segunda-feira, 20 de junho de 2022

Pré-história brasileira

1- As culturas do Pleistoceno (até 12 mil anos atrás)

Uma periodização da Pré-história brasileira muito aceita pelos arqueólogos leva em consideração principalmente os aspectos culturais dos grupos que habitavam o Brasil na Pré-história. Essa periodização, que adotaremos aqui, apresenta dois grandes períodos: cultura do Pleistoceno e culturas do Holoceno.

Na geologia, Pleistoceno é o nome dado ao período em que ocorreram as glaciações e que se estende de 1,8 milhão de anos até 12 mil anos atrás.

As culturas brasileiras do Pleistoceno correspondem às mais antigas do Brasil. São encontrados vestígios dessas culturas em Minas Gerais, goiás, Piauí, Pernambuco e Rio Grande do Norte. Os grupos pleistocenos eram nômades e mais ou menos coesos, sendo formados por um número reduzido de membros. Viviam em cavernas e abrigos sob rochas no topo de colinas ou próximas a rios. Produziam ferramentas em pedras para abater os animais e retirar sua pele.

No período pleistoceno, o clima era mais frio e seco. A natureza oferecia fauna abundantes, fornecendo caça de pequeno e médio porte, que podia ser apanhada com porretes e armadilhas.

Nessa época também encontramos a chamada megafauna, composta por grandes animais, como o cliptodonte (tatu gigante) e a preguiça-gigante. A megafauna também era alvo da caça dos homens pré-históricos, mas em menor grau, tanto pela dificuldade na captura quanto pelo fato de esses animais competirem com os humanos os mesmos recursos.

O que dizem as evidencias

As pesquisas arqueológicas feitas em sítios do Pleistoceno descobriram ossadas humanas, artefatos de pedra (como seixos lascados, batedores e lascas) restos de fogueiras contendo detritos alimentares. Esses restos orgânicos mostram o consumo de carne de anta, capivara, veado, paca, tatu, tamanduá, lagarto, ema e peixe. Além de caça, esses grupos se alimentavam de frutos, raízes e tubérculos, que eram abundantes no período.

Os fósseis humanos mais antigos já encontrados no Brasil datam do pleistoceno. Eles foram encontrados no século XIX em uma caverna na região de Lagoa Santa, em Minas Gerais. No mesmo local, na década de 1970, foram encontrados ossos e o crânio de uma mulher, batizada pelos arqueólogos de Luzia, em referência a Lucy, o mais antigo fóssil humano encontrado na África.

A análise do crânio de Luzia indica que ela tem parentesco com grupos ligados às correntes migratórias da Austrália e do Pacífico do que com grupos das estepes asiáticas que vieram pelo Estreito de Bering, o que reforça o debate sobre a antiguidade do homem na América.

2-As culturas do Holoceno (de 12 mil anos atrás até o presente)

O Holoceno divide-se em duas fases, a pré-ceramista (entre 12mil e 5 mil anos atrás) e a ceramista (a partir de 5 mil anos atrás). Essa divisão tem como critério a produção de cerâmica, considerada uma evolução tecnológica muito importante em qualquer cultura.

Nesse período, com o domínio da agricultura, as populações pré-históricas tiveram um crescimento demográfico sensível e alguns grupos deixaram de ser nômades para se tornar sedentários. O cultivo da terra proporcionou uma mudança nas atividades econômicas e no nível tecnológico dessas populações pré-históricas, acarretando mudanças em todos os aspectos do seu modo de vida.

As culturas pré-ceramistas

Por volta de 12 mil anos atrás, ocorreu uma mudança climática global, que marcou o fim da era glacial. O aumento da temperatura e o derretimento da camada de gelo que cobria grande parte da superfície terrestre levaram a destruição de muitas savanas, que eram o habitat dos grandes animais, e a formação de amplas florestas. Na América, a destruição das savanas levou a extinção de muitos animais, como o mamute, o mastodonte e a preguiça-gigante.

Nas regiões Centro-Oeste e Nordeste do Brasil, as culturas pré-ceramistas ainda são pouco conhecidas, mas se sabe que no cerrado e na caatinga havia uma concentração forte de caçadores-coletores em sítios a céu aberto e abrigos sob rochas. Os instrumentos em pedra desses grupos, utilizados para raspar couro ou madeira, eram lascados em apenas uma das faces, dentro da tradição Itaparica. Mais tarde, a partir de 8 mil anos atrás, esses instrumentos em pedra foram substituídos por lascas simples.

Na região Sul do país destacam-se outras duas tradições: a umbu e a humaitá. A tradição umbu é associada à presença de caçadores-coletores das regiões de planalto, que se espalharam mais tarde pelos vales. Seus utensílios em pedra, principalmente pontas de flechas e lascas, tinham como característica serem adornados em ambos os lados, sendo produzidos a partir de vários tipos de pedras.

Da tradição umbu à tradição humaitá

Existem indícios claros de que os grupos da tradição umbu sepultavam seus mortos, colocando-os sobre cinzas de fogueiras e enterrando o corpo com alguns objetos, como colares e conchas. Além de utilizarem pedras e conchas, essa tradição também produzia objetos com ossos (furadores retocados, agulhas e anzóis curvos) e adornos de dentes de tubarão.

Pouco mais tarde, percebemos que a tradição umbu desapareceu em algumas regiões, dando lugar à tradição humaitá, correspondente a grupos que habitavam os barrancos e terraços próximos a rios, tendo uma economia baseada ainda na coleta de vegetais e na pesca. Seus instrumentos de pedra eram mais pesados, compostos por machados bifaces e pedras com lascamento simples, mais sem ponta de flecha.

A cultura dos sambaquis

Um traço comum da ocupação do litoral marítimo e fluvial brasileiro são elevações formadas por areia, conchas e moluscos, por vezes de grandes dimensões. Essas elevações são conhecidas como sambaquis, palavra que em tupi significa “amontoado de conchas”.

Os sambaquis são encontrados em boa parte do Sul e do Sudeste do país (Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e São Paulo), bem como em alguns estados do Nordeste (Maranhão, Bahia e Rio Grande do Norte). A formação dos sambaquis se deve à presença de grupos coletores marinhos que viveram no litoral entre 8 mil anos atrás, e que se alimentavam de moluscos e peixes, abundante nas costas brasileiras. Os sambaquis eram morros artificiais erguidos por esses grupos, com finalidade ainda não definida pelos estudiosos. Suas dimensões variavam de dois a dez metros de altura, mas existem alguns em Santa Catarina que chegam a atingir 70 metros de altura.

Os povos dos sambaquis baseavam seu sustento principalmente da coleta de moluscos, que eram abundantes nas lagoas do litoral do Brasil. Alguns arqueólogos consideram que os sambaquis podiam servir de área de acampamento, pela quantidade de restos de caça e de alimentação escavados.

Nos sambaquis são encontradas esculturas de pedra e ossos que sugerem algum tipo de organização social rígida. Algumas sepulturas mostram também quantidades de objetos e cuidados diferenciados com os corpos, o que indicaria certa diferenciação social.

Os sambaquis sofreram por muito tempo danos causados pelo vandalismo e pela exploração econômica do material, rico em cálcio, utilizado na produção de cal. Outros ainda foram destruídos pata construção de rodovias ou por imobiliárias. Essa depredação só foi interrompida na década de 1960, quando os sambaquis foram reconhecidos como sítios arqueológicos a serem preservados pela Constituição Federal.

As culturas ceramistas

Por volta de 5 mil anos atrás, boa parte dos grupos que habitavam o Brasil passou a cultivar produtos agrícolas, especialmente a mandioca e o milho. A cerâmica tornou-se importante para esses grupos porque permitiu a preservação dos alimentos, a criação de novas técnicas de preparação de alimentos cozidos em panelas, sem ter de coloca-los diretamente sobre o fogo. Além disso, ela passou a ser usada por alguns povos como urna para enterrar os mortos.

Uma das maiores culturas agrícolas desse período foi a tupi-guarani, formada pela associação de dois ramos diferentes de povos, os tupinambás e os guaranis. Os tupi-guaranis eram povos agricultores e ceramistas que, por volta de 2mil anos atrás, se espalharam por boa parte do território brasileiro, acompanhando principalmente o litoral, estendendo-se também por países vizinhos, como o Paraguai.

A população tupi-guarani se difundiu de tal maneira que no século XVI chegava a um milhão de indivíduos, sendo até hoje uma das populações indígenas mais significativas no país. Por ser uma cultura que ainda estava presente na época da chegada dos europeus, há diversos relatos de cronistas estrangeiros que tiveram contato com esses grupos e descreveram suas crenças e costumes.

Na Amazônia podemos encontrar vários indícios de culturas expressivas da pré-história brasileira. Desde o período pré-ceramista, por volta de 12 mil anos atrás, há sinais de ocupação da Bacia Amazônica por populações de caçadores, pescadores e coletores. As culturas mais marcantes dessa região são a marajoara e a tapajônica, associadas a duas tradições ceramistas.

A cultura marajoara está ligada à tradição policroma, ou seja, que utilizava uma gama de diferentes cores em suas peças. Essa tradição surgiu na ilha de Marajó, criada pelo povo que ali habitava por volta de 3,5 mil anos atrás. A cerâmica marajoara possuía uma decoração composta por sinais padronizados que expressava mitos desse povo.

A cultura tapajônica está associada à tradição inciso-ponteada, da qual a cerâmica tapajônica é apenas a representante mais destacada. Ela é composta de vasos com figuras humanas e de animais bem modeladas e bastante estabilizadas, dos quais os vasos de cariátides (com suportes em forma de figura humana e de animal) e os de gargalo são os exemplos mais famosos.

3- As descobertas arqueológicas no Brasil

Desde o século XIX são realizadas pesquisas arqueológicas no brasil. Entre 1834 e 1846, o dinamarquês Peter Lund, pesquisando na região de Lagoa Santa, no interior de Minas Gerais, encontrou vestígios de grupos de caçadores que viveram no local há milhares de anos.

No século XX, as pesquisas se multiplicaram. Em 1975, no sítio arqueológico de Lapa Vermelha, próximo a Lagoa Santa, foi encontrado o esqueleto mais antigo da América. Com 11 500, esse esqueleto pertence a uma mulher de mais ou menos 20 anos e 1,50 m. Com traços negroides, ela ganhou o nome de Luzia.

As pesquisas na região de Lagoa Santa permitiram conhecer os hábitos dos povos que habitavam a região há milhares de anos. Esses povos são conhecidos como Homens de Lagoa Santa.

Hoje existem muitos outros sítios arqueológicos sendo estudados. Vamos conhecer com mais detalhes os de São Raimundo Nonato e Pedra Pintada, dois dos principais sítios arqueológicos do país.

Vestígios arqueológicos no Brasil

No Brasil, os mais antigos vestígios desses povos datam do período paleolítico: sambaquis, utensílios primitivos e pinturas rupestres. O conjunto de vestígios encontrados em determinada região é chamado de sítio arqueológico, e sua análise cabe à Arqueologia, a ciência que estuda os povos pré-históricos. Através desse estudo desenvolveu-se o conhecimento do período anterior à chegada de Cabral ao Brasil, em 1500.

Sambaquis são volumosos montes de conchas e esqueletos de peixes, associados a objetos de pedra, às vezes com mais de 10 metros de altura. Distribuídos por todo o litoral brasileiro, destacadamente no Sul, atestam que ali viveram grupos humanos que se alimentavam de animais marinhos há mais de 10 000 anos.

Utensílios primitivos também foram encontrados em diversos pontos do litoral e do interior do Brasil: pontas de flechas, machados e outros instrumentos, além de potes de barro, alguns decorados e usados como urna para os mortos, dentro dos quais foram achados esqueletos.

Pinturas rupestres, compostas de desenhos de figuras humanas e de animais, cenas de caça e pesca, foram encontradas nas paredes de grutas e cavernas e em lajes de pedras em lugares abertos. São famosas as pinturas rupestres de cavernas em Minas Gerais e em São Raimundo Nonato, no Piauí.

O Homem de Lagoa Santa

Desde o século XIX são realizadas pesquisas arqueológicas no Brasil. Muitos artistas e estudiosos europeus vinham pesquisar a natureza exótica do Brasil. Entre eles, o dinamarquês Peter Lund, que veio estudar nossas plantas e animais tropicais.

A descobertas dos primeiros fósseis humanos no Brasil se deve às pesquisas do naturalista dinamarquês Peter Lund. Considerado o pioneiro da paleontologia brasileira. Lund trabalhou nas grutas de Lagoa Santa, em Minas Gerais, entre 1835 e 1845. Lund, ficou fascinado com as pinturas rupestres que viu no município de Lagoa Santa. Essas pinturas retratavam animais já extintos. Escavando no interior das cavernas de Lagoa Santa, encontrou fósseis de tigres-dente-de-sabre, de megatérios e de outros animais desaparecidos há muito tempo.

Em 1840, Lund fez sua maior descoberta: desenterrou as ossadas de trinta pessoas. Junto estavam ossos de animais, machados, pontas de flecha, furadores e outros instrumentos de pedra lascada. Esses achados foram datados em cerca de 11 mil anos e ficaram conhecidos como os fósseis do Homem de Lagoa Santa.

As pesquisas permitiram conhecer os hábitos dos povos que viveram na região de Lagoa Santa, há milhares de anos. Hoje existem muitos outros sítios arqueológicos sendo estudados. Em 1975, no sítio arqueológico de Lapa Vermelha, próximo a Lagoa Santa, foi encontrado o esqueleto mais antigo da América, com 11500 anos. Esse esqueleto pertenceu a uma mulher (de mais ou menos 20 anos e 1m50cm de altura), com traços negroides, que recebeu o nome de Luzia.

O Sítio Arqueológico de Pedra Furada

A serra da Capivara, localizada no município de São Raimundo Nonato, no Piauí, é considerada um dos sítios arqueológicos mais importantes do Brasil.

As descobertas arqueológicas nessa região motivaram a criação do Parque Nacional da Serra da Capivara e a Fundação Museu do Homem Americano. Em 1991, a UNESCO tombou o parque como patrimônio da humanidade.

O sítio de Pedra Furada, foi encontrado na década de 1960. Vem sendo estudado desde o início da década de 1970, por uma equipe de estudiosos coordenada por Niède Guidon, arqueóloga franco-brasileira.

A equipe de arqueólogos, pesquisa supostos vestígios da presença humana, que teriam entre 48 mil e 40 mil anos. No local, foram encontrados além de pinturas rupestres, instrumentos de pedras lascadas, vestígios de fogueiras e cacos de cerâmicas de diferentes épocas. Submetidos ao Carbono 14, esses indícios foram datados em até 50 mil anos. Portanto, as pesquisas arqueológicas dirigidas por Niède Guidon, sugerem que os homens pré-históricos habitavam o Brasil há, aproximadamente, 50 mil anos.

Entretanto, existem dúvidas em relação aos vestígios encontrados em Pedra Furada. Como não encontraram fósseis humanos da mesma época, alguns críticos alegam que as pedras lascadas e as fogueiras podem ser resultados de causas naturais (consequência de raios, por exemplo). Caso sejam comprovadas essas estimativas sobre a antiguidade da presença humana no local, feitas pela equipe de Niède Guidon, será preciso rever as teorias sobre as rotas de imigração e de datação da presença humana no continente americano.

Povos do litoral

Por volta de 6 mil anos atrás, parte do litoral brasileiro (do Espirito Santo ao Rio Grande do Sul) foi habitada por povos seminômades, com certa unidade cultural em função da adaptação ao ambiente litorâneo. Deixaram como vestígios de sua presença os sambaquis, palavra de origem tupi que significa “monte de mariscos”.

Os sambaquis foram utilizados para enterrar os mortos com seus objetos pessoais (enfeites, utensílios e armas), o que indica uma provável preocupação religiosa com a morte.

Os estudos dos sambaquis revelam aspectos da cultura dos povos litorâneos de nossa Pré-história. Esses povos formavam aldeias com cerca de 100 a 150 habitantes em média. Viviam da coleta, da caça e principalmente da pesca. Utilizavam instrumentos feitos de pedra (enfeites, facas, flechas, machados) e de ossos (arpões, agulhas, anzóis). Tinham o domínio do fogo e assavam os alimentos, que eram divididos entre os membros do grupo.

Durante cerca de 5 mil anos, os povos do sambaquis expandiram-se com brilho e vigor. Sofreram, por fim, o ataque dos índios tupi-guaranis, vindos do interior do território brasileiro.


Pré-história - Investigando nossas origens

 Investigando nossas origens

    A Pré-história corresponde ao período que vai do surgimento do homem primitivo (hominídeo) até a invenção da escrita.

    Começa há 3,5 milhões de anos, quando surgem os macacos hominídeos, antecessores do homem moderno. A domesticação de animais, o surgimento da agricultura, a utilização dos metais e a descoberta da escrita marcam o fim dessa fase.

    O termo Pré-história tem sido criticado, pois pode sugerir que o homem desse período não deva ser incluído na História. Ora, o homem, desde seu aparecimento, é um ser histórico, ainda que ele não utilizasse a escrita. Ela não deve significar que os acontecimentos da pré-história são menos importantes do que os ocorridos em qualquer outro momento do passado; ou que uma sociedade é superior a outra, seja pelo domínio da escrita, de equipamentos técnicos seja por qualquer outro motivo.

Fontes para estudo da Pré-história

    O homem pré-histórico deixou uma série de vestígios de sua existência e de seu modo de vida: fósseis, instrumentos, pinturas etc. Entre as ciências que pesquisam essas fontes pré-históricas destacam-se a paleontologia Humana e a Arqueologia Pré-histórica.

    A Paleontologia Humana estuda os fósseis dos corpos dos homens pré-históricos, geralmente ossos e dentes, partes mais resistentes, que se preservaram ao longo do tempo.

    A Arqueologia Pré-histórica estuda objetos feitos pelo homem pré-histórico, procurando descobrir como eles viviam. Instrumentos de pedra e metal, peças cerâmicas, sepulturas são alguns desses objetos.

Evolução dos hominídeos

    Todos os seres humanos descendem do mesmo ancestral comum, o hominídeo, cujos fósseis mais antigos foram localizados no continente africano. As primeiras espécies encontradas foram o Australopithecus e o Homo habilis.

    O Australopithecus possuía uma arcada dentária e um esqueleto idênticos aos do homem atual. Além disso, já andavam sobre dois pés e possuía um cérebro pequeno. Já o Homo habilis foi o primeiro a fabricar e utilizar instrumentos para diversos fins, além de já ter domínio sobre o fogo.

    Os restos de hominídeos mais antigos são os do Australopithecus afarensis, de cerca de 3 milhões de anos, encontrados em Afar (Etiópia) em 1925. A evolução do afarensis resulta em pelo menos duas outras linhagens: o Australopithecus africanus e os Paranthropus boisel e robustus. Os Paranthropus não deixam vestígios de evolução. O Australopithecus africanus evolui para o Homo erectus ou Pitecanthropus, há cerca de 2 milhões de anos.

Homo erectus

    É o primeiro a usar objetos de osso e pedra como ferramentas e como arma, a empregar o fogo e, provavelmente, a falar. Parece ter sido o Homo erectus a última escala evolutiva até o homem atual. Foi ele quem primeiro abandonou a África, com seu nomadismo, espalhando-se pelo mundo. Antes de chegar à espécie atual – o Homo sapiens –, o homem passou por uma série de transformações, conforme atestam os fósseis encontrados em Neanderthal, na Alemanha, e em Cro-Magnon, na França.

     Evolui, há 700 mil anos, para o Homo neanderthalensis (o homem de Neanderthal) e, há 500 mil anos, para o Homo sapiens, do qual descende o homem atual. A evolução histórica dos hominídeos até o Homo sapiens não ocorre de forma linear. Agrupamentos inteiros do gênero Homo desaparecem em conseqüência de variações climáticas, condições geográficas e outros fenômenos naturais.

    Após uma longa evolução, que se iniciou há cerca de 1 milhão de anos, os descendentes dos primeiros hominídeos espalharam-se pela Ásia, África e Europa

Regiões de origem da espécie humana

    Há pelo menos duas teorias sobre o local onde surgem os antepassados do homem. A primeira sustenta, com base na descoberta do afarensis, que a origem é a África, de onde teria começado a se espalhar pelo mundo há 200 mil anos. A segunda apoia-se nos achados de restos do Homo erectus em Java, Indonésia (1,8 milhão de anos), e do Homo sapiens em Jinniushan, China (200 mil anos), e diz que a evolução de uma espécie ocorre em diferentes regiões da Terra, em momentos nem sempre coincidentes.

Divisão da Pré-história

    As fontes pré-históricas indicam que, nesse período, existiram diferentes culturas. Deduz-se que os objetos inicialmente tiveram formas variadas e foram feitos de diferentes materiais: madeira, osso, pedra lascada, pedra polida, metal.

    A partir de constatações dessa natureza, dividiu-se a pré-história em três grandes períodos:

Paleolítico ou Idade da Pedra Lascada – período em que predominou a sociedade de homens caçadores.

Neolítico ou Idade da Pedra Polida – período em que se desenvolveu a agricultura e a criação de animais.

•Idade dos Metais – período em que se desenvolveu a fundição de metais.

    Essa divisão tradicional da pré-história baseia-se em uma concepção evolucionista do processo cultural do homem. Porém essa divisão é muito criticada, pois pressupõe que todas as sociedades passaram pelas fases por ela estabelecidas, o que nem sempre ocorreu. Apesar das falhas, é uma classificação adotada no mundo inteiro.

Paleolítico
A sociedade dos caçadores-coletores

    Durante o Paleolítico, o homem tinha como principais atividades para obter alimentos: a coleta de frutos, grãos e raízes; a caça e a pesca. Aprendeu a confeccionar seus primeiros instrumentos com pedaços de madeira, osso e pedra. Os instrumentos de madeira não se conservaram, restando os de osso e pedra lascada, que constituem os predecessores mais antigos de machados, facas, perfuradores e raspadeiras.

    O controle do fogo foi uma das maiores realizações humanas do Paleolítico. Representou a primeira grande conquista do homem sobre o meio ambiente. Passaram então a utilizá-lo para se aquecer, iluminar a noite, defender-se dos animais, cozinhar os alimentos. Ao longo do tempo, o controle do fogo permitiu, por exemplo, a fundição de metais e o cozimento de argila. O domínio do fogo e a utilização das primeiras ferramentas possibilitaram ao homem vencer dois grandes inimigos: o frio e a fome.

    Para garantir sua sobrevivência, o homem teve de aprender a cooperar e a se organizar socialmente. Da eficiência dessa cooperação social dependia, por exemplo, o sucesso de uma caçada a um animal feroz e perigoso.

    O modo de vida nômade foi dominante em diversas comunidades, mas acabou evoluindo para formas sedentárias à medida que o homem desenvolveu soluções para superar as dificuldades da natureza. Surgiram, então, os primeiros clãs, formados por conjuntos de famílias cujos membros descendiam de ancestrais comuns. Cada clã era autossuficiente, produzindo o necessário para garantir a sobrevivência de seus membros. Não havia a preocupação de produzir excedente para trocar com outros clãs ou de acumular riquezas. As trocas eram realizadas apenas eventualmente. Assim, o tempo dedicado ao trabalho limitava-se ao da obtenção do alimento necessário para o grupo. O resto do tempo era preenchido com brincadeiras, festas, danças, cerimônias, rituais, refeições, banhos etc.

    O homem do paleolítico desenvolveu surpreendentes manifestações artísticas: figuras entalhadas em pedra, pinturas rupestres, modelagem em barro. A atividade artística parece ligada a rituais mágicos, pois as pinturas e as esculturas, no geral, representam animais que seriam caçados. Provavelmente, o homem paleolítico acreditava que, dessa forma, poderia dominá-los antecipadamente. 

Neolítico
A revolução agropastoril

    A característica fundamental do Neolítico está nas novas formas de relação do homem com o meio ambiente. De modo geral, durante o Paleolítico o homem apenas colhia da natureza os bens para satisfazer suas necessidades.

    No Neolítico ocorreu uma transformação radical: o homem passou a intervir decisivamente no meio ambiente. Cultivando plantas e domesticando animais, conseguiu controlar as fontes de sua alimentação. Assim, a sobrevivência humana foi se libertando das mãos coletoras, passando a depender cada vez mais das mãos produtoras.

    Essa mudança de comportamento representou uma das mais extraordinárias revoluções culturais da História, pois influenciou decisivamente no modo de vida do homem. No decorrer de um longo processo, à medida que as atividades agrícolas e pastoris se consolidavam, o homem foi abandonando a vida nômade e adotando sistematicamente o modo de vida sedentário. Com a revolução agropastoril, as comunidades puderam produzir mais alimentos do que o necessário ao consumo imediato. Passaram então, a estoca-los, procurando garantir o abastecimento nos períodos de escassez. O aumento da produção alimentar impulsionou o crescimento da população, que, em relação ao Paleolítico, multiplicou-se cerca de 20 vezes.

    Entre as principais transformações que marcaram o período Neolítico, podemos destacar:

•Aperfeiçoamento dos instrumentos de pedra – facas, machados, foices e enxadas, pilão para transformar o grão em farinha etc. passaram a ser feitos de pedra polida.

•Cerâmica – a necessidade de cozinhar e armazenar os alimentos levou o homem a criar recipientes que suportassem o calor do fogo e pudessem conter líquidos. Assim, ele desenvolveu a técnica de moldar argila, dando-lhe forma, e produziu os primeiros utensílios cerâmicos.

•Tecelagem – o homem do neolítico desenvolveu técnicas de fiar e tecer, acrescentando às suas vestimentas de couro roupas feitas de linho, algodão e lã.

•Casas e aldeias – utilizando madeira, barro, pedra e folhagem seca, o homem passou a construir sua moradia, o que representou um incremento no processo de sedentarização que vinha se desenvolvendo em decorrência da revolução agropastoril.

Vida espiritual – com a intensificação das atividades agropastoris, o homem neolítico adquiriu novos temores e preocupações relacionados, por exemplo, à variação do tempo durante o ano, à fertilidade do solo, à saúde e à reprodução de rebanhos etc. Para enfrenta-los, invocava a proteção de forças “sobrenaturais”, realizando ritos mágico-religiosos. Os menires e os dolmens provavelmente foram utilizados para reverenciar essas forças.

Uso da roda – calcula-se que foram usadas grandes toras rolantes para transportar enormes blocos de pedra dos menires e dolmens ao local desejado. Essas toras representam o início rudimentar do emprego da roda, uma das mais extraordinárias invenções humanas,

Idade dos Metais
Uma nova revolução tecnológica

    A Idade dos Metais caracterizou-se pelo desenvolvimento e difusão do processo de fundição de metais (cobre, bronze e ferro).

    Por volta de 4000 a. C., as primeiras sociedades do Oriente Próximo começaram a desenvolver a metalurgia, ou seja, a utilização sistemática de metais para a fabricação dos mais variados objetos. O primeiro metal foi o cobre. De início era martelado a frio, depois fundido no fogo e colocado em moldes de barro ou pedra. Cerca de 2000 anos mais tarde, desenvolveu-se a liga do cobre com o estanho, obtendo o bronze, um metal mais resistente. O bronze passou a ser utilizado na fabricação de lanças, espadas, capacetes, ferramentas e objetos de adorno. Os metais, muitas vezes, eram extraídos de terras distantes das oficinas metalúrgicas.

    O desenvolvimento da metalurgia representou enorme conquista tecnológica, pois possibilitou a produção de instrumentos e objetos resistentes, das mais variadas formas. Os metais, em geral, são tão duros quanto a pedra, mas podem ser modelados na forma de se desejar, ou seja, podem ser fundidos. A fusão do metal tornou possível a confecção de vários objetos, como panelas, vasos, enxadas, machados, pregos, agulhas, facas e lanças de metal. O trabalho metalúrgico exigiu habilidade, conhecimentos especializados e disponibilidade de tempo.

    Durante a Idade dos Metais, a agricultura e as pequenas vilas começaram a dar origem às sociedades de grande poder, como a do Egito e as da Mesopotâmia. 

Civilização
Novo estágio do desenvolvimento social

  Em várias regiões do mundo, as comunidades primitivas sofreram grandes transformações culturais a partir da revolução neolítica. O conjunto dessas transformações marca novo estágio do desenvolvimento social conhecido como civilização.

    O termo civilização começou a ser utilizado na França, em meados do século XVIII, com um sentido evolucionista de progresso. Segundo esse conceito, a humanidade passaria por etapas sucessivas de evolução social. Assim, alguns cientistas montaram classificações evolutivas em que procuraram enquadrar todas as sociedades, desde o Paleolítico até os dias atuais. Nessas classificações, civilização corresponderia às “altas culturas”, que seriam superiores às culturas consideradas “primitivas”, “selvagens” ou “bárbaras”.

    Grande parte dos historiadores, antropólogos e demais estudiosos da atualidade rejeitam essas noções de superioridade ou inferioridade cultural entre os povos. As sociedades humanas são diferentes, mas não podem ser hierarquizadas numa classificação linear. No entanto, o termo civilização continua bastante utilizado nos estudos históricos apenas para referir-se a uma forma própria de organização social. Nesse sentido, nas palavras do historiador Jaime Pinsky, civilização não é elogio, e pré-civilizado não pode ser tomado como ofensa.

    Alguns eventos costumam ser associados ao surgimento das sociedades civilizadas, entre os quais destacamos:

Aparecimento de classes sociais – surgem ricos e pobres, exploradores e explorados, senhores e escravos.

Formação do Estado – organiza-se um governo que administra a sociedade e controla a força militar (exército).

Divisão social do trabalho – divide-se cada vez mais a atividade dos membros da sociedade, surgindo trabalhadores especializados como metalúrgicos, ceramistas, barqueiros, vidraceiros, sacerdotes, comandantes militares etc.

Aumento da produção econômica – com o desenvolvimento das técnicas agrícolas, da criação de animais e do artesanato, a produção econômica cresce bastante. Além dos bens necessários ao consumo imediato, as sociedades começam a produzir excedentes, armazenando vários produtos para a troca comercial.

Registros escritos – acompanhando o nascimento das primeiras cidades, desenvolvem-se a escrita, a numeração, os pesos e as medidas e o calendário.

O Crescente Fértil

         A principal região do planeta onde surgiram as primeiras civilizações de que temos notícia é chamada de Crescente Fértil. Conhecida por esse nome devido ao seu traçado que faz lembrar a Lua no quarto crescente, essa região abrange parte no nordeste da África, as terras do corredor mediterrâneo e a Mesopotâmia.



    Na região do Crescente Fértil, situam-se parcial ou totalmente Egito, Israel, Líbano, Jordânia, Síria, Turquia e Iraque. Muitas das áreas férteis, depois de séculos de exploração, desapareceram e deram lugar a vastos desertos.



 

Introdução ao Estudo da História

 

   A História é uma disciplina que estuda o passado das sociedades humanas, buscando resgatar e compreender suas realizações econômicas, sociais, políticas e culturais. O estudo do passado humano permite-nos conhecer as motivações e os efeitos das transformações pelas quais passou a humanidade e fornece elementos que ajudam a explicar as sociedades atuais.

A História não se limita somente ao estudo do passado. Através do estudo da História, podemos desenvolver teorias sobre atualidade, podemos contextualizar o passado com o presente fazendo ligações entre os acontecimentos.

A palavra história nasceu na Grécia Antiga e significava “investigação”. Foi o grego Heródoto, considerado o “pai da História” que, pela primeira vez, empregou esta palavra com o sentido de investigação do passado.

A matéria-prima da História são os fatos históricos, acontecimentos que possuem repercussão social, para os quais se busca uma explicação de suas causas e efeitos. A morte do presidente do Brasil, Getúlio Vargas, em 1954, é um exemplo de fato histórico. Já o fato social é um acontecimento corriqueiro na vida de uma sociedade, que possui pequeno impacto imediato, como a morte de pessoas ou a crise financeira pessoal de alguém da comunidade. 

                               Sentidos da palavra história

   Exploremos um pouco os sentidos da palavra história, uma vez que ela é polissêmica, isto é, possui diversos significados. Vejamos alguns:

 · Ficção – os livros de aventura, as novelas de televisão ou os filmes de cinema contam histórias muitas vezes inventadas para despertar nossa atenção sobre determinado assunto, fazer-nos refletir ou simplesmente para nosso entretenimento. Essas histórias criadas pela imaginação humana, com seus lugares e personagens, são chamadas também de ficção. Muitas vezes, as obras de ficção são inspiradas no conhecimento de épocas passadas, como acontece em filmes e romances históricos ou em novelas de época.

· Processo vivido – as lutas e os sonhos, as alegrias e as tristezas de uma pessoa ou de um grupo social fazem parte de sua história, de suas vivências. Assim, o conjunto dos acontecimentos e das experiências que ocorreram no dia a dia, tanto de uma pessoa quanto de um grupo, pode ser chamado de história vivida. Essa história integra a memória (recordações) das pessoas que a viveram.

· Área de conhecimento – a produção de um conhecimento que procura entender como os seres humanos viveram e se organizaram desde o passado mais remoto até os dias atuais constitui uma área de investigação ou disciplina denominada História. Nesse sentido, História constitui um saber preocupado em desvendar e compreender as condições históricas (historicidade) das vivências humanas, ou seja, em tratar essas vivências como expressão da época em que elas ocorreram. 

Esses três sentidos da palavra história estão relacionados. As histórias vividas pelas pessoas e a ficção não estão excluídas da História como área de conhecimento. As pessoas interessadas em pesquisar ou escrever sobre História ou, ainda, em ensiná-la escolhem assuntos que podem incluir tanto a ficção quanto as histórias de uma vida. 

História e historiadores

As vivências humanas expressam o contexto histórico de cada época. O estudo do passado e a compreensão do presente não se relacionam de forma determinista. As soluções de ontem não servem aos problemas de hoje. Sem um processo que considere mudanças e permanências históricas, as experiências do passado não se aplicam ao presente. Como entender, então, as relações entre passado e presente?

                A compreensão das relações entre passado e presente é uma questão intrigante. É também uma das preocupações centrais da História, disciplina que se dedica ao estudo das vivências humanas em épocas e lugares distintos. Em nossa opinião, a escrita da história não pode ser isolada de sua época. O historiador vive o seu tempo, por isso, a história que ele escreve está ligada à história que ele vive. As conclusões dos historiadores nunca são definitivas. O historiador trabalha para seu tempo, e não para a eternidade. Assim, a historiografia não deve ter a pretensão de fixar verdades absolutas, prontas e acabadas, interpretações eternas, pois a história, como forma de conhecimento, é uma atividade contínua de pesquisa.

                O historiador investiga e interpreta as ações humanas que, ao longo do tempo, provocaram mudanças e continuidades em vários aspectos da vida pública ou privada: na economia, nas artes, na política, no pensamento, nas formas de ver e sentir o mundo, no cotidiano, na percepção das diferenças. O trabalho do historiador consiste em perceber e compreender esse processo histórico.

 

O estudo da História tem várias utilidades.  As principais são:

 ·Satisfazer a curiosidade natural de saber como era o passado e como a humanidade se transformou ao longo do tempo.

·Ajudar a compreender o mundo em que vivemos e ao mesmo tempo dar consciências aos homens do seu poder de transformar a realidade.

·Outra utilidade da História é ajudar-nos a viver melhor, aprendendo com os erros e acertos de nossos antepassados. 

Para se estudar História, devemos desenvolver o senso crítico, a capacidade de interpretação e de observação. Não podemos estudar História transmitindo nossos valores atuais para as sociedades do passado. Como a História tem como base a cultura, não podemos transmitir os nossos valores culturais aos povos que estivermos estudando. Cada povo em cada tempo e em cada espaço possuía e possui uma maneira própria de entender o mundo e de se perceber dentro deste.  

Fontes históricas

Na recuperação do fato, a história recorre às chamadas fontes históricas, constituídas de vestígios de toda espécie. As fontes podem ser de várias naturezas: escritas, orais, iconográficas, arqueológicas.

As fontes escritas são registros em forma de inscrições, cartas, letra de canções, livros, jornais, revistas e documentos públicos, entre outros. As fontes não-escritas são registro da atividade humana que utilizam linguagens diferentes da escrita, tais como pinturas, esculturas, vestimentas, armas, músicas, discos fonográficos, filmes, fotografias, utensílios.

Outro exemplo de fonte histórica não-escrita é o depoimento de pessoas sobre aspectos da vida social e individual. Esses depoimentos, que podem ser colhidos a partir de entrevistas gravadas pelo próprio historiador, servem para registrar a memória (pessoal e coletiva) e ampliar a compreensão de um passado recente ou da história que se está construindo no presente. É o que se chama de história oral. 

O que é cultura

    É toda e qualquer produção humana, ou seja, tudo que é produzido pelos seres humanos é considerado uma produção cultural. Como o mundo é formado por vários povos diferentes, as produções culturais são diferentes de um povo para outro, o que explica as multiplicidades religiosas, lingüísticas, políticas, de organizações sociais e valores, que são considerados cultura imaterial. No caso da cultura material associam-se os objetos, vestimentas, moradias, obras artísticas, utensílios domésticos, etc..  A escrita é considerada a materialização do vocabulário de um povo. Um povo que não possui um vocabulário escrito não pode ser considerado atrasado em relação a outro povo que possua um vocabulário escrito. Na verdade isso só representa uma variação cultural, algo comum entre os povos.   

Periodização histórica

Para organizar a compreensão dos históricos, os pesquisadores elaboram periodizações visando ordenar os acontecimentos e temas analisados. Concebidas pelos historiadores, as periodizações históricas estão de acordo com o ponto de vista de quem as elaborou. Vejamos uma periodização muito utilizada e tradicional, que divide a história em grandes períodos:

·Pré-história – do surgimento do ser humano até o aparecimento da escrita (4000 a. C.);

·Idade Antiga ou Antiguidade – do aparecimento da escrita até a queda do Império Romano do Ocidente (476 d. C.);

·Idade Média – da queda do Império Romano do Ocidente até a tomada de Constantinopla pelos turcos (1453);

·Idade Moderna – da tomada de Constantinopla até a Revolução Francesa (tomada da Bastilha, 1789);

·Idade Contemporânea – da Revolução Francesa até os dias atuais. 

Essa divisão feita por historiadores europeus que, no século XIX, davam maior importância às fontes escritas e aos fatos políticos. Por isso, todo o período anterior à invenção da escrita foi chamado de Pré-história. E, por serem europeus, esses historiadores estabeleceram como marcos divisórios das “idades” da história acontecimentos ocorridos na Europa.

A divisão tradicional da história (Idade Antiga, Idade Média, Idade Moderna e Idade Contemporânea) é muito criticada por vários motivos, entre eles o fato de ter sido elaborada com base no estudo de apenas algumas regiões da Europa, do Oriente Médio e do norte da África. Portanto, não pode ser generalizadas a todas as sociedades do mundo. Além disso, ela adota certos fatos como marcos dos períodos, dando a errônea impressão de que as mudanças históricas – que em geral, fazem parte de um processo longo e gradativo – ocorrem repentinamente.

Pré-história 

A pré-história é o longo período do passado que abrange desde o surgimento do “homem primitivo” (hominídeo) até a invenção da escrita. O termo tem sido criticado, pois o ser humano, desde seu aparecimento no planeta, é um ser histórico, mesmo que não tenha utilizado a escrita em algum período. Como o uso do termo Pré-história é consagrado mundialmente, podemos empregá-lo, mas cientes de que esse período também faz parte da história.

Os Paradigmas da História
 Positivismo, Marxismo e Nova História 

O ensino como um todo está passando por um período de transição, com muitos problemas e debates, sobre a importância do ensino, e o que realmente deve ser ensinado nas escolas para que realmente a educação cumpra o seu papel de formadora de cidadãos conscientes de sua importância na sociedade e mundo em que estão inseridos. Dessa forma o ensino de História não foge à essas discussões acerca das problemáticas da educação, principalmente no que tange ao ensino em sala de aula.

As maiores problemáticas em relação ao ensino de História se referem as questões teórico-metodológicas e político-pedagógicas. Cabe então analisarmos mais profundamente as três correntes da historiografia atual que servem como embasamento teórico para os professores de História: o Positivismo, o Marxismo e a Nova História.  

Positivismo

Corrente teórica tradicional que surgiu no séc. XIX, como reação ao Idealismo de Kant e Hegel, fundado por Augusto Comte. O momento histórico em que essa concepção historiográfica foi criada insere-se em uma fase onde a burguesia tornava-se a classe econômica hegemônica, e o positivismo representou a justificação e legitimação da visão burguesa, servindo mais tarde como uma ideologia dessa classe, garantindo a manutenção dessa nova ordem.

O positivismo segundo Comte apresenta a lei dos três estágios que consiste estabelecer três estágios de evolução do espírito humano: o estado teológico, o estado metafísico e o estado positivo. Essa concepção tem uma característica utilitarista, que propõe conhecer o passado, entender o presente e projetar o futuro, que dessa forma busca a previsão e o conhecimento prévio dos fatos, onde o futuro pode ser manipulado.

O estudo da História segundo a concepção positivista, se restringe ao estudo  dos fatos, que podem ser observados, verificáveis e experimentáveis, tirando da história toda a sua subjetividade. O historiador é uma pessoa neutra e objetiva, que não interfere de forma alguma nos acontecimentos e na História. A fonte de estudo privilegiada nessa concepção são as escritas, principalmente os documentos oficiais.

A pesquisa nos documentos oficiais é realizada apenas no âmbito da descrição já que eles não podem ser discutidos e analisados. Com isso a História é contada a partir de uma estrutura política, privilegiando os governos e os governantes. A sociedade assim como a natureza é regida por leis naturais e invariáveis, independentes da vontade e da ação humana, e que caminha para um estágio final de progresso, sem que haja retrocessos e atrasos durante a evolução dessa sociedade.

Com a utilização dessa concepção por parte dos professores de História em sala de aula, os alunos não são estimulados a pensar, e buscar o conhecimento através de uma construção do mesmo. 

Marxismo

Para analisarmos a corrente marxista, devemos remontar as origens históricas dessa tendência. No final do séc. XVIII, a burguesia libertou as forças produtivas do domínio do feudalismo. A burguesia se apropriou dos meios de produção e dos capitais gerados a partir da exploração de uma nova classe social - o proletariado. A luta de classes levou o proletariado a buscar a explicação, e consequentemente a tomada de consciência, do processo de exploração a que está submetido. Nesse sentido, contrariamente ao positivismo, o marxismo procura explicar a História do ponto de vista dos trabalhadores.

Nessa concepção os fatos não podem ser medidos e experimentados, a abstração só pode se dar na imaginação. Os fatos, os indivíduos são reais, e sua ação, suas condições materiais de vida alteram a História. O historiador trabalha na investigação do processo histórico concreto, e intervém de modo prático sobre eles. A partir disso os acontecimentos não são acabados e a História não é dada, mas sim construída socialmente pelos indivíduos que nela se inserem.

A estrutura econômica é privilegiada nessa tendência, com a produção material determinando as demais esferas da vida social. Há um aspecto comum com o positivismo, já que da mesma forma a História caminha para um fim inevitável, só que nesse caso não a um estágio positivo, mas a uma sociedade socialista/comunista, com a evolução dos modos de produção.  

Nova História

Na primeira metade do século XX, os historiadores franceses ligados à famosa Escola dos Anais promoveram mudanças significativas na maneira de pensar e escrever a História, as quais continuam ainda hoje em evidência, causando polêmicas. Marc Bloch, Lucien Febvre e Fernando Braudel são considerados os maiores responsáveis por essas mudanças, embora muitos outros tenham contribuído para que a História firmasse novas formas de interpretação, preocupadas com as estruturas, as manifestações culturais e a relação com os outros ramos do saber, tais como a sociologia, a economia, a antropologia a demografia.

A Nova História, tributária da Escola dos Anais, ocupou, por sua vez, um espaço importante nas universidades e conseguiu também penetração expressiva no mercado editorial, sobretudo na França. Historiadores como Jacques Le Goff, Georges Duby, Marc Ferro e tantos outros tornaram-se conhecidos da mídia. A Nova História, com sua linguagem próxima da literatura, sem o peso formal da linguagem acadêmica conquistou um público amplo, constituído não apenas por historiadores.

A Nova História costumou a ser dividida em 3 fases ou geração de estudiosos: a primeira geração privilegiou a História econômica e social, a totalidade era obtida na História econômica. A segunda geração privilegiou a História econômica e preteriu a História social, já que esse período de pós-guerra (1945) promoveu uma intensa industrialização, o que provocou uma atenção maior dos estudiosos. Os anos 70 foram marcados para uns com a continuidade do movimento a partir da terceira geração, e para outros como o rompimento definitivo dos postulados da primeira e segunda gerações, e a opção pelo irracionalismo. A partir dos anos 70 novos objetos de estudo foram anexados à essa nova historiografia, temas que não eram contemplados pela historiografia tradicional: cotidiano das pessoas comuns, e não das grandes figuras;  História das mentalidades, a partir de temas como: família, educação, sexo, festa, morte, alimentação, mulheres, homossexuais.

Em substituição a História narrativa, entra em cena a História-problema, que procura explicar os problemas  e as grandes interrogações da nossa época. O campo das pesquisas foi ampliado, livrando-se de preconceitos, quebrando fronteiras. Atualmente costuma-se dizer que tudo é História, e não apenas os feitos dos heróis, as grandes batalhas, as tramas das elites. Defende-se hoje que a história é uma tarefa coletiva, construída no cotidiano, e que, portanto, o ofício do historiador é dar conta da diversidade que resulta do pensar, sentir e agir de todos os homens.


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