quinta-feira, 2 de janeiro de 2025

Comissões da Verdade - Memória e justiça

As ditaduras em diferentes países da América Latina tiveram várias características em comum. A principal delas foi a violação dos direitos humanos. No período de transição democrática, em alguns países, os crimes cometidos pelos governos militares foram investigados por meio da criação de Comissões da Verdade, para promover o esclarecimento sobre as violações, a identificação dos responsáveis e a indenização das vítimas. 
A Argentina, durante o governo de Raúl Alfonsín, instituiu a Comissão Nacional sobre o Desaparecimento de Pessoas (Conadep) no final de 1983, com o objetivo de recolher provas para julgar os militares responsáveis pelos crimes de tortura e assassinato entre 1976 e 1983. A Conadep investigou principalmente as casas de detenção clandestinas no país, a localização dos desaparecidos políticos e o paradeiro das crianças sequestradas. 
Em 1984, a Conadep publicou o relatório Nunca mais, que continha informações sobre os agentes da repressão, o terrorismo de Estado, as torturas e diversos depoimentos de vítimas. No documento, a Conadep relatou 8961 casos de desaparecimento e identificou 1300 oficiais responsáveis pela repressão. Entre abril e dezembro de 1985, a junta militar foi julgada. Cinco militares foram condenados à prisão perpétua, entre eles o líder Jorge Rafael Videla. Esse acontecimento produziu tensão na Argentina, pois os militares passaram a reivindicar a anistia e pregar a reconciliação nacional e o esquecimento, enquanto movimentos em defesa dos direitos humanos, como o das Mães da Praça de Maio, lutavam pela memória e por justiça. 
As atividades da Conadep incentivaram a criação de outras Comissões da Verdade na América do Sul. O Chile, por exemplo, instaurou em 1990 a Comissão Nacional de Verdade e Reconciliação, que investigou apenas os casos de morte e desaparecimento. O relatório final apontou 3428 casos de violações aos direitos humanos e recomendou propostas de reparação simbólica, legal e administrativa. Em 2003, também foi criada a Comissão Nacional sobre Prisão Política e Tortura, direcionada às vítimas de tortura. Em 2015, o governo chileno indenizou essas pessoas.

A Comissão Nacional da Verdade no Brasil

No Brasil, a Comissão Nacional da Verdade (CNV) foi instaurada em 2011 com o objetivo de apurar as violações de direitos humanos ocorridas no país entre 1946 e 1988. Apesar disso, a CNV teve como principal foco a investigação dos crimes cometidos pelo Estado durante a ditadura civil-militar. O relatório final, dividido em três volumes, foi entregue à então presidenta Dilma Rousseff, em dezembro de 2014. 
Nele constam, entre outras informações, os perfis dos mortos e desaparecidos políticos, os responsáveis pelos crimes de tortura, os métodos e as práticas de violação dos direitos humanos, assim como provas da participação do Estado brasileiro nas ditaduras da América do Sul. No relatório, foram confirmados 191 mortos e 243 desaparecidos. Além disso, com o intuito de reparar as vítimas da ditadura e evitar que os abusos verificados no período voltem a se repetir, a CNV fez as seguintes recomendações, entre outras.

• O reconhecimento, pelas forças armadas, de sua responsabilidade institucional pelas graves violações de direitos humanos entre 1964 e 1985.

• A proposição, pela administração pública, de medidas administrativas e judiciais contra agentes públicos responsáveis pelas prisões, torturas, desaparecimento e mortes durante a ditadura. 
• A criação de mecanismos de prevenção e combate à tortura.

• A garantia de atendimento médico e psicossocial permanente às vítimas da ditadura. 
Apesar de a CNV abrir caminho para a promoção da justiça e da apuração da verdade, ainda existem muitos obstáculos para que os responsáveis pelos crimes contra a humanidade sejam punidos no Brasil, como foi feito na Argentina e no Chile.

O caso do Timor Leste

Em 1859, portugueses e holandeses, que disputavam o controle do comércio de especiarias no Sudeste Asiático, dividiram a Ilha do Timor. A parte leste da ilha sob domínio de Portugal recebeu o nome de Timor Português, enquanto a parte oeste foi chamada de Timor Ocidental Holandês. Os portugueses exerceram autoridade indireta sobre o Timor Leste, aliando-se à elite local. Com a Revolução dos Cravos, em 1974, o governador do Timor formou uma coligação entre a União Democrática Timorense (UDT) e a Frente Revolucionária de Timor Leste Independente (Fretilin) a fim de discutir os caminhos para a independência da região. Em novembro de 1975, a Fretilin rompeu a coligação e declarou a independência do Timor Leste, mas no mês seguinte o país foi invadido pela Indonésia. O violento conflito durou até 1999, quando foi realizada uma consulta popular que decidiu pela independência do Timor Leste. Até 2002, a ONU permaneceu no país para assegurar a transição para um governo democraticamente eleito.

Movimentos de identidade africana

Os primeiros movimentos de afirmação da identidade africana ocorreram no fim do século XIX. Em 1897, o advogado trinitino Henry Sylvester Williams fundou a Associação Africana, que organizou a Primeira Conferência Pan-Africana ocorrida em Londres, três anos depois. Os participantes da conferência produziram o documento Comunicado às nações do mundo, no qual reivindicaram que os líderes europeus se posicionassem a favor da luta contra o racismo e garantissem a soberania das colônias na África. Ao longo das primeiras décadas do século XX, o pan-africanismo se fortaleceu, estimulando o diálogo entre intelectuais negros, como o professor estadunidense Burghardt Du Bois e o deputado senegalês Blaise Diagne. Juntos, eles organizaram o Primeiro Congresso Pan-Africano, ocorrido em Paris, em 1919. Os participantes desse congresso defenderam a emancipação gradual das colônias africanas, a ampliação dos direitos civis dos negros estadunidenses e incentivaram os descendentes de africanos a retornar à África.

Em 1934, em Paris, os poetas Aimé Césaire (nascido na Martinica) e Léopold Sédar Senghor (originário do Senegal) lançaram as bases de um movimento literário e político de resgate e revalorização das raízes africanas enfraquecidas após séculos de escravidão e imposição dos valores ocidentais. Os integrantes do movimento nomeado negritude buscavam despertar nos afrodescendentes a consciência de uma identidade comum e reconstruir o orgulho africano. Assim, o sistema colonial na África passou a ser progressivamente contestado, com base na afirmação da negritude positiva e do ideal de união dos povos africanos.

Pan-africanismo 

O pan-africanismo é um movimento cujas raízes ideológicas, do final do século XIX, culminaram em movimentos políticos inicialmente nos Estados Unidos e na região do Caribe, a partir das reivindicações de intelectuais, profissionais liberais e estudantes negros. Para eles, o continente africano deveria ser compreendido como sua pátria, da qual eles foram destituídos. Os primeiros ativistas pan-africanos defendiam a união dos povos africanos da África (aqueles que nasceram e vivem no continente) e da diáspora negra (aqueles que foram escravizados e sujeitados à migração forçada e seus descendentes fora do continente africano). A emancipação deveria ser construída com base em uma luta conjunta contra o colonialismo na África e contra o racismo nos Estados Unidos e no mundo, como nos explica Nei Lopes (1942-), escritor e pesquisador das culturas africanas e afro-brasileiras. Após a realização dos primeiros congressos pan-africanos, o movimento se consolidou em torno da luta de William Edward Burghardt Du Bois (1868-1963), sociólogo e historiador estadunidense. As conferências de Du Bois contribuíram para conscientizar coletivos de negros tanto em diáspora (fora do continente africano) como aqueles que viviam em países da África. Em conjunto com ideias de outros pensadores e pensadoras negros, suas conferências trouxeram diversos argumentos que, posteriormente, ajudaram a mobilizar os processos de independência dos países africanos. O 5 o Congresso Pan-Africano, realizado na cidade inglesa de Manchester, em 1945, contribuiu diretamente para a formação de grupos nacionalistas africanos que lideraram o processo de independência por intermédio da atuação de líderes como o queniano Jomo Kenyatta (1894-1978) e o guineano Sékou Touré (1868-1963). Nos anos 1960, o pensamento pan-africano passou então a orientar a noção de África livre, sem interferências externas, o que acabou por reforçar as identidades políticas dos novos países.

Negritude 

O movimento negritude foi uma corrente cultural relacionada ao pan-africanismo que se difundiu principalmente na África colonial francesa. Esse movimento literário e intelectual questionava, por exemplo, a noção de identidade e o destino dos povos que sofreram com a dominação colonial racista. A ideia de negritude surgiu entre os estudantes negros das colônias francesas da África e da América que estudavam em Paris. A negritude defende que os africanos e seus descendentes devem tomar consciência de sua identidade negra africana, de sua repressão pelo racismo e pela dominação colonial e do patrimônio cultural comum que as pessoas de ascendência africana possuem. Nesse sentido, os escritores desse movimento literário procuravam em suas obras estabelecer pontos de contato e laços entre os negros da Europa, da África e da América. Esses intelectuais, além de valorizar a cultura africana tradicional, combatiam o eurocentrismo, que era resultado do colonialismo europeu e da educação ocidental tradicional. Os valores do movimento negritude eram transmitidos na publicação do jornal L’Étudiant noir (“O estudante negro”, em tradução do francês), fundado em Paris no ano de 1934 e que tinha como editores Aimé Césaire (1913-2008), nativo da Martinica, Léon-Gontran Damas (1912-1978), da Guiana Francesa, e Léopold Sédar Senghor (1906-2001), do Senegal.
Após a Segunda Guerra Mundial, a ideia de negritude começa a ganhar atenção com o aparecimento de outras publicações que promoviam o conceito. O movimento também foi importante ao convencer os jovens africanos a não procurar uma assimilação cultural com as metrópoles europeias. Na década de 1960, depois que a maioriadas colônias francesas conseguiu se emancipar, o movimento negritude começou a perder força e inclusive passou a ser criticado pela geração de escritores negros pós-coloniais.


Ditaduras e neoliberalismo

Nos anos 1970, alguns países com governos militares ditatoriais na América Latina atravessaram um período de relativa prosperidade econômica, impulsionada por fatores externos, como o aumento no preço das commodities. Esses governos obtiveram créditos no exterior para financiar seu desenvolvimento, principalmente do Fundo Monetário Internacional (FMI). Com isso, entre as décadas de 1970 e 1980, a dívida externa desses países aumentou muito.

No final dos anos 1980, a drástica queda no preço das commodities e a má administração pública contribuíram para que uma grave crise econômica se alastrasse pelo continente. Essa crise dificultou o pagamento das dívidas externas, enfraqueceu as ditaduras militares e levou à implantação de políticas neoliberais na região, que foram impostas por credores internacionais como condição de uma renegociação da dívida externa.

De modo geral, o neoliberalismo defende a redução do tamanho do Estado e a ampliação do livre mercado e da iniciativa privada. A “receita” neoliberal defende, por exemplo, a privatização de empresas estatais, o controle da inflação e dos gastos públicos e a desregulamentação da economia. Na maioria dos países da América Latina, a onda neoliberal ocorreu com a redemocratização, após o fim das ditaduras militares, com exceção do caso chileno. Políticas neoliberais foram implantadas, por exemplo:

• no Chile, já durante o governo militar de Augusto Pinochet (1973-1990), que inaugurou essas políticas na América Latina, proibindo manifestações sindicais e privatizando a Previdência Social e algumas empresas estatais;

• no México, pelo governo de Carlos Salinas de Gortari (1988-1994), que promoveu abertura econômica aos Estados Unidos, privatizações e estabilização monetária;

• na Argentina, pelo governo de Carlos Menem (1989-1999), que diminuiu tarifas comerciais, controlou a inflação, diminuiu o número de funcionários públicos para 1/3 do que existia e fixou o valor de 1 peso argentino a 1 dólar;

• no Peru, pelo governo de Alberto Fujimori (1990-2000), que privatizou minas e serviços públicos, controlou a inflação, realizou uma reforma tributária e reduziu os subsídios governamentais.

Alguns economistas apontam que essas políticas tornaram os países da América Latina mais competitivos no mercado globalizado. Porém, houve perdas sociais e trabalhistas, com aumento do desemprego, da pobreza e da concentração de renda. Além disso, esses países ficaram dependentes economicamente dos países desenvolvidos e dos bancos internacionais, nos quais contraíram dívidas imensas.

Cuba contemporânea

Durante a Guerra Fria, Cuba foi favorecida pelas relações comerciais com a União Soviética, que comprava cerca de 60% do açúcar produzido na ilha. Além disso, os soviéticos forneciam aos cubanos uma série de produtos subsidiados, como petróleo, veículos e equipamentos militares. Porém, a partir de 1991, com o fim da União Soviética, a situação econômica de Cuba passou a apresentar dificuldades. Em busca de alternativas, o governo cubano passou a investir na agroecologia e no turismo, e as praias e o patrimônio histórico da ilha passaram a ser as principais atrações. Também foram intensificadas as relações comerciais com a China, a Venezuela e outros países da América Latina.

Depois de décadas no poder, o governo cubano conquistou êxitos no campo social, como a eliminação do analfabetismo, a ampliação do acesso à saúde pública e a redução da taxa de mortalidade infantil. Entretanto, o país permanece sob o controle do Partido Comunista, com um governo ditatorial e personalista, além de enfrentar o sucateamento das instituições e a liberdade política restrita. Fidel Castro ficou à frente do governo por 49 anos. Em fevereiro de 2008, transferiu o poder ao seu irmão, o general Raúl Castro (1931).

Fidel Castro morreu em novembro de 2016, aos 90 anos de idade. Raúl Castro exerceu a presidência de Cuba por 10 anos. Durante seu governo, reduziu o número de funcionários públicos e promoveu abertura econômica parcial, autorizando os cidadãos a trabalhar em lojas particulares e a abrir pequenos negócios, criando zonas de desenvolvimento para a instalação de empresas estrangeiras.

Em dezembro de 2014, Barack Obama, presidente dos Estados Unidos na época, e Raúl Castro anunciaram a retomada das relações diplomáticas entre Cuba e Estados Unidos, depois de 53 anos de afastamento entre as duas nações. Em 2018, Raúl Castro transferiu o cargo de presidente de Cuba para Miguel Díaz-Canel. Depois, em 2021, ao completar 90 anos de idade, Raúl Castro também lhe entregou o comando do Partido Comunista.

Uma nova ordem mundial

A desagregação do bloco socialista marcou definitivamente o fim da velha ordem bipolar e a emergência de uma nova ordem mundial. Mas quais seriam as características dessa nova ordem mundial? Como passou a funcionar essa nova configuração internacional do poder? Em um primeiro momento, falava-se muito da “vitória” do capitalismo sobre o socialismo. Afinal, o bloco socialista havia chegado ao fim. Para muitos observadores e analistas que testemunharam os acontecimentos do início dos anos 1990, foi justamente naquele período que teve início o alinhamento ideológico e político de governos e organismos internacionais à hegemonia mundial exercida pelos Estados Unidos. No entanto, a ideia de um mundo unipolar (ou seja, com a supremacia dos Estados Unidos) não se confirmou.

O surgimento de novas potências econômicas, por exemplo, e a rearticulação de potências tradicionais sob novas estruturas de poder deram forma a um cenário internacional cada vez mais complexo e descentralizado. Por isso, a tendência é dizer que a nova ordem mundial se caracteriza por uma configuração de poder multipolar.

Alguns eventos ocorridos a partir da década de 1990 nos mostram isso, como a reestruturação política e econômica da Alemanha após a reunificação; a consolidação da União Europeia; o fortalecimento econômico de potências asiáticas, principalmente da China; o crescimento econômico dos países emergentes, como Rússia, Brasil e Índia; e as graves crises que atingiram as economias mundias entre 2008 e 2011 e, principalmente, entre 2020 e 2021, com a pandemia da covid-19. Se, por um lado, a configuração da nova ordem mundial multipolar evidencia as diferentes correlações de força que estão em disputa pela hegemonia de poder, por outro, é possível perceber a conexão e interdependência econômica entre os diversos países do mundo.

A crise econômica que afetou os Estados Unidos em 2008, por exemplo, especialmente as instituições financeiras e o capital especulativo, teve repercussão global, atingindo as bolsas de valores da maioria dos países. A pandemia da covid-19 que atingiu, a partir de 2020, as diversas populações do globo, teve como consequência uma profunda crise econômica, humanitária, social e de saúde, que também se alastrou mundialmente.

Independências no Oriente Médio

Os processos de independência no Oriente Médio tiveram início ao final da Primeira Guerra Mundial. Com a derrota e a desagregação do Império Turco-Otomano após o conflito, grande parte dos seus domínios no Oriente Médio passou a ser administrada pela Grã-Bretanha e pela França. A Palestina e os atuais Iraque e Jordânia, por exemplo, tornaram-se áreas tuteladas pelos ingleses, enquanto a Síria e o Líbano ficaram subordinados à jurisdição francesa. O processo de independência das nações do Oriente Médio ocorreu de forma gradual. Teve início com a independência do Iraque em 1932 e do Egito em 1936, estendendo-se pela década de 1940. A independência do Líbano se deu em 1943, quando dirigentes políticos libaneses foram libertados pelos franceses e a emancipação do país foi reconhecida. A Jordânia conquistou sua independência em 1946, ao ser assinado o Tratado de Londres entre o governo do Reino Unido e o governo de Abdulá I. Nesse mesmo ano, as últimas tropas francesas se retiraram da Síria, selando a independência do país.

Em 1948, Egito, Líbano, Síria, Jordânia e Iraque, membros da Liga Árabe, aliaram-se na guerra contra o recém-criado Estado israelense, inaugurando os intensos conflitos no Oriente Médio em torno da Questão Palestina.

Os Estados Unidos no mundo contemporâneo

Resultado das políticas neoliberais dos Estados Unidos, a crise econômica de 2008 abalou a confiança no sistema bancário estadunidense e deu origem a movimentos populares que defendiam mudanças radicais no modelo econômico do país. O mais famoso desses movimentos, conhecido como Occupy Wall Street, mobilizou diversas manifestações em diferentes partes dos Estados Unidos a partir de 2011. Os protestos, entretanto, tiveram pouco sucesso, e mudanças efetivas não foram implementadas.

É importante lembrar que Barack Obama, candidato do Partido Democrata, tornou-se o primeiro presidente negro da história dos Estados Unidos, em 2008. Muitos tinham a expectativa de que seu governo tomasse medidas para controlar a ação dos bancos e combater a desigualdade social. Entretanto, do ponto de vista prático, pouca coisa mudou: dados indicam que a parcela de riqueza controlada pelos 10% mais ricos dos Estados Unidos aumentou de 34%, na década de 1990, para 47% em 2017, por exemplo. Isso não significa que o governo Obama não tenha tomado algumas medidas sociais importantes, como a criação de um sistema de saúde destinado às pessoas pobres. Porém, essas medidas foram pontuais e não afetaram diretamente o modelo neoliberal de organização da economia. Do mesmo modo, a gestão Obama deu continuidade à política externa adotada desde os ataques terroristas de 2001. Operações militares em diferentes partes do mundo continuaram sendo organizadas com o objetivo de conter movimentos considerados perigosos para a segurança dos Estados Unidos. Exemplo disso foi a manutenção das tropas estadunidenses no Afeganistão.

A presidência de Donald Trump

Após dois mandatos de Obama, Donald Trump, do Partido Republicano, chegou ao poder em 2016. Durante a campanha eleitoral, Trump criticou a glo - balização, mas defendeu medidas neoliberais mais radicais e a adoção de uma postura ainda mais agressiva contra ameaças externas. Por diversas vezes, em suas redes sociais e nos discursos de campanha, Trump atacou minorias étni - cas e desvalorizou as pautas sociais, raciais e de gênero. O candidato associava aos imigrantes o aumento dos índices de violência dos Estados Unidos, além de atribuir aos estrangeiros a piora nos salários e na qualidade de vida da classe trabalhadora estadunidense. Uma de suas propos - tas era a construção de um muro na fronteira com México. Posteriormente à vitória de Trump, soube-se que sua campanha nas redes sociais foi feita com base em dados de eleitores obtidos de grandes empresas de tecnologia sem o consentimento deles. O fato motivou a discussão sobre a manipulação dos usuários das redes sociais pelos algoritmos das empresas de tecnologia digital, que determinam quais notícias, imagens e mensagens entram automaticamente na rede dos usuários, o que limita sua liberdade de escolha e os envolve em uma bolha de publi - cações que direciona suas ideias e opiniões. O caso tam - bém ampliou os debates sobre o direito à privacidade em diversas partes do mundo.

Principais medidas do Governo Trump

O início da gestão de Trump foi marcado pelo endurecimento das negociações internacionais e pela reversão de medidas sociais da gestão anterior. Além disso, ele defendia a redução dos impostos dos setores mais ricos e o fim de mecanismos estatais de intervenção na economia. Nas relações exteriores, o presidente ampliou a intervenção americana em conflitos internacionais. No Iraque, por exemplo, decidiu intervir no combate ao Estado Islâmico, contrariando a promessa da gestão Obama de não enviar novas tropas àquele país. Já em relação à Coreia do Norte, após surgirem evidências de que o país dominava tecnologia para a produção de mísseis nucleares de longo alcance, Trump ameaçou frequentemente iniciar uma operação militar para derrubar o regime norte-coreano. No contexto da pandemia de covid-19, o presidente Trump negou a disseminação da doença, minimizou os efeitos do coronavírus, além de desencorajar o uso de máscaras e o distanciamento social como forma de combate à propagação do vírus. O presidente estadunidense também fez propaganda de trata - mentos sem eficácia científica e pôs em dúvida a eficácia das vacinas.

Questões raciais nos EUA 

Em 1964, após muita luta dos afro-americanos, a Lei dos Direitos Civis estabeleceu a igualdade de negros e brancos perante a lei e proibiu a discriminação e segregação racial. Diferentes programas de ação afirmativa buscaram equiparar as condições de acesso dos negros a serviços básicos, como saúde e educação. No entanto, ainda hoje os índices de desenvolvimento e emprego mostram que os brancos têm maior escolaridade e renda. Desde 2013, o Black Lives Matter (BLM) – “Vidas Negras Importam”, em português – surgiu nos Estados Unidos como um movimento social de combate ao racismo estrutural. O grupo, por meio das redes sociais, passou a denunciar sistematicamente a violência policial para com as populações negras no país. Em maio de 2020, ainda em meio à pandemia, a morte de George Floyd durante uma abordagem da polícia em Mineápolis mo bilizou milhares de pessoas na luta antirracista nos Estados Unidos e em outras partes do mundo, dando maior visibilidade ao movimento.

A corrida eleitoral e a virada de Biden 

Com Donald Trump, o nível de tensão e a polarização política nos Estados Unidos aumentou consideravelmente. Sem conseguir se reeleger, Trump recusou-se a aceitar a derrota e moveu uma série de ações judiciais para anular o pleito, alegando, sem provas, que havia ocorrido fraude eleitoral. Em 6 de janeiro de 2021, quando o Parlamento iria validar o resultado das eleições, Trump convocou seus partidários a se dirigirem ao Capitólio, em Washington, para protestar e impedir a realização da sessão. Uma multidão violenta invadiu o prédio, gritando palavras de ordem e intimidando os parlamentares. O episódio levou a Câmara dos Deputados a colocar em votação dois pedidos de impeachment contra o, ainda, presidente.

Em 20 de janeiro de 2021, Joe Biden – ex-vice de Obama e membro do Partido Democrata – assumiu a presidência com a “missão” de restabelecer a ordem e reconciliar os estadunidenses. No combate à pandemia, o novo governo investiu na testagem em massa e na campanha de vacinação. Em março daquele ano, Biden conseguiu aprovar no Congresso um pacote de US$ 1,9 trilhão para combater os impactos da pandemia na economia. Em relação à imigração, Biden reviu políticas de seu antecessor e paralisou a construção do muro na fronteira com o México. Em 2021, cerca de 2 milhões de pessoas foram flagradas pelas autoridades cruzando a fronteira, das quais 165 mil eram menores.

O chavismo na Venezuela

A trajetória política de Hugo Chávez foi marcada por alto índice de popularidade e por severas críticas de opositores. Simpatizantes destacam a diminuição da desigualdade social em seu governo. Em 2013, a distribuição de renda do país era a mais igualitária da América Latina (medida pelo coeficiente Gini). Também ganharam apoio popular os programas sociais de combate ao analfabetismo e à mortalidade infantil. No plano internacional, Chávez deu especial atenção aos países em desenvolvimento e ameaçou romper a aliança histórica com os Estados Unidos, grande importador do petróleo venezuelano, o que não se concretizou. Para seus opositores, essa ameaça prejudicou o país. Eles também criticaram a aproximação com regimes autoritários do Oriente Médio e questionaram acordos firmados com Cuba. Ao estabelecer o controle do Estado sobre a exploração de petróleo e gás natural nas reservas venezuelanas, restringindo a atuação de empresas estrangeiras, por um lado, ele agradou aos setores nacionalistas, mas, por outro lado, desagradou grandes grupos petrolíferos internacionais. Uma das maiores críticas a Hugo Chávez era em relação a seu autoritarismo. Após sua segunda eleição, ele promoveu reformas na legislação que lhe permitiram concorrer ao terceiro mandato consecutivo e assegurar sua permanência no poder. Além disso, exerceu forte influência sobre os demais poderes, sobretudo a Justiça, censurou a imprensa e perseguiu opositores.

A herança chavista

A Venezuela possui a maior reserva mundial de petróleo e situa-se entre os maiores produtores. Tudo o que acontece no país tem de ser compreendido à luz dessa realidade e de toda a importância que o ainda representa para o mundo atual.
Inegavelmente, é com a figura do líder Hugo Chaves a partir dos anos 1990 que o país tornou-se tema constante nas relações internacionais. Seu estilo de fazer política reconfigurou o cenário regional latino-americano, especialmente o tom desafiador que teceu à ppotencia estadunidense enquanto esteve à frente do poder.
Hugo Chaves chegou a presidência da Venezuela em 1998. Uma vez eleito, convocou um referendo sobre eleições constituintes, que ocorreram em 1999, e redigiu-se uma nova Constituição. A nova carta impôs uma série de mudanças ao país, tais como o direito à reeleição presidencial, ampliação do mandato do presidente de quatro para seis anos, convocação de novas eleições e mudança do nome do país para República Bolivariana da Venezuela. Hugo Chaves seria ainda eleito mais três vezes:em 2000, 2006 e 2012. Verificava-se que o líder carismático contava com forte respaldo popular, embora sob uma ferrrenha oposição dos setores mais abastados, como a Fedecámaras (sindicato patronal do país) e a mídia local.
No plano internacional, Hugo Chaves teve uma série de controvérsias com os Estados Unidos, particularmente durante os governos de George W. Bush, e estreitou o laços diplomáticos do país com Cuba, China, Rússia e Irã, numa clara demostração de afastamento com os Estados Unidos. Entretanto, as celeumas políticas políticas em nada afetaram as firmes relações comerciais com os Estados Unidos, que seguiu sendo seu principal parceiro comercial e cliente na compra de petróleo.
Quando se reelegeu pela última, em 2012. Hugo Chaves já estava se tratando de um câncer. Venceu as eleições, mas não assumiu, pois a doença se agravara. Foi transferido para Cuba, onde realizou seus tratamentos médicos, mas dessa vez não resistiu, falecendo em 2013. Foram marcadas novas eleições
Seu vice, Nicolás Maduro, assumiu a presidência interinamente em 2012 e como titular em 2013, com a morte de Chávez. Maduro tem se esforçado para imprimir um governo personalista, sem, no entanto, se distanciar do chavismo. Atualmente há uma forte polarização no país entre aqueles que defendem Maduro e os que afirmam que suas políticas enfraquecem a democracia e são responsáveis pela grave crise econômica e humanitária. Nesse cenário, cresceu o fluxo migratório de venezuelanos para o Brasil, concentrado em Roraima, o que aumentou ali a demanda por serviços públicos. Uma das ações do governo brasileiro foi promover a interiorização dos migrantes a outras regiões do país com mais infraestrutura para recebê-los. O futuro do chavismo e da Venezuela segue incerto.

Cenário social e econômico na América Latina

O fim da Guerra Fria favoreceu a redemocratização latino-americana, com a queda das ditaduras que vigoravam desde os anos 1960-1970. Na década de 1980, a região experimentou a abertura política, pressionada pela mobilização de setores sociais que reivindicavam a volta da democracia aos respectivos países. A transição democrática, entretanto, foi lenta e se construiu com negociações e concessões que envolveram forças governistas, movimentos estudantis e sindicais e partidos políticos de oposição. Do ponto de vista econômico, o período foi caracterizado como “década perdida” para a maioria dos países da América Latina. Eles enfrentaram acentuada crise econômica e endividamento externo, baixa competitividade de seus produtos nos mercados internacionais e queda no nível de industrialização. Na década de 1990, as novas democracias da região adotaram o neoliberalismo como modelo político-econômico. Privatização de empresas estatais, valorização da moeda e combate inflacionário, controle de gastos públicos, incentivo à entrada de capitais externos e tomada de empréstimos do Fundo Monetário Internacional (FMI) foram mecanismos usados para inserir esses países na chamada Nova Ordem Mundial.

Percalços na construção da democracia

No início dos anos 2000, alguns países da América Latina, incluindo o Brasil, elegeram, democraticamente, governos de esquerda, identificados com demandas populares de diversos movimentos sociais (urbanos, rurais, indígenas). No entanto, minorias conservadoras e contrárias às demandas populares continuaram a ganhar protagonismo político, refletindo o crescimento dos movimentos de ultradireita no mundo. No plano global, quando algum país latino-americano enfrenta instabilidade monetária, inflação, descontrole do déficit público ou outro sinal de crise, os capitais externos ali aplicados migram para países com economias mais estáveis. As sucessivas crises econômicas na América Latina impactaram de forma muito desigual pobres e ricos, aprofundando a concentração de renda e dificultando o desenvolvimento socioeconômico sustentável. Além disso, há muitos segmentos sociais sem acesso à terra, e o desemprego e o subemprego são ameaças constantes, sobretudo nas parcelas da população com baixa qualificação profissional. A pandemia de covid-19, embora tenha castigado duramente a região, trouxe à tona a necessidade de valorizar as políticas públicas, sobretudo a saúde e a segurança alimentar. Atualmente, projetos políticos e sociais integrados fazem parte da agenda de alguns países da América Latina, como México, Chile, Peru e Bolívia, refletindo a tentativa de reabilitar o papel do Estado na promoção do desenvolvimento econômico e do combate à pobreza por meio de políticas públicas.

Até o momento, nenhuma das democracias da América Latina foi capaz de quebrar definitivamente a estrutura colonial historicamente herdada. Em outras palavras, à exceção de Cuba e Venezuela, que trilharam o caminho do socialismo, os países latino-americanos continuam a desempenhar, no sistema capitalista globalizado, os papéis de fornecedores de matérias-primas, de mão de obra barata e de espaços disponíveis para a instalação de vastas plantas industriais. As experiências cubana e venezuelana, por sua vez, enfrentam baixo desenvolvimento econômico e queda na qualidade de vida da população. Espera-se que, nos próximos anos, haja maior intercâmbio de mercadorias e uma integração produtiva, a fim de desenvolver a região.

O terrorismo na contemporaneidade

No mundo contemporâneo, o terrorismo tem se constituído como uma estratégia de grupos radicais que, por meio da força e da violência, chamam a atenção da opinião pública para suas reivindicações, tentando impor seus projetos políticos. Por outro lado, o discurso da necessidade de se combater o terrorismo, adotado principalmente pelas potências militares ocidentais, tem motivado muitas guerras, sendo usado para justificá-las, ao invés de contê-las.

No século XX, cresceu o número de organizações terroristas. Em 1972, o grupo palestino Setembro Negro sequestrou e matou atletas israelenses que participavam das Olimpíadas de Munique, na Alemanha. Desde o final da década de 1960, Espanha e França enfrentaram atentados da organização nacionalista ETA que, motivada por questões étnicas, reivindicava a independência das províncias de origem basca e a formação de um novo país; os atentados foram interrompidos em 2011, e o ETA anunciou sua dissolução em 2018. A Inglaterra foi alvo do IRA – organização irlandesa antibritânica cujo objetivo era pôr fim à subordinação política da Irlanda do Norte à Inglaterra e unificar Irlanda e Irlanda do Norte. Em 2005, o grupo anunciou o fim da luta armada e a atuação por meios políticos.

No século XXI, o terrorismo se caracteriza pelo nacionalismo exacerbado, por choques culturais em sociedades multiétnicas, por contrastes de valores políticos nas sociedades locais e nas internacionais, tornando o fenômeno bastante complexo. Alguns dos principais grupos terroristas da atualidade são Al Qaeda, Estado Islâmico, o já mencionado Talibã e o Boko Haram.

O terrorismo tornou-se, assim, um problema de escala global. No Ocidente, os principais alvos das ações de grupos terroristas são os Estados Unidos e os países europeus, impactando diretamente o crescimento da xenofobia e do racismo contra os imigrantes árabes e africanos que vivem nesses países, bem como contra as comunidades muçulmanas. O uso de táticas violentas para combater a violência terrorista tem comprovado sua ineficácia; ao contrário, agravou as tensões e multiplicou os discursos de ódio e de desinformação nas redes sociais.

O sensacionalismo das coberturas da mídia, por sua vez, não ajuda a solucionar o problema. É preciso insistir em ações educativas para que a sociedade tenha acesso a informações sobre as razões que levaram à organização de grupos terroristas e, assim, possa compreender melhor os contextos em que ocorrem as migrações em massa e os choques entre diferentes culturas.

Afeganistão ganhou a atenção mundial

O Afeganistão ganhou a atenção mundial ao derrotar as tropas da União Soviética em 1989, após 10 anos de uma ocupação comparável à Guerra Fria. Mergulhado alguns anos na guerra civil, o Afeganistão novamente despertou a atenção da comunidade internacional quando, em 1996, a facção islâmica fundamentalista denominada Talibã tomou o poder. Instalou-se então no país uma ditadura, cuja principal característica é a manutenção radical das tradições religiosas e culturais do Islã.

Esse cenário político-religioso favoreceu a aliança do país com grupos terroristas que combatiam a ocidentalização dos costumes nas sociedades árabes, representada, principalmente, pela influência política, econômica e cultural estadunidense nos países muçulmanos. Em setembro de 2001, o mundo assistiu a uma violenta demonstração desses impasses. Em ações planejadas, terroristas atacaram as torres gêmeas do World Trade Center, em Nova York, e o Pentágono, em Washington, causando a morte de aproximada - mente 3 mil pessoas.

O impacto das cenas transmitidas em tempo real causou comoção, angústia e incerteza. Boa parte do mundo se solidarizou com o povo estadunidense. Ao mesmo tempo, buscava-se entender as razões históricas da tragédia, lançando novos olhares sobre a geopolítica dos Estados Unidos em relação às nações do Oriente Médio e da Ásia central. O governo estadunidense, após investigação, atribuiu a autoria dos atentados à rede terrorista Al Qaeda, liderada pelo árabe saudita Osama Bin Laden.

Em poucas semanas, o presidente estadunidense, George W. Bush, que estava em seu primeiro ano de mandato, adotou uma política militarista: organizou uma coalizão internacional contra o terrorismo e iniciou uma caçada contra Bin Laden, chegando a oferecer vultosa recompensa para quem o capturasse. A ironia do fato é que, na década de 1980, Bin Laden trabalhara para a CIA, a agência de inteligência dos Estados Unidos, que, du - rante a Guerra Fria, realizava serviços de espionagem internacional e treinava guerrilheiros pró-capitalistas.

Da invasão à retirada das tropas estadunidenses Em outubro de 2001, a fim de capturar Bin Laden, os Estados Unidos declararam guerra ao Afeganistão, país que supostamente acolhera o terrorista. O fracasso na captura de Osama Bin Laden fez crescer a preocupação estadunidense com a segurança nacional e diminuir a popularidade de George W. Bush. Mesmo assim, Bush foi reeleito em 2004 e, em sua política externa, priorizou o combate ao terrorismo e aos países que representavam ameaças aos interesses dos Estados Unidos.

Em 2009, após ser eleito presidente dos Estados Unidos, Barack Obama prosseguiu a busca por Bin Laden, que foi capturado e morto em maio de 2011, no Paquistão, por soldados estadunidenses. Porém, isso não significou o fim dos conflitos no Afeganistão. O Talibã continuou lutando para recuperar o controle do Estado e derrubar o governo apoiado pelos Estados Unidos. No início de 2018, as forças do Talibã agiam em grande parte do país, e o governo afegão tentou iniciar negociações de paz para reconhecer o grupo como um ator político legítimo.

Durante o governo de Donald Trump (2017-2021), iniciaram-se as tratativas para a retirada das tropas estadunidenses do Afeganistão, na expectativa de que forças políticas afegãs reassumissem o controle do país.

A retirada dos estadunidenses consumou-se em agosto de 2021, durante o governo de Joe Biden, que havia tomado posse em janeiro afirmando que encerraria a mais longa guerra em que o país se envolvera. Ao contrário do que se esperava, o Talibã derrubou o governo do Afeganistão e retomou rapidamente o controle das principais cidades do país.

Unificação de mercados

O colapso do socialismo representou a vitória do sistema capitalista. Desde o final do século XX, esse sistema tem adotado características do neoliberalismo, como a diminuição da intervenção do Estado na economia, a redução dos investimentos públicos em políticas sociais (educação, saúde, habitação), o controle dos gastos estatais, o fortalecimento da economia de mercado, a privatização das empresas públicas e a crescente participação de capitais externos nos mercados financeiros mundiais. No âmbito internacional, uma das características mais marcantes do neoliberalismo é a existência de blocos econômicos regionais, ou seja, associações de países que estabelecem relações econômicas privilegiadas entre si. Entre tais blocos, destacam-se: a União Europeia (UE), que agrupa diversos países do continente europeu; o Bloco do Pacífico, que reúne o Japão, os Tigres Asiáticos (Singapura, Coreia do Sul, Hong Kong e Taiwan) e países do Sudeste Asiático (Indonésia, Tailândia, Filipinas); o Acordo Estados Unidos-México-Canadá (USMCA), cujos membros são Estados Unidos, Canadá e México; o Mercado Comum do Sul (Mercosul), constituído por Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai.

Criados para garantir mercado aos países-membros e fortalecer suas economias diante da alta competitividade mundial, os blocos econômicos sinalizam com a diminuição ou eliminação das barreiras alfandegárias no comércio entre eles. No entanto, não raro as negociações dos blocos privilegiam os interesses dos países mais industrializados e desenvolvidos que os compõem. Outro aspecto observado é que a cooperação comercial no interior de blocos formados por países em desenvolvimento varia de acordo com a estabilidade das economias nacionais.

Os efeitos sociais do neoliberalismo

Um dos efeitos da vitória do capitalismo no mundo globalizado contemporâneo foi o enfraquecimento dos mecanismos dos Estados para controlar a especulação financeira e a circulação de capitais em grande velocidade pelo planeta. Isso vem contribuindo para fragilizar as economias mundiais, que se tornaram suscetíveis a crises constantes.

A crise financeira de 2008 No final da década de 2000, grandes bancos dos Estados Unidos passaram a realizar empréstimos arriscados visando ao lucro rápido. O governo do país não impôs medidas para conter esses empréstimos, que saíram do controle e começaram a ser feitos sem garantia de pagamento. Em 2007, muitos bancos começaram a quebrar pela falta de pagamento dos empréstimos. Em pouco tempo, a crise estadunidense afetou diversos países. Os efeitos sociais dessa crise ainda estão presentes: redução de salários, aumento do desemprego, crescimento do número de pessoas empobrecidas e significativo aumento das desigualdades sociais.

Nesse contexto, muitos países passaram a adotar novas medidas neoliberais com o objetivo de superar a crise, como reformar leis trabalhistas e diminuir direitos sociais dos cidadãos. Isso fez com que, em diversos países, os trabalhadores perdessem direitos e sofressem reduções salariais. Além disso, muitos governos diminuíram os recursos aplicados em políticas públicas, como forma de cortar os gastos do Estado e possibilitar investimentos para retomar o crescimento econômico, abalado pela crise. Essas medidas agravaram os efeitos da crise e contribuíram para o crescimento da pobreza em muitas regiões do mundo. Contudo, isso não afeta todos os setores da mesma forma, e uma pequena parcela de indivíduos ampliou suas riquezas.

Organizações internacionais indicam que, em 2015, apenas 1% da população mundial concentrava mais de 99% das riquezas do planeta. Além disso, de 1988 até 2011, a renda dos 10% mais pobres do planeta aumentou cerca de 65 dólares, enquanto a renda do 1% mais rico aumentou cerca de 11 800 dólares – ou seja, 182 vezes mais.

Ditadura Civil-Militar no Brasil

A crise política brasileira, desencadeada em 2014 por denúncias de corrupção, provocou o descrédito de parte da sociedade em relação aos governantes e aos agentes públicos. Esse cenário produziu um fenômeno social insólito no qual alguns segmentos sociais clamam por medidas autoritárias e chegam a reivindicar a recondução dos militares ao poder. Esses segmentos alegam que a Ditadura Civil-Militar que vigorou no país foi uma fase de crescimento econômico. Esse posicionamento recebe críticas por minimizar o fato de que esse crescimento foi desfrutado somente pelas elites e empresas estrangeiras. Também porque desconsidera que o Estado se sobrepôs aos cidadãos, negando-lhes o direito de participar e decidir os rumos do país; impôs rigoroso controle sobre ações, ideias e informações; encobriu desmandos, torturas e práticas de corrupção.

Em contrapartida, diversos movimentos sociais vêm se organizando para ampliar a democracia no país, trazendo à discussão demandas identitárias e propostas políticas para inclusão social, redução das desigualdades e combate a quaisquer manifestações de preconceito e violência. O panorama de embates entre essas diferentes visões reflete, de forma mais ampla, a crise global do sistema capitalista e das democracias ocidentais, com o crescimento de partidos ultraconservadores e a ascensão de governos autoritários. Impõe-se, assim, o que talvez seja o maior desafio do século XXI: tornar as sociedades mais plurais e democráticas.

A frágil democracia

Em agosto de 1961, a renúncia de Jânio Quadros à Presidência da República criou um cenário político conturbado no país. O Congresso Nacional, temeroso de que o vice-presidente João Goulart, o Jango, fizesse um governo de inspiração comunista, adotou o parlamentarismo. Por isso, quando ele tomou posse em setembro, seus poderes estavam diminuídos. Em seu governo, elaborou o Plano Trienal, que visava à recuperação econômica do país com investimentos na indústria, controle da inflação e diminuição do déficit público. Criou o 13o salário para manter o apoio das classes trabalhadoras, que reivindicaram também reajuste de 100% no salário-mínimo. Jango idealizou as Reformas de Base, amplo programa que previa a reforma agrária, fiscal, administrativa, educacional, bancária e eleitoral. As classes trabalhadoras rurais e urbanas apoiaram essas medidas, enquanto os latifundiários, empresários e as Forças Armadas se opuseram a elas.

Os setores conservadores consideravam essas reformas uma demonstração da tendência comunista do presidente. Entretanto, elas não visavam ao fim do capitalismo nem ameaçavam os interesses capitalistas, como faziam crer seus opositores. Jango participara dos governos Vargas, Kubitschek e Quadros e seguia as diretrizes políticas deles. Sua simpatia pelas causas trabalhistas era uma forma de controlar as massas populares; com seu nacionalismo, pretendia fortalecer o empresariado brasileiro; suas propostas de reforma agrária visavam diminuir as tensões no campo e evitar revoltas sociais que ameaçassem a ordem vigente.

Do plebiscito ao golpe

Em fins de 1962, o governo Jango deu início aos preparativos para realizar o plebiscito em que a população escolheria entre a continuidade do parlamentarismo ou o retorno ao presidencialismo, conforme previsto na Constituição.

Em janeiro de 1963, o povo foi às urnas e 82% dos eleitores optaram pelo retorno do país ao sistema presidencialista. Contudo, isso não representou a estabilidade do governo. Jango se chocava com os interesses estrangeiros e aumentava a desconfiança daqueles que temiam o “perigo vermelho” ao nacionalizar refinarias de petróleo e restringir as remessas de lucros ao exterior. Crescia também a desconfiança dos empresários nacionais, que criticavam a falta de crédito, o 13o salário e a reforma agrária. Em março de 1964, ocorreu em São Paulo a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, uma manifestação contra o governo organizada por setores das classes médias e pela burguesia industrial, com cerca de 500 mil pessoas.

Dias depois, um grupo de mais de mil marinheiros organizou um levante contra punições disciplinares na Marinha. Goulart anistiou os rebeldes, provocando reação do alto comando das Forças Armadas, que considerou essa medida muito tolerante. As Forças Armadas estavam cientes de que a política do governo desagradava a elite financeira, industrial e agrária, bem como setores das classes médias, e tinham respaldo de parte da sociedade brasileira para tomar o poder. Além disso, contavam com a declarada simpatia dos Estados Unidos, que preferiam ter à frente dos governos latino-americanos lideranças alinhadas com seus interesses.

Nesse contexto, Goulart foi deposto por um golpe de Estado em 31 de março de 1964, e a presidência foi assumida pelo general Castelo Branco. Sob o pretexto de restabelecer a ordem e o desenvolvimento econômico, os militares assumiram o poder e imprimiram sua marca na história recente do país.

Os militares no poder

Ao longo de 21 anos de regime militar, de 1964 a 1985, cinco generais se sucederam no governo e legitimaram a Ditadura Civil-Militar por meio de um discurso anticomunista e de defesa da pátria, da família, do cristianismo e do combate à corrupção. O regime valeu-se do medo difundido entre a população de um eventual levante comunista no país, tal qual ocorrera em Cuba anos antes, e justificou suas ações mais arbitrárias como necessárias à garantia da segurança nacional.

Em 1966, foi criado o Serviço Nacional de Informações (SNI), encarregado de espionar a sociedade para identificar organizações e indivíduos subversivos, dando início aos crimes contra os direitos humanos.

Ao decretar Atos Institucionais, que tinham força de lei, ampliou-se o poder do presidente da República; estabeleceu-se o bipartidarismo, tornando os partidos políticos existentes até então ilegais; estipulou-se eleições indiretas para cargos do Executivo; instituiu-se uma nova Constituição em 1967, que aumentava o controle dos militares sobre o Estado. Em fins de 1968, o governo promulgou o Ato Institucional no 5, conhecido por AI-5, que representou a restrição aos direitos políticos e às liberdades individuais dos cidadãos, tornando-se um instrumento legal contra a oposição.

Nesse cenário, instaurou-se a censura à imprensa e às produções artísticas e culturais, como canções, filmes, livros, espetáculos teatrais. Artistas, intelec tuais e professores universitários foram exilados. Lideranças políticas, sindicais e estudantis tiveram seus direitos políticos cassados; opositores do regime foram presos e muitos deles torturados, especialmente entre 1969 e 1974, considerados os “anos de chumbo” do regime. Em junho de 1968, ocorreu na cidade do Rio de Janeiro a Passeata dos Cem Mil, liderada por artistas e intelectuais, em protesto às medidas repressivas do regime militar. O ato foi a maior manifestação de protesto desde o golpe de Estado, em 1964.

Resistências à Ditadura Civil-Militar

Alguns grupos, formados principalmente por estudantes, intelectuais e militares, passaram a organizar ações radicais visando à luta armada para derrubada do governo. Destacaram-se os assaltos a bancos e a carros-fortes e o sequestro, por parte de líderes estudantis, do embaixador dos EUA Charles Elbrick, que posteriormente foi solto em troca da libertação de presos políticos. No sul do Pará, integrantes do Partido Comunista do Brasil organizaram a Guerrilha do Araguaia. Os guerrilheiros queriam o fim do regime militar e a implantação do socialismo no país. Entre 1972 e 1974, foram enviados cerca de 4 mil soldados para a região, que executaram prisões e torturas, deixando um saldo de 70 mortes. A censura encobria a violência contra os opositores e os problemas socioeconômicos do país. Em paralelo, a propaganda oficial exaltava o Brasil como grande nação utilizando slogans ufanistas. Anos mais tarde, em 2012, foi instituída a Comissão Nacional da Verdade (CNV) para apurar graves violações de direitos humanos ocorridas no Brasil entre 1946 e 1988.

“Milagre brasileiro”: desenvolvimentismo e conflitos com indígenas

O autoritarismo passou a ser justificado pelo grande desenvolvimento econômico do período, chamado de “milagre brasileiro”. Para sustentar o crescimento da economia, o regime militar concedeu abertura ao capital externo, praticou o arrocho salarial e realizou grandes obras de infraestrutura, o que resultou no endividamento do país e na acentuada concentração de renda. A construção de obras públicas, como estradas e hidrelétricas, forçou muitos povos indígenas a abandonar as terras. Nesse processo, agentes do Estado ou jagunços ligados a proprietários de terras locais agiram com violência contra populações nativas inteiras. Em decorrência, lideranças indígenas passaram a se organizar para exigir a demarcação de suas terras e o direito à preservação de suas culturas e línguas. Contudo, o reconhecimento legal dos direitos dos povos indígenas só viria na Constituição de 1988.

Cultura e contracultura

Durante a Ditadura Civil- -Militar, artistas e intelectuais brasileiros se engajaram em um movimento amplo, diversificado e multifacetado de produção cultural. Além da criatividade, tinham em comum a resistência aos modelos culturais impostos pelos órgãos oficiais de censura e a busca por uma cultura nacional com a qual se identificassem.

Cultura digital

Com a globalização, difundiu-se um novo modo de vida. Tecnologias – como microcomputador, televisão a cabo, internet e telefone celular – geraram novos padrões de comportamento. Embora a tecnologia digital só tenha se massificado no século XXI, muitos jovens têm dificuldades em imaginar a vida sem esses aparelhos, pois nasceram na era digital. Nesse contexto, formou-se a noção de inclusão digital, que se torna, cada vez mais, condição para o exercício da cidadania.

Atualmente, agências como a ONU monitoram a inclusão digital em diferentes países. Se, por um lado, a cultura virtual permite conexão fácil com quem está distante; por outro, por vezes distancia pessoas que estão próximas. É fácil encontrar um casal à mesa em um restaurante sem conversar, acessando a internet pelo celular. A conexão virtual também pode gerar ansiedade e dificuldade de concentração. Na pandemia de covid-19, a internet foi ao mesmo tempo fator de integração, trabalho e entretenimento e de muita angústia, sobretudo no setor educacional, com muitas aulas on-line e tarefas que desgastaram estudantes, professores e familiares.

Informação e poder

A internet democratizou o acesso à informação. Se alguém quer consultar informações sobre um tema, por exemplo, encontra várias fontes, em que são expressos diferentes pontos de vista. A internet, contudo, envolve outros fatores. A informação representa, ao mesmo tempo, dinheiro e poder. Os sites que você visita são registrados e usados por empresas para produzir publicidade direcionada. Falsários e golpistas utilizam dados pessoais para cometer diferentes crimes.

A internet também serve para espionar pessoas. Em 2013, um ex-analista da Agência Nacional de Segurança dos Estados Unidos, Edward Snowden, divulgou um vasto esquema de espionagem do governo estadunidense. Os alvos da vigilância estatal incluíam cidadãos do país, empresas grandes e pequenas e governos de outros países. A revelação de Snowden causou mal-estar diplomático entre os Estados Unidos e outras nações, como a Alemanha e o próprio Brasil, visto que a Petrobras esteve entre as empresas espionadas.

Em 2018 ocorreu outro escândalo mundial envolvendo a quebra de privacidade de dados, quando a empresa que administra a maior rede social virtual do mundo foi acusada de vazar informações de seus usuários para influenciar campanhas eleitorais e votações importantes em diversos países (incluindo Reino Unido, Estados Unidos e Brasil). No mesmo período, diversas redes sociais já vinham sofrendo pesadas críticas por serem veículos para fácil difusão de boatos e notícias falsas.

Nos anos seguintes, as chamadas fake news se tornaram um problema particularmente grave durante a pandemia de covid-19, na medida em que confundiam a população com a difusão de informações sem base científica a respeito das medidas de proteção sanitária, dos possíveis tratamentos contra a doença e mesmo atacavam os esforços públicos em favor da vacinação.
Ativismo on-line e movimentos sociais no Brasil A expansão do uso da internet por meio de smartphones não ampliou apenas a circulação de fake news. Os movimentos sociais também se articularam e passaram a usar esse espaço para mobilizar pessoas e ampliar o debate público sobre temas urgentes. O uso das redes possibilita uma estratégia de atuação que tem como características a participação autônoma e a ocupação das ruas e dos espaços virtuais. 
Nos últimos anos, a luta das mulheres pela igualdade, por exemplo, vem ganhando espaço sobretudo com o ativismo on-line. Esse processo vem se desenvolvendo desde a década de 2000, quando plataformas e redes sociais passaram a ser utilizadas como espaços de denúncia e também de organização dos movimentos feministas e de demandas legais, como os abaixo-assinados organizados virtualmente. 
A força dessas mídias pôde ser sentida na criação de canais de comunicação como o Blogueiras Feministas, em 2010, e o Blogueiras Negras, em 2012. A internet também tem sido uma forte aliada dos grupos LGBTQIA+ para o reconhecimento de seus direitos. Contribuiu, por exemplo, para o financiamento coletivo de projetos como a Casa 1, na cidade de São Paulo (SP), um centro de acolhida, assistência social e centro cultural voltado para o público LGBTQIA+. 
Apesar desses avanços, permanecem ainda muitos desafios. De acordo com o Atlas da Violência publicado em 2021, em 2019 a taxa de mortalidade de mulheres negras era 65,8% superior à de mulheres não negras. Isso revela um aumento de 17,3% em relação aos dados de 2009, apontando a vulnerabilidade desse segmento da sociedade. Além disso, destaca-se a violência contra praticantes de religiões, principalmente, de matrizes africanas. O Comitê de Combate à Intolerância Religiosa (CCIR) do Rio de Janeiro (RJ), por exemplo, informou que em 2019 foram registrados 201 ataques a locais de prática de religiões afro-brasileiras na cidade, o dobro do número registrado no ano anterior.

A pandemia da covid-19 no mundo e no Brasil

O avanço dos meios de transporte, que propicia maior integração entre diferentes nações e uma enorme circulação de pessoas no mundo, também possibilita a rápida difusão de doenças infectocontagiosas em escala global. Em dezembro de 2019, a Organização Mundial da Saúde (OMS) foi notificada sobre uma doença pulmonar inédita na cidade de Wuhan, na China.

Denominada covid-19, a moléstia era provocada pelo vírus SARS-CoV-2. Em janeiro de 2020, quando a doença já se espalhava pela Europa e pelos Estados Unidos, a OMS decretou Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional, em razão do risco representado pela covid-19. Dois meses depois, quando a covid-19 alcançara praticamente todo o mundo, a OMS a reconheceu como pandemia, ou seja, doença disseminada por vastas áreas do planeta. Até janeiro de 2022, o mundo registrou mais de 330 milhões de infectados e quase 6 milhões de mortos. O país com maior número de casos eram os Estados Unidos, com quase 50 milhões de infectados e 800 mil mortos.

A China, polo inicial da pandemia e o país mais populoso do mundo, não figurava entre os dez países com maior número de infectados e mortos, entre os quais estavam Índia, México, Rússia, Irã e Reino Unido. No caso dos Estados Unidos, um dos fatores para a alta incidência de covid-19 foi que o então presidente, Donald Trump, contrariou as orientações da comunidade médico-científica para o controle da pandemia.

No Brasil, uma onda negacionista também tomou conta de parte da sociedade civil e científica gerando dúvidas e críticas às prescrições médico-científicas. Com isso, até janeiro de 2022 a covid-19 infectou cerca de 22 milhões de pessoas, das quais mais de 620 mil faleceram. Outro dado importante da covid-19 no Brasil é que o risco de morte entre negros e pardos é 1,5 vez maior do que entre brancos e que 57% das crianças mortas pela pandemia no país eram negras, de baixa renda, moradoras de favelas ou cidades pequenas, sem adequada cobertura hospitalar. Por fim, a taxa de letalidade da covid-19 também é particularmente alta entre as crianças indígenas, com 28% de vítimas entre os menores infectados.

O Estado Islâmico

No contexto da guerra civil síria, que eclodiu em 2011, um novo grupo ganhou proeminência, o Estado Islâmico (EI). Essa agrupação fundamentalista, originalmente denominada Estado Islâmico do Iraque e do Levante, também conhecida pela sigla Daesh, surgiu como uma dissidência do Al Qaeda, em 2003. Com a guerra civil da Síria, após a Primavera Árabe, o EI conquistou ainda mais territórios na região. 
O Estado Islâmico adota uma interpretação radical do Corão e das profecias de Maomé. Seu objetivo é combater os infiéis (categoria que abrange judeus, cristãos, muçulmanos xiitas, entre outros) e estabelecer um grande califado islâmico com as mesmas fronteiras do antigo Império Árabe medieval. 
O grupo EI se fortaleceu a partir de 2013, com a Guerra da Síria. Em 2014, divulgou o objetivo de formar um califado nos territórios sob seu controle e consolidar um regime político derivado da interpretação da Lei Islâmica, a sharia, instituindo a ilegalidade da homossexualidade, rígidas normas de conduta para as mulheres e a execução daqueles considerados apóstatas. Entre 2014 e 2015, a área controlada pelo Estado Islâmico se estendia do oeste do Iraque ao leste da Síria. 
Para ampliar sua área de influência e contando com o apoio dos iraquianos sunitas e de opositores de Bashar al-Assad, na Síria, o EI controlou várias cidades na Síria e no Iraque, espalhando o terror com a execução de integrantes de grupos étnicos, religiosos e minorias, como homossexuais e muçulmanos xiitas, além de escravizar mulheres e crianças, chegando a trocá-las por recursos e armamento.
Uma das principais estratégias utilizadas pelo EI foi a promoção do medo e do terrorismo. Assim, o grupo articulou diversos ataques no Oriente Médio. No ocorrido em Bagdá, no Iraque, em 2016, por exemplo, integrantes do EI provocaram a explosão de um carro-bomba, matando muitas pessoas.
Os atentados foram direcionados também a países do Ocidente, com o objetivo de retaliar a participação deles nos conflitos na Síria. Assim, em novembro de 2015, o grupo promoveu uma série de atentados com bombas e metralhadoras em Paris, na França. O mesmo se deu no aeroporto de Bruxelas, na Bélgica, em 2016, quando ocorreram ataques suicidas. Ambos os ataques ocasionaram muitas vítimas.
Contudo, a partir de 2017, o Estado Islâmico começou a perder territórios. Até junho daquele ano, o grupo havia perdido 60% da área que anteriormente controlava e 80% de sua receita. De modo geral, isso ocorreu após ter sido expulso de duas importantes cidades que anteriormente ocupava: Mossul, no Iraque, e Raqqa, na Síria. Com isso, o grupo enfraqueceu. Segundo estudiosos, o financiamento do grupo dependia do controle de vastas áreas, cobrando impostos das populações dominadas e saqueando antiguidades.
O “califado” autoproclamado pelo Estado Islâmico na Síria só foi oficialmente derrotado em 2019, quando milícias curdo-árabes eliminaram os últimos terroristas no povoado sírio de Baguz, na fronteira com o Iraque. 
Até 2022 o EI ainda controlava vastas áreas no leste do país, e frequentemente entra em conflito com o exército sírio. Em 2021, logo após a saída das tropas estadunidenses, quando o Talibã assumiu o controle oficial do Afeganistão, uma facção do EI, o Estado Islâmico Khorasan, manteve o controle sobre uma parte do território afegão, e a guerra civil continua no país.

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