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Introdução ao Estudo da História

 

   A História é uma disciplina que estuda o passado das sociedades humanas, buscando resgatar e compreender suas realizações econômicas, sociais, políticas e culturais. O estudo do passado humano permite-nos conhecer as motivações e os efeitos das transformações pelas quais passou a humanidade e fornece elementos que ajudam a explicar as sociedades atuais.

A História não se limita somente ao estudo do passado. Através do estudo da História, podemos desenvolver teorias sobre atualidade, podemos contextualizar o passado com o presente fazendo ligações entre os acontecimentos.

A palavra história nasceu na Grécia Antiga e significava “investigação”. Foi o grego Heródoto, considerado o “pai da História” que, pela primeira vez, empregou esta palavra com o sentido de investigação do passado.

A matéria-prima da História são os fatos históricos, acontecimentos que possuem repercussão social, para os quais se busca uma explicação de suas causas e efeitos. A morte do presidente do Brasil, Getúlio Vargas, em 1954, é um exemplo de fato histórico. Já o fato social é um acontecimento corriqueiro na vida de uma sociedade, que possui pequeno impacto imediato, como a morte de pessoas ou a crise financeira pessoal de alguém da comunidade. 

                               Sentidos da palavra história

   Exploremos um pouco os sentidos da palavra história, uma vez que ela é polissêmica, isto é, possui diversos significados. Vejamos alguns:

 · Ficção – os livros de aventura, as novelas de televisão ou os filmes de cinema contam histórias muitas vezes inventadas para despertar nossa atenção sobre determinado assunto, fazer-nos refletir ou simplesmente para nosso entretenimento. Essas histórias criadas pela imaginação humana, com seus lugares e personagens, são chamadas também de ficção. Muitas vezes, as obras de ficção são inspiradas no conhecimento de épocas passadas, como acontece em filmes e romances históricos ou em novelas de época.

· Processo vivido – as lutas e os sonhos, as alegrias e as tristezas de uma pessoa ou de um grupo social fazem parte de sua história, de suas vivências. Assim, o conjunto dos acontecimentos e das experiências que ocorreram no dia a dia, tanto de uma pessoa quanto de um grupo, pode ser chamado de história vivida. Essa história integra a memória (recordações) das pessoas que a viveram.

· Área de conhecimento – a produção de um conhecimento que procura entender como os seres humanos viveram e se organizaram desde o passado mais remoto até os dias atuais constitui uma área de investigação ou disciplina denominada História. Nesse sentido, História constitui um saber preocupado em desvendar e compreender as condições históricas (historicidade) das vivências humanas, ou seja, em tratar essas vivências como expressão da época em que elas ocorreram. 

Esses três sentidos da palavra história estão relacionados. As histórias vividas pelas pessoas e a ficção não estão excluídas da História como área de conhecimento. As pessoas interessadas em pesquisar ou escrever sobre História ou, ainda, em ensiná-la escolhem assuntos que podem incluir tanto a ficção quanto as histórias de uma vida. 

História e historiadores

As vivências humanas expressam o contexto histórico de cada época. O estudo do passado e a compreensão do presente não se relacionam de forma determinista. As soluções de ontem não servem aos problemas de hoje. Sem um processo que considere mudanças e permanências históricas, as experiências do passado não se aplicam ao presente. Como entender, então, as relações entre passado e presente?

                A compreensão das relações entre passado e presente é uma questão intrigante. É também uma das preocupações centrais da História, disciplina que se dedica ao estudo das vivências humanas em épocas e lugares distintos. Em nossa opinião, a escrita da história não pode ser isolada de sua época. O historiador vive o seu tempo, por isso, a história que ele escreve está ligada à história que ele vive. As conclusões dos historiadores nunca são definitivas. O historiador trabalha para seu tempo, e não para a eternidade. Assim, a historiografia não deve ter a pretensão de fixar verdades absolutas, prontas e acabadas, interpretações eternas, pois a história, como forma de conhecimento, é uma atividade contínua de pesquisa.

                O historiador investiga e interpreta as ações humanas que, ao longo do tempo, provocaram mudanças e continuidades em vários aspectos da vida pública ou privada: na economia, nas artes, na política, no pensamento, nas formas de ver e sentir o mundo, no cotidiano, na percepção das diferenças. O trabalho do historiador consiste em perceber e compreender esse processo histórico.

 

O estudo da História tem várias utilidades.  As principais são:

 ·Satisfazer a curiosidade natural de saber como era o passado e como a humanidade se transformou ao longo do tempo.

·Ajudar a compreender o mundo em que vivemos e ao mesmo tempo dar consciências aos homens do seu poder de transformar a realidade.

·Outra utilidade da História é ajudar-nos a viver melhor, aprendendo com os erros e acertos de nossos antepassados. 

Para se estudar História, devemos desenvolver o senso crítico, a capacidade de interpretação e de observação. Não podemos estudar História transmitindo nossos valores atuais para as sociedades do passado. Como a História tem como base a cultura, não podemos transmitir os nossos valores culturais aos povos que estivermos estudando. Cada povo em cada tempo e em cada espaço possuía e possui uma maneira própria de entender o mundo e de se perceber dentro deste.  

Fontes históricas

Na recuperação do fato, a história recorre às chamadas fontes históricas, constituídas de vestígios de toda espécie. As fontes podem ser de várias naturezas: escritas, orais, iconográficas, arqueológicas.

As fontes escritas são registros em forma de inscrições, cartas, letra de canções, livros, jornais, revistas e documentos públicos, entre outros. As fontes não-escritas são registro da atividade humana que utilizam linguagens diferentes da escrita, tais como pinturas, esculturas, vestimentas, armas, músicas, discos fonográficos, filmes, fotografias, utensílios.

Outro exemplo de fonte histórica não-escrita é o depoimento de pessoas sobre aspectos da vida social e individual. Esses depoimentos, que podem ser colhidos a partir de entrevistas gravadas pelo próprio historiador, servem para registrar a memória (pessoal e coletiva) e ampliar a compreensão de um passado recente ou da história que se está construindo no presente. É o que se chama de história oral. 

O que é cultura

    É toda e qualquer produção humana, ou seja, tudo que é produzido pelos seres humanos é considerado uma produção cultural. Como o mundo é formado por vários povos diferentes, as produções culturais são diferentes de um povo para outro, o que explica as multiplicidades religiosas, lingüísticas, políticas, de organizações sociais e valores, que são considerados cultura imaterial. No caso da cultura material associam-se os objetos, vestimentas, moradias, obras artísticas, utensílios domésticos, etc..  A escrita é considerada a materialização do vocabulário de um povo. Um povo que não possui um vocabulário escrito não pode ser considerado atrasado em relação a outro povo que possua um vocabulário escrito. Na verdade isso só representa uma variação cultural, algo comum entre os povos.   

Periodização histórica

Para organizar a compreensão dos históricos, os pesquisadores elaboram periodizações visando ordenar os acontecimentos e temas analisados. Concebidas pelos historiadores, as periodizações históricas estão de acordo com o ponto de vista de quem as elaborou. Vejamos uma periodização muito utilizada e tradicional, que divide a história em grandes períodos:

·Pré-história – do surgimento do ser humano até o aparecimento da escrita (4000 a. C.);

·Idade Antiga ou Antiguidade – do aparecimento da escrita até a queda do Império Romano do Ocidente (476 d. C.);

·Idade Média – da queda do Império Romano do Ocidente até a tomada de Constantinopla pelos turcos (1453);

·Idade Moderna – da tomada de Constantinopla até a Revolução Francesa (tomada da Bastilha, 1789);

·Idade Contemporânea – da Revolução Francesa até os dias atuais. 

Essa divisão feita por historiadores europeus que, no século XIX, davam maior importância às fontes escritas e aos fatos políticos. Por isso, todo o período anterior à invenção da escrita foi chamado de Pré-história. E, por serem europeus, esses historiadores estabeleceram como marcos divisórios das “idades” da história acontecimentos ocorridos na Europa.

A divisão tradicional da história (Idade Antiga, Idade Média, Idade Moderna e Idade Contemporânea) é muito criticada por vários motivos, entre eles o fato de ter sido elaborada com base no estudo de apenas algumas regiões da Europa, do Oriente Médio e do norte da África. Portanto, não pode ser generalizadas a todas as sociedades do mundo. Além disso, ela adota certos fatos como marcos dos períodos, dando a errônea impressão de que as mudanças históricas – que em geral, fazem parte de um processo longo e gradativo – ocorrem repentinamente.

Pré-história 

A pré-história é o longo período do passado que abrange desde o surgimento do “homem primitivo” (hominídeo) até a invenção da escrita. O termo tem sido criticado, pois o ser humano, desde seu aparecimento no planeta, é um ser histórico, mesmo que não tenha utilizado a escrita em algum período. Como o uso do termo Pré-história é consagrado mundialmente, podemos empregá-lo, mas cientes de que esse período também faz parte da história.

Os Paradigmas da História
 Positivismo, Marxismo e Nova História 

O ensino como um todo está passando por um período de transição, com muitos problemas e debates, sobre a importância do ensino, e o que realmente deve ser ensinado nas escolas para que realmente a educação cumpra o seu papel de formadora de cidadãos conscientes de sua importância na sociedade e mundo em que estão inseridos. Dessa forma o ensino de História não foge à essas discussões acerca das problemáticas da educação, principalmente no que tange ao ensino em sala de aula.

As maiores problemáticas em relação ao ensino de História se referem as questões teórico-metodológicas e político-pedagógicas. Cabe então analisarmos mais profundamente as três correntes da historiografia atual que servem como embasamento teórico para os professores de História: o Positivismo, o Marxismo e a Nova História.  

Positivismo

Corrente teórica tradicional que surgiu no séc. XIX, como reação ao Idealismo de Kant e Hegel, fundado por Augusto Comte. O momento histórico em que essa concepção historiográfica foi criada insere-se em uma fase onde a burguesia tornava-se a classe econômica hegemônica, e o positivismo representou a justificação e legitimação da visão burguesa, servindo mais tarde como uma ideologia dessa classe, garantindo a manutenção dessa nova ordem.

O positivismo segundo Comte apresenta a lei dos três estágios que consiste estabelecer três estágios de evolução do espírito humano: o estado teológico, o estado metafísico e o estado positivo. Essa concepção tem uma característica utilitarista, que propõe conhecer o passado, entender o presente e projetar o futuro, que dessa forma busca a previsão e o conhecimento prévio dos fatos, onde o futuro pode ser manipulado.

O estudo da História segundo a concepção positivista, se restringe ao estudo  dos fatos, que podem ser observados, verificáveis e experimentáveis, tirando da história toda a sua subjetividade. O historiador é uma pessoa neutra e objetiva, que não interfere de forma alguma nos acontecimentos e na História. A fonte de estudo privilegiada nessa concepção são as escritas, principalmente os documentos oficiais.

A pesquisa nos documentos oficiais é realizada apenas no âmbito da descrição já que eles não podem ser discutidos e analisados. Com isso a História é contada a partir de uma estrutura política, privilegiando os governos e os governantes. A sociedade assim como a natureza é regida por leis naturais e invariáveis, independentes da vontade e da ação humana, e que caminha para um estágio final de progresso, sem que haja retrocessos e atrasos durante a evolução dessa sociedade.

Com a utilização dessa concepção por parte dos professores de História em sala de aula, os alunos não são estimulados a pensar, e buscar o conhecimento através de uma construção do mesmo. 

Marxismo

Para analisarmos a corrente marxista, devemos remontar as origens históricas dessa tendência. No final do séc. XVIII, a burguesia libertou as forças produtivas do domínio do feudalismo. A burguesia se apropriou dos meios de produção e dos capitais gerados a partir da exploração de uma nova classe social - o proletariado. A luta de classes levou o proletariado a buscar a explicação, e consequentemente a tomada de consciência, do processo de exploração a que está submetido. Nesse sentido, contrariamente ao positivismo, o marxismo procura explicar a História do ponto de vista dos trabalhadores.

Nessa concepção os fatos não podem ser medidos e experimentados, a abstração só pode se dar na imaginação. Os fatos, os indivíduos são reais, e sua ação, suas condições materiais de vida alteram a História. O historiador trabalha na investigação do processo histórico concreto, e intervém de modo prático sobre eles. A partir disso os acontecimentos não são acabados e a História não é dada, mas sim construída socialmente pelos indivíduos que nela se inserem.

A estrutura econômica é privilegiada nessa tendência, com a produção material determinando as demais esferas da vida social. Há um aspecto comum com o positivismo, já que da mesma forma a História caminha para um fim inevitável, só que nesse caso não a um estágio positivo, mas a uma sociedade socialista/comunista, com a evolução dos modos de produção.  

Nova História

Na primeira metade do século XX, os historiadores franceses ligados à famosa Escola dos Anais promoveram mudanças significativas na maneira de pensar e escrever a História, as quais continuam ainda hoje em evidência, causando polêmicas. Marc Bloch, Lucien Febvre e Fernando Braudel são considerados os maiores responsáveis por essas mudanças, embora muitos outros tenham contribuído para que a História firmasse novas formas de interpretação, preocupadas com as estruturas, as manifestações culturais e a relação com os outros ramos do saber, tais como a sociologia, a economia, a antropologia a demografia.

A Nova História, tributária da Escola dos Anais, ocupou, por sua vez, um espaço importante nas universidades e conseguiu também penetração expressiva no mercado editorial, sobretudo na França. Historiadores como Jacques Le Goff, Georges Duby, Marc Ferro e tantos outros tornaram-se conhecidos da mídia. A Nova História, com sua linguagem próxima da literatura, sem o peso formal da linguagem acadêmica conquistou um público amplo, constituído não apenas por historiadores.

A Nova História costumou a ser dividida em 3 fases ou geração de estudiosos: a primeira geração privilegiou a História econômica e social, a totalidade era obtida na História econômica. A segunda geração privilegiou a História econômica e preteriu a História social, já que esse período de pós-guerra (1945) promoveu uma intensa industrialização, o que provocou uma atenção maior dos estudiosos. Os anos 70 foram marcados para uns com a continuidade do movimento a partir da terceira geração, e para outros como o rompimento definitivo dos postulados da primeira e segunda gerações, e a opção pelo irracionalismo. A partir dos anos 70 novos objetos de estudo foram anexados à essa nova historiografia, temas que não eram contemplados pela historiografia tradicional: cotidiano das pessoas comuns, e não das grandes figuras;  História das mentalidades, a partir de temas como: família, educação, sexo, festa, morte, alimentação, mulheres, homossexuais.

Em substituição a História narrativa, entra em cena a História-problema, que procura explicar os problemas  e as grandes interrogações da nossa época. O campo das pesquisas foi ampliado, livrando-se de preconceitos, quebrando fronteiras. Atualmente costuma-se dizer que tudo é História, e não apenas os feitos dos heróis, as grandes batalhas, as tramas das elites. Defende-se hoje que a história é uma tarefa coletiva, construída no cotidiano, e que, portanto, o ofício do historiador é dar conta da diversidade que resulta do pensar, sentir e agir de todos os homens.


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