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GOVERNO ARTHUR BERNARDES (1922 - 1926)

Por meio de eleição direta assumiu a presidência da República em 15 de novembro de 1922. O quadriênio do novo Presidente transcorreu inteiramente sob "estado de sítio". Efervescência política, revoltas e perturbações da ordem foram as causas do ininterrupto estado de sítio, cuja permanência justificada pelo governo como necessidade para enfrentar as agitações políticas e os levantes tenentistas que marcaram todo o seu mandato.
Arthur Bernardes
As forças políticas que fizeram oposição a Arthur Bernardes na campanha presidencial reagruparam-se no início de seu governo, formando um partido de luta ostensiva, denominado Aliança Libertadora. Conseguiu o presidente, entretanto, fortalecer o poder executivo por intermédio de uma reforma da Constituição de 1891. Limitou-se o habeas corpus para fins políticos, instituiu-se o direito de veto parcial do Presidente da República e regulou-se a expulsão dos estrangeiros considerados perigosos. O antidemocrático governo de Bernardes mantinha os jornais sob severa censura, legitimada pela rígida Lei de Imprensa, e mantinha um forte e violento esquema policial para reprimir os movimentos operários.
Ao Rio de Janeiro e à Bahia, dois dos estados que se opuseram a sua candidatura, Arthur Bernardes respondeu com intervenções federais. No Rio Grande do Sul, Bernardes procurou limitar os poderes de Borges de Medeiros, que fora eleito presidente do estado pela quinta vez consecutiva e enfrentava as forças rebeldes de Assis Brasil. Intervindo na luta gaúcha, Artur Bernardes conseguiu que borges de Medeiros e Assis Brasil assinassem o Pacto de Pedras Altas, pelo qual se garantia a participação política da oposição no estado e uma reforma na Constituição gaúcha, que proibiria a reeleição do chefe do Poder Executivo estadual.

Revolta Paulista de 1924

No dia 5 de julho de 1924 rebentaria uma revolução em São Paulo sob a chefia do general reformado Isidoro Lopes, adepto dos ideais tenentistas. Embora contassem com a opinião pública paulista, não conseguiram as tropas revolucionárias oferecer eficiente resistência às forças do governo. A rebelião foi planejada por militares envolvidos no golpe fracassado de 1922, entre eles o tenente Eduardo Gomes, um dos sobreviventes dos "18 do Forte". Artur Bernardes ordenou o bombardeio da cidade, a partir do dia 11 de julho de 1924. A população paulista abandonou a cidade e o saldo do ataque foi de 503 mortos e cerca de 4.800 feridos. Sem condições de resistir às pressões das tropas legalistas, aproximadamente 3.500 revoltosos dirigiram-se ao encontro das tropas gaúchas, lideradas por Luís Carlos Prestes e Mário Fagundes Varela.
Fazia parte da plataforma política dos tenentes paulista a realização de reformas político-eleitorais, eleição de uma Assembleia Constituinte e voto secreto.
Apesar de seus horizontes limitados, o tenentismo apresentava um caráter progressista para aquele momento histórico. O binômio representação e justiça, bandeira do movimento, levava as camadas médias a se identificarem com os tenentistas, uma vez que estas almejavam uma efetiva participação política.
A revolução paulista repercutira, entretanto, sob a forma de motins no Rio Grande do Sul, Pernambuco, Pará, Amazonas e Sergipe. Identifica-se, habitualmente, a revolta paulista com o movimento tenentista, considerando-se, destarte, o Segundo Levante Tenentista. Dela se originou a Coluna Prestes.

Nasce a Coluna Prestes

A Coluna Prestes simboliza o ápice do movimento tenentista, o ponto culminante da luta armada da jovem oficialidade do Exército brasileiro. Era comandada pelo general Miguel Costa, estando a chefia de seu Estado Maior nas mãos do coronel Luís Carlos Prestes, que percorreu o interior do país durante dois anos procurando sublevar as populações contra o seu governo e as oligarquias dominantes.
Reunindo revoltosos de São Paulo e do Rio Grande do Sul, formou-se uma coluna revolucionária que percorreria 25 000 quilômetros nos sertões brasileiros, durante dois anos e meio de aventuras e sofrimentos, na esperança de contribuir para a deposição do regime que condenara. Seu comandante, Luís Carlos Prestes, iniciara sua marcha em Alegrete, no Rio Grande do Sul, tendo alcançado o Piauí e o Maranhão. Durante todo o tempo de sua duração, a Coluna enfrentou, sem perder uma batalha sequer, tropas regulares do Exército, milicias estaduais e grupos armados de jagunços e cangaceiros a serviço dos coronéis que, como donos de latifúndios, temiam a vitória dos rebeldes.
Do ponto de vista ideológico a plataforma revolucionária dos tenentes da Coluna Prestes mostrava que eles tinham uma visão mais profunda da realidade brasileira e dos problemas da terra e das gentes com quem mantinham contatos na sua longa caminhada pelos sertões do Brasil.
Somente nos primeiros meses do governo de Washington Luís seria dissolvida a coluna, internando-se na Bolívia seus remanescentes. Com muita razão diria o historiador José Maria Bello que Arthur Bernardes governou o Brasil como se estivesse dentro de uma fortaleza, sob a constante pressão do sítio, realizando, no entanto, frequentes ataques vitoriosos.
É, ainda, de se destacar do quadriênio de Artur Bernardes a formação do B.O.C. (Bloco Operário Camponês), realizada em 1925. Encerrado o mandato de Chefe de Estado, Arthur Bernardes elege-se Senador da República. Exilado para Portugal por motivos políticos, lá permaneceu por dois anos, voltando ao Brasil, onde se elegeu novamente Deputado Federal. Retirou-se temporariamente da vida política, porém com a queda de Getúlio Vargas, retoma sua trajetória, elegendo-se mais uma vez para a Câmara Federal, não conseguindo terminar seu mandato, pois veio a falecer em 23 de março de 1955, na cidade do Rio de Janeiro.

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