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No Peru, instabilidade política

Desde a independência em 1824, o Peru era controlado por uma elite formada por latifundiários e mineradoras, cujo principal objetivo era garantir a ordem, sobretudo as grandes propriedades e a submissão dos povos indígenas ao trabalho.
Nesse cenário, a questão agrária tornou-se o eixo das lutas sociais no país. Sem solução o problema atravessou décadas. Em 1924, surgiu a Aliança Popular Revolucionária Americana (Apra), com inspiração socialista e forte sentido nacionalista, recebeu crescente apoio popular e forte perseguição, sendo colocada na ilegalidade diversas vezes nas décadas seguintes. Nos anos de 1960, várias organizações camponesas e revolucionárias empreenderam movimentos por quase todo o país.
Em 1963, o governo do presidente Fernando Belaúnde Terry iniciou uma tímida reforma agrária. Em 1968, como em muitos outros países da América Latina, o governo foi derrotado por um golpe militar, liderado pelo general Juan Velasco Alvarado.
Na área econômica foi implantada uma linha nacionalista, que expropriou empresas petrolíferas norte-americanas e implantou a Reforma agrária. Outra medida foi a inclusão dos trabalhadores na gestão e divisão de lucro das empresas peruanas. Sem reverter as desigualdades sociais nem conseguir um grande salto produtivo, o governo de Alvarado foi derrubado por outro golpe de 1975.
Quatro anos depois o poder retornaria aos civis, com a eleição de Belaúnde Terry. Nessa época, o grupo terrorista de orientação maoísta Sendero Luminoso iniciou suas atividades. Em tempos de guerra fria, isso ampliou o conflito entre capitalismo e socialismo no Peru.

Em 1985, para suceder a Terry, assumiu o poder Alan Garcia, do Apra. Seu governo tomou medidas nacionalistas, como a limitação do pagamento da dívida externa e a estatização, sem sucesso, do sistema bancário peruano. No ano seguinte, em meio à hiperinflação, as eleições presidenciais foram vencidas por Alberto Fujimori. Ao assumir o poder, a crise provocada pela ação das organizações guerrilheiras ainda eram intensa no país.

O Peru na era Fujimori

Nos anos 1990, o Peru mantinha o quadro de dificuldades econômicas das décadas anteriores acrescentando os problemas gerados pela política neoliberal. Assim, sob discurso modernizador e abertura do país à economia internacional, permanecia o cenário de acirramento das crises sociais e políticas.
Em 1991, o país sofreu com forte surto epidêmico de cólera enquanto o governo de Alberto Fujimori não conseguiu reverter as altas taxas de desemprego e miséria. Em meio à crise, no ano seguinte. Fujimori pôs fim a estrutura democrática: fechou o Congresso e concentrou em suas mãos todos os poderes. O golpe teve por justificativa o combate a guerrilha, especialmente o Sendero Luminoso e os narcotraficantes.
Racionalizando a maquina administrativa e privatizando estatais, Fujimori conseguiu baixar a inflação. De 7650% ao ano, em 1990, passou para menos de 11% em 1995. Isso contribuiu para ampliar seu prestígio e obter a reeleição. O sucesso nas eleições de 1995, derrotando o ex-secretário-geral da ONU, Javier Pérez de Cuéllar, contou também com a retomada do crescimento econômico, que, depois de forte queda, em 1989 e 1990, atingiu 12,8% em 1994 e 8,6% em 1995.
Problemas sociais, seguidos de desaceleração do crescimento econômico, desgastaram a popularidade de Alberto Fujimori. Para piorar, o crescimento econômico perdeu ímpeto, diminuindo em 1996 em diante.
Decidido a continuar no poder, Fujimori manobrou a constituição para candidatar-se pela terceira vez à presidência do Peru. Em 2000, no primeiro turno das eleições acabou obtendo poucos votos a mais do que o líder da oposição, Alejandro Toledo, da coligação Peru Possível.
Em setembro de 2000, um canal de TV exibiu um vídeo no qual um ex-assessor de Fujimori, Vladimiro Montesinos, subornava opositores. O material impulsionou denúncias, que envolveram todo o governo: fraudes, corrupção, participação em contrabandos de armas, vínculos com o narcotráfico, contas bancárias de milhões de dólares no exterior de ex-membros do governo Fujimori. Em novembro de 2000, o presidente abandonou o país. Aproveitando-se de sua dupla cidadania, anunciou sua renúncia ao cargo no Japão.
Com a fuga de Fujimori, assumiu o governo o presidente do Congresso, Valentin Paniagua, dando continuidade às investigações das irregularidades e os preparativos das eleições presidenciais de 2001, que elegeram Alejandro Toledo.


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