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O governo do marechal Castelo Branco (1964-1967)

Com a deposição de Jango, o poder passou para as mãos de uma Junta Militar, formada por três altos comandantes das Forças Armadas. No dia 9 de abril, a Junta Militar decretou o Ato Institucional nº1 (AI-1), que suprimiu os direitos políticos de 100 pessoas e os mandatos de dezenas de parlamentares. Centenas de pessoas foram presas. centena de outras foram para o exílio.
Mesmo após atribuí a si mesmos poderes excepcionais, os militares brasileiros procuraram legitimar suas atitudes, referendando parte de suas medidas através do poder Legislativo, ao contrário do ocorrido em outros países latino-americanos. Assim, no dia 11 de abril, após algumas articulações políticas, o Congresso Nacional aprovou, com 361 votos, o nome do marechal Castelo Branco, indicado pelo comando da revolução para a presidência da república. Houve abstenção de 72 parlamentares e ausência de 37 deles.

Marechal Castelo Branco
Mas a face mais dura do regime militar consistiu na instalação de inquéritos contra opositores. Na investigação desses inquéritos, prisões e torturas tornaram-se práticas comuns. Os principais alvos da repressão efetuada pelos militares eram os estudantes, os líderes das Ligas Camponesas e os dirigentes dos sindicatos.
A ação contra elementos vinculados ao governo deposto gerou, até 1967, 3 535 atos punitivos, tendo sido fechadas entidades estudantis e da sociedade civil. As greves foram proibidas e realizaram-se intervenções em 425 sindicatos trabalhistas. Os Inquéritos Policiais Militares se sucediam, visando punir e atemorizar os oposicionistas. Ainda em 1964, foi criado o Serviço Nacional de Informações (SNI). Mesmo diante do clima repressivo, entretanto, continuavam ocorrendo manifestações de oposição. 
Em outubro de 1965, realizaram-se eleições para governador em onze estados. em cinco deles, o governo foi derrotado pela oposição. Descontentes com o resultado, o general Costa e Silva e outros militares da linha dura pressionaram Castelo Branco e este, em outubro de 1965, Castelo Branco assinou o Ato Institucional nº 2 (AI-2) que ampliava o controle sobre o legislativo, alterava o funcionamento do Judiciário, extinguia todos os partidos políticos e estabelecia eleições indiretas para presidente da República, criando o bipartidarismo. Surgiram daí a Aliança Renovadora Nacional (ARENA), Partido da situação, ou seja, que daria sustentação política ao governo, e o Movimento Democrático (MDB, partido de oposição.
Em fevereiro de 1966, Castelo Branco cedeu mais uma vez à linha dura e promulgou o Ato Institucional nº 3. O novo dispositivo estabelecia eleições indiretas para governador e determinava que os prefeitos das capitais fossem nomeados pelos governadores.
Esse rumo tomado pelos acontecimentos provocou insatisfação entre muitos políticos que haviam apoiado o golpe militar. Um desses políticos descontentes era Carlos Lacerda.
Lacerda queria ser presidente da República, mas os militares davam sinais de que não iam sair do poder tão cedo. Assim, Lacerda rompeu com o governo e, em novembro de 1966, criou a Frente Ampla, um movimento de oposição aos militares do qual também participavam os ex-presidentes Juscelino Kubitschek e João Goulart; este se encontrava exilado no Uruguai. A Frente Ampla lutava pelo restabelecimento da democracia no país.
A política econômica implantada pelo ministro do Planejamento, Roberto Campos, reduziu a inflação, mas causou recessão, ampliando o desemprego, diminuindo salários e levando à falência centenas de empresas nacionais. A política externa caracterizou-se pelo rompimento das relações com China e Cuba, pelo anticomunismo e pelo alinhamento com as posições norte-americanas, recebendo dos Estados Unidos substancial auxílio econômico. enviou tropas à República Dominicana, onde os norte-americanos sufocavam uma revolução popular.
Em termos econômicos, acredita-se que esse alinhamento em relação aos Estados Unidos favorecia o Brasil, pois o mercado norte-americano absorveria nossos produtos. Acontece que com a recessão mundial, os norte-americanos adotaram uma série de medidas protecionistas, o que provou que o tão decantado liberalismo da grande potência do Norte só é válido quando lhe favorece.

As medidas econômica

A equipe econômica do governo Castelo Branco, tendo à frente o Ministro do Planejamento Roberto Campos, através do Plano de Ação Econômica do Governo (PAEG), procurou combater a inflação (com compressão salarial) e escancarou as portas do país à entrada do capitalismo estrangeiro. A Lei de Remessas de Lucros, aprovada pelo Congresso Nacional em 1962, foi revogada.
Os reajustes do salário mínimo não acompanharam a alta do custo de vida. Em 1965, o salário real sofreu uma queda de 15,3%; em 1966 de 15,6%; e em 1967, de 5,6%.
Com a Lei de Greve, em 1964, quase todas as greves passaram a ser ilegais. Enquanto em 1962 haviam ocorrido 162; em 1963, 302; em 1965 o número de greves caiu para 25 e em 1966 para 15.
Com a criação do FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço) acabou a estabilidade do, aumentando a rotatividade da mão-de-obra. Foi criado o BNH (Banco Nacional da Habitação) que recebeu recursos do FGTS, pagando juros abaixo da inflação. O BNH, com dinheiro barato, passou a financiar moradias, só que ao invés de financiar habitações populares, acabou gastando somas fabulosas para financiar moradias de luxo, acessíveis a uma pequena parcela da população. Enquanto isso acontecia, o déficit habitacional aumentava.

O terror cultural

Vitorioso, o golpe começou a caçada aos progressistas. Para o Ministério da Educação e Cultura foi nomeado o ex-integralista Flávio Suplicy de Lacerda. A UNE (União Nacional dos Estudantes) foi fechada, professores considerados subversivos foram demitidos. Bibliotecas e livrarias eram vasculhadas com o confisco dos livros considerados esquerdistas.

Em fevereiro de 1967, pouco antes de deixar a presidência, Castelo Branco instituiu a Lei de Segurança Nacional e a Lei de Imprensa. A primeira obrigava todo cidadão brasileiro a zelar pela segurança do país - o que incluía até mesmo a delação de pessoas consideradas "subversivas". Visando a defesa da segurança nacional, estabelecia severas punições aos transgressores. A segunda aumentou o controle do governo sobre os meios de comunicação.

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