quarta-feira, 27 de setembro de 2023

Ciclo da Borracha

Durante quase meio século, de 1870 a 1920, a produção de borracha na Amazônia é uma das mais importantes atividades econômicas do país. Envolvendo cerca de 100 mil pessoas, em grande parte nordestinos retirantes das grandes secas da década de 1870, a exportação do látex amazônico chega a atingir médias anuais de 40 mil toneladas, enviadas para os Estados Unidos e para a Europa. Grandes bancos, empresas de comércio e companhias de navegação inglesas, francesas e norte-americanas instalam agências em Belém e Manaus, algumas delas centralizando seus negócios no Brasil e na América do Sul.

A prosperidade e a modernização exibidas por essas duas cidades, com seus teatros, cafés, palacetes, lojas, bondes, telefones e luz elétrica, são resultado da combinação da riqueza natural da floresta com o avanço da revolução industrial. Os milhões de seringueiras nativas concentradas na Amazônia Ocidental, sobretudo nas áreas que viriam a constituir o estado do Acre, representam uma imensa fonte de goma elástica. E a aceleração da indústria automotiva, a partir da invenção do motor a combustão e dos pneus de borracha vulcanizada, cria um enorme mercado consumidor dessa matéria-prima. Juntando as duas pontas do processo estão os milhares de seringueiros, com sua mão-de-obra barata, e os agenciadores; os coronéis donos das terras; os regatões, arrendatários dos seringais e transportadores do produto; e as empresas exportadoras.
A riqueza da borracha parece ilimitada, e a modernidade da belle époque chega à selva. Mas, logo após a I Guerra Mundial (1914-1918), notam-se sinais de rápido declínio. O consumo mundial diminui momentaneamente e, o mais grave, começa a ser suprido por países da Ásia, para onde a seringueira fora levada clandestinamente por grupos ingleses. A Amazônia fica sem o monopólio dessa matéria-prima e, com isso, perde o interesse para os grandes investimentos e empreendimentos capitalistas internacionais, entrando então num processo de decadência econômica

Anarquismo no Brasil

O anarquismo, doutrina que surge entre os séculos XVII e XVIII na Europa, chega ao país com os imigrantes europeus, por volta de 1850. Defende a organização da sociedade sem nenhuma forma de autoridade imposta e considera o Estado uma força coercitiva. A principal experiência brasileira é a Colônia Cecília dirigida entre 1890 e 1893 por imigrantes italianos, em terras doadas pelo imperador dom Pedro II, no município de Palmeira (PR).

Durante grande parte da República Velha, a ideologia predomina no movimento operário, principalmente em São Paulo, no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul. Os partidários defendem a organização sindical autônoma, a extinção do Estado, da Igreja e da propriedade privada. Também são contrários a qualquer atuação político-partidária. Eles divulgam suas ideias por meio de jornais, revistas, livros e panfletos. Em 1906 é organizado o Congresso Operário, no Rio de Janeiro, que define práticas de ação anarquista. Entre 1909 e 1919 são criadas escolas para trabalhadores nos moldes da doutrina.
As federações anarquistas comandam as grandes greves de 1917 (São Paulo), 1918 (Rio de Janeiro) e 1919 (São Paulo e Rio de Janeiro). Entre os principais militantes destacam-se Edgard Leuenroth, José Oiticica e Neno Vasco. Em 1919 é instituído o Partido Comunista Anarquista. Com a fundação do Partido Comunista, em 1922, o anarquismo perde força, principalmente no movimento operário.

Abolição da Escravatura

Dois conceitos históricos são entendidos por abolição da escravatura: o conjunto de manobras sociais empreendidas entre o período de 1870 a 1888 em prol da libertação dos escravos e a própria promulgação da Lei Áurea, assinada pela princesa Isabel, que promove a oficialização da abolição do regime.

Os movimentos pela abolição da escravatura são iniciados a partir de alguns eventos ocorridos: a cessação do tráfico negreiro da África, em 1850; a volta vitoriosa de negros da Guerra do Paraguai, que se estendeu de 1865 a 1870, a promulgação da Lei do Ventre Livre; a criação da Sociedade Brasileira contra a Escravidão (tendo José do Patrocínio e Joaquim Nabuco como fundadores); a Lei Saraiva-Cotegipe (mais popularmente conhecida como a Lei dos Sexagenários).
As mudanças ocorridas afetavam diretamente a economia de produção neste período do Brasil. Os negros chegaram a participar da luta anti-escravista e muitos deles, perseguidos por seus atos insurrecionais ou mesmo fugindo do jugo escravista, reuniam-se em povoados como os quilombos (Quilombo dos Palmares, Quilombo de Jabaquara). Após as medidas oficiais anti-escravistas determinadas pela Lei Áurea, os senhores escravistas, insatisfeitos com a nova realidade, intencionavam exigir indenizações pelos escravos libertos, não obtendo nenhum aval do Império. Desta forma, surgiram os movimentos republicanos, que foram engrossados com a participação dos mesmos senhores que eram antigos detentores da "mercadoria escrava" e que, descontentes com as atitudes do Império, acabaram por defender um novo sistema de governo, decorrendo daí um dos principais motivos da derrocada final do Império. Por outro lado, a mão de obra proveniente das novas correntes imigratórias passa a ser empregada. Os negros, por um lado libertos, não possuíam instrução educacional ou a especialização profissional que passa a ser exigida, decorrendo destes aspectos a permanência dos negros à margem da sociedade frente à falta de oportunidades a eles oferecidas. A liberdade dada aos negros anteriormente escravizados é relativa: embora não mais escravizados, nenhuma estrutura que garantisse a ascensão social ou a cidadania dos negros foi oferecida.

Campanha abolicionista

Após a Guerra do Paraguai, cresceu no país a campanha abolicionista, um movimento social e popular a favor da abolição. Os abolicionistas se manifestavam por meio de panfletos, artigos, charges e comícios. Multidões reuniam-se para exigir o fim da escravidão. Vários descendentes de africanos faziam parte desse grupo, como o advogado Luiz Gama, o engenheiro André Rebouças, o jornalista José do Patrocínio e a musicista Chiquinha Gonzaga.
Luiz Gama (1830-1882) – escritor, jornalista, advogado e abolicionista baiano. Ele era filho da ex-escravizada Luiza Mahin e de um fidalgo de origem portuguesa. Conta-se que Luiza participou da Revolta dos Malês e da Sabinada. Gama nasceu livre, mas, aos 10 anos, foi vendido como escravo por seu pai para sanar uma dívida de jogo.
Aos 18 anos, ele aprendeu a ler e a escrever e conseguiu provar na Justiça que tinha direito à liberdade. Atuou na cidade de São Paulo, onde acompanhou aulas de Direito como ouvinte e ajudou a libertar mais de 500 pessoas escravizadas. Quando não conseguia vencer nos tribunais, ele comprava a alforria dos escravizados. Em 2015, Luiz Gama foi reconhecido como advogado pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
• André Pereira Rebouças (1838-1898) – engenheiro e abolicionista baiano. Seus irmãos, Antônio e José, também se tornaram engenheiros. André foi um dos mais importantes especialistas em engenharia ferroviária e hidráulica da época e realizou obras para o abastecimento de água na cidade do Rio de Janeiro.
Foi também professor de cálculo, botânica, zoologia, arquitetura e construção. Além da abolição, defendia a democratização do acesso à terra. Ajudou a criar a Sociedade Brasileira Contra a Escravidão e participou da Confederação Abolicionista.
• José do Patrocínio (1853-1905) – jornalista, farmacêutico, escritor e abolicionista fluminense. Iniciou a carreira de jornalista em 1877, trabalhando na Gazeta de Notícias como redator. Nesse jornal, publicou textos sobre a abolição. Entre 1880 e 1888, participou da Sociedade Brasileira Contra a Escravidão e da Confederação Abolicionista. Patrocínio também preparou fugas de cativos e coordenou campanhas de arrecadação de fundos para a compra da liberdade deles. Foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras (ABL).
• Chiquinha Gonzaga (1847-1935) – nascida na cidade do Rio de Janeiro, era compositora, pianista, regente e defensora da abolição. Pioneira para os padrões da época, compôs músicas para peças teatrais e criou cerca de 2 mil composições. Participou de festivais artísticos destinados a arrecadar fundos para a compra de liberdade para os escravizados. Assim como Chiquinha, outras mulheres tomaram parte em campanhas abolicionistas, como a escritora Maria Firmina dos Reis (1825-1917), a poetisa Maria Amélia de Queirós, a escritora Inês Sabino (1853-1911) e a costureira Leonor Porto, que fundou a associação abolicionista Ave, Libertas em 1884.

Leis abolicionistas

Em meio às pressões internas e externas, na segunda metade do século XIX, os parlamentares brasileiros votaram leis que libertaram parte dos escravizados.
• Lei do Ventre Livre (1871): libertava os filhos de mulheres escravizadas nascidos no Brasil, mas os obrigava a ficar com os donos de suas mães até os 8 anos. Depois dessa idade, os senhores poderiam escolher entre libertar as crianças e receber indenização do governo ou continuar explorando o trabalho delas até que completassem 21 anos. Essa segunda alternativa foi a adotada na maioria dos casos. A lei instituiu também o fundo de emancipação destinado à compra da liberdade dos cativos. Tudo parecia favorável aos senhores, mas os escravizados também tiveram o reconhecimento de um direito conquistado ao longo de muito tempo: poupar recursos para comprar a própria liberdade.
• Lei dos Sexagenários (1885): libertava as pessoas escravizadas com mais de 60 anos. Os abolicionistas e parte da sociedade ficaram indignados com essa lei, favorável aos senhores. Afinal, libertar homens e mulheres com mais de 60 anos, depois de uma vida toda de trabalho, significava livrar os antigos donos da obrigação de sustentar os poucos idosos que tinham conseguido sobreviver à escravidão. Por conta das terríveis condições de vida impostas a eles, a maioria dos cativos morria antes de chegar a essa idade.
Essas leis permitiram aos senhores de escravizados ganhar tempo e adiar a abolição. Elas não resolveram o problema da escravidão, mas transformaram a justiça em um campo de luta pela liberdade.
Em 13 de maio de 1888, a escravidão foi extinta no Brasil com a promulgação da chamada Lei Áurea, assinada pela princesa Isabel. Ela exercia a regência do império enquanto dom Pedro II, seu pai, viajava pela Europa. Mais de 700 mil escravizados foram libertados a partir da promulgação da Lei Áurea.

Heranças da escravidão

Apesar da abolição, a vida dos africanos e dos negros brasileiros continuou difícil depois de 1888 e eles continuaram não sendo tratados como cidadãos. Entre aqueles que haviam sido escravizados, eram raros os que conseguiam trabalhar por conta própria ou em algum emprego. Muitos continuaram a trabalhar nas mesmas fazendas ou nos locais onde antes eram cativos.
Mais de 130 anos se passaram desde a abolição; porém, os séculos de escravidão ainda pesam sobre a sociedade brasileira atual. Dados estatísticos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que a pobreza e a violência afetam mais a população negra (a soma das populações preta e parda) do que a branca. A taxa de desemprego entre os negros é maior do que entre os brancos, e o salário médio dos trabalhadores brancos é superior ao dos negros nas mesmas funções. 
Dados como esses demonstram ser inegável que os negros enfrentam o racismo no Brasil. Em função disso, o movimento negro tem lutado em várias frentes. Uma delas é pela implementação de ações afirmativas que levem à construção de uma sociedade mais igualitária e justa. De modo geral, as ações afirmativas são medidas especiais que visam combater desigualdades históricas, rompendo discriminações raciais, étnicas, religiosas, de gênero, entre outras.

Conquistas recentes

Graças à mobilização do movimento negro brasileiro, no início do século XXI foram aprovadas leis que estabelecem a obrigatoriedade do ensino de história da África e de cultura afro-brasileira nas escolas. Essas leis são bem-vindas, pois fortalecem a escola como espaço para a superação de preconceitos e formação de cidadãos.
Há outros exemplos de conquistas recentes, como o crescimento do número de mulheres negras chefiando e provendo domicílios. Isso revela o aumento da presença delas no mercado de trabalho. As estatísticas também indicam uma pequena melhora no acesso ao ensino. Se em 2005 apenas 5,5% dos jovens negros cursavam Ensino Superior, em 2015 esse índice passou para 12,8%. Em 2018, 50,3% dos estudantes de universidades federais do Brasil eram negros, mas ainda estão sub-representados, já que pretos e pardos são 55,8% da população brasileira, conforme dados do IBGE.

Lei de Terras (1850)

Lei de Terras, como ficou conhecida a lei nº 601 de 18 de setembro de 1850, foi a primeira iniciativa no sentido de organizar a propriedade privada no Brasil. Até então, não havia nenhum documento que regulamentasse a posse de terras e com as modificações sociais e econômicas pelas quais passava o país, o governo se viu pressionado a organizar esta questão.

A Lei de Terras foi aprovada no mesmo ano da lei Eusébio de Queirós, que previa o fim do tráfico negreiro e sinalizava a abolição da escravatura no Brasil. Grandes fazendeiros e políticos latifundiários se anteciparam a fim de impedir que negros pudessem também se tornar donos de terras.
Com essa lei, ficou estabelecido que, para adquirir uma propriedade, era preciso comprá-la do Estado ou de um particular. Esse ato jurídico gerava uma escritura de compra que seria assinada nos cartórios de registro de imóveis.
Além da compra, era possível adquirir propriedades por meio da posse prolongada, chamada usucapião. Pelo usucapião, aquele que comprovasse a posse de um terreno há dez anos ou mais poderia adquirir a propriedade. A partir dessa lei, a terra passou a ser comprada e vendida por preços mais elevados. Na prática, as famílias pobres não tinham dinheiro para contratar advogados e provar sua posse pelo usucapião, ainda que várias gerações vivessem no mesmo lugar.
Em consequência, a Lei de Terras preservou e permitiu ampliar o patrimônio dos fazendeiros, impedindo que grupos mais pobres se tornassem proprietários rurais. Isso aconteceu
no momento em que ocorria no Brasil um aumento do número de trabalhadores livres em comparação com os escravizados.
Além disso, os imigrantes que chegavam ao país tinham dificuldade para comprar terras. Por isso, trabalhavam como assalariados nas fazendas. Os libertos e suas famílias enfrentavam problemas semelhantes, com o agravante de terem menos possibilidades de conseguir trabalho assalariado.
A chegada ao país dos primeiros trabalhadores imigrantes. Era a transição da mão de obra escrava para assalariada. Senão houvesse uma regulamentação e uma fiscalização do governo, de empregados, estes estrangeiros se tornariam proprietários, fazendo concorrência aos grandes latifúndios.
Ficou estabelecido, a partir desta data, que só poderiam adquirir terras por compra e venda ou por doação do Estado. Não seria mais permitido obter terras por meio de posse, a chamada usucapião. Aqueles que já ocupavam algum lote receberam o título de proprietário. A única exigência era residir e produzir nesta localidade.
Promulgada por D. Pedro II, esta Lei contribuiu para preservar a péssima estrutura fundiária no país e privilegiar velhos fazendeiros. As maiores e melhores terras ficaram concentradas nas mãos dos antigos proprietários e passaram às outras gerações como herança de família.
Nessa época, as terras dos indígenas tornaram-se mais cobiçadas do que a exploração de sua mão de obra. Nesse contexto, a Lei de Terras veio regular a questão da propriedade. A lei exigia que todos, inclusive os povos originários, provassem o direito de propriedade sobre as áreas onde viviam. Como os indígenas nunca foram aos cartórios legalizar a posse ou a propriedade das terras que lhes pertenciam, a lei os prejudicou ainda mais.
Apenas um artigo da Lei de Terras afirmava o direito dos indígenas ao território de suas aldeias. Mas ele não foi cumprido, e o processo de invasão e expropriação das terras indígenas avançou violentamente.


Guerra do Paraguai

Durante o Segundo Reinado, o Brasil se envolveu em conflitos internacionais na região do Rio da Prata, nos quais também estavam envolvidos a Argentina, o Uruguai e o Paraguai.
O mais longo e sangrento foi a Guerra da Tríplice Aliança (1864-1870), mais conhecida no Brasil como Guerra do Paraguai. De um lado, lutaram os soldados paraguaios e, do outro, os soldados da Tríplice Aliança, formada por brasileiros, argentinos e uruguaios.
A guerra foi motivada por questões de fronteiras e disputas pelo controle da navegação nos rios da região platina. O Paraguai era um país sem acesso ao mar. Em certo momento,
o governo paraguaio, chefiado por Solano López (1827-1870), presidente do Paraguai na época, decidiu conquistar uma saída para o mar e, assim, melhorar as vias de acesso ao comércio exterior.
De acordo com militares brasileiros, o estopim da guerra ocorreu em novembro de 1864, quando autoridades paraguaias capturaram o navio brasileiro Marquês de Olinda, que atravessava o Rio Paraguai rumo à província de Mato Grosso.
Várias mulheres marcaram presença na Guerra do Paraguai. Elas cuidavam dos doentes, cozinhavam e preparavam a artilharia. Algumas participaram diretamente das batalhas, como as brasileiras Florisbela, Maria Curupaiti e Jovita Alves Feitosa (1848-1867). Outras atuaram como enfermeiras, como foi o caso de Ana Néri (1814-1880).

O PARAGUAI tornou-se independente em 1811, no quadro de crise do Antigo Sistema Colonial espanhol, quando da dominação napoleônica na Península Ibérica. Assim como em outras regiões da América, a elite criolla liderou o movimento, porém permaneceu vinculada à antiga ordem, mantendo seus tradicionais privilégios. A necessidade de desvincular-se das pretensões de Buenos Aires contribuiu para o início da formação do Estado Nacional, que se tornou mais efetiva a partir de 1814, com a ascensão de José Rodrigues de Francia.
Iniciava um governo centralizado, ditatorial. O poder concentrou-se nas mãos de El Supremo, ditador perpétuo do país. Francia iniciou uma transformação radical no país, uma vez que sua ditadura passou a apoiar-se nas camadas populares, com a eliminação da escravidão, a redução drástica do poder da Igreja Católica e com a criação das “Estâncias da Pátria”, fazendas estatais, onde o trabalho era comunitário, sendo que a metade da produção ficava com o Estado; deu início ainda a organização do ensino, que em poucos anos acabaria com o analfabetismo.
Apesar da precariedade da economia do novo país, há um processo de crescimento e lentamente Francia busca a modernização: a produção agrícola aumenta e forma-se uma base de sustentação interna fora do modelo britânico, já dominante na maioria da América.
Ao mesmo tempo formou-se uma grande oposição a seu governo fora do Paraguai: a antiga elite desterrada e as camadas dirigentes das nações vizinhas, particularmente a Argentina e o Brasil. O Paraguai tem, desde o início, grande dificuldade de exportar sua produção - os principais produtos eram o fumo e o erva mate - uma vez que depende do Rio da Prata, dominado pelos mercadores de Buenos Aires.
Em 1840 com a morte de Francia, assume o poder Carlos Antonio Lopez, apoiado em um discurso de “modernização” e “progresso”, Lopez manteve a centralização política e aprofundou o isolamento do país frente ao capital internacional. Ferrovias e pequenas industrias foram criadas com a contratação de especialistas estrangeiros e a educação continuou a ser estimulada pelo governo. “Tudo o que o Paraguai consome, ele mesmo produz”.
Porém essa autonomia é precária, apesar do desenvolvimento interno do país, a pobreza ainda é muito grande (menor do que no período colonial) porém todos tinham trabalho e a alimentação básica. O enfraquecimento da Igreja em oposição ao fortalecimento do Estado; a organização de uma estrutura militar e a elevação do nível de vida, garantiam o apoio popular à ditadura. É importante lembrar ainda que a criminalidade havia praticamente desaparecido.
Nessa sociedade, 80% da população era “Índia”, que passava a desfrutar dos mesmos direitos civis que possuía a população branca.
Em 1862 Francisco Solano Lopez assume o lugar do pai e preserva a política ditatorial. Solano pretendia construir o “Grande Paraguai”, porém a situação interna e externa se modificavam rapidamente e levariam o país à guerra.
O BRASIL, única monarquia na América e região que preservou a unidade territorial após a independência, vivenciou duas décadas de intensas lutas regionais ao mesmo tempo em que preservou as estruturas coloniais. O Primeiro Reinado e o Período Regencial foram marcados por grave crise, que começou a ser superada com o governo de D Pedro II, com o aumento das exportações e com a consolidação do Estado Nacional.
Apesar de adotar um modelo político monárquico centralizado, o Brasil era governado pelas elites agrário exportadoras, influenciada por uma pequena elite urbana vinculada a importação e exportação e associada ao capital inglês. A maior estabilidade política verificada após 1850, deveu-se ao maior equilíbrio entre as elites regionais, que por sua vez foi possível com o aumento das exportações, principalmente de café. No entanto, se as exportações aumentavam, o mesmo acontecia com as importações, determinando um crescente déficit nas finanças do Estado. A crise econômica aprofundava-se, em grande parte devido à submissão do país ao capitalismo inglês. A Maior parte da produção agrícola era exportada para a Inglaterra, assim como a maior parte de nossas importações provinha desse país. Os investimentos em infraestrutura eram feitos por banqueiros ingleses, que ao mesmo tempo controlavam bancos e as casas de importação e exportação e emprestavam dinheiro diretamente ao Estado. Mesmo durante a ruptura de relações diplomáticas entre os dois países, as relações comerciais foram mantidas.
A ARGENTINA foi um dos primeiros países a proclamar sua independência, em 1810, com a formação do cabildo de Buenos Aires; no entanto, desde esse período, as lutas internas foram intensas devido aos vários interesses regionais, destacando-se principalmente a disputa entre unitaristas e federalistas, possibilitando o desenvolvimento do caudilhismo. Mesmo a existência de uma Constituição e de governos centralizadores, como a ditadura de Rosas, não conseguiram, na prática, forjar a unidade nacional, pois os interesses regionais chocavam-se entre si e principalmente com os interesses de Buenos Aires.
Essas divisões internas acabaram por facilitar a dominação econômica da inglesa. A Argentina possuía uma economia exportadora, tanto de produtos derivados da pecuária, como de gêneros agrícolas, e a elite da capital, ligada ao comércio, aumentou seus vínculos com o capital britânico. A visão em relação ao Paraguai era um dos poucos motivos que poderia unir os distintos interesses argentinos: Nos anos posteriores a independência, a Argentina pretendera a anexação do Paraguai, uma vez que faziam parte do mesmo território colonial - o Vice-Reino do Prata. Um raciocínio semelhante pode ser usado em relação ao Uruguai, pretendido pelos argentinos, que assim dominariam a Bacia do Prata.
Ao contrário do desejo dos grandes comerciantes de Buenos Aires, o vice-reinado do Prata se dividiu em três países: Argentina, Paraguai e Uruguai. O Paraguai vive, desde sua independência em 1811, seguidas ditaduras. Prevalecia um sistema de pequenas e médias propriedades no Paraguai, onde o Estado monopolizava o comércio exterior – baseado em exportações de erva-mate e couro – e tinha controle sobre amplas partes da economia. Para escoar sua produção, o Paraguai tinha que pagar uma taxa à Argentina. Tratava-se de uma potência emergente, que iniciara um processo de industrialização, mandava jovens para estudar no exterior e montava um exército com planos expansionistas sobre o Prata.
O URUGUAI é normalmente tratado como um país que se desenvolveu a partir de interesses externos. Sua localização geográfica tornava-o peça fundamental para todos que possuíam interesses no comércio platino.
Depois de anos sob domínio do Brasil, o Uruguai conquistou sua independência definitiva em 1828, com o apoio da Inglaterra, com o discurso de “preservar a liberdade de navegação na bacia do Prata” procurou não só a libertação frente ao domínio brasileiro, como preservá-lo face aos interesses argentinos. Desta forma o Uruguai passou a ser visto como um “Estado tampão”, separando Brasil e Argentina e garantindo a livre navegação.
Apesar da independência, o território uruguaio continuou a ser cobiçado pelas “potências sul americanas”: foi comum a invasão e ocupação de terras por pecuaristas gaúchos. Grande parte das atividades internas, rurais ou urbanas, desenvolveram-se a partir de empreendimentos do Barão de Mauá, se bem que, muito mais representando os interesses ingleses do que brasileiros.
A INGLATERRA é vista tradicionalmente como a grande responsável pela guerra entre o Brasil e o Paraguai. Uma das dificuldades da História é definir o peso que cabe a cada um dos interesses envolvidos, uma vez que a Inglaterra é a grande potência imperialista da época.
O século XIX foi caracterizado pela Segunda Revolução Industrial, pela expansão imperialista sobre a África e Ásia e pela “divisão internacional do trabalho”, fruto do imperialismo de poucas nações. A Inglaterra continuou a ser a maior potência industrial, porém passou a ter concorrentes em relação ao desenvolvimento tecnológico, necessitando garantir cada vez mais o controle sobre suas colônias e áreas de influência.
Na América, os países recém independentes tinham um papel fundamental dentro dessa nova ordem capitalista, e nesse sentido, a economia paraguaia destacava-se, fugindo da órbita do imperialismo inglês.
Para a Inglaterra, a preservação de suas áreas de influência era vital para a preservação de sua posição hegemônica, e para isso, os mecanismos usados foram variados, porém sempre com caráter imperialista ( Guerra do Ópio, Guerra dos Cipaios...) quando a diplomacia e o poder econômico não funcionavam, a intervenção militar direta ou indireta era o caminho usado, justificada tanto pelos interesses econômicos como pelo discurso racista, de superioridade em relação a outros povos, como por exemplo os “índios” paraguaios.
A guerra: Forma-se contra os paraguaios uma Tríplice Aliança entre Brasil, Argentina e Uruguai que conta com o apoio inglês. O Brasil passa a lutar sozinho em 1866 e para vencer utiliza o exército, a guarda nacional, os voluntários da pátria, os recrutados e escravos com a promessa da alforria com o fim da guerra.
O ditador Paraguaio Solano Lopez não se rende, o que leva a uma guerra longa e extremamente ruinosa para os paraguaios. 95% da população masculina adulta do país morre na guerra e 40% do território paraguaio é anexado por Argentina e Brasil. No Brasil, a guerra tinha custado muito caro, aumentado o poder do exército e levantado a questão da escravidão.

Consequências da guerra

O conflito encerrou-se em 1870, mas o Paraguai continuou ocupado por tropas brasileiras até 1876. Não se sabe ao certo quantas mortes essa guerra provocou, mas alguns historiadores calculam que tenham morrido mais de 100 mil combatentes de ambos os lados. Além disso, a Guerra do Paraguai teve consequências territoriais, econômicas e políticas no Brasil. Conheça algumas delas a seguir.
• Territórios: áreas pertencentes ao Paraguai foram anexadas ao Brasil, o que garantiu o tráfego fluvial para Mato Grosso.
• Aumento da dívida externa: a economia foi afetada pelos gastos com a guerra. Governo e produtores passaram a depender ainda mais de empréstimos feitos no exterior, principalmente de banqueiros britânicos, o que aumentou a dívida externa brasileira.
• Fortalecimento do exército: depois da guerra, o exército passou a ter um novo papel político no país. Muitos militares assumiram posições contrárias à escravidão e demonstraram simpatia pela causa republicana. Para esses militares, era absurdo manter a escravidão no Brasil, país que contou com negros escravizados e livres para vencer a guerra.


Revolução Praieira

Dando vazão à sua vocação revolucionária, Pernambuco é palco de mais uma revolução, agora em 1848. Trata-se da revolta Praieira. Foi ela a última das insurreições realmente relevantes contra a unidade regencial. A revolta estendeu-se até o ano de 1852.

Participação do Partido da Praia, formado por políticos que não pertenciam ao domínio dos Cavalcanti. Suas ideias eram transmitidas por meio do jornal Diário Novo, que ficava na Rua da Praia. Por isso, os rebeldes ficaram conhecidos por "praieiros”.
Contavam com o apoio de alguns senhores de engenho ligados ao Partido Liberal, e entre seus principais líderes encontrava-se o capitão Pedro Ivo e o intelectual e socialista utópico general Abreu e Lima, que pregava a divisão de fortunas.
De caráter liberal, a revolta praieira teve por inspiração os movimentos liberais ocorridos na Europa, com a Revolução Francesa. Entre os rebeldes, sobretudo os liberais radicais pernambucanos, já surgiam ideias que prefiguravam características do socialismo. Conhecidos como "praieiros", os liberais radicais pernambucanos fizeram-se insatisfeitos com a arbitrariedade do império na destituição do governador da província. O governador Chichorro da Gama procurava anteriormente em seu governo refrear o poder constituído pela poderosas famílias da aristocracia rural pernambucana: a concentração de terras no Pernambuco nas mãos de uma pequena camada aristocrática era mais vultosa que em qualquer outra região do país, acarretando em grande exclusão social de grande parte da população, sobretudo os trabalhadores agrários livres, destituídos de terras próprias para sequer o cultivo de gêneros para subsistência, que acabavam sendo sujeitos ao poder dos proprietários, sofrendo grande repressão.
Inserida no contexto da primavera dos povos, conjunto de revoluções populares que varreram a Europa no ano de 1848 e atingiram várias localidades na América, a Praieira teve suas origens nas difíceis condições econômicas e sociais da província de Pernambuco e na enorme concentração fundiária nas mãos de poucos proprietários. Terras concentradas nas mãos de famílias oligárquicas poderosas; família Cavalcanti, oligarquia mais poderosa dona de cerca de um terço das propriedades de Pernambuco; comércio dominado pelos portugueses.
O custo de gêneros alimentícios na província, portanto, estava sob controle integral desta aristocracia de poucas famílias, geralmente vinculada ao Partido Conservador. Ao mesmo passo, o comércio também concentrava-se nas mãos de estrangeiros, ingleses ou portugueses. Nota-se portanto no movimento uma origem do sentimento nacionalista no país, que na verdade nasceu forçadamente: os portugueses, por exemplo, empregavam apenas seus compatriotas no comércio que praticavam, excluindo assim a população nascida no Brasil.
O tradicional pendor pernambucano para os atos revolucionários logo foi reanimado: a revolução praieira, no início, foi deflagrada através dos conflitos políticos entre facções da classe dominante, convertendo-se mais tarde em uma causa popular. Com a destituição do governador liberal Chichorro da Gama, que combatia o poder das famílias aristocráticas, foi instituído o poder das forças conservadoras no comando da província. Assim, a rebelião eclode em Olinda no dia 7 de novembro de 1848. Os líderes desta primeira tentativa revolucionária foram Borges da Fonseca (então apelidado o Repúblico), o capitão Pedro Ivo Veloso e Nunes Machado. A população logo toma simpatia pela causa, sendo que o movimento passou rapidamente a espalhar-se pela chamada Zona da Mata, a região das terras mais férteis da província.
No dia primeiro de janeiro de 1849, é publicado o "Manifesto de Mundo", em que os praieiros declaram suas ambições de reformulação geral do sistema instituído. Entre as principais reivindicações do Manifesto, podem ser citadas: a exigência de instituição do sufrágio universal, ou seja, o direito de voto para todos os cidadãos; o fim do poder moderador, que se tratava do poder pessoal do Imperador (cabia a ele o poder de fechamento da Assembleia, fato que lhe concedia poderes praticamente ilimitados); primazia para os brasileiros nas oportunidades de trabalho; nacionalização do comércio praticado pelos portugueses, o chamado "comércio a retalho" ou o comércio a varejo.
O problema da revolução é que os revoltosos, entre suas lideranças, possuíam facções que não entravam em entendimento quanto a algumas questões políticas: além disso, curiosamente o "Manifesto do Mundo" praticamente ignorava a existência da escravidão, não possuindo portanto força para a mobilização da mão de obra escrava. O Império possuía mais condições de mobilização de forças que terminaram por derrotar a revolução em 1850, numa grande demonstração de força, e nos dois anos seguintes toda a região estava pacificada.
A vitória do Império assegurou a ele uma grande fase posterior de grande estabilidade política, sustentada pela grande confiabilidade que os aristocratas vinculados ao Partido Conservador passaram sobremaneira a depositar no regime, tendo visto seu poder obter total respaldo do governo então vigente.
Sufocadas as insatisfações e conciliados os interesses da elite dominante, foi possível ao governo de D. Predo II viver seu período de apogeu, propiciando o desenvolvimento de um novo setor da economia exportadora nacional: o café.

Revolta dos Malês (1835 – Bahia)

No lado oposto da rebelião gaúcha, que brigava pelos interesses da elite do Rio Grande, estava a Revolta dos Malês, ocorrida na Bahia, em 1835, que foi uma revolta de escravos e negros libertos contra os maus-tratos e discriminações que sofriam. 

A maioria desses escravizados era malê, nome dado aos muçulmanos vindos da África Ocidental. Por causa de suas atividades, esses escravos de origem islâmica, de onde se origina o nome malê, que servia para identificar os negros que sabiam ler e escrever em árabe. Entre os líderes do movimento estavam Pacífico Licutã, Manuel Calafate e Luís Sanim. Os planos dos revoltosos incluíam a luta contra a escravidão, contra a imposição do catolicismo e contra a discriminação racial.

Metade da população de Salvador era formada por negros, a maioria escravos de ganho que faziam todo tipo de serviço para sustentar seus donos. A situação dos negros em Salvador era peculiar. Muitos deles exerciam pequenos ofícios rentáveis: eram alfaiates, carpinteiros, vendedores ambulantes, acendedores de lampião.

Esses trabalhadores deviam parte de seus ganhos a seus senhores e chegavam, em alguns casos, a comprar a liberdade. Entretanto, mesmo libertos, os negros eram tratados com desprezo e não tinham qualquer possibilidade de ascensão social. Esta situação levou-os a se revoltarem contra os dominadores brancos e seus subordinados mulatos. A mais importante dessas revoltas ocorreu em janeiro de 1835.

Os malês eram tradicionalmente rebeldes, mas, em 1835, resolveram se armar e fazer uma revolução para matar os brancos e mulatos, libertar todos os escravos e fundar uma nação negra. A sociedade secreta que tramou a revolta contava com cerca de 1500 adeptos, entre escravos e negros forros.

Os malês juntaram dinheiro para conseguir armas e enfrentar os senhores brancos que os oprimiam. A revolta foi planejada para começar em 25 de janeiro, mas uma denúncia antecipou o movimento. Na noite de 24 de janeiro, alguns rebeldes foram cercados por policiais na casa de Manuel Calafate, mas não se entregaram. Os rebeldes saíram às ruas com facas, facões e machados para lutar contra as forças policiais que usavam armas de fogo.

A revolta foi rapidamente sufocada. Mais de 200 revoltosos foram presos, incluindo cerca de 30 mulheres. Ao final, quatro escravizados foram condenados à morte e outros tantos foram açoitados em público. Cerca de 500 africanos, entre escravizados e libertos, foram expulsos da Bahia e enviados para a África. A Revolta dos Malês fez aumentar o medo dos senhores de escravizados em relação ao poder dos negros de se rebelar.

A repressão foi severa e pretendia acabar com todos os participantes da conjuração; no fim, os mortos foram em sua maioria negros libertos, porque os senhores de escravos intervieram a favor de seus cativos, já que não estavam dispostos a perder o seu patrimônio. Foram proibidos de circular à noite pelas ruas da capital e de praticar suas cerimônias religiosas típicas.

Revolta dos Farrapos

Maior rebelião ocorrida no Brasil durante a Regência. A Revolução Farroupilha, ou Guerra dos Farrapos, recebeu seu nome dos pobres esfarrapados que compunham a maioria da tropa insurgente, embora fosse liderada pelos estancieiros (fazendeiros de gado do Sul do país). Começa em 1835 no Rio Grande do Sul, estende-se até Santa Catarina e termina em 1845. 

Conhecidos como farrapos, os liberais exaltados, partidários do regime federativo e republicano, insurgem-se contra o governo central e defendem maior autonomia para as províncias. No Rio Grande do Sul, eles são os emissários das queixas da elite estancieira contra os altos impostos cobrados sobre o charque, o couro e o trigo - produtos básicos da economia local. 
Naquela época, os gaúchos criadores de gado e produtores de charque reclamavam das concorrências uruguaia e argentina e do excesso de impostos. Esse descontentamento foi um dos motivos que deflagaram a revolta. Entre os líderes farroupilhas, destacaram-se o estancieiro Bento Gonçalves, o militar Davi Canabarro e o revolucionário italiano Giuseppe Garibaldi.
Os estancieiros não tinham condições de competir em situação de igualdade com o charque platino, produzido com mão-de-obra assalariada, mais eficiente e produtiva que o caro braço escravo usado nas estâncias gaúchas. Outros produtos, como o gado e seus subprodutos, como couro e sebo, destinados a outras províncias, enfrentavam obstáculos semelhantes. São também porta-vozes dos ressentimentos da sociedade gaúcha, que se sente abandonada pelo Império na turbulenta região da fronteira sul do país.

A Revolução Farroupilha teve início em 1835, quando Bento Gonçalves, filho de um rico proprietário de terras no Rio Grande do Sul, tomou a cidade de Porto Alegre, depondo o presidente da província.

Ofensiva farroupilha - Em 21 de setembro de 1835, o deputado federalista e coronel das milícias Bento Gonçalves da Silva entra em Porto Alegre e destitui o presidente da província, Antônio Fernandes Braga. Com a ajuda popular, neutraliza as primeiras reações legalistas. Porto Alegre é retomada pelas forças imperiais, mas os revoltosos ampliam o controle sobre as áreas ao longo da lagoa dos Patos e na Campanha Gaúcha. 
No Ano seguinte, os revoltosos proclamaram a República Rio-Grandense, com sede na Vila Piratini. Logo a revolta alastrou-se pelo sul do país, atingindo Santa Catarina, onde foi proclamada a República Juliana, com o auxílio de Davi Canabarro e Giuseppe Garibaldi, líder revolucionário italiano que participou ativamente do movimento.
República Juliana - No mês seguinte, quando se prepara para atacar Porto Alegre, Bento Gonçalves é derrotado na travessia do rio Jacuí. Condenado, é enviado para a prisão, na Bahia. Mesmo sem o chefe principal, a rebelião extravasa os limites gaúchos e ocupa a cidade de Lages, importante entreposto comercial de Santa Catarina. Ajudado pelos liberais baianos, Bento Gonçalves foge da cadeia em abril de 1837 e volta a sua província. Entre 1838 e 1839, o movimento fortalece-se. Por precaução, os revoltosos mudam a capital para Caçapava, no interior da Campanha. Com a participação do italiano Giuseppe Garibaldi, uma expedição é enviada para tomar Laguna, no litoral de Santa Catarina, onde é proclamada a República Juliana.
Contraofensiva imperial: Durante o Segundo Reinado, a rebelião entrou em declínio, especialmente diante da repressão empreendida pelo governo central. Em 1842 chega ao Rio Grande o novo presidente e comandante de armas da província, Luís Alves de Lima e Silva, barão de Caxias. Com rápidas medidas político administrativas e militares, Caxias revigora as tropas legalistas e abre caminho para negociações com os insurretos. Após sucessivas derrotas e com suas lideranças em crescente desentendimento, em 1° de março de1845, foi celebrada um acordo chamado Paz de Ponche Verde, entre os farroupilhas e as tropas imperiais. Nos termos do acordo:
• os revoltosos receberam anistia;
• os farrapos puderam escolher o presidente da província do Rio Grande do Sul;
• os oficiais do exército farroupilha foram incorporados ao exército imperial, ocupando os mesmos postos;
• a taxa de importação sobre o charque uruguaio e argentino foi elevada, para proteger a produção brasileira;
• os escravizados que lutaram ao lado dos farroupilhas foram libertados. No entanto, essa medida beneficiou poucos deles, pois a maioria tinha morrido durante as lutas.
Fez também parte do acordo de paz a encampação das dívidas contraídas pelos governos criados pelos revolucionários. Por sua importante atuação, Caixas recebeu o título de "Pacificador do Império".

Bento Gonçalves

Militar e revolucionário gaúcho. Principal dirigente da Revolta dos Farrapos, movimento liberal e federativo que proclama a República no Rio Grande do Sul.
Bento Gonçalves da Silva (23/9/1788 - 18/7/1847) nasce em Triunfo, filho de um rico estancieiro. Participa da guerra contra as Províncias Unidas do Rio da Prata (1825-1828), sendo recompensado por dom Pedro I com o posto de coronel das milícias e comandante da fronteira sul do país. Sua destituição desse cargo, durante a regência do Padre Diogo Feijó, é o estopim da Revolução Farroupilha, em 1835. Bento Gonçalves entra em Porto Alegre e derruba o presidente da província, Antônio Fernandes Braga. Com o apoio da população, resiste às primeiras reações legalistas. No mês seguinte enfrenta as tropas regenciais, é derrotado e preso. Mandado para a Bahia, é encarcerado no Forte do Mar. Durante sua prisão, os farroupilhas proclamam a República Rio-Grandense, em 11 de setembro de 1836. No ano seguinte, com a ajuda de liberais baianos, Bento Gonçalves foge do cárcere e volta para o Rio Grande do Sul. É aclamado presidente da República Rio-Grandense, posto no qual se mantém até a derrota final dos revoltosos, em fevereiro de 1845.

Giuseppe Garibaldi

Político italiano (4/7/1807-2/6/1882). Nasce em Nice, na época pertencente à Itália, em uma família de pescadores. Começa trabalhando como marinheiro e, entre 1833 e 1834, serve na Marinha do rei do Piemonte. Ali, sofre influências de Giuseppe Mazzini, líder do Risorgimento, movimento nacionalista de unificação da Itália, na época dividida em vários Estados absolutistas. Em 1834 lidera uma conspiração em Gênova, com o apoio de Mazzini. Derrotado, é obrigado a exilar-se, fugindo para o Rio de Janeiro e, em 1836, para o Rio Grande do Sul, onde luta ao lado dos farroupilhas na Revolta dos Farrapos e se torna mestre em guerrilha. Três anos depois, vai para Santa Catarina auxiliar os farroupilhas a conquistar Laguna. Lá conhece Ana Maria Ribeiro da Silva, conhecida como Anita Garibaldi, que deixa o marido para segui-lo. Em 1841 é convidado a dirigir a Marinha do Uruguai. Defende o país contra Manuel Oribe – ex-presidente da República que luta pelo poder – e, depois, contra o ditador argentino Juan Manuel Rosas, que invade o Uruguai em 1842. Volta à Europa em 1854 e luta pela unificação italiana, liderando um exército de voluntários, os "camisas vermelhas". Parte com seus homens de Gênova, no Norte, e chega à Sicília em 1860, conquistando-a para o Piemonte. Em 1874 é eleito deputado e recebe uma pensão vitalícia pelos serviços prestados à nação. Morre em Capri.

A Sabinada (1837-1838 – Bahia)

A Sabinada foi uma revolta ocorrida na Bahia contra o poder central. Um dos seus líderes foi o médico e jornalista Francisco Sabino, do qual decorreu o nome de sabinada. 

A rebelião foi motivada pelo desejo de manter a autonomia provincial conquistada com o Ato Adicional. O objetivo era criar uma república na Bahia enquanto o príncipe herdeiro ainda fosse menor de idade. Da revolta, participaram vários setores da sociedade de Salvador, de comerciantes até ex-escravos.

A Bahia vinha sendo palco de várias revoltas desde a independência, entre as quais se destacaram as rebeliões de escravos, principalmente a dos negros malês.
Sabinada foi um movimento revolucionário, liberal e federalista ocorrido na Bahia durante a regência, entre 1837 e 1838. Propunha a proclamação "provisória" de um regime republicano até a maioridade do imperador - talvez como primeiro passo para a apresentação de reivindicações autonomistas - e a fundação do Estado Livre Baiense, inspirado na República de Piratini pretendida pela revolução farroupilha. Os rebeldes criticavam a transferência de rendas para o Sudeste e a supremacia local dos senhores de engenho e plantadores de tabaco. 
Os sabinos conseguiram reunir tropas, conquistar o poder em Salvador e criar um governo provisório. Os revoltosos eram contrários à centralização política e propunham um governo republicano e independente até que D. Pedro de Alcântara pudesse assumir o trono brasileiro em 1843. Porém, o movimento não teve adesão de toda a população. Muitos fazendeiros discordaram do governo provisório, que prometia liberdade aos escravizados que lutassem ao lado dos rebeldes. Temendo uma revolta semelhante à dos malês, esses fazendeiros ajudaram as forças imperiais a combater o movimento.
A regência enviou tropas que cercaram Salvador e, com a ajuda dos senhores de engenho da região do Recôncavo, fiéis ao governo imperial, venceram os revoltosos em 1838. Ao final da violenta repressão, além de milhares de prisioneiros, cerca de 1800 pessoas estavam mortas. Com a antecipação da maioridade de D. Pedro II, os condenados foram anistiados e colocados em liberdade, mas proibidos de permanecer em Salvador. Sabino transferiu-se para Goiás, onde continuou suas atividades políticas.

A Balaiada (Maranhão, 1838-1841)

A Balaiada foi uma revolta ocorrida no Maranhão entre 1838 e 1841 e começou com divergências entre grupos políticos. Profissionais liberais que formavam o grupo Bem-te-vi (nome do jornal publicado pelos liberais na província) criticavam os fazendeiros conservadores do Maranhão, que, por sua vez, sentiam os efeitos da queda na exportação do algodão e pressionavam os trabalhadores. Muitos vaqueiros livres e escravizados sofriam com a opressão e se uniram para lutar contra a miséria e a escravidão. Assim, os bem-te-vis iniciaram a revolta contra os fazendeiros com a participação dos sertanejos pobres. A revolta envolveu milhares de vaqueiros e escravos, e que foi chamada de Balaiada porque um de seus líderes era fabricante de cestos ou balaios.

A "revolta dos balaios" - ocorrida no Maranhão durante o período de 1830 a 1841 - resultou em mais uma manifestação do processo de crise por que passava a sociedade brasileira durante o período regencial. A Balaiada foi uma rebelião da massa maranhense desprotegida, composta por escravos, camponeses e vaqueiros, que não tinham a menor possibilidade de melhorar sua condição de vida miserável. Os sertanejos e os escravos formaram um grupo que percorria o interior atacando fazendas e libertando escravos, que fugiam para os quilombos, de onde passavam a atuar junto com os balaios.
Esses grupos sociais, que formavam a grande maioria da população pobre da província, encontravam, naquele momento, sérias dificuldades de sobrevivência devido à grave crise econômica e aos latifúndios improdutivos.
A crise econômica havia sido causada pela queda da produção do algodão - base da economia da província - que sofria a concorrência norte-americana.
Na época do movimento, a província contava com aproximadamente 200 mil homens, dos quais 90 000 eram escravos e outra grande parte formada de sertanejos ligados à lavoura ou à pecuária.
Herdando uma estrutura social gerada, em fins da época colonial na produção do algodão, a região encontrava-se, nesse momento, econômica e socialmente instável. A produção algodoeira, fundando-se apenas em razão de condições internacionais - guerra de Independência dos Estados Unidos, Revolução Industrial etc. -, declinou paralelamente ao desaparecimento dos acontecimentos externos favoráveis à economia exportadora.
Assim como havia ocorrido com os cabanos do Grão-Pará, essa massa de negros e sertanejos, cansada de ser usada pela classe dominante, terminou se envolvendo numa luta contra a escravidão, a fome, a marginalização e os abusos das autoridades e militares.
Os líderes do movimento foram o vaqueiro Raimundo Gomes, o fabricante de Balaios (daí o nome Balaiada) Manuel Francisco dos Anjos Ferreira e o negro Cosme, chefe de um quilombo e que organizou quase três mil negros sob sua liderança. O quilombo liderado pelo negro Cosme tinha cerca de 3000 escravos fugidos.
A rebelião havia se generalizado e os liberais maranhenses, chamados de bem-te-vis, resolveram usar o movimento na sua luta contra os conservadores que estavam no poder; passaram a apoiar os balaios, a quem forneceram armas, permitindo que, em julho de 1839, tomassem a cidade de Caxias, onde se instalou um governo bem-te-vi. Porém, a desorganização e a falta de união dos líderes, as divergências entre os líderes e a divisão desordenada dos grupos , onde cada chefe agia isoladamente, facilitaram a vitória das forças militares comandadas pelo coronel Luís Alves de Lima e Silva, enviadas pelo governo para reprimir o movimento. Em 1840, Luís Alves de Lima e Silva, comandando 8000 homens, atacou Caxias. Diante da força imperial, os liberais abandonaram os balaios, que foram massacrados.
Por ter vencido os rebeldes em Caxias, Luís Alves de Lima e Silva recebeu o seu primeiro título de nobreza: Barão de Caxias. Mais tarde, ele recebeu outros títulos, inclusive o de Duque de Caxias, pelo qual é mais conhecido.
Vale lembrar que a repressão à Balaiada marcaria o início da chamada "pacificação" através da qual Caxias sufocou as frequentes agitações que perpassaram a sociedade brasileira durante o império.

Cabanagem (1835-40 – Pará)

A Cabanagem foi uma revolta popular que aconteceu entre 1835 e 1840 na província do Grão-Pará, que compreendia os atuais estados de Pará, Amazonas, Amapá e Roraima. Os revoltosos eram mulheres e homens pobres, indígenas, negros e mestiços que extraíam produtos da floresta e viviam em casas simples, como cabanas, à beira dos rios. Por isso, foram chamados de cabanos. Muitos líderes populares da revolta eram conhecidos por apelidos, como João do Mato, Domingos Onça e Mãe da Chuva.

No início, os cabanos tiveram o apoio de fazendeiros descontentes com a centralização política. Os fazendeiros queriam exportar mais produtos (como cacau, madeira e ervas) sem pagar tantos impostos. Porém, devido à radicalidade do movimento, eles logo se afastaram. Uma vez que a aristocracia queria apenas que o governo da província fosse exercido por um de seus membros, sem romper com o restante do império, enquanto as camadas mais pobres entendiam que suas dificuldades econômicas só seriam resolvidas com mudanças políticas.

O isolamento da província do Pará levava-a a ignorar, na prática, as determinações do governo regencial. No final de 1833, o governo nomeou o político Bernardo Lobo de Souza presidente do Pará. Lobo de Souza valeu-se da repressão para impor sua autoridade na província, o que fez crescer contra si a oposição local.
Líderes como o padre João Batista Gonçalves Santos, o fazendeiro Félix Antônio Clemente Malcher e os irmãos Vinagre - Francisco Pedro, Manuel e Antônio - armaram uma conspiração contra o governador.
Em janeiro de 1835, o governador foi assassinado. Os rebeldes ocuparam a cidade de Belém e formaram um governo revolucionário presidido por Malcher, que defendia a criação, no Pará, uma república separatista. Entretanto, o novo governador mantinha estreita relações com outros proprietários locais e decidiu permanecer fiel ao Império.
Já vimos em outros acontecimentos que a aristocracia rural apoiava as rebeliões populares enquanto as reivindicações destes não colocassem em risco os seus privilégios. Na Cabanagem, aconteceu o mesmo, ou seja, quando as reivindicações dos cabanos começaram a se tornar perigosas para eles, os grandes proprietários abandonaram o movimento.
Por isso, o movimento radicalizou-se. Líderes populares, como Antônio Vinagre e Eduardo Angelim, refugiaram-se no interior da província, em busca do apoio das populações indígenas e mestiças. Foram então as pessoas pobres, que moravam em cabanas, que assumiram a luta pela independência do Pará.
Os cabanos conseguiram montar um grupo de 3000 homens armados e, em agosto de 1835, tomaram Belém. Foi a única revolta da história do Brasil que resultou na tomada de poder por membros das classes dominadas; esse poder durou apenas nove meses porque os revoltosos não tinham um plano de governo definido, os desafios eram muito grandes já que a situação de miséria atingia quase toda a população paraense e, finalmente, isolados, não receberam ajuda externa nenhuma.
Quando as tropas imperiais chegaram, não tiveram grandes dificuldades em vencer os rebeldes. Os que fugiram foram perseguidos até serem capturados e mortos; o combate aos cabanos foi tão excessivo que, calcula-se, exterminou 40% da população do Pará.

Confederação do Equador

A Confederação do Equador foi uma reação mais intensa ao fechamento da Assembleia Constituinte, à censura à imprensa, à imposição da Constituição de 1824 e à instituição do Poder Moderador. O movimento ocorreu em Pernambuco e nas províncias vizinhas.

Havia vários motivos para o descontentamento nas províncias. A situação econômica de Pernambuco não se alterara desde 1817. A produção de açúcar continuava em crise, com preços baixos no exterior e impostos internos que os fazendeiros consideravam muito altos. 

Pequenos comerciantes, militares de baixa patente, mestiços, negros livres e escravizados viviam na pobreza. Já a elite da região preocupava-se com a queda nas exportações e com o aumento da cobrança de impostos. Por um momento, esses grupos sociais uniram-se contra as atitudes autoritárias do imperador.

A Carta de 1824, que reduziu ainda mais o poder dos latifundiários do Nordeste no Rio de Janeiro dificultou a defesa dos interesses de fazendeiros e líderes políticos da região. Por isso, as ideias republicanas e federalistas – isto é, de uma república formada por estados mais autônomos em relação ao governo central –, que vinham desde 1817, ganharam força em Pernambuco em 1824.
Nessa época, pessoas influentes como Frei Caneca (1779- -1825) e Cipriano Barata (1762-1838) defendiam a criação de uma república em que as províncias tivessem autonomia. Frei Caneca, que havia participado da Revolução de 1817, voltou a defender ideias republicanas no jornal.
As ideias dos revoltosos eram divulgadas no jornal Typhis Pernambucano, editado por Frei Caneca. A palavra “Typhis” é uma referência mitológica a um piloto de um navio grego.
No jornal pernambucano, Frei Caneca dizia que o navio da pátria estava em perigo e que os pernambucanos precisavam escolher um novo piloto para enfrentar as tempestades.
O frade convoca o povo à luta contra a ordem política imposta pela corte do Rio. Dizia que a Constituição era “contrária à liberdade, independência e direitos do Brasil” e que ela promovia a desunião das províncias, tornando-as “todas dependentes do Governo Executivo” o Poder Moderador, segundo Caneca era “a chave mestra da opressão da nação brasileira”.
No dia 13 de dezembro de 1823, os deputados pernambucanos, cearenses e paraibanos que retornavam da extinta Assembleia Constituinte lançaram em Recife um manifesto contra a atitude do imperador. Os representantes das câmaras municipais de Recife e Olinda já haviam escrito a dom Pedro, condenando o fechamento da Constituinte e ameaçando resistir às ordens do monarca.
O mestiço Pedro Pedroso organizou brigadas populares para combater o governo e os proprietários rurais. Em 1823, à frente das brigadas, ele conseguiu derrubar o governo de Pernambuco e tomar o poder. Houve, porém, forte reação das tropas que apoiavam o governo e Pedro Pedroso foi preso e conduzido ao Rio de Janeiro.
O presidente da província voltou ao governo, mas, diante da reação popular, renunciou no final de 1823. As câmaras municipais pernambucanas elegeram Manuel de Carvalho Pais de Andrade presidente da província. Revolucionário de 1817, Manuel de Carvalho foi recusado pelo imperador, que em 23 de fevereiro de 1824 mandou substituí-lo por Pais Barreto.
Em resposta, as câmaras de Pernambuco escreveram ao imperador, insistindo para que ele aceitasse o presidente que ela haviam escolhido. Enquanto isso, Pais Barreto conseguiu o apoio de dois batalhões e prendeu o presidente provincial eleito. Em seguida, uma tropa formada por civis e militares libertou Manuel de Carvalho e reconduziu-o ao governo pernambucano.

Revolta e repressão

A revolta começou quando dom Pedro I contrariou políticos locais e nomeou um novo presidente para Pernambuco. Em resposta, as câmaras de Pernambuco escreveram ao imperador, insistindo para que ele aceitasse o presidente que ela haviam escolhido. Enquanto isso, Pais Barreto conseguiu o apoio de dois batalhões e prendeu o presidente provincial eleito. Em seguida, uma tropa formada por civis e militares libertou Manuel de Carvalho e reconduziu-o ao governo pernambucano.
Liderados por Manuel Pais de Andrade, antigo presidente da província e revolucionário em 1817, os revoltosos pretendiam formar uma república federalista, respeitando a autonomia de cada província. De Pernambuco, a revolta expandiu-se para Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Piauí e Alagoas.
Alguns líderes da Confederação do Equador defendiam o fim do tráfico negreiro e a igualdade entre os cidadãos. No entanto, essas propostas provocaram medo nos proprietários de terras, que, temendo uma revolta popular, retiraram o apoio ao movimento. Com isso, os revoltosos não conseguiram enfrentar as forças do governo imperial.
No final de março de 1824, dois navios de guerra chegaram a Recife para forçar a posse do presidente provincial indicado por dom Pedro I. Pais Barreto, não conseguindo assumir o controle da província , concentrou-se com seus aliados em Barra Grande, em Pernambuco.
Uma ameaça de invasão de tropas estrangeiras levou os navios militares de volta ao Rio de Janeiro em 11 de junho. A Câmara Municipal de Olinda já havia recusado formalmente a constituição imposta pelo imperador.
Livre dos navios de guerra, Manuel de Carvalho levou ao extremo a oposição das lideranças pernambucanas ao governo imperial. No dia 2 de julho de 1824, ele proclamou a Confederação do Equador, numa tentativa de separar a província do recém-formado Império do Brasil.
A Confederação durou pouco, mas o suficiente para sabermos que se pretendia organizar um país republicano e federalista composto por províncias do Nordeste. Não foi difícil conseguir a adesão dessas províncias, pois havia forças políticas na região que se sentiam igualmente prejudicadas pela política do imperador.
Manoel de Carvalho convocou para 17 de agosto de 1824 a Assembleia Constituinte da Confederação do Equador. Carvalho vivera nos Estados Unidos em 1817, quando fora exilado. Apesar de o modelo político norte-americano exercer forte influência sobre sua concepção de governo, ele estabeleceu um projeto de Constituição inspirado na carta magna a Colômbia.
Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará e Piauí aderiram à confederação. Uma pequena esquadra foi enviada a Barra Grande para impedir que Pais Barreto reagisse.
A ajuda do governo imperial veio logo e forçou a retirada dos barcos confederados. Além disso, os fazendeiros que participavam do movimento não gostaram da ideia defendida por Manoel de Carvalho de extinguir o tráfico de escravo no porto de Recife. Descontentes, os proprietários passaram a apoiar as milícias imperiais e as tropas organizadas pelos latifundiários liderados por País Barreto.
Outro fator que desuniu a Confederação foram as revoltas populares. Para enfrentar os ataques do governo imperial, os confederados precisavam de soldados, que obviamente vinham do povo. Desde 1821, havia em Pernambuco batalhões compostos por homens livres – negros, mulatos, militares inferiores, brancos pobres – que combatiam não somente os portugueses, como também os latifundiários da província.
Em fevereiro de 1823, esses batalhões chegaram a sair pelas ruas de Recife chamando a população a repetir o que os negros haviam feito no Haiti. Quando aderiram ao movimento dos confederados, esperavam acabar com a diferenciação racial e com os privilégios que faziam dos fazendeiros os únicos donos do poder e da riqueza.
Os fazendeiros pernambucanos temiam que revoltas desse tipo se repetisse e que os líderes confederados perdessem o controle sobre o povo. O próprio Manoel de Carvalho já não podia controlar as brigadas populares e acabou abandonando a guerra. A derrota da última força da confederação desanimou frei Caneca e alguns membros separatistas que haviam escapado de Recife para unir-se às tropas do Ceará. Presos numa fazenda, foram levados à capital pernambucana, onde foram julgados por um tribunal militar.
Recife foi finalmente retomada pelas tropas imperiais em 17 de setembro de 1824. Carvalho conseguiu escapar abrigando-se no navio inglês Tweed e fugindo para a Inglaterra.
A resistência dos confederados prosseguiu no Ceará até novembro, quando o presidente da província, Tristão de Alencar Araripe, morreu num combate em Santa Rosa. O comandante das armas cearenses, José Pereira Filgueiras, foi preso.
Atacados por terra e mar, os rebeldes foram derrotados. Diversos líderes foram presos e condenados à morte (como Frei Caneca) e outros fugiram (como Pais de Andrade). Como parte da repressão à Confederação do Equador, a província de Pernambuco foi desmembrada: toda a área a oeste do Rio São Francisco foi anexada à Bahia.


REVOLUÇÃO PERNAMBUCANA (1817)

Em 1817, uma nova revolta aconteceu, dessa vez em Pernambuco. O movimento foi chamado de Insurreição ou Revolução Pernambucana.

Essa revolução teve várias motivações, como o aumento dos impostos para sustentar a corte portuguesa no Rio de Janeiro, os prejuízos à agricultura e a fome causados pela seca, a queda no preço do açúcar e do algodão (importantes mercadorias pernambucanas) e a concorrência de produtos das Antilhas e dos Estados Unidos.

O movimento pernambucano contou com a participação de setores da elite econômica e das camadas populares, incluindo negros, mestiços e brancos pobres. A presença popular inquietava os líderes da revolta. Apesar das divergências de interesses, todos concordavam em proclamar uma república na região.

O mau desempenho da indústria açucareira no início do século XIX mergulha Pernambuco em um período de instabilidade. Distantes do centro do poder, a presença da corte no Brasil traduz-se apenas em aumento de impostos e faz crescer a insatisfação popular contra os portugueses. Em 1817 estoura uma revolta: de um lado, proprietários rurais, clero e comerciantes brasileiros, de outro, militares e comerciantes portugueses vinculados ao grande comércio de importação e exportação.

Com a vinda de Dom João em 1808, o Brasil passou por profundas modificações. Por isso, na época da Revolução Pernambucana a situação do Brasil era bem diferente da que vivia o país, quando eclodiram os movimentos revolucionários anteriores a esse.

Os principais fatores da Revolução de 1817 em Pernambuco foram:
- a independência das colônias espanholas da América do Sul;
- a independência dos Estados Unidos;
- as ideias de liberdade que vinham se propagando desde o século anterior em todo o Brasil;
- a ação das sociedades secretas, que pretendiam a libertação da colônia;
- o desenvolvimento da cultura em Pernambuco, por influência do Seminário de Olinda.

Governo revolucionário

A insurreição eclodiu quando um comerciante português denunciou os planos do movimento ao governador de Pernambuco, que acabou por enviar forças militares para reprimir os envolvidos, mas os revoltosos venceram e, em seguida, prenderam o governador.
Os revoltosos tomaram o poder em Pernambuco e o movimento expandiu-se para o Ceará, a Paraíba e o Rio Grande do Norte. Em Recife, foi formado um governo provisório que extinguiu impostos e elaborou uma Constituição que garantia liberdade religiosa e de imprensa. Contudo, a escravidão foi mantida. Para não contrariar os senhores de engenho, os revoltosos diziam que a escravidão seria abolida de modo lento e gradual.
Os rebeldes organizam o primeiro governo brasileiro independente, baseado na representação de classes, e proclamam a República. Enviam emissários aos Estados Unidos, Inglaterra e região platina para pedir o reconhecimento do novo governo. Procuram articular o movimento na Bahia, Alagoas, Rio Grande do Norte e Paraíba, mas recebem adesões apenas nesta última.

A questão da escravidão

O governo revolucionário compromete-se a garantir os direitos individuais, as liberdades de imprensa, culto e opinião, mas divide-se na questão da escravidão. Comerciantes, como Domingos José Martins, defendem a abolição. Os representantes do setor agrícola, como Francisco de Paula, se opõem, temendo a repetição dos massacres de brancos ocorridos no Haiti. A divergência impede a participação dos combatentes negros e de suas lideranças, como o capitão mulato Pedro Pedroso. Divididos e isolados do resto da colônia, os revoltosos não resistem por muito tempo.
O governo revolucionário pernambucano durou pouco mais de dois meses. O governo de dom João VI mandou tropas, armas e navios para combater a Revolução Pernambucana. Portos foram bloqueados e navios pernambucanos, confiscados. Após governarem por 75 dias, os revoltosos se renderam em maio de 1817 e seus líderes foram condenados à morte.
Alguns historiadores avaliam que a Revolução Pernambucana foi o único movimento anterior à independência do Brasil que ultrapassou a fase de conspiração.

Relações Internacionais no Segundo Reinado

Durante o segundo reinado, o Brasil mantém sua dependência econômica em relação à Inglaterra. Os dois países enfrentam vários conflitos diplomáticos e têm interesses divergentes na questão da escravidão, mas a política externa brasileira é de alinhamento praticamente automático com a dos ingleses. São eles que financiam as guerras em que o país se envolve no período – contra o Uruguai, a Argentina e o Paraguai.
Os industriais norte-americanos cobiçam participar do mercado brasileiro, mas não conseguem quebrar a hegemonia inglesa. Sem poder competir abertamente, passam a atuar contra os interesses ingleses. Fazem, inclusive, a intermediação do tráfico negreiro, atividade que tem a participação dos embaixadores dos Estados Unidos no Brasil.
O Brasil, após a emancipação política, caminhara no sentido de erguer um Estado soberano, capaz de fazer parte do "conjunto de nações civilizadas" do qual a Inglaterra e a França eram exemplos significativos. Em meados do século XIX, com a Monarquia já consolidada e com um Executivo forte, responsável pela garantia da ordem política e social, o Estado brasileiro sentia-se diferente dos demais Estados da América Latina, que após a emancipação haviam se transformado em Repúblicas.
D. Pedro II investirá na construção desta imagem "civilizada" do país no exterior. É com esta intenção que, desde 1862, o Brasil participa das exposições universais realizadas em cidades como Londres, Paris, Viena, Amsterdã entre outras. O Imperador chegava a cuidar pessoalmente do que seria exibido como o "melhor" do país, nestas ocasiões. Este esforço tinha o objetivo de veicular a ideia de um Brasil moderno e cosmopolita, em substituição à imagem de ser um país "distante, agrícola e apoiado na força do trabalho escravo." Assim, o Império, entendia-se "civilizado", em contraste com os demais Estados americanos que, por terem adotado a República, revelavam a "barbárie", "a anarquia", o "caudilhismo".

Os "Negócios do Prata"

As diferenças políticas do Império com seus vizinhos na América Latina haviam gerado desentendimentos anteriores ao governo pessoal de D. Pedro II. Durante os governos regenciais, em 1837, ocorrera um incidente com o Presidente do Uruguai, Manuel Oribe. Este, invocando o Tratado de Santo Ildefonso (1777), pretendia aumentar o território uruguaio. A questão, tratada no campo diplomático, foi contornada.
Os chamados "negócios do Prata" ocupariam, durante o Governo de D. Pedro II, as atenções da diplomacia do Brasil, constituindo-se, inclusive, no principal objetivo da política internacional do Império. Inúmeros ministros, como o Visconde de Sepetiba (Aureliano de Souza e Oliveira Coutinho), o Marquês do Paraná (Honório Hermeto Carneiro Leão) e o Visconde do Rio Branco (José Maria da Silva Paranhos), utilizando muitas vezes as "sutilezas diplomáticas", no dizer do historiador J. A. Soares de Souza, buscavam o entendimento entre os envolvidos. O Prata foi uma "escola política" para grande parte da elite do Império. Entretanto, atuar naquele campo não era uma tarefa fácil. As negociações esbarravam ora nas intervenções inglesas, ora nas questões comerciais dos Estados com interesses específicos etc, de modo que as crises se sucediam gerando um constante clima de tensão nas fronteiras meridionais. Até a metade do século XIX as intervenções do Império, na região do Prata, tinham ocorrido apenas no âmbito diplomático.

Ações Militares na Região do Prata no Século XIX

A partir de 1851 as ações na região do Prata passaram a ser militares. Em maio de 1851 Oribe tomou o poder no Uruguai com o apoio de Juan Manuel Rosas, governador da Província de Buenos Aires que, depois de violenta guerra civil, conseguira submeter as outras províncias à hegemonia de Buenos Aires. Rosas ambicionava reconstituir o antigo Vice-Reinado do Prata, que uniria a República das Províncias Unidas do Rio da Prata (atual Argentina) ao Uruguai e ao Paraguai. A política de Rosas visava o controle do estuário platino, o que incluía o porto de Montevidéu, que fora bloqueado. Este cerco prejudicava o acesso a Mato Grosso e às outras províncias do sul do Império.
Por outro lado sabia-se que os Governos da França e da Inglaterra não aprovavam que esta fronteira estratégica, ampla e importante econômica e politicamente, ficasse sob o controle de um único país.
O Ministro Pedro de Araújo Lima, Marquês de Olinda, insistia em continuar negociando com Rosas, em nome do Brasil. O impasse diplomático determinou uma crise ministerial com a substituição de Araújo Lima pelo Ministro da Justiça, Eusébio de Queirós.
Com a fronteira do Rio Grande do Sul ameaçada, as tropas do Brasil, comandadas por Luís Alves de Lima e Silva - o futuro Duque de Caxias - e com o apoio das forças contrárias a Oribe e a Rosas, entraram em confronto, em 1851, com Rosas.
O equilíbrio da região do Prata, mesmo após a capitulação de Rosas, em fevereiro de 1852, prosseguiria precário. Desde 1863 uma guerra civil dividia o Uruguai entre os adeptos do Partido Colorado, do General Venâncio Flores, e os do Partido Blanco, chefiados por Atanásio Aguirre que, então, ocupava a presidência do país. Flores contava com o apoio dos Governos do Brasil e da Argentina, que temiam a política nacionalista dos blancos. Por outro lado, Aguirre chegara ao poder com o apoio de Solano López, Presidente do Paraguai, aproximação que teria, inclusive, favorecido a união da Argentina com o Brasil no apoio ao colorado Flores.
O Governo do Brasil, atendendo aos interesses dos estancieiros gaúchos, fez inúmeros reclamações contra as violações de fronteiras que ocorriam, não sendo atendido por Aguirre. Com a ruptura das negociações, em 21 de julho de 1864, D. Pedro II deu ordem ao Conselheiro José Antônio Saraiva que enviasse um ultimato ao presidente uruguaio. As relações diplomáticas foram rompidas e a guerra foi declarada.
As forças brasileiras, comandadas pelo General João Manuel Mena Barreto e pelo Almirante Tamandaré (Joaquim Marques Lisboa), cercaram Montevidéu, derrotando as tropas de Aguirre em fevereiro de 1865.
No governo de Venâncio Flores, que assumiu após o término do conflito, as questões diplomáticas com o Império do Brasil foram solucionadas, sendo assinado um tratado de paz. Isto, entretanto, não colocaria um ponto final nos atritos com países platinos. Outro conflito explodiria com um novo inimigo, gerando a desastrosa Guerra do Paraguai que, apesar da vitória final, traria mais efeitos negativos que positivos para a monarquia no Brasil.

A Guerra do Paraguai

Nos anos 60 do século XIX uma nova crise na região do Prata se transformaria no em longo e sangrento conflito conhecido como a Guerra do Paraguai. Este episódio durante algum tempo, foi entendido pelo lado brasileiro como uma luta realizada contra o ditador Solano López e seus planos expansionistas. Mais adiante, na década de 1960, segundo a versão de historiadores como o argentino León Pomer, a razão da guerra seria relacionada aos interesses ingleses, que viam com desagrado a crescente autonomia paraguaia. Assim, havia uma emergente necessidade, por parte do Governo inglês, de desarticular o Paraguai, mantendo o controle econômico sobre a América Latina.
Recentemente a historiografia passou a concentrar-se mais atentamente na situação de cada país envolvido no conflito, bem com nas relações que mantinham entre si sem, entretanto, negar a significativa influência do capitalismo inglês, naquela época, na América Latina. De acordo com esta linha historiográfica, formara-se uma zona de disputas e discórdias em torno dos rios Paraguai e Uruguai que remonta à época das Américas portuguesa e espanhola. As tensões prosseguiram com outros contornos no decorrer do tempo. Com o término da dominação espanhola, no início do século XIX, surgiram na região do vice-reinado do Prata, após muitas lutas, o Uruguai, o Paraguai, a Bolívia e a Argentina.
Neste período coexistiram na Argentina correntes políticas divergentes. Uma delas era composta pelos comerciantes de Buenos Aires, que defendiam um Estado centralizado e unitário, pois, pelo porto de Buenos Aires, controlariam o comércio exterior e, conseqüentemente, as rendas dos tributos sobre as importações. A outra corrente era federalista, sendo composta pelos grandes proprietários rurais, pequenos industriais e um grupo de comerciantes mais voltados para o mercado interno. Defendiam, através do Estado descentralizado, que suas rendas não fossem submetidas aos tributos estabelecidos pela burguesia comercial de Buenos Aires.
O Uruguai, por sua vez, nascera em 1828, após conflitos que envolveram o Brasil, em uma área onde os ingleses tinham diversos interesses financeiros e comerciais. Disputando o poder político uruguaio formaram-se duas facções: os blancos, grupo composto por proprietários rurais, e os colorados, ligados aos comerciantes, simpatizantes das idéias liberais.
Quanto à Província do Paraguai, desde 1810, recusava-se a submeter-se à burguesia formada pelos comerciantes do porto de Buenos Aires. Sua independência seria definida quando da designação para a Presidência de Carlos Antonio López, em 1842. Aos poucos o Paraguai procurava crescer vinculando-se ao mercado externo. Buscando romper o isolamento do país, Carlos Antonio López instalou linhas telegráficas, construiu estradas de ferro, modernizou a esquadra, estabeleceu fábricas de tecidos, papel, tinta e pólvora. Por volta de 1862, seu filho Francisco Solano López ascendeu ao poder, procurando novas alternativas para prosseguir no desenvolvimento do Paraguai.
O Governo imperial do Brasil via com preocupação alguns aspectos deste quadro político traçado por seus vizinhos da América Latina. Temia, por exemplo, que a Argentina, transformada em uma República forte, fosse capaz de causar problemas junto à "inquieta" Província do Rio Grande do Sul. Por outro lado, quanto ao Uruguai, a preocupação relacionava-se às medidas de repressão ao contrabando na fronteira, já que muitos gaúchos, criadores de gado, tinham interesses econômicos naquele país. O Governo do Brasil chegou, inclusive, a promover acordos secretos com os colorados com os quais tinha interesses comuns. Comentava-se que alguns "acertos" teriam sido intermediados por Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá, proprietário de um banco no Uruguai.
Com o Paraguai, o Brasil volta e meia via-se envolvido em atritos e desentendimentos. Algumas divergências relacionavam-se às questões de fronteira e à vontade do Brasil em garantir o acesso a Mato Grosso pelo Rio Paraguai. Uma viagem, por terra, do Rio de Janeiro até Mato Grosso demorava, em média, quatro meses e meio. Já a ligação fluvial cobria o percurso em menos tempo.
No início da década de 60 do século XIX, uma sucessão de fatos definiria algumas posições e acirraria antigas rivalidades. Em 1863 o Governo imperial, após inúmeros incidentes que envolveram a atuação do embaixador inglês e a ação da Marinha inglesa fundeada no Rio de Janeiro que apreendera embarcações brasileiras, rompeu relações diplomáticas com a Inglaterra. Isto distanciou a posição brasileira dos interesses ingleses gerando um clima de "exaltação patriótica", no dizer de Bóris Fausto. Na Argentina reunificada, Bartolomeu Mitre era eleito Presidente. A política assumida pelo novo governante argentino que agradou ao Gabinete do Brasil, conduzido neste momento pelos liberais, incluía a aproximação com os colorados uruguaios e, também, a defesa da livre navegação nos rios da bacia do Prata. Solano López, por sua vez, aliou-se aos blancos, então no poder no Uruguai, e aos adversários de Mitre na Argentina.
Segundo a historiadora Lilia Moritz Schwarcz (...) "o cenário da guerra estava montado e só faltava o estopim" que surge em setembro de 1864 quando uma esquadra comandada pelo Almirante Tamandaré é enviada ao Uruguai, onde os blancos estavam no poder, para averiguar supostas violências praticadas contra brasileiros que lá moravam.

A Invasão do Uruguai e o Início da Guerra do Paraguai

Entre ultimatos e pedidos de punição ocorreu uma temporária invasão do Uruguai. É provável que López tenha entendido esta ação militar brasileira como sinal de expansionismo em marcha que, logo alcançaria o Paraguai. Em 10 de novembro, por ordem das autoridades paraguaias, mesmo antes do rompimento diplomático com o Brasil, foi aprisionado o navio do Império Marquês de Olinda, que subia o Rio Paraguai na direção de Mato Grosso. O conflito logo se deflagrou. A 23 de dezembro de 1864 as tropas paraguaias lançaram, com sucesso, uma ofensiva contra Mato Grosso. Em abril de 1865, mesmo sem consentimento, as forças de López avançam pelo território argentino visando atacar o Rio Grande do Sul e o Uruguai. Comentava-se que Solano López talvez imaginasse que a vitória obtida no ataque a Mato Grosso levaria o Brasil a acertar um acordo com o Paraguai que, contando com o apoio dos blancos uruguaios e das províncias argentinas opositoras a Mitre, se transformaria, então, em uma força importante no jogo político do continente. Entretanto os fatos seguintes não realizariam o desejo de López: o suporte argentino, tão esperado, não se concretizou, e no Uruguai o poder fora ocupado pelo colorado Venâncio Flores com o auxílio do Brasil.
No dia 1º de maio de 1865 era assinado o Tratado secreto da Tríplice Aliança pelos governos da Argentina, do Brasil e do Uruguai, sendo o comando das forças aliadas entregue ao Presidente argentino Mitre. Constava no Tratado a determinação, entre outros itens, de que a paz só seria negociada após a deposição de López. O Paraguai também era sentenciado, por ter sido a nação agressora, a pagar os altos custos decorrentes do conflito. Os aliados, considerando a vantagem numérica militar em relação ao inimigo, tinham como expectativa que o conflito não se alongaria muito. O próprio Imperador, transformado no "senhor da guerra", no dizer da historiadora Lília Moritz Schwarcz, escreveria do cenário do conflito, para onde se deslocara sem ouvir objeções do seu Gabinete, em 7 de julho de 1865: "A guerra vai bem e espero que pouco durará." Esta postura se opunha à imagem de um monarca civil avesso "à mais rudimentar experiência da guerra", e geraria inúmeros comentários. Dizia-se que D. Pedro II assumira a condição de "voluntário número um" até porque, nas imagens oficiais daquela época, aparecia sempre vestido para combate. O otimismo quanto à duração do conflito alcançava o plano econômico, pois os aliados contabilizavam lucros obtidos no comércio exterior, além do fato de a guerra envolver grandes negócios, que incluíam armas, víveres etc.
O Exército imperial constituíra-se inicialmente apenas com o efetivo oriundo das milícias da Guarda Nacional de São Paulo, Minas Gerais e Goiás. Mais adiante utilizaria o recrutamento. Este, no primeiro ano, quando a guerra era vista como uma "cruzada patriótica", era realizado voluntariamente. O Major Cristiano Pletz, considerado herói da Guerra do Paraguai, registrou em suas Memórias:

(...) "O Governo do Império, dispondo senão de uns 10 ou 12 mil homens do Exército, convidou o povo brasileiro a se apresentar voluntariamente para defesa da Pátria (...)

(...) Na vérpera da partida (...) jovens e senhoritas (...) jogavam flores. - Alegre... triste baile de despedida (...).

(...) Seguimos (...) para o quartel do Campo de Santana (...) achava-se em organização o 2º Batalhão de Voluntários sob o comando do Tenente-Coronel Manuel Deodoro da Fonsecsa (...)."

Logo o recrutamento tornou-se compulsório. A imprensa na Corte publicava nota no Opinião Liberal, a 13 de dezembro de 1867: "Foi resolvido em Conselho de Ministros a desapropriação de 30.000 escravos para formarem um novo exército libertador do Paraguai. (...) Com tal exército, espera o governo salvar a honra do país e desagravá-lo das ofensas recebidas."Tal forma de recrutamento envolvia diretamente a propriedade servil. Apesar de bem pagas, estas desapropriações traziam inconvenientes pois era difícil, muitas vezes quase impossível, substituir a mão - de - obra. Por outro lado, bem mais grave para a estrutura econômica do Império era o que o historiador Nelson Werneck Sodré considerava "estímulo implícito que o processo conferia à extinção do escravismo", e que ficaria visível e evidente após o encerramento do conflito.

A Ação de Caxias na Guerra do Paraguai

A euforia geral dos aliados (Argentina, Brasil e Uruguai) quanto às possibilidades de um rápido conflito entraria em choque direto com a resistência das forças inimigas. López organizara o Paraguai, militarizando-o fortemente, ao contrário do que se supunha. De todos os lados as imagens da guerra eram de privações, de milhares de mortes em combate ou por doenças, como a epidemia de cólera que dizimou os combatentes em Mato Grosso. O Império, na continuidade do conflito, perdia os aliados, ficando praticamente sozinho. Nestas condições, aquela guerra, que começara como um grande ato de patriotismo, se via cercada de cada vez maior impopularidade. Alguns órgãos da imprensa, mesmo no início do embate, criticaram a participação do Brasil. Em São Paulo, a folha ilustrada O Diabo Coxo, publicada por Ângelo Agostini, oferecia na edição de 27 de agosto de 1865: "Ao venturoso mortal que descobrir a predileção e notar o entusiasmo popular pela atual guerra do Brasil contra o Paraguai: um par de olhos de lince."
No Exército brasileiro, internamente, surgiam as discórdias. Em outubro de 1866, o Partido Conservador, na oposição, responsabilizava o Partido Liberal, no poder, pelos rumos incertos tomados pelo conflito. É neste contexto que o General Luís Alves de Lima e Silva, que também era Senador pelo Partido Conservador, assume, muito prestigiado, o comando das tropas do Império. Na frente de batalha no Paraguai a situação do Exército era complexa. A tropa estava desanimada contando com um efetivo insuficiente e despreparado. Rareava a apresentação de voluntários, o que fez com que se intensificasse o recrutamento obrigatório. Críticas ferozes se avolumavam na imprensa, que chegou a classificar a guerra como "açougue do Paraguai." A maioria recrutada era negra. Segundo a historiadora Lília Moritz Schwarcz, esta mudança na coloração do Exército fez com que os jornais paraguaios passassem a, ironicamente, chamar os soldados brasileiros de "los macaquitos", apelido que depois se estendeu aos Generais, ao Imperador e à Imperatriz. Esta denominação pejorativa talvez explique o motivo que levou D. Pedro II a mover uma perseguição implacável a Solano López.
Lima e Silva, futuro duque de Caxias, depois de um longo período de preparação e reorganização do Exército, reiniciou as manobras militares. Entre as inúmeras batalhas destacou-se a ofensiva à fortaleza de Humaitá, no Paraguai, que capitulou em agosto de 1868. Ao se iniciar 1869 as tropas do Império entraram em Assunção sem encontrar resistência. Caxias deu a guerra por encerrada, embora não tivesse conseguido capturar ou matar López. Apesar de não ser o desejo do Imperador, retirou-se do comando. Retornando à Corte, não foi recebido com festejos. Entretanto, conferiu-lhe D. Pedro II - certamente enfatizando a importância, naquele momento de tanta oposição, daqueles que lideravam a Guerra do Paraguai - o Grão-Colar da Ordem de D. Pedro I, honraria que ninguém havia ainda recebido, e o mais alto grau nobiliárquico do Império: o título de duque, aliás, o único que existiu no Brasil. D. Pedro II entendia (...) "ser preciso o quanto antes livrar o Paraguai da presença de López" e distanciar sua imagem internacional dos caudilhos sul-americanos.

Os Momentos finais da Guerra do Paraguai

O Imperador entregou o comando ao Conde d'Eu, que passou a chefiar as tropas a partir de 22 de março de 1869. O novo comandante, casado com Isabel - princesa - herdeira do trono brasileiro -, não tinha problemas nem com o Partido Conservador nem com o Partido Liberal, até porque a "guerra já se tornara apartidária", segundo Lília Moritz Schwarcz. Esta mesma historiadora considera que o Conde transforma-se numa espécie de capitão do mato atrás de López, chefiando um exército mestiçado de cerca de 26 mil homens cansados e desmotivados. Mesmo assim, sucessivos confrontos sangrentos resultam em muitas baixas e prisões de adolescentes e crianças que se haviam transformado em soldados paraguaios. A desolação, em meio a saques e matança, expressava-se neste verso popular:

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