quarta-feira, 8 de fevereiro de 2023

A presidência de Jânio Quadros (1961)

Jânio Quadros foi eleito com a maior votação obtida, até então, por um político brasileiro. No entanto, só fez descontentar seus eleitores, nos poucos meses em que ocupou a Presidência.

Tomando posse em janeiro de 1961, Jânio passou a governar um país marcado por uma grave crise financeira: intensa inflação E déficit na balança de pagamentos, acompanhando do consequente acúmulo da dívida externa. Para enfrentar esses problemas, criou uma política anti-inflacionária, restringindo os créditos, congelando os salários e incentivando as importações. Com essa diretriz, terminou por sofrer oposição de praticamente todos os setores sociais.

Jânio ao assumir o governo tem um compromisso de realizar as reformas preteridas pela UDN, porém a questão da sua personalidade vai interferir no seu governo. As medidas ao invés de terem preocupações de reorganizar o país, passam apenas por um processo de moralismo. Ele começa o seu governo proibindo o uso de biquíni nas praias, proíbe a briga de galo e o lança perfume no carnaval.   

O "estilo" de Jânio de governar

Político com rápida e brilhante carreira em São Paulo, apresentou-se para a eleição com força enorme (A vassoura contra a corrupção) tendo atraído votos de todo tipo de eleitor.

Durante a campanha, Jânio conseguiu conquistar uma legião de admiradores com um discurso populista e marcadamente moralista. Apresentava-se como o "homem do tostão contra o milhão" que iria "sanear" a nação. O seu símbolo preferido era a vassoura e o jingle "Varre, varre vassourinha/ Varre, varre a bandalheira/ O povo já está cansado/ De viver dessa maneira". Em outubro de 1960, Jânio recebeu uma das mais expressivas votações da história: teve 48% dos votos (6 milhões de votos). 

Todavia, apesar da "excentricidade" aparente, Jânio era um político bastante conservador e autoritário. Desde o início, procurou controlar os sindicatos, não hesitou em reprimir os protestos camponeses do Nordeste, mandou prender estudantes rebeldes, adotou uma política de austeridade e acreditou poder corrigir os vícios da administração pública reprimindo a corrupção.

Os analistas políticos consideram Jânio Quadros uma figura política difícil de ser definida. Ele não era de direita nem de esquerda. Por outro lado, era contrário ao comunismo e queria manter o país aberto ao capital estrangeiro, além de seguir a política econômica ditada pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). Mas, ao mesmo tempo, em plena Guerra Fria, defendeu uma política externa independente das pressões das grandes potências e enviou ao congresso uma lei antitruste e outra de regulamentação e restrição do envio de lucros para o exterior.

A repressão aos movimentos camponeses, aos movimentos de estudantes e o controle dos sindicatos, demonstra toda a forma conservadora e autoritária do Presidente no plano interno. Apesar de sua estreita concepção política no plano interno, Jânio curiosamente declarou-se favorável a uma política externa independente, colocando-a em prática. Reatou as relações diplomáticas e comerciais com o bloco comunista, o que desagradou profundamente ao governo norte-americano.

Entretanto, os problemas que Jânio tinha a resolver eram muitos e difíceis. Em primeiro lugar, a pesada herança das contas legadas por Juscelino, referentes à construção de Brasília. De outro lado, não se mostrava capaz de superar a crise financeira, pois a sua política de austeridade era constituída de medidas impopulares, como congelamento dos salários, restrição ao crédito, corte de subsídios federais, desvalorização do cruzeiro. Com isso, as inquietações empresariais e operárias não tardaram a aparecer.


Jânio Quadros 
O fator mais positivo do governo, foi uma política externa independente, em uma linha próxima do bloco não alinhado formado por vários países do Terceiro Mundo. O ministro das Relações Exteriores de seu governo, Afonso Arinos, procurou estabelecer uma política externa independente dos Estados Unidos. Buscou um relacionamento mais intenso com os países socialistas, com o intuito de ampliar o mercado consumidor externo de nossos produtos. Assim, foram restabelecidas as relações diplomáticas com a União Soviética e o bloco comunista. Enviou o vice-presidente à China, e condecorou com a ordem do Cruzeiro do Sul um dos líderes da revolução cubana, Ernesto “Che” Guevara. Essas atitudes preocuparam tanto os representantes norte-americanos quanto a classe dominante brasileira e acirraram as correntes de oposição a seu governo.
Um dos mais veementes opositores de Jânio Quadros, o então governador do estado da Guanabara, Carlos Lacerda, acusou o presidente de estar preparando um golpe de Estado. Sem apoio dos setores de direita ou de esquerda, desacreditado entre as massas populares. Jânio Quadros acabou por renunciar sete meses após o início de seu mandato, afirmando estar sendo pressionado por “forças terríveis”. Contrariamente às suas expectativas, nenhum setor da sociedade tentou convencê-lo a permanecer no cargo. Sua renúncia foi aceita, e o Congresso declarou vaga a Presidência da RepúblicaSua renúncia gerou uma crise política, uma vez que o vice-presidente com João Goulart, encontrava-se fora do país, tendo o poder passado ao presidente da câmara dos Deputados, Ranieri Mazzilli.
Em consequência, formaram-se duas correntes políticas: uma contrária à posse de João Goulart, encabeçada pela UDN e expressando-se através de Carlos Lacerda, a qual temia as ligações do vice-presidente com os sindicatos e era contrária à sua linha nacionalista e reformista; a outra corrente defendia a manutenção da legalidade, o cumprimento da Constituição, apoiando Goulart. O exército dividiu-se entre essas duas correntes, mas a firme atuação do general Machado Lopes, comandante do III Exército, foi decisiva para garantir a posse de João Goulart.

Fonte: Luís César Amad Costa; Leonel Itaussu Mello – História de Brasil; Editora Scipione.

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