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O poder da Igreja na Idade Média

A religião cristã nasceu durante o Império Romano. Por séculos se expandiu, conquistando poder e grande número de adeptos. Em 313 obteve do governo romano o direito ao culto; em 391 foi transformada em religião oficial do império.
Entretanto, o poder da Igreja só se consolidaria com a conversão dos povos germânicos ao catolicismo. Com isso, a Igreja sobreviveria à desagregação do Império Romano do Ocidente, ao mesmo tempo que se transformava na mais poderosa instituição de seu tempo.

            Igreja Católica - instituição basilar da Idade Média

Em uma sociedade fragmentada, a Igreja católica garantia não só a unidade religiosa, mas também a política e cultural. Com o controle da fé, ela ditava a forma de nascer, morrer, festejar, pensar, enfim, de todos os aspectos da vida dos seres humanos no mundo medieval.

No tempo das catedrais

A Igreja católica foi a instituição mais poderosa da Idade Média. Numa época em que a riqueza era medida pela quantidade de terras, a Igreja chegou a ser proprietária de quase dois terços das terras da Europa ocidental. Era a grande senhora feudal, participando das relações de suserania e vassalagem e controlando a servidão dos camponeses.
Todos os bispos dominavam porções significativas de terras. Aliás, ser bispo podia significar o controle de muita riqueza.
Ao contrário da nobreza – que tinha seus bens repartidos por heranças, casamentos, lutas pela posse da terra, etc. –, a Igreja só acumulava riquezas, já que os bens não pertenciam aos religiosos, mas a própria instituição.
Assim, usufruindo do poder que tinha sobre as consciências, a Igreja católica pôde acumular grande riqueza material. À medida que essa riqueza crescia, o alto clero, constituído por aqueles que ocupavam cargos mais elevados na hierarquia interna da Igreja, distanciava-se dos assuntos religiosos.
Controlando o poder espiritual e material, a Igreja foi responsável por manter, em grande parte, a ordem social da Idade Média.

Organização do clero

Os sacerdotes da Igreja dividiam-se em duas grandes categorias:
Clero secular – formado por sacerdotes que viviam fora dos mosteiros, hierarquizados em padres, bispos, arcebispos etc. No ponto mais alto dessa hierarquia estava o papa, que era o bispo de Roma e, segundo a tradição católica, o sucessor de São Pedro – um dos doze apóstolos de Cristo e considerado pela Igreja Católica como o primeiro papa. Nem sempre a autoridade papal foi aceita por todos os membros da Igreja, mas em fins do século VI ela acabou se firmando, em grande parte, devido ao talento político-administrativo do papa Gregório Magno (540-604).
Clero regular – formado por sacerdotes que viviam nos mosteiros e obedeciam às regras de sua ordem religiosa (beneditinos, franciscanos, dominicanos, carmelitas, agostinianos). Afastados do contato direto com o cotidiano das pessoas não consagradas exclusivamente à religião, os monges dedicavam seu tempo à vida religiosa e a realização de atividades agrícolas, pastoris e artesanais, bem como aos trabalhos intelectuais.

A vida nos mosteiros

Nem todos os cristãos eram a favor de a Igreja acumular riquezas e criticavam a vida luxuosa que muitos bispos e padres levavam. Procurando retomar os ensinamentos e a vida pobre de Cristo, muitos religiosos optaram por uma vida mais simples, recusando os bens materiais. Surgiram assim as ordens monásticas.
Dentre as novas ordens, destacaram-se as criadas por São Bento, em 529, por São Francisco de Assis, em 1210, e por São Domingos de Gusmão, em 1217. As ordens compreendiam mosteiros que abrigavam homens ou mulheres.
A ordem dos beneditinos defendia que os monges deveriam levar uma vida simples, rezando, trabalhando, estudando e obedecendo a seus superiores.
Os membros dessa ordem eram eruditos. Foram eles que transcreveram a maior parte das obras literárias gregas e romanas, sendo, em grande parte, responsáveis por sua preservação.
Inspirados no Evangelho, os franciscanos procuravam ajudar os pobres e professavam votos de pobreza, castidade e obediência. O mesmo ocorria com os membros da ordem dominicana.
Desta forma, essas ordens passaram a representar uma oposição às práticas do alto clero medieval.

Abadias: centros de oração, trabalho e produção intelectual

Na Idade Média foram fundadas inúmeras abadias. Algumas tornaram-se muito famosas e existem até hoje, como a de Melk, na Áustria.
Recebe o nome de abadia a residência de monges ou de monjas governados por um abade ou por uma abadessa.
As abadias medievais eram praticamente autossuficientes. Tinham geralmente igrejas, bibliotecas, muitos quartos (celas), oficinas para a produção e conserto de ferramentas e carroças, estrebarias e cocheiras, cozinhas, etc.
Localizavam-se sempre no centro de uma grande propriedade, onde eram cultivados trigo, cevada, centeio, videiras, frutas, etc. eram também criados porcos, galinhas, perus, patos, bois, vacas, cavalo, etc.
Os próprios monges trabalhavam no cultivo e na criação. Alguns, porém, passavam todo o tempo na biblioteca, copiando e estudando as obras dos gregos e romanos. Eram os monges copistas. Eles produziram verdadeiras obras de arte. Nas margens das páginas, desenhavam ilustrações, chamadas iluminuras, utilizando um tipo de letra que hoje, conhecemos como gótica.
Nas abadias, além do trabalho, grande parte do tempo era dedicada à oração e ao canto sacro.
As abadias contavam também com numerosos servos, que executavam os trabalhos mais pesados.

As heresias

Apesar de todo o seu poder, a Igreja católica encontrava resistência por parte de grupos ou pessoas que se opunham a alguns de seus dogmas. O ato de se opor à Igreja era chamado de heresia; quem a praticava era considerado herege e condenado pela Igreja. É importante destacar que na Europa medieval não se questionava a existência de Deus, mas apenas a forma como essa fé deveria ser manifestada.
Um exemplo de heresia era a seita dos valdenses, surgidas no século XII. Eles adotavam a pobreza absoluta, não aceitavam os juramentos e a pena de morte. Defendiam ainda que qualquer pessoa podia rezar a missa.
Para combater seitas e pessoas hereges, a Igreja católica adotou uma série de medidas que culminou com a criação dos Tribunal do Santo Ofício, no século XIII. Esses tribunais mandavam investigar os casos suspeitos, havia julgamentos e castigos, muitas vezes a condenação à morte. Para obter a confissão, os inquisidores faziam uso da tortura física.

Questão das Investiduras

A quem caberia nomear sacerdotes para os cargos eclesiásticos: ao papa ou ao imperador?
Esse problema, conhecido como Questão das Investiduras, remonta a meados do século X, quando o imperador Oto I, do Sacro Império Romano Germânico, passou a intervir nos assuntos da Igreja. Fundou bispados e abadias, nomeou seus titulares e, em troca da proteção que concedia à Igreja, controlava as ações do papa. As investiduras (nomeações) feitas pelo imperador visavam interesses pessoais e do reino, dando margem a corrupção entre os membros do clero. Bispos e padres colocavam seu compromisso com o soberano acima da fidelidade ao papa.
No século XI surgiu um movimento reformista liderado pela Ordem Religiosa de Cluny, que pretendia recuperar o poder da Igreja. Em 1703, os ideais de Cluny ganharam força, com a eleição do papa Gregório VII. Ele adotou uma série de medidas reformistas, entre as quais: a instituição do celibato (1074) e a proibição da investidura de sacerdotes a cargos eclesiásticos pelo Imperador (1075).
Reagindo à atitude do papa, Henrique IV, imperador do Sacro Império, considerou-o deposto. Gregório VII, em resposta, excomungou-o. Desenvolveu-se, então um conflito aberto entre o Imperador e o papa. Esse conflito só foi resolvido em 1122, pela Concordata de Worms, que adotou uma solução de meio termo: caberia ao papa a investidura espiritual dos bispos, e ao imperador, a investidura temporal – antes de assumir a posse da região que lhe foi designada (bispado), o bispo também deveria jurar fidelidade ao Imperador.


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