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O Governo Floriano Peixoto (1891/1894)

Formado na Escola Militar, foi o segundo presidente do Brasil (1891-1894), sendo considerado um dos consolidadores da República. A determinação com que debelou as sucessivas rebeliões que marcaram os primeiros anos da República valeram ao presidente Floriano Peixoto o cognome de "marechal de ferro".
Presidente Floriano Peixoto 
Ao que tudo indica, Floriano não participou das conspirações republicanas. O marechal Deodoro da Fonseca, no entanto, contava com sua solidariedade. E, de fato, na noite de 15 de novembro de 1889 Floriano se recusou a cumprir ordens do visconde de Ouro Preto para dispersar os corpos rebeldes reunidos no Campo de Santana. Em 1890, foi nomeado ministro da Guerra. Candidato a vice-presidente, elegeu-se pelo Congresso Constituinte em 25 de fevereiro de 1891.
Com a renúncia de Deodoro, em 23 de novembro, assumiu o poder. Seu primeiro ato foi destituir, com exceção de um, todos os governadores estaduais que haviam apoiado a dissolução do Congresso decretada por Deodoro. Em seguida, adotou medidas drásticas para combater os oposicionistas que exigiam novas eleições. A reivindicação baseava-se no artigo da constituição republicana que determinava a convocação de eleições em caso de vaga na presidência antes do decurso de dois anos de mandato. Em 6 de abril de 1892, 13 generais e almirantes assinaram um manifesto pela renúncia do governo. Floriano demitiu e reformou todos os signatários, em meio à agitação popular. Em 10 de abril as garantias constitucionais foram suspensas por 72 horas e o governo ordenou prisões e desterros em massa. Pressionado, o Congresso aprovou medida que legitimava o mandato presidencial até 15 de novembro de 1894 e Floriano decretou uma anistia geral.
As várias e graves crises políticas que agitaram a gestão do Marechal Floriano Peixoto na presidência devem ser entendidas no quadro político geral da consolidação das novas instituições republicanas. Esta consolidação foi obtida através da aplicação de um Executivo forte, da defesa de uma centralização autoritária e propiciando, por um lado, o apoio social necessário para a manutenção da República e, por outro, a ascensão da aristocracia cafeeira.
Os primeiros atos do novo governo, restabelecendo o Congresso Nacional e suspendendo o Estado de Sítio, receberam apoio generalizado. Porém, entre novembro de 1891 e março de 1892, procedeu-se à derrubada dos governadores estaduais que haviam apoiado o golpe de Deodoro, ou seja, todos menos Lauro Sodré, do Pará. Eles foram substituídos por partidários de Floriano, oriundos das próprias oligarquias estaduais ou por jovens militares.
Articulações políticas respaldavam as medidas que buscavam a legitimação da presidência. Os “republicanos históricos”, principalmente os paulistas, prestavam indispensável apoio a Floriano, e foram figuras exponenciais do poderoso Partido Republicano Paulista (PRP) que exerceram a presidência da Câmara Federal (Bernardino de Campos e do Senado (Prudente de Morais).
A derrubada dos governos estaduais deve ser entendida como uma busca de apoio dos setores sociais que, contrários ao governo anterior, não viam suas aspirações atendidas. Desta forma, atraiu o apoio das baixas camadas médias urbanas, especialmente as do Rio de Janeiro.
Desde a década dos oitenta, essas baixas camadas médias (empregados do comércio, funcionários públicos, artesãos e mesmo a incipiente classe operária) vinham expressando seu descontentamento através de movimentos de tipo urbano. Porém, esses protestos eram difusos e desorientados, sem uma efetiva direção política. Contando com a adesão de intelectuais e profissionais liberais, este setor social foi ativo divulgador do republicanismo.
A proclamação da República e o governo de Deodoro da Fonseca desapontaram o radicalismo pequeno-burguês expresso nessas baixas camadas médias. No entanto, este radicalismo foi perfeitamente incorporado por Floriano, de tal forma que o jacobinismo emprestou uma forte coloração popular ao regime, necessária para sua manutenção.
O comportamento dessa pequena burguesia radical era chamado “jacobino” devido a analogias formais com o comportamento revolucionário no discurso e na ação. O contexto histórico brasileiro não permitia a existência de tal movimento.
Várias medidas, nos planos social e econômico, foram tomadas pelo marechal para satisfazer às baixas camadas médias, melhorando suas condições de vida. Logo nos primeiros dias decretou a baixa nos aluguéis das casas operárias, interveio no mercado de carne, concedendo isenções de imposto sobre a carne à venda nos açougues, promovendo, assim, a queda dos preços.
Com Floriano Peixoto inicia-se um longo período de instabilidade. A classe senhorial oligárquica fora suficientemente forte para derrubar Rui Barbosa e Deodoro, mas não para evitar o jacobinismo florianista. Floriano atendeu interesse das baixas camadas sociais urbanas (empregados do comércio, funcionários públicos, consumidores em geral e o nascente operariado) do Rio de Janeiro. Isto deu ao governo Floriana um caráter popular e por isso ficou conhecido como República Jacobina (referência à Revolução Francesa).
Para a oligarquia cafeicultora interessava sobremaneira o fim do domínio militar. As bases do florianismo eram formadas pelos grupos de classe média que se movimentavam para resistir à pressão quase insuportável da oligarquia. O poder adquirido pelos militares era, para a oligarquia ligada à exportação, um obstáculo à criação de instrumentos de defesa da concentração de renda. A luta contra Floriano não foi uma tentativa de desmantelamento da República, e sim uma tentativa da oligarquia de despojar do poder os militares e voltar a utilizar o aparelho do Estado para a defesa de seus interesses.
Em fevereiro de 1893 eclodiu no Sul a revolução federalista. A tensão política era particularmente grave no Rio Grande do Sul, onde os partidários do líder republicano, Júlio de Castilhos, conhecidos por “pica-paus”, vinham perseguindo violentamente os oposicionistas pertencentes ao Partido Federalista e apelidados de “maragatos”.
A Revolução Federalista durou trinta e um meses e nela morreram dez mil soldados; componentes de grande selvageria contribuíram para tornar a revolta tristemente célebre. Concomitantemente à Revolução Federalista tivemos a ocorrência da Revolta da Armada que teve como suas causas: a rivalidade existente entre a Marinha e o Exército, derivada da origem de classes de seus oficiais. as articulações dos políticos antiflorianistas que viam na Marinha um importante instrumento para a derrubada do Marechal; as ambições políticas do Almirante Custódio de Melo, que aspirava à sucessão de Floriano e se viu preterido pelo lançamento da candidatura de Prudente de Morais.
Com a revolta da armada, no Rio de Janeiro. Os dois movimentos acabaram por se unir, com o objetivo de depor o "marechal de ferro" e restaurar a monarquia. Os oficiais monarquistas dominaram os navios de guerra e bombardearam a capital da república.
Floriano rejeitou a oferta de apoio naval estrangeiro na baía de Guanabara e rendeu os rebeldes com a chegada de uma nova esquadra, recém adquirida nos Estados Unidos e na Europa.
No Paraná e em Santa Catarina, foi implacável a repressão aos revoltosos, com centenas de fuzilamentos. A dupla rebelião (da Armada e Federalista) foi esmagada com energia pelo “marechal de ferro”. Floriano, contra a vontade dos seus partidários que queriam a sua permanência no poder, entregou o governo ao presidente eleito Prudente de Morais, membro da oligarquia cafeeira paulista.
Concluído o mandato, o marechal Floriano seguiu para uma estação de repouso em Cambuquira (MG), por recomendação médica. De lá, transferiu-se para Divisa (hoje Floriano), no município de Barra Mansa (RJ), onde morreu em 29 de junho de 1895.
Fonte: Fonte: Antônio Pedro / Lizânias de Lima; História do Brasil; FTD.
Barsa Planeta Internacional 

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