Os países que originalmente colocaram em prática esse modelo agressivo de desenvolvimento ficaram conhecidos como Tigres Asiáticos e, ao longo do tempo, conquistaram avanços sociais e políticos importantes. A seguir, conheça alguns aspectos desses países.
Taiwan
Em 1949, com a formação da República Popular da China, o líder do partido Kuo-Min-Tang, Chiang Kai-shek, acompanhado de várias divisões do exército nacionalista, atravessou o estreito de Formosa e fixou-se na ilha de Taiwan, estabelecendo a República da China Nacionalista.
A China considera Taiwan uma província rebelde, não a reconhece como Estado-nação (país) e defende uma “reunificação pacífica”. Internacionalmente, Taiwan luta pelo seu reconhecimento como um Estado-nação soberano, uma vez que foi obrigado a se retirar da ONU em 1971, após a entrada da República Popular da China na organização.
O bom desempenho econômico da ilha, no contexto do crescimento dos Tigres Asiáticos, gerou desenvolvimento socioeconômico. A entrada de Taiwan na Organização Mundial do Comércio, em novembro de 2001, deu-se como território, não como país, mas contribuiu para a maior inserção de Taiwan nos mercados internacionais.
Atualmente, o governo de Taiwan é uma democracia semipresidencialista e a capital, Taipé, se destaca como um importante polo industrial e comercial no leste da Ásia. Cerca de 50% do total mundial dos microchips e nanochips são produzidos nesse país, caracterizando uma importante base para a cadeia global de produção de smartphones, computadores, tablets, entre outras mercadorias.
Coreia do Sul
A partir da década de 1970, a Coreia do Sul transformou sua economia e passou a vivenciar um acelerado desenvolvimento econômico, ajudada por investimentos estadunidenses e também pela ampla participação do Estado, que destinou recursos para a educação e o desenvolvimento de tecnologias.
Atualmente uma república democrática presidencialista, a Coreia do Sul é uma grande potência industrial e um país com alto desenvolvimento socioeconômico.
Grandes empresas transnacionais sul-coreanas (chaebols) se destacam na produção de veículos, chapas de aço, equipamentos para telecomunicações, computadores, navios, produtos eletrônicos e petroquímicos. Entre elas, estão a Hyundai, fabricante de veículos, robôs, navios; a Samsung e a LG, que produzem equipamentos eletroeletrônicos e computadores.
Cingapura
Situado entre o estreito de Malaca (oeste) e o estreito de Cingapura (sudeste), que ligam os oceanos Índico e Pacífico, o Estado-nação Cingapura situa-se em uma área geográfica estratégica, no percurso de rotas marítimas que ligam a Europa ao Extremo Oriente, à Indonésia e à Austrália.
Cingapura é caracterizada como uma cidade-Estado, pois o território do país corresponde quase que inteiramente à cidade de Cingapura, sendo um dos mais diminutos do mundo. Atualmente, o país é uma república parlamentarista, mas seu sistema político é extremamente fechado, com apenas um partido político em atuação no país.
O comércio exterior de Cingapura é muito expressivo. Seus produtos de exportação são basicamente derivados de petróleo, borracha natural e maquinaria elétrica. A zona portuária de Cingapura é a segunda maior do mundo em termos de movimentação de cargas, perdendo somente para o porto de Xangai, na China.
Hong Kong
Hong Kong, que permaneceu entre 1842 e 1997 sob a administração colonial do Reino Unido, é atualmente uma Região Administrativa Especial da China.
O alto desenvolvimento socioeconômico atual é resultado de um processo histórico marcado pelo desenvolvimento da economia de mercado, com uma integração forte ao sistema capitalista internacional, notadamente no leste e sudeste da Ásia.
A cidade de Hong Kong é hoje uma das mais densamente povoadas do mundo, caracterizada como uma metrópole moderna e um dos maiores centros financeiros globais, contando com cerca de 140 grandes bancos e sedes de várias empresas transnacionais – responsáveis por cerca de 80% de toda a renda gerada no território. O porto de Hong Kong, assim como seu aeroporto, figuram entre os maiores e mais importantes do planeta em termos de fluxos de mercadorias e passageiros, respectivamente.
Os Novos Tigres
Os Novos Tigres, como vêm sendo chamados Malásia, Tailândia, Indonésia, Filipinas e Vietnã, se industrializaram recentemente, a partir dos anos 1980. No século XXI, vêm apresentando expressivo crescimento econômico.
Em muitos aspectos, esses países trilharam o caminho de desenvolvimento dos Tigres Asiáticos originais, promovendo grandes incentivos às exportações e atraindo investimentos estrangeiros e indústrias aos seus territórios. Isso foi feito por meio do oferecimento de vantagens comparativas, como mão de obra extremamente barata, isenção de impostos, concessão de terrenos, investimento em infraestrutura (energia, meios de transporte, portos, comunicações) e localização estratégica.
Nesse sentido, destacam-se muitas empresas transacionais que deslocaram suas unidades produtivas dos Tigres Asiáticos – que qualificaram seus trabalhadores e já não apresentam a vantagem de mão de obra barata – para os países que compõem os Novos Tigres, passando a produzir nesses países produtos como televisores, rádios, brinquedos, aparelhos de som, smartphones, computadores e artigos têxteis a um custo menor de produção.
No Vietnã, por exemplo, nas últimas décadas, foram instaladas empresas transnacionais dos mais diversos ramos (alimentício, informática, eletroeletrônicos, automobilístico, etc.), além de cerca de cinquenta bancos estrangeiros.
Outro aspecto interessante nesse processo de transformação dos Novos Tigres é o grande volume de investimentos provenientes dos quatro Tigres Asiáticos originais e também do Japão.
Condições socioeconômicas
Atualmente, levando em consideração o desenvolvimento socioeconômico, existem contrastes significativos entre os Tigres Asiáticos e os Novos Tigres.
Os Tigres Asiáticos originais se aproveitaram do crescimento econômico e promoveram importantes avanços na área social, elevando seus valores de Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Todos eles (com exceção de Taiwan, que não é considerado pelo Pnud na elaboração do IDH) apresentam desenvolvimento humano considerado muito alto e, consequentemente, indicadores sociais de países desenvolvidos.
Além de oferecerem uma boa qualidade de vida às suas populações, os Tigres Asiáticos dinamizaram suas economias – hoje bastante diversificadas – e se tornaram potências industriais, exportando bens industrializados de alta tecnologia e valor agregado para os mercados internacionais. Altamente urbanizados, esses países também se beneficiam de suas modernas metrópoles, que são polos financeiros globais; e, no caso da Coreia do Sul, da atuação de grandes grupos empresariais que competem com empresas transnacionais da
Europa e dos Estados Unidos nos mais diversos setores.
Os Novos Tigres, por outro lado, ainda são economias que se aproveitam da mão de obra barata e de vantagens comparativas para aumentar sua produção industrial, mas, de modo geral, ainda são muito dependentes de investimentos e tecnologias estrangeiras, sobretudo do Japão, da China e dos
Tigres Asiáticos.
Além disso, esses países apresentam indicadores sociais bem inferiores aos do Japão e dos quatro Tigres Asiáticos originais, menores taxas de urbanização e uma elevada porcentagem de mão de obra empregada em atividades primárias, como a agricultura e o extrativismo.
Crise e retomada do crescimento
O espetacular crescimento das economias dos Tigres Asiáticos – que se manteve por cerca de 30 anos (desde meados da década de 1960 a 1997) – resultou na conquista de mercados mundiais e no expressivo aumento do PIB, aproximadamente 700% no período em questão. No entanto, essa realidade não permaneceu sem variações.
Após apresentarem uma relativa desaceleração no crescimento econômico no início dos anos 1990, os Tigres e os Novos Tigres acabaram mergulhando em uma profunda crise econômica na segunda metade da década de 1990.
A ocorrência da crise se explica por uma série de fatores, entre eles, o crescimento do endividamento de curto prazo dos países e das empresas; o aumento crescente e irreal do preço dos imóveis; e a desaceleração da economia global em 1996, que provocou uma queda nas exportações e reduziu bastante a produção industrial.
No entanto, já no fim do século XX, os Tigres e os Novos Tigres, em média, retomaram um ritmo acelerado de crescimento. A crise provocada pela pandemia da covid-19, em 2020, voltou a interromper esse crescimento, o qual tem sido gradualmente retomado desde então. Nesse cenário, os Novos Tigres têm se destacado, com países como Filipinas, Indonésia e Vietnã apresentando um ritmo de crescimento econômico entre os mais rápidos do mundo, inclusive superiores aos dos Tigres Asiáticos originais.