocôndrias- Casas de força da célula


Todas as atividades celulares consomem energia. Para sustentar , as células são dotadas de verdadeiras usinas energéticas: AS MITOCÔNDRIAS.

As mitocôndrias são pequenos bastonetes membranosos(lipoproteica),que flutuam dentro do citoplasma. Dentro delas existem uma complexa maquinaria química, capaz de liberar a energia contida nos alimentos que a célula absorve. Isso acontece da seguinte forma: as substancias nutritivas penetram nas mitocôndrias, onde reagem com o gás oxigênio, em um processo comparável à queima de um combustível. Essa reação recebe o nome de respiração celular. A partir daí é produzido energia em forma de ATP.


Finalmente, O Núcleo


Núcleo, o cérebro da célula. É ele que possui todas as informações genéticas, comanda e gerencia toda a célula. Dentro dele, esta localizado um ácido chamado DNA (ácido desoxirribonucléico). Este, formado por uma dupla hélice de nucleotídeos (formado por uma molécula de açúcar ligada a uma molécula de ácido fosfórico e uma base nitrogenada. O DNA é responsável por toda e qualquer característica do ser vivo. É ele que manda fazer as proteínas, determina a forma da célula etc. No homem, o DNA é que diz de que cor será os olhos, o tamanho dos pés etc.

O núcleo é composto por uma carioteca, cromatina e nucléolos. A carioteca é um tipo de membrana plasmática composta por duas membranas lipoprotéicas. Essa membrana possui vários poros em sua superfície. Esses são compostos por uma complexa estrutura proteica que funciona como uma válvula que escolhe que substância deve entrar e qual deve sair.

A cromatina é um conjunto de fios formados por uma longa molécula de DNA associada a moléculas de histonas chamados de cromossomos. É aonde parte das informações estão guardadas. Por último, o nucléolo é um corpo redondo e denso, constituído por proteínas, RNA e um pouco de DNA. É dentro dele que se forma os ribossomos, presentes em toda a célula.



 

 

BIOLOGIA CELULAR

 

 Introdução a Biologia Celular

 

A Biologia Celular (antiga Citologia) é a parte da Biologia que estuda todas as organelas celulares e seus comportamentos. Procura diferenciar as células tanto animais como vegetais, observando também as grandes semelhanças.

Histórico

1590: Invenção do microscópio pelos holandeses Francis e Zacarias Janssen, fabricantes de óculos. Seu microscópio aumentava a imagem de 10 a 30 vezes e foi usado pela primeira vez para observar pulgas e insetos.

1665: Robert Hooke, em seu trabalho Microgafia, relatou pequenas cavidades ("cells") em cortes de cortiça, de onde se originou o termo célula.

1674: Leeuwenhoek observou diversas estruturas unicelulares: espermatozóides de peixes, hemácias. Um dos maiores colecionadores de lentes da época, foi o primeiro a observar os micróbios.

1831: Robert Bown pesquisando células de orquídeas, descreveu o núcleo celular.

1838 - 1839: Schwann emitiram a Teoria Celular: "Todos os seres vivos (animais e vegetais) são formados por células."

1858: Virchow emitiu o aforismo ominis cellula et cellula — toda célula provém de outra preexistente.

1962: Watson e Crick, estabeleceram o modelo da molécula do DNA, recebendo, em função disso, o prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia.

 Tamanho e formas das células

As dimensões das células variam de espécie, contudo a maioria tem tamanho inferior ao do poder de resolução do olho humano. Em geral, as células oscilam entre 0,1 mícron e 1mm.

 As células podem ser:

 - Microscópicas: a absoluta maioria.

 - Macroscópicas: Alga Nitella, fibras de algodão, células de urtiga, fibras de linho. Os exemplos são poucos numerosos. A forma é muito variada.

 Leis Celulares

 Lei da constância do volume celular ou lei de Driesch

O volume é constante para todas as células de um mesmo tecido, em todos os indivíduos da mesma espécie e mesmo grau de desenvolvimento (ou seja, mesma idade).

De acordo com essa lei, o volume celular independe do tamanho do indivíduo. De fato, analisando-se células hepáticas de um anão e de um gigante, pode-se verificar que, nos dois casos, o volume das células é o mesmo. Isso significa que a diferença no tamanho dos órgãos deve-se ao número de células que, no gigante, é muito maior. A lei de Driesch não se aplica às chamadas células permanentes.

 Lei de Spencer

Segundo Spencer, a superfície de uma célula varia de acordo com o quadrado da dimensão linear e o volume com o cubo da mesma.

Note-se, portanto, que enquanto a superfície aumentou 4 vezes, o volume aumentou 8 vezes. Esse aumento desproporcional do volume faz com que a célula tenha um excesso de citoplasma, que a força a entrar em divisão celular.

 A Lei de Spencer é um fator mitógeno (leva a célula à divisão).

 Classificação de Bizzozero

 Conforme a sua duração no organismo, as células podem ser classificadas em:

Células lábeis: células dotadas de ciclo vital curto. Continuamente produzidas pelo organismo, permitem o crescimento e a renovação constante dos tecidos onde ocorrem. Exemplos: glóbulos brancos (leucócitos), glóbulos vermelhos (hemácias ou eritrócitos) e células epiteliais (revestimento).

Células estáveis: células dotadas de ciclo vital médio ou longo, podendo durar meses ou anos. Produzidas durante o período de crescimento do organismo essas células só voltam a ser formadas em condições excepcionais, como na regeneração de tecidos (uma fratura óssea, por exemplo). Dentre as células estáveis, podemos citar: osteócitos (ósseas adultas), hepatócitos (células do fígado), células pancreáticas, musculares lisa etc.

Células permanentes: células de ciclo vital muito longo, coincidindo, geralmente, com o tempo de vida do indivíduo. São produzidas apenas durante o período embrionário. Na eventual morte dessas células, não há reposição, uma vez que o indivíduo nasce com o número completo e necessário de suas células permanentes. Essas células simplesmente aumentam de volume (exceção à lei de Driesch), acompanhando o crescimento do indivíduo. Como permanentes, podemos citar as células nervosas (neurônios) e as células musculares estriadas.

Observação de Células

Os instrumentos que permitem uma visualização da célula são ditos microscópios. Podemos observar as células:

- In vivo: observação de células em seu estado natural.

 - Supravital: observação da célula após tratamento com substâncias químicas que não decomponham as células, deixando-as vivas.

 - Post-mortem: observação de células fixadas, isto é, substâncias que provocam a morte da célula, sem perda de sua arquitetura normal.

Geralmente, após fixadas, as células são coradas.

 - Corantes: substâncias portadoras de grupos químicos coloridos, utilizados somente em microscopia óptica, que identificam determinada estrutura celular.

 Principais Corantes

- DNA - Feulgem

 - Verde Janus Beta - mitocôndrias

- Hematoxilina - centríolos, retículos endoplasmático

 - Sais de Ag+, Os, U - complexo de Golgi

 - Reativo de Schiff - polissacarídeos (técnica de PAS)

 - Sudam III - gorduras

 Níveis de organização celular

O surgimento da célula, como se a conhece, resulta de um processo de transformação que durou milhões de anos.

No início desse processo, estão os primeiros seres vivos, que passaram a desenvolver mecanismos, cada vez mais eficientes de captação, armazenamento e liberação de energia, para realizar suas atividades. Ainda há seres vivos formados por apenas uma célula e também alguns que não são formados por células, chamados vírus.

 Vírus

Não são constituídos por células, embora dependam delas para a sua multiplicação.

Não possuem enzimas e, portanto, nem metabolismo próprio, necessário à formação de novos vírus. Então, são parasitas intracelulares obrigatórios, formados apenas por um dos ácidos nucléicos (DNA e RNA), envolvido por um revestimento protéico.

Os vírus que atacam os animais não atacam as células vegetais e vice-versa. Os vírus das bactérias são chamados bacteriófagos ou, simplesmente, fagos.

Vírus (do latim — veneno): identificados em 1892 por Ivanovitch (botâncio russo) quando pesquisava folhas de fumo. Os vírus quando fora de organismos, possuem a forma de crisais (matéria, bruta). Voltam à atividade normal quando introduzidos em organismos.

Protocarontes (Reino Monera)

 (Sem envoltório - carioteca)

Pleuropneumonias ou micoplasma (PPLO)

Microrganismos unicelulares patogênicos são as menores e mais simples células conhecidas atualmente (0,125 a 0,150 mícrons de diâmetro). Apresentam metabolismo próprio e são agentes infecciosos de diversos animais.

Ricketsias

Microorganismos patogênicos e agentes infecciosos intracelulares muito pequenos (0,3 a 0,5 mícrons de diâmetro), são causadores de várias doenças no homem.

 Semelhante às bactérias, considerados como intermediários entre os vírus e elas.

 Bactérias

Seres unicelulares microscópicos, isolados ou coloniais, encontradas em todos os ambientes: água, solo, ar e orgânico. A maioria de vida livre e heterotrófica, muitas exercem importante papel no ciclo do nitrogênio na natureza.

 Outras, no entanto, são agentes patogênicos, causando numerosas infecções no homem, com tuberculose, pneumonia, lepra, meningite, tétano e outras.

Eucariontes

Essas células têm duas partes bem distintas: o citoplasma, envolvido pela membrana plasmática, e o núcleo, envolvido pela carioteca.

 Membrana Plasmática

 Conceito

É uma fina película, invisível ao microscópio óptico (MO) e visível ao microscópio eletrônico. De contorno irregular, elástica e lipoprotéica, apresenta um caráter seletivo, isto é, atua "selecionando" as substâncias que entram ou saem da célula, de acordo com suas necessidades.

A membrana plasmática é conhecida também como citoplasmática, celular ou plasmalema.

 Características

 - Ocorre em todas as células animais e vegetais.

 - Tem 75 Angstron de espessura.

 - Visível apenas ao microscópio eletrônico.

 - Tem composição química lipoprotéica (predominante).

 - Possui capacidade de regeneração (sofrendo pequena lesão, é capaz de recompor a parte perdida antes que o citoplasma extravase).

 - Permeabilidade seletiva.

 Estrutura

 Em 1954, Dawson e Danielli criaram um modelo que sugere a existência de quatro camadas moleculares: duas externas, constituídas de proteínas, envolvendo duas camadas internas, formadas de lipídios.

Em 1972, Singer e Nicholson, baseados em informações acumuladas com as pesquisas de outros cientistas, elaboraram, para a estrutura da membrana, um novo model, chamado mosaico fluido, hoje aceito por todos os autores. Segundo esse modelo, três substâncias participam da estrutura da membrana: lipídios, proteínas e uma pequena fração de glicídios. Por isso, o nome mosaico. Os lipídios são principalmente fosfolipídios e colesterol; as proteínas são do tipo globular e os glicídios, pequenas cadeias com até quinze unidades de monossacarídeos. Algumas proteínas da membrana teriam papel enzimático, podendo, inclusive, alterar a sua forma e, assim, abrir ou fechar uma determinada passagem, de maneira a permitir ou impedir o fluxo de certas substâncias. Além do papel de "portões", exercido por algumas proteínas, as moléculas presentes na membrana estariam em constante deslocamento, conferindo à estrutura intenso dinamismo. Daí serem chamadas de mosaico fluido.

Observação: os modelos de membranas propostos são panas teóricos; o único fato que se tem certeza é que, ao ME, a membrana celular é trilaminar.

Ao microscópio eletrônico, em cortes extremamente finos, a membrana plasmática apresenta uma estrutura tríplice, sendo constituída por duas faixas densas, cada qual com aproximadamente 20 angstrons de espessura, e uma faixa central clara com 35 Angstrons de espessura. A essa estrutura tríplice deu-se o nome de unidade de membrana.

 

Unidade de membrana de Robertson

 A membrana celular também reveste estruturas celulares.

 - carioteca

 - lisossomos

 - complexo de golgi

 - cloroplasto

 - mitocôndria

 - retículo endoplasmático

 Todas as estruturas acima são formadas por membranas idênticas à membrana plasmática.

 Propriedades da membrana

 Decorrentes das proteínas:

 — baixa tensão superficial;

 — resistência mecânica;

 — elasticidade

 Decorrentes dos lipídios:

 — alta resistência elétrica;

 — alta permeabilidade a substâncias lipossolúveis.

 Especializações da membrana

Na membrana celular existem estruturas especializadas em aumentar a absorção de substância e a aderência entre as células ou para melhorar movimentos celulares. Algumas especializações são microvilosidades, desmossomos, interdigitações, cílios e flagelos.

Microvilosidades — dobras da membrana plasmática na superfície da célula, voltadas para a cavidade do intestino. Calcula-se que cada célula possua em média 3.000 microvilosidades.

Como consequência, há um aumento apreciável da superfície da membrana em contato com o alimento. Isso permite, por exemplo, uma absorção muito mais eficiente do alimento ingerido.

Desmossomas (Macula Adhaerens) — aparecem nas superfícies de contato das células que estão intimamente unidas. Têm a finalidade de aumentar a coesão do tecido, mantendo as células firmemente unidas.

Verificou-se ao microscópio eletrônico que, ao nível dos desmossomos, as membranas aparecem mais espessas, em forma de linhas densas escuras. No local desse espessamento no citoplasma de cada célula, há um acúmulo de material granuloso. Desse local, irradiam-se microfibrilas para o citoplasma, a curta distância. Essas microfibrilas, ou tonofibrilas, são compostas por tonofilamentos. Entre as microfibrilas das duas células. A metade de um desmossomo é chamado hemidesmossomo.

Interdigitações — nas células epiteliais, com as que revestem a nossa pele, a membrana apresenta conjuntos de saliências e reentrâncias, denominadas interdigitações, que possibilitam o encaixe entre elas.

 Parede celular

Na célula vegetal, existe, por fora da membrana plasmática, um reforço externo, formado, geralmente, por celulose. A parede celular não existe nas células dos animais. Nos fungos, a parede celular é formada de quitina.

 Observação: nas células animais encontramos um envoltório externo chamado glicocálix, formado pela presença de glicídios presos nas proteínas e nos lipídios, que se tornam glicoproteínas e glicolipídios, respectivamente. Essas coberturas recebem o nome de glicocálix e são responsáveis pela união de células e pelo reconhecimento de células estranhas ou microrganismos estranhos.

Transportes pela membrana

Transporte em massa

 

Endocitose

As endocitoses compreendem os processos através dos quais a célula adquire, do meio externo, partículas grandes ou macromoléculas que, normalmente, não seriam absorvidas através do processo de permeabilidade seletiva, com a seguir:

Nos processos de endocitose, a membrana plasmática deforma-se, projetando-se ou invaginando-se. Há dois tipos de endocitose: fagocitose e pinocitose.

 Fagocitose

Do grego phagein = comer e kytos = célula, corresponde à inclusão de partículas sólidas pela célula, através de emissão de pseudópodes.

Esse processo é importante, não só para a nutrição da célula, com também para a defesa. Os protozoários, por serem unicelulares, nutrem-se por esse processo. Um exemplo de fagocitose destinada à defesa são os glóbulos brancos (ou leucócitos), que fagocitam bactérias ou elementos prejudiciais ao organismo. Quando os leucócitos ou glóbulos brancos morrem, no local onde combatem as bactérias, forma-se o pus.

 Pinocitose

Do grego, pinos = beber ou sorver e kytos = célula, é o processo mais comum de ingestão de substâncias alimentares muito pequenas ou gotículas de líquidos. Ocorre com invaginação da membrana plasmática de célula. Quando a membrana "estrangula" essa invaginação, forma-se uma vesícula no interior da célula chamada pinossomo.

Cromopexia

Fenômeno pelo qual certas células englobam moléculas coloridas, como a hemoglobina, que é vermelha.

 Exocitose ou clasmatose

Processo de eliminação de produtos para o exterior da célula. São produtos que estão no interior de vesículas, que se desfazem na superfície da membrana, por um mecanismo inverso ao da endocitose. Corresponde à defecação celular.

 Transportes por permeabilidade

 A célula encontra-se em constante troca de substâncias entre o seu meio externo e interno. Apenas as substâncias necessárias devem entrar, enquanto as substâncias necessárias devem entrar, enquanto as substâncias indesejáveis devem sair. Esse controle ou seleção é feito pela membrana que, dentro de certos limites, colabora para manter constante a composição química da célula. Por isso, costuma-se dizer que a membrana possui permeabilidade seletiva.

 As características da pereabilidade seletiva é:

 Não passam através da membrana:

 - proteínas

 - polissacarídeos

 - lipídeos complexos

 Passam através da membrana

 - água

- sais minerais

 - álcool

 - glicose

 - aminoácidos

 - O2 e CO2

 As substâncias que passam através da membrana celular sofrem dois tipos principais de passagem: transporte passivo e transporte ativo.

 Transporte passivo

 O transporte passivo pode ser feito, principalmente, através de duas formas: transporte passivo por difusão e transporte passivo por osmose.

Difusão passiva: quando duas soluções que apresentam concentrações diferentes de soluto encontram-se separadas por membrana idêntica à membrana plasmática, observa-se uma passagem de substâncias do meio mais para o menos concentrado, até que as concentrações se igualem. Essa passagem de soluto ou até de solventes no sentido de igualar as concentrações denomina-se difusão. No caso da célula, várias substâncias entram e saem por difusão. A concentração de oxigênio no interior da célula, por exemplo, é sempre menor do que no meio externo, pois o oxigênio é continuamente gasto no processo de respiração celular. Esse mesmo processo produz gás carbônico, de forma que a concentração desse gás no interior da célula é maior do que do lado de fora. É fácil concluir que, por difusão, Oxigênio está sempre entrando na célula e Gás Carbônico, saindo. Difusão é o movimento das moléculas do soluto e do solvente a favor de um gradiente de concentração, no sentido de igualar suas concentrações.

Por osmose: a osmose é um caso especial de difusão. Nesse processo, ocorre um fluxo espontâneo apenas de solvente, do meio menos concentrado em soluto (hipotônico) para o meio mais concentrado em soluto (hipertônico).

Portanto, na osmose, o solvente desloca-se de node existe em maior quantidade para onde existe em menor quantidade. Uma vez estabelecido o equilíbrio, passará a mesma quantidade de água nos dois sentidos. Se a membrana for permeável também aos solutos, sua passagem obedecerá ao mesmo princípio.

 Classificação das soluções

 — Isotônica: a solução tem a mesma concentração que outra.

— Hipotônica: a solução é menos concentrada do que outra.

— Hipertônica: a solução é mais concentrada do que outra.

Efeitos da osmose em células animais e vegetais

 Glóbulos vermelhos colocados em solução de baixa concentração (hipotônica) ganham água e acabam por romper a membrana plasmática (hemólise). Se colocada em solução hipertônica, perde água por osmose e murcha, ficando com a superfície enrugada ou crenada: o fenômeno é chamado crenação.

As células vegetais, quando imersas em soluções fortemente hipertônicas, perdem tanta água que a membrana plasmática se afasta da parede celular, acompanhando a redução do volume interno. Esse fenômeno é denominado plasmólise e as células nesse estado são chamadas de plasmolisadas. Se for mergulhada a célula em meio hipotônico, ela volta a absorver água, recuperando, assim a turgescência (torna-se novamente túrgida — cheia de água), fenômeno denominado deplasmólise. A existência da parede celular geralmente impede o rompimento da membrana plasmática da célula.

 Transporte ativo

Transporte ativo é o processo pelo qual uma substância desloca-se contra um gradiente, gastando energia da célula. O sódio e o potássio sofrem esse tipo de transporte.

Tipos

Bomba de sódio: nesse tipo de transporte, a célula desloca o sódio do líquido intracelular para o líquido extracelular, no intuito de manter sua integridade. Uma célula normal mantém uma tonicidade compatível com a vida, se tiver energia para bombear o sódio para fora do líquido intracelular. Se faltar energia, a célula acumula sódio no líquido intracelular, há entrada de água e consequentemente edema intracelular.

Bomba de potássio: uma célula saída precisa captar potássio parado líquido extracelular para o líquido intracelular e, nesse processo, gasta energia contra o gradiente de concentração.

 Hialoplasma ou citoplasma fundamental

Também chamado de matriz citoplasmática, é um material viscoso, amorfo, no qual estão mergulhados os orgânulos. Quimicamente, o hialoplasma é constituído por água e moléculas de proteína, formando um coloide.

Observação: chamamos de citoplasma todo material compreendido entre a membrana plasmática e a carioteca. A abundância de água no hialoplasma facilita a distribuição de substâncias por difusão, como também a ocorrência de inúmeras reações químicas.

Componentes do Hialoplasma

Em observações ao ME, o hialoplasma é um meio heterogêneo que apresenta filamentos, estruturas granulares e microtúbulos.

 Estruturas filamentosas

 Tonofilamentos: filamentos constituídos de queratina, participando na formação dos desmossomos.

 Miofilamentos: filamentos característicos de células contráteis. Apresentam 60 angstrons de diâmetro, com capacidade contrátil, auxiliando em movimentos ameboidais. Ex.: actina e miosina.

 Estruturas granulares

Grânulos de glicogênio e gotículas de gordura são encontrados em células animais.

 Microtúbulos

 De constituição química proteica. Quando a célula entra em divisão celular, os microtúbulos agrupam-se, formando o fuso mitótico ou acromático, que desloca os cromossomos para os polos celulares.

Propriedades do Hialoplasma

Sendo um colóide, a consistência do hialoplasma pode variar, passando de gel ou bastante denso a muito fluido ou sol.

Em muitas células, a porção mais periférica do hialoplasma, o ectoplasma, fica no estado gel (plasmagel). Já a porção mais interna, o endoplasma, fica no estado sol (plasmassol).

Tixotropismo - mudança de sol para gel ou vice-versa.

O citoplasma é meio tixotrófico no qual as transformações de sol para gel permitem que determinadas células possuam movimentos conhecidos com ameboidais.

Em certas células, como macrófagos, leucócitos e amebas, observa-se um movimento do hialoplasma (plasmassol) em determinada direção; logo em seguida, o ectoplasma, que é gel (plasmagel), muda para plasmassol, dando origem ao pseudópodo. Na sequência, esse ectoplasma volta ao estado gel, dando consistência ao pseudópodo formado.

 Movimento Browniano

 Micelas são as partículas coloidais em dimensões entre 0,1 e 0,001 um de diâmetro. Devido a choques com moléculas de água e à própria repulsão provocada por cargas elétricas idênticas, adquirem movimento desordenado, dando estabilidade ao colóide onde estão contidas.

Ciclose

A ciclose é um movimento do hialoplasma, principalmente em estado de sol, de maneira a formar uma corrente que carrega os diversos orgânulos e a distribuir substâncias ao longo do citoplasma. Nesse movimento, são arrastados os cloroplastos para um local de maior intensidade luminosa da célula. A ciclose pode ser bem observada no endoplasma de muitas células vegetais.

 Efeito Tyndall

 Fazendo-se passar um feixe de luz através do hialoplasma, com a ajuda de um microscópio eletrônico, pode-se observar um desvio dos raios da luz (difração), devido ao batimento dos raios nas partículas de micelas que apresentam movimento desordenado.

 Cílios e Flagelos

 Cílios e flagelos são estruturas móveis encontradas tanto em unicelulares como em organismos mais complexos (homem). Os cílios são, geralmente, curtos e numerosos; os flagelos, longos, existindo apenas um ou poucos em cada célula. Essas formações vibráteis têm um papel fundamental: permitir a locomoção da célula ou do organismo no meio líquido.

Exemplos: protozoários e larvas de invertebrados movimentam-se através de cílios; espermatozoides, algas unicelulares e alguns protozoários locomovem-se por flagelos.

Proteção

Em determinados órgãos, como a traqueia de mamíferos, existe um epitélio ciliado lubrificado por muco, que é empurrado para a garganta pelos cílios. O muco tem um papel protetor, já que muitas impurezas do ar inspirado ficam aderidas a ele. O batimento ciliar permite, então, a remoção do muco e, com ele, as partículas estranhas.

O uso do cigarro inibe a ação dos cílios do epitélio traqueal, dificultando, assim, a remoção das impurezas do ar.

 Estrutura de cílios e flagelados

Em função de sua origem em centríolos , tais orgânulos apresentam, em certa extensão do seu eixo central, nove conjuntos de trincas de microtúbulos proteicos. Mais adiante, ao longo de seu trajeto, apresenta nove conjuntos de duplos microtúbulos, como um par central.

 Na base do cílio ou flagelo, encontra-se a organela que lhes dá origem, denominada corpo basal ou cinetossomo (antigo centríolo)


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