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O governo Médici (1969-1974)

Durante o governo Médici o país passaria pelo período mais repressivo de todos os governos militares. Sob sua direção, o Estado iria tornar permanente o terror contra a sociedade por meio de uma rede de órgãos repressivos. Além do SNI e dos Departamentos de Ordem Política e Social (Dops) nos estados, existia agora o DOI-CODI (Destacamento de Operações Internas e Centro de Operações de Defesa Interna), cujos integrantes eram especialmente treinados em técnicas de combate à guerrilha urbana.
general Emílio Garrastazu Médici
Formado pelos serviços de informações do Exército, Marinha e Aeronáutica, o DOI-CODI incluía também agentes da Polícia Federal e dos Dops estaduais. Sua principal especialidade consistia em arrancar confissões dos prisioneiros por meio de sessões contínuas de tortura que, muitas vezes, terminava com a morte da pessoa torturada.
Os atos terroristas – como sequestros de pessoas e aviões, assalto a bancos etc. – atingiram o auge; no centro do país, na região do Araguaia, organizou-se a guerrilha que pretendia derrubar o governo a força. O AI-5 continuaria sendo utilizado e nenhuma medida abrandaria a ditadura plena imposta após sua decretação.
Assim, enquanto sufocava a oposição e esmagava a guerrilha urbana, o governo Médici promovia o crescimento do país. Era o Chamado milagre econômico ou "milagre brasileiro", que criou um clima de euforia e otimismo em torno do Brasil potência. Com a vitória da seleção brasileira de futebol na Copa do Mundo de 1970, o clima de euforia chegou ao auge.
Já no início de 1970, muitos jornais e outros meios de comunicação sofreram censura prévia. Os DOI-CODI conquistavam autonomia e, em pouco tempo, liquidaram grupos terroristas de extrema exquerda. Avançaram, também, contra outros setores da sociedade, criando um clima de temor e insegurança entre todos aqueles que ousavam buscar formas de repúdio à situação. Grande número de intelectuais e artistas procurou exílio em outros países.
Por outro lado, o modelo econômico adotado gerou um rápido crescimento que entre 1969 e 1973 atingiu taxas entre 7% e 13% ao ano. Os meios de comunicação e a propaganda proclamavam a existência de um “milagre brasileiro” e o empresariado estrangeiro e nacional demonstrava euforia. A classe média encontrava variadas oportunidades de emprego com o crescimento da atividade das multinacionais no país, além de ter seu padrão de consumo aumentado a níveis de sofisticação até então desconhecidos, graças à expansão do crédito ao consumidor.
Beneficiada economicamente, a classe média, no geral, passou a legitimar o governo ou, ao menos, a se omitir da atividade política. Em novembro de 1970, a ARENA foi vitoriosa nas eleições. Entretanto, os votos nulos e brancos, incentivados por um setor da oposição, alcançaram 30%. Na década de 1970, como da polarização política em que vivia o país, alardeava-se o slogan governamental “Brasil, ame-o ou deixe-o”. estimulava-se o ufanismo, reforçado pelo tricampeonato mundial de futebol, ganho pelo Brasil em 1970.
Nesse período são iniciadas obras monumentais, algumas das quais jamais seriam concluídas, como é o caso Transamazônica. Outras obras do período: hidrelétrica de Ilha Solteira, ponte Rio-Niterói.
Apesar da modernização e do crescimento econômico acelerados, muitas camadas da população não se beneficiaram com o “milagre econômico”. A estes setores os economistas governamentais, representados pelo ministro Delfim Neto, afirmavam: “É preciso primeiro fazer crescer o bolo, para depois dividi-lo”. 
Em relação aos assalariados, a política da ditadura consistiu em arrochar os salários, principalmente dos trabalhadores não especializados ou de baixa qualificação (pedreiros, peões de fábricas, etc.), justamente aqueles que ganhavam menos. Assim, o salário mínimo, por exemplo, perdeu mais de 60% de seu poder aquisitivo entre 1959 e 1953.
Em contrapartida, a partir de 1968 aumentou a remuneração dos trabalhadores qualificado (técnicos e profissionais de nível superior). Essa política permitiu que os trabalhadores qualificados fossem incorporados ao mercado de bens duráveis: com as facilidades das vendas a crédito, muitos deles podiam ter sua "casa própria", comprar televisores, máquinas de lavar e - supremo orgulho! ter um carro.
Ao lado dessa diferença entre trabalhadores qualificados e não qualificados, a distribuição de renda se tornou ainda mais desigual do que já era. Os ricos ficaram mais ricos e os pobres, mais pobres.
Como resultado dessa política, vejamos alguns dados socioeconômicos do período: em 1964, morriam 70 crianças a cada mil que nasciam; em 1979, a taxa aumentou para 92 por 1 000. No ano de 1972, dos 3 950 municípios brasileiros, apenas 2 638 possuíam abastecimento de água. 
Em 1970, em pleno "milagre", havia 2 milhões de menores abandonados nas ruas das cidades brasileiras. O Banco Mundial afirmava, em 1975, que 70 milhões dos brasileiros eram desnutridos.

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