O território A história da China tem cerca de 5 mil anos. Há mais de 2 mil anos, o Império Chinês já apresentava 55 milhões de habitantes. Hoje mais de 1,3 bilhão de pessoas vivem na China, e há uma numerosa comunidade chinesa espalhada por todo o mundo. Com uma superfície de 9.596.960 km2 , a China é o terceiro país mais extenso do globo, superado apenas pela Rússia e pelo Canadá. É formada por cinco grandes regiões geográficas: Sinkiang, Mongólia Interior, Tibete, Manchúria e China do leste.
O povo chinês construiu duas obras monumentais: o Canal Imperial, ou Grande Canal, e a Grande Muralha. O canal foi escavado para ligar a região norte aos arrozais do vale do rio Yang-tse. Sua construção, iniciada no século V a.C., só foi concluída no século XIII da era atual. A Grande Muralha, com mais de 6 mil quilômetros de extensão, começou a ser construída no século III a.C., para impedir a entrada de invasores nômades do norte.
A República Popular da China No início do século XX (1911-1912), chegou ao fim o império mais antigo do mundo, ao se estabelecer a República da China. O Partido Nacionalista (Kuo-Min-Tang) conquistou o poder com a proposta de eliminar o domínio estrangeiro e modernizar o país. Entretanto, não conseguiu impor a independência da China diante das grandes potências imperialistas nem unificar todas as regiões chinesas. Na década de 1920, o Partido Comunista da China foi criado em oposição ao Kuo-Min-Tang.
Em 1945, com a derrota do Japão e o fim da Segunda Guerra Mundial, os dois partidos se enfrentaram, desencadeando uma guerra civil. Em 1949, o exército camponês do Partido Comunista venceu os nacionalistas e fundou a República Popular da China. As forças lideradas por Chiang Kai-shek procuraram refúgio na Ilha de Formosa (Taiwan), onde fundaram a China Nacionalista. No período de 1949 a 1976, a China foi governada por Mao Tsé-tung. No início, entre 1953 a 1957, contou com a ajuda da União Soviética e elaborou um plano econômico que deu prioridade ao desenvolvimento da indústria de base. Em 1958, a China rompeu com a URSS. A orientação econômica dos técnicos soviéticos não se adaptou às particularidades da sociedade e da economia chinesas: um país populoso e essencialmente agrário. O estímulo às atividades agropecuárias era essencial à alimentação de milhões de pessoas famintas. O governo de Mao Tsé-tung criou diversas cooperativas agrícolas e, posteriormente, formou as comunas populares, unidades administrativas praticamente autossuficientes na produção de mercadorias (agrícolas e industriais) e em outras atividades básicas, como educação e saúde, que produziam também determinadas cotas destinadas ao Estado.
A Revolução Cultural
De 1966 até a morte de Mao Tsé-tung, em 1976, com o pretexto de moralizar a administração, acabar com os privilégios e incorporar os verdadeiros ideais comunistas na sociedade, o governo chinês promoveu uma cruel perseguição política e cultural ao povo chinês. Essa fase ficou conhecida como Revolução Cultural. Os artistas só podiam realizar obras que exaltassem a revolução; livros, filmes e músicas ocidentais foram proibidos; intelectuais, professores e estudantes universitários eram obrigados a contribuir com alguns anos de trabalho no campo ou nas indústrias estatais. Muitos jovens foram engajados nas Guardas Vermelhas, que tinham como meta fiscalizar o comportamento das pessoas diante dos valores da nova sociedade que se formava. As perseguições atingiram até mesmo o Partido Comunista, com a expulsão e a prisão de muitos dos membros que não apoiavam o radicalismo imposto pela Revolução Cultural à sociedade chinesa.
A China de Deng Xiaoping
Em 1978, dois anos após a morte de Mao Tsé-tung, Deng Xiaoping assumiu a liderança do Partido Comunista Chinês e deu início a uma série de modificações na economia do país. Visando acelerar o desenvolvimento, o governo implementou um programa denominado Quatro Modernizações. Logo no primeiro ano de seu governo, Deng Xiaoping promoveu o processo de descomunalização (extinção das comunas), com o estímulo às pequenas propriedades agrárias (propriedades particulares) e às pequenas cooperativas que se formaram entre elas. A partir de 1980, a China promoveu uma série de reformas que permitiram a entrada de capital estrangeiro, admitiu o lucro como incentivo ao trabalho e ao desenvolvimento, abriu relações comerciais com praticamente todos os países do mundo e realizou acordos de cooperação técnica e científica.
Mudanças econômicas e espaciais
No início dos anos 1980, foram criadas, em alguns pontos do território chinês, as Zonas Econômicas Especiais (ZEEs), que funcionam pelas leis da economia de mercado, nos moldes capitalistas. Posteriormente (na década de 1990), esse modelo econômico foi introduzido em outras cidades. A Bolsa de Valores de Xangai, fechada desde a Revolução Socialista, foi reaberta em 1984. Desde 1978, com o programa das Quatro Modernizações, que priorizaram a produtividade em detrimento da igualdade social, as taxas de crescimento econômico da China figuram entre as maiores do mundo, cerca de 10% ao ano. A necessidade de aumento de produtividade também está relacionada ao fato de o país ter de alimentar mais de 1,3 bilhão de habitantes. Esse crescimento contou com investimentos dos Estados Unidos, de países europeus, do Japão, de Taiwan e de empresários chineses que vivem no exterior. Entre 1980 e 2000, a China recebeu meio trilhão de dólares de investimentos estrangeiros diretos.
Reformas capitalistas e controle comunista
A China viveu nas últimas décadas uma aparente contradição. As reformas econômicas não foram acompanhadas pela abertura política. O sistema político continua centralizado no Partido Comunista, e as manifestações populares têm sido severamente reprimidas. Prova disso foi a dura repressão às manifestações estudantis ocorridas em Beijing, Xangai, Guangzhou e em outras cidades chinesas no ano de 1989. Em Beijing, a manifestação da praça Tiananmen (ou praça da Paz Celestial) reuniu mais de 1 milhão de pessoas e comoveu o mundo todo. Os manifestantes exigiam reformas democráticas e participação nas transformações econômicas em curso naquele momento. Deixou um saldo de mais de mil mortos e resultou em perseguições políticas posteriores.
Atividades econômicas
Com grande disponibilidade de força de trabalho e participação cada vez maior na economia internacional, a China tem destaque em diversos setores econômicos, como veremos a seguir.
Atividade agropecuária
A atividade agrícola e a pecuária encontram condições naturais bastante favoráveis nas planícies fluviais situadas no leste (o que corresponde a cerca de 15% do território). Os chineses conseguem produzir safras anuais de mais de 500 milhões de toneladas de grãos (o que inclui trigo, arroz, milho, aveia, centeio, cevada e soja), usando técnicas intensivas de mão de obra, irrigação e terraceamento em regiões onde as condições naturais são menos adequadas às atividades de cultivo. A partir de 1978, com o processo de modernização implementado por Deng Xiaoping, o setor rural chinês passou por profundas transformações. Iniciou-se a descomunalização: a unidade de produção agrícola deixou de ser a comuna e voltou a ser o camponês e sua família. Atualmente a propriedade rural continua a pertencer ao Estado, mas é gerenciada pelos próprios agricultores mediante um contrato de uso da terra por 30 anos, que pode ser renovado. Além das unidades de produção familiar, há as fazendas do Estado, pouco numerosas e, geralmente, em áreas de difícil acesso, que funcionam como frentes pioneiras. A China é o maior produtor mundial de cereais. Apesar da grande produção agrícola, o país ainda importa alguns produtos, em razão do alto consumo de sua população. Um deles é a soja, importada do Brasil, destinada em parte para a alimentação do rebanho suíno.
A extensão territorial do país, a diversidade de solos e climas e a tradição da atividade agrícola entre os chineses contribuíram para a formação de uma grande variedade de culturas, entre as quais se destacam a de arroz, cultivado principalmente no sul, e a de trigo, cujo cultivo se concentra no norte. A China é o maior produtor mundial de arroz, cujas principais áreas de cultivo localizam-se no vale do rio Yang-tse e nos vales fluviais do sudeste. O trigo é a principal cultura do vale do Huang-Ho e da Manchúria, onde é cultivado associado à soja. A China também é o maior produtor mundial de trigo e o quarto de soja, apesar de ser importadora desses cereais. Na parte central das planícies, a cultura do trigo é associada às do algodão e do amendoim. Outros produtos de destaque são o sorgo, a cevada, a aveia, o milho (segundo maior produtor mundial), o milhete (milho miúdo), o chá e a cana-de-açúcar. Na pecuária chinesa, destaca-se a criação de suínos. Com cerca de 450 milhões de cabeças, é o maior rebanho do mundo. Mas os rebanhos de equinos, aves, caprinos, ovinos e bovinos também estão entre os maiores do mundo. A porção oeste do território é dominada por desertos e montanhas que dificultam o cultivo, predominando a atividade de criação extensiva ou nômade.
Atividade extrativista
No setor extrativista mineral, o produto mais importante é o carvão mineral, a principal fonte de energia do país. A China responde por cerca de 25% da produção mundial desse minério. Suas áreas carboníferas mais importantes estão situadas na Mongólia Interior e na Manchúria. Os principais campos de petróleo estão no mar da China Meridional e no Sinkiang, oeste da China. Até o início da década de 1990, o país mantinha autossuficiência nesse setor e, no fim da primeira década do século XXI, era o quarto maior importador mundial, atrás apenas da União Europeia, dos Estados Unidos e do Japão. A China apresenta grande potencial hidrelétrico, mas 70% de sua energia elétrica provém de usinas térmicas movidas a carvão. A hidrelétrica de Três Gargantas, no rio Yang-tse, é a maior do mundo, e quando estiver funcionando com capacidade total responderá por 10% da produção chinesa de eletricidade. No entanto, o projeto é bastante polêmico. Questiona-se não só o custo elevado, mas principalmente os problemas ambientais causados pelo represamento da água: aumento da poluição do rio, impacto na vida aquática e deslizamentos que já ocorreram no entorno da represa e soterraram casas e pessoas. Questiona-se também o impacto social provocado pela necessidade de remoção das pessoas que vivem próximo às áreas que foram inundadas. Estimava-se que essa remoção atingiria até 4 milhões de chineses até 2020. Merece ainda destaque a extração de minerais de ampla aplicação industrial, como estanho, cobre, chumbo, mercúrio, manganês, ferro, antimônio e tungstênio.
Atividade industrial
Apesar de ainda ter aproximadamente 35% da população ocupada em atividades agrárias, o motor da economia chinesa atual é movido principalmente pela atividade industrial. Os produtos industriais predominam na pauta das exportações. A China detém uma das cinco maiores indústrias siderúrgicas do globo. Produtos químicos, locomotivas, navios e tratores também ampliaram a escala de produção. As indústrias de bens de consumo conquistaram destaque no mercado internacional, principalmente a têxtil, a alimentícia, a de brinquedos, a de calçados e a de eletroeletrônicos. Esses setores receberam grandes investimentos de empresas estrangeiras, que instalaram filiais nas ZEEs.
Nos últimos anos, a China tem conquistado os setores industriais de maior desenvolvimento tecnológico. O grupo chinês Lenovo é proprietário do setor de computadores pessoais da IBM e um dos maiores fabricantes mundiais desses produtos. O setor automobilístico de capital totalmente chinês (Chery, JAC Motors, Geely e Brilliance Auto) tem se ampliado no mercado externo, com maior presença de produtos de transnacionais chinesas. A localização industrial, desde o processo de transformações econômicas adotadas por Deng Xiaoping, concentrou-se nas regiões litorâneas. Essas regiões, que abrigam a maior população urbana do país, dirigem sua produção para o mercado externo. Posteriormente, o governo chinês passou a estimular também a instalação industrial no interior do país. Desde então, diversas cidades situadas ao longo do rio Yang-tse estão se industrializando.
Indústria e meio ambiente
O forte crescimento industrial chinês apoiou-se no consumo de fontes não renováveis e bastante poluidoras. O país é o maior emissor global de gases do efeito estufa e um dos principais problemas ambientais das grandes cidades chinesas é a poluição atmosférica. Apesar de ser atualmente o país que mais investe no mundo em energias renováveis (eólica, solar e hidrelétrica), é forte a dependência do carvão mineral na geração de energia. Esse combustível fóssil, altamente poluidor, é responsável por 70% da energia total gerada no país (considerando consumo industrial, doméstico e geração de energia elétrica). Somente na geração de eletricidade o carvão mineral participa com 65%. Somando-se as emissões da China com as dos estadunidenses, chega-se a aproximadamente 40% das emissões totais no mundo. Os chineses se comprometem a atingir o ápice das emissões de gás carbônico até 2030 e, a partir desse ano, elas deverão começar a cair. Para tanto, os governantes da China anunciaram que o país vai realizar investimentos para que 20% de suas fontes energéticas sejam originárias de fontes não emissoras de gases do efeito estufa.
Comércio exterior
Nos últimos 30 anos, apesar das oscilações no ritmo de crescimento econômico, a China cresceu, em média, mais do que qualquer outro país. Os baixos salários e a subvalorização da moeda chinesa (yuan) em relação ao dólar atraem capitais de todas as partes do mundo e garantem à China elevada competitividade no mercado mundial. O potencial de consumo, em um país com mais de 1 bilhão de habitantes, é outra importante razão de seus elevados investimentos externos, que alavancaram o surpreendente crescimento econômico chinês.
Quando, em 1978, Deng Xiaoping lançou as bases da abertura da economia chinesa, o volume total do comércio externo do país posicionava-se em 32o lugar no ranking mundial. No fim de 1994, havia passado para a décima posição. Atualmente, a China é a maior potência comercial e detentora do maior superavit comercial do planeta. A admissão da China na OMC, em 2001, foi outro fator que contribuiu para a ampliação do intercâmbio comercial e a geração de superavits recorde.
Transformações sociais e demográficas na China
A China é o país mais populoso da Terra e abriga mais de um quinto da população mundial. A cada ano, nascem cerca de 20 milhões de habitantes na China. Entretanto, a taxa de crescimento vegetativo vem decaindo. Em médias anuais, no período de 1975 a 1985, esse crescimento era de 1,4%; caiu para 1,3% entre 1985 e 1995; para 0,9% entre 1995 e 2000; e para 0,7% entre 2000 e 2005. Em 2017, a taxa de crescimento vegetativo anual prevista era de aproximadamente 0,41%. O intenso crescimento da população chinesa levou à adoção da política de um filho por casal, estabelecida em 1979 e que durou até 2015, quando foi extinta devido à constatação do governo da tendência de envelhecimento da população. De acordo com essa política, casais com mais de um filho eram multados pelo Estado por excesso de contingente familiar. Na China, cerca de 85% das mulheres entre 15 e 49 anos usam métodos contraceptivos. É o maior índice do mundo, seguido pelos do Reino Unido e da Suíça. A política de controle de natalidade ocasionou sérios problemas a algumas famílias chinesas. Em um país onde predomina a população rural (a maioria vive no campo), o trabalho masculino é bastante valorizado. Para não afrontar a lei de um filho por casal, tornaram-se comuns os casos de infanticídio feminino.
Estima-se que aproximadamente 15 milhões de bebês do sexo feminino foram mortos desde 1979. Isso provocou um desequilíbrio na distribuição da população por sexo, tendendo a uma predominância da população masculina. Aproximadamente 90% dos chineses concentram-se na parte oriental do país, ao longo dos vales dos grandes rios, especialmente o Huang-Ho e o Yang- -tse, e nas planícies costeiras. A fertilidade do solo, a disponibilidade de água e o transporte fluvial favoreceram a ocupação. As duas cidades mais importantes são Xangai, uma das mais populosas do mundo, e Beijing, a capital. A porção ocidental, contrastando com a oriental, apresenta grandes vazios demográficos. Isso se deve ao maior rigor do clima (desertos de Gobi e Takla Makan) e ao relevo (altitudes elevadíssimas). Aproximadamente 49% dos chineses vivem no campo, mas o crescimento do país tem acelerado a migração para as áreas urbanas. A população chinesa é constituída de 56 etnias, com costumes e estilos de vida próprios: 92% pertencem à etnia han; os 8% restantes são compostos de tibetanos, mongóis, manchus, huis, chuans e uigures, entre outras. Alguns desses grupos étnicos minoritários reivindicam independência: os tibetanos do Tibete, os uigures de Sinkiang e os mongóis da Mongólia Interior. O idioma chinês tem muitos dialetos, com tantas diferenças na pronúncia que podem ser considerados línguas distintas. Assim, para melhorar a comunicação, o governo chinês tornou oficial o dialeto mandarim, que é falado por aproximadamente 70% da população e é atualmente ensinado nas escolas de todo o país. Na China, a maior parte da população segue os sistemas filosófico-religiosos do taoísmo, do budismo e do confucionismo.