SEGUNDA FASE (POESIA)
2ª FASE MODERNISTA (1930-1945) POESIA:
Carlos Drummond de Andrade
Cecília Meireles
Vinícius de Moraes
Murilo Mendes
Veja
a imagem de um dos importantes poetas dessa geração:
Carlos
Drummond de Andrade é considerado o grande representante da
poesia contemporânea brasileira. Seus textos, embora partindo da realidade
brasileira, refletem os problemas universais do ser humano, apresentando textos
com uma temática variada: o amor, a
metalinguagem, a saudade, o cotidiano e uma forte preocupação política e social.
Drummond, influenciado pelo contexto histórico de seu tempo (2ª Guerra Mundial, sistemas políticos autoritários), mostrou-se sempre preocupado com a transformação da sociedade a partir da compreensão do tempo presente
Veja um poema em que o coletivo e o tempo presente são temas essenciais:
Mãos dadas
Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Não serei o cantor de uma mulher, de uma
história, não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela, não
distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida, não fugirei para as ilhas nem
serei raptado por serafins.
O tempo é minha matéria, o tempo presente, os
homens presentes, a vida presente.
Carlos Drummond de Andrade
O primeiro grande poema de Drummond, publicado em
1928 na Revista Antropofagia, foi No meio do caminho:
No meio do caminho
No meio do caminho tinha uma pedra tinha
uma pedra no meio do caminho tinha uma pedra no meio do caminho tinha uma
pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do
caminho tinha uma pedra tinha uma pedra no meio do caminho no meio do caminho
tinha uma pedra.
Carlos Drummond de Andrade
O cotidiano,
os acontecimentos banais também viraram temas poéticos nas mãos de Drummond.
Veja o próximo poema em que o cotidiano é
retratado de forma irônica e bem humorada, numa aproximação com o poema-piada do
momento anterior:
Cidadezinha Qualquer
Um homem vai devagar.
Um cachorro vai devagar.
Um burro vai devagar.
Devagar... as janelas olham.
Eta vida besta, meu Deus.
Carlos Drummond de Andrade
Já apresentando com uma poesia mais intimista nós
encontramos uma figura feminina muito importante:
Cecília
Meireles tornou-se conhecida no meio literário a partir
da sua participação na corrente espiritualista da geração de 22. Aos poucos,
afasta-se dessa corrente, mas conserva as características introspectivas e
intimistas do grupo.
Seus versos, geralmente curtos e cheios de
musicalidade, refletem sobre a brevidade da vida, as razões da existência, a
solidão e a morte, imprimindo um caráter intimista em toda sua produção
poética.
Veja o que Cecília dizia a respeito de sua obra:
“
Nasci aqui mesmo no Rio de Janeiro, três meses depois da morte de meu pai, e
perdi minha mãe antes dos três anos. Essas e outras mortes ocorridas na família
acarretaram muitos contratempos materiais, mas, ao mesmo tempo, me deram, desde
pequenina, uma tal intimidade com a
Morte que docemente aprendi essas relações entre o Efêmero e o Eterno
(...). Em toda minha vida, nunca me esforcei por ganhar nem me espantei por
perder. A noção ou sentimento da
transitoriedade de tudo é o fundamento mesmo da minha personalidade”.
Cecília Meireles
Esses motivos são responsáveis pelo pessimismo e
desencanto que perpassam vários momentos de sua obra.
Veja um de seus poemas mais conhecidos:
Motivo
Eu canto porque o instante existe e minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste: sou poeta.
(...)
Sei que canto.
E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo: - mais
nada.
Cecília Meireles
Esse é poema metalinguístico, pois nele Cecília
faz uma reflexão sobre o próprio ato de escrever, sem, contudo, perder o tom
intimista, introspectivo.
Veja a imagem de Vinícius de Moraes, outro importante poeta dessa segunda fase:
Vinícius
de Moraes foi um importante nome não só na literatura, mas
também na música popular brasileira. Altamente comunicativo, Vinícius
definia-se como “poeta e diplomata, o
branco mais preto do Brasil, na linha de Xangô. Sarava!”
Didaticamente sua produção poética é dividida em
duas fases. Na primeira, mostrou-se intimamente ligado às características
simbolistas. Os textos dessa época apresentam temas ligados a aspectos
religiosos, à angústia, ao conflito entre o carnal e o espiritual.
Na segunda
fase, seus textos, sem perder o tom espiritual, voltam-se para os aspectos do
cotidiano e para o amor. A mulher também passou a ser um tema frequente em seus
poemas. Tanto que uma vez, quando perguntado sobre as três coisas mais
importantes de sua vida ele respondeu: “Primeiro
mulher; segundo mulher; e por fim mulher!”. Garota de Ipanema, música dele e de Tom Jobim, símbolo da bossa
nova, é até hoje a canção brasileira mais gravada em todo o mundo.
Vinícius, ao contrário dos primeiros modernistas
que abandonaram todas as formas fixas, apresentou um grande apreço pelo soneto
(composição muito utilizada pelos clássicos)
Veja um de seus sonetos mais conhecidos:
Soneto de Fidelidade
De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
Vinícius de Moraes
Os temas mais próximos da realidade também foram tratados pelo poeta. Veja sua preocupação social no poema Operário em construção:
Era ele que erguia casas
Onde antes só havia chão.
Como um pássaro sem asas
Ele subia com as casas
Que lhe brotavam da mão.
Mas tudo desconhecia
De sua grande missão:
Não sabia por exemplo,
Que a casa de um homem é um templo
Um templo sem religião
Como tampouco sabia
Que a casa que ele fazia
Sendo a sua liberdade
Era a sua escravidão (...)
Vinícius de Moraes
Murilo
Mendes foi outra importante figura desse período:
Murilo
Mendes, assim como Cecília Meireles também pertenceu à
corrente espiritualista do Modernismo. A religiosidade voltada para a crítica
das injustiças sociais é uma de suas características.
Veja um exemplo dessa religiosidade no poema
seguinte:
Solidariedade
Sou ligado pela herança do espírito e do sangue
Ao mártir, ao assassino, ao anarquista,
Sou ligado
Aos casais na terra e no ar,
Ao vendeiro da esquina,
Ao padre, ao mendigo, à mulher da vida,
Ao mecânico, ao poeta, ao soldado,
Ao santo e ao demônio,
Construídos à minha imagem e semelhança.
Murilo Mendes
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