quarta-feira, 31 de julho de 2024

AS CIDADES SUSTENTÁVEIS

O desenvolvimento sustentável tem o objetivo de suprir as necessidades da geração atual sem comprometer o bem-estar das gerações futuras. É um conceito que está no centro das discussões atuais e conduz a elaboração de propostas que buscam conciliar as demandas econômicas, sociais e ambientais. O tema desenvolveu-se nos debates sobre planejamento urbano a partir da década de 1970, no contexto da crise mundial do petróleo, e ganhou força a partir da década de 1980, com a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, em 1987. Para garantir o desenvolvimento sustentável da economia mundial, é necessário que haja equidade nas condições de vida e uma gestão consciente das fontes de energia e dos recursos naturais. De acordo com a ONU, em 2021, as cidades eram responsáveis pela emissão de 70% dos gases do efeito estufa e 75% da energia produzida. Tendo isso em vista, o modo de vida urbano e a produção e o consumo de mercadorias devem ser repensados, de maneira a promover a redução dos impactos socioambientais. As cidades sustentáveis estão alicerçadas em uma concepção de planejamento urbano relacionada com o equilíbrio ambiental, a vitalidade econômica e os benefícios sociais. Para atingir esses objetivos, a cidade sustentável deve promover as seguintes medidas:

• oferecer transporte público de qualidade;
• melhorar o sistema de coleta de resíduos sólidos;
• construir parques urbanos;
• promover a qualidade de vida da população;
• produzir energia a partir de fontes limpas e renováveis;
• criar sistemas de captação e reúso das águas pluviais e fluviais;
• planejar a cidade de acordo com as demandas sociais, econômicas e ambientais.

A MOBILIDADE URBANA

As grandes cidades, como Mumbai, na Índia, São Paulo (SP), Cidade do México, no México, Buenos Aires, na Argentina, entre outras, são responsáveis por uma elevada emissão de gases poluentes, sobretudo em razão da grande frota de veículos. Essas cidades, em geral, caracterizam-se por um planejamento urbano que não priorizou um sistema integrado de transporte, o que facilitaria a mobilidade da população. Com uma grande frota de veículos particulares e a falta de integração entre os modais de transporte coletivo, há um arranjo e um padrão do espaço urbano projetado para carros, o que dificulta o acesso e a mobilidade daqueles que utilizam outros modais de transporte. Analise o gráfico a seguir, que representa a porcentagem de emissão de poluentes de cada tipo de veículo no Brasil. Os automóveis, em sua maioria, veículos individuais, são os que mais liberam gases poluentes.
Nas cidades sustentáveis, as alternativas para a redução de gases emitidos por automóveis se deram a partir do planejamento e da estruturação de um sistema de transporte público integrado e de transportes alternativos (ciclovias, por exemplo) de qualidade e acessíveis, o que facilita a mobilidade das pessoas. Exemplos do uso de bicicletas como meio de transporte podem ser verificados em cidades como Copenhague, na Dinamarca, e Amsterdã, na Holanda.
Um sistema de transporte público eficiente possibilita o acesso com qualidade a qualquer parte da cidade, independentemente se a pessoa está em uma área central ou periférica. Dessa forma, pode ser considerado como uma alternativa para a redução de gases poluentes, tendo em vista que as pessoas podem utilizar o transporte público para se deslocar pela cidade, em vez de utilizar veículos particulares. A oferta de rotas de ônibus, metrô e trem com possibilidade de integração é importante para determinar a qualidade do transporte e a mobilidade. Além disso, é fundamental que os preços das passagens atendam às necessidades das pessoas e possibilitem a integração entre os diferentes modais. A Política Nacional de Mobilidade Urbana aponta para a importância da priorização dos serviços públicos, da infraestrutura do sistema de mobilidade e da acessibilidade e integração dos modos de transporte público, incluindo estacionamento e áreas de acesso com horários definidos. Isso significa que a cidade precisa ter várias opções para melhorar a qualidade de vida da população.

A ACESSIBILIDADE NAS CIDADES SUSTENTÁVEIS

Uma cidade sustentável deve possibilitar o acesso de pessoas com todas as características. Isso significa que os edifícios, os transportes públicos, as vias de circulação e os espaços de lazer e cultura precisam garantir o acesso por parte de pessoas idosas, com mobilidade reduzida e com deficiências físicas, motoras e/ou sensoriais. Esse acesso pode ser viabilizado por meio de rampas e elevadores, piso tátil, mapas em braille, sinais sonoros, entre outros. Garantir o acesso dessas pessoas possibilita a redução das desigualdades sociais, tendo em vista sua relação direta com a facilidade e a equidade no deslocamento e a presença delas nos diferentes espaços da cidade. Faz parte da acessibilidade não apenas as condições de transporte, mas também o direito às informações e aos serviços de comunicação e tecnologia.

AS CIDADES E OS GRUPOS SOCIAIS

Ao refletir sobre as cidades sustentáveis, é importante considerar que a desigualdade econômica entre os países e as regiões gera obstáculos para a consolidação de projetos de cidades sustentáveis que buscam melhorar a qualidade de vida das pessoas. Esses projetos demandam altos recursos financeiros e, por isso, não são implementados em todos os lugares. Outro ponto a ser considerado são as desigualdades sociais relacionadas às questões de gênero, raça e orientação sexual. Os grupos sociais historicamente menos favorecidos tendem a enfrentar obstáculos no acesso a serviços públicos da cidade, por causa do preconceito e da violência que sofrem cotidianamente. Nesse sentido, o planejamento urbano deve abarcar essas questões, de modo a contemplar os interesses e as demandas de diferentes grupos sociais. A desigualdade de gênero, por exemplo, se manifesta nas assimetrias de renda entre homens e mulheres, na desigualdade de acesso à participação política, na desvalorização de trabalhos tradicionalmente desempenhados por mulheres, entre outros. As desigualdades de gênero influenciam, ainda, a maneira como as mulheres vivenciam as cidades, o que pode ser agravado por questões de raça, classe social e orientação sexual. Tendo isso em vista, é necessário que o Estado formule políticas públicas especialmente para as mulheres e para outros grupos sociais desfavorecidos, contemplando as diferentes necessidades desses grupos, de modo a promover uma cidade justa e equânime.

OS PROBLEMAS SOCIOAMBIENTAIS

Diversos problemas ambientais resultam da dinâmica natural da Terra, como as queimadas espontâneas que ocorrem nas florestas de regiões com clima quente e seco. Todavia, graves desequilíbrios ambientais têm sido causados pelos seres humanos, o que tem contribuído para provocar eventos extremos, como as mudanças nas temperaturas, os ventos fortes, os ciclones e os períodos prolongados de chuvas e de secas. Esses eventos geram consequências para os seres humanos e para o meio ambiente, tendo em vista que podem provocar a destruição de cidades, afetar o cotidiano e as atividades econômicas, além de desencadear graves desequilíbrios nos ecossistemas.
O efeito estufa e os poluentes Os raios infravermelhos são parte da radiação solar responsável pelo aquecimento da Terra. Depois que ultrapassam os gases da atmosfera, eles chegam ao solo e às águas, aquecendo-os. Tanto o solo quanto a água, quando aquecidos, devolvem à atmosfera ondas de calor com características diferentes das iniciais. A partir daí, os gases da atmosfera mantêm a superfície terrestre aquecida. Esse fenômeno é chamado de efeito estufa. O carbono e o vapor de água que existem naturalmente na atmosfera formam uma redoma protetora que impede a dissipação para o espaço de parte desse calor. Apesar de geralmente ser associado a uma forma de impacto ambiental, o efeito estufa é essencial para a vida no planeta Terra. Sem ele, a Terra seria fria demais para comportar toda a sua biodiversidade. Porém, para parte dos cientistas, os gases lançados na atmosfera por indústrias, automóveis e outras fontes de poluição formam uma camada de poluentes que intensifica o efeito estufa, acelerando a elevação das temperaturas médias de diversas regiões do planeta. Há estudos que apontam mudanças no clima do planeta e as relacionam à ação humana. Assim, a intensificação do efeito estufa seria decorrente do aumento da presença de gases de efeito estufa, como o gás carbônico, o metano e o óxido nitroso. Esse aumento estaria vinculado ao uso e à produção de energia obtida da queima de combustíveis fósseis, como o petróleo, o carvão mineral e a agropecuária.

As emissões de carbono e combustíveis fósseis


A queima de combustível, para gerar energia, produz moléculas de gás carbônico (CO2 ). Essas moléculas ficam soltas na atmosfera. Quanto maior a queima de combustível, mais CO2 é liberado, aumentando a quantidade desses gases no ar.
A emissão de CO2 tem relação com o total da população de um país e a sua capacidade industrial. Podem ser considerados ainda os índices de emissão das queimadas nas áreas florestadas, como ocorre no Brasil, e a queima de petróleo nas refinarias, como ocorre no Oriente Médio. No mapa e no gráfico, é possível verificar que as emissões estão concentradas nos países mais industrializados do mundo, principalmente China e Estados Unidos, que lideram o comércio mundial. No entanto, nos últimos anos, muitos países têm buscado reduzir suas emissões, com a substituição de fontes de energia poluentes e a adoção de práticas mais sustentáveis. O Protocolo de Kyoto estabeleceu que os países industrializados devem reduzir as emissões de gases que causam o efeito estufa em, no mínimo, 5% em relação aos níveis de 1990.

O aquecimento global

Com o aumento progressivo da temperatura terrestre, principalmente a partir do início do século XX. Desde então, ocorreu um crescimento da emissão de gases do efeito estufa em decorrência da intensificação do consumo de combustíveis fósseis, o que levou muitos cientistas a associarem o aquecimento global às ações dos seres humanos na natureza. De acordo com essa ideia, a ocorrência de eventos climáticos extremos nas últimas décadas, como o registro de temperaturas recorde em muitos países, mudanças na frequência e na intensidade das chuvas e o aumento de furacões e de períodos de seca, é indício da influência humana no crescimento das temperaturas na atmosfera, nos oceanos e na superfície terrestre.
Se nos próximos anos não houver uma redução significativa dessas emissões, estima-se que esses eventos climáticos extremos serão ainda mais intensos.
A temperatura média anual da superfície subiu um pouco mais de 1 °C nos últimos 170 anos. O Acordo de Paris, assinado por 195 países em 2015, busca limitar o aquecimento global nos próximos anos a um aumento de 2 °C, preferencialmente 1,5 °C. Esse nível de aumento de temperatura é considerado elevado, mas com potenciais impactos socioeconômicos ainda administráveis.
Um dos impactos do aumento da temperatura na superfície terrestre é o derretimento das geleiras. Como você pode verificar nas imagens, a cobertura de gelo tem sofrido redução no Ártico. Esse processo gera o aumento do nível do mar e a alteração das massas de ar que vêm dos polos. Além disso, o derretimento do gelo permanente, conhecido como permafrost, pode resultar na liberação de gás metano, o que acelera ainda mais o processo de aquecimento global. Um dos efeitos desses processos é a migração forçada de pessoas que vivem em regiões litorâneas ou daquelas pessoas mais diretamente afetadas pelo aumento da temperatura e do nível do mar. A Organização das Nações Unidas (ONU) estima que desde 2010 as emergências climáticas obrigaram 21,5 milhões de pessoas a se mudarem por ano. Em 2021, cerca de 90% desses refugiados vinham de países mais vulneráveis, sem a infraestrutura necessária para enfrentar crises climáticas. Tendo isso em vista, as mudanças climáticas devem ser tratadas como uma crise humanitária, já que podem agravar a pobreza, a violência e as dificuldades de acesso a recursos naturais, especialmente nos países mais vulneráveis.

As ilhas de calor

Grande concentração de prédios de concreto, pavimentação de ruas e avenidas, ausência de áreas verdes, intensa queima de combustíveis fósseis em fábricas, residências e veículos, canalização de águas pluviais – todos esses fatores exercem influência na elevação da temperatura das grandes cidades. Alguns locais, como as áreas mais centrais, são bem mais quentes que outros, configurando verdadeiras ilhas de calor. No entanto, nas áreas periféricas, por serem mais afastadas do centro, a temperatura do ar costuma ser menor.
Para melhorar a qualidade de vida e diminuir os efeitos das ilhas de calor, arquitetos urbanistas sugerem a construção de parques urbanos, telhados verdes e frios, pavimentos frios, utilizando materiais mais claros nas superfícies, entre outras ações para que não haja absorção de calor, como ocorre com o asfalto.

A inversão térmica

A quantidade de poluentes lançados na atmosfera provoca um fenômeno chamado inversão térmica, que cria condições desfavoráveis para a dispersão dos poluentes. Esse fenômeno pode ocorrer durante o ano todo, porém é mais comum no inverno. Em condições normais, à medida que aumenta a altitude, a atmosfera vai esfriando. Dessa maneira, o ar quente – que é menos denso – pode se elevar e carregar os poluentes para longe da superfície. Frequentemente, no inverno, por causa da maneira como os raios do sol incidem sobre a Terra ou em razão dos movimentos das massas de ar, forma-se uma camada de ar quente entre duas camadas de ar frio. Em ambientes industrializados ou em grandes centros urbanos, como uma camada de ar quente sobrepõe-se a uma camada mais fria, os poluentes ficam aprisionados próximo à superfície. Essa inversão térmica leva à retenção dos poluentes nas camadas mais baixas, próximo ao solo, podendo ocasionar problemas de saúde à população.
A camada de ozônio O ozônio, um gás presente na estratosfera terrestre, tem a propriedade de filtrar os raios ultravioleta do Sol, que, em excesso, inviabilizariam a vida no planeta. A camada de ozônio sofre os efeitos decorrentes da emissão dos clorofluorcarbonos (CFCs), utilizados em sistemas de refrigeração e em alguns aerossóis. Reações químicas dos CFCs destroem as partículas de ozônio, diminuindo, assim, a filtragem dos raios ultravioleta. Os CFCs permanecem na atmosfera por um longo período, podendo levar cem anos ou mais para serem destruídos. Em 1987, foi assinado o Protocolo de Montreal, um tratado internacional que tinha como principal meta a diminuição das emissões de CFCs e a busca por alternativas ao uso desses gases. Estudos recentes indicam que o buraco na camada de ozônio está diminuindo de tamanho. É um exemplo de como ainda é possível reverter certos efeitos da destruição do ambiente pela presença humana.

A chuva ácida

Quando chove, certos gases poluentes lançados na atmosfera por fábricas, automóveis e usinas termelétricas dissolvem-se nas gotas de chuva, tornando-as ácidas. A chuva ácida é uma combinação química entre a água e os poluentes da atmosfera que se deslocam pelos movimentos das massas de ar. Alguns elementos, como os óxidos de nitrogênio, o dióxido de carbono e o dióxido de enxofre são liberados na atmosfera pela queima de combustíveis fósseis. Quando esses elementos são misturados às partículas de água em suspensão que formam as nuvens, resultam em ácido nítrico e ácido sulfúrico, que se precipitam em forma de chuva, neve ou neblina, caracterizando as chuvas ácidas. Quando chega à superfície terrestre, a água da chuva dissolve e libera metais pesados e alumínio, danificando a vida vegetal e animal, corroendo construções, monumentos, fios elétricos e metais, além de interferir nas cadeias alimentares.

OS EVENTOS NATURAIS: MONITORAMENTO E PREVENÇÃO

Os eventos naturais sempre estiveram presentes ao longo da história humana. Entretanto, com as inovações tecnológicas realizadas a partir da década de 1950, ficou cada vez mais fácil prever quando ocorrerão. Fenômenos como tufões, furacões, erupções vulcânicas, tsunâmis, entre outros, não são mais uma ameaça inevitável à vida humana, uma vez que há a possibilidade de monitoramento desses eventos. Você já estudou que, a cada ano, observa-se um aumento do aquecimento global, o que interfere nas incidências de chuvas, nos deslizamentos de terras e nas inundações. Esse processo afeta vários países e pode causar tragédias para a população. Em 2021, as chuvas extremas e as enchentes provocadas por elas assolaram o Canadá, os Estados Unidos, a Alemanha e a China. Em cada um desses locais, o volume de precipitação foi histórico. Os maiores índices de risco ambiental estão situados nos países menos desenvolvidos, que ainda estão investindo em sistemas de monitoramento e prevenção de eventos naturais. Os desafios socioeconômicos existentes nessas regiões impõem dificuldades para direcionar recursos tecnológicos que diminuam os impactos causados por esses eventos.

O EXTRATIVISMO E O MEIO AMBIENTE

O extrativismo pode ser considerado umas das atividades humanas mais antigas. Antes de conhecerem a agricultura e a pecuária, os seres humanos coletavam alimentos e outros recursos diretamente da natureza. Quando precisavam de alimentos, por exemplo, retiravam sementes, frutos e raízes encontrados no lugar em que viviam. Além disso, os seres humanos caçavam, pescavam e, com isso, extraíam também peles e couros de animais para a confecção de vestimentas. Atualmente, o extrativismo é uma atividade de extrema importância. Os povos originários praticam o extrativismo de forma sustentável, com base em conhecimentos ancestrais. Eles dependem dos recursos da floresta para manterem seus modos de vida e contribuem para a sua preservação também. Por sua vez, muitas empresas praticam o extrativismo de maneira predatória, muitas vezes de forma ilegal. Assim, impactam o meio físico, com o corte de vegetação natural, a retirada de camadas de solo, a contaminação e o assoreamento dos cursos-d'água, a redução da biodiversidade etc.

OS USOS ECONÔMICOS DAS ESPÉCIES VEGETAIS

A exploração econômica das florestas pode atender a diversas finalidades. No entanto, nem sempre essa exploração é realizada de forma sustentável, o que provoca alterações nas dinâmicas climáticas, no solo e no hábitat de diversas espécies, comprometendo sua sobrevivência. Nas Florestas Temperadas, por exemplo, a madeira é explorada para abastecer, sobretudo, as indústrias de papel e de móveis. Empresas que atuam nesses setores costumam plantar espécies como o pínus e o eucalipto, que crescem em um curto período. No entanto, essas espécies não são nativas do Brasil e, por isso, podem prejudicar a biodiversidade local. Outro exemplo é a atuação de diversas empresas nacionais e estrangeiras na Floresta Amazônica, muitas vezes feita de forma ilegal, em terras devolutas e indígenas. As espécies vegetais são utilizadas para a fabricação de produtos farmacêuticos e cosméticos. Nesse processo, é comum as empresas utilizarem patentes, que interditam os usos econômicos e culturais que os povos tradicionais fazem das plantas medicinais. Em contrapartida, é possível obter usos econômicos das espécies vegetais, conciliando as características naturais das florestas com as demandas da população local. Um exemplo são os cultivos agroflorestais, que integram plantas de uso econômico à floresta, de modo a promover a recuperação do solo; e os cultivos agroecológicos, que não utilizam agrotóxicos, transgênicos e fertilizantes industriais. As reservas extrativistas também são essenciais para a retirada sustentável de produtos da floresta. Nelas as populações tradicionais conseguem manter seus modos de vida e auxiliam na proteção da biodiversidade ao retirar borracha, açaí, castanha e outros produtos da floresta de maneira sustentável.

A produção industrial

A indústria é uma atividade responsável pela transformação de matérias-primas em diferentes produtos para o consumo humano ou para outras atividades industriais. 
Em nosso dia a dia, utilizamos diversos artigos produzidos em fábricas. Quando ocorre a transformação de matérias-primas em uma fábrica, temos uma atividade industrial. Mas nem toda transformação de matéria-prima é uma atividade industrial. 
Muitas pessoas transformam farinha de trigo em pão ou bolo, abóbora em doce, tecido em roupa, e realizam muitas outras atividades de transformação dentro de sua própria casa ou em pequenas oficinas, de forma artesanal. Desde sua origem, os seres humanos transformam os produtos da natureza em utensílios, peças de vestuário ou ferramentas para auxiliá-los na realização de atividades diárias. Antes da construção das primeiras fábricas, a transformação da matéria-prima era feita de modo artesanal, ou seja, de modo individual, ou organizado em pequenos grupos, usando apenas ferramentas. No modo de produção artesanal, cada pessoa realiza todas – ou quase todas – as etapas da produção de um bem qualquer; às vezes, uma ou outra tarefa é dividida com ajudantes. Por exemplo, na produção artesanal de uma bolsa de couro, o artesão trata, corta, costura e pinta o couro. Já a produção industrial em fábricas caracteriza-se pela especialização das atividades – cada operação é realizada por um trabalhador. Ao realizar uma única tarefa, o trabalhador torna-se mais ágil no que faz, já que não precisa passar de uma tarefa para outra. Com o uso de máquinas e a especialização do trabalhador, a produção industrial pode ser feita em grande escala.

A indústria moderna 

O século XVIII trouxe o modelo industrial moderno, com a introdução das máquinas e da energia mecânica como elementos principais. As fontes de energia (carvão, petróleo e eletricidade) foram incorporadas, gradativamente, de forma a substituir a energia humana e a animal, o que ampliou consideravelmente a produção industrial. A indústria moderna reúne, em um mesmo espaço físico, os trabalhadores, as máquinas e as matérias-primas que serão transformadas para atender ao mercado consumidor. A cadeia produtiva industrial, que engloba desde a etapa de extração da matéria-prima até a constituição de um produto, que, possivelmente, será comercializado ao consumidor final, é bastante diversificada.

Tipos de indústria

Existem diferentes tipos de indústria. Eles são definidos conforme o tipo de atividade, o consumo de energia e o destino da produção.

As indústrias com intenso consumo energético 

Há indústrias que consomem muita energia para processar os recursos naturais e transformá-los em matéria-prima para outras indústrias. Por essa razão, essas indústrias frequentemente se localizam próximo a fontes energéticas, como reservas de carvão mineral ou mesmo usinas hidrelétricas. Uma das que mais consomem energia é a que processa a bauxita, um recurso natural que é transformado em alumínio.
Entre as consequências da presença da indústria nas cidades está a mudança da temperatura no espaço urbano. Como vimos nos capítulos anteriores, ocorrem diferenças de temperatura na cidade em relação ao campo, e a atividade industrial é uma das causas disso, já que ela gera calor, que é liberado na atmosfera.
Tradicionalmente, os grandes depósitos minerais atraem indústrias como as siderúrgicas e as metalúrgicas. Isso explica a presença de indústrias na região do Reno-Ruhr, na Alemanha; na Sibéria ocidental e nos Montes Urais, na Rússia; e no Reino Unido.

As indústrias e o destino da produção

As indústrias podem ser classificadas de acordo com o destino da sua produção. Dependendo da finalidade à qual se destinam os bens produzidos, podemos agrupar as indústrias em dois tipos: Elas podem ser classificadas da maneira a seguir.
• Indústria de base: fabricam materiais que servirão de base para a produção de outras indústrias. Em suas instalações, matérias-primas em estado bruto são transformadas em produtos, por exemplo, dos minerais são produzidas barras e chapas metálicas. 
Utilizam grande quantidade de energia e matérias-primas com o objetivo de transformá-las em produtos que serão utilizados em outras indústrias. São exemplos as siderúrgicas, metalúrgicas e fábricas de celulose. 
As indústrias metalúrgicas, que produzem vários tipos de metal, entre eles o alumínio, o cobre e o ferro; as siderúrgicas, que atuam especificamente com ferro e aço; as petroquímicas, responsáveis pela transformação dos derivados do gás natural e do petróleo. 
• Indústria de bens intermediários: produzem máquinas e equipamentos necessários para a produção de outros bens. Essas indústrias utilizam os bens produzidos pelas indústrias de base. São exemplos as indústrias mecânicas, naval e de autopeças. 
Trata-se de um setor industrial muito diversificado, já que faz parte da categoria que fabrica máquinas, equipamentos elétricos, projetos aeroespaciais e automotivos, de engenharia e construção.
• Indústria de bens de consumo: produzem bens consumidos diretamente pela população. É o setor responsável pela fabricação de produtos que atendem ao consumidor final. Alimentos, vestuário, remédios e calçados, por exemplo, correspondem aos bens de consumo não duráveis. Produtos como automóveis, eletrodomésticos e aparelhos eletrônicos são considerados bens de consumo duráveis. 

As indústrias de alta tecnologia 

As indústrias que fabricam produtos como aviões, computadores, jogos eletrônicos e tecidos sintéticos para a confecção de roupas são classificadas como indústrias de alta tecnologia. Recebem esse nome porque os bens que produzem necessitam de conhecimentos e tecnologias avançados para a sua produção.
Essas indústrias estão associadas à produção de ciência e tecnologia (C&T), já que os bens tecnológicos se transformam
muito rapidamente. As indústrias de alta tecnologia também vendem para outras empresas processos e técnicas de produção, isto é, orientações sobre um modo melhor ou mais fácil de produzir algo.

Os polos tecnológicos

Além da modernização tecnológica, as indústrias de alta tecnologia empregam pessoal altamente capacitado, como cientistas e técnicos especializados.
Os pesquisadores são fundamentais para as indústrias de alta tecnologia: eles são os “cérebros” que criam as novidades. As universidades e os institutos de pesquisa formam os pesquisadores e, por isso, as indústrias de alta tecnologia costumam se localizar junto a essas instituições. Muitas vezes, os testes para aperfeiçoamento dos produtos são realizados nas instalações desses institutos e universidades.
Esse modelo de instalação de indústrias de alta tecnologia é conhecido como polo tecnológico. Nele, as indústrias surgem em torno de centros de excelência, nos quais cientistas altamente qualificados desenvolvem suas pesquisas em busca de novos produtos e materiais.
É comum os governos financiarem, além das empresas de alta tecnologia, a instalação dos polos tecnológicos e se tornarem seus principais clientes. Inovações tecnológicas são caras e dependem de muito investimento. Por isso, elas não ocorrem da mesma forma em todos os países nem em todos os ramos industriais. Os Estados Unidos e o Japão, por exemplo, investem muito em ciência e tecnologia, o que justifica a concentração de indústrias de alta tecnologia nesses países.

O surgimento das fábricas e seu desenvolvimento

O primeiro país do mundo a industrializar-se foi a Inglaterra, em 1769, com a invenção da máquina de fiar hidráulica, isto é, que funciona com a força do movimento da água. A fiação foi a primeira atividade a ser mecanizada. Até então, o trabalho de fiação era feito manualmente ou com máquinas que eram movimentadas pela energia muscular dos trabalhadores ou dos animais.
Na época em que as máquinas eram movimentadas pela energia muscular, a produção de fios estava dispersa por vários lugares, pois as pessoas podiam ter uma máquina de fiar em casa e entregar sua produção às oficinas e tecelagens. Com a invenção das máquinas hidráulicas, contudo, a produção não podia mais ficar espalhada, pois era preciso concentrá- -la em lugares próximos a cursos de água. Desse modo, os trabalhadores também tiveram de se concentrar em um mesmo espaço: nas fábricas. O início da produção em fábricas não mudou apenas o modo e o lugar de trabalhar, muitos outros fatores passaram por transformações. À medida que a produção de tecidos aumentava, era necessário aumentar também a produção de matéria-prima, no caso, a lã. Para isso, a criação de ovelhas foi intensificada. Desse modo, mais lã poderia ser transformada em fios, que, por sua vez, seriam transformados em tecidos. A ampliação da criação de ovelhas, no entanto, exigia mais pastagens, o que levou ao aumento das áreas de pasto.
Além das fábricas, o desenvolvimento dos meios de transporte foi fundamental para que os produtos chegassem cada vez mais longe. Aos poucos, as fábricas também começaram a se instalar em outros países e a promover grandes mudanças nos modos de produção do mundo todo. Com o passar do tempo, foram desenvolvidas máquinas que funcionavam com outras técnicas: primeiro, com o vapor obtido por meio da queima do carvão; depois, com petróleo; mais tarde, com energia elétrica. Essas transformações, aliadas à expansão das indústrias, levaram à formação de uma ampla rede de comércio e serviços e provocaram mudanças no espaço geográfico. Quando os motores a explosão não existiam, as fábricas tinham de localizar- -se próximo às jazidas de carvão, em áreas próximas a portos ou perto de ferrovias. Com a invenção dos motores a explosão e, depois, da energia elétrica, tornou-se possível instalar fábricas em muitos outros lugares do planeta, pois ficou mais fácil transportar a energia a longas distâncias. Atualmente, uma indústria têxtil, por exemplo, pode estar localizada em uma região cujas condições naturais não favorecem o cultivo de algodão. No entanto, é imprescindível que tenha acesso à energia e a um bom sistema de transporte e disponibilidade de mão de obra. Além disso, a indústria têxtil não depende só da produção de fibras naturais, como o algodão, pois parte dos tecidos é feita com uma porcentagem de fios sintéticos, como o náilon, que é produzido a partir do petróleo.
Os processos de produção nas fábricas também passaram por mudanças ao longo do tempo. Desde as últimas décadas do século XX, por exemplo, em muitos setores das fábricas os trabalhadores foram substituídos por robôs movidos a energia elétrica. Isso aconteceu sobretudo onde as condições de trabalho são perigosas para a saúde, como nos setores de solda e de pintura, ou onde as operações são muito repetitivas. No entanto, com a diminuição do número de trabalhadores nas fábricas, cresceu o desemprego em várias regiões industriais do planeta.
Mudanças relacionadas à industrialização Independentemente do que uma fábrica produz, ela precisa de uma estrutura básica para funcionar: produção e distribuição de energia, saneamento básico (oferta de água encanada e coleta de esgoto e de lixo), sistemas de transporte e telecomunicações, entre outros. Esses elementos não estão disponíveis em todos os lugares nem na mesma quantidade e qualidade: eles se concentram principalmente nas cidades ou em torno delas. Nas cidades e em suas redondezas, o mercado consumidor é maior, há mais trabalhadores qualificados, bancos, comércio, serviços de alimentação, etc. Outro fator que influi na escolha do lugar de instalação de uma fábrica é a facilidade para obter matérias-primas e escoar os produtos acabados, ou seja, levá-los do ponto de produção até os pontos de distribuição.
A instalação de uma fábrica pode desencadear uma série de transformações. As obras de infraestrutura e construção da fábrica abrem postos temporários de trabalho para pedreiros, pintores, marceneiros, encanadores, eletricistas, técnicos, engenheiros, entre outros profissionais. Com o início da produção, são contratados trabalhadores do próprio município e de lugares mais distantes, que podem se mudar para próximo dela, ou ainda pessoas de municípios vizinhos. Com isso, o número de habitantes desse lugar tende a aumentar, o que movimenta a economia local. Essa movimentação pode gerar um efeito positivo na economia do município e elevar as vendas dos comerciantes.
Desse modo, o dono da farmácia pode reformar seu ponto, as padarias e os supermercados podem vender mais, surgem novas lojas, e com isso mais gente consegue emprego. E como muitos desses novos empregos exigem melhor formação do trabalhador, surgem novas escolas. Outro fator de crescimento é a atração de várias empresas prestadoras de serviços: manutenção de máquinas, fornecimento de refeições, segurança, assistência técnica em informática, corretora de seguros e novas agências bancárias, por exemplo. Esse crescimento exigiria a expansão dos serviços públicos: água, energia elétrica, hospitais, escolas, etc. – ou seja, novas obras, e o ciclo recomeçaria. 
Algumas casas do centro, onde as pessoas moravam, aos poucos se transformariam em pontos comerciais: lanchonetes, farmácias, papelarias, lojas de roupas, etc. Outras casas seriam demolidas e, em seu lugar, surgiriam edifícios residenciais e comerciais, estacionamentos, postos de gasolina, etc. No entanto, assim como a instalação de indústrias promove uma grande transformação no espaço geográfico e na vida das pessoas, o fechamento de uma fábrica também provoca grandes mudanças.

A distribuição industrial no espaço geográfico 

O processo industrial é complexo e tem início com a extração da matéria-prima, que pode ser vegetal, animal ou mineral. Mesmo compondo o setor extrativo, quando essa atividade é realizada por meio de equipamentos tecnológicos e maquinários, considera-se pertencente ao setor secundário da economia, chamado de indústria extrativa. 
Esses aglomerados de fábricas surgem com o objetivo de reduzir custos de produção. À medida que as indústrias de variados setores se instalam próximas umas das outras, em áreas com rede de transportes e infraestrutura adequadas, ampliam-se os lucros e a competitividade comercial. 
Outros fatores também são fundamentais para a instalação industrial em determinadas localidades, como a oferta de mão de obra, os incentivos fiscais (redução de impostos) e financeiros e a proximidade com o mercado consumidor. 
A concentração industrial estimula o crescimento e a diversificação econômica local. Atividades ligadas ao comércio e à prestação de serviços tendem a crescer, atraindo novos trabalhadores. Em paralelo, a infraestrutura urbana precisa ser ampliada para que possa atender a essa nova demanda populacional.

O comércio e os serviços ao longo da história

Tanto o comércio quanto os serviços são fundamentais para que os produtos agrícolas e industriais cheguem às pessoas que os consomem. Tudo que é produzido na agricultura, na pecuária e nas indústrias circula nas atividades de comércio e serviços. O comércio envolve a compra e a venda dos mais variados tipos de mercadorias, como alimentos, roupas, eletrodomésticos, etc., produzidos pelas atividades agropecuárias e industriais, ou que foram extraídos diretamente da natureza, como os minérios. Já os serviços englobam atividades relacionadas a transportes, comunicação, informática, educação, saúde, turismo, engenharia e muitas outras que usamos em nosso dia a dia. Nesse caso, em vez de pagar por uma mercadoria, as pessoas pagam pelos serviços que são prestados. Ao longo da história, os serviços tiveram diversificação e crescimento mais lento que o comércio. O crescimento e a diversificação dos serviços e do comércio acompanharam, principalmente, o processo de urbanização, porque é nas cidades que essas atividades estão mais concentradas. Atualmente esses dois ramos de atividades estão estruturados de forma muito diversificada pelos países e regiões.

Além disso, o comércio e os serviços são os maiores geradores de emprego e renda na economia mundial. Observe, no gráfico a seguir, o exemplo brasileiro. É importante perceber, no entanto, que as atividades agrícolas, industriais e de comércio e serviços estão integradas. As atividades agrícolas promovem crescimento nos setores industrial, comercial e de serviços porque compram e utilizam muitas máquinas, equipamentos de irrigação, sementes selecionadas, etc. Dispõem ainda de ampla variedade de serviços, como transportes, comunicações e contabilidade.

O comércio pode ser feito no atacado e no varejo. Em geral, grandes lojas e supermercados, por exemplo, compram de indústrias e de produtores agrícolas no atacado, isto é, em grandes ou médias quantidades, e vendem para os consumidores finais em menor quantidade, no varejo. Os serviços também envolvem atividades de diversas escalas. Por exemplo, no setor de transportes, existe tanto o motociclista que faz entrega de documentos de uma empresa a outra dentro de uma cidade, como carros e caminhões que levam produtos aos consumidores localizados no interior de um município ou grandes navios que transportam contêineres entre os continentes, viajando milhares de quilômetros. A infraestrutura voltada para o comércio e os serviços é mais densa onde há maior concentração de consumidores. Nesses lugares, essas atividades são mais diversificadas e sofisticadas, o que explica a concentração de shopping centers, hospitais e faculdades, entre outros, em determinadas áreas das cidades.

Para facilitar o fluxo de mercadorias e informações, o desenvolvimento do comércio exige a implantação de várias obras de infraestrutura de transportes – avenidas, rodovias, ferrovias, portos, armazéns, etc. – e de telecomunicações, ou seja, a implantação de várias atividades ligadas ao setor de serviços. Por isso, o comércio e os serviços foram, ao longo da história, grandes impulsionadores das transformações do espaço geográfico em escala local, regional, nacional e mundial.

Do comércio local ao mundial

O comércio é uma atividade muito antiga na história da humanidade, que se expandiu com o desenvolvimento da agricultura e o surgimento das primeiras cidades. O aperfeiçoamento das técnicas de cultivo de alimentos e de criação de animais permitiu a produção de excedentes, o que tornava possível alimentar um número maior de pessoas. Permitiu também a permanência de grupos humanos em um mesmo local, pois não era mais necessário sair em busca do que comer. Assim, como nem todos precisavam mais se preocupar com a produção de alimentos, as pessoas passaram a diversificar os tipos de atividades desenvolvidas, dedicando-se à manufatura, ao comércio e aos serviços de administração pública, entre outras atividades urbanas. Nas primeiras sociedades sedentárias, era comum trocar um produto por outro ou por um serviço. Quem cultivava trigo, por exemplo, podia trocá-lo por leite ou pelo conserto de uma ferramenta. Com o crescimento das cidades e a diversificação do comércio e dos serviços, o dinheiro foi criado para intermediar as trocas.

Ao longo do tempo, as atividades comerciais foram se dando também entre diferentes lugares. Desde a Antiguidade, existiam muitas rotas comerciais envolvendo grandes percursos por Europa, África e Ásia, apesar da precariedade dos transportes.

Na época das primeiras cidades, a domesticação de animais colaborou bastante para a expansão do comércio ao permitir o transporte de maior volume de mercadorias. O boi, o cavalo, o camelo e outros animais passaram a ser usados como meios de transporte, o que permitiu o surgimento das primeiras caravanas de mercadores, que se deslocavam a grandes distâncias. Nesse período histórico, a expansão do comércio promoveu, paralelamente, a expansão de serviços de transportes e a construção de portos com suas diversas atividades de apoio. Por volta de 2 000 a.C., a navegação com barcos a vela deu grande impulso ao comércio, mas o grande avanço foi a invenção da moeda, cerca de 650 a.C., em Lídia, região que se localiza no atual território da Turquia. Nas décadas seguintes, ela espalhou-se rapidamente para o restante da Europa e da Ásia. Foi com as civilizações grega e romana que o comércio atingiu seu ápice durante a Antiguidade. No final desse período, o mar Mediterrâneo, que se transformou em um emaranhado de rotas comerciais controladas por Roma, transformou-se na mais importante região comercial do mundo.

Entre os séculos V e XV, o comércio perdeu importância e capacidade de expansão na Europa, e se realizava predominantemente em escala local, em feiras. Nelas, os camponeses comercializavam o pouco que sobrava depois de retirados os produtos que alimentavam a família e os que tinham que ser entregues como pagamento ao dono das terras onde trabalhavam.

Entretanto, nesse mesmo período, desenvolviam-se na África e na Ásia importantes rotas de comércio, através de inúmeras caravanas. Na África, elas atravessavam o deserto do Saara para realizar comércio de mercadorias entre os povos do norte do continente, banhado pelo Mediterrâneo, e os do sul do deserto. Cereais, ouro, marfim, sal e especiarias (cravo, canela, pimenta e outros) eram transportados aos portos do Mediterrâneo, organizando importantes rotas comerciais. Além desses produtos, pessoas escravizadas também eram transportadas e comercializadas.

A partir do século XV, as cidades europeias voltaram a ter importância como centros de poder, e as rotas comerciais foram se ampliando gradativamente, envolvendo também o aumento do volume de comércio com a África e vastas extensões da Ásia. Entretanto, a grande expansão do comércio e dos serviços em escala mundial ocorreu a partir do final do século XV, quando vários países europeus, entre os quais se destacavam Portugal e Espanha, passaram a realizar diversas expedições – as chamadas Grandes Navegações – e criaram novas rotas de comércio que atingiram todos os continentes, o que deu origem ao período conhecido como capitalismo comercial.

Essa expansão do comércio propiciou um grande acúmulo de riquezas em ouro e prata – as moedas da época – nas mãos dos comerciantes europeus. Finalmente, no século XX, com o grande avanço nas técnicas de produção agrícola e industrial e nos transportes, o comércio e os serviços se expandiram em escala mundial envolvendo maior quantidade e variedade de produtos, atividades e países.




A produção agrícola

A maior parte dos alimentos que consumimos e das matérias-primas de que necessitamos para produzir os mais variados tipos de produtos é obtida por meio da agricultura e da pecuária. Essas atividades são desenvolvidas de modos muito diferentes nas mais diversas regiões do planeta. 
Existem propriedades rurais pequenas, médias e grandes, que estão localizadas perto ou longe das cidades. Algumas delas empregam muitos trabalhadores, outras, poucos. Além disso, há diferença quanto à utilização de máquinas. Em alguns casos, por exemplo, as máquinas chegam a realizar quase todo o trabalho. Também há diferenças relacionadas às técnicas: algumas propriedades usam técnicas modernas, outras mantêm técnicas tradicionais, e há ainda aquelas que misturam ambas. As propriedades rurais podem dedicar-se ao cultivo de um ou mais produtos, à criação de animais ou às duas atividades ao mesmo tempo.
Todas essas características imprimem marcas diferentes em cada lugar. Portanto, o nível de desenvolvimento tecnológico, as condições socioeconômicas, os hábitos alimentares e os aspectos ambientais de cada lugar, entre outros fatores, influenciam a configuração das atividades agropecuárias no espaço geográfico. 

Evolução da agricultura 

O desenvolvimento da agricultura ocorreu de forma lenta ao longo da história. Uma das primeiras técnicas utilizadas nessa atividade foi o fogo. Os povos nativos que viviam no território que hoje faz parte dos Estados Unidos utilizavam o fogo para controlar o crescimento de algumas espécies vegetais. Novas ferramentas passaram a incorporar o trabalho no campo, sendo produzidas, a princípio, com ossos de animais e, posteriormente, evoluindo para o uso de pedras, bronze e ferro. A irrigação também trouxe grande salto para a expansão das terras agrícolas. Por volta de 5500 a.C., povos da Mesopotâmia passaram a canalizar água de rios para as áreas agrícolas. 
Os romanos também contribuíram com a agricultura, promovendo, sobretudo, uma evolução no sistema de irrigação baseado em aquedutos. Essas construções permitiam transportar água por dezenas de quilômetros em estruturas sobre o solo ou por canais subterrâneos. Além de favorecerem a agricultura, os aquedutos serviam de mecanismo de abastecimento de água para as cidades romanas
O início do desenvolvimento da agricultura e da pecuária O desenvolvimento da agricultura e da pecuária teve início há cerca de 10 mil anos. Até então, os grupos humanos não conheciam as técnicas de cultivo nem sabiam domesticar os animais, e viviam da caça e da coleta. Quando havia um inverno rigoroso ou períodos de seca muito prolongados, as pessoas se deslocavam para regiões onde as condições naturais fossem melhores para a obtenção de alimentos. Esses povos, portanto, não tinham habitação fixa, ou seja, eram nômades.
É provável que, com o passar do tempo, os seres humanos tenham observado que novas plantas cresciam onde caíam os frutos das árvores ou onde eram jogados os caroços das frutas e, a partir dessa observação, tenham começado a enterrar as sementes. Aos poucos, alguns grupos passaram a domesticar animais e a aumentar, em uma mesma área, a concentração de plantas que forneciam alimentos, começando, assim, a desenvolver a agricultura e a pecuária. Quando as condições naturais eram favoráveis, a produção de alimentos gerava um excedente que podia ser armazenado. Com isso, esses povos passaram a ter a possibilidade de se fixar permanentemente em um mesmo lugar, tornando-se sedentários. O desenvolvimento da agricultura, da pecuária e o aumento na produção de alimentos também permitiram a divisão de algumas tarefas: alguns plantavam, outros produziam ferramentas, roupas e utensílios; alguns eram comerciantes, outros eram sacerdotes, dirigentes, etc. Isso fez surgir os primeiros núcleos urbanos. Ao longo da história, os agricultores procuraram desenvolver novas técnicas para obter aumento de produção e, além disso, para que o cultivo não dependesse tanto das condições naturais. Foi assim que surgiram a utilização de animais para arar o solo (observe a imagem abaixo), a construção de canais de irrigação e inventos como arados, enxadas, carroças e moinhos, desenvolvidos lentamente no decorrer de séculos, até chegar às modernas máquinas utilizadas hoje em dia.

Tipos de agricultura 

Desde o início do desenvolvimento da agricultura, diferentes modos de produção foram implementados. Considerando o tamanho da propriedade, o volume, o destino da produção e a mão de obra e técnicas utilizadas, pode-se dividir as praticas agrícolas em dois grandes grupos: agricultura de subsistência e agricultura comercial

Agricultura de subsistência 

Nesse tipo de agricultura, o produtor utiliza pequena extensão de terra para produzir alimentos, com o objetivo principal de sustento da própria família; os excedentes da produção são destinados para comercialização. É baseado na policultura (diversidade de culturas em uma mesma área) e na utilização de ferramentas manuais, com a presença de máquinas, eventualmente. 

Agricultura comercial 

Nesse tipo de agricultura, que visa a comercialização da produção, são utilizados equipamentos e técnicas que buscam produzir grandes quantidades de alimentos, como maquinários modernos, fertilizantes químicos e pesticidas. A agricultura comercial é marcante nas grandes propriedades de terra e com plantio de uma única cultura (monocultura). Essa prática geralmente permite que o preço dos gêneros agrícolas fique mais barato, mas, como utiliza uma grande quantidade de máquinas em praticamente todas as etapas de produção, o preço final pode sofrer oscilações devido ao valor dos combustíveis. Na agricultura comercial, a tendência é a produção de gêneros agrícolas para a venda no mercado internacional, sobretudo nas grandes propriedades. A produção nesse tipo de agricultura é também destinada às indústrias de processamento. Toda a cadeia produtiva, passando pela produção dos gêneros agrícolas no espaço rural, pelos serviços e técnicas aplicadas, pelos equipamentos tecnológicos utilizados e pelo sistema de venda em escala mundial, é chamada de agronegócio.

Sistemas agrícolas 

É possível identificar diferentes formas de uso da terra para a agricultura. Os conhecimentos adquiridos e acumulados desde o início da prática agrícola até os dias de hoje foram transformados em métodos típicos em cada localidade, sendo denominados sistemas agrícolas. Essa variedade de técnicas de plantio depende de elementos como características naturais locais, acesso à tecnologia e capital, técnicas adotadas e também tradições regionais. É comum que, em diversos países em desenvolvimento que não se industrializaram, os sistemas agrícolas tenham maior força humana de trabalho – agricultores envolvidos nas etapas de produção agrícola. Muitas vezes, são sistemas produtivos herdados do período colonial, caracterizados por latifúndios monocultores com a produção destinada à exportação. Em determinadas áreas do campo, podem ser encontrados trabalhadores que realizam o plantio de forma itinerante, ou seja, mudam de local sempre que percebem redução na produtividade. O sistema de agricultura itinerante ou de roça, como costuma ser chamado, consiste no corte de parte da vegetação, deixando-a sobre o solo até que o material seque com o calor do Sol. Em seguida, ateia-se fogo para eliminar troncos e galhos. Nessa técnica, o agricultor é obrigado a trocar de local sempre que a produtividade agrícola for reduzida. Nos países industrializados, é marcante a presença da agricultura mecanizada. Essa agricultura é realizada por um pequeno número de profissionais, que têm conhecimentos e habilidades para o manuseio de equipamentos e maquinários de alta tecnologia. 

Natureza e agricultura 

As formas de relevo, o tipo de clima e de solo e a proximidade ou não dos rios são fatores naturais que estão relacionados ao surgimento de espécies de plantas e animais em todo o planeta. E como cada espécie é adaptada a seu ambiente natural, exige diferentes técnicas de cultivo e criação. A partir do século XV, com as Grandes Navegações, intensificou-se a troca de espécies animais e vegetais entre as mais diversas regiões e ecossistemas do planeta. Nessa época, a importação de plantas de ambientes diferentes só acontecia quando as condições de solo, clima e relevo eram parecidas com as do lugar de origem, para possibilitar a adaptação.
No Brasil, desde o início do período colonial, foram introduzidas diversas espécies de animais e vegetais que até então não existiam nesta parte do planeta. Por isso, mesmo alimentos que são muito comuns no Brasil não são originários daqui, como os alimentos da refeição descrita acima. Além deles, alho, louro, hortelã, alface, manga, coco, cana-de-açúcar, galinhas, porcos, vacas e cabras são exemplos de vegetais e animais utilizados como alimento em nosso país, mas que foram trazidos de outras terras e se adaptaram bem às condições naturais do Brasil.
Outra imposição da natureza sobre a agricultura era a necessidade de plantar e colher em determinadas épocas. Embora existam plantas que dependem de uma quantidade menor de água que outras, se não houver irrigação, não adianta preparar o solo e semear um produto na estação seca, porque as sementes precisam de água para germinar. Com o passar do tempo, no entanto, foram desenvolvidos meios de adaptar as plantas a climas diferentes daqueles onde se originaram. Aos poucos, os seres humanos têm desenvolvido tecnologias para tratar o solo, utilizado sistemas de irrigação e modificado sementes em laboratório com o objetivo de produzir vegetais mais adaptados a certas condições do ambiente. É por isso que a oferta e os preços das frutas em feiras e supermercados mudam ao longo do ano. A “fruta da época” é sempre a mais abundante e a mais barata, porque não pode ser armazenada por longos períodos e porque, em geral, exige menos tecnologia em sua produção. Já os cereais podem ser estocados, e sua oferta costuma ser constante o ano inteiro.
Embora hoje exista a tecnologia necessária para driblar as limitações que a natureza impõe ao cultivo de alimentos e à criação de animais, será que todos têm acesso igual a esses recursos? O fato de a tecnologia existir não significa que ela esteja disponível para todos. O desenvolvimento e a aplicação de técnicas avançadas requerem altos investimentos em pesquisa e equipamentos. E para tornar essas técnicas mais acessíveis à população são necessários empréstimos e financiamentos para pesquisar e comprar materiais, além de redução do preço de equipamentos e estímulo à troca de informações entre os países e entre as regiões de um país.

A mecanização agrícola 

A mecanização da agricultura iniciou-se nos Estados Unidos, entre o fim do século XIX, com pesadas máquinas a vapor, e as primeiras décadas do século XX, com os tratores equipados com motores que utilizavam gasolina ou óleo diesel. Essas máquinas foram desenvolvidas para realizar alguns dos trabalhos que eram executados por animais e pelos agricultores. A utilização de máquinas foi um importante fator de desenvolvimento da agropecuária: permitiu que a preparação do solo, o plantio e a colheita fossem realizados em áreas cada vez maiores, utilizando cada vez menos mão de obra. Desse modo, a mecanização da agricultura propiciou um grande aumento da produtividade e da produção. Aos poucos, a s máquinas usadas no campo foram aperfeiçoadas e passaram a ser usadas em diferentes países e regiões do planeta. Isso ocorreu de forma diferenciada nos vários lugares e gerou diferentes consequências, de acordo com a situação de cada um deles.
Em países e regiões onde setores da economia como indústrias, comércio e serviços recebiam investimentos – portanto, estavam em crescimento – os empregos nas áreas urbanas aumentaram, e muitos trabalhadores dos setores agrícolas passaram a viver nas cidades. Na América do Norte, por exemplo, a mecanização supriu a falta de trabalhadores na agricultura. No Brasil, uma das principais consequências da mecanização foi a diminuição dos postos de trabalho nas áreas rurais. O desemprego no campo obrigou muitas pessoas a migrar para as cidades. No entanto, a maioria dos trabalhadores agrícolas que se dirigiam às cidades não encontrava emprego. Eles tentavam sobreviver com um subemprego e, em geral, suas condições de moradia eram precárias. Esse movimento de migração do campo para a cidade intensificou-se no Brasil principalmente entre 1970 e 1990, quando alguns produtores rurais passaram a utilizar também sistemas de irrigação e seleção de sementes, entre outras técnicas modernas de produção.
Além disso, nessa mesma época, aumentou a concentração de terras, ou seja, as grandes propriedades ficaram ainda maiores e muitos pequenos agricultores perderam suas propriedades. Alguns deles mudaram-se para lugares mais distantes na própria zona rural, mas a maioria foi para as cidades. Essa intensa migração do campo para as cidades, ocorrida num intervalo de tempo pequeno, chama-se êxodo rural. Observe, na tabela ao lado, o crescimento da população urbana entre 1970 e 2017. O crescente uso de máquinas na agricultura, no entanto, não levou à extinção das técnicas de cultivo tradicionais. Muitos agricultores preferem manter seus métodos de cultivo, entre outros motivos, porque eles permitem usar adubos e insumos de modo reduzido. Além disso, alguns grupos também preservam suas técnicas de cultivo como forma de manter sua cultura e suas tradições.
Nas regiões agrícolas onde as técnicas tradicionais ainda são utilizadas, é necessário empregar uma grande quantidade de trabalhadores. A principal consequência dessa situação é uma produção em pequena quantidade, com produtividade muito inferior à das regiões agrícolas que utilizam técnicas modernas. No caso de regiões onde há mais terras disponíveis para a agricultura, é possível aumentar a produção ampliando a área cultivada, o que gera mais empregos. Mas se não há muitas terras disponíveis e é preciso aumentar a produção, a única saída é aumentar a produtividade por área cultivada, com a modernização, ou seja, a utilização de tratores, de sistemas de irrigação e de sementes selecionadas, o combate a pragas e a adubação.
Essa mudança diminui o número de empregos ligados à produção agrícola, mas gera outros em indústrias e empresas de prestação de serviços, que exigem maior qualificação dos trabalhadores.

 A AGRICULTURA  E O AMBIENTE 

A mudança dos seres humanos de uma situação nômade para sedentária foi possível por causa do desenvolvimento do cultivo agrícola e da domesticação de animais. Essas práticas iniciaram no período Neolítico e possibilitaram produzir os alimentos no mesmo lugar, mudando as atividades cotidianas e provocando uma grande transformação cultural. Ao longo dos séculos, para que os seres humanos pudessem desenvolver e ampliar a produção agrícola, foi preciso desmatar áreas de vegetação nativa, que originalmente eram hábitats de diferentes espécies animais e vegetais. Assim, a sociedade organizou os espaços de distintas formas, tornando-se um dos principais agentes transformadores da natureza.

A PRODUÇÃO AGRÍCOLA E AS PAISAGENS 

Atualmente, com a grande demanda por matéria-prima decorrente do consumo e da produção industrial, extensas áreas agrícolas de monocultura – cultivo de uma única espécie vegetal – utilizam alta tecnologia de maquinários e de monitoração, além de outros insumos agrícolas e sementes modificadas geneticamente com o objetivo de aumentar a produtividade e elevar os lucros. No entanto, esse tipo de produção agrícola apresenta consequências socioambientais negativas, como redução de biodiversidade, empobrecimento do solo, contaminação dos cursos de água, diminuição da demanda de mão de obra e, consequentemente, aumento do desemprego, ampliação da concentração de terras nas mãos de poucas pessoas, entre outras. A policultura pode ser entendida como o cultivo de diversas espécies em uma área. Geralmente, ela é desenvolvida em pequenas propriedades e emprega mão de obra familiar, ou seja, os pequenos proprietários trabalham na produção, contando apenas com o trabalho da família, sem contratar pessoas. Para aumentar a produtividade, mantendo a fertilidade e evitando a perda do solo por processos erosivos, foram resgatadas algumas técnicas agrícolas tradicionais e outras foram desenvolvidas. O rodízio de cultivos agrícolas em uma mesma área, por exemplo, dificulta a disseminação de pragas, mantém a fertilidade do solo e, dessa forma, aumenta a produtividade. 
Um exemplo de técnica agrícola tradicional é a rotação de culturas. Essa técnica consiste em alternar sazonalmente espécies vegetais em uma mesma área agrícola, deixando o terreno ficar em pousio durante um período para recuperar os nutrientes. Esse sistema de rodízio é utilizado na Europa desde o período Neolítico, assim como na América, pelos povos indígenas, antes da chegada dos colonizadores europeus. Analise o esquema a seguir, que mostra um exemplo de rotação de três culturas em um período de quatro anos. 
Outra técnica tradicional que possui elevada produtividade é a de terraceamento. Essa técnica desenvolve o plantio em curva de nível, uma construção em estruturas que considera a altitude do relevo e contribui para a infiltração da água, evitando a erosão e o esgotamento dos solos.
A produção agrícola e o solo Com base na observação e na experimentação, os seres humanos perceberam que algumas áreas eram mais favoráveis a determinados plantios do que outras. Essas condições variam de acordo com o regime de chuva, a insolação e as características dos solos, por exemplo. Conhecer essas áreas permitiu aos seres humanos encontrar as características mais adequadas a cada plantio e, dessa forma, aumentar a produção de alimentos. Desde o século passado, as preocupações com os impactos da agricultura no ambiente aumentaram. Por isso, é preciso avaliar, antes da implementação de um cultivo, as fragilidades e os potenciais das características físicas naturais de cada local de cultivo. O solo é um dos recursos naturais mais importantes para a agricultura e passa por diferentes etapas: de solo jovem a solo maduro, em razão do desenvolvimento das linhas dos horizontes. Os horizontes são as camadas dos solos que resultam da interação das rochas tanto com os processos de intemperismo e sedimentação quanto com a presença de matéria orgânica.

A correção do solo para o plantio 

O solo pode ser um elemento potencializador da produção agrícola. Por isso, ao estudá-lo e classificá-lo, pode-se descobrir a capacidade de produção e sua fertilidade para um ou outro tipo de produto agrícola e, com isso, estabelecer a melhor maneira de utilizá-lo. Alguns locais não possuem solos adequados para o cultivo agrícola, sendo necessário adicionar produtos naturais ou químicos para corrigi-los. É o que ocorre, por exemplo, quando o solo é muito ácido – nessas situações, é comum a aplicação de calcário, que reduz a acidez do solo, aumentando a produtividade agrícola. 
A expansão da agropecuária, com o uso intensivo do solo, tem acarretado diversos problemas ambientais, como o desmatamento, a perda de diversidade, a erosão e a desertificação. O uso inadequado do solo pode inviabilizar novos cultivos e, também, impossibilitar a criação de animais, colocando em risco o desenvolvimento da agropecuária. O solo é um recurso de difícil recuperação e pode levar anos para que seja corrigido. Um exemplo de processo erosivo bastante agressivo, a voçoroca, provocado pela infiltração profunda de água em solos sem cobertura vegetal adequada, chegando a atingir lençóis freáticos.
A agricultura também pode contribuir para acelerar o processo erosivo, como na aração da terra, que fragmenta o solo e elimina sua resistência natural, e no uso de maquinário pesado, que compacta a camada superficial do solo, deixando-o exposto ao impacto das chuvas e provocando a perda de matéria orgânica. A compactação do solo faz com que as raízes fiquem restritas às camadas mais superficiais do terreno, prejudicando a absorção de nutrientes e de água. Outro problema é o aquecimento da parte superior do solo, o que também impede a absorção de água e de nutrientes pelas raízes. Já o processo de desertificação ocorre apenas em áreas de climas quentes e secos (nas regiões áridas e semiáridas). Esse processo de degradação dos solos é resultado da ação antrópica, que, por meio do desmatamento, causa impactos no regime das chuvas, intensifica os processos erosivos, altera a fertilidade do solo e pode promover a extinção de espécies da fauna e da flora da área afetada (podendo causar a perda total ou parcial do potencial biológico da terra).
Os efeitos da desertificação são muito graves e variados: a biodiversidade local da fauna e da flora são afetadas, há redução da produção de alimentos e das atividades econômicas locais, há maior vulnerabilidade para o surgimento de novas doenças e ocorre uma redução das reservas de água. No mundo, existem algumas áreas com risco de sofrer com o processo de desertificação, por causa da vulnerabilidade de diferentes origens. Identifique, no mapa a seguir, quais são essas áreas e o porquê da sua vulnerabilidade.

A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL 

A atividade agrícola realizada sem planejamento adequado pode causar desequilíbrios ao ambiente. O excesso de agrotóxicos e o desmatamento, por exemplo, provocam poluição dos corpos de água, erosão do solo e migração forçada de espécies de animais. De maneira geral, uma alternativa para reduzir os impactos no solo e no ambiente é a agricultura orgânica, pois esse processo produtivo integra melhor a produção, as características do ambiente e as técnicas menos nocivas.

Setor terciário: comércio e serviços

O setor terciário da economia abrange muitas atividades. Elas podem ser divididas em dois subsetores: serviços de mercado (comércio, transportes, turismo, comunicação e imobiliário, entre outros) e serviços não mercantis (administração pública, coleta de lixo, assistência social, etc.). Alguns serviços podem ser classificados em ambos os subsetores, como nos campos da educação (escolas, faculdades, cursos e outros) e da assistência médica. O desenvolvimento da industrialização e o crescimento das cidades influenciam diretamente no avanço do setor terciário. No Brasil, esse processo foi intensificado a partir da década de 1970, quando a participação dos serviços na economia nacional era de 52,2%. Em 2020, segundo dados do IBGE, a participação foi de 72,8%, o que revela a grande relevância desse setor para a economia do país.

O comércio

Praticamente todos os produtos gerados por atividades agropecuárias, industriais e extrativas são comercializados. O comércio é a atividade de compra e venda de produtos, como alimentos, roupas e calçados. 
O comércio é uma atividade milenar, até mais antiga que a agropecuária, realizada por diferentes povos na história humana. Povos pré-históricos já trocavam bens e serviços uns com os outros, bem antes da invenção do papel-moeda. 
A atividade comercial evoluiu ao longo do tempo, podendo ocorrer em escala local (no bairro ou no município) ou até mesmo global (entre pessoas, governos e empresas de nações diferentes).
Essa atividade pode ocorrer tanto entre pessoas, empresas e governo de um país (comércio interno) como entre pessoas, empresas e governos de diferentes países (comércio exterior ou internacional).
A venda de produtos para outro país chama-se exportação. A compra de produtos de outro país chama-se importação. Todo produto feito para ser vendido, ou seja, que é comercializado, recebe o nome de mercadoria.
A atividade do comércio é classificada da maneira a seguir.
Comércio varejista: caracteriza-se pela venda de mercadorias diretamente aos consumidores finais. Esse tipo de comércio, de modo geral, está localizado próximo aos locais de maior circulação da população a fim de atender diretamente ao consumidor, como na área central das cidades e nas ruas de maior movimentação dos bairros. Pode ser encontrado também em estabelecimentos como shoppings centers e galerias comerciais, que costumam reunir grande número de frequentadores.
Comércio atacadista: caracteriza-se pela venda de mercadorias em grande quantidade realizada entre o fabricante e os estabelecimentos comerciais, como lojas ou supermercados. Há também grandes lojas de atacado que vendem aos consumidores finais.
A atividade de prestação de serviços consiste no trabalho realizado por alguma pessoa ou empresa. Os advogados, professores, mecânicos e médicos são exemplos de prestadores de serviços. As escolas, os hospitais, as academias de ginástica são exemplos de empresas que prestam serviços aos consumidores.
Quando as transações comerciais ocorrem com a venda de produtos ou bens para outro país, são chamadas de exportação. Quando é realizada a compra, dá-se o nome de importação. É importante para a economia nacional que a balança comercial – que é o saldo financeiro entre produtos e bens exportados e importados – seja positiva, isto é, que o valor das exportações supere o das importações. 

Comércio, transportes, comunicações: a integração dos lugares 
Comércio e prestação de serviços são atividades econômicas que integram o setor terciário. O conjunto de atividades que fazem parte do grupo de serviços é muito diversificado: financeiro (bancos), transporte, comunicações, lazer, turismo, educação (escolas, faculdades, cursos de línguas e outros), administração pública, correios, segurança, seguros, coleta de lixo, informática, propaganda e  marketing, advocacia, trabalho doméstico, saúde, oficina mecânica, entre outros. Essas são as atividades que atualmente empregam a maior quantidade de trabalhadores no Brasil e em muitos outros países.
Há muito tempo, o comércio, os transportes e as comunicações exercem um papel importante na integração entre os diversos lugares da Terra. Essas atividades permitiram que sociedades com modos de vida diferentes trocassem informações e experiências em relação a técnicas, crenças religiosas, história, alimentação, leis, maneiras de se relacionar com a natureza, etc. Essas trocas provocaram transformações nos modos de vida das diferentes sociedades e também possibilitaram o domínio de um povo sobre outro.

Os transportes

Um importante fator para o desenvolvimento de um país é uma rede de transportes eficiente. Cada vez mais, é necessária uma boa rede de transportes para as pessoas e os produtos se deslocarem. Os transportes são, portanto, essenciais ao comércio, uma vez que praticamente todas as mercadorias produzidas em escala industrial são comercializadas em abrangência nacional e até mesmo internacional e, portanto, precisam ser transportadas para os mais distantes locais do Brasil e do mundo.
A Primeira Revolução Industrial também influenciou diretamente o sistema de transportes em todo o mundo. Por meio da máquina a vapor e do uso do carvão, a locomotiva (inventada em 1804) e o sistema ferroviário (expandindo a partir de meados do século XIX em diversos países, inclusive no Brasil) transformaram o comércio internacional. Com menor tempo de percurso entre locais distantes e, consequentemente, redução de custos no comércio, sobretudo intercontinental (entre continentes), novas relações foram estabelecidas entre as nações.
Na Segunda Revolução Industrial – com a criação do motor a combustão, que utilizava combustíveis fósseis –, os transportes rodoviário e aéreo foram implementados, principalmente no século XX. Com a evolução dos transportes, as paisagens passaram por uma marcante mudança em menos de dois séculos. Ferrovias, rodovias, portos e aeroportos foram construídos com o objetivo de atender à demanda pelo deslocamento de passageiros e ao transporte de cargas.
As condições naturais tanto podem dificultar como favorecer a implantação de certos tipos de transporte. Um país que apresenta extensa rede hidrográfica, por exemplo, com vários rios navegáveis, terá condições de desenvolver o transporte hidroviário (fluvial). 
Em um país cujo relevo apresenta muitas serras e montanhas, torna-se mais difícil a implantação de rodovias e ferrovias, pois é necessário construir muitas obras de engenharia, como túneis, viadutos e pontes.
No entanto, mais que os fatores naturais, são as condições econômicas do país e suas fontes de energia disponíveis que vão influenciar a escolha dos sistemas de transporte.
Entre a invenção da locomotiva, em 1804, e a expansão do uso da internet, em 1990, experimentou-se um desenvolvimento extraordinário do comércio. A velocidade que marca o surgimento de novos produtos e os mecanismos cada vez mais ágeis para distribuí-los revolucionaram o consumo e vêm exigindo uma modernização radical dos meios de transporte. 
Além disso, para dar conta dessa velocidade e atender à exigência dos consumidores, é preciso estabelecer uma logística de distribuição adequada ao crescimento do número de mercadorias que rodam o mundo. Atualmente, a logística compreende um conjunto de recursos e operações que permitam o transporte de pessoas ou mercadorias com menor custo e no menor tempo.
Os sistemas de transporte dividem-se em continentais, marítimos e aéreos. Os continentais, por sua vez, subdividem-se em ferroviário, rodoviário e hidroviário:
• Transporte ferroviário: teve uma importância particular e específica, sobretudo até o início do século XX, quando não existiam os grandes caminhões nem os aviões que hoje transportam enormes quantidades de produtos e passageiros.
Durante muito tempo, o carvão mineral ou a lenha eram o combustível das locomotivas. Atualmente, os trens são movidos a óleo e a eletricidade, o que contribui para aumentar sua potência e velocidade. A França, a Alemanha e o Japão possuem os trens mais velozes do mundo.
Transporte rodoviário: com o desenvolvimento industrial e a intensificação da urbanização, as rodovias asfaltadas passaram a ter mais expressão no quadro dos transportes. Os países que precisavam expandir mais rapidamente seu sistema de transportes deram preferência às rodovias por serem de construção mais rápida, apesar do custo elevado com sua manutenção.
No Brasil, após a instalação e o desenvolvimento da indústria automobilística, na década de 1950, o transporte rodoviário passou a ser o principal sistema, como forma de estimular o consumo de automóveis que passaram a ser produzidos no país. Isso, no entanto, encarece o valor dos produtos, pois transportar cargas por meio de caminhões é muito mais caro do que por trens ou embarcações fluviais.
• Transporte marítimo: permite escoar, a grandes distâncias e por taxas de frete bastante acessíveis, enormes quantidades de produtos. Esse tipo de transporte vem crescendo cada vez mais desde os anos 1990, devido ao significativo desenvolvimento do comércio mundial, em razão do processo de globalização.
O oceano Atlântico, na sua porção norte, concentra o maior movimento comercial (cerca de 70%), constituindo a principal rota marítima mundial. Para a navegação marítima de cabotagem (apenas pelo litoral brasileiro) e para a exportação (através de mares e oceanos do mundo), há vários portos instalados no litoral brasileiro. Os portos nacionais mais importantes em volume de contêineres são os de Santos, Itajaí, Rio de Janeiro, Rio Grande e Paranaguá.
• Transporte hidroviário: é realizado nas hidrovias, que são trechos de rios e lagos navegáveis, seja pelas condições naturais, seja pelas alterações promovidas pelo ser humano. É um importante meio de transporte, sobretudo quando comparado ao sistema rodoviário, pois permite transportar grandes volumes de carga a preços baixos, com menos danos ao meio ambiente e com reduzido custo de manutenção.
• Transporte aéreo: o avião é o meio de transporte que permite o deslocamento de produtos e pessoas com mais rapidez (figura 36). Apesar dos preços elevados das passagens aéreas e do frete para o transporte de produtos,
muitas empresas que precisam receber objetos em curto prazo, ou que trabalham com produtos perecíveis, de consumo imediato, utilizam esse tipo de transporte.
O crescimento do número de compras via internet (comércio eletrônico) que ocorre no mundo todo, mas sobretudo nos países desenvolvidos, é um fator que vem contribuindo para o crescimento do transporte aéreo.
Atualmente, as redes aéreas cobrem quase toda a superfície terrestre. No entanto, as áreas mais bem servidas são a América e a Europa.

Transporte multimodal

Transporte multimodal é aquele que, regido por um único contrato, utiliza duas ou mais modalidades de transporte (continentais, marítimos e aéreos).
Desde a origem até o destino, ele é executado sob a responsabilidade única de um Operador de Transporte Multimodal (OTM), ou seja, pela empresa responsável pelo transporte da carga. Esse tipo de transporte é muito usado por países de grandes extensões territoriais, como o Brasil.

As comunicações

Antes do surgimento da escrita, as pessoas registravam mensagens em forma de figuras em pedras e em paredes de cavernas. Dessas primeiras formas de comunicação até as que conhecemos hoje, houve muitas transformações.
Nas últimas décadas do século XX, o mundo passou por uma verdadeira revolução nos meios de comunicação, caracterizada pela invenção e pelo desenvolvimento de diversos recursos tecnológicos: satélites artificiais de comunicação, cabos de fibra óptica, computadores, celulares, entre outros.
Aliados a outras invenções surgidas anteriormente, como o telefone, o rádio e a televisão, esses recursos permitem a comunicação instantânea entre locais separados por milhares de quilômetros de distância. Isso vem provocando uma série de modificações no relacionamento entre as pessoas e nas atividades econômicas.
Além disso, todas essas inovações tecnológicas que estão surgindo na atualidade causam a impressão de que o mundo “encolheu”, já que as barreiras de tempo e espaço estão sendo superadas pela comunicação instantânea.
A internet, por exemplo, que interliga computadores do mundo inteiro, é utilizada para pesquisas, compras, troca de mensagens entre pessoas e empresas, conferências, entre outros usos.
Desde que possuam os meios necessários (modem, computador, linha telefônica, provedor de serviços, entre outros), essa rede possibilita o acesso a muitas informações provenientes dos mais variados locais do planeta.
A interação do computador com os diversos sistemas de comunicação também permite a transferência de grandes somas de valores em apenas alguns segundos.
Assim, os meios de comunicação são indispensáveis ao comércio, à indústria e a vários outros tipos de atividades. Entre continentes, essas comunicações são feitas basicamente por meio de satélites e cabos submarinos
Os meios de comunicação atuais fornecem dados e informações em tempo real e com muito mais detalhes do que décadas atrás. A internet foi a principal tecnologia de impulsionamento para o desenvolvimento de novas ferramentas de comunicação. Os jornais impressos, tão difundidos até duas décadas atrás, migraram quase por completo para modelos digitais, em que as notícias são atualizadas logo após os acontecimentos. Com a internet, o ritmo dos negócios foi acelerado e o espaço empresarial foi ampliado. A década de 2020 traz a expansão de novas tecnologias de comunicação ligadas à internet. O 5G, que é a quinta geração de internet móvel, traz velocidades entre 30 e 50 vezes maiores que o sistema 4G, resultando em muitas mudanças nos variados campos da economia e das relações humanas. 

O turismo

A atividade turística vem se destacando em virtude do volume de renda que gera, da criação de grande número de empregos e da facilidade cada vez maior de transporte ao redor do mundo.
O turismo é uma atividade capaz de provocar diversas alterações no espaço geográfico, pois o seu desenvolvimento pressupõe a construção de hotéis, parques de diversão, restaurantes, casas de espetáculos, além da ampliação do sistema de transportes (rodovias, aeroportos).
Muitas áreas litorâneas passaram por transformações espaciais significativas por reunirem condições atrativas aos visitantes. São exemplos diversos lugares do Nordeste brasileiro; de Cancún, no México; e de Miami, nos Estados Unidos.
Áreas pouco atrativas em termos naturais também foram transformadas, tendo sido criados novos espaços artificiais para o desenvolvimento da atividade turística. É o caso da cidade de Las Vegas, nos Estados Unidos, que foi construída em uma região árida e atrai milhares de turistas por causa dos cassinos, e de Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, que investe fortemente em grandes e luxuosos hotéis (resorts) e em outras opções de lazer.

Os grandes centros turísticos

No mundo, atualmente se destacam três grandes centros turísticos: a Europa, a América do Norte e a região do Pacífico Ocidental e mar da China. O que recebe o maior número de turistas é a Europa, que apresenta atrativos como monumentos e ruínas de expressivo valor histórico e cultural, além de uma costa litorânea no mar Mediterrâneo, muito apreciada nos meses de verão.

Problemas ambientais ocasionados pelo turismo

A prática da atividade turística não planejada e sem infraestrutura adequada pode ocasionar problemas ambientais. Entre eles se destacam a poluição de praias e a destruição de áreas de preservação da paisagem natural (reservas florestais).
Esses problemas são gerados tanto pelo aumento de pessoas que visitam os lugares como pela construção de rodovias e hotéis em áreas de vegetação nativa.
Além disso, muitas vezes a mão de obra local não é aproveitada por falta de qualificação profissional. Nessa situação, o turismo não contribui para o desenvolvimento social do lugar em que estão sendo construídos hotéis e outros empreendimentos.

Setor secundário: atividade industrial

A atividade industrial

A indústria é a atividade econômica que integra o setor secundário. É uma das mais importantes atividades humanas, na qual se utilizam diversos tipos de matérias-primas, exigindo a circulação de grande volume de produtos entre diferentes lugares.
Para começar que a produção de mercadorias envolve o cultivo de matérias-primas (que também podem ser criadas ou extraídas), a transformação delas em produtos e a circulação dos produtos até chegar ao consumo final. Dependendo da mercadoria, as embalagens ou o próprio produto podem entrar, posteriormente, no processo de reciclagem. Tudo isso envolve relações entre diferentes locais. A matéria-prima, por exemplo, pode ter sido extraída a centenas de quilômetros de distância do lugar de produção da mercadoria, e esta pode ser comercializada a milhares de quilômetros de onde foi fabricada. A todo esse processo damos o nome de cadeia produtiva.

A atividade industrial caracteriza-se pela produção de bens em grandes quantidades, por isso é chamada de produção em larga escala. Até meados do século XVIII, a produção era artesanal ou manufaturada, ou seja, era feita em pequena escala e com máquinas e ferramentas manuais .

Na Inglaterra, a partir de meados do século XVIII, com a invenção da máquina movida a vapor, associada a outros fatores, começou a ocorrer uma profunda modificação na forma de produção dos bens, levando a um aumento da capacidade produtiva. Essa transformação ficou conhecida como Revolução Industrial. Desde então, a atividade industrial foi se tornando cada vez mais complexa e diversificada

Atualmente, podemos classificar a atividade industrial da seguinte maneira:

1. Indústria extrativa:

- mineral
- vegetal
- animal

2. Indústria de transformação:
  • de bens de produção;
  • de bens de consumo:
- duráveis
- não duráveis

Indústrias extrativas mineral, vegetal e animal 

O extrativismo é a atividade econômica em que se realiza a retirada de recursos minerais, animais e vegetais da natureza. Se esses recursos são utilizados em atividades que os transformam em outros produtos, eles são considerados matérias-primas.
A extração desses recursos pode ser realizada manualmente em pequena escala ou com o emprego de técnicas, máquinas e outros equipamentos modernos (para a extração de minérios e madeira, por exemplo). No segundo caso, essa atividade passa a ser considerada uma atividade industrial denominada indústria extrativa. Esses equipamentos e técnicas permitem a exploração de grandes quantidades de recursos da natureza.

Indústria extrativa mineral

Entre as matérias-primas resultantes do extrativismo utilizadas pela indústria, destacam-se os minerais, como o ferro, o cobre, a bauxita (minério de alumínio), o petróleo e o carvão mineral.
A atividade extrativa mineral é um processo que, dependendo da maneira como é praticado, pode provocar grandes danos ao ambiente. Muitas jazidas são abertas em áreas de floresta, o que leva à devastação da paisagem vegetal, comprometendo a sobrevivência de espécies animais e vegetais. Além disso, produtos químicos utilizados na extração podem contaminar os rios e o solo, afetando a fauna, a flora e o próprio ser humano.

Indústrias extrativas vegetal e animal

A atividade agrícola e a de criação de várias espécies de animais fornecem vários tipos de matérias-primas para diversas indústrias, especialmente a de alimentos.
No entanto, parte das matérias-primas de origem vegetal e animal também é obtida por meio da extração diretamente da natureza. É o caso, por exemplo, da extração de madeira para a indústria da construção civil e de móveis, e da pesca, para a produção de alimentos.

Indústrias de transformação

A indústria de transformação diferencia-se da extrativa porque sua atividade consiste em modificar a matéria-prima, transformando-a em produtos prontos para a utilização ou em outras matérias-primas.
Indústrias de bens de produção Chamadas também de indústrias de base ou indústrias pesadas, sua atividade consiste em produzir bens que servirão para a produção de outros bens, como matérias-primas, máquinas e equipamentos industriais.
É o caso das indústrias siderúrgicas, que fabricam ferro e aço, e das metalúrgicas, que fabricam, por exemplo, o alumínio.
Esses produtos serão usados como matéria-prima em outras produções. As indústrias mecânicas, por exemplo, podem transformá-los em máquinas e equipamentos que serão utilizados ainda em outras indústrias.

Indústrias de bens de consumo

As indústrias de bens de consumo fabricam bens ou produtos que vão ser consumidos diretamente pela população. Observe a figura 31, na página ao lado.
Esse tipo de indústria divide-se em:
indústrias de bens não duráveis: fabricam produtos de consumo pouco duradouros. Entre essas indústrias estão as de alimentos (figura 29), roupas e calçados;
indústrias de bens duráveis: produzem bens ou produtos de maior duração, tais como automóveis, móveis, aparelhos eletrônicos e eletrodomésticos.

A industrialização e a organização do espaço geográfico

O crescimento da atividade industrial provoca muitas modificações no espaço geográfico. Quando um país passa a apresentar crescimento da atividade industrial com a instalação de variados tipos de indústria e o aumento da produção de mercadorias, dizemos que há um processo de industrialização.
O processo de industrialização não é caracterizado apenas pelo crescimento da atividade industrial. Ele também estimula maior variedade de atividades ligadas à produção industrial, como comércio, bancos, transportes, comunicações e administração pública, possibilitando a criação de um número maior de empregos.
Paralelamente à industrialização, ocorre a ampliação da rede de transportes, que interliga o território e permite que a matéria-prima e as mercadorias circulem por vários lugares com rapidez.
Outro fator relacionado à instalação de indústrias é o crescimento das cidades, em razão da chegada de grande número de trabalhadores do campo e de outras cidades em busca de empregos e melhores condições de vida. É comum a busca de emprego nas indústrias por pessoas vindas do campo, muitas vezes por terem perdido seus postos de trabalho em decorrência da introdução de máquinas agrícolas,
que substituíram a mão de obra desses trabalhadores nas plantações. Com a industrialização, passa a ocorrer também maior integração entre os espaços urbano e rural, além do aumento da população nas cidades e a diminuição da população rural.
No Brasil, entre os anos de 1940 e 1970, o crescimento da atividade industrial ocorreu de forma intensa, assim como o desenvolvimento de muitas outras atividades no espaço urbano. Isso ampliou a oferta de empregos nas cidades que se industrializavam.
Esse fato, entre outros, contribuiu para que os salários pagos aos trabalhadores fossem geralmente baixos, já que a disponibilidade de pessoas interessadas nas vagas de emprego era alta.
Atualmente, esse quadro mudou e as indústrias e outras atividades ligadas ao comércio e aos serviços já não necessitam de um número muito grande de funcionários, pois estão utilizando sistemas de informatização e máquinas, o que aumenta o desemprego, o subemprego e a informalidade.
A industrialização pode também ocasionar problemas ambientais. Muitas vezes os resíduos industriais são lançados nos rios e nos mares e a fumaça expelida pelas fábricas polui o ar.
Todos esses fatores resultaram na configuração do espaço geográfico das cidades que conhecemos atualmente.

Produção de energia no Brasil

Movimentar máquinas, cargas e pessoas por longas distâncias demanda muita energia. No Brasil, usam-se combustíveis derivados de fontes não r...