sexta-feira, 3 de janeiro de 2025

O neoliberalismo

Entre o final da década de 1960 e o início da década de 1970, uma nova filosofia econômica começou a ganhar força em oposição à política de bem-estar social, que predominou na Europa após a Segunda Guerra. Essa filosofia procura revisar as ideias liberais e defende menor participação do Estado na economia, a liberdade de ação das grandes empresas e a especulação financeira. Como essa filosofia econômica promoveu uma espécie de resgate do liberalismo clássico, ela passou a ser conhecida como neoliberalismo. Uma das primeiras e mais conhecidas experiências neoliberais do século XX foi implementada nos anos 1970 no Chile, durante a ditadura do general Augusto Pinochet. Em seu governo, o Chile implementou políticas de privatização de serviços públicos, como educação, saúde e previdência, e de empresas estatais. O neoliberalismo chileno opnha-se à política de bem-estar social praticada na Europa, onde o Estado possuía uma forte presença na economia e na oferta de serviços voltados à população.

Os políticos neoliberais

Como vimos nas páginas iniciais desta trilha, durante a Guerra Fria, diante do medo do avanço do socialismo e em meio à crise social, os países considerados mais desenvolvidos do bloco capitalista viram-se obrigados a garantir condições que promovessem o bem-estar social, a recuperação econômica e a prosperidade. Mas, com o declínio do socialismo e o fim da polarização política, os líderes ocidentais declararam a vitória do capitalismo e implementaram reformas neoliberais. Nos anos 1980, Ronald Reagan (1911-2004), nos Estados Unidos, e Margaret Thatcher (1925- -2013), no Reino Unido, despontavam como políticos de uma nova era, promovendo um avanço mundial da economia neoliberal. Os programas de privatizações de serviços públicos e indústrias básicas (como as que fornecem água, gás e eletricidade) implementados pelos governos de Reagan e Thatcher foram seguidos por diversos países e representaram um significativo avanço do neoliberalismo durante o período.

Ronald Reagan

Nos Estados Unidos, as crises internas e internacionais dos anos 1970 abriram espaço para o avanço das políticas neoliberais. Ronald Reagan foi eleito presidente em 1981 com o slogan “Vamos tornar a América grande novamente”. Reagan tinha forte adesão entre os eleitores brancos e conservadores. Diversos historiadores estadunidenses apontam para a centralidade das relações raciais nesse contexto. A expressão “reação branca” foi usada para caracterizar a resposta negativa de pessoas brancas ao progresso de outros grupos étnicos, que conquistavam direitos, oportunidades e uma crescente paridade cultural desde as lutas pelos direitos civis nos anos 1960. Reagan construiu uma estratégia de governo que desestruturava as políticas direcionadas a esses grupos e fomentava as rivalidades e os preconceitos étnico-raciais nos Estados Unidos.

Margaret Thatcher

Thatcher se tornou primeira-ministra do Reino Unido em 1979, com as promessas de restaurar a competitividade econômica inglesa, restringir o poder dos sindicatos, reduzir os impostos e promover privatizações. Ela se manteve no cargo até 1990. Foi a primeira mulher a ocupar essa posição na história inglesa e ficou conhecida como a “dama de ferro” por causa de suas decisões inflexíveis e ações contundentes.

O avanço das políticas neoliberais na América Latina O Consenso de Washington foi um conjunto de medidas neoliberais formuladas por economistas do Fundo Monetário Internacional (FMI), do Banco Mundial e do Departamento do Tesouro dos Estados Unidos, reunidos em Washington, D.C., nos Estados Unidos, em 1989. O objetivo era estimular o desenvolvimento econômico dos países subdesenvolvidos, que possuíam um padrão de vida baixo ou médio e baixo crescimento da economia. Na década de 1980, a América Latina atravessou um período de profunda crise econômica, caracterizada pela diminuição da renda, pelo aumento do desemprego e pela hiperinflação em diversos países, além do crescimento descontrolado da dívida externa. Em 1982, o México declarou moratória devido a sua incapacidade de arcar com sua dívida externa.

O temor de que outros países latino-americanos seguissem o caminho do México fez com que investidores do mundo todo parassem de investir na região. Esse cenário aprofundou a crise e teve como resultado o aumento da pobreza e da fome na América Latina. Assim, o Consenso de Washington defendeu a implementação de medidas neoliberais como a solução para os problemas econômicos e sociais latino-americanos. Entre elas, estavam a redução dos gastos com políticas sociais, a privatização de empresas estatais e de serviços públicos e a maior abertura da economia. No entanto, a implementação do Consenso de Washington em países como Argentina, México e Brasil teve resultados contraditórios.

De uma perspectiva mais ampla, trouxe certa estabilidade para a economia, mas o crescimento ficou abaixo do esperado. No Brasil, o aumento na entrada de empresas e produtos estrangeiros fez com que empresas nacionais falissem por não conseguirem concorrer com os produtos importados. Assim, ao longo dos anos 1990, a indústria brasileira diminuiu consideravelmente. A redução do investimento em políticas públicas e sociais voltadas à população mais pobre teve um enorme impacto na América Latina. A pobreza aumentou consideravelmente em toda a região, além da diminuição do acesso a direitos básicos, como educação e saúde pública.

Estado de bem-estar social

O pensamento liberal tornou-se a ideologia da burguesia em ascensão na Europa ocidental e caracterizou-se pela contestação dos privilégios da nobreza. Ao longo do século XIX e no início do século XX, o liberalismo econômico, que defendia a propriedade privada e a mínima intervenção do governo na economia, tornou-se predominante ao redor do mundo. No entanto, nas primeiras décadas do século XX, o mundo capitalista vivenciou um período de instabilidade, marcado por um enorme aumento da desigualdade, sucessivas crises econômicas, sendo a principal delas a crise da Bolsa de Valores de Nova York em 1929, e o surgimento de um modelo econômico e social alternativo ao capitalismo com a Revolução Russa de 1917. O ponto culminante dessa crise foram as duas grandes Guerras Mundiais

No pós-Segunda Guerra, com a Europa devastada, o liberalismo passou a ser amplamente contestado. Porém, o socialismo soviético ainda era visto como uma ameaça pelos países capitalistas, sobretudo pelos Estados Unidos. Assim, durante a reconstrução da Europa ocidental nas décadas de 1940 e 1950, desenvolveu-se a concepção de que o Estado tinha o dever de intervir na economia e na distribuição das riquezas nacionais, afastando-se das premissas liberais. Diversos países, sobretudo europeus, criaram empresas estatais e programas sociais, dando origem ao Estado de bem-estar social, ou Welfare state.
O consumismo do pós-guerra e o Welfare state Assim como havia ocorrido após a Primeira Guerra Mundial, os Estados Unidos passaram por um período de crescimento econômico e otimismo depois de 1945. O Plano Marshall abriu os mercados europeus para os produtos estadunidenses e, internamente, a população começou a ter acesso a bens de consumo. Havia um sentimento de otimismo, principalmente para a classe média branca, que passou a adquirir automóveis, eletrodomésticos e televisores. 
No contexto da Guerra Fria, o consumo tornou-se um símbolo de liberdade, democracia e igualdade. Os Estados Unidos impunham, para si e para o mundo, a ideia de que a escassez de opções de consumo na União Soviética era sinal de atraso econômico. A influência dos Estados Unidos se expandiu sobre o mundo ocidental com os produtos industrializados, mas também por influência do cinema, da televisão, do rádio e da moda, que difundiam o estilo de vida estadunidense (American way of life). 
Os países da Europa ocidental, para se contrapor às políticas de proteção social que existiam nos países socialistas, criaram políticas públicas de bem-estar para sua população. O conjunto dessas medidas ficou conhecido como Estado de bem-estar social (Welfare state). 
O Estado de bem-estar social se caracteriza pela intervenção do Estado na economia, fornecendo benefícios e auxílios para promover segurança social à população. Os governos começaram a fornecer gratuitamente e de forma universal saúde, educação e previdência social.

As transnacionais e o fim do Estado de bem-estar social

Como vimos, há uma profunda conexão entre o fortalecimento das transnacionais e as transformações tecnológicas dos meios de comunicação e transporte. Por exemplo, a compra e a venda de ações foram facilitadas pelas redes de computadores e satélites, favorecendo a especulação financeira promovida pelas grandes empresas. Novas tecnologias microeletrônicas, que desencadearam uma revolução na comunicação, tornaram o papel-moeda ultrapassado. Assim, o modo de conduzir os negócios em escala global foi rapidamente se transformando, especialmente durante os anos 1990, após o fim do socialismo na Europa. As transnacionais adquiriram grande influência sobre a economia mundial, interferindo nos governos e nas relações internacionais. A produção em países ricos que adotavam políticas de bem-estar social tornou-se desvantajosa devido ao alto custo da mão de obra e dos impostos. Um dos resultados desse amplo processo de mudanças nas relações político-econômicas mundiais foi o desmonte do Estado de bem-estar social. Além disso, houve o aumento das desigualdades e uma transformação profunda dos valores sociais, cada vez mais orientados pelos ideais da eficiência e da competitividade.

As calças jeans

Até os anos 1960, a maior parte das roupas usadas na União Soviética era fabricada pelo Estado. Geralmente, os homens vestiam camisas e ternos largos e as mulheres, vestidos simples. Mas, com a abertura gradual, a moda ocidental passou a influenciar o consumo e o vestuário soviético. Na década de 1980, as roupas se diversificaram e peças de marcas estadunidenses começaram a ser contrabandeadas e comercializadas a preços elevadíssimos. Era o caso das calças jeans. Mas por que elas eram tão desejadas? As calças jeans que conhecemos hoje, fabricadas com bolsos e rebites resistentes (aquelas peças de metal nas costuras), foram patenteadas nos Estados Unidos em 1873.

Até os anos 1950, elas eram usadas predominantemente por trabalhadores das áreas rurais do país. Por serem resistentes, duráveis e confortáveis, essas peças eram consideradas adequadas para a realização de trabalhos pesados. Contudo, em 1960, as calças jeans deixaram de ser usadas exclusivamente por trabalhadores rurais. Grandes astros de Hollywood, como Marlon Brando e Elvis Presley, as utilizavam como símbolo de rebeldia. Rapidamente, elas passaram a integrar o guarda-roupa dos jovens ligados aos movimentos de contracultura, popularizando-se ao longo dos anos. Em 2012, os pesquisadores Daniel Miller e Sophie Woodward publicaram um livro sobre as calças jeans.

De acordo com eles, atualmente, sua produção, sua comercialização e seu consumo abrangem o mundo todo. Para Miller, o verdadeiro poder de um objeto pode ser percebido quando o utilizamos sem pensar sobre ele. Ou seja, quando não percebemos o modo como ele restringe ou viabiliza nossas ações e nossa compreensão sobre nós mesmos e o mundo.

Acidente nuclear de Chernobyl

Durante a Segunda Guerra Mundial, as bombas atômicas lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki, no Japão, mostraram ao mundo o poder de destruição da energia nuclear. Apesar disso, essa tecnologia passou a ser utilizada para a produção de energia elétrica em diversos países, como Estados Unidos, França, Canadá, Espanha, URSS, Brasil, entre outros exemplos. Em meio às crises econômica e política, a URSS foi palco de um dos maiores desastres nucleares da história. Em 1986, houve a explosão de um reator da usina termonuclear de Chernobyl, na Ucrânia soviética. Com o acidente, milhares de pessoas e um número não estimado de animais e plantas foram expostos à radiação. Muitas pessoas morreram rapidamente ou desenvolveram sequelas graves, pois o contato com a radiação causa danos irreversíveis às células, como câncer e doenças cardiovasculares.

Além disso, a nuvem radioativa percorreu o céu da Europa, levando pânico e preocupação a vários países. Para você ter uma ideia, nos dias seguintes à explosão, partículas radiativas foram detectadas na Suécia, aproximadamente a 1 100 quilômetros de Chernobyl. A URSS menosprezou a gravidade da situação, mas teve de assumir a responsabilidade pelo acidente e iniciou um plano de evacuação da região, que até hoje se encontra desabitada por causa dos riscos radioativos. O acidente de Chernobyl chocou o mundo e provocou debates sobre o desarmamento nuclear.

No contexto das reformas, Gorbachev negociou com os Estados Unidos tratados de redução da produção de armas nucleares e de retirada de mísseis do território europeu. Assim, iniciaram-se os acordos pela paz. Além disso, o líder soviético também propôs o fim da KGB (o serviço secreto soviético), da Comecom (organização econômica de assistência mútua entre os países do Leste Europeu) e do Pacto de Varsóvia (aliança militar socialista). Na prática, Gorbachev dava sinais de que a URSS deixaria de intervir nos países que estavam sob sua influência.

Criação da OLP

Em 1964, os palestinos fundaram a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), tendo Yasser Arafat (1929-2004) como um de seus principais líderes. O líder palestino Arafat e o primeiro-ministro de Israel, Yitzhak Rabin (1922- -1995), assinaram um primeiro acordo de paz em setembro de 1993. Nesse acordo, a OLP reconhecia o Estado de Israel, e o governo israelense aceitava a formação de um Estado palestino. Após esse acordo, formou-se o primeiro governo palestino autônomo (a Autoridade Nacional Palestina), com sede na cidade de Ramallah, que fica próximo a Jerusalém. Entretanto, o assassinato de Yitzhak Rabin, em 1995, por um judeu fundamentalista, fez a negociação retroceder.

Em 2004, Arafat morreu e a Autoridade Nacional Palestina passou a ser presidida por Mahmoud Abbas, que retomou o diálogo com os israelenses. Entretanto, as negociações entre israelenses e palestinos não avançaram rumo a soluções pacíficas e duradouras. Um dos pontos principais das desavenças é a situação de Jerusalém, cidade considerada sagrada por judeus, muçulmanos e cristãos. Enquanto os palestinos pretendem transformar a parte oriental de Jerusalém na capital de seu futuro Estado, os israelenses não querem abrir mão do controle sobre toda a cidade e, também, pretendem tornar Jerusalém a capital de Israel. Para isso, os israelenses contam com o apoio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

Negacionismo: História e Ciência

No século XXI, as redes sociais permitiram que movimentos políticos de extrema direita manifestassem suas ideias retrógradas em grande escala. Grupos se formaram nas redes sociais com o objetivo de desqualificar o saber científico, manipular informações, recorrer a falsos especialistas para produzir desinformações e divulgar fake news. Eles negam eventos científicos e históricos que foram pesquisados, estudados e comprovados, preferindo opiniões pessoais, muitas delas estapafúrdias. Um exemplo é a crença de que o planeta Terra é plano. A opinião pessoal se sobrepõe ao conhecimento científico, apesar das provas em contrário.

Esse também é o caso daqueles que negam a eficácia das vacinas desenvolvidas contra a covid-19, preferindo não se vacinar e expondo-se ao risco de morte. Outro exemplo de negacionismo é desacreditar o fenômeno do aquecimento global. O negacionismo também atua de maneira perversa na história. Há os que negam o assassinato de 6 milhões de judeus pelos nazistas, embora as provas do genocídio sejam inúmeras, variadas e evidentes. A negação do Holocausto é um exemplo, mas há vários outros, como o de que o ser humano não pisou na Lua ou de que não houve ditadura militar no Brasil. Esses movimentos negam e recusam os fatos, as evidências, as pesquisas e as comprovações dos campos da Ciência e da História. O negacionista prefere a crença, a opinião pessoal e a produção da ignorância.

Ocupe Wall Street

Nos Estados Unidos e em vários países europeus, jovens, trabalhadores, sindicalistas e movimentos sociais se mobilizaram em atos de protesto contra a ganância dos investidores, a corrupção e a desigualdade social. O primeiro deles ocorreu em Nova York, em 17 de setembro de 2011, em um movimento chamado Ocupe Wall Street (Occupy Wall Street), em referência à rua onde fica sediada a Bolsa de Valores da cidade. A partir de então, milhares de jovens passaram a protestar em apoio ao movimento, em várias cidades dos Estados Unidos e da Europa. O lema dos manifestantes era “Nós somos 99%”, pois afirmavam que faziam parte da maioria do povo que sofria com a crise econômica provocada pelo 1% que ganhou muito dinheiro no mercado financeiro nos anos anteriores

A crise econômica de 2008

Na década de 1990, as políticas neoliberais de Thatcher e Reagan tornaram-se regra para vários governos do mundo: o Estado deixou de regulamentar as relações econômicas, permitindo que as empresas agissem livremente no mercado. Empresas estatais foram privatizadas. Os governos controlavam suas despesas, reduzindo investimentos nas áreas de saúde e educação. Essas foram algumas regras econômicas que se tornaram dominantes na Nova Ordem Mundial.

Ocorre que, em 2008, o projeto neoliberal entrou em crise. Naquele ano, muitas empresas estadunidenses anunciavam prejuízos, particularmente os bancos. Bancos especializados em financiamento de imóveis quebraram e um dos mais importantes bancos de investimentos dos Estados Unidos, o Lehman Brothers, declarou falência, além de outros bancos e empresas de seguros. 
A crise era gravíssima. Bancos, seguradoras e empresas que até então haviam mostrado solidez no mercado estavam falindo. A Bolsa de Valores de Nova York teve violenta queda – uma das maiores de sua história.
Os governos de George W. Bush e de seu sucessor Barack Obama (1961-) tomaram medidas que, até então, os economistas neoliberais consideravam negativas para a economia: emprestaram milhões de dólares para que bancos, seguradoras e empresas não fechassem as portas. A seguradora AIG e a fábrica de automóveis General Motors foram estatizadas para evitar falência.

Os efeitos da crise 

Com a economia globalizada, a crise logo chegou aos países europeus. Falências de empresas geravam o desemprego de trabalhadores. Sem salários, não havia como comprar mercadorias. Os que estavam empregados, com receio, não gastavam seu dinheiro. Isso provocou queda no consumo e, por consequência, mais falências de empresas e mais trabalhadores desempregados. No Brasil, para combater os efeitos da crise, o governo reduziu impostos sobre produtos industrializados e, com o aumento da renda vivido pela população brasileira, o consumo interno cresceu. O Brasil foi pouco atingido pela crise de 2008. No entanto, alguns países que integram a União Europeia já estavam com grandes problemas antes da crise de 2008. Grécia, Portugal, Espanha e Irlanda tinham dívidas elevadíssimas e viram as dificuldades crescerem.

As medidas de austeridade 

O resultado da grave crise econômica e social na Grécia, em Portugal, na Espanha e na Irlanda levou a um altíssimo número de desempregados. O Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Central Europeu (BCE) exigiram a redução de direitos e benefícios sociais dos trabalhadores, o reajuste dos impostos e dos preços da energia elétrica e dos combustíveis e, por fim, o aumento do tempo de trabalho exigido para a aposentadoria. Na Grécia, na Espanha e em Portugal, ocorreram grandes protestos contra as medidas impopulares. Em 2012, em Portugal, uma das manifestações reuniu 1 milhão de portugueses

O talibã e a perseguição às mulheres

Dos vários grupos políticos que formavam os mujahidins, um tomou o poder no Afeganistão: o talibã. Tratava-se de um pequeno grupo político que fazia uma interpretação extremamente rigorosa e radical da religião islâmica. O governo talibã proibiu a população de ver televisão, ir ao cinema, usar computadores e máquinas fotográficas. Música e dança também foram proibidas. Os talibãs impuseram o poder pela força e pela violência. Todos deviam obedecer-lhes e seguir sua interpretação intolerante da religião islâmica. As mulheres foram as que mais sofreram com o governo talibã. Consideradas seres inferiores, foram proibidas de trabalhar e de estudar. Diversos serviços médicos lhes foram negados; muitas foram vítimas da falta de atendimento hospitalar. Elas foram obrigadas a vestir a burca, traje que cobre o corpo da cabeça aos pés, além de esconder o rosto. Milhares de mulheres morreram em razão da crueldade dos talibãs. Os talibãs consideravam a cultura ocidental uma má influência. Tinham ódio dos Estados Unidos por difundirem seus valores culturais e por apoiar Israel na disputa com os palestinos. Os talibãs apoiaram grupos terroristas como a Al-Qaeda (A Base, em língua árabe), fundado por Osama bin Laden. A Al-Qaeda planejou, financiou e executou os ataques aos Estados Unidos em 2001.

Lei Maria da Penha

Maria da Penha Maia Fernandes nasceu em 1945, em Fortaleza, capital do estado do Ceará. Durante os seis anos em que esteve casada, o marido a espancava. Maria da Penha não denunciou as agressões, e o marido mostrou-se cada vez mais violento, tentando matá-la duas vezes. Em consequência das agressões, Maria da Penha ficou paraplégica. Hoje, locomove-se em uma cadeira de rodas. Quando teve consciência de que corria risco de morte, Maria da Penha decidiu denunciar o marido. Ele foi julgado, mas recorreu e não foi preso.

A revolta de Maria da Penha e de grupos e movimentos que lutam pelos direitos das mulheres foi grande. O governo brasileiro foi acusado pela Organização dos Estados Americanos (OEA) de negligência e omissão em casos de violência doméstica. O agressor somente foi preso em 2002 – 19 anos após cometer os crimes. Dois anos depois, ele já estava livre. Após aprovação no Congresso Nacional, o presidente da República, em agosto de 2006, sancionou a Lei n. 11 340, conhecida como “Lei Maria da Penha”. Com a mudança na legislação, o autor de violência doméstica não pode mais escapar do crime pagando multa ou doando cestas básicas, como ocorria até então.

Da URV ao real

Inicialmente, os economistas criaram a Unidade Real de Valor (URV). Uma URV era igual a 1 dólar. O preço das mercadorias e dos serviços, os salários, etc. passaram a ser avaliados pela URV, pois ela tinha um valor estável. Em determinado momento, o governo transformou a URV em uma moeda: o real, atual moeda brasileira. Como a referência do real era o dólar, tratava-se de uma moeda valorizada.

Os preços pararam de subir, mas foram necessários muitos sacrifícios. O governo aumentou os impostos e a taxa de juros e cortou gastos, sobretudo nas áreas da saúde e da educação. Com os juros altos, o Brasil viveu um período de queda da produção industrial e desemprego. A sociedade brasileira suportou esses sacrifícios para que houvesse o fim da hiperinflação. Fernando Henrique Cardoso obteve muito prestígio com o Plano Real. Nas eleições de 1994, candidatou-se à Presidência da República pelo PSDB e derrotou Lula, do PT, e os demais concorrentes já no primeiro turno

Chico Mendes

Francisco Alves Mendes Filho, conhecido como Chico Mendes, nasceu no município de Xapuri, no Acre, em 1944. Ainda criança, aprendeu o ofício de seringueiro com o pai e, aos 9 anos, já trabalhava na floresta. Foi somente aos 20 anos que ele aprendeu a ler, uma vez que os proprietários dos seringais não permitiam escolas em suas terras. Chico Mendes começou a enfrentar problemas durante a ditadura militar. Grandes proprietários dos seringais exploravam os trabalhadores e desmatavam a floresta. Além de cometerem crimes ambientais, deixavam milhares de habitantes da floresta sem fonte de renda. Em 1975, Chico Mendes entrou para a luta sindical.

Com outros seringueiros, impediu o desmatamento por meio dos chamados “empates”, que consistiam no uso do próprio corpo para defender as árvores. Em 1979, Chico Mendes reuniu sindicalistas, religiosos e trabalhadores rurais para discutir os conflitos com os grandes fazendeiros. Foi preso pelos militares e recebeu ameaças de morte dos proprietários de seringais, fazendeiros de gado e madeireiros. Mesmo com as perseguições, Chico Mendes continuou sua luta pela preservação da Floresta Amazônica. Em 1982, assumiu a Presidência do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri.

Os protestos na Praça da Paz Celestial

O governo chinês manteve o modelo político do socialismo soviético. Há um único partido (o Partido Comunista Chinês), os meios de comunicação são severamente controlados e nenhuma oposição é tolerada. Os governantes afirmam que o regime é comunista, mas o país participa na economia globalizada em condições capitalistas.

Em abril de 1989, estudantes universitários, intelectuais e trabalhadores se reuniram na Praça da Paz Celestial, em Pequim, para exigir a democratização do país, denunciar a repressão policial, criticar a corrupção e protestar contra a inflação. Estima-se que o número de manifestantes instalados na praça tenha alcançado os 100 mil. Um mês depois, os dirigentes do Partido Comunista Chinês enviaram tropas do exército e tanques de guerra para reprimir a manifestação. Acredita-se que cerca de mil pessoas teriam morrido e entre 10 mil e 30 mil teriam sido presas. O episódio ficou conhecido como o “Massacre da Praça da Paz Celestial”.

China: comunista com capitalismo

A China já era uma potência militar e nuclear nos anos 1970, mas era um país pobre, abastecido por uma agricultura pouco produtiva. As experiências de Mao Tsé-tung (1893-1976) com o Grande Salto para a Frente e a Revolução Cultural Proletária haviam conduzido o país ao fracasso econômico e à repressão política. Depois da morte de Mao, um grupo político liderado por Deng Xiao Ping (1904-1997) assumiu a direção do Partido Comunista Chinês, dando início a grandes mudanças no país. Inicialmente, acabou com as fazendas coletivas e permitiu que famílias camponesas fossem proprietárias das terras. Em poucos anos, a renda dos camponeses aumentou, tornando-os capazes de consumir produtos industriais.

Abertura de mercado e globalização

Em seguida, o governo permitiu a existência de empresas privadas. Empresas estadunidenses e europeias foram atraídas para se instalarem no país, aproveitando a farta mão de obra, os salários baixíssimos e a ausência de leis trabalhistas. Os empresários chineses, por sua vez, copiaram tecnologias de fábricas estrangeiras. Rapidamente a China tornou-se grande exportadora de todo tipo de mercadorias manufaturadas. A partir dos anos 1990, o governo chinês investiu fortemente em ciência e tecnologia. As fábricas chinesas superaram a fase da cópia e passaram a produzir mercadorias originais, com tecnologias inovadoras. A China tornou-se uma potência econômica, militar e aeroespacial e, em poucos anos, ultrapassará a economia dos Estados Unidos.

A sociedade globalizada e em contestação

Até o momento, você estudou principalmente os aspectos econômicos e políticos da globalização, relacionados a conflitos no mundo contemporâneo. O processo de globalização, porém, envolve outros aspectos, como o cultural, ao difundir valores e modos de vida diversos, mas predominantemente ocidentais e estadunidenses. Você já reparou na quantidade de músicas produzidas nos Estados Unidos que são divulgadas no Brasil? Essa é apenas uma das características desse processo. Outra característica é a rápida disseminação de causas e movimentos sociais, muitos dos quais deixam de ser regionais para se tornar globais. 
O movimento Me Too (“Eu também”), desencadeado em 2017, por exemplo, começou como uma série de denúncias de assédio sexual praticadas em Hollywood, nos Estados Unidos. Com o passar dos dias, ganhou o mundo por meio da popularização da hashtag #MeToo nas redes sociais, encorajando mulheres de diferentes países a denunciar o assédio sexual que sofriam por parte de empregadores, colegas de trabalho e familiares. A facilidade de disseminação de causas pela internet também pode ser usada para denunciar o agravamento das desigualdades sociais geradas pela economia global e para defender a cultura e a autonomia de diferentes povos. 
Desde a década de 1990, são organizados movimentos sociais anticapitalistas e contra a globalização, como a Ação Global dos Povos, que foi responsável pelo protesto realizado em 1999, na cidade estadunidense de Seattle, em frente ao local onde ocorria uma reunião da Organização Mundial do Comércio (OMC).

As democracias sob ameaça

A internet, como você estudou, foi usada como ferramenta para atrair membros para o grupo terrorista EI. Diante disso, muitos países, principalmente os Estados Unidos, passaram a usar o terrorismo como justificativa para monitorar os dados e as informações que circulam na internet. A contradição entre o direito à privacidade e a segurança de um país é bastante discutida desde 2013. Nesse ano, um funcionário da Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos (NSA – sigla do nome em inglês National Security Agency), chamado Edward Snowden, revelou à imprensa que essa agência espionava, com auxílio de grandes empresas relacionadas à internet, a comunicação de chefes de Estado de países estrangeiros e também de pessoas comuns, dentro e fora dos Estados Unidos.

Diante do medo e da insegurança provocados por conflitos e pelo terrorismo, além da desconfiança generalizada nas instituições atuais, muitas pessoas passaram a aprovar propostas políticas xenofóbicas, ultranacionalistas e antidemocráticas. Assim, a aversão ao diferente espalhou-se com força pelo mundo, alimentada por debates sensacionalistas na imprensa e pelos efeitos da crise econômica, possibilitando o fortalecimento da extrema direita e de políticas ultraconservadoras ao longo da década de 2010.

Em 2016, a população dos Estados Unidos elegeu para a Presidência o empresário Donald Trump, que articulou uma campanha baseada em promessas políticas de dificultar a entrada e a permanência de imigrantes no país e em discursos nos quais apelava para sentimentos de nacionalismo e xenofobia, instigando a população a confiar em suas promessas e informações mesmo que elas fossem baseadas em mentiras.

Durante seu governo, foi anulada a decisão de fechar a prisão de Guantánamo. Além disso, foram colocadas em prática medidas contra os imigrantes em situação ilegal que violavam os direitos dessas pessoas, como aprisionamento em centros de detenção fronteiriços, onde crianças eram separadas dos pais e mantidas em condições insalubres.

A eleição de Barack Obama nos Estados Unidos

Na ocasião da execução de Bin Laden, os Estados Unidos tinham como presidente Barack Obama, que ocupou o cargo de 2009 a 2016 e enfrentou não só os efeitos da política internacional da “guerra ao terror”, mas também a crise econômica de 2008. Essa crise foi iniciada nos Estados Unidos e ocasionada pela especulação imobiliária e pela falência dos investimentos em hipotecas, o que levou muitos estadunidenses a perder tudo, inclusive a casa onde viviam. A crise se disseminou globalmente, atingindo, por exemplo, a União Europeia, sobretudo os países desse bloco com economia mais frágil, como a Grécia. 
Obama entrou para a história como o primeiro presidente afro-americano a governar os Estados Unidos. Ele foi agraciado com o prêmio Nobel da Paz em 2009, por seus esforços diplomáticos internacionais e por promover a cooperação entre os povos. Além disso, conseguiu recuperar o crescimento econômico estadunidense e combater os altos índices de desemprego no país. Quanto à política da “guerra ao terror”, o presidente se elegeu com as promessas de fechar a prisão de Guantánamo, em Cuba, e de retirar as tropas dos Estados Unidos que ainda permaneciam no Afeganistão e no Iraque. Nenhuma dessas promessas, no entanto, foi cumprida por Obama.

A Ásia contemporânea

Durante a Guerra Fria, o Japão se constituiu como potência econômica graças à parceria com os Estados Unidos e aos grandes investimentos no setor privado. No entanto, na década de 1990, o país passou por um período de recessão econômica gerado, em grande parte, pela especulação imobiliária e de ações das empresas nacionais. Como o PIB japonês baseava-se muito no setor privado, a crise foi intensa e, desde então, o país tem apresentado índices de crescimento modestos, apesar de manter-se entre as maiores economias do mundo.

Em 2011, os japoneses experimentaram outra crise, provocada por um fenômeno natural: no dia 11 de março desse ano, um terremoto de alta intensidade gerou um tsunami que atingiu a região nordeste do país e causou a morte de aproximadamente 18 mil pessoas. Para piorar a situação, o tsunami atingiu a Usina Nuclear de Fukushima, levando à morte mais de 3600 pessoas e causando o pior acidente nuclear do mundo desde Chernobyl. Diante do perigo de contaminação radioativa, 150 mil pessoas foram deslocadas da região e o episódio reacendeu os debates a respeito do perigo da utilização da energia nuclear.

O soft power

A Coreia do Sul tornou-se uma importante potência durante a Guerra Fria. No século XXI, sua indústria tecnológica ultrapassou a do Japão e a de Taiwan, o que tornou o país um polo de tecnologia da informação.A Península Coreana é dividida e até hoje as negociações a respeito de um acordo de paz da Coreia do Sul com a Coreia do Norte são difíceis. Elas foram retomadas no ano 2000, mas os testes nucleares conduzidos pelo governo norte-coreano dificultam um entendimento desse país com seu vizinho do sul e também com o Japão. Uma característica comum entre a Coreia do Sul e o Japão é o investimento na indústria cultural com o intuito de construir um soft power. Esse termo é usado para descrever o esforço de um país com a finalidade de promover sua imagem internacionalmente e, assim, obter poder de influência de forma sutil, por meio do convencimento.

Você já teve contato com algum mangá ou animê japonês ou com as séries sul-coreanas conhecidas como “doramas”, disponíveis em plataformas de streaming? Já ouviu falar de grupos musicais de K-pop? Essas produções culturais relacionadas com a cultura pop geram milhões de dólares para o Japão e a Coreia do Sul. Além disso, esses países investem na indústria cinematográfica, produzindo filmes que são sucesso de crítica e público e ajudam a construir a imagem deles internacionalmente.

A ascensão chinesa

A economia da China hoje é aberta a investimentos estrangeiros, e a população do país tem certa liberdade econômica, podendo conduzir os próprios negócios. Com a modernização de suas indústrias, a China se tornou uma das principais receptoras de investimentos estrangeiros. Muitas das grandes empresas globais fabricam parte de seus produtos e componentes nesse país por causa da grande disponibilidade e do baixo custo da mão de obra, dos baixos impostos, da facilidade de escoamento dos produtos e do fácil acesso a matérias-primas. Além da participação estrangeira na economia, a estrutura industrial da China se desenvolveu com uma estratégia de produção massificada de bens de consumo. Atualmente, as empresas do país investem em tecnologia de ponta e diversificam sua produção, que inclui mercadorias com alto valor agregado.

Com a economia em forte crescimento no início do século XXI, a China se reuniu ao Brasil, à Rússia, à Índia e à África do Sul, outras economias emergentes contemporâneas, para compor o Brics (sigla formada pelas iniciais do nome dos cinco países em inglês). O grupo se reúne anualmente desde 2006 para discutir estratégias de cooperação. A China, no entanto, desenvolveu-se economicamente muito mais que os outros países do Brics. Em 2010, alcançou o posto de segunda maior potência econômica do mundo, ultrapassando o Japão e ficando atrás somente dos Estados Unidos, seu principal parceiro econômico e com o qual passou a travar diversas disputas a partir de 2018. O desenvolvimento econômico da China, no entanto, não foi acompanhado de mudanças políticas. O país continua a ser governado pelo Partido Comunista, o único permitido, que tem o controle total dos meios de comunicação e reprime manifestações internas contra suas políticas.

A América Latina no século XXI

Durante a primeira década do século XXI, de modo geral, os países da América Latina passaram por um período de desenvolvimento social e crescimento econômico. Um dos crescimentos mais marcantes ocorreu na Venezuela durante o governo de Hugo Chávez, entre 1999 e 2013. Em parte, seu governo foi caracterizado pelo aumento da presença do Estado na economia e no desenvolvimento de programas sociais para redução da pobreza em seu país. Chávez nacionalizou empresas privadas que exploravam setores estratégicos, como petrolíferas, siderúrgicas, elétricas e de telecomunicações.

Embora Hugo Chávez seja lembrado por suas políticas nacionalistas e de combate à pobreza, ele também foi visto por muitos como um ditador, com um governo marcado pela centralização do poder, pela perseguição aos seus opositores e pela censura aos meios de comunicação.

Outros países da América Latina, como Argentina, Chile e Brasil, iniciaram governos caracterizados como centro-esquerda no início do século XXI. Esses governos foram marcados pela busca do equilíbrio entre a realização de políticas sociais e a boa relação com os setores neoliberais, compostos principalmente pelas elites industriais e empresariais, com destaque para o agronegócio. Assim, ao mesmo tempo em que esses governos promoviam programas de combate à pobreza e às desigualdades sociais, favoreciam também as elites, oferecendo-lhes subsídios, isenção de impostos, renegociação ou perdão de dívidas, entre outros, visando também atrair investidores e o capital estrangeiro, promovendo o desenvolvimento econômico na região.

A crise econômica Apesar do desenvolvimento econômico e social alcançado pelos países latino- americanos, no final da primeira década do século XXI, apareceram os primeiros sinais de crise, iniciada já nos EUA desde 2008. Países importadores europeus e os EUA passaram a comprar menos matéria-prima, prejudicando a principal atividade econômica da América Latina, a exportação de produtos agrícolas (soja, milho, trigo, cana-de-açúcar etc.), e de produtos minerais (carvão, minério de ferro, petróleo etc.).

O aumento dos problemas sociais

Com a sua principal atividade econômica prejudicada, vários países latino-americanos entraram em crise. De modo geral, sem capital, muitos investimentos na área social foram reduzidos ou cortados, prejudicando a população mais pobre, gerando grande insatisfação. As elites também se sentiram prejudicadas, pois, com a queda do poder de consumo da população, muitas empresas e indústrias passaram a produzir e vender menos. Assim, os governos de centro-esquerda ou de esquerda moderada passaram a sofrer cada vez mais críticas, principalmente dos setores mais ricos da sociedade e da classe média.

A crise política e econômica na Venezuela

Embora o fenômeno da crise econômica e política tenha atingido toda a América Latina, um dos países que mais sofreu com essa situação foi a Venezuela. O sucessor de Hugo Chávez, Nicolás Maduro, não conseguiu atenuar os efeitos da crise. A principal commodity produzida na Venezuela era o petróleo, que apresentou preços muito baixos durante seu governo. Em 2018, mesmo com uma inflação de mais de 800% ao ano, insumos básicos como alimentos, produtos de higiene pessoal e remédios faltavam nas prateleiras de farmácias e mercados.

Esse contexto de crise gerou, na Venezuela, e em outros países da América Latina, uma situação de grande insatisfação popular, e de polarização política, uma vez que permitiu o fortalecimento da oposição, formada por partidos de centro direita e direita, dividindo a população entre apoiadores e opositores do governo.

A crise na Venezuela 

Em 1998 foi eleito para a Presidência da Venezuela Hugo Chávez, defensor do bolivarianismo que adotava uma postura de oposição aos Estados Unidos e às políticas neoliberais. Ao longo de seu governo, Chávez baseou a economia do país principalmente na exploração do petróleo e estabeleceu várias ações assistencialistas. Com suas estratégias políticas e econômicas, Chávez conseguiu diminuir a pobreza no país, mas sofreu grandes perdas com a queda no preço do petróleo e, ao longo dos anos, comprometeu a estrutura democrática do país e reprimiu fortemente a oposição. Para manter-se na liderança, o presidente alterou a constituição, sendo reeleito em 2006 e 2012, em votações marcadas por diversas denúncias de fraude. Com a morte de Chávez, em 2013, foram realizadas eleições, que foram vencidas por seu vice, Nicolás Maduro. Nesse contexto, a crise econômica do país piorou, e o governo passou a perseguir e torturar opositores. Em 2013, o país começou a enfrentar uma grave crise humanitária, com falta de alimentos, baixos salários e elevação do nível de pobreza. Diante dessa situação, milhares de venezuelanos abandonaram o país, dirigindo-se para o Brasil e outros locais. Em 2016, Maduro retirou poderes da Assembleia Nacional e, em 2019, Juan Guaidó, presidente da Assembleia e líder da oposição, autoproclamou-se presidente interino do país. Maduro manteve-se no poder e a crise política afetou ainda mais a população. Em virtude dessa situação, o país foi suspenso do Mercosul em 2016, por descumprimento do protocolo de adesão, e em 2017, por ruptura da ordem democrática.

América Latina hoje 

Os processos de integração econômica tratados neste capítulo não atingiram de maneira igual todos os países nem todas as pessoas de um país. Com a globalização, o processo de concentração da riqueza acentuou-se em razão, entre outros fatores, da formação dos conglomerados que controlam as atividades econômicas. Na América Latina, a concentração de renda característica da globalização somou-se a processos históricos de exclusão social. Além disso, os efeitos da globalização são agravados por questões políticas. A Argentina, por exemplo, tem enfrentado fortes recessões econômicas desde o início do século XXI. Em 2015, os argentinos elegeram para a Presidência do país Maurício Macri, conservador e defensor do neoliberalismo e de políticas de austeridade. Ao longo de seu mandato, Macri cortou os investimentos públicos, baixou os impostos para as exportações de produtos e liberou reajustes gigantescos no preço de serviços e bens que antes eram subsidiados pelo Estado. As medidas, no entanto, não alcançaram os resultados almejados e o país entrou em profunda crise, com desvalorização histórica de sua moeda, o peso argentino, pondo em xeque o modelo neoliberal e sua eficiência na região e no contexto atual. Em 2019, Macri foi derrotado nas eleições pelo candidato peronista Alberto Fernández, que prometeu melhorar a assistência social aos argentinos. No entanto, até o meio de seu mandato, o país ainda estava em recessão econômica.

Movimentos sociais e políticos contemporâneos

A dissolução da União Soviética e o fortalecimento da economia de mercado no mundo a partir dos anos 1990 produziram transformações também no campo das lutas políticas nas sociedades ocidentais. De um lado, implicaram a redução progressiva da organização dos trabalhadores em torno da defesa de seus interesses de classe e um recuo dos movimentos de caráter revolucionário e, de outro, o fortalecimento de um tipo de ativismo mais segmentado, como o movimento feminista, o movimento LGBTQIA+, a luta antirracista e o combate ao capacitismo. Capacitismo consiste na discriminação e preconceito social contra pessoas com algum tipo de deficiência.
Se, no passado, essas pautas integravam a agenda progressista em uma posição subordinada à luta contra a exploração do trabalhador, no presente elas frequentemente se apresentam descoladas dela, o que tem suscitado acalorados debates sobre a natureza do ativismo contemporâneo.

O movimento feminista

No início da década de 1990, o movimento feminista dos Estados Unidos passou a dar maior visibilidade para questões que já haviam sido destacadas anteriormente, como o combate à violência física e psicológica contra a mulher, a luta contra a discriminação no trabalho e a defesa dos direitos reprodutivos das mulheres. As questões levantadas nesse período ampliaram-se globalmente na mídia tradicional e na internet, principalmente a partir de 2012. O uso da mídia impressa e de ferramentas da internet, como blogs, vídeos, podcasts e redes sociais digitais, ampliou o movimento feminista, permitindo a mobilização de mais mulheres em todo o mundo. Campanhas virtuais disseminaram-se e ganharam rápida adesão. Em 2014, a ONU lançou a #HeForShe (“Ele por ela”), uma campanha de solidariedade para encorajar as pessoas, especialmente os homens, a se posicionarem contra a desigualdade de gênero.

Na premiação do Oscar 2015, atrizes protestaram contra perguntas sexistas com o lema #AskHerMore (“Pergunte mais a elas”), reivindicando que fossem feitas perguntas sobre a carreira das mulheres, e não somente sobre a aparência física delas. Em 2017, o movimento #MeToo (“Eu também”) ganhou força no mundo artístico internacional ao incentivar as mulheres a denunciarem assédio sexual e abusos sofridos na profissão, levando à punição de homens poderosos da indústria do cinema.

A luta antirracista

Apesar das conquistas obtidas na legislação, o preconceito racial continuou sendo realidade no país. Um dos principais efeitos do racismo é a desigualdade econômica. Os bairros negros são os mais pobres e degradados das cidades estadunidenses, com escolas precárias, atendimento médico ineficiente ou inexistente, alto índice de desemprego, criminalidade e violência. A eleição de Barak Obama, em 2008, o primeiro presidente negro dos Estados Unidos, e a de Kamala Harris, em 2021, a primeira mulher e a primeira negra a ocupar o cargo de vice-presidente, sinalizaram mudanças na sociedade americana. Contudo, o racismo ainda se manifesta socialmente e tem gerado reações da população em geral. Em 2015, por exemplo, foi criada a campanha Black Lives Matter (“Vidas negras importam”), que pretendia dar visibilidade ao racismo existente na sociedade estadunidense e combater todas as suas manifestações.

A Primavera Árabe

O início do século XXI também foi marcado pela eclosão, em diversos países, de protestos em massa contra o autoritarismo, a corrupção, o desemprego e a baixa qualidade de vida. Esses movimentos se caracterizaram pelo protagonismo juvenil e o uso das redes sociais digitais para sua organização e divulgação. Os primeiros grandes movimentos dessa natureza eclodiram no Norte da África e no Oriente Médio e ficaram conhecidos como Primavera Árabe. Eles tiveram início em 2010 a partir de protestos populares contra a morte de um vendedor ambulante da Tunísia, que se suicidou após ter sofrido uma tentativa de extorsão por parte de inspetores do governo. Os protestos foram duramente reprimidos pela polícia, porém os manifestantes não cederam. Com isso, o presidente tunisiano Ben Ali abandonou o país, refugiando-se na Arábia Saudita. No ano seguinte, movimentos semelhantes espalharam-se por outros países, como o Egito, a Líbia e a Síria, sempre acompanhados de forte repressão policial e promovendo instabilidade política. Diversos deles culminaram na derrubada dos governos locais, mas não conseguiram assegurar a melhoria das condições de vida da população nem instaurar governos democráticos. Na Síria, eles desencadearam uma violenta guerra civil iniciada em 2011 e que, em 2022, já havia deixado cerca de 300 mil mortos e mais de 6,6 milhões de refugiados.

Os movimentos antiglobalização

As crises do mundo globalizado geraram problemas de governabilidade e representatividade dos sistemas políticos e do Estado de bem-estar social. Em razão disso, no final dos anos 1980, ocorreram protestos contra o FMI e o Banco Mundial. Durante essas manifestações foram expostos, pela primeira vez, os problemas advindos da globalização, principalmente aqueles ligados à preservação do meio ambiente.

Na década de 1990, participantes de movimentos ambientalistas criticaram o modelo de desenvolvimento econômico com base na produção e no consumo em larga escala, por ser responsável pela depredação dos recursos naturais, pelo aumento da concentração de gases de efeito estufa e pela produção de dejetos poluentes. À questão ambiental somou-se o movimento internacionalista 500 anos de resistência, que apontou principalmente as demandas dos indígenas e camponeses da América Latina. Promoveram-se, então, discussões sobre educação, cultura, dívida externa e a condição das mulheres, a fim de valorizar a autodeterminação dos povos, recuperar os movimentos populares e construir um projeto de justiça, igualdade e respeito entre as culturas da América Latina.

Em 1994, organizou-se no México o Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN). Os integrantes do movimento promoveram uma insurreição armada contra a entrada do México no Nafta (atual USMCA) e denunciaram as precárias condições de vida dos povos indígenas, reivindicando “pão, saúde, educação, autonomia e paz”. Com o tempo, os zapatistas abandonaram a guerrilha e passaram a usar as novas tecnologias da informação como ferramentas de luta.

Em 1998, a reunião de diferentes movimentos sociais deu origem à Ação Global dos Povos (AGP). Com base na descentralização e na autonomia, a AGP tinha como princípios a rejeição dos blocos econômicos, a desobediência civil não violenta, a construção de alternativas locais e a iniciativa popular. Ela seria um instrumento de coordenação entre os movimentos sociais de todos os continentes na luta anticapitalista.

O marco desse movimento ocorreu em 1999, em Seattle, nos Estados Unidos, quando cerca de 100 mil pessoas protestaram contra a Rodada do Milênio da Organização Mundial do Comércio (OMC). Esse acontecimento deu origem a outras manifestações perante as reuniões internacionais do FMI, da União Europeia, do G7 (grupo formado pelas maiores economias industrializadas do mundo: Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália e o Canadá) etc. Nesse contexto antiglobalização, foi realizado pela primeira vez o Fórum Social Mundial (FSM), em Porto Alegre, em 2001. O FSM é um espaço de encontro e troca de experiências de diferentes movimentos sociais de todo o mundo.

A União Europeia

Um dos principais blocos econômicos da atualidade teve origem no Mercado Comum Europeu (MCE), criado em 1957 por meio do Tratado de Roma. Inicialmente, apenas seis países faziam parte do bloco. Em 1992, o Tratado de Maastricht substituiu o de Roma, e o antigo MCE passou a se chamar União Europeia (UE), integrando 12 países.

Porém, esse número aumentou significativamente, chegando a 27 em meados de 2022. Entre as mudanças propostas pelo Tratado de Maastricht estava a criação de uma União Econômica Monetária, com o objetivo central de criar uma moeda comum para os Estados-membros, o euro, que começou a circular em 2002. Além disso, definiu-se que os cidadãos da União Europeia estão integrados a um mercado unificado e sujeitos a uma política externa e de segurança comum, tendo o direito de circular livremente entre as fronteiras dos países-membros.

O Brexit

O Reino Unido aderiu à Comunidade Europeia em 1973, mas, desde o início, permaneceu fora da zona do euro. Em junho de 2016, os britânicos foram convocados a participar de um referendo para decidir a permanência do Reino Unido na União Europeia. A maioria (51,9%) votou pela saída dos britânicos do bloco econômico, em um processo que ficou conhecido por Brexit, termo formado pela junção das abreviações das palavras Britan (Grã-Bretanha) e exit (saída).

O resultado do referendo tem explicações econômicas, políticas e sociais. Entre elas estão o desejo popular de resgatar a soberania do governo britânico sobre as leis do Parlamento Europeu, a expectativa de que as contribuições do Reino Unido que iam para a União Europeia sejam destinadas aos setores internos, principalmente à saúde, e, para alguns, o fortalecimento do discurso nacionalista e o aumento da hostilidade contra imigrantes.
Em 2015, cerca de 630 mil estrangeiros entraram no Reino Unido. Diante desse quadro, os defensores do Brexit atacaram o alto custo da imigração, que prejudicaria a prestação dos serviços essenciais à comunidade do país. No sudeste do Reino Unido, por exemplo, onde muitos trabalhadores estavam desempregados ou viviam de trabalhos precários, o discurso contra a imigração e pela saída da União Europeia teve mais adesão. A saída dos britânicos da União Europeia deu novo ânimo aos movimentos separatistas na Escócia e na Irlanda do Norte, que preferem fazer parte da União Europeia a integrar o Reino Unido. Na Holanda, na França e na Itália, grupos de ultradireita passaram a defender a realização de uma consulta popular para decidir a permanência ou não desses países no bloco europeu. Segundo analistas e políticos, esses movimentos representariam uma reação em cadeia motivada pelo Brexit.
A crise na União Europeia A crise econômica mundial de 2008 também abalou vários países da zona do euro. Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha foram os mais afetados. Isso aconteceu porque esses países não tinham mecanismos de defesa para evitar a queda da atividade econômica e a fuga de investidores e, ao mesmo tempo, manter as metas estabelecidas pelo Tratado de Maastricht. Conforme o tratado, a dívida pública e o déficit do orçamento não poderiam ultrapassar, respectivamente, 60% e 3% do PIB. Todos os países citados superaram os dois tetos. Se não fizessem parte da zona do euro, eles poderiam tentar recuperar a economia usando como estratégia a desvalorização de suas moedas nacionais. Mas como a moeda é única, se isso fosse feito, em última análise, teria início a dissolução da União Europeia. O Banco Central Europeu, o FMI e o Banco Mundial, então, iniciaram uma ação para renegociar a dívida externa de Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha. A liberação de novos empréstimos, porém, foi condicionada ao cumprimento de rigorosas metas de controle dos gastos públicos.
Com o objetivo de cumprir essas obrigações, os governos desses países congelaram salários e aposentadorias e cortaram gastos, especialmente nos setores sociais, gerando fortes protestos populares. A queda do padrão de vida e o aumento do desemprego, principalmente entre os jovens, estão entre as consequências dessa crise.

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