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SIMBOLISMO EM PORTUGAL E NO BRASIL

 

O Simbolismo, assim como o Realismo-Naturalismo e o Parnasianismo, é um movimento literário do final do século XIX.
No Simbolismo, ao contrário do Realismo, não há uma preocupação com a representação fiel da realidade, a arte preocupa-se com a sugestão.
O Simbolismo é justamente isso, sugestão e intuição. É também a reação ao Realismo/Naturalismo/Parnasianismo, é o resgate da subjetividade, dos valores espirituais e afetivos. Percebe-se no Simbolismo uma aproximação com os ideais românticos, entretanto, com uma profundidade maior, os simbolistas preocupavam-se em retratar em seus textos o inconsciente, o irracional, com sensações e atitudes que a lógica não conseguia explicar. Veja as comparações:
Parnasianismo
1. Preocupação formal que se revela na busca da palavra exata, caindo muitas vezes no preciosismo; o parnasiano, confiante no poder da linguagem, procura descrever objetivamente a realidade.
2. Comparação da poesia com as artes plásticas, sobretudo com a escultura.
3. Atividade poética encarada como habilidade no manejo do verso.
4. Frequentes alusões a elementos da mitologia grega e latina.
5. Preferência por temas descritivos — cenas históricas, paisagens, objetos, estátuas etc.
6. Enfoque sensual da mulher, com ênfase na descrição de suas características físicas.
Simbolismo
1. Preocupação formal que se revela na busca de palavras de grande valor conotativo e ricas em sugestões sensoriais; o simbolista não pretende descrever a realidade, mas sugeri-la.
2. Comparação da poesia com a música.
3. A poesia é encarada como forma de evocação de sentimentos e emoções.
4. Frequentes alusões a elementos evocadores de rituais religiosos (incenso, altares, cânticos, arcanjos, salmos etc.), impregnando a poesia de misticismo e espiritualidade.
5. Preferência por temas subjetivos, que tratem da Morte, do Destino, de Deus etc.
6. Enfoque espiritualista da mulher, envolvendo-a num clima de sonho onde predomina o vago, o impreciso e o etéreo.

O leitor não deveria tentar entender os textos, mas se deixar levar pelas sensações.

Em Portugal, esse movimento literário tem início, em 1890, com a

publicação do poema Oaristos, de Eugênio de Castro. (Oaristo é um termo grego que significa “diálogo íntimo” ou “diálogo amoroso”).

Entre as principais características parnasianas estão:

*

Espiritualismo e Misticismo

*

Sugestão

*

Imprecisão

*

Sinestesias

*

Musicalidade

 

Maiúsculas alegorizantes

Espiritualismo e Misticismo = Para os simbolistas a arte era uma forma de religião. Os textos simbolistas apresentam muitas vezes uma visão cristã. Era comum a distinção entre corpo e alma e o desejo de purificação, de sublimação: anulação da matéria para a libertação da alma. Era também comum a utilização de vocábulos ligados ao místico e ao religioso, como missal, breviário, hinos, salmos, entre outros.

Sugestão = Para a arte simbolista mais importante que nomear as coisas era sugeri-las. Segundo os simbolistas os leitores é que deveriam adivinhar o enigma de cada poema.

Imprecisão = Atrelada à característica anterior, a realidade deveria ser expressa de maneira vaga e imprecisa. O Simbolismo buscava a essência do ser humano, os estados da alma, o inconsciente.

Sinestesias = Na poesia simbolista era comum a presença de sinestesias. A sinestesia é uma figura de linguagem que consiste na fusão de várias sensações, sem que necessariamente haja lógica:

“Nasce a manhã, a luz tem cheiro ... Ei-la que assoma Pelo ar sutil ... Tem cheiro a luz, a manhã nasce ...

Oh sonora audição colorida do aroma!”

                                                              Alphonsus de Guimaraens

Musicalidade = A poesia deveria se aproximar da música. Para conseguirem essa aproximação os simbolistas usaram em grande escala as figuras de linguagem associadas à sonoridade, como as rimas, o eco, a aliteração, entre outras. Daí a expressão simbolista: “A música antes de qualquer coisa”.

 Veja um exemplo de aliteração. Lembre-se de que a aliteração é a repetição de sons consonantais:

“E as cantinelas de serenos sons amenos fogem fluidas fluindo à fina flor dos fenos”.

                                                                      Eugênio de Castro

Maiúsculas alegorizantes = Correspondem à utilização de letras maiúsculas no meio do texto sem que haja alguma razão gramatical para o seu uso. Elas são usadas para enfatizar as palavras:

“Indefiníveis músicas supremas, 

Harmonias da Cor e do Perfume ...

Horas do Ocaso, trêmulas, extremas,

Réquiem do Sol que a Dor da Luz resume ...”

 

Cruz e Souza

Procure identificar as características simbolistas no próximo texto:

Arte Poética

Paul Verlaine (tradução de Augusto de Campos)

Antes de tudo, a Música. Preza
Portanto, o Ímpar. Só cabe usar
O que é mais vago e solúvel no ar,
Sem nada em si que pousa ou que pesa.

Pesar palavras será preciso,
Mas com algum desdém pela pinça:
Nada melhor do que a canção cinza
Onde o Indeciso se une ao Preciso.
(...)
Pois a Nuance é que leva a palma,
Nada de Cor; somente a nuance!
Nuance, só, que nos afiance
O sonho ao sonho e a flauta na alma!
(...)
Que teu verso seja a aventura
Esparsa ao árdego ar da manhã
Que enchem de aroma o timo e a hortelã...
E todo o resto é literatura.

Nesse poema encontramos várias características simbolistas, entre elas a musicalidade, a presença do sonho e a imprecisão na forma de expressar a realidade.

 SIMBOLISMO EM PORTUGAL – AUTORES

 

Veja os três maiores representantes do Simbolismo português:

-Eugênio de Castro

-Antônio Nobre

-Camilo Pessanha

A importância de Eugênio de Castro para o Simbolismo português deve-se mais ao fato de ter sido ele o autor do marco inicial do movimento. Antônio Nobre publicou um único livro, com um nome bem sugestivo . é um livro marcado pelo saudosismo e sentimentalismo, além de apresentar uma rica musicalidade.

Mas Camilo Pessanha é o grande representante do Simbolismo português:


    Camilo Pessanha morou muito tempo em Macau, colônia portuguesa na China. Contam os historiadores que ele era viciado em ópio e que retornou a Portugal para tratar da saúde debilitada. Ele foi um dos poetas que mais influenciou o Modernismo português.
   Seus textos apresentavam uma linguagem moderna e precisa, com temas ligados à fugacidade da vida. Eram comuns imagens de naufrágios, rios e água. A frequente recorrência à brevidade da vida, deixou em seus textos um forte pessimismo.

Veja um fragmento de um de seus textos:

“Passou o Outono já, já torna o frio ...
_ Outono de seu riso magoado.
Álgido Inverno! Oblíquo o sol, gelado ...
_ O sol, e as águas límpidas do rio.

Águas claras do rio! Águas do rio,
Fugindo sob o meu olhar cansado,
Para onde me levais meu vão cuidado?
Aonde vais, meu coração vazio?(...)”

 SIMBOLISMO NO BRASIL – AUTORES

    No Brasil, o Simbolismo tem início em 1893, com a publicação de Missal (textos em prosa) e Broquéis (poesias), de Cruz e Souza. Didaticamente, permaneceu no cenário literário até 1902 quando ocorre a publicação do livro Os Sertões, de Euclides da Cunha, considerado o texto introdutor do Pré-Modernismo.

   Missal é o nome de um livro que contém orações utilizadas nas missas e broquéis vem de broquel, tipo de um escudo espartano, numa clara aproximação com o parnasianismo e seu gosto por objetos antigos.

O Simbolismo surgiu como reação à objetividade e descritivismo parnasianos. Entre nós, no entanto, foi abafado pela produção parnasiana que correspondia mais intensamente aos anseios da burguesia em ascensão.

À confiança ilimitada na ciência, sucederam um descrédito e um desânimo sem formas definidas; ao racionalismo e ao materialismo, a valorização da intuição e as manifestações espirituais e metafísicas.

    O Simbolismo no Brasil não teve muita aceitação por parte do público leitor. A maior parte dos leitores preferia os textos parnasianos. Os parnasianos tinham a imprensa como aliada, pois seus poemas vendiam muito mais. É por isso que se costuma dizer que o Brasil não teve um momento tipicamente simbolista, ele ficou meio à margem da literatura oficial da época.

Veja os maiores representantes do Simbolismo brasileiro:

*  Cruz e Sousa

*  Alphonsus de Guimaraens

 Cruz e Sousa é considerado não só o maior poeta do Simbolismo brasileiro, mas também um dos maiores representantes do Simbolismo mundial:

    Cruz e Sousa era chamado de “O cisne negro” ou “Dante negro”. Por ser negro foi vítima de muitos preconceitos.
    Partindo de seus sofrimentos enquanto homem negro, alcançou a dor e o sofrimento do ser humano. Suas poesias eram marcadas por um forte misticismo e religiosidade, na busca de um mundo mais espiritualizado. Outra característica interessante de sua obra é a recorrência direta e indireta à cor branca, vista na maioria das vezes como símbolo da pureza. Cruz e Sousa escrevia muito sobre “véus brancos”, “neve”, “luar”, “virginais brancores”, entre outras sugestões.
Veja um fragmento de um de seus textos mais conhecidos:

Violões que choram

Ah! Plangentes violões dormentes, mornos,
Soluços ao luar, choros ao vento...
Tristes perfis, os mais vagos contornos,
Bocas murmurejantes de lamento.
(...)
Sutis palpitações à luz da lua.
Anseio de momentos mais saudosos,
Quando lá choram na deserta rua
As cordas vivas dos violões chorosos.

Quando os sons dos violões vão soluçando.
Quando os sons dos violões nas cordas gemem,
E vão dilacerando e deliciando,
Rasgando as almas que nas sombras tremem.
(...)
Vozes veladas, veludosas vozes,
Volúpias dos violões, vozes veladas,
Vagam nos velhos vórtices velozes
Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas (...)”

Alphonsus de Guimaraens (1870-1921)

Na obra de Afonso Henriques da Costa Guimarães, o tema constante é a morte da mulher amada ao qual os outros — natureza, religião, arte — se relacionam. Influenciado pelo poeta simbolista francês Verlaine, Alphonsus privilegia a camada sonora do signo, trabalhando as aliterações, onomatopeias, repetições. Em versos simples manifesta uma constante preocupação mística atestada, também, em seus poemas dedicados à Virgem Maria em Setenário das dores de Nossa Senhora. “Ismália” é um de seus poemas mais conhecidos:


Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava longe do mar...
E como um anjo pendeu

As asas para voar...
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...
As asas que Deus lhe deu

Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar...

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