Antecedentes da conquista da Paraíba
Demorou um certo tempo para que Portugal começasse a explorar economicamente o Brasil, uma vez que os interesses lusitanos estavam voltados para o comércio de especiarias nas Índias, e alem disso, não havia nenhuma riqueza na costa brasileira que chamasse tanta atenção quanto o ouro, encontrado nas colônias espanholas, minério este que tornara uma nação muito poderosa na época.
Devido ao desinteresse lusitano, piratas e corsários começaram a extrair o pau-brasil, madeira muito encontrada no Brasil-Colônia, e especial devido a extração de uma tinta, usada para tingir tecidos na Europa.
Esses invasores eram em sua maioria franceses, e logo que chegaram no Brasil fizeram amizades com os índios, possibilitando entre eles uma relação comercial conhecida como "escambo", na qual o trabalho indígena era trocado por alguma manufatura sem valor.
Os portugueses, preocupados com o aumento do comércio dos invasores da colônia, passaram a enviar expedições para evitar o contrabando do pau-brasil, porém, ao chegar no Brasil essas expedições eram sempre repelidas pelos franceses apoiados pelos índios.
Com o fracasso das expedições o rei de Portugal decidiu criar o sistema de capitanias hereditárias. Com o objetivo de povoá-la, a colônia portuguesa foi dividida em 15 grandes faixas de terras; tendo cada uma de
As terras que hoje formam a Paraíba pertenciam à Capitania de Itamaracá, cujas terras iam desde a foz do rio Santa Cruz (hoje Igaraçu) em Pernambuco, até as terras próximas ao rio Paraíba, que, nessa época, chamava-se São Domingos.
Nessas terras viviam os índios de dois grupos: no litoral, o grupo dos tupis, formado pelas tribos Tabajaras e Potiguaras. Mais para o interior, o grupo dos tapuias, formado pela tribo dos índios cariris.
A fundação da capitania real da Paraíba
Inicialmente essa capitania foi doada a Pero Lopes de Souza, que não pode assumir, vindo em seu lugar o administrador Francisco Braga, que devido a uma rivalidade com Duarte Coelho, deixou a capitania em falência, dando lugar a João Gonçalves, que realizou algumas benfeitorias na capitania como a fundação da Vila Conceição e a construção de engenhos.
Após a morte de João Gonçalves, a capitania entrou em declínio, ficando a mercê de malfeitores e propiciando a continuidade do contrabando de madeira.
Com a tragédia de Tracunhaém (tragédia na qual os índios mataram todos os moradores de um engenho), em
O Decreto Real criando a Capitania Real da Paraíba foi editado, possivelmente em janeiro de 1574. Esta foi a terceira Capitania Real do Brasil, sendo a primeira, a da Bahia e a segunda do Rio de janeiro. As terras da nova Capitania tinha os seus limites desde a foz do rio Popoca até a Baía da Traição.
Depois de expulsos do Rio de Janeiro, os franceses tentaram se estabelecer na Paraíba, onde conseguiram aliar-se aos Tupis, que dominava a região e fixaram-se na Baía da Traição, próxima a Mamanguape, onde o comércio era livre. Os franceses comerciavam pau-brasil, algodão, óleos vegetais e animais nativos, que mandavam para sua terra. Eles conseguiam conquistar os índios, em troca de ferramentas, presentes e enfeites, levando-os a não reagirem às suas invasões e até a ajudarem na derrubada de madeira.
Existia uma grande preocupação dos lusitanos em conquistar a capitania que atualmente é a Paraíba, pois havia a garantia do progresso da capitania de Pernambuco, o fim da aliança entre Potiguaras e franceses, e ainda, havia um grande interesse em estender sua colonização ao norte.
No entanto, a Capitania Real da Paraíba nasceu de duas exigências:
· compensação do insucesso da capitania de Itamaracá;
· necessidade de apoio ao povoamento já instalado na Capitania de Pernambuco.
Causas do retardamento da colonização da Paraíba
Entre a criação da Capitania da Paraíba e sua efetiva conquista, decorrem mais de dez anos. Os motivos desse retardamento são gerais e particulares. Gerais porque os problemas do governo português são múltiplos, tanto na política como na economia, afastando-o de um interesse concreto em povoar terras que não davam mostras de possuírem os metais preciosos, uma das grandes ambições dos governantes europeus da época. Particulares porque uma série de circunstâncias ocorreu, ocasionando a demora da ocupação da Paraíba. Esses acontecimentos foram: ação de apresadores de índios, presença de franceses na Baía da Traição, massacre em Tracunhaém e traição aos Tabajaras.
a)Apresadores de índios: eram aventureiros que procuravam no Nordeste a riqueza fácil e que a partir de 1560 encontraram condições de ação na Capitania de Pernambuco. Infiltrando-se entre aldeias indígenas pacíficas criaram sérios conflitos através de violência que visava contrabandear os nativos a conduzi-los escravizados
b) Presença de franceses na Baía da Traição: provavelmente os franceses freqüentavam os portos da Paraíba desde 1520, formando aliança com os índios Potiguaras. Essa tribo, provando não ser belicosa por natureza, recebeu os franceses em sua convivência mais íntima, permitindo a miscigenação sem fronteiras, que unia os homens loiros de Franca às mulheres Potiguaras; com eles o comércio de especiarias da terra foi franco, em troca de diferentes objetos trazidos da Europa. As razões de tal amizade foram: em primeiro lugar, os franceses procuravam homenagear os Potiguaras, naquilo que lhes era mais caro, ou seja, sua valentia, o prestígio de seus guerreiros e sua liberdade. Os potiguaras não sofriam dos franceses qualquer afronta: nem mentiras, nem apresamento, nem quebra nos padrões culturais. Em segundo lugar, conquistada a harmonia com o nativo, os franceses passavam a oferecer-lhes ensinamentos úteis, informam sobre melhores métodos de agricultura, doam ferramentas e incentivam a cultura do algodão. Quando surgiram, portanto, os primeiros conquistadores da Paraíba tentando colonizá-la, franceses e potiguaras estavam em bom entendimento para a defesa de seus interesses.
c) Massacre de Tracunhaém: trata-se de um acontecimento histórico decisivo para a criação da Capitania da Paraíba. O seguinte episódio, ocorreu no vale do rio Tracunhaém, que pertencia a Itamaracá e hoje se localiza a pequena distância da cidade pernambucana de goiana. Deu-se que, por ali, em 1574, transitaram dois guerreiros potiguares, provenientes de Olinda, onde, por determinação do governador geral Antônio Salema, recapturaram jovem indígena de quinze anos, filha do cacique Iniguaçu, e que fora arrebatada por mameluco das aldeias da serra da Copaoba. A beleza da índia, todavia, tanto fascinou o proprietário Diogo Dias que decidiu ficar com a moça. O rapto irritou os indígenas que insuflados pelos franceses, caíram sobre o engenho de Dias, no Tracunhaém, massacrando seus habitante, a única exceção de um irmão de Diogo. Simultaneamente, os demais centros de povoamento de Itamaracá foram atacados, com os ocupantes refugiando-se na ilha. Diante do fato, o rei D. Sebastião, para colonizar a região e por fim à fúria selvagem, fez com que Portugal ao mesmo tempo tomasse posse da terra; criou, então, a Capitania Real da Paraíba desmembrando-a da capitania de Itamaracá. Toda a ação de conquista que se tentasse, porém compromissava-se com a guerra aos Potiguaras e com a expulsão dos franceses.
d)Traição aos tabajaras : aconteceu quando essa tribo situava-se na região do rio São Francisco. Em 1573, Francisco Caldas, com mais de 200 homens, pretendendo apresar Tapuias, chegaram até a tribo do chefe Piragibe, já com amizade firmada com os colonos. Conseguindo reforço de índios, viajou para o interior, de onde voltou semanas depois, trazendo carregamento de índios escravizados. Na verdade Francisco Caldas pretendia também cativar Piragibe e toda sua gente. O chefe Tabajara tomando conhecimento da intenção do aventureiro e depois de avisar a Assento de Pássaro, outro chefe e parente, armou uma cilada fatal, de que resultou o massacre de toda a expedição e soltura de escravos. Desde aí, Piragibe junto com Assento de Pássaro, abandonaram sua morada e emigrou com sua família e grande número de índios Tabajara, percorrendo o interior até chegar a Paraíba. Em 1585, aliou-se aos potiguares, contra a conquista da Capitania Real da Paraíba.
As lutas pela conquista da Paraíba
Quando foi criada a capitania real da Paraíba, o Brasil vivia o sistema de Governo Geral. Na época, o governador geral era Luís de Brito e Almeida. Este recebeu do rei de Portugal a ordem de punir os índios responsáveis pelo massacre, expulsar os franceses e fundar uma cidade. Assim, começaram as cinco expedições para a conquista da Paraíba. Para isso, o rei de D. Sebastião mandou primeiramente o Ouvidor Geral D. Fernão da Silva.
a) Primeira expedição (1574): O comandante desta expedição foi o Ouvidor Geral D. Fernão da Silva. Ao chegar no Brasil, Fernão tomou posse das terras em nome do rei sem que houvesse nenhuma resistência, mais isso foi apenas uma armadilha. Sua tropa foi surpreendida por indígenas e teve que recuar para Pernambuco.
b) Segunda expedição (1575): Quem comandou a segunda expedição foi Governador Geral, D. Luís de Brito. Sua expedição foi prejudicada por ventos desfavoráveis e eles nem chegaram sequer às terras paraibanas. Parte da frota foi devolvida ao porto de origem, com o próprio Governador Geral, e outra conseguiu ancorar em Pernambuco onde, depois de esperar algum tempo também retornou à Bahia.
c) Terceira expedição (1579): Frutuoso Barbosa impôs a condição de que se conquistasse a Paraíba, a governaria por dez anos. Essa ideia só lhe trouxe prejuízos, uma vez que quando estava vindo à Paraíba, caiu sobre sua frota uma forte tormenta e além de ter forte tormenta e além de ter que recuar até Portugal, ele perdeu sua esposa.
d) Quarta expedição (1582) : com a mesma proposta imposta por ele na expedição anterior, Frutuoso Barbosa volta decidido a conquistar a Paraíba, mas cai na armadilha dos índios e dos franceses. Barbosa desiste após perder um filho em combate.
e) Quinta expedição(1584) : esta teve a presença de flores Valdez, Felipe de Moura e o insistente Frutuoso Barbosa, Que conseguiram finalmente expulsar os franceses e conquistar a Paraíba.
Definindo a conquista
Em 1584, as lutas pela Paraíba registraram a participação dos espanhóis a que, indiretamente, passara a pertencer o Brasil, em razão da união das Coroas de Portugal e Espanha, subordinados a um mesmo soberano - Felipe II da Espanha. Esse acontecimento ocorrido em 1580, na Europa, explica a atuação nas peripécias paraibanas de 1584, de dois espanhóis, o almirante Diogo Flores Valdez e o alcaide Francisco Castejom.
Ao primeiro coube chefiar a Armada que veio combater os franceses no mar e fechar a desembocadura do rio Paraíba, batizado de São Domingos pelos Portugueses. Castejom encarregou-se do comando de baluarte, erguido nas proximidades do estuário do Rio da Guia, afluente da Paraíba. O fortim batizado de São Felipe e São Tiago ensejou a denominação de Forte Velho para a localidade, hoje convertida em centro de turismo.
Não foi desta feita, todavia, que a resistência indígena resultaria dominada. Edificada em local inadequado, a fortaleza viu-se cercada pelos Potiguaras que, em campo aberto, destruíram bandeiras que se aventuraram pelo interior. Quando as desavenças entre o capitão-mor Frutuoso Barbosa, português, e o alcaide Castejom, espanhol, se acentuaram, a situação dos conquistadores tornou-se insustentável. Castejom incendiou o forte e jogou a artilharia ao mar, retirando-se para Olinda, onde foi preso pelo Ouvidor Martim Leitão.
Em 1585, coube a este último organizar expedição para a conquista, somente então consumada. Devido à importância estratégica, a Paraíba fora criada como Capitania Real, isto é, diretamente subordinada à coroa, o que propiciou o emprego de recursos oficiais no empreendimento.
A expedição chefiada militarmente por João Tavares, partiu de Olinda, com aproximadamente mil homens, a cavalo e a pé. Entre os participantes das jornadas encontrava-se militares, proprietários e sacerdotes, com índios “domesticados” e escravos negros compondo a massa restante.
Quando aqui chegaram se depararam com índios que sem defesa, fogem e são aprisionados. Ao saber que eram índios Tabajaras, Martim Leitão manda saltá-los, afirmando que sua luta era contra os Potiguaras.
Após o incidente, Leitão procurou formar uma aliança com os Tabajaras, que por temerem outra traição, a rejeitaram.
O cacique Piragibe, à frente dos Tabajaras, tinha planos de cercar o forte e invadir também as capitanias de Pernambuco e Itamaracá. Mas houve sérios desentendimentos entre os Tabajaras e os Potiguaras, os quais levaram as duas tribos a guerrearem entre si.
Martim Leitão, sabendo desses fatos, preparou-se para tentar as pazes com o valente cacique Piragibe, pois sabia da importância de tê-lo como aliado.
Para essa missão de paz, o escolhido foi o capitão João Tavares, de espírito conciliador. Finalmente, no dia 5 de agosto de 1585, celebraram um acordo, na encosta de uma colina em frente ao rio Sanhauá, onde se construíram um forte de madeira. Nesta data, foi firmada definitivamente a conquista da Paraíba.
A conquista da Paraíba se deu no final de tudo através da união de um português e um chefe indígena chamado Piragibe, palavra que significa Braço de peixe.
Em virtude de ser o dia 5 de agosto dedicado a Nossa Senhora das Neves, a nova cidade recebeu o nome de Nossa Senhora das Neves, passando a chamar-se Filipéia de Nossa Senhora das Neves (29/outubro/1585) em homenagem ao Rei Felipe da Espanha.
Depois passou a chamar-se Frederikstadt (frederica) (26/dezembro/1634) por ocasião da conquista pelos holandeses, em homenagem a Sua Alteza o Príncipe Orange, Frederico Henrique. Em seguida, Parahyba (01/fevereiro/1654) no retorno ao domínio português, recebendo a mesma denominação que teve a capitania, depois província e por último Estado. Finalmente, João Pessoa (04/setembro/1930) homenagem prestada ao presidente do Estado assassinado em recife e que havia negado apoio ao Dr. Júlio Prestes, candidato oficial nas eleições de 1930.
A fundação da cidade e a consolidação da conquista
1 – O início da cidade de Nossa Senhora das Neves
Celebrado o acordo com os Tabajaras, os portugueses puderam fundar a cidade sede da capitania. Por escolha de Martim leitão, João Tavares e Frutuoso Barbosa, que percorreram a cavalo a planície situada entre o rio Paraíba e o oceano Atlântico, a nova cidade foi edificada a partir de quatro de novembro de 1585, na parte mais elevada, visava assegurar-lhe a defesa, a proximidade do rio possibilitaria através dessa exportação dos produtos elaborados ou encontrados – açúcar, peles, couro, âmbar, madeiras e algodão. Incluindo no conjunto de trocas da economia mundial, a capitania integrava o sistema econômico mercantilista.
Nossa Senhora das Neves foi a terceira cidade criada no Brasil, sem nunca ter sido Vila. Este privilégio lhe coube porque fora fundada pela cúpula da Fazenda Real, uma Capitania da Coroa.
2 – Consolidação da conquista
Martim Leitão, artífice primeiro da cidade de Nossa Senhora das Neves e de sua consolidação, trouxe consigo pedreiros, carpinteiros, engenheiros e outros para edificar a cidade. As primeiras medidas de Martim Leitão foram para a construção de galpões de trabalho, levantamento de um forte, projeção de uma casa para servir de almoxarifado e demais construções essenciais à moradia.
A principal fortificação teve construção iniciada em1586, no lugar denominado Cabedelo – palavra equivalente a ponta de terra – onde o rio Paraíba se encontra com o mar. Tornava-se essencial fortalecer esse sítio porque quem o controlasse teria acesso à cidade, dezoito quilômetro rio abaixo.
Datou daí a instalação da fortaleza de Santa Catarina, de Cabedelo, ou ainda do Matos, em homenagem a seu primeiro comandante, Francisco Cardoso do Matos. A munição era assegurada pela Casa da Pólvora, a terceira e mais importante das quais tomou o lugar do forte do Varadouro, em 1710.
A colonização da Paraíba é pontilhada de momentos difíceis. Além dos problemas de subsistência do pequeno grupo pioneiro de Martim Leitão e João Tavares era necessário:
- Proteger os locais escolhidos para dar início ao povoamento;
- Vigiar a barra do rio Paraíba, porta aberta aos franceses e aventureiros;
- Ter cautela com tribos Cariri, que podiam atacar vindos do interior;
- Sustentar defesa contra investidas Potiguaras;
- Expulsar os franceses;
- Conservar a aliança com os Tabajaras;
- Transferir colonos e fixa-los na Capitania;
- Estabelecer uma economia estável.
3 – Economia e ocupação colonial
Naquela época, a riqueza vegetal da Paraíba era a base inicial de sua economia. As madeiras exploradas eram o pau-brasil e outras, como o pau-brasil e outras, como o cedro, o jacarandá, resistentes e duráveis que s destinavam ao fabrico de barcos e móveis para a nobreza.
Logo a cana-de-açúcar, plantada nas várzeas da Capitania Real da Paraíba, foi sendo reconhecida como da melhor qualidade. Numa época em que o açúcar dava bastante lucro, não se perdeu muito tempo e, nas proximidades da capital, apareceram os primeiros canaviais. Em 1587 funda-se o Engenho Real no Tibiri, onde se inicia a plantação de cana de açúcar, integrando a Paraíba a rede do comércio colonial.
Logo os engenhos ficaram de “fogo aceso” nas várzeas da Paraíba. Tanto é que em 1610, 25 anos depois da implantação a agroindústria açucareira na capitania, já funcionavam 12 engenhos fabricando açúcar e enviando para a Europa.
O florescimento da cultura açucareira deu-se durante todo o século XVI e primeira metade do século XVII, quando veio a crise da produção regional, provocada pela concorrência do açúcar das Antilhas.
Ainda no século XVII, a ocupação do sertão foi determinada pela necessidade de prover a área açucareira de animais para o trabalho e alimento para a população. Foi então que a pecuária sertaneja surgiu, revestindo-se de grande importância geoeconômica, à medida que extensa faixa territorial pôde ser ocupada por reduzida população. Nesta área, o grande proprietário baseou sua economia em duas atividades: pecuária e cultura do algodão. A cultura do algodão que ficou conhecido como ouro branco. sua produção proporcionou um desenvolvimento considerável na economia local. O criação de gado também teve uma importância singular na Paraíba. Sua atividade econômica estava voltada para o mercado interno e, consequentemente, os lucros oriundos de sua comercialização permaneciam na mesma. Sua fase áurea ficou conhecida como ciclo do couro.
A construção do forte de cabedelo na foz do Rio Paraíba serviu de ponto de apoio para a continuidade da conquista do norte da capitania (vales Mamanguape e Camaratuba), do Rio Grande do Norte e mais tarde da penetração para oeste rumo ao sertão.
Entre 1585 e 1634 se processou a consolidação do povoamento do litoral. Este se deteve, até meados do século XVII, na Borborema, onde a presença de densas florestas, índios e o relevo acidentado retardaram a ocupação.
O sertão já tinha sido batido pelos bandeirantes baianos, paulistas e paraibanos. a primeira penetração fora a de Elias Heckman, por ordem de Maurício de Nassau(durante o domínio holandês), em 1641, à procura de ouro. Os franceses conheceram muito cedo, por via marítima, a baía da Traição: Mamanguape já era visitada, antes da conquista, por portugueses, franceses e mamelucos de Olinda.
Foram os missionários de catequeses que avançaram primeiro para a área dos cariris, surgindo depois da de Pilar, a aldeia de Campina Grande. Teodósio de Oliveira Ledo lançou-se até o boqueirão na serra do Carnoió, onde instalou um acampamento. em vez das missões, já era a guerra. Essa bandeira trágica atravessou a chapada e, descendo, atingiu Piranhas. Foi mais além. Em 1697 seu guia já era capitão mor de Piranhas e Piancó. No final do século XVII, o apresamento e o morticínio dos índios e os maus-tratos recebidos pelos que eram escravizados provocaram a revolta indígena conhecida como Confederação dos Cariris.
4 – A organização político-administrativa
A nova cidade teve uma administração, de
Nos primeiros tempos, a capitania da Paraíba era dirigida por um governador, o capitão-mor (denominação que significava que ele dirigia os capitães).
Com a dilatação da conquista, as populações do interior também tiveram os seus capitães-mores, que comandavam as ordenanças, supervisionavam o policiamento dos sertões, respondia pela paz e ordem das suas circunscrições e eram subordinados ao governador.
Havia outras autoridades: o Ouvidor-Geral que cuidava da justiça, dos juízes de órfãos e certos juízes inferiores denominados almotacés incumbidos de tomar conhecimento dos negócios pequenos. O Provedor da Fazenda presidia à arrecadação das rendas da Fazenda Real.
Existia
O período governamental era de três anos geralmente. Entretanto, poderia ser excedido, dependendo de circunstâncias.
Propriedade, escravidão e organização familiar
Do ponto de vista social, ou seja, da composição de classes, a capitania da Paraíba, tal como o restante da sociedade brasileira, fundamentou-se na grande propriedade territorial, a chamada sesmaria.
A primeira sesmaria paraibana foi concedida ainda no século XVI, quando seu número não passou de cinco, no século XVII, esse número cresceu, mas na primeira metade, sua localização não ultrapassou os vales dos rios Paraíba e Mamanguape, o que significa colonização ainda restrita ao litoral. Na segunda metade do século XVII e, principalmente no século XVIII, essas sesmarias alcançaram os pontos mais distantes do território Paraibano, o que representou a expansão deste, com incorporação das terras sertanejas à colonização. No século XIX, as sesmarias concedidas aos que desejavam lavrar a terra baixaram de número, tanto por o território já se encontrar quase inteiramente ocupado, quanto pela Lei de Terras, de 1850, que extinguiu o sistema sesmarial. Daí em diante, as chamadas terras devolutas somente puderam ser adquiridas mediante compra.
A sesmaria, que originou o latifúndio, monocultor com a cana-de-açúcar no litoral e brejo, e binômio pecuária – algodão, no sertão, responsabilizou-se pela ocupação da Paraíba. O proprietário, todavia, não trabalhava diretamente a terra. Desde o início recorreu=se ao braço do negro africano, para cá importado. Surgia assim, na zona da mata, onde rios, solo de tipo massapé e, principalmente demanda dos mercados externos ensejavam partidos de cana e engenhos, o latifúndio monocultor e escravista. Sua força de trabalho residia na mão-de-obra negra, não porque o índio fosse indolente ou inapto ao trabalho, mas porque na escravidão africana residiam os maiores lucros do sistema econômico mercantilista, baseado na circulação de mercadorias.
Essa sociedade era também patriarcal. Isso porque o grande proprietário, dispunha de poderes absolutos, nos limites de sua propriedade. A mulher, filhos, agregados e escravos deviam-lhe fidelidade. Não raro, castigos físicos acompanhavam as transgressões. A mulher teve alguma importância nesse tipo de organização social, mas seus poderes limitavam-se ao interior da casa grande. Quanto aos filhos, casavam-se mediante recomendação dos pais, verificando-se muitos casamentos entre parentes para impedir divisão da propriedade. O despotismo patriarcal ampliava os limites da família, de modo que, ao lado da família legítima, sobrevinha outra, ilegítima, mediante multidão de filhos naturais.
Algumas das Primeiras vilas da Paraíba na Época colonial
Com a colonização foram surgindo vilas na Paraíba. No primeiro decênio do século XVII, a Paraíba já era considerada a terceira capitania mais desenvolvida do Nordeste, perdendo apenas para a Bahia, capital da colônia, e para Pernambuco. A cidade já contava com mais de 1.000 habitantes e a região possuía aproximadamente 20 engenhos. A seguir temos algumas informações sobre as primeiras vilas da Paraíba. Não especificamente na ordem cronológica.
PILAR
O início de seu povoamento aconteceu no final do século XVI, quando as fazendas de gado foram encontradas pelos holandeses. Pilar originou-se a partir da Missão do Padre Martim Nantes naquela região. Foi elevada a categoria de vila em 14 de setembro de 1758. Em 1670, Jesuítas, acompanhados pelos índios Cariris, fundaram um colégio. Em torno do mesmo, formou-se o povoado, cuja população era constituída principalmente de garimpeiros, que para ali se deslocavam em busca do ouro existente.
A produção de açucareira trouxe grande prestígio para Pilar, em virtude dos inúmeros engenhos distribuídos pelas várzeas e baixios do território, tanto que, em 1859, teve a honra de receber a visita do Imperador D. Pedro II, hospedado no solar do Barão de Maraú, onde recebeu grandes homenagens.
Pilar foi elevada a município em 1985, quando o cultivo da cana-de-açúcar se tornou na principal atividade da região.
SOUSA
Conhecida como Jardim do Rio do Peixe, nome primitivo da localização, foi elevado à categoria de Vila por decisão do Reino, expressa por força de autoridade da Carta Régia de 22 de julho de 1766. Mesmo ostentando a condição de distrito, permaneceu o povoado com o seu nome primitivo. Foi através da Lei Provincial de Nº 28, de 10 de julho de 1854, que a Vila de Sousa foi elevada à categoria de cidade passando, na oportunidade, a denominar-se Sousa, em homenagem ao seu benfeitor, Bento Freire de Sousa, conhecida hoje por "cidade sorriso".
Hoje a sexta cidade mais populosa do estado e dona de um dos mais importantes sítios arqueológicos do país (Vale dos Dinossauros), onde encontra-se várias pegadas de repteis pré-históricos.
CAMPINA GRANDE
Sua colonização teve início em 1697. O capitão-mor Teodósio de Oliveira Ledo instalou na região um povoado. Os indígenas formaram uma aldeia. Em volta dessa aldeia surgiu uma feira nas ruas por onde passavam camponeses. Percebe-se que as características comerciais de Campina Grande nasceram desde sua origem.
Campina foi elevada à freguesia em 1769, sob a invocação de nossa senhora da Conceição. Sua elevação à vila com o nome Vila Nova da Rainha se deu em 20 de abril de 1790. A cidade de Campina Grande tem, entre vários destaques, o Açude Velho, construído em 1828 por consequência da forte seca de 1824/1828, que assombrou o Nordeste. Sua conclusão deu-se em 1830.Em épocas passadas, o Açude Velho foi o maior reservatório da Serra da Borborema, responsável pela manutenção da Vila, e depois, cidade. Às suas margens encontramos o monumento aos Tropeiros da Borborema, um dos símbolos da cidade. Hoje Campina Grande é a maior cidade do interior do Nordeste.
Guarabira
Foi fundada no Engenho Morgado, do senhor Duarte Gomes da Silveira. Os primeiros habitantes da localidade foram os índios Potiguares. Eles viviam em constantes conflitos com os colonizadores (franceses e portugueses), por volta do século XVI.
José Gonçalves da Costa Beiriz foi o fundador do município que recebeu o nome de Guarabira. Antes, era chamada pelos índios de "Guaraobira" ou "Guirabira", mas a Lei 841, de 26 de novembro de 1877 elevou a localidade a categoria de cidade, com a denominação de Guarabira.
SÃO JOÃO DO CARIRI
Tendo sido povoada em meados do século XVII pela enorme família Cariri que povoava o sítio São João, entre outros, esta cidade que atualmente não se destaca muito à nível estadual foi elevada à vila em 22 de março de 1800. Sua emancipação política é datada de 15 de novembro de 1831.
No final do século XVII, Teodósio de Oliveira Ledo realizou uma entrada através do rio Piranhas. Neste venceu o confronto com os índios Pegas e fundou ali uma aldeia que inicialmente recebeu o nome do rio (Piranhas).
Devido ao sucesso da entrada não demorou muito até que passaram a chamar o local de Nossa Senhora do bom sucesso, em homenagem a uma santa.
Em 1721 foi construída no local a Igreja do Rosário, em homenagem a padroeira da cidade considerada uma relíquia histórica nos dias atuais.
Foi em 03 de março de 1772 que o ouvidor da Paraíba. José Januário de Carvalho encaminhou — em nome dos habitantes da povoação do Piancó — representação ao governador de Pernambuco Manuel da Cunha de Meneses, propondo a instalação de uma vila nos sertões da Paraíba, nos termos de uma Carta Régia autorizando a criação de novas Vilas na jurisdição de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte.
Por carta régia de 22 de julho de 1766 foi elevada à categoria de vila, com o nome de Pombal. Homenagem ao ao famoso Marquês de Pombal. Elevada à categoria de vila deu-se a instalação oficial a 4 de maio de 1772. Data hoje considerada como sendo também a da criação do município. De imediato, fizeram-se eleições livres para o preenchimento dos cargos oficias da Câmara e elegeu-se presidente e Judiciário da Câmara o capitão-mor Francisco de Arruda Câmara.
Alhandra
Inicialmente as terras que hoje comporta a cidade de Alhandra, eram habitadas pelos índios Arataquís, que viviam em constantes combates contra os Tabajaras, que ocupavam a região onde hoje se localiza a Capital João Pessoa.
Em 1758, foi elevada à categoria de 1ª Vila da Paraíba, sendo apenas instalada em 1765. e elevada à categoria de cidade com a denominação de Alhandra, no dia 24 de abril de 1959. Após Alhandra se seguiram quatro vilas, a de Pilar (1758), a de São Miguel da Baía da Traição (1762), a de Monte-Mor da Preguiça (atual Rio Tinto em 1762) e a de Jacoca, (atual Conde em 1768). Todas elas fundadas a partir de aldeias indígenas. Nota-se que todas foram criadas em um curto espaço de tempo, e todas além de serem aldeias indígenas, ficavam também na faixa litorânea.
Primeiros governadores da Paraíba
1 – João Tavares (1585-1588)
Martim Leitão ao deixar a Paraíba após a sua conquista e fundação. Deixou aqui como capitão-mor, João Tavares, sendo este o nosso primeiro governador.
Foi fundado por João Tavares o primeiro engenho – o Engenho Real – às margens do Tibiri, e o forte de São Sebastião, construído por Martim Leitão para a proteção do engenho.
Os jesuítas ficaram responsáveis pela catequização dos índios. Eles ainda fundaram um Centro de Catequese e
O governo de João Tavares foi demasiadamente auxiliado por Duarte Gomes da Silveira, natural de Olinda. Silveira foi um senhor de engenho e uma grande figura da Capitania da Paraíba durante mais de 50 anos. Rico, ajudou financeiramente na ascensão da cidade. Em sua residência atualmente se encontra o Colégio Nossa Senhora das Neves.
Apesar de ter se esforçado muito para o progresso da capitania, João Tavares foi posto para fora em 1588, devido à política do Rei.
2 – Frutuoso Barbosa (1588-1591)
Devido à grande insistência perante a corte e por defender alguns direitos, Frutuoso Barbosa foi, em 1588, nomeado o novo capitão-mor da capitania da Paraíba, auxiliado por D. Pedro Cueva, ao qual foi encarregado de controlar a parte militar da capitania.
Neste mesmo período, chegaram alguns frades franciscanos, que fundaram várias aldeias e por não serem tão rigorosos no ensino religioso como os jesuítas, entraram em desentendimento com esses últimos. Esse desentendimento prejudicou o governo de Barbosa, pois se aproveitando de alguns descuidos, os índios Potiguaras invadiram propriedades. Vieram em auxílio de Barbosa o capitão-mor de Itamaracá, com João Tavares, Piragibe e seus índios.
No caminho, João Tavares faleceu de um mal súbito. Quando o restante do grupo chegou a Paraíba, desalojou e prendeu os Potiguaras.
Com o objetivo de evitar a entrada dos franceses, Barbosa ordenou a construção de uma fortaleza
Em homenagem a Felipe II, da Espanha, Barbosa mudou o nome da cidade de Nossa Senhora das Neves para Filipéia de Nossa Senhora das Neves.
Devido às infinitas lutas entre o capitão Pedro Cueva e os Potiguaras e os desentendimentos com os jesuítas, houve a saída de Cueva e a decisão de Barbosa de encerrar o seu governo.
3 – André de Albuquerque Maranhão (1591-1592)
André de Albuquerque governou apenas por um ano. Nele, expulsou os Potiguaras e realizou algumas fortificações. Entre elas a construção do forte de Inhobin para defender alguns engenhos próximos a este rio.
Ainda nesse governo os Potiguaras incendiaram o forte de Cabedelo. O governo de Albuquerque se finalizou em 1592.
4 – Feliciano Coelho de Carvalho (1592-1600)
Somam-se os fatos importantes, durante o governo de Feliciano Coelho Carvalho:
a) Ofensiva contra os índios: No ataque, o capitão-mor foi mais de uma vez a serra de Capaoba, movendo guerra aos Potiguaras e seus; na cautela, repensou o ponto fraco que cercavam a defesa da cidade de Filipéia transferindo a aldeia de Braço de Peixe, da Ilha do Bispo, para a várzea do Paraíba, dividindo-a em duas partes.
b) Definitiva expulsão dos franceses: Em 1595 deu-se a interferência de um fato político europeu, que ativaria a exploração francesa sobre o Nordeste brasileiro: foi o começo de uma guerra entre Espanha e França. O principal efeito para a Capitania Real da Paraíba aconteceu quando uma Armada francesa, composta de 13 naus e conduzindo cerca de 350 homens, atacou o Forte de Santa Catarina, em 1597, defendido por apenas 20 homens, a fortificação agiu heroicamente, expulsando o invasor. Essa vitória tem muito significado histórico, pois marca a definitiva expulsão dos franceses da Paraíba, permitindo a ação integradora da Capitania, no conjunto do litoral brasileiro.
c) Auxílio à conquista do Rio Grande do Norte: A expedição marítima que passou pela Paraíba em direção ao Rio Grande do Norte, em fins de 1597, objetivando conquistá-la, contou com a participação do capitão-mor; na primeira tentativa de ajuda, Feliciano não conseguiu fazer muito, pois os membros da expedição foram acometidos de uma epidemia de varíola, obrigando-os a retornarem à cidade de Filipéia. Assim que o mal foi afastado, Feliciano Coelho de Carvalho organizou nova expedição armada, chegando ao Rio Grande do Norte exatamente quando aquela Capitania se encontrava em plena dificuldade, diante das suspeitas de que haveria abandono das instalações já começadas, se o reforço paraibano não tivesse chegado a tempo. Em 6 de janeiro de 1598, fundava-se o Forte dos Reis Magos.
d) Acordo de paz com os Potiguaras: Aconteceu em 1599, depois de vários entendimentos que procuraram solucionar o problema comum à Paraíba e ao Rio Grande do Norte. No dia 11 de junho o acordo foi celebrado solenemente, com a presença das maiores autoridades do Nordeste, na época. Pelos Potiguaras, falou o índio Pau-Seco, representando o cacique Zorobabé, acompanhado por cerca de 50 guerreiros; em nome dos Tabajaras compareceram o cacique Braço de Peixe e seus filhos Pedra Verde e Braço Preto; Feliciano Coelho de Carvalho, juntamente com a população branca e mestiça da Paraíba, comandou a solenidade, ao lado das pessoas mais importantes das capitanias de Itamaracá, Pernambuco e Rio Grande do Norte, que haviam sido especialmente convidadas.
A paz com os Potiguaras e sua consequente submissão teve grande importância para o desenvolvimento da Capitania Real da Paraíba e os motivos de tão esperado acontecimento estão relacionados a os seguintes fatos:
- Rompimento forçado da aliança dos Potiguaras com os franceses, resultante de sua expulsão da Paraíba, em 1597, assegurado pela heróica ação dos que defendiam o Forte de Santa Catarina. Perder os franceses como amigos, significou para os índios, perder armas, navios, pólvora e incentivos;
- As guerras movidas por Martim Leitão, João Tavares, Pero Lopes e Feliciano Coelho de Carvalho, causou significativas baixas no número de guerreiros Potiguaras, provocando também imigrações em massa, para o Norte.
- A fundação do Forte dos Reis Magos, no Rio Grande do Norte, significou uma grande ameaça aos índios rebeldes, reforçando a defesa e o ataque dos colonizadores, aliados em suas tarefas de povoar e produzir;
- A epidemia de varíola que alcançou os Potiguaras, em 1597, devastou grande quantidade de índios, indefesos ao “vírus” da alarmante doença.
A Paraíba teve 11 governadores entre os anos de
A relação dos governadores da Paraíba no período que vai da conquista ao domínio holandês, nem sempre a nomeação importava em posse do cargo, muitas das vezes ficavam aguardando a vacância para exercer as suas funções, porque os providos no cargo só o deixavam quando recebiam ordens para isso, e que foram os seguintes:
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A Presença Holandesa na Paraíba
Portugal desde 1580 estava sob domínio espanhol, e consequentemente, o Brasil. A instalação da empresa açucareira no Brasil contou com a participação holandesa, desde o financiamento das instalações até a comercialização no mercado europeu. Assim, quando Felipe II proibiu a manutenção dessas relações comerciais, tirou dos holandeses uma grande fonte de lucros, levando-os a reagirem com a invasão ao Nordeste brasileiro. Para isso, os holandeses organizaram uma Companhia – a Companhia das Índias Ocidentais –, e decidiram invadir a capital, em 1624. Prenderam o Governador Geral e o enviaram para a Holanda.
Não conseguiram, no entanto, governar a região. Sob o comando de D. Marcos Teixeira, as forças brasileiras mataram vários chefes batavos, enfraquecendo as tropas holandesas. Em maio de 1625, eles foram expulsos da Bahia pela esquadra de Fradique Toledo Osório.
As invasões holandesas atingem também a Paraíba e através de ataques contínuos a Cabedelo, onde a resistência foi muito acentuada, tentam se fixar em nossas terras, porém só concretizando em 1634, quando desembarcam ao norte da foz do Jaguaribe e conseguiram vitória sobre as tropas do governador paraibano Antônio de Albuquerque Maranhão e partindo para dominar Cabedelo, onde tiveram êxito.
Em dezembro de 1634 os holandeses entraram na cidade de Filipéia de Nossa Senhora das Neves e passaram a administra-las até 1645.
A preocupação inicial dos holandeses consistiu em manter defesas, para estabilizar a conquista, e atrair a simpatia dos habitantes da Paraíba, cuja capital teve a denominação mudada para Frederica. A Fortaleza de Santa Catarina, no Cabedelo, foi rebatizada como Margareth.
Alguns dos nossos moradores pressentindo a derrota e não querendo se submeter aos inimigos, retiraram-se da Capitania. Porém antes da retirada, queimavam os canaviais e inutilizavam os engenhos. André Vital de Negreiros foi o primeiro a tocar fogo no engenho do seu pai e muitos seguiram-lhe o exemplo.
Para impedir possível rebelião, os holandeses tanto fortificaram a Igreja de São Francisco e o convento de Santo Antônio, a cujas portas instalaram entrincheiramentos e bateria, quanto ocuparam a inacabada Igreja de São Bento, na Rua Nova. Quando os religiosos franciscanos tentaram desobedecer às ordens dos novos senhores, foram expulsos da Capitania.
Nova organização política, social e econômica
Os holandeses reconheceram a desvantagem de ver a terra desamparada, engenhos abandonados, outros danificados. Então se prestaram a fazer com os moradores uma espécie de pacto. Duarte Gomes da Silveira foi um dos primeiros a se apresentar ao inimigo e serviu de mediador entre os moradores e os invasores. Não traindo os seus, mas para não entregar de tudo o que lhes custara tanto trabalho.
O primeiro governador da província holandesa da Paraíba e Rio Grande do Norte foi Servaes Carpentier que em nome do Príncipe de Orange, dos Estados Gerais e da Companhia fez aos paraibanos, em ata de 13 de janeiro de 1635, as seguintes promessas: ofereceram anistia, liberdade de consciência e de culto católico, manutenção do regime de propriedade, proteção aos negócios e observâncias das leis portuguesas nas pendências aos naturais da terra.
Tais recomendações surtiram efeito, daí porque não foram poucos os que aderiram aos invasores. O padre jesuíta Manoel Morais abjurou a fé católica e embarcou para a Holanda, onde se fez calvinista e casou.
No plano administrativo, conservou-se parte da antiga administração, subordinada, porém, ao diretor geral, função inicialmente ocupada pelo conselheiro Servaes Carpentier.
No plano econômico-social, os holandeses mantiveram a escravidão. Com esse objetivo, ocuparam, preliminarmente, a província portuguesa de angola, na África, principal fonte de fornecimento de cativos. Introduzindo aperfeiçoamentos técnicos como moendas metálicas, no lugar das antigas, feitas de madeira, ofereceram empréstimos aos proprietários de engenhos. A maior parte destes, liderados por Duarte Gomes da Silveira aceitou a oferta.
A principal colaboração recebida pelos holandeses proveio dos índios Potiguaras enquadrados pelos caciques Pedro Poti e Paraupaba. Em troca, os holandeses chegaram a realizar assembleia de índios para a qual os principais do Ceará e Pernambuco enviaram representantes à vila de Itapessirica, em Pernambuco.
A Resistência anti-holandesa
O controle holandês sobre a Paraíba durou apenas vinte anos, de
Já em 1636, o segundo diretor geral Ippo Eyssens, tido como arbitrário, foi morto numa emboscada, quando assistia a farinhada no engenho Santo Antônio. O principal responsável foi o capitão Francisco Rabello, o Rabellinho. Reagindo, os holandeses procuraram apresentar combate no Tibiri, que foi evitado pelos luso-brasileiros que pretendia retrair-se e recorrer a ataques rápidos e de surpresa. Era a guerrilha. Por conta desta os holandeses nunca se sentiram seguro na Paraíba, salvo durante algum tempo na Capital e, mais tarde, no interior da Fortaleza de Santa Catarina. A repressão holandesa caracterizou-se pela brutalidade. Alguns engenhos e propriedades foram confiscados. A pena capital foi igualmente aplicada, e, em 1645, o diretor geral Paul Linge, responsável por enforcamentos, mandou arrastar pela cidade o corpo de condenado que morrera na prisão.
A tensão somente aliviou entre 1638 e 1644, durante a administração dos diretores Elias Hercman e Gisberth Wirth. Por essa época, chegou ao Brasil o conde Maurício de Nassau, que se instalou no Recife, com artistas, cientistas, e estudiosos do melhor nível.
Emancipados da Espanha, em 1640, os portugueses encontravam-se com as finanças abaladas, de modo que alguns conselheiros do rei, com o padre Antônio Vieira, o maior sábio do mundo luso da época, elaboraram documento que propunha a preservação de todo Norte pelos holandeses que se absteriam de invadir o restante do Brasil e as possessões lusas no Oriente.
Esse documento ganhou a denominação de papel forte, tão convincente pareciam suas razões. Na Paraíba, os proprietários e altos funcionários, beneficiários da invasão flamenga, concordaram com os termos.
Não foi esse, porém, o caso do jovem André Vital de Negreiros. Paraibano, filho de proprietários portugueses, participou da campanha anti-holandesa de 1624, na Bahia , onde ficou por algum tempo. Em 1630, encontrava-se em Olinda, quando os flamengos dominaram a cidade. Novamente na Paraíba, entre 1634 e 1636, nunca pactuou com invasor que o respeitava.
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A Capitania da Paraíba na época da invasão holandesa
Na época da invasão holandesa, a população era dividida em dois grupos: os homens livres (holandeses, portugueses e brasileiros) e os escravos (de procedência brasileira ou africana). A mistura de raças não era bem vista pelo governo holandês, portanto, durante vinte e quatro anos de domínio holandês no Brasil, sabe-se de raras uniões entre holandeses e nativos, sendo consideradas uma exceção.
Ao contrário do que ocorreu em Pernambuco a presença dos holandeses não trouxe muitas vantagens à Paraíba. Houve apenas algum aumento na produção de açúcar, mas de caráter temporário, pois, com a volta de Meurício de Nassau para Holanda (1644), a capitania da Paraíba entrou em completa desordem.
A Capitania da Paraíba de
- Servaes Carpentier: Também governou o Rio Grande do Norte, e sua residência oficial foi no Convento São Francisco de onde para execução do seu intento, expulsaram os franciscanos que lá moravam. O Convento de São Francisco, além de ser a residência oficial do governo holandês, servia também para abrigo dos mercadores neerlandeses em ocasiões necessárias, servindo também de quartel, para os soldados da guarnição que serviam na cidade.
- Ippo Elyssens: Foi um administrador violento e desonesto. Apoderou-se dos melhores engenhos da capitania. Foi morto quando assistia a uma farinhada no povoado do Espírito Santo.
- Elias Herckman: Governador holandês importante, que governou por cinco anos. Bastante estimado pela população, pelo modo distinto como tratava os moradores, como pela capacidade administrativa demonstrada. Era homem de sensibilidade, poeta, escritor.
- Sebastian Von Hogoveen: Governaria no lugar de Elias Heckman, mas morreu antes de assumir o cargo.
- Daniel Aberti: Substituto do anterior.
- Gisbert De With: também considerado um dos melhores da província, razão pela qual foi feito um abaixo-assinado pedindo sua permanência, quando do término de seu mandato. Trabalhador incansável, não descuidou dos interesses da comunidade. Mesmo assim, o Alto Conselho holandês, designou outro para substituí-lo: Paulo de Linge.
- Paulo de Linge: Foi derrotado pelos “Libertadores da Insurreição”, e retirou-se para Cabedelo.
Restauração
O Brasil comemorou festivamente, em 1640 a restauração do trono português, livre agora do jugo espanhol. Os representantes da Holanda participaram também das alegrias, visto que eram inimigos da Espanha. Mas os nativistas almejavam a liberdade. Nunca os paraibanos aceitaram o domínio holandês e quase não se consideravam filhos de colonos, pois tinham Portugal como pátria mãe.
A dominação holandesa de 1634 a 1645, na Paraíba, foi vista e sentida como uma imposição a que obedeciam constrangidos, mas não aceitavam. Ao assumir o lugar do Conde Maurício de Nassau, a Companhia holandesa impôs uma política contrária a que foi proposta por Nassau, confiscando fazendas e engenhos, perseguindo católicos e judeus, aumentando impostos.
Insatisfeito com a "virada holandesa", o senhor de engenho, João Fernandes Vieira, parte para a luta armada comandando seu exército de libertação. O negro Henrique Dias ofereceu-se como voluntário para lutar contra os holandeses, tendo recrutado um grande número de negros alforriados, oriundos dos engenhos conquistados pelos invasores.. O índio Potí, batizado católico em 1614 com o nome de Filipe Camarão, à frente dos guerreiros de sua tribo organizou ações de guerrilha que se revelaram essenciais para conter o avanço dos invasores.
André Vidal de Negreiros, paraibano, filho de proprietários portugueses, fez se chefe da Guerra de Libertação Nacional (Insurreição Pernambucana). Na Paraíba, a insurreição contra os flamengos propagou-se com tanta rapidez que, em 1645, o capitão Lopo Curado Garro, autor de relação das pugnas contra os holandeses no Nordeste, já dominava a região do Tibiri. Daí suas colunas ingressaram, nesse mesmo ano, na capital, de onde os holandeses se retiraram para a Fortaleza de Santa Catarina. Nos últimos nove anos de permanência na Paraíba, limitaram-se ao controle dessa fortificação. Após 20 ano de domínio os holandeses foram expulsos da Paraíba em 1654.
Considerado um dos maiores Paraibanos de todos os tempos Vidal de Negreiros fez-se indiscutível chefe da Guerra de Libertação Nacional que a insurreição contra os holandeses representou. Sua carreira foi uma sucessão de êxitos. Escolhidos para levar a Portugal os resultados da insurreição contra os holandeses, foi nomeado governador dos estados do Maranhão e Grão-Pará, que constituíam territórios independentes do restante do Brasil. Em 1662, designaram-no governador de Angola, onde fortificou a capital, Luanda. Ao falecer, em 1680, seus restos mortais foram transladados para a Igreja dos Prazeres, nos montes Guararapes.
Cultura e contribuições holandesas
O capítulo das invasões holandesa na Paraíba não deve ser encarado apenas do ponto de vista militar. Bem mais importante fez-se a contribuição cultural dos invasores – e cultura é o que fica. Nesses termos, os flamengos contribuíram para o conhecimento da terra.
Tal deveu-se, em primeiro lugar, aos relatórios que produziram.
O primeiro, de autoria do conselheiro Servaes Carpentier, revela caráter ecológico, ao recomendar as áreas mais adequadas ao plantio da cana-de-açúcar, fumo e mandioca, além de criação de gado. Entusiasmado com a fertilidade da terra, Carpentier deteve-se, longamente, sobre as árvores, frutos e animais que nela se encontravam.
Descrição das Capitanias de Pernambuco, Itamaracá, Parahyba e Rio Grande do Norte intitula-se o relatório assinado por Adriaen Verdonck, que teve um fim trágico. Segundo esse autor, a Paraíba, dispunha, em 1630, de dezoito a dezenove engenhos responsáveis por cento e cinquenta mil arrobas anuais que significavam seiscentas a setecentas caixas de açúcar, embarcadas nos navios. Contudo, havia pouco, movimento de negócios na capital.
Em matéria de produção açucareira, o melhor documento de origem holandesa é o minucioso Relatório sobre as Capitanias Conquistadas no Brasil pelos Holandeses, datado de 1639, e de autoria de Adriaen Van Der Dussen. De portos, rios, cidades, freguesias, aldeias, escravos, pau-brasil e madeiras, fortificações, religião e abastecimento ocupa-se Dussen cujo texto detalha os vinte engenhos existentes na Paraíba, com as respectivas tarefas e lavradores.
O mais completo relatório sobre a Paraíba proveniente do domínio holandês, é a Descrição geral da Capitania da Paraíba, de Elias Herckman, objeto, em 1982, de duas edições, ambas
A crise do século XVIII e a anexação à Pernambuco
A dependência em relação a Pernambuco
Situação da Paraíba após a guerra contra os holandeses
Monopólio, Companhia de Comércio e perda da autonomia
O resgate da autonomia
Bandeirantes e os Oliveira Ledo, na Conquista do Sertão
Verificam-se, então, duas grandes linhas de penetração do sertão paraibano. Uma, longitudinal, isto é, do sul para o norte, partiu do Rio São Francisco e, através de afluente deste, penetrou a Paraíba, através da fronteira de Pernambuco. Percorreram-na bandeirantes paulistas, baianos e pernambucanos.
A essa corrente incorporou-se o bandeirante paulista Domingos Jorge Velho que após esmagar o Quilombo dos Palmares, marchou sobre a Paraíba para fazer o mesmo com os índios da Confederação dos Cariris.
Os bandeirantes, todavia, não ocuparam a terra, no sentido de faze-la render, economicamente. Apenas a devassaram, sufocando, onde foi o caso, a resistência indígena.A ocupação produtiva, isto é, a colonização do sertão da Paraíba, coube, além dos colonos que seguiram os bandeirantes, à família Oliveira Ledo e os sesmeiros articulados a estes desbravadores. Esses dois últimos ingressaram nos sertões da Paraíba, latitudinalmente, isto é, no sentido horizontal, de leste para oeste, com a maioria operando por conta própria e alguns sob o patrocínio do governo. Os responsáveis por expedições denominadas entradas tornaram-se conhecidos como entradistas.
Os Oliveira Ledo, situados na origem de tantos municípios paraibanos, a partir de Campina Grande, e região do Cariri, tanto levaram para o interior seus cabedais como se responsabilizaram por entradas. O patriarca do grupo, Antônio de Oliveira Ledo, estabeleceu vias de penetração sertanejas, através de duas direções:
. A primeira, partindo da missão de Boqueirão, pelo curso do Paraíba até o Rio Taperoá, afluente daquele, cruzou o pequeno Rio Farinha e subindo o curso do Espinharas, nas vizinhanças de Patos, lançou-se para o nordeste, a fim de através do Rio Piranhas, alcançar a região do atual município de Brejo do Cruz e penetrou o Rio Grande do Norte, cuja zona do Seridó pertencia, então, a jurisdição da Paraíba.
. A segunda via de penetração de Antônio de Oliveira Ledo desviou-se para o sul, desde boqueirão, a fim de, pelas nascentes do Rio Paraíba, ingressar
Dois outros Oliveira Ledo, Custódio, irmão de Antônio, e Constantino, filho de Custódio, também participaram da conquista do sertão da Paraíba. Quem, todavia, exerceu essa função com maior veemência foi outro filho de Custódio e sobrinho de Antônio, Teodósio de Oliveira Ledo.
A penetração de Teodósio partiu do aldeamento Cariri, de Pilar, no sentido noroeste, e, virando para o sul, alcançou o Rio Taperoá. Seguindo em frente, atravessou o planalto da Borborema até Pau Ferrado, sobre o Rio Piancó, de onde inflectindo para nordeste, alcançou, no vale do Rio do Peixe, a localidade Jardim, atual Sousa. Descrevendo longo círculo, penetrou o Seridó norte-rio-grandense pela serra de Luiz Gomes e, desviando-se para o sul, alcançou a confluência do Rio Piancó com o Piranhas onde, em 1698, fundou o arraial de Nossa Senhora do Bom Sucesso do Piancó.
Esse povoado, do qual deriva a atual cidade de Pombal, constituiu o principal centro de irradiação de povoamento que compreendem não apenas o sertão da Paraíba, mas territórios do Rio grande do Norte e Ceará.
Assim podemos observar que Teodósio de Oliveira Ledo consolidou a Conquista do Sertão.
5 – A resistência indígena – a Guerra dos Bárbaros
A presença de entradistas e bandeirantes, pelo sertão da Paraíba, dispunha de outra motivação, além de espalhar o gado pelos campos do criatório. Tratava-se de prear índios, reduzidos ao cativeiro para a vendagem no litoral. Entradistas e bandeirantes como Teodósio de Oliveira Ledo, Domingos Jorge Velho, Domingos Afonso Sertão e Bernardo Vieira de Melo encontravam-se, confessadamente, comprometidos com essa empreitada.
Fosse por isso, por defenderem suas terras ou porque recebessem estímulos dos franceses, ativos na embocadura do Rio Açu, no caso o Piranhas, que muda de nome, no Rio Grande Do Norte, os índios decidiram reagir. Essa reação, que gerou a chamada Guerra do Bárbaros, vigentes nos sertões nordestinos, de
Três fases experimentou a Guerra dos Bárbaros. A primeira rebentou na região norte-rio-grandense do Açu, onde os indígenas se apresentaram com armas de fogo e munições contrabandeadas pelos franceses. A segunda de maior duração, teve lugar na Paraíba, ao longo de toda povoação de Bom Sucesso do Piancó. Expulsos da área, os índios refugiaram-se no Ceará, onde ocorreu a derradeira fase da guerra dos Bárbaros.
A crueldade com que essa foi travada fez-se tão acentuada que, a certa altura, as autoridades lisboetas dirigiram-se ao governador da Paraíba pedindo explicações sobre o que aí acontecia. Aldeias inteiras estavam sendo incendiadas e seus habitantes massacrados, sem constituir exceção mulheres e crianças. Quanto aos adultos que se recusavam à escravidão eram passados pelo fio da espada.
Na violência empregada contra os índios destacou-se Teodósio de Oliveira Ledo, cujas milícias desempenharam o papel de polícia de segurança da época. Em 1710, como rebentasse em Pernambuco a chamada Guerra dos Mascates, os senhores de engenhos de Olinda e os comerciantes “mascates” do Recife, o governador paraibano João de Maia Gama, partidário dos últimos, deslocou Teodósio para guarnecer a fronteira do litoral paraibano com Pernambuco. Outro caudilho sertanejo, Luiz Soares, encarregou-se de proteger o lado oposto, na Fronteira com o Rio Grande do Norte.
Os mais implacáveis sertanistas acudiram as regiões do Piranhas e Piancó durante as batalhas do alto sertão da Paraíba. um deles, o coronel Manoel de Araújo, deslocou-se com gado e cento e cinqüenta homens bem armados, de fazendas do Rio São Francisco para a zona ocupadas pelos índios Coremas, que eram cariris. A rápida submissão destes ofereceu aos conquistadores que pelejavam mais acima, retaguarda que decidiu a sorte das armas. Só então os Tarairiús foram subjugados. A ocupação do sertão da Paraíba fez-se sangrenta e nele, escaramuças estenderam-se até 1750.
6 – O Povoamento do Sertão
Com os índios pacificados e dominados, os sertanistas puderam continuar a fundar as suas fazendas de gado, que se tornaria mais tarde núcleo de povoação.
A princípio criando o gado para abastecer as regiões vizinhas, depois as feiras, as pousadas foram progredindo a ponto de irem se tornando em povoamento, vilas e hoje cidades.
De acordo com o historiador Irinêo Joffily, a sequência bandeira-curral-fazenda-arraial responsabilizou-se pela formação da sociedade sertaneja na Paraíba.
De fato, como os bandeirantes, percorrendo o curso dos rios, se deslocassem com seu gado seguia-se, inevitavelmente, a concentração deste em currais, campos cercados dotados de rústicas habitações, geralmente de pau-a-pique. Tratava-se das primitivas fazendas, localizadas em datas de terra dotadas de capelas que lhes legitimavam a posse. Se a de Nossa Senhora do Rosário representa, entre 1701 e 1721, no arraial do Piranhas, embrião da futura vila e cidade de Pombal, as capelas de cabaceiras em 1730, Jardim do Rio do Peixe (Sousa), Piancó em 1748, Patos em 1772, Catolé do Rocha e Santa Luzia em 1773 e Monteiro em 1800, significaram o elemento gerador dessas cidades.
Outro elemento formador dos arraiais que se converteram com o tempo, em povoados, vilas e cidades, foram os sítios. Na qualidade de “maior figura patriarcal do sertão da Paraíba”, o capitão-mor José Gomes de Sá possuía fazendas arrendadas à Casa da Torre, como Acauã e Riachão, atuais distritos da região de Sousa. A cidade de Conceição fez-se, originalmente, data de terra pertencente a Pedro Monteiro, no vale do Piancó, em cujos sertões, fazendas como São Gonçalo, Lagoa Tapada e Santo Antônio (atual Piancó), também originaram sedes de distritos e municípios da Paraíba.
A disputa pela terra gerou, no sertão, sociedade violenta que se prolongou no cangaço e lutas de famílias, até bem pouco visíveis em municípios como Catolé do Rocha, Teixeira, Misericórdia (atual Itaporanga) e Piancó.
O povoamento da região ficou a cargo dos colonos que eram mamelucos, resultantes de cruzamento do branco com o índio, mais amplo que o cafuzo, proveniente da mistura do índio com o negro e também aí encontrado.
As ordens religiosas, os mosteiros e as igrejas na Capitania da Paraíba
1 – Os Jesuítas
Foram os jesuítas os primeiros missionários que chegaram à capitania da Paraíba, acompanhando todas as suas lutas de colonização. Vieram desde as primeiras expedições de conquista.
Chegaram primeiro dois padres, Simão Travassos e Jerônimo Machado; depois vieram outros, entre os quais, Francisco Fernandes, Manuel Correia e Baltasar Lopes. O visitador da Companhia, Cristóvão de Gouvêa, mandou que o padre Jerônimo Machado relatasse todas as lutas da Paraíba, escrevendo-as no “Sumário das Armadas”.
Sabe-se que em 1591 já havia residência dos padres jesuítas nesta Capitania,
Ao mando de Frutuoso Barbosa, os jesuítas se puseram a construir um colégio na Filipéia. Porém, devido a desavenças com os franciscanos, que não usavam métodos de educação tão rígidos como os jesuítas, a idéia foi interrompida.
Aproveitando esses desentendimentos, o rei que andava descontente com os jesuítas pelo fato de estes não permitirem a escravização dos índios, culpou os jesuítas pela rivalidade com os franciscanos e expulsou-os da capitania. Cento e quinze anos depois, os jesuítas voltaram a Paraíba fundando um colégio onde ensinavam latim, filosofia e letras. Passando algum tempo, fundaram um Seminário junto à igreja de Nossa Senhora da Conceição. Atualmente essa área corresponde ao jardim do Palácio do Governo.
Em 1728, os jesuítas foram novamente expulsos. Em 1773, o Ouvidor-Geral passou a residir no seminário onde moravam os jesuítas, com a permissão do Papa Clemente XIV.
2 – Os Franciscanos
Atendendo a Frutuoso Barbosa, chegaram os padres franciscanos, com o objetivo de catequizar os índios.
O Frei Antônio do Campo Maior chegou com o objetivo de fundar o primeiro convento da capitania. Seu trabalho se concentrou em várias aldeias, o que o tornou importante.
No governo de Feliciano Coelho, começaram alguns desentendimentos, pois os franciscanos, assim como os jesuítas, não escravizavam os índios. Ocorreu que depois de certos desentendimentos entre os franciscanos, Feliciano e o governador geral; Feliciano acabou se acomodando junto aos frades.
A igreja e o convento dos franciscanos foram construídos em um sítio muito grande, onde atualmente se encontra a praça São Francisco.
3 – Os Beneditinos
O superior dos beneditinos tinha interesse em fundar um convento na Capitania da Paraíba.
O governador da capitania recebeu o abade e conversou com o mesmo sobre a tal fundação. Resolveu doar um sítio, que seria a ordem do superior geral dos beneditinos.
A condição imposta pelo governador era que o convento fosse construído em até dois anos. O mosteiro não foi construído em dois anos, mesmo assim, Feliciano manteve a doação do sítio.
A igreja de São Bento se encontra atualmente na Rua Nova, onde ainda há um cata-vento em lâmina, construído em 1753.
4 – Os missionários carmelitas
Os carmelitas vieram à Paraíba a pedido do cardeal D. Henrique. Quando chegaram à Paraíba o Brasil estava sob domínio espanhol. Os carmelitas chegaram fundaram um convento e iniciaram trabalhos missionários.
O convento de Nossa Senhora do Carmo deve ter sido construído na Paraíba em 1591, com a sua igreja. Ele foi todo edificado
A história dos carmelitas aqui na Paraíba é incompleta, uma vez que vários documentos históricos foram perdidos nas invasões holandesas.
Em 1763, Frei Manuel de santa Teresa restaurou o convento, mas logo este foi demolido para servir de residência ao primeiro bispo da Paraíba, D. Adauto de Miranda Henriques.
5 – O prestígio da Igreja e o Tribunal do Santo Ofício
A Igreja naquela época dispunha de enorme prestígio. Habitualmente a obtenção de sesmarias era acompanhada do levantamento de capelas, pelos sesmeiros, como símbolo da posse da terra. No interior das casas grandes e fazendas não faltava o oratório, para o terço em família, sendo que também se rezava as refeições. Nas vilas e cidades, as missas faziam-se obrigatórias e o sino das igrejas regulava a vida das habitantes. As eleições eram paroquiais e, cedo, as famílias da classe dominante adquiriram o costume de converter um dos filhos em padre.
Ressalte-se que o clero regular, de franciscanos, jesuítas, beneditinos e carmelitas, dispunha de propriedades, engenhos e escravos, na sede da capitania e fora dela, com o que participava da ocupação da terra.
Com o clero secular chegou à Paraíba, em
Análise Social; Igrejas
As principais igrejas da época colonial foram as seguintes:
- A Matriz de Nossa Senhora das Neves;
- A Igreja da Misericórdia;
- A Igreja das Mercês;
- A igreja de N. S. do Rosário dos Pretos;
- A Capela de N. S. da Mãe dos Homens;
- A Igreja do Bom Jesus do Martírio
Povoados, Vilas, Cidades e seus Padroeiros
Quase todas as povoações, vilas e cidades nasceram ao redor de uma capela que o fervor religioso erigia em homenagem a uma das muitas entidades celestiais cujo santo ou santa de sua invocação passava a padroeiro do lugar com a criação da vila. As santas eram as na escolha dos oragos que predominavam o nome de nossa senhora na variedade de sua nomenclatura hagiológica, e inúmeras freguesias consagraram Nossa Senhora da Conceição como padroeira que foram Areia, Campina Grande, Jacoca, Gurinhém, Ingá, Itabaiana, Araruna, Cabeceiras, Taperoá e Misericórdia e apenas cinco freguesias invocaram nomes de santos que foram Santo Antônio para Painço, São Sebastião para Piauí, São José para São José dos Piranhas, São Miguel para Baia da Tradição e São Paulo para Mamanguape, e as festas de padroeiras davam vida ao lugar pois as musicas, foguetórios, novenas e procissão de encerramento.
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