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Teorias da aprendizagem

 

Como se processa a aprendizagem

Já se sabe, em nossa época que a aprendizagem é algo intrínseco, que se passa no interior do indivíduo, levando em conta suas capacidades, suas aptidões, seu desenvolvimento neuropsíquico e, ainda, seus interesses e suas necessidades. Por isto mesmo, de nada serve ao professor desenvolver aulas interessantes e bem planejadas se elas não atenderem ao “estado” do aluno. E não havendo aprendizagem, não houve ensino, por maiores e melhores que sejam os esforços do professor. É, portanto, fundamental que o processo educativo busque o aluno como centro de suas atividades, tendo em vista o desenvolvimento de sua personalidade de maneira integral.

    O ensino visa aprendizagem. Schimitz a descreve como sendo "um processo de aquisição e assimilação, mais ou menos consciente, de novos padrões e novas formas de perceber, ser, pensar e agir". Alguns preferem definir aprendizagem como sendo a aquisição de novos comportamentos. Existem hoje muitas teorias sobre a aprendizagem.

    A filosofia cognitivista trata da aprendizagem sob um caráter construtivista, ou seja, o conhecimento é construído e é pertinente à mente humana, palco onde se realizam os processos cognitivos que intercalam o processo estímulo-resposta enfatizado pelos comportamentalistas. Para os construtivistas, o aprendiz é o agente de uma construção que é sua própria estrutura cognitiva. A mente e o corpo têm papéis fundamentais na aprendizagem, entretanto a mente é objetiva e a alma afetiva permanece sem consideração relevante.

    Somente com a filosofia humanista é que a afetividade do aprendiz se torna uma variável importante na descrição da aprendizagem. Corpo, mente e alma fundem-se em pensamentos, sentimentos e ações. Dentre as teorias humanistas evidencia-se e ensino centrado no aluno, de Rogers, e a teoria de educação de Novak. Esta última se sobressai pela ênfase na aprendizagem significativa de Ausubel, indo além e considerando o educando em sua completude de ser humano. Estes conceitos de aprendizagem e ensino são expressos em três principais enfoques teóricos: Cognitivista, Comportamentalista e Humanista. 

ENFOQUE COMPORTAMENTALISTA

     Para evitar erros dos métodos subjetivos John B. Watson criou um movimento que recebeu o nome de behaviorismo (de behavior, comportamento) para deixar claro que sua preocupação era com os aspectos observáveis do comportamento. Define-se comportamento como um conjunto de reações ou respostas que um organismo apresenta frente aos estímulos do ambiente. Assim tem-se uma série de estímulos e respostas, não crendo os behavioristas ser possível compreender os processos internos que conduzem os estímulos às respostas.

    A teoria de aprendizagem de Watson tem como cerne a concepção de que o estímulo é mais importante que a resposta dada pelo indivíduo (E > R) de maneira tal que, após o condicionamento do estímulo, ele passe a apresentar a mesma resposta, podendo até mesmo ser substituído. O indivíduo precisa aprender não só para dar respostas conhecidas a novas situações como também para dar novas respostas. Enfim, a aprendizagem se dá por substituição de estímulos e isso seria feito construindo uma cadeia de reflexos, dando uma sequência apropriada de respostas a uma pergunta ou estímulo condicionado. Não se falava até então na utilização de reforçadores ou punições.

    Ensinar, para Watson, consistia em apresentar ao aprendiz uma sequência apropriada de estímulos, através de questionamentos para que o mesmo apresentasse respostas esperadas, respostas estas que envolvem sinais de movimento em todo o corpo repetidas vezes.

    O behaviorismo supõe que o comportamento inclui respostas que podem ser observadas e relacionadas com eventos que as precedem (estímulos) e as sucedem (consequências). São também chamadas teorias estímulo-resposta. Watson, Pavlov e Skinner, são os autores que mais se destacaram nesta linha de pensamento. O enfoque comportamentalista:

- Provê uma base para o estudo de manifestações que produzem mudanças comportamentais;

- Aprendiz é o ser que responde a estímulos fornecidos pelo ambiente externo;

- Limita-se ao estudo de comportamentos manifestos e mensuráveis controlados por suas consequências;

- Não considera o que ocorre dentro da mente do indivíduo durante o processo de aprendizagem;

- Aprendiz é visto como objeto.

   Contudo, a concepção de Watson demonstrou ser demasiadamente estreita. Dentro dela, não havia lugar para o organismo. Entretanto, sabe-se que a reação, mesmo de um animal, não é sempre idêntica, em face de um estímulo externo, como por exemplo a água. Conforme as necessidades internas de seu organismo, o mesmo animal às vezes beberá a água, às vezes passarão por perto dela sem tocá-la. Por isso, para os chamados “neobehavioristas”, o comportamento designa o estudo das reações externas do organismo em resposta a um estimulo e dependente do estado próprio do organismo.

Skinner foi um dos mais importantes psicólogos behavioristas por ter seu trabalho extrapolado com sucesso o cunho psicológico ao ser aplicado à aprendizagem. É o iniciador do sistema de condicionamento operante. Considerado neobehaviorista, denominação dada aos psicólogos behavioristas que atuaram após 1950, sofreu influência de Thorndike e Watson (Moreira, 1999).

        Watson afirmava que a psicologia é o estudo do comportamento: as reações ou respostas do organismo devem ser estudadas e analisadas. Skinner concorda plenamente com essa afirmação, tendo trabalhado observando detalhadamente as reações externas sem se interessar com o que se passa dentro do organismo. A psicologia skinneriana é a psicologia do "não interessa o estado de coisas" que sustenta a ação (no que tange a cognição motivação e emoções), sendo importante apenas está. Se preocupa em estudar os estímulos proporcionados por condições ambientas, pesquisando o modo como afetam as respostas do organismo.

        O comportamento será dependente do estímulo e do organismo: E – O – R. todavia, mesmo dentro desta concepção, surge dificuldade: como distinguir as reações as reações do comportamento ditas psíquicas ou verdadeiras das reações puramente fisiológicas. Para evitar essa confusão, os psicólogos de hoje dão um sentido mais amplo ao termo comportamento, nele incluindo tanto as reações globais do organismo como as maneiras de agir que tem uma significação.

A obra de Gagné é um exemplo da mistura de tendências entre os teóricos da aprendizagem na década de 60. Ela se situa em algum ponto entre o comportamentalismo e o cognitivismo. Segundo Novak (1981, p.102), a obra primeira de Gagné publicada em 1965 (The Conditions of Learning) traz toda uma nova nomenclatura na qual explicações tipo E-R (estímulo-resposta) são essencialmente abandonadas, mas que de fato estariam baseadas fortemente em teoria E-R.

        As raízes behavioristas da teoria de Gagné são reconhecidas na sua própria definição de aprendizagem, que corresponde a uma mudança de comportamento (Moreira, 1995). Contudo, Gagné, ao contrário de Skinner, estava interessado nos processos internos inerentes a essa mudança de comportamento. Isso significa que sua teoria se propunha a lidar tanto com fatores internos quanto externos.

ENFOQUE COGNITIVISTA

    As décadas de 20 e 30 foram particularmente ricas no contexto das teorias de aprendizagem, no âmbito do cognitivismo. Essa filosofia de aprendizagem teve sua origem no começo do século, principalmente nos trabalhos da Gestalt e de teóricos que se situam entre o comportamentalismo e o cognitivismo.  As teorias cognitivas tratam da cognição, de como o indivíduo "conhece"; processa a informação, compreende e dá significados a ela. Dentre as teorias cognitivas de aprendizagem mais antigas, destacam-se a de Tolman, a da Gestalt e a de Lewin. As mais recentes e de bastante influência no processo instrucional são as de Bruner, Piaget, Vygotsky e Ausubel. Mas foi a partir da década de 20 que se propôs que as informações são registradas pelo cérebro na forma de uma estrutura, que cresce com o tempo – e que, portanto, é dinâmica –, em que os conceitos guardam uma relação hierárquica entre si. Assim as ideias na mente estão organizadas numa grande estrutura, cujo desenvolvimento se dá segundo alguns processos observáveis experimentalmente. Tal proposição foi feita, de maneira diferenciada, pois dois grandes teóricos cognitivos: Jean Piaget e Lev Vygotsky. O enfoque cognitivista:

- Encara a aprendizagem como um processo de armazenamento de informações;

- Auxilia na organização do conteúdo e de suas ideias a respeito de um assunto, em uma área particular de conhecimento;

- Busca definir e descrever como os indivíduos percebem, direcionam a atenção, coordenam as suas interações com o ambiente;

- Como aprendem, compreendem e reutilizam informações integradas em suas memórias a longo prazo;

- Como os indivíduos efetuam a transferência dos conhecimentos adquiridos de um contexto para o outro;

Para Vygotsky, o desenvolvimento cognitivo é produzido pelo processo de interiorização da interação social com materiais fornecidos pela cultura, mediada pela utilização de instrumentos e signos, de acordo com os conceitos utilizados. Logo, um signo seria algo significante para o indivíduo, como a linguagem falada e a escrita.

Vygotsky considerava que a aprendizagem é constituída de dois aspectos fundamentais: a linguagem e o pensamento. Segundo ele, os autores que pesquisavam o assunto tratavam esses dois aspectos separadamente: ou concentravam os seus estudos no pensamento ou então na linguagem – o que fazia com que se tivesse acesso sempre a um único aspecto da totalidade, consequentemente a realidade era conhecida apenas de forma deturpada.

O método de pesquisa de Vygotsky tinha como base central a escolha de um objeto de estudo que correspondesse ao elo de ligação entre o pensamento e a linguagem. Esse elo, segundo o autor russo, é o significado. Cada objeto corresponde a um significado histórico e socialmente construído.

 - As potencialidades do indivíduo devem ser levadas em conta durante o processo de ensino-aprendizagem;

- O sujeito é não apenas ativo, mas interativo, pois forma conhecimentos e constitui-se a partir de relações intra e interpessoais;

Para Piaget, a construção do conhecimento se dá através da interação da experiência sensorial e da razão;

- A interação com o meio (pessoas e objetos) são necessários para o desenvolvimento do indivíduo;

- Enfatiza o processo de cognição à medida que o ser se situa no mundo e atribui significados à realidade em que se encontra;

- Preocupa-se com o processo de compreensão, transformação, armazenamento e uso da informação envolvida na cognição.

O aspecto central da teoria de equilibração de Piaget é o fato das diversas ideias, concepções, conceitos ou modelos na mente estarem organizados hierarquicamente. A mudança ao longo do tempo da estrutura obedece a certos processos, tais como as regulações e compensações.

A estrutura cognitiva se forma devido à interação do sujeito com o meio. Ao receber uma informação do meio, esta se incorpora à estrutura cognitiva. Este processo se dá mediante duas etapas: A assimilação e a acomodação. Contudo, a analogia entre a estrutura cognitiva e um quebra-cabeças não é muito boa devido a uma característica básica da primeira: Ela é dinâmica. Ou seja, muda continuamente com o tempo. Dentro dos processos dinâmicos sofridos pela estrutura cognitiva, existe um outro processo fundamental, de acordo com a teoria de Piaget, que é constituído pelas regulações.

Contudo, o desenvolvimento das estruturas cognitivas não é um processo trivial, que ocorre com toda a facilidade. Como ocorre com as estruturas complexas em geral, ela apresenta uma certa resistência a mudanças. Piaget interpretava tal resistência em termos de que a estrutura apresenta uma certa estabilidade (o equilíbrio), da mesma forma que uma molécula orgânica tem uma certa configuração de equilíbrio. Retirar um átomo da molécula requer energia. Da mesma forma, a alteração da estrutura cognitiva requer a realização de um trabalho. Na terminologia de Piaget, tal trabalho seria o processo de desequilibração. Para Piaget, para rompermos tal resistência, devemos promover um desequilíbrio, ou seja, o professor deve apresentar aos alunos eventos que contradizem suas crenças, como, por exemplo, mostrar para uma criança que dois recipientes com formatos diferentes podem ter o mesmo volume, derramando um líquido de um recipiente para outro.

ENFOQUE HUMANÍSTICO

Nas décadas de 70 e 80, dois movimentos importantes surgem dentre as teorias de aprendizagem: O humanismo, considerado uma das três filosofias que englobam as teorias, e a Aprendizagem Significativa, que pode ser considerada como uma corrente dentro da filosofia do cognitivismo. Ambos os movimentos são inovadores no sentido de virem a introduzir elementos absolutamente inéditos à educação.

O Humanismo se assenta principalmente (e quase que exclusivamente, até então) no trabalho do psicólogo norte-americano Carl Rogers, embora George Kelly já havia introduzido certos conceitos com alguma tendência ao humanismo.

A Aprendizagem Significativa é inaugurada, enquanto movimento, por David Ausubel, o criador da teoria básica que a fundamenta. A teoria da Aprendizagem Significativa teve continuidade na obra de Novak e Gowin.

 A ideia que norteia esta teoria está baseada no princípio do ensino centrado no aluno. Este possui liberdade para aprender, e o crescimento pessoal é valorizado. O pensamento, sentimentos e ações estão integrados. O autor humanista mais conhecido é Rogers. A teoria humanista:

-  Vê o ser que aprende primordialmente como pessoa;

- Valoriza a autorrealização e o crescimento pessoal;

- Vê o indivíduo como fonte de seus atos e livre para fazer escolhas;

- A aprendizagem não se limita a um aumento de conhecimentos, ela influi nas escolhas e atitudes do aprendiz;

- O aprendiz é visto como sujeito, e a autorrealização é enfatizada.

Para Carl Rogers, existem basicamente dois tipos de educação, um autoritário e diretivo, centrado no mestre e outro, democrático e não diretivo, centrado no aluno.

O cerne da teoria de Rogers é a crença de que a pessoa é capaz de promover seu próprio crescimento, uma vez que tem tendência para desenvolver-se, autodirigir-se, reajustar-se e essa tendência deve ser liberada não diretivamente (Moreira, 1999).

O clima emocional da sala de aula depende do relacionamento entre professor e aluno e pode favorecer ou comprometer a aprendizagem, pode ser positivo quando entre ambos há afetuosidade e cordialidade. Assim o aluno se sente seguro, não teme possíveis críticas e até mesmo censuras por parte do professor. Por outro lado, pode ser que este clima seja a tal ponto negativo, permeado de hostilidade e antagonismo, que o aluno passa a temer críticas e censuras.

Na educação não diretiva, cabe ao professor facilitar o autoconhecimento do aluno, criando condições para que ele opte por seu caminho. O professor adota uma postura de facilitador, cujas atitudes estão centradas na pessoa do aluno.

Professores influenciados por esta teoria perceberam a influência decisiva que exercem no clima emocional da aprendizagem.


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