Os anos 1970 foram extremamente difíceis também para outros países da América Latina. Muita violência política aconteceu no Chile, onde o presidente socialista Salvador Allende foi derrubado por um golpe militar, em 1973. Tanto no Brasil como no Chile, o rumo dos acontecimentos foi acompanhado de perto por Washington. Na visão da Casa Branca, a imposição de ditaduras militares nos países latino-americanos fazia parte da luta contra o comunismo.
No Chile, a CIA colaborou com um golpe de Estado contra o presidente Salvador Allende, em 1973. Eleito democraticamente em 1970, Allende estava realizando a reforma agrária e promovendo uma série de programas sociais, como alfabetização e melhoria do sistema de saúde e do saneamento básico. Além disso, estava nacionalizando diversas empresas norte-americanas.
A sociedade chilena, que não votara majoritariamente em Allende, dividia-se diante das nacionalizações e estatizações de bancos, empresas estrangeiras e, sobretudo, da exploração de minérios, base da economia do país. A alta burguesia chilena e os militares começaram a se mobilizar contra o avanço dos setores populares e da participação mais intensa de operários e camponeses no controle da produção.
As pressões estrangeiras sobre o governo de Allende, principalmente do governo norte-americano, aumentaram. Países com governos militares, incluindo o Brasil, auxiliavam silenciosamente a preparação do golpe.
Boicotes e a diminuição acentuada de investimentos provocaram a queda da produção industrial e o desabastecimento. Nas ruas aumentaram os protestos da classe média, que acusava o governo pelas dificuldades enfrentadas pelo país.
Em conseqüência, Allende passou a sofrer uma campanha de desestabilização estimulada por Washington, que resultou no golpe militar de setembro de 1973. Depois de confrontos armados, o presidente foi encontrado morto no Palácio de La Moneda, sede oficial do governo chileno. O poder passou às mãos de uma junta militar chefiada pelo general Augusto Pinochet. Num clima de forte repressão, Pinochet dissolveu os partidos políticos e perseguiu os adversários do novo regime. O Estádio Nacional foi transformado em campo de concentração, lotado de presos políticos. Muitos deles desapareceram. Houve casos de prisioneiros torturados até a morte, como o cantor Victor Jara, muito querido entre o povo chileno por suas canções sobre os ideais de justiça e solidariedade.
Estrangeiros que viviam no Chile e que não conseguiram fugir a tempo ou refugiar-se dentro de embaixadas ou consulados de países estrangeiros também foram perseguido pelas tropas que apoiavam Pinochet.
A direita civil chilena, que se opunha a Allende e apoiou o golpe, não teve o espaço que esperava no governo militar. Após o terror da repressão dos primeiros anos, o regime de Pinochet passou a adotar medidas liberais de reorganização da economia e a desnacionalizar parte significativa da economia. Pinochet devolveu aos antigos proprietários a maioria das empresas nacionalizadas por Allende. Promoveu a privatização dos setores estatizados durante o governo de Allende e ampliou o ingresso de capital estrangeiro no país. Acelerou o crescimento econômico e superou a crise do período anterior.
Governou com poderes absolutos e impôs, em 1980, uma nova Carta Magna institucionalizando o regime autoritário. Apesar da repressão, a ditadura começou a declinar a partir de 1983, com as manifestações contra os planos econômicos recessivos do governo, que comprimiram os salários, cortaram subsídios à saúde e educação e geraram desemprego. A repressão policial já não era suficiente para intimidar os manifestantes. No final dos anos 1980, porém, a América Latina atravessou uma fase de redemocratização e as pressões internas e externas ao Chile pelo fim da ditadura cresceram.
Em 1988, o general sofreu uma séria derrota política. Num plebiscito sobre sua permanência no poder por mais oito anos, 55% dos votantes disseram não à proposta. O resultado forçou a transição do país para a democracia. As oposições se uniram para eleger à presidência o democrata cristão Patrício Aylwin, em dezembro de 1989. O general Pinochet, no entanto, assegurou sua permanência como chefe das Forças Armadas. Com isso, evitou seu próprio julgamento e o de militares acusados de tortura e de responsabilidade na morte de mais de 2.200 presos políticos durante o regime militar. Em março de 1998, Pinochet deixou o cargo e tornou-se membro vitalício do Senado, em meio a fortes protestos de políticos e de setores da opinião pública chilena.
Se dentro do Chile Pinochet não sofreu nenhuma punição pelos crimes do governo que liderava, fora do país (na Espanha) foi processado por crimes contra a humanidade e chegou a ser preso durante uma viagem à Inglaterra, em 1999. Sua idade avançada e o estado de saúde precário, juntamente com a indisposição do governo inglês de entrega-lo à justiça espanhola, permitiram que fosse libertado e retorna-se ao Chile, onde morreu no final de 2006.
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