sexta-feira, 9 de agosto de 2024

Formação e cultura da população

O Brasil é formado por pessoas com origem em diversas partes do mundo. Alguns desses povos, como os indígenas, já habitavam nosso território quando os primeiros migrantes brancos, vindos de Portugal, aqui chegaram. Outros, como os africanos escravizados, vieram forçadamente, comercializados como mão de obra para trabalhar. Além disso, ao longo da história do país, muitos migrantes chegaram de diferentes países, resultando numa mistura de traços físicos, que tornou a maior parte da população brasileira miscigenada.
De acordo com dados do governo federal, em 2020, havia aproximadamente dois milhões de estrangeiros residindo em território nacional. A maioria deles vive em grandes centros urbanos das regiões Sudeste e Sul, como São Paulo, Belo Horizonte, Curitiba, e em várias outras capitais. Muitos migram para fugir da pobreza e do desemprego de seus países de origem, como os bolivianos, angolanos e senegaleses. Outros buscam refúgio das consequências de desastres naturais, como os haitianos, ou ainda de conflitos armados, como os sírios e palestinos. Há também uma parcela significativa de imigrantes que entrou no país para trabalhar nas filiais de grandes empresas, sobretudo multinacionais, transferidos das matrizes ou das filiais localizadas em países desenvolvidos ou emergentes, como Estados Unidos, Japão e China, ou de alguma nação europeia.

Os indígenas

O grupo indígena atual corresponde aos descendentes dos nativos que viviam nas terras que posteriormente formaram o território brasileiro. Na época da chegada dos portugueses, estima-se que havia entre 5 e 8 milhões de indígenas, em grande variedade de povos – cerca de 1 400 –, que falavam aproximadamente 1 300 línguas distintas.
Apesar das características comuns, como a posse coletiva da terra e a profunda interação com a natureza, os povos indígenas são muito diversos e com culturas próprias. Com a colonização portuguesa, iniciada no século XVI, a realidade da população indígena que vivia aqui foi alterada. Imensa parcela dessa população foi dizimada, muitos indígenas foram submetidos ao trabalho escravo, suas terras foram expropriadas e milhares morreram de doenças transmitidas pelos colonizadores, antes desconhecidas por essa população.
Segundo o IBGE, em 2010, cerca de 896 mil pessoas se declararam indígenas. Desses, 57,7% estão em Terras Indígenas (TIs), espaços reservados do território brasileiro, de propriedade da União, nos quais os vários povos indígenas podem exercer atividades produtivas e culturais e viver de acordo com seus costumes e tradições. Os outros 42,3% da população indígena estão fora das TIs e se concentram, principalmente, em áreas urbanas.
Existem também povos indígenas isolados. São grupos que sofreram menor influência direta de povos não indígenas e se mantiveram afastados, desde o início da colonização, tanto de outros povos quanto da população urbana e rural.
Há pouca informação sobre eles, e para garantir seu modo de vida, protegê-los e evitar confrontos, a Fundação Nacional do Índio (Funai) tem equipes destinadas a localizá-los e demarcar seus territórios.
O direito dos povos indígenas às terras que ocupam tradicionalmente é um direito originário. O procedimento de demarcação de TIs é apenas declaratório, pois esses espaços são anteriores à formação do próprio Estado, sempre existiram, independentemente de qualquer reconhecimento oficial. Esse fato aumenta a importância das demarcações, que permitem ao governo (na esfera estadual e federal) reduzir os conflitos pela terra e proporcionar atendimento digno aos cidadãos, com atenção para as especificidades dos povos indígenas.
A garantia dos direitos territoriais dos povos indígenas contribui para a construção de uma sociedade pluriétnica e multicultural, além de ajudar a proteger o meio ambiente e a biodiversidade, visto que as TIs são áreas protegidas.

Negros e afrodescendentes

Os primeiros grupos de africanos que chegaram aqui foram trazidos à força a partir da metade do século XVI e vendidos como escravos para os brancos portugueses.
Esses grupos foram trazidos de diferentes locais do continente africano e em períodos distintos. Estima-se que cerca de 4 milhões de africanos aportaram, em navios negreiros, no Brasil. Inicialmente, eles eram forçados a trabalhar, principalmente, nas lavouras de cana-de-açúcar e, depois, na mineração e na cafeicultura. Em razão dos maus-tratos, castigos e torturas, houve elevado índice de mortalidade da população negra ao longo dos séculos, o que fez com que grande parte dessa população se rebelasse contra a escravidão que lhes foi imposta. Uma das formas mais significativas de resistência foi a formação de quilombos, locais isolados nos quais eles se refugiavam para escapar da escravidão.
Ainda hoje existem remanescentes dessas comunidades, grupos formados por pessoas que se identificam como descendentes de escravizados e que sempre ocuparam um território específico, motivo pelo qual solicitam a regularização da posse dessas terras. Atualmente, há cerca de 3 mil comunidades quilombolas no Brasil. Elas se organizam de formas variadas e são comunidades de grupos étnico-raciais com características históricas e sociais próprias.
Infelizmente, grande parte da população negra do Brasil hoje vive em situação socioeconômica precária e apresenta elevado grau de mortalidade. Embora algumas medidas tenham sido adotadas para a resolução desses problemas, essa situação ainda é uma realidade, principalmente, quando observamos os índices de escolaridade, renda e empregabilidade, gerando maior desigualdade social e econômica entre brancos e afrodescendentes.
Por muitos anos, a cultura africana foi desprezada pelos povos brancos. Mesmo após a Abolição da Escravatura, o ambiente de preconceito e racismo foi mantido, e ainda há muito o que se combater. Para muitos estudiosos do tema, apenas na primeira metade do século XX, a cultura afro-brasileira passou a ser realmente valorizada e ganhou espaço no cenário nacional.
No Censo 2010, pela primeira vez a população negra (composta de pretos e pardos) ultrapassou a branca nesse tipo de pesquisa. Isso deve-se, por um lado, ao maior número de nascimentos entre a parcela da população negra e, por outro, ao aumento da quantidade de pessoas que passaram a ter orgulho de se declarar afro-brasileiras. Este último dado indica que mais pessoas reconhecem sua identidade e origem étnica e demonstra a eficiência e importância das políticas de afirmação.

Os imigrantes europeus e asiáticos

Os primeiros europeus que chegaram ao Brasil para iniciar o processo de colonização, no século XVI, foram os portugueses. Em menor número, na mesma época, vieram espanhóis, holandeses e franceses.
A partir da segunda metade do século XIX, povos de outras origens passaram a fazer parte da composição da população brasileira. Eram, sobretudo, europeus (espanhóis, italianos, alemães, eslavos etc.) e asiáticos (árabes e japoneses), povos que, como veremos nas próximas páginas, fugiam de guerras e da pobreza que assolava seus países de origem, aportando no Brasil em busca de melhores condições de vida.  A chegada desses imigrantes passou, então, a influenciar diretamente a composição étnica e cultural de nosso país.
A partir do fim do século XIX, com a abolição da escravatura, grande quantidade de imigrantes europeus veio trabalhar no Brasil, entre eles italianos, alemães, poloneses, ucranianos, suíços, franceses e espanhóis. Do continente asiático, vieram japoneses, chineses e árabes. Todos os imigrantes chegaram
com hábitos, costumes e tradições de seus países de origem, que foram incorporados à cultura brasileira, contribuindo para a formação de uma cultura rica e diversificada. A chegada desses imigrantes passou, então, a influenciar diretamente a composição étnica e cultural de nosso país.
Os fluxos imigratórios mais intensos ocorreram no final do século XIX e nas primeiras décadas do século XX. Nesse período, calcula-se que cerca de quatro milhões de imigrantes tenham chegado ao Brasil, vindos, sobretudo, de Portugal, Espanha, Itália, Alemanha e Japão. Esses imigrantes fixaram-se em várias partes do país, concentrando-se nas atuais regiões Sudeste e Sul.
A maior quantidade de alemães chegou ao Brasil entre 1849 e 1872. Eles se estabeleceram, inicialmente, nos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, e dedicaram-se às atividades agrícolas e pecuárias. Os italianos fixaram-se principalmente nos estados de São Paulo, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro, e trabalharam principalmente nas plantações de café paulistas entre os anos de 1880 e 1930. Os japoneses chegaram ao Brasil em 1908, as primeiras 165 famílias desembarcaram do navio Kasato Maru e fixaram-se em São Paulo. Alguns foram trabalhar nas fazendas de café e, mais tarde, passaram a produzir hortaliças. Outros migraram para algumas cidades do norte do Paraná e para o estado do Pará, onde desenvolveram a cultura da pimenta-do-reino.
Após 1930, a imigração decresceu, assumindo uma importância secundária no crescimento populacional. Entre os fatores que explicam essa queda, destaca-se a Lei de Cotas da Imigração, criada pelo governo brasileiro em 1934. Essa lei restringiu a entrada de imigrantes, pois estabelecia uma cota anual de 2% do total de imigrantes de cada nacionalidade que tinha imigrado nos últimos 50 anos.
Em anos recentes, houve um aumento expressivo de imigrantes no Brasil, como bolivianos, venezuelanos, haitianos, angolanos, sírios, entre outros. Isso ocorreu em decorrência de vários fatores, como falta de oportunidades econômicas, instabilidade e perseguição política, desastres naturais e guerras em outros países. De acordo com dados do Sistema de Registro Nacional Migratório (Sismigra), entre 2011 e 2020 estavam residindo no Brasil cerca de 1,3 milhão de imigrantes, liderados por venezuelanos e haitianos, o que representava 0,6% da população do país


Formação do território brasileiro

O Brasil é o quinto maior país do mundo em extensão. Essa grande dimensão corresponde a 6% das terras emersas da superfície terrestre.A diversidade do Brasil é enorme, tanto em aspectos naturais como históricos, sociais e culturais. A interação entre a sociedade brasileira e a natureza pode ser percebida nas diversas paisagens encontradas no país. Os territórios são um produto social, ou seja, é por meio da ação humana no espaço que eles são construídos.
O Brasil está localizado na parte centro-oriental da América do Sul e ocupa aproximadamente 48% da área desse continente. A extensa faixa litorânea de nosso país tem 7 367 km de extensão e a fronteira terrestre é ainda maior, 15 719 km, que faz limites com dez países sul-americanos. É sobre esse imenso território que o Estado brasileiro exerce soberania, ou seja, autoridade e controle irrestrito sobre os elementos naturais e culturais situados em seus limites, não somente as terras emersas, mas tudo o que existe em sua faixa de mar territorial, em seu espaço aéreo e no subsolo.

Território, limites e fronteiras

Entende-se por território a base física e material da paisagem, expressa em determinada extensão, que possibilita o estabelecimento de alguma forma de limite. Assim, consideramos o território como um espaço definido por limites,
controlado e administrado internamente pelo Estado. O Estado corresponde ao conjunto das instituições que formam a organização político-administrativa de um povo, meio pelo qual as sociedades se organizam.
Os limites territoriais são criados para que um Estado seja delimitado em determinada área do território. As fronteiras também são definidas pelos seres humanos. Elas são a faixa do território que acompanha a linha do limite e podem ser indicadas por elementos naturais, como um rio ou uma serra, ou por linhas imaginárias (meridianos e paralelos).
Geralmente, a noção de território está associada ao espaço de um país, o que implica a existência de uma nação – um povo que tem soberania sobre o espaço que ocupa. A nação é formada por grupos com história e características comuns, por exemplo, o uso de determinada língua ou a presença histórica e continuada no mesmo território.
Os territórios podem ser delimitados de várias maneiras: por meio de tratados, acordos, conflitos sociais etc. Portanto, não são permanentes, dependem da ação dos seres humanos no espaço.
Do ponto de vista histórico-cultural, o Brasil é considerado um país latino-americano. Os países da América Latina compreendem aqueles que, no continente americano, foram colonizados, predominantemente, por Portugal e Espanha. Há, porém, diversas formas de regionalização de um território, que variam de acordo com os propósitos e as visões de mundo.
Antes da chegada dos colonizadores, a paisagem que hoje é o Brasil era dominada por uma natureza pouco transformada. Estima-se que viviam aqui mais de mil povos indígenas, com diferentes línguas, costumes e tipos de organização social, e que somavam cerca de 8 milhões de pessoas. Esses povos sobreviviam de extrativismo e agricultura, sendo, em sua maior parte, seminômades. A ocupação dos europeus causou a expulsão e o massacre dos povos nativos de áreas próximas ao litoral, com a finalidade de realizar atividades econômicas como a extração de pau-brasil e o cultivo de cana-de-açúcar, com foco na exportação para outros países. Essa ocupação foi alterando a paisagem, as dinâmicas e a produção do espaço geográfico, o que levou, entre outros aspectos, à configuração territorial do Brasil de hoje.
Todo esse processo foi marcado por conflitos e intensas disputas de poder – que perduram até hoje – envolvendo questões agrárias, políticas, econômicas, sociais, étnicas e ideológicas.

Primeiras divisões territoriais

O Tratado de Tordesilhas, assinado em 1494, marca uma das primeiras tentativas de divisão e marcação das novas terras conquistadas no Ocidente pelas principais potências expansionistas da época. Por meio desse tratado, estabelecido entre Portugal e Espanha, as terras que formariam o Brasil foram divididas entre os dois países.
O tratado estabelecia que, a 370 léguas a oeste do Arquipélago de Cabo Verde (África), passaria uma linha imaginária. As terras a leste dessa linha pertenceriam a Portugal; as que estivessem a oeste, pertenceriam à Espanha, como mostrado no mapa ao lado.
Em 1500, quando os portugueses chegaram ao Brasil, a extensão territorial que era ocupada pelos povos nativos indígenas foi sendo modificada do litoral para o interior, uma vez que a chegada dos europeus se deu em caravelas, pelo oceano. A partir do século XVII, o interior do território foi progressivamente ocupado por colonos, de modo que o limite reservado a Portugal pelo Tratado de Tordesilhas começou a ser ultrapassado.
Então, em 1530, a Coroa portuguesa efetivou a colonização no Brasil. Para uma ocupação em grande escala, entre os anos de 1534 e 1536, o governo português doou terras a fidalgos e a comerciantes portugueses que tinham dinheiro e mão de obra (escravizados) para o trabalho. Essas áreas, que poderiam ser transferidas aos herdeiros, levaram à divisão do território em 17 capitanias hereditárias. 

Atividades econômicas na formação do território

O desenvolvimento de diferentes atividades econômicas ao longo dos séculos foi o principal motor da expansão territorial brasileira. A exploração do pau-brasil, para comercializar com a Europa, foi uma das primeiras atividades desenvolvidas pelos portugueses, tornando-se importante fonte de rentabilidade.
Durante o século XVI, a ocupação efetiva do território pelos portugueses limitava-se apenas ao litoral. A produção de açúcar tornou-se a principal atividade econômica da colônia até por volta de 1680, e foi responsável pela ocupação e pelo povoamento do território no período. Para a realização do trabalho nos engenhos, africanos eram capturados e trazidos contra a vontade para a colônia portuguesa. Até o século XIX, a economia era quase exclusivamente movida pela força braçal escravizada.
Nos séculos seguintes, a expansão do território foi marcada por diferentes motivos e de várias formas. A descoberta do ouro deixou sua contribuição para a ocupação do interior, sobretudo em áreas pertencentes aos atuais estados de Minas Gerais e Goiás. A exploração dessas riquezas impulsionou fortemente o desenvolvimento local, dando origem a diversas outras atividades, como agricultura e pecuária voltadas às necessidades da população da região mineradora.
Na atual Região Norte, junto com as missões religiosas dos padres jesuítas, iniciou-se a atividade extrativa de produtos a serem comercializados na Europa, as chamadas drogas do sertão (castanha-do-pará, guaraná, louro, entre outras).
No século XVIII, foram assinados muitos tratados que delimitaram as fronteiras brasileiras. Alguns exemplos são o Tratado de Utrecht, que definiu o Rio Oiapoque como limite entre o Brasil e a Guiana Francesa; o Tratado de Madri, legalizando a ocupação territorial portuguesa em direção às áreas situadas ao centro, a oeste e ao sul do Brasil, além de incorporar terras da região amazônica; e o Tratado de Santo Ildefonso, que estabeleceu que a parte oeste do atual estado do Rio Grande do Sul (Sete Povos das Missões), ocupada por
colonos portugueses, pertenceria à Espanha. Até a Independência do Brasil, em 1822, algumas terras ainda não faziam parte do território brasileiro.
Ao longo do século XIX, o estímulo ao processo migratório para o sul e sudeste contribuiu para o povoamento e a efetiva incorporação dessa região ao território brasileiro. O cultivo do café contribuiu para o povoamento e estimulou o surgimento de várias cidades. A ocupação da Amazônia, devido à extração do látex para a produção de borracha, também atraiu grande quantidade de migrantes nordestinos à região.

Primeiros habitantes das terras brasileiras 

As terras encontradas pelos navegadores portugueses no século XVI já eram habitadas há séculos por centenas de povos indígenas, com culturas bastante distintas entre si. Muitos desses povos foram subjugados pelos portugueses para serem submetidos ao trabalho escravo; os que resistiam à escravização eram mortos ou fugiam para as áreas interioranas. Quando os portugueses chegaram ao território que hoje pertence ao Brasil, pesquisadores estimam que havia entre três e cinco milhões de indígenas habitando essas terras. Desde então, a população indígena sofreu uma redução drástica: em 2010, compunha-se de aproximadamente 800 mil pessoas, número que reflete o amplo processo de dizimação a que foram submetidos esses povos ao longo do tempo. Conheça, por meio do mapa da página seguinte, a distribuição dos principais grupos indígenas em terras brasileiras no século XVI.

Território brasileiro no século XVI 

Durante o século XVI, a ocupação das terras portuguesas na América ocorreu apenas nos pontos em que foram instaladas as chamadas feitorias, localidades no litoral em que eram armazenadas as mercadorias extraídas da floresta para posterior embarque em direção à Europa. Em torno das feitorias, os portugueses passaram a explorar especiarias e pau-brasil, madeira de grande valor comercial na época, abundante na Mata Atlântica. Para a extração desses gêneros naturais, os exploradores usaram a mão de obra dos indígenas que viviam próximo à costa.

Território brasileiro no século XVII 

Mesmo com a exploração do pau-brasil, o povoamento e a colonização das terras portuguesas na América do Sul ocorreriam somente a partir da segunda metade do século XVI. Esse processo de ocupação se deu com o surgimento de lavouras de cana-de-açúcar, desenvolvidas de acordo com o sistema de plantation, e dos engenhos para a fabricação de rapadura. Essa atividade econômica foi inicialmente desenvolvida no litoral paulista e depois, com mais sucesso, na costa nordestina, onde predomina o solo de massapê. Nesse período, a Coroa portuguesa, visando à obtenção de maiores vantagens econômicas, substituiu o trabalho forçado de indígenas pelo de africanos escravizados. Assim, entre o final do século XVI e a primeira metade do século XVII, milhares de africanos foram trazidos à força ao Brasil para trabalhar, sobretudo na atividade canavieira (veja as localizações no mapa abaixo). Nessa época, passaram também a ser exploradas as chamadas drogas do sertão, produtos nativos da Floresta Amazônica, como o cacau, a baunilha e o urucum, usados como condimentos. Muitos desses produtos apresentavam propriedades terapêuticas e por isso eram chamados de drogas. Geralmente, a colheita era feita nas margens dos principais rios e igarapés da Amazônia. Também surgiram nesse período os primeiros núcleos urbanos e as fazendas com população fixa. A Vila de São Salvador, atualmente capital do estado da Bahia, foi escolhida para ser a sede do governo português na colônia.

Território brasileiro no século XVIII 

Os séculos XVII e XVIII foram marcados pelo início da exploração das áreas interioranas, os chamados sertões, sobretudo por meio das atividades pecuária e mineradora. As criações de gado foram deslocadas da costa nordestina para dar lugar aos canaviais, ocupando, a partir de então, áreas na direção montante dos principais rios da região, como o São Francisco, o Jaguaribe e o Parnaíba. Além do Nordeste, a criação de gado bovino tornou-se uma atividade de grande importância também para a ocupação do extremo sul da colônia. Já a mineração desenvolveu-se com as expedições realizadas pelos bandeirantes paulistas, principalmente para as regiões dos atuais estados de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso. Ao longo dessas expedições, foram descobertas jazidas de ouro, diamantes e esmeraldas, entre outros minerais de significativo valor comercial. Durante o século XVIII, especificamente, a atividade extrativa mineral ganhou tamanha importância que a sede do governo colonial foi transferida de Salvador para a cidade do Rio de Janeiro, cujo porto estava mais próximo dos núcleos mineradores. Assim, diversos caminhos e estradas foram abertos, permitindo, por exemplo, o escoamento da produção mineral até os portos, de onde era embarcada para a metrópole, e o deslocamento do gado das áreas de criação até os principais núcleos urbanos.

Território brasileiro no século XIX 

Durante o século XIX, destacou-se o desenvolvimento da atividade cafeeira. Introduzido no Brasil no final do século XVIII, o café foi cultivado inicialmente nas imediações da cidade do Rio de Janeiro, expandindo-se na direção do Vale do Rio Pa raíba do Sul. Em apenas algumas décadas, esse produto se transformou em um dos principais gêneros agrícolas brasileiros de exportação e, já no final da primeira metade do século XIX, alcançou áreas do interior de São Paulo, Minas Gerais e Espírito Santo. Nesse período, o fluxo de africanos escravizados para o Brasil ainda era grande, embora tivesse começado a diminuir após o processo de independência do país. Agora constituído como Estado-Nação soberano, o Brasil proibiu o tráfico de cativos em 1850, decretando, em 1888, a Abolição total da escravatura. Como forma de substituir a mão de obra escravizada, o Estado estimulou a vinda de trabalhadores imigrantes livres, sobretudo europeus, os quais, a princípio, foram encaminhados para as regiões produtoras de café e para as áreas de povoamento criadas no sul do país. Assim, até a metade do século XX entraram em território brasileiro cerca de 4 milhões de imigrantes. Além da produção de café, outras atividades agrícolas destacaram-se durante o século XIX, como o cultivo do algodão nas áreas de Caatinga da atual Região Nordeste e a exploração da borracha no interior da Floresta Amazônica, no final do século. O desenvolvimento dessas atividades fez com que o governo ampliasse as vias de acesso ao interior, abrindo caminhos, estradas de terra e ferrovias, que esboçaram os primeiros eixos de comunicação e de integração do território brasileiro.

Território brasileiro no século XX 

A partir do início do século XX, as fronteiras nacionais estavam definidas e começava a se implantar, em determinadas áreas, o processo de tecnificação do território, ou seja, de prolongamento das estradas de ferro, da rede de distribuição de energia elétrica, telegrafia, telefonia, entre outras. Contudo, a organização espacial interna do país ainda se configurava como um grande “arquipélago”, com as principais regiões econômicas coexistindo de maneira desarticulada, voltadas basicamente para o abastecimento do mercado externo. O intercâmbio entre essas regiões e entre os estados que as compunham era muito restrito, em decorrência dos pesados impostos alfandegários internos e da precária infraestrutura das vias de transporte que vigoravam na época.
Determinadas ações do governo federal, como a extinção dos impostos interestaduais e os altos investimentos em obras de infraestrutura (rodovias federais, usinas hidrelétricas, portos etc.), possibilitaram o desenvolvimento da atividade industrial no país, facilitando a circulação de pessoas, informações e mercadorias. Todas as regiões econômicas passaram, então, a se articular em torno do centro industrial que se erguia no Sudeste.

A organização político-administrativa do Brasil

O Brasil é hoje uma república federativa presidencialista. Ser uma república significa ter um representante eleito para governar o país por determinado período. Em nosso país, esse representante é eleito pelo voto obrigatório, secreto e direto, e a pessoa eleita atua como chefe de Estado e de governo, no papel de presidente da República. Além do governo federal, há os governos das 27 unidades federativas (26 estados e um Distrito Federal) e dos municípios.
No Brasil, as unidades federativas estão associadas ao governo central, mas com leis próprias e governo estadual eleito, subordinados à Constituição federal e ao governo central.

AS MIGRAÇÕES INTERNAS NO BRASIL

Os deslocamentos de população que ocorrem no interior dos territórios nacionais são chamados de migrações internas. No Brasil, o número de migrantes internos compõe uma parcela significativa da população.

OS PRIMEIROS GRANDES FLUXOS DE MIGRAÇÃO

Os fluxos de migração ocorrem desde o período colonial, ao longo do qual a população se deslocou pelo território de acordo com as atividades econômicas desenvolvidas em cada região. Ao decorrer da história do Brasil, alguns fluxos tiveram destaque no desenvolvimento da economia do país, como o da mineração, em Minas Gerais; o do café, em São Paulo; e o da borracha, na Amazônia.

A mineração em Minas Gerais

Quando ouro e diamantes foram descobertos na região do atual estado de Minas Gerais, no fim do século XVII e em todo o período de intensa extração mineral naquela localidade, no século XVIII, houve grande deslocamento de pessoas para o local, inclusive de pessoas escravizadas que trabalhavam nos decadentes engenhos de açúcar do Nordeste.

O café e a imigração

Ao longo do século XIX, as lavouras de café ocuparam áreas do Rio de Janeiro, de São Paulo, do sul de Minas Gerais, de parte do Espírito Santo e do Paraná, e atraíram mão de obra estrangeira. Quando a imigração externa diminuiu, migrantes vindos de outras partes de Minas Gerais e de estados da atual Região Nordeste deslocaram-se para essas áreas.

A borracha na Amazônia

No fim do século XIX, a exploração da borracha na Amazônia, associada à crescente demanda da indústria automobilística estadunidense para confecção de pneus, atraiu milhares de trabalhadores dos estados da atual Região Nordeste, que buscavam melhores condições de vida. A Região Amazônica passou de 337 mil habitantes (excluindo-se os indígenas) em 1872 para cerca de 1,1 milhão em 1906.
Até 1912, quando a produção brasileira de borracha chegou ao seu ponto máximo (42 mil toneladas por ano), a Região Amazônica recebeu, aproximadamente, 500 mil nordestinos, com destaque para os cearenses, que ficaram conhecidos como “soldados da borracha”.

OS FLUXOS RECENTES DE MIGRAÇÃO

Já estudamos os fluxos migratórios históricos do final do século XIX e do início do século XX. Agora, vamos abordar os movimentos migratórios mais recentes do nosso país.
As décadas de 1950 a 1970 O período entre as décadas de 1950 e 1970 foi marcado por uma intensificação das migrações internas. Os governos brasileiros da época elaboraram políticas de incentivo à industrialização do país e grandes programas de construção de obras públicas. A industrialização do Centro-Sul atraiu os principais fluxos migratórios para as cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo.
Dos estados da atual Região Nordeste, partiram muitas pessoas também para a Região Norte, pois começava o período de grandes intervenções na Amazônia, com a construção de obras de infraestrutura e a exploração de recursos do subsolo.
Um grande volume de pessoas que se deslocaram dos estados nordestinos em direção a diversas regiões do país, sobretudo para o Sudeste, principalmente para o estado de São Paulo. O Nordeste foi a grande área expulsora de pessoas nesse período.
Entre 1956 e 1960, ocorreu um fluxo migratório para o Brasil central por causa da construção de Brasília (DF) e das estradas Belém-Brasília e Cuiabá-Santarém.
Do Sul do país também se formou um fluxo de migração em direção à fronteira agrícola do sudoeste amazônico, em especial para os chamados projetos de colonização em Rondônia.

As décadas de 1970 a 1990

A migração de nordestinos para as metrópoles da Região Sudeste e para a Região Norte do país seguiu pelas décadas de 1970 e 1980. Os migrantes também se dirigiram a outros estados cuja economia apresentava forte dinamismo.
Na década de 1970, intensificou-se o fluxo migratório do Sul para o Centro-Oeste e para o Norte. Esses migrantes se estabeleceram em médias e grandes propriedades, tendo sido responsáveis pela forte expansão das atividades agrícolas sobre as áreas de vegetação preservada da Amazônia na chamada fronteira agrícola brasileira.
Essas regiões também atraíram pessoas de outras partes do país, formando pequenos fluxos migratórios de diversas origens. Parte da população que migrou para a Região Norte foi atraída pelos empregos nas obras de infraestrutura, como a Rodovia Transamazônica, pela mineração no Pará, pelos projetos de ocupação do governo federal – que prometiam o acesso à terra e o incentivo à produção agrícola – e pela criação de incentivos federais para a instalação de indústrias na região.

As décadas de 1990 e 2000

Ocorreram diversas mudanças nos fluxos migratórios na década de 1990. Diversos deslocamentos, antes intensos, perderam força, como aqueles feitos por sulistas em direção à
Amazônia.
O Sudeste ainda era a área que mais recebia migrantes; no entanto, São Paulo, mesmo atraindo muitas pessoas, começou a perder população para o interior e para a Região Nordeste do Brasil, em um fenômeno chamado migração de retorno – nome dado ao fenômeno da volta de migrantes a seus locais de origem.
Esta foi a grande novidade nos fluxos migratórios a partir dos anos 2000: as metrópoles perderam população para cidades médias.

AS CONDIÇÕES DE VIDA DOS MIGRANTES E A DISCRIMINAÇÃO

Nos períodos de crescimento da economia em um local, cresce também a oferta de trabalho, o que atrai pessoas. Em geral, os trabalhadores que migram para outro município, estado ou país aceitam exercer funções diferentes das que exerciam em seu lugar de origem. Em muitos casos, conseguem ganhar melhores salários ocupando postos de trabalho que exigem poucas qualificações profissionais, como realizar tarefas fisicamente exigentes, que podem ser aprendidas em um período curto.
Em grande parte do mundo, existem comunidades de migrantes que enfrentam condições de vida mais difíceis do que as dos demais moradores. No Brasil, é muito recente a formação de fluxos migratórios de trabalhadores qualificados – até então a quase totalidade dos migrantes internos possuía pouca qualificação profissional. Assim, em todas as regiões do país, são evidentes as dificuldades socioeconômicas enfrentadas pelas famílias migrantes.
Aqueles que migram em busca de postos de trabalho criados em período de crescimento enfrentam outra dificuldade: a intolerância, que ganha força em momentos de crise e recessão. Aqueles que antes eram necessários para incrementar o desenvolvimento econômico deixam de ser bem-vindos e passam a ser objeto de discriminação e ações xenófobas.

AS MIGRAÇÕES INTERNACIONAIS E O BRASIL

Os deslocamentos populacionais – ou movimentos migratórios – ocorrem desde o aparecimento da espécie humana na Terra.
Vinculadas às necessidades de cada grupo, as migrações são fenômenos causados por fatores de repulsão, que forçam as pessoas a deixar suas terras, e por fatores de atração, que atraem as pessoas que migram para um novo lugar.

A IMIGRAÇÃO INCENTIVADA AO BRASIL

Migração, de maneira geral, é o fenômeno que ocorre quando uma pessoa deixa seu lugar de origem para viver em outro país, estado ou município. Quando deixa seu país de origem, ela é considerada emigrante. Quando essa pessoa chega ao novo país, torna-se imigrante.
Entre as décadas de 1880 e 1930, houve um grande movimento migratório internacional em direção à América e, consequentemente, ao Brasil. O movimento pode ser dividido em três momentos: no primeiro, entre 1880 e 1900, predomina a chegada de imigrantes italianos,
alemães, espanhóis e portugueses; o segundo, entre 1910 e 1920, marca a entrada de uma matriz mais diversificada, com japoneses, poloneses, sírios, libaneses; e, no terceiro, nas décadas de 1920 e 1930, japoneses continuam chegando ao Brasil, bem como chineses, eslavos, armênios, entre outros.
Os imigrantes chegaram ao Brasil pela imigração incentivada ou subsidiada e foram direcionados para o trabalho nas indústrias e nas plantações de café e algodão. O governo brasileiro arcava com os custos da viagem e fornecia hospedagem para os imigrantes recém-chegados, sobretudo europeus, até que conseguissem emprego ou terras.
A imigração incentivada ocorreu entre 1889 e 1927, quando a política de subsídios cessou e o fluxo de imigrantes que vinham ao país diminuiu. Tais mudanças sociais no Brasil não foram aleatórias. O novo quadro social foi formado pelas decisões políticas tomadas desde a segunda metade do século XIX, iniciadas com o fim do tráfico de escravizados pela Lei Eusébio de Queirós (1850) e com a instauração, 14 dias depois, da Lei de Terras (1850), que regularizava a propriedade privada, favorecendo os latifundiários e dificultando o acesso a novas terras, sobretudo para escravizados alforriados.
Mesmo com a Lei do Ventre Livre (1871), que considerava livres filhos de negras escravizadas nascidos a partir da data da lei, e a Lei Áurea (1888), que aboliu a escravidão, a população preta e parda brasileira, que constituía maioria do povo, viu-se impedida de trabalhar, sustentar-se e viver com dignidade, já que os empregos nas lavouras de café e nas fábricas eram destinados aos novos imigrantes.
As migrações internacionais para o Brasil entre os séculos XIX e XX criaram um novo cenário socioeconômico no país. Analise o gráfico do IBGE sobre a evolução populacional por cor no país entre 1872 e 1991 e a tabela elaborada pelos sociólogos Roger Bastide (1898-1974) e Florestan Fernandes (1920-1995), presente no livro Brancos e negros em São Paulo.

AS IMIGRAÇÕES PARA O BRASIL

Conforme estudado, o Brasil recebeu um grande contingente
de pessoas de outros países – os imigrantes. Assim, a população brasileira formou-se por povos de diferentes origens, portanto convém ressaltar que os imigrantes foram parte importante desse processo.
Especialmente a partir da metade do século XIX até as primeiras décadas do século XX, muitas pessoas foram atraídas para o Brasil para trabalhar como lavradoras, operárias, comerciantes e artesãs. Elas trouxeram elementos de suas culturas ao nosso país, ao mesmo tempo que incorporaram elementos da cultura brasileira à sua vida cotidiana.
É possível perceber essas mudanças de diversas maneiras: nos hábitos alimentares, nas artes, na arquitetura das paisagens brasileiras urbanas e rurais e até mesmo na linguagem.

Os principais fluxos de imigração para o Brasil

Os portugueses
Os portugueses que chegaram ao país após a independência se estabeleceram, sobretudo, nas cidades, dedicando-se principalmente aos trabalhos urbanos. Parte deles também se dedicou ao trabalho agrícola, mas em número menor que o dos demais grupos. Os portugueses são historicamente o grupo de imigrantes europeus mais numeroso no Brasil, já que o fluxo migratório se estabeleceu ainda na época da colonização.
Os italianos
A maioria dos imigrantes italianos se fixou nas fazendas de café de São Paulo para trabalhar nas lavouras. Eles também se tornaram a principal mão de obra das fábricas que surgiam nas cidades do Sudeste, e alguns se dedicaram ao comércio. Por terem atuado como operários ou, posteriormente, como proprietários das indústrias paulistas, tiveram grande importância no processo de industrialização do país. Muitos deles também se dirigiram a outros estados brasileiros, principalmente do Sudeste e do Sul.
Os espanhóis
Os imigrantes espanhóis se instalaram principalmente em áreas rurais, como trabalhadores nas grandes fazendas ou como pequenos proprietários.
Alguns se estabeleceram nas cidades do interior, em especial nas pequenas. Realizavam atividades artesanais, manufatureiras (nas fábricas), comerciais e ferroviárias.
Os alemães
Os alemães começaram a chegar ao Brasil no início do século XIX e ocuparam, primeiramente, as colônias do Espírito Santo e do Rio de Janeiro. No fim desse século e no início do século XX, chegaram em grandes grupos e se dirigiram sobretudo para os estados do sul do país. As dificuldades econômicas e políticas na Alemanha foram os principais motivos para a vinda dessas pessoas ao Brasil.
Os japoneses
Os japoneses começaram a chegar ao Brasil em 1908. A vinda desses imigrantes foi motivada por interesses brasileiros e nipônicos: o Brasil precisava de mão de obra para as lavouras de café e o Japão buscava na emigração uma solução para as tensões sociais do país, causadas por seu alto índice demográfico. Muitos imigrantes japoneses formaram colônias, principalmente em São Paulo e no Paraná.

Os novos fluxos de imigração para o Brasil

No Censo de 2010, foram contabilizadas pouco menos de 600 mil pessoas de origem estrangeira vivendo no Brasil. Esses imigrantes correspondem, portanto, a cerca de 0,3% da população do país, que ainda recebe muitos imigrantes europeus. No entanto, atualmente, os fluxos migratórios de países latino-americanos e da China são significativos.

OS BRASILEIROS NO EXTERIOR

A história da formação do Brasil teve períodos de maior e de menor chegada de imigrantes. Na segunda metade do século XX, os fluxos migratórios internacionais diminuíram bastante: o número de imigrantes chegou a ser igual ao de brasileiros que deixaram o país.
Por isso, os estudiosos afirmam que o saldo migratório – a diferença entre o fluxo de emigrantes e imigrantes de uma localidade – do país foi praticamente nulo nesse período.
Desde a década de 1980, milhares de brasileiros têm deixado o país para trabalhar no exterior em busca de novas oportunidades, devido ao aprofundamento das desigualdades sociais, ao aumento do desemprego e às crises econômicas pelas quais o Brasil tem passado.
Na década de 1980, houve uma grande saída de pessoas do Brasil em direção, principalmente, aos Estados Unidos, ao Japão e a alguns países europeus. As estimativas de emigração de brasileiros para outros países indicam que cerca de 2,3 milhões de brasileiros deixaram o Brasil nas décadas de 1980 e 1990 (cerca de 80% na década de 1980).
Em 2020, o governo brasileiro estimava que pouco mais de 4 milhões de brasileiros viviam no exterior, um número muito superior ao de estrangeiros que se estabeleceram no Brasil, que atualmente está na casa de 1,3 milhão de pessoas. Se a saída de brasileiros seguir nesse ritmo, podemos nos tornar um país de emigração. 
A crise econômica e política iniciada nos anos de 2010 fez com que o número de emigrantes brasileiros aumentasse ainda mais. Esses fatores levaram muitas pessoas a emigrar em direção aos países ricos do Hemisfério Norte, sobretudo para Estados Unidos, Japão, Canadá e vários países da União Europeia, como Portugal, Espanha e Inglaterra.

A fuga de cérebros

A exportação, ou fuga de cérebros, é um fenômeno atual no Brasil que tem aumentado o número de emigrantes do país. Em razão das poucas ofertas de emprego e da falta de valorização profissional, jovens doutores e pesquisadores têm migrado para países que ofereçam remuneração, estrutura e oportunidades para realizar suas pesquisas em instituições renomadas.
Nos últimos anos, segundo dados da Receita Federal, grande parte das saídas definitivas é de jovens pesquisadores. As áreas de tecnologia e medicina são as que mais sofrem com a fuga deles, uma vez que os estudos podem ser realizados em qualquer lugar.
Com o congelamento das verbas para o financiamento de pesquisas e a falta de reajustes em bolsas de estudo por parte das agências de fomento nos últimos anos, esses jovens têm saído cada vez mais cedo do país. Diversas universidades estrangeiras oferecem programas de estudos e pesquisa para pesquisadores brasileiros, como é o caso da Tulane University, que tem um programa específico para esses estudantes.
A consequência disso para o Brasil é a redução de pessoas qualificadas no país para realizar pesquisas científicas e contribuir com avanços tecnológicos.

OS REFUGIADOS

Entre os migrantes internacionais, há um grande número de pessoas fugindo de conflitos armados e de perseguições por motivos diversos – origem étnica, prática religiosa, orientação sexual ou posicionamento político-ideológico – em seu país de origem. Uma convenção internacional, criada em 1951 e apoiada por diversos países, protege essas pessoas, oferecendo-lhes refúgio em países estrangeiros.
Desse modo, milhões de pessoas buscam refúgio em países estrangeiros. Em muitos casos, são improvisados campos de refugiados nos países vizinhos, nos quais a população tem acesso à ajuda humanitária, como alimentação e moradia provisória.
É o caso dos imigrantes venezuelanos, que vêm sendo acolhidos no Brasil e em outros países nos últimos anos. A Venezuela passa por uma grave crise econômica, que envolve
embates políticos e sanções econômicas no mercado internacional. Soma-se a esse quadro o interesse de grandes empresas transnacionais petrolíferas nas reservas de petróleo do país. Em decorrência de toda essa situação, a população venezuelana tem procurado proteção e abrigo nos países vizinhos.

Grupos de imigrantes recentes 

Haitianos 

O Haiti é um dos países com piores indicadores sociais do mundo, marcado pela instabilidade política e a extrema pobreza da população. Em janeiro de 2010, um terremoto de elevada magnitude atingiu o país e a situação agravou-se. Mais de 200 mil pessoas morreram. Um ano após o terremoto, aproximadamente 1 milhão de pessoas ainda se abrigavam em tendas, sobrevivendo em condições precárias. Esse contexto de desolação e miséria fez uma grande parcela de haitianos deixar o país. Muitos escolheram o Brasil como destino, iniciando uma onda migratória. Em 2000, não havia registros oficiais de haitianos no território brasileiro. Entre 2011 e 2020, foi registrada a entrada de mais de 149 mil haitianos no país. É o grupo de imigrantes mais numeroso desse período. 

Bolivianos

Os bolivianos representam a maior comunidade latino-americana no Brasil, formada a partir dos anos 1950. A partir da década de 1980, iniciou-se um novo fluxo, com jovens de ambos os gêneros, geralmente solteiros e das áreas rurais da Bolívia, atraídos pelas oportunidades de trabalho, principalmente na cidade de São Paulo. Grande parte deles é contratada por oficinas de costura e, geralmente, é submetida a condições precárias de moradia e de trabalho. O salário acaba reduzido por causa das altas dívidas a que são obrigados a contrair com o agenciador (pessoa que recruta o trabalhador na Bolívia) e o empregador, para pagar o uso de máquinas de costura e o aluguel, por exemplo. Entre 2011 e 2020, foram registradas mais de 55 mil entradas de imigrantes bolivianos no Brasil.

Sírios 

Os primeiros grupos de imigrantes sírios entraram no Brasil no final do século XIX, estabelecendo-se principalmente na cidade de São Paulo. Muitos vieram fugindo de perseguições religiosas e buscando trabalho, em geral no comércio. No século XXI, os grupos de sírios que começaram a chegar ao Brasil apresentavam a condição de refugiados. Em 2011, iniciou-se um conflito na Síria que forçou mais da metade da população a deixar o país e a se espalhar por diferentes lugares no mundo. No Brasil, o principal destino dos sírios é São Paulo, por causa, principalmente, da comunidade síria já instalada na cidade, que se organiza para receber e ajudar os recém-chegados. 

Venezuelanos 

Estima-se que, entre 2014 e 2020, mais de 5 milhões de pessoas deixaram a Venezuela, em razão da grave crise econômica, política e social que afeta o país. Muitos imigrantes chegaram ao Brasil relatando as más condições de vida, como o aumento da violência e da pobreza e a grande dificuldade em adquirir produtos de necessidade básica. Em 2020, havia, no Brasil, mais de 172 mil imigrantes venezuelanos, constituindo o maior grupo nesse ano. A entrada desses imigrantes ocorre principalmente pelo estado de Roraima. Na capital, Boa Vista, muitos acabam se submetendo a condições precárias de trabalho e de moradia. 

Sistemas de transporte

Sistema de transporte é um conjunto de vários meios de transporte usado de modo coordenado em um mesmo território. É composto de ferrovias, rodovias, hidrovias, aeroportos e portos e permite a interiorização de uma mercadoria ou o contrário, a retirada de um produto do interior para fora do país.
Os sistemas de transporte são construídos pela sociedade e são parte do espaço geográfico. Alguns deles, como portos e aeroportos, usam equipamentos tecnológicos, como radares e medidores de força de ventos. Por isso, os itens do sistema de transporte são entendidos como objetos sofisticados.

O transporte marítimo

Anualmente, milhões de toneladas de carga de produtos como café, milho, soja, açúcar, combustíveis, veículos, máquinas e aparelhos eletrodomésticos passam pelos principais portos do mundo.
Os portos marítimos escoam grande parte da produção agrícola e industrial. Deles partem os navios que usam os oceanos como vias de transporte, unindo países e continentes. O oceano Atlântico é o mais movimentado, pois concentra o comércio entre os Estados Unidos e a Europa. Entretanto, o movimento no oceano Pacífico foi o que mais cresceu nas últimas décadas, devido à importância econômica de países como Japão, China, Coreia do Sul e Cingapura.

O uso de contêineres no transporte marítimo

O uso de contêineres – compartimentos metálicos do tamanho de um vagão de trem ou de uma carroceria de caminhão – tornou mais ágil a ligação do transporte marítimo com as rodovias e ferrovias existentes no interior dos continentes. Economizam espaço dentro da embarcação e permitem o transporte simultâneo dos mais diversos produtos. Depois de serem desembarcados, prosseguem viagem por ferrovia, hidrovia ou rodovia até o destino final. Existem alguns que são refrigerados, o que permite o transporte de alimentos perecíveis.
Com o crescente uso de contêineres, mais mercadorias que integram o comércio internacional são transportadas por navios. Grandes intervenções humanas encurtaram distâncias e permitiram ganhar tempo.

Hidrovias

Não apenas os oceanos são usados para transporte. Existem rios que também são aproveitados para essa atividade. Como os rios correm naturalmente, essa energia é usada, o que diminui muito os custos do transporte. Já quando o navio tem de navegar no sentido contrário ao do rio, ele necessita de mais potência dos motores, o que aumenta o custo. Mas a soma dessas despesas ainda é mais baixa que o total gasto pelo transporte aéreo, rodoviário ou ferroviário.
Muitos rios,são usados para o transporte de cargas. Na Europa, o rio Danúbio é um importante meio de transporte de cargas. Nos Estados Unidos, o rio Mississípi serve de elo para o escoamento de produtos. Algumas cidades, como Paris, usam o rio para o transporte de passageiros.
No Brasil, também existem rios que são muito importantes para o escoamento de mercadorias. O rio Amazonas e o rio Tocantins são navegáveis. Eles também são usados para a circulação de pessoas.
A hidrovia Araguaia-Tocantins, que atinge cerca de 3 000 km, se somarmos os trechos navegáveis dos dois rios, ainda não está concluída. Porém, em parte de seus rios já circulam soja e outros produtos agrícolas. Já a hidrovia Paraná-Tietê tem cerca de 1 653 km de extensão e interliga rios de Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná e São Paulo (figura 9). Ela funciona porque parte de seus rios foi alterada por meio de eclusas, que permitem a elevação de embarcações.
Apesar de ser um meio de transporte barato, as hidrovias podem gerar impactos ambientais elevados. Caso aconteça um acidente com uma embarcação, pode ocorrer a contaminação da água.
Além disso, para tornar trechos de rios navegáveis são realizadas intervenções humanas, como a retirada de rochas e a construção de canais artificiais e de eclusas que alteram o fluxo natural dos rios, podendo afetar sua capacidade de transporte e diminuir a presença de pescado, fonte de alimentação para a população que vive junto ao rio.

Os tráfegos aéreo, rodoviário e ferroviário

Transportar mercadorias por avião é muito caro. Apesar disso, esse meio de transporte costuma ser usado para levar itens que estragam rapidamente, como as flores produzidas na Colômbia e exportadas para países europeus. Além disso, algumas frutas são exportadas do Brasil para países europeus e para os Estados Unidos por avião, como melões, que saem
de Pernambuco diretamente ao destino.
Nos últimos anos, com o aumento do comércio pela internet, verifica-se um maior uso de aviões para transportar pequenos objetos (livros, por exemplo). Serviços de entregas de correspondência rápida também costumam usar aviões para os trechos mais longos. Depois, a correspondência é levada a
um posto de distribuição por veículo terrestre para de lá seguir ao destino.
Enquanto a maior parte das mercadorias que circula no mundo é transportada em navios, os aviões são os campeões no transporte de passageiros. Em 2016, cerca de 3,8 bilhões de pessoas usaram o transporte aéreo, de acordo com a Organização Internacional de Aviação Civil (OIAC).

Transporte rodoviário

Nas rodovias, as cargas são transportadas por caminhões de grande capacidade. É um meio de transporte de alto consumo de combustível, quando comparado aos transportes ferroviário e hidroviário. Um dos problemas é o rápido desgaste das rodovias, uma vez que os caminhões circulam bem pesados para serem rentáveis.
Por isso, é muito caro manter as estradas em condições adequadas de uso. No entanto, os caminhões apresentam uma vantagem em relação a outros meios de transporte: eles permitem levar a carga diretamente ao destino.
Com o maior desenvolvimento industrial, foi necessário aumentar a infraestrutura viária para que os produtos pudessem ser levados dos fabricantes aos consumidores. Por isso, o transporte rodoviário cresceu de acordo com as demandas da indústria, o que também afetou o espaço urbano.
O sistema viário de uma cidade é formado pelo conjunto de ruas, avenidas, ciclovias e demais vias que permitem o deslocamento de pessoas e de mercadorias.
As cidades, por sua vez, foram integradas a estradas, que podem ter maior ou menor capacidade de absorver o trânsito.

A circulação de informações

A internet, rede mundial de computadores, foi criada para fins militares, para transmitir regras de segurança e ordens de superiores. O desenvolvimento da internet ganhou um impulso maior a partir da década de 1990. Tornou-se um sistema de dezenas de milhares de redes conectadas por todo o planeta.
Atualmente, milhões de pessoas em todo o mundo utilizam esse sistema todos os dias para realizar muitas atividades, como conversar com pessoas que estão muito distantes, comprar produtos, realizar pesquisas. Ela também é muito usada por bancos para transferir recursos de um país a outro.

O comércio

Comércio é a troca de um produto por dinheiro ou por outro produto. Essa atividade relaciona o produtor com o consumidor.
Quando o comércio surgiu, era realizado por meio da troca de produtos. Ou seja, cada produtor vendia seu excedente diretamente a outro produtor. Porém, nem todo mundo ficava satisfeito com a troca, porque muitas vezes ela envolvia produtos diferentes, que exigiam mais trabalho que o outro produto aceito em troca.
Para resolver esse problema foi criado um equivalente geral, o dinheiro. Hoje em dia usam-se moedas, notas, cheques, cartões de plástico e meios eletrônicos para fazer um pagamento de uma troca comercial.

Comércio, consumo e desigualdade social

Com o passar do tempo, a atividade comercial cresceu e, atualmente, movimenta muitos recursos para fazer com que um produto saia, muitas vezes, de um país distante até chegar ao consumidor. Mas o comércio necessita expor o produto para que o comprador possa escolher o que deseja. Os pontos de venda têm esse papel.
Existem diferentes tipos de pontos de venda. Desde o pequeno comércio, caracterizado por pequenas lojas que atendem à população local, passando por grandes lojas que fazem parte de grandes redes comerciais, algumas delas internacionais.
A concentração de comércio e prestação de serviços, geralmente, ocorre no espaço urbano, já que nele estão a grande parte dos consumidores e a infraestrutura necessária para que as mercadorias circulem.
Cada vez mais cresce o comércio eletrônico, ou seja, loja “virtual”, representada em uma página da internet ou em aplicativos instalados em celular com informações sobre o produto, na qual o consumidor pode escolher e pagar por meio eletrônico, para depois recebê-lo em sua casa.
No Brasil e em muitos países do mundo, não são todas as pessoas que têm acesso aos produtos comercializados. As diferenças no poder de consumo revelam as desigualdades sociais. Enquanto algumas pessoas podem pagar por produtos de consumo sofisticados e caros, outras não conseguem nem ter acesso a itens básicos para sua sobrevivência, como alimentos, roupas ou um lugar adequado para viver.

A concentração do comércio mundial

O comércio mundial é muito concentrado. As exportações e as importações dos Estados Unidos, do Canadá, de alguns países da Europa e da China, juntas, representam quase 80% de tudo o que é comercializado no mundo.
Os Estados Unidos, juntamente com o Japão, destacam-se no setor de informática e na indústria automobilística. A Alemanha e a França vendem produtos industrializados. Nos países da América do Sul predominam as exportações de alimentos (Brasil e Argentina) e minerais (Brasil, Chile e Peru).

A industrialização no Brasil

A indústria reúne matéria-prima, máquinas e trabalho humano; ela transforma a matéria-prima em produtos elaborados, que serão consumidos pela sociedade. A atividade industrial ocorre especialmente nos espaços urbanos e está atrelada a outros setores da economia, como a agropecuária e os serviços.

Da proibição às primeiras indústrias 

Em 1785, enquanto a industrialização era acelerada na Inglaterra, a rainha de Portugal, Maria I, proibiu a existência de fábricas e manufaturas no Brasil. No documento em que determinou a proibição, ela alegava que a atividade industrial ocuparia a escassa mão de obra disponível, o que prejudicaria a agricultura e a mineração – atividades rentáveis para a metrópole. Apenas tecidos simples de algodão poderiam ser fabricados na colônia, usados para ensacar produtos agrícolas e para o vestuário de pessoas pobres, escravizadas ou indígenas. A proibição foi anulada em 1808, com a chegada da família real. A medida, porém, não foi suficiente para impulsionar a industrialização. Ao longo do século XIX, foram criadas indústrias dos setores têxtil, alimentício, metalúrgico, químico, de vestuário, móveis e transportes, mas grande parte dos produtos industrializados continuava a ser importada. Em 1889, o país possuía 903 estabelecimentos industriais – número que seria ampliado para 3 120 e 13 336 entre 1907 e 1920. O avanço da indústria nas primeiras décadas do século XX foi impulsionado pela formação de um mercado interno. 

 A atividade cafeeira e a industrialização

pós o declínio da mineração, o café se tornou um dos mais importantes produtos de exportação do Brasil, ultrapassando o açúcar. O crescente consumo da bebida na Europa e nos Estados Unidos estimulou a produção do grão no país. O cultivo em larga escala de café teve início no Rio de Janeiro, nas primeiras décadas do século XIX. A atividade se expandiu pela região do Vale do Paraíba, em São Paulo, chegando ao norte do Paraná em meados do século XX. O café foi cultivado também no Espírito Santo e na porção leste de Minas Gerais.
O fim do tráfico de africanos escravizados (1850) e a abolição da escravatura (1888) foram fatores que motivaram a transição do trabalho escravo para o trabalho assalariado. Essa mudança foi fundamental para aumentar a circulação de dinheiro e criar um mercado de consumo mais amplo para os produtos industrializados. 
Parte dos imigrantes europeus que chegavam ao Brasil para trabalhar nas lavouras de café também possuía experiência na indústria. Assim, além de compor o contingente de mão de obra da atividade agricultora, muitos desses trabalhadores foram incorporados como operários nas indústrias, que começavam a crescer no país.
Gradativamente, a atividade cafeeira estimulou o crescimento de atividades complementares para a exportação desse produto, como a implantação de ferrovias, de serviços bancários, a geração e o abastecimento de energia elétrica para a iluminação pública e a movimentação de máquinas de beneficiamento dos grãos. Desenvolveu-se, então, uma rede de cidades e de relações econômicas que constituíram um ambiente propício ao crescimento da produção industrial.

O contexto internacional 

Em 1929, uma crise na bolsa de valores de Nova York deu início a um período de recessão econômica internacional, reduzindo as exportações do café brasileiro. Os cafeicultores, então, passaram a investir em outros cultivos e na indústria. O envolvimento de países europeus e dos Estados Unidos na Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e na Segunda Guerra Mundial (1939-1945) também impactou a economia brasileira, reduzindo a oferta de produtos industrializados no mercado. Assim, o setor industrial nacional buscou suprir as demandas do mercado interno, processo chamado de substituição de importações.

O papel do Estado 

Durante os governos de Getúlio Vargas (1930-1945 e 1951-1954), foram criadas indústrias de base com o objetivo de fornecer matérias-primas para outras indústrias e diversificar a produção. São exemplos a Companhia Vale do Rio Doce, com foco na mineração de ferro, e a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), produtora de aço. 
Na presidência de Juscelino Kubitschek (1956-1961), o governo federal aumentou os impostos para importação de bens de consumo e incentivou a produção industrial no território nacional. Foi a partir desse período que importantes indústrias automobilísticas estrangeiras passaram a produzir na região do ABCD paulista (municípios de Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano e Diadema). Bolsa de valores: instituição onde são negociados títulos e ações. As ações correspondem a uma parcela de uma empresa cuja propriedade é compartilhada por um conjunto de pessoas. Os títulos são documentos que representam o empréstimo de um bem ou valor e podem ser emitidos por governos ou empresas privadas para arrecadar investimentos financeiros. 
As empresas foram obrigadas a produzir com uma quantidade mínima de peças brasileiras. Isso estimulou a indústria nacional de autopeças e integrou as empresas nacionais e multinacionais no setor automobilístico. Entre as décadas de 1960 e 1980, o Estado também estimulou a industrialização, investindo na geração de energia elétrica e na ampliação da rede rodoviária no país.

Características da industrialização brasileira 

Por ter se consolidado ao longo do século XX, a industrialização do território brasileiro foi classificada como uma industrialização tardia, em comparação aos países industrializados antigos, como Inglaterra, França, Alemanha, Estados Unidos e Japão. O número de indústrias aumentou de 43 250 em 1939 para 209 617 em 1980. Em 2019, havia 306 mil estabelecimentos industriais no país. Apesar do crescimento, a indústria brasileira é dependente de tecnologia e maquinário importado até os dias atuais, principalmente nos setores produtivos que envolvem alta tecnologia. 
O processo de industrialização foi impulsionado pela instalação de fábricas de empresas estrangeiras no Brasil. Isso ocorreu principalmente após a Segunda Guerra Mundial, quando os avanços tecnológicos nas comunicações e nos transportes, somados às oportunidades de comercialização local e aos custos de produção mais baixos, incentivaram empresas a transferir etapas produtivas para outros países. Devido à atuação em diversos países, essas empresas são chamadas multinacionais.

Fases da industrialização no Brasil

A atividade industrial no Brasil começou no século XIX. Inicialmente desenvolveram-se indústrias de tecelagem que faziam sacos para embalar matérias-primas que eram exportadas. Depois, ainda no século XIX, empresários brasileiros e imigrantes italianos começaram a instalar indústrias, empregando o conhecimento que traziam consigo.
Foi somente a partir do século XIX, com a expansão da economia cafeeira na Região Sudeste, que teve início a primeira fase industrial do país. Fatores determinantes para isso foram a capitalização dos empreendedores nacionais (com dinheiro proveniente das vendas de café), a institucionalização do trabalho assalariado, a mão de obra imigrante, o aumento do mercado consumidor urbano, entre outros. Por muito tempo, os bens de consumo duráveis e os bens de produção, como máquinas e equipamentos pesados, eram importados.
Foi, porém, a partir da década de 1940, com a construção da Companhia Siderúrgica Nacional, em Volta Redonda (RJ), que a industrialização do país ganhou impulso. Durante o governo de Getúlio Vargas (1930-1945 e 1951-1954), ocorreu uma mudança significativa na estrutura industrial brasileira. A atividade industrial intensificou-se com a implantação de indústrias de base (siderurgia, metalurgia, mecânica, indústria de cimento etc.). Isso reduziu as importações e estimulou a produção nacional de bens de consumo duráveis. Nessa segunda fase da industrialização brasileira, a indústria tornou-se um importante setor da economia, superando o setor agrícola.
No governo de Juscelino Kubitschek (1956-1961) iniciou-se a terceira fase da industrialização brasileira, com o uso de capital externo e o desenvolvimento da indústria de bens de consumo duráveis. Com a entrada de capital estrangeiro, empresas multinacionais ingressaram no país. Nessa fase, foram feitos muitos investimentos e empréstimos a instituições financeiras para manter o ritmo de crescimento econômico nacional, o que gerou grande endividamento.
Na década de 1950 muitas montadoras de carros se instalaram no Brasil. Com elas, surgiu um polo muito importante de produção industrial no país: o ABCD, abrangendo os municípios paulistas de Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul e Diadema. 
O ABCD, além de abrigar montadoras de carros, se tornou sede de muitas outras indústrias de peças utilizadas na montagem de automóveis.
Outro polo industrial importante desenvolveu-se em Minas Gerais, na região que ficou conhecida como Quadrilátero Ferrífero. Empresas estatais e privadas exploram jazidas de minério de ferro.
No Rio Grande do Sul também se encontra um importante polo industrial. Nos municípios de Caxias do Sul e São Leopoldo instalaram-se indústrias metalúrgicas que depois passaram a fabricar máquinas.
A partir da década de 1990, houve um novo processo de distribuição espacial das indústrias pelo Brasil. Os estados do Paraná, de Goiás, do Rio Grande do Sul, de Pernambuco e da Bahia receberam fábricas de transnacionais montadoras de carros e passaram a se destacar na produção automobilística. Já o Ceará passou a abrigar um importante polo de produção de calçados que, além de atender ao mercado interno, exporta para o mundo.
Na década de 1990, o país expandiu as atividades comerciais. Essa fase ficou marcada pela entrada de vários produtos estrangeiros (computadores, automóveis, eletrodomésticos, entre outros). Empresas estatais foram privatizadas, ou seja, deixaram de ser propriedades do governo e passaram a ser empresas privadas. A partir dessa década, o país ingressou na quarta fase industrial, marcada pela globalização e abertura econômica, pelo desenvolvimento de tecnologias de telecomunicações, informática, robótica, engenharia genética e transporte.
O setor industrial brasileiro está concentrado nos estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro e também em áreas da Região Sul e do litoral nordestino. Embora a indústria esteja concentrada em algumas áreas, nas últimas décadas muitas fábricas se deslocaram para o interior do país, em busca de mão de obra mais barata e de incentivos fiscais de governos estaduais ou prefeituras. Essa mudança na distribuição espacial das indústrias marca nova fase de desconcentração industrial. A desconcentração da produção tem modificado expressivamente os fluxos migratórios, por causa da demanda de trabalhadores. A concentração industrial no Centro-Sul é um importante elemento para avaliar as desigualdades socioeconômicas entre as regiões brasileiras. A descentralização industrial, ainda que insuficiente, foi importante para o desenvolvimento técnico e produtivo de outros municípios e estados do país.

Cadeia industrial

Entre o agricultor que produz o algodão e a calça jeans pronta, há muita gente trabalhando. O algodão que foi colhido e ensacado é transportado para a indústria têxtil, onde será transformado em fios e tecido, que será tingido. As fábricas de roupas compram o tecido das tecelagens ou de empresas especializadas no corte e na preparação de moldes que serão utilizados na confecção da calça. Cada acabamento inserido na mercadoria envolve o trabalho de muitas outras pessoas e empresas.

A cadeia produtiva de uma calça jeans conta ainda com o estilista, profissional que desenha os modelos. As agências de publicidade também integram o processo, criando a propaganda e desfiles para atrair o consumidor. Todas essas etapas e esses trabalhadores integram uma cadeia produtiva.

As transnacionais e a cadeia produtiva

As grandes indústrias controlam a cadeia produtiva, principalmente, as empresas transnacionais. As transnacionais são empresas que instalam suas fábricas e seus escritórios em vários países do mundo. O comando é feito da sua matriz, no país-sede. Essas empresas buscam diminuir o custo da produção aproveitando vantagens como isenção de impostos e mão de obra mais barata para se instalarem em diferentes países.
Assim, as fábricas de peças ou de partes das mercadorias podem estar instaladas em muitos países. Essa organização da produção distribuída por vários países do mundo é chamada globalização da produção. Um avião pode servir de exemplo da globalização.
Os grandes grupos empresariais que atuam no setor industrial
têm demonstrado muita capacidade de introduzir novos produtos e novos processos produtivos. Esses processos são cada vez mais baseados na ciência e na tecnologia (C&T). A biotecnologia, a engenharia genética (figura 18), a informática,
os novos materiais e as diversas formas de organização da produção são exemplos de inovações recentes que têm alterado bastante a produção industrial.

A organização do trabalho industrial

Até meados do século XVIII, a produção de mercadorias era artesanal ou manufaturada, realizada, muitas vezes, na casa dos próprios artesãos. A indústria têxtil foi a primeira a surgir na Inglaterra. As fábricas receberam teares e máquinas a vapor que empregavam carvão mineral e geravam a energia necessária para mover as fiandeiras e os teares mecânicos. Veja a seção Olhar interdisciplinar.
No final do século XIX, outras mudanças que ocorreram devido ao desenvolvimento tecnológico alteraram o modo de produção industrial. A criação do motor de explosão e a descoberta da eletricidade ampliaram a capacidade das máquinas.
A partir de então, a indústria passou a empregar as novas fontes de energia, como o petróleo e as quedas-d’água usadas para gerar eletricidade.

A organização do trabalho na fábrica

No início da industrialização, crianças também trabalhavam nas fábricas. Os operários tinham de cumprir muitas horas de trabalho e recebiam salários baixos.
Eles tiveram de adaptar-se à passagem de uma vida no campo para uma vida urbana.
Se no campo o trabalho era realizado a céu aberto, nas fábricas ele ocorria em um local fechado, o que permitia controlar as atividades dos trabalhadores. No campo eles produziam o próprio alimento, enquanto nas cidades dependiam de seu trabalho para ter dinheiro e poder comprar comida.
Aos poucos foram criadas formas de organização do trabalho fabril. Vamos conhecer algumas delas: o taylorismo, o fordismo, o just-in-time e as ilhas de produção.

O taylorismo e o fordismo

A organização do trabalho fabril também passou por importantes transformações. No início do século XX, o engenheiro industrial estadunidense Frederick Winslow Taylor (1856-1915) desenvolveu um sistema que ficou conhecido como taylorismo, que dividiu as tarefas no interior da fábrica para aumentar a eficiência.
O taylorismo procurou fazer uma análise científica do trabalho na fábrica retirando o improviso da produção de modo a controlar todas as etapas do processo produtivo.
Henry Ford (1863-1947), outro engenheiro industrial dos Estados Unidos, mudou a organização do trabalho em sua fábrica de carros. Em vez de os trabalhadores se deslocarem pela fábrica para realizar suas tarefas, eles ocupavam uma posição fixa na linha de montagem e trabalhavam sem sair do lugar. As peças passavam em uma esteira rolante e cada trabalhador realizava sua tarefa repetidas vezes: um só encaixava o motor, outro apenas parafusava o motor na carroceria, outro encaixava os bancos, e assim por diante. Essa forma de produzir, que foi chamada de fordismo, diminuiu o tempo de montagem dos automóveis e aumentou a quantidade de produção.
Ford também via o trabalhador de sua fábrica como um consumidor dos produtos que ajudava a produzir na fábrica. Desse modo, garantia-se o mercado consumidor para os produtos.
Com o fordismo, o trabalho se tornou repetitivo e monótono e os operários perderam o controle sobre o processo de produção, o ritmo e os resultados da sua atividade. 

O just-in-time

Na década de 1980, uma forma de administração da produção denominada just-in-time (“bem a tempo”) tornou-se muito popular. Seu criador foi Taiichi Ohno (1912-1990), engenheiro japonês que implantou o sistema em uma fábrica de automóveis em meados da década de 1960.
Com o sistema just-in-time, a fábrica produz apenas o necessário, quando é preciso, o que evita desperdícios. É um método que trabalha praticamente sob encomenda, sem manter grandes estoques, a partir do pedido do cliente. Essa prática é diferente do fordismo, em que primeiro se produzia – e muito – para depois tentar vender o produto.
Além disso, o sistema just-in-time possibilita que os produtos sejam fabricados atendendo às exigências do consumidor. No caso de um ônibus, por exemplo, o cliente pode escolher o tamanho do veículo, os equipamentos opcionais, como ar-condicionado, rádio e acesso à internet, e até a potência do motor. É como se cada um dos ônibus que saem da fábrica tivesse sido produzido sob medida, ao gosto do comprador.

As ilhas de produção

Com o just-in-time, surgiram as chamadas ilhas de produção, onde o trabalho é desenvolvido em equipe. Cada ilha realiza praticamente todas as etapas da fabricação de um produto. Nesse sistema, o trabalhador deve conhecer suas funções e as dos demais colegas da equipe, isto é, todos devem saber realizar todas as tarefas.
O trabalho feito em uma organização de ilhas facilita a comunicação, a integração e a troca de experiências entre as equipes. As ilhas também evitam que as tarefas se tornem monótonas, pois os trabalhadores desempenham diferentes funções. Além disso, permitem aumentar a produtividade industrial e diminuir o número de mercadorias com defeito de fabricação.

As inovações e os trabalhadores

As inovações tecnológicas não param de se expandir no setor industrial, pois a maioria das grandes empresas cria programas para ampliar a capacidade de produção. Desse modo, surgem novas profissões técnicas e de nível superior, enquanto outras desaparecem.
Uma das inovações mais importantes na produção industrial foi a introdução de robôs nas linhas de montagem. Inicialmente, eles foram utilizados apenas para operar em locais que colocavam a vida dos trabalhadores em risco, como ambientes radioativos ou de temperaturas muito elevadas. Aos poucos, porém, acabaram sendo utilizados para desenvolver funções rotineiras nas linhas de montagem. Essa inovação contribuiu para perda de emprego de muitos trabalhadores, que foram substituídos pelos robôs.
A modernização das indústrias gera desemprego, pois consegue aumentar a produção sem ampliar o número de empregados. Atividades que antes exigiam quatro trabalhadores passaram a exigir apenas uma máquina e um operário.
O desemprego causado pelas novas tecnologias – como a robótica e a informática – recebe o nome de desemprego estrutural. Veja o caso dos bancos: antes era preciso ir a uma agência para fazer qualquer tipo de movimentação – sacar dinheiro, pegar talão de cheques. Hoje em dia, um caixa eletrônico possibilita fazer essas atividades sem a presença de um trabalhador.
O mesmo ocorreu na atividade industrial. As etapas de pintura, por exemplo, eram realizadas por trabalhadores. Atualmente, uma placa é imersa na tinta por um robô, sem precisar de contato com trabalhadores. Tanto os países ricos quanto os pobres são afetados pelo desemprego estrutural, um dos mais graves problemas de nossos dias.
Essas mudanças ocorridas na indústria e nos processos de produção alteraram a luta dos sindicatos de trabalhadores em todo o mundo. Antes, buscava-se, principalmente, o aumento dos salários. Atualmente, a grande reivindicação dos trabalhadores passou a ser emprego. Os sindicatos propõem, entre outras medidas, a redução da jornada de trabalho sem a diminuição do salário e a criação de mais empregos.

O surgimento das cidades brasileiras

As cidades brasileiras surgiram de diversas maneiras. Algumas, como Ouro Preto (MG) e a Cidade de Goiás, conhecida como Goiás Velho (GO), surgiram do desenvolvimento de atividades econômicas como a extração de ouro. Elas funcionavam como pontos de abastecimento e apoio para comerciantes e exploradores de pedras preciosas e ouro, que se abasteciam antes de se dirigirem às minas.

Outras, como Salvador (BA) e Recife (PE), cresceram a partir da construção de fortes para proteção contra inimigos. Veja a foto ao lado. Não por acaso estas cidades estão junto ao litoral, que era por onde poderiam surgir inimigos na época.

Algumas cidades do Brasil foram planejadas, isto é, foram desenhadas antes de serem criadas, como ocorreu em Brasília (DF), Belo Horizonte (MG), Curitiba (PR) e Goiânia (GO), entre outras. As cidades planejadas cresceram mais que o previsto e hoje apresentam dificuldades semelhantes às das demais, como no deslocamento interno.

As inúmeras situações de ocupação ilegal de terrenos ou mesmo a presença de atividades comerciais em áreas  residenciais confirmam que as normas de controle de ocupação urbana não foram seguidas.

Organização da produção agrícola

No espaço rural ocorre a produção não só de alimentos, mas também de outros itens necessários à vida em sociedade, como matérias-primas (para tecidos e papel, por exemplo) e fontes de energia (como a cana-de-açúcar usada na produção de etanol). O preparo da terra para o cultivo modifica o espaço rural, que está organizado, basicamente, em duas formas: a agricultura familiar e a agropecuária industrializada.

A agricultura familiar

A maior parte da produção de alimentos no mundo vem da agricultura familiar, incluindo no Brasil. A produção é destinada, principalmente, ao abastecimento do mercado interno. São pequenos proprietários que podem empregar máquinas e insumos agrícolas e, em algumas etapas do processo produtivo, como o preparo do terreno e a colheita, contratam mão de obra temporária.
Em unidades produtivas no espaço rural classificadas como minifúndios é realizada a agricultura familiar, que é caracterizada pela produção para o consumo da própria família. Quando ocorre uma produção excedente, ela é comercializada.

A agropecuária industrializada

Com o avanço da tecnologia, espigas de milho imunes a ataques de algumas pragas, vacas capazes de multiplicar a produção de leite e porcos com mais carne e menos gordura tornaram-se possíveis.
Esses são alguns produtos da biotecnologia, desenvolvidos por grandes grupos empresariais que investem na produção agropecuária. Nesse sistema, chamado de sistema agropecuário industrializado, passou-se a programar o destino da produção a partir do momento em que as inovações tecnológicas, como sementes e matrizes para criação de animais, saem dos laboratórios.
Tamanho e peso-padrão tornaram-se palavras-chave para os produtores de frangos, ovos e frutas, por exemplo. A produção agropecuária ficou semelhante a uma fábrica. Através do melhoramento genético as frutas passaram a atender a algumas exigências do consumidor, como uva e melancia sem sementes.
O uso de novas tecnologias tem permitido a expansão dessa atividade para áreas que não eram usadas na agricultura. O espaço rural chegou ao deserto, onde a produção agrícola é alcançada com o uso equilibrado da água, emprego de estufas, irrigação subterrânea e modernos filtros.
Nas estufas a temperatura é controlada automaticamente, garantindo um ambiente adequado para a produção de tomates, pepinos e pimentões.
Os filtros são utilizados para reter fertilizantes químicos contidos em excesso na água, que é drenada dos canais de irrigação das lavouras de legumes e verduras.
As máquinas agrícolas são usadas em diversas etapas da produção. Elas podem preparar o solo para o cultivo, semeá-lo e colher a safra, dependendo da espécie cultivada e do terreno. Por isso, esse sistema agrícola também é chamado de agricultura mecanizada.

Impactos da agricultura industrializada

Em muitos lugares do mundo, é forte a presença da agricultura industrializada, o que na prática resulta em mais produção por área cultivada. Mas o custo desse sistema é elevado, devido ao investimento em biotecnologia, máquinas agrícolas e agrotóxicos.
Os agrotóxicos são aplicados para proteger os cultivos de organismos prejudiciais ao desenvolvimento das plantas. Eles funcionam também como um veneno que mata outras espécies que possam concorrer com as plantas. Parte dos produtos químicos utilizados na agricultura moderna penetra nos solos e pode contaminar a água depositada no subsolo.
A agricultura mecanizada também gera impactos sociais e ambientais. No primeiro caso, ocorre o aumento do desemprego no campo, já que as máquinas substituem muitos trabalhadores rurais, além do uso intensivo de agrotóxicos, que causam doenças em trabalhadores e, se usados sem cuidados, nos consumidores dos produtos.
Os problemas ambientais são muitos, como a perda da biodiversidade pelo desmatamento. Também ocorre a compactação do solo, resultado da presença constante de pesadas máquinas. A erosão também está associada ao uso intensivo do solo, em especial em áreas sujeitas a fortes chuvas, como ocorre em grande parte do Brasil. O transporte de solo pela água, além de retirar seus nutrientes, dificulta o uso de máquinas agrícolas.

Agricultura orgânica, urbana e agroflorestal 

No Brasil existe um movimento que cresce nos últimos anos envolvendo a produção agrícola. Trata-se dos agricultores orgânicos, que buscam se opor ao uso de agrotóxicos e à compra de sementes de empresas multinacionais. Eles usam sementes crioulas, que são resultado da seleção de anos de práticas agrícolas de pequenos agricultores. 
Parte desses agricultores cultiva as sementes ou as compra de outros agricultores que as reproduzem sem uso de intermediários ou de insumos químicos. Em geral, eles estão organizados em movimentos sociais, como o Movimento dos Pequenos Agricultores, que busca reunir agricultores empenhados em manter as práticas tradicionais no campo de modo a resgatar a identidade cultural de seus integrantes. 
Já a agricultura urbana também pode ser entendida como um movimento alternativo de produção agrícola. Ela consiste em cultivar em áreas propícias à agricultura em cidades, como terrenos sem uso, e áreas livres em habitações e condomínios, por meio de hortas comunitárias. O objetivo é oferecer comida saudável à população local. Ela diminui os custos de transporte dos alimentos, que são cultivados em pequena escala sem uso de agrotóxicos e com sementes crioulas.
O sistema agroflorestal (SAF) ou agrofloresta é formado pela introdução de espécies para fins agrícolas em áreas naturais ou em áreas degradadas. Neste último caso, o replantio de árvores é feito associado à plantação de café e banana, por exemplo. Os sistemas agroflorestais diminuem a perda de solo por erosão, evitam a compactação do solo (que costuma ocorrer pelo trânsito de máquinas pesadas) e ainda mantêm a biodiversidade, já que, diferente da monocultura, produzem várias plantas ao mesmo tempo. Outra vantagem é a possibilidade de controle de pragas de modo natural. Um inseto ou lagarta que surge na plantação pode ser fonte de alimento de pássaros, atraídos pela cobertura vegetal. Por fim, a maior presença de árvores garante maior acúmulo de água das chuvas (que penetra mais lentamente no solo) e temperaturas mais amenas. 

Produção de energia no Brasil

Movimentar máquinas, cargas e pessoas por longas distâncias demanda muita energia. No Brasil, usam-se combustíveis derivados de fontes não r...