quarta-feira, 1 de janeiro de 2025

Geopolítica e os organismos internacionais

Após o fim da Segunda Guerra, ganhou força a ideia de se criar organismos internacionais capazes de mediar as relações entre os países e, assim, garantir a manutenção da paz mundial. Foi nesse cenário que, em 1945, 51 nações de todos os continentes fundaram a Organização das Nações Unidas (ONU). Hoje, 193 países fazem parte da ONU. As organizações internacionais se multiplicaram e se fortaleceram nas últimas décadas, ao mesmo tempo que o processo de globalização e a integração econômica global se intensificaram. Nesse contexto, tais organizações assumiram a missão de promover o ordenamento das relações internacionais, elaborar acordos entre as nações e regular seus cumprimentos. Buscam, assim, garantir a viabilização dos interesses coletivos e promover um entendimento em torno de demandas globais.

Atualmente, além da ONU, existem diversas organizações internacionais, entre elas a Organização Mundial do Comércio (OMC), o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial e a Organização Mundial da Saúde (OMS).

No contexto da pandemia da covid-19, a OMS assumiu um papel de destaque, atuando pela integração das políticas internacionais de combate à pandemia, pela regulamentação dos protocolos adotados pelos países e pela ampla vacinação em todo o mundo. Também esforçou-se em conter a disseminação de fake news e de informações imprecisas que pudessem comprometer a prevenção contra a doença.

Os blocos econômicos Outra característica da segunda metade do século XX foi a formação de blocos econômicos. O objetivo era assegurar melhor capacidade de negociação de cada nação e eliminar barreiras alfandegárias entre os membros de cada bloco. Dessa forma, os países de um bloco poderiam comerciar entre si sem cobrar impostos sobre as importações.

O mais antigo desses blocos começou a ser criado em 1957, com a formação da Comunidade Econômica Europeia (também chamada de Mercado Comum Europeu). Em 1992, depois de várias mudanças e ampliações, esse bloco passou a se chamar União Europeia (UE). Atualmente, a UE reúne 27 Estados-membros, principalmente na Europa Ocidental. Dezenove deles adotam a mesma moeda, o euro.

Outros blocos se formaram nos anos 1990, entre eles o Acordo de Livre-Comércio da América do Norte (Nafta, na sigla em inglês), formado por Estados Unidos, Canadá e México; e o Mercado Comum do Sul (Mercosul), que reúne Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai. Em 2021, entrou em vigor um novo bloco formado por 54 dos 55 países africanos, a Zona de Livre Comércio Continental Africana (AfCFTA, na sigla em inglês).
Nos últimos anos, os blocos econômicos começaram a ser avaliados de maneira negativa por grupos nacionalistas. Movimentos de extrema direita afirmam que esses blocos são prejudiciais para as economias nacionais, e defendem que os países endureçam as barreiras alfandegárias e abandonem os acordos de livre circulação. Além disso, apoiam medidas anti-imigração, estimulando, inclusive, a expulsão de imigrantes de certos países. Um dos principais desdobramentos desse movimento contrário aos blocos econômicos deu-se em 2016, quando 52% dos eleitores britânicos decidiram que o Reino Unido deixasse a União Europeia. A saída, votada em plebiscito, se concretizou em 2020. Esse movimento ficou conhecido como Brexit, termo em inglês que combina as palavras Britain, que significa “Bretanha”, e exit, que significa “saída”.

O consumismo: o planeta ameaçado

No mundo globalizado, é cada vez maior o estímulo ao consumo. A ideologia dominante incentiva a substituição constante de produtos por outros mais avançados tecnologicamente. Adquirir produtos que acabaram de sair das fábricas ou que foram divulgados por determinado artista ou influencer tornou-se o objetivo de vida de muitas pessoas. Nessa toada, boa parte das mercadorias que as pessoas consomem se torna descartável após pouco tempo de uso. Segundo alguns especialistas, o consumismo tem se revelado um problema sério e de graves consequências para as sociedades contemporâneas, especialmente aquelas de maior poder aquisitivo. Seduzidas e embaladas pelo consumismo, algumas pessoas tendem a substituir as relações afetivas (familiares e de amizade) pela compra compulsiva.

Esse tipo de comportamento está atrelado à ansiedade e à depressão, e pode levar ao endividamento. Com o descarte cada vez maior e mais rápido dos produtos, o acúmulo de lixo, principalmente de produtos tecnológicos, tornou-se outro sério problema para o planeta. Muitos produtos (como o plástico) levam séculos para se desfazer na natureza e vários têm componentes que poluem o solo, levando substâncias tóxicas para as plantações e para os lençóis freáticos que abastecem as populações.

Estudiosos do tema afirmam que o planeta não tem condições de continuar a fornecer os recursos necessários a esse consumo desenfreado e corre o risco de entrar em colapso. Portanto, é preciso repensar urgentemente a relação com o consumo e desenvolver formas mais sustentáveis de suprir nossas necessidades cotidianas, considerando sobretudo o manejo equilibrado dos recursos naturais.

A globalização e a cultura

A globalização tem também transformado o campo cultural. As trocas culturais entre sociedades tão distintas vêm promovendo um processo que alguns sociólogos chamam de transculturação, isto é, quando traços culturais de uma sociedade passam a fazer parte de outra. Assim, elementos culturais de sociedades ocidentais, por exemplo, passam a ser observados em sociedades orientais, africanas ou indígenas. Porém, essas trocas culturais nem sempre acontecem de forma igual.

Os países com maior poder econômico disseminam seus valores, suas ideias e seus costumes de forma muito mais intensa e abrangente que os demais países. Pense, por exemplo, no grande poder de distribuição da indústria cinematográfica estadunidense. Um filme produzido nos estúdios de Hollywood pode ser lançado simultaneamente nos cinco continentes, alcançando um público de milhões de pessoas. O mesmo não ocorre com produções de outras nações que, muitas vezes, mal ultrapassam as fronteiras de seu país de origem.

A internet e as plataformas de streaming de música e de filmes também desempenham importante papel nesse processo, contribuindo para a disseminação de determinados produtos em detrimento de outros, impulsionando uma homogeneização cultural. E isso também pode ser observado em outros hábitos culturais, como na alimentação. Pense no caso das redes de fast-food: um sanduíche comprado em uma lanchonete tipo fast-food em Nova York será bem semelhante a outro sanduíche adquirido em Londres, Tóquio ou Salvador, por exemplo. A globalização e a homogeneização culturais, contudo, não implicam o fim das culturas locais.

A internet, um dos principais símbolos do mundo globalizado, tem sido usada por muitos povos tradicionais para a preservação e a difusão de seus valores culturais. Por isso, estudiosos afirmam que, ao mesmo tempo que vivemos um processo de homogeneização cultural, também atravessamos um processo de heterogeneização cultural, pois a humanidade nunca pôde travar contato com povos e culturas tão diversos quanto agora.

A GLOBALIZAÇÃO

Uma das características marcantes do mundo atual é a aceleração das comunicações e dos transportes. Informações, produtos industriais e culturais (estilos de vida, músicas, filmes ou apresentações de artistas transmitidas ao vivo), e mobilizações sociais (em torno de causas como o feminismo e o antirracismo, por exemplo) chegam rapidamente a quase todos os lugares do mundo. Atualmente, quase todos os países estão profundamente ligados. As fronteiras que separavam as economias e as culturas dos diversos povos tornaram-se praticamente inexistentes. Esse processo é conhecido como globalização. Na economia, ele tornou possível encontrar fontes de matérias-primas mais acessíveis em qualquer lugar do mundo, transportar essas matérias-primas de um lugar para outro e fabricar produtos cada vez mais sofisticados em pouco tempo.

Na sociedade, ele tem expandido a chamada cultura de massa, como estudaremos mais adiante. Assim, com a globalização, tornou-se possível o desenvolvimento de uma economia transnacional. A sede de uma empresa transnacional, por exemplo, pode estar em um país que oferece benefícios fiscais (como isenção de impostos), enquanto a equipe que projeta seus produtos pode localizar-se em outro país, geralmente em centros de inovação e alta tecnologia. A matéria-prima utilizada por essa empresa, por sua vez, é extraída em países economicamente pobres, onde é mais barata.

Às vezes, os componentes de um único produto são fabricados em países diferentes e, depois, reunidos para serem montados em fábricas instaladas em regiões pobres, onde os salários são mais baixos. Por fim, a venda do produto ao consumidor final pode ser feita em lugares do mundo que ofereçam margens de lucro mais atraentes para a empresa transnacional. Essa oferta muitas vezes tem abrangência global, o que faz com que consumidores de lados opostos do globo tenham acesso às mesmas mercadorias.

A NOVA ORDEM MUNDIAL

Em 1991, com a queda da maior parte dos regimes comunistas do planeta e a desintegração da União Soviética, a divisão do mundo em dois blocos opostos – um dos marcos do século XX – chegou ao fim. Essa nova configuração provocou uma importante reorganização das relações internacionais em um processo marcado por rupturas e permanências. De um lado, novas formas de organização de blocos de países ganharam força, especialmente os chamados blocos econômicos. Por outro lado, o fim das disputas entre os Estados Unidos e a União Soviética não afastou o perigo de um conflito nuclear. Atualmente, muitos países produzem armas nucleares, como a bomba atômica. Isso representa um sério perigo para a paz mundial, pois entre alguns desses países há rivalidades e disputas que podem levar a uma nova guerra. Ao mesmo tempo, Estados Unidos e China, as duas maiores potências econômicas da atualidade, vivem um período de rivalidade. De acordo com analistas internacionais, o principal motivo é a disputa sobre quem assumirá o protagonismo da economia global nas próximas décadas. Segundo essas análises, o governo estadunidense teme que a China ocupe um papel de liderança em muitas áreas, principalmente a tecnológica, onde o país asiático vem apresentando grande desenvolvimento nos últimos tempos. Aliada a essa situação, a Rússia, detentora de grande arsenal nuclear, busca exercer supremacia na região da antiga URSS. Tudo isso evidencia as permanências históricas do contexto da Guerra Fria nas relações internacionais na passagem do século XX para o XXI. Entretanto, não restam dúvidas de que o ano de 1991 marcou o fim de certas características do mundo contemporâneo e o começo de novos processos históricos.

O fim da Guerra Fria

Com o clima de liberdade, as manifestações contrárias ao regime intensificaram-se na União Soviética. Diante dessas manifestações, em 1991, alguns militares e dirigentes comunistas que não concordavam com as mudanças tentaram dar um golpe de Estado a fim de afastar Gorbachev do poder, barrar as mudanças e fazer o país retornar a um regime autoritário. Entretanto, o golpe não recebeu apoio de parte da população e foi rapidamente derrotado. Gorbachev manteve-se no poder, e o processo de mudanças prosseguiu. Mas a estrutura do Estado soviético era tão rígida que não suportou essa política de reformas. Assim, no fim de 1991, Gorbachev renunciou à presidência, e foi declarado o fim da União Soviética. A URSS desintegrou-se com a independência das repúblicas que formavam o país. A grande diversidade étnica do imenso território da URSS contribuiria para o surgimento de lutas de caráter nacionalista e separatista, algumas das quais permanecem até hoje. Um dos países criados nesse processo é a Federação Russa (mais comumente chamada de Rússia), que reúne algumas repúblicas e regiões autônomas da extinta União Soviética, e mantém grande parte do antigo território soviético. A desintegração da União Soviética significou também o fim da Guerra Fria.

A DESINTEGRAÇÃO DA URSS

A União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) chegou aos anos 1980 como a maior nação do mundo. Mas, diferentemente de outros países, a URSS era uma reunião de 15 diferentes repúblicas, onde viviam cerca de 270 milhões de pessoas de grupos étnicos distintos. Seu governo era composto de dirigentes do Partido Comunista, o único partido autorizado a funcionar no país, cabendo a ele controlar toda a produção industrial e a agrícola. O governo soviético assegurava à população recursos básicos como assistência à saúde e à educação básica, mas atravessava crises políticas e econômicas sucessivas. Como destinava a maior parte do orçamento para as Forças Armadas, a população da URSS carecia de artigos de primeira necessidade, como roupas, alimentos ou eletrodomésticos. Essa situação estimulou a formação de um mercado paralelo, no qual era possível adquirir produtos contrabandeados a preços muito altos. Isso incitava o descontentamento da população com o regime comunista, além de dificultar ainda mais a expansão econômica do país.

Do ponto de vista político, as relações da URSS com os chamados países satélites eram tensas, principalmente a relação com a Polônia. Ali, no começo dos anos 1980, ganhou força um movimento sindical independente que fazia críticas ao comunismo e à repressão do governo soviético. Além disso, a URSS sofria frequentes sanções da comunidade internacional. Os Jogos Olímpicos de 1980, ocorridos em Moscou, foram marcados pelo boicote dos Estados Unidos e de parte de seus aliados, que se recusaram a enviar atletas à competição. Todas essas dificuldades obrigaram o governo soviético a adotar medidas reformistas e iniciar uma abertura política e econômica. Essas mudanças ganharam força a partir de 1985, quando Mikhail Gorbachev (1931-2022) assumiu a liderança da União Soviética.

A perestroika e a glasnost O governo de Gorbachev propôs um conjunto de reformas para modificar as estruturas políticas e econômicas do país. Essas medidas se baseavam em dois princípios: a perestroika (que significa ”reconstrução”) e a glasnost (”transparência”). Com a perestroika, Gorbachev buscava acabar com os monopólios estatais; autorizar o investimento privado e a entrada de empresas estrangeiras no país; e garantir a liberdade dos empresários na economia.

O objetivo era aumentar a produtividade da economia soviética, além de combater a corrupção de funcionários do governo. Ao mesmo tempo, promoveu cortes nos gastos militares e retirou as tropas soviéticas do Afeganistão, país que ocupara em 1979. A proposta da glasnost era garantir a abertura política no país, acabar com a perseguição aos opositores do regime, libertar os presos políticos, abolir a censura e possibilitar a criação de novos partidos. Com essas medidas, permitiram-se a liberdade de imprensa e a livre circulação de livros e jornais. O desejo de se libertar do domínio da URSS fez com que manifestações contrárias ao regime comunista se tornassem cada vez mais constantes no Leste Europeu, no bloco de nações influenciadas pela União Soviética.

Entre 1988 e 1990, um após o outro, esses países conseguiram romper com o regime comunista. Em geral, o processo de abertura foi pacífico. Seu marco principal foi a queda do muro de Berlim, em 1989. No ano seguinte, a Alemanha, dividida em dois países desde o fim da Segunda Guerra Mundial, se reunificou sob o sistema capitalista. Um dos poucos regimes comunistas que caíram de forma violenta foi o da Romênia, onde, em dezembro de 1989, a população prendeu e executou o ditador Nicolae Ceausescu.

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