O Realismo e o Naturalismo, surgidos como reação ao sentimentalismo romântico, iniciaram-se em 1881, respectivamente, com a publicação de Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, e O mulato, de Aluísio de Azevedo; manifestações poéticas do Parnasianismo já se faziam sentir desde 1870. Assinala-se o ano de 1893 como início do simbolismo e final, portanto, do Realismo. No entanto, essa data é puramente didática, uma vez que, até as duas primeiras décadas deste século, é possível encontrar produções orientadas por todas essas estéticas.
Contexto Histórico
1) positivismo: filosofia de Augusto Comte,
segundo a qual só importava o que podia ser medido e provado, isto é, todos os
fenômenos deviam ser explicados pela ciência;
2) evolucionismo: teoria de Charles Darwin, que
colocava em xeque a origem divina do homem, defendida pela Igreja, e explicava
a evolução das espécies pelo processo de seleção natural, pela sobrevivência do
mais forte e do mais apto;
3) determinismo: teoria de Hipólito Taine que
explicava a obra de arte como conseqüência de três fatores: raça
(hereditariedade), meio e momento histórico. Segundo ele, o homem era produto
do meio em que vivia;
4) socialismo científico: Engels e Karl Marx denunciaram a
exploração do proletariado;
5) experimentalismo: o médico Claude Bernard deu
bases científicas à medicina (observação, investigação) e demonstrou a
importância da Fisiologia no comportamento humano.
O Brasil viveu, nesse período, as consequências da Guerra do Paraguai, o movimento abolicionista e a perspectiva da República. O surto modernizador sustentado pela exportação cafeeira fez surgirem comerciantes e pequenos empresários que aderiram às novas ideias. A economia fortalecida exigia trabalho livre e começaram, então, as primeiras imigrações.
A partir da segunda metade do século XIX, a sociedade brasileira sofreu grandes transformações. De sociedade agrária, latifundiária, escravocrata e aristocrática passou a ser uma civilização burguesa e urbana. A mão-de-obra escrava aos poucos foi substituída pelos imigrantes europeus assalariados que vinham trabalhar na lavoura cafeeira. A década de 80 corresponde ao período de intensificação da campanha abolicionista que culminou com a Lei Áurea de 1888; ao período da Guerra do Paraguai e ao período da decadência da monarquia e estabelecimento da República.
Foi em plena época realista que ocorreu a Fundação da Academia Brasileira de Letras, em 1897, e um processo que pode ser chamado de oficialização da literatura. O escritor que antes era meio discriminado, marginalizado, começou a ter prestígio e a participar mais ativamente da vida social. Essas transformações socioeconômicas apressaram o fim da Monarquia: federalistas, abolicionistas e positivistas opunham-se à centralização do poder e lutavam pela República. Em 1888, a escravatura foi abolida e, em 1889, proclamada a República.
NATURALISMO
Veja os principais autores do Realismo-Naturalismo no Brasil:
REALISMO
– NATURALISMO NO BRASIL - Machado de Assis - Aluísio Azevedo - Raul Pompéia* - Adolfo Caminha |
Machado de Assis
e Raul Pompéia dedicaram-se mais ao
romance realista. Mas sobre esse último é importante fazermos uma ressalva,
pois graças à diversidade de elementos em sua obra, sua classificação é
problemática.
Aluísio Azevedo
foi o grande representante do Naturalismo brasileiro. Para esse autor o homem
era fruto dos elementos biológicos (raça) e das circunstâncias do tempo e do
meio em que vivia. Veja sua imagem:
Aluísio Azevedo era um escritor profissional, escrevendo de acordo com
o gosto do público leitor da época. Sua obra era bem diversificada,
apresentando romances românticos e romances naturalistas. Mas ao contrário de
outros escritores que apresentavam fases, Aluísio Azevedo produzia os dois
tipos de romance simultaneamente.
Para o público escrevia romances românticos, chamados por
ele de “comerciais” e também escrevia
os romances naturalistas, chamados de “artísticos”.
Aluísio Azevedo foi um grande caricaturista e conta a história que ele possuía
um método bem original de escrita. Primeiro ele desenhava as personagens,
depois começava a escrever as cenas. Entre seus principais romances destacam-se
os naturalistas:
Casa de pensão conta a história de Amâncio Vasconcelos, um
jovem maranhense que parte para o Rio de Janeiro para cursar medicina e acaba
metido numa série de confusões, principalmente depois que vai morar na pensão
de João Coqueiro.
Mas seus livros mais importantes são O cortiço e O
mulato, neles encontramos suas principais características: a forte
ligação com o determinismo e o romance social, preocupado em retratar as
camadas marginalizadas.
Em O mulato, Aluísio Azevedo faz uma
forte crítica à sociedade corrompida e preconceituosa de São Luís do Maranhão.
O livro conta a história do amor proibido de Raimundo e Ana Rosa. Raimundo era
um rapaz mulato de pele branca e olhos azuis, filho de um português com uma
escrava. Ele foi mandado para Coimbra e depois de formado voltou para o
Maranhão para viver na casa do tio, onde se apaixona pela prima Ana Rosa. Todos
na cidade sabiam de sua origem bastarda, menos ele. Raimundo só ficou
conhecendo toda a verdade quando ao pedir a prima em casamento recebe a recusa
do tio:
“ ... Uma só palavra boiava à superfície dos seus pensamentos:
“Mulato”. E crescia, crescia, transformando-se em tenebrosa nuvem, que escondia
todo o seu passado. Ideia parasita, que estrangulava todas as outras ideias.
_ Mulato!
Esta só palavra explica-lhe agora todos os mesquinhos escrúpulos, que a
sociedade do Maranhão usara para com ele”.
Mas é O cortiço o seu livro mais
significativo, considerado o melhor romance naturalista da nossa literatura.
Aluísio soube retratar como ninguém a realidade dos agrupamentos humanos:
Os cortiços são habitações
coletivas e foram muito comuns no final do século XIX, habitados principalmente
pelos trabalhadores não-qualificados que vinham para as cidades em busca de
melhores empregos. Segundo os historiadores, o marido da princesa Isabel foi
dono de um dos maiores cortiços brasileiros, onde viviam mais de 4 mil pessoas.
É justamente essa temática a matéria-prima de Aluísio
Azevedo, que fala das misérias, dos vícios e da promiscuidade das pessoas que
habitavam o cortiço. Entre as personagens principais destacam-se: a negra
Bertoleza e João Romão, o dono do cortiço. O livro conta a história de João
Romão, um ambicioso comerciante português que busca riqueza e status social.
João constrói o cortiço com a ajuda da negra, que por ele foi traída.
Mas ao contrário do que muitos pensam, a personagem central
do romance de Aluísio Azevedo não é João Romão, mas sim o próprio cortiço. O
cortiço é o núcleo gerador de todas as ações do romance. Várias vezes, a
começar da cena inicial que mostra o seu despertar, o cortiço é apresentado
como se tivesse vida e acompanhasse o desenvolvimento de seu proprietário. A
esse processo dá-se o nome de antropomorfismo, processo que consiste na
atribuição de características humanas a seres inanimados. Influenciado pelas
novas descobertas da biologia e do determinismo, Aluísio Azevedo inova a
literatura brasileira, fazendo o processo inverso, reduzindo muitas vezes os
seres humanos ao nível dos animais, é o chamado zoomorfismo. Frequentemente
aparecem aproximações como: Rita Baiana apresentada como uma cadela no cio,
Leandra com ancas de animal do campo. Aluísio também inova por ser um dos
primeiros autores a tratar do homossexualismo feminino, representado pelas
personagens Leoni e Pombinha.
Raul Pompéia é
outro importante autor desse período, entretanto, sua classificação como um
autor naturalista é muito complicada e reducionista.
Em seu romance O Ateneu, há uma superposição de
características de vários movimentos literários e não é possível dizer que há
um estilo que predomina.
Durante a leitura encontramos elementos impressionistas,
parnasianos, simbolistas, expressionistas e elementos naturalistas,
principalmente ao tratar do homossexualismo masculino e da influência do meio
na conduta das pessoas. Em O Ateneu, Raul Pompéia ao contar uma história de um garoto que entra num
colégio interno chamado O Ateneu, soma autobiografia e ficção.
Não há um enredo linear, o livro, narrado em primeira
pessoa, está construído a partir das recordações da personagem Sérgio, já
adulto:
“Vais encontrar o mundo, disse-me meu pai à porta do Ateneu. Coragem
para a luta”. Bastante experimentei depois a verdade deste aviso, que me
despia, num gesto, das ilusões de criança educada exoticamente na estufa de
carinho que é o regime do amor doméstico, diferente do que se encontra fora,
tão diferente (...)”
Como já antecipava seu pai, no Ateneu, Sérgio, ainda
criança, conhece o mundo através de um ambiente marcado pela corrupção, pelo
autoritarismo das instituições escolares e pela promiscuidade adolescente.
Adolfo Caminha,
embora com o brilho ofuscado pelos naturalistas Aluísio Azevedo e Raul Pompéia,
também escreve nesse período, apresentando uma tendência mais regionalista; seu
principal livro é O Bom Crioulo, em que retrata com grande maturidade o
homossexualismo entre os marinheiros.
Mas, a grande figura do final do século XIX, e talvez a
figura literária mais importante do Brasil, foi o inigualável Machado
de Assis.
MACHADO DE ASSIS
O Realismo
brasileiro tem início em 1881, com a publicação de Memórias Póstumas de Brás Cubas,
romance realista de Machado de Assis.
Machado de Assis está acima
de qualquer classificação, tamanha a grandiosidade de sua obra. Ele é
considerado o escritor mais ousado da literatura brasileira antes dos
escritores modernistas. Veja sua imagem:
Machado de Assis teve uma origem pobre, era mulato gago e epilético. Mas graças ao seu esforço pessoal e seu poder autodidata, soube vencer esses obstáculos e tornar-se um dos nossos maiores escritores.
Machado de Assis foi um dos
principais responsáveis pela fundação da Academia Brasileira de Letras, sendo o
seu primeiro presidente.
Considerado o mais carioca de
nossos autores, buscou na sociedade do Rio de Janeiro de seu tempo a inspiração
para a sua vasta produção.
DIVISÃO DA SUA OBRA
A produção literária de
Machado é muito grande, ele dedicou-se a quase todos os gêneros literários:
Dedicou-se aos mais variados gêneros, chegando até a escrever uma crítica sobre o livro O Primo Basílio de Eça de Queirós, mas acima de tudo, Machado foi um grande crítico de sua própria obra. Também escreveu poesias, mas nesse gênero não obteve grande destaque. O melhor de sua produção realmente se encontra nos contos e nos romances realistas.
Alguns autores falam que os
seus romances podem ser divididos em duas fases: uma mais romântica e outra
realista. Mas na realidade o mais correto é afirmarmos que seus primeiros
romances são “convencionais”, pois não se enquadram perfeitamente nos moldes
nos romances românticos, principalmente por não apresentarem uma idealização estereotipada
das personagens.
Sua poesia apresenta uma
aproximação com os valores parnasianos. Veja o soneto A Carolina que ele
escreveu no prefácio de Relíquias de Casa Velha e dedicou ao
seu grande amor:
A Carolina
Querida, ao pé do leito derradeiro
Em que descansas dessa longa vida,
Aqui venho e virei, pobre querida,
Trazer-te o coração do companheiro.
Pulsa-lhe aquele afeto verdadeiro
Que, a despeito de toda a humana lida,
Fez a nossa existência apetecida
E num recanto pôs um mundo inteiro.
Trago-te flores, — restos arrancados
Da terra que nos viu passar unidos
E ora morto nos deixa separados.
Que eu, se tenho nos olhos malferidos
Pensamentos de vida formulados,
São pensamentos idos e vividos.
PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS
Dois dos vários exemplos de ironia de Machado de Assis encontram-se no livro Memórias Póstumas de Brás Cubas, no trecho em que Brás Cubas narra o seu primeiro envolvimento amoroso. Ele fala que Marcela, seu amor, era “amiga de rapazes e de dinheiro”, ou seja, ela era uma prostituta de luxo. Segundo o narrador esse amor durou
O discurso metalinguístico ocorre em vários momentos da ficção
machadiana. É muito comum o narrador interromper a narração da história para
comentar com o leitor o próprio processo de escrita do romance:
Capítulo LXXI
“Começo a arrepender-me deste livro. Não que ele me canse, eu não tenho que
fazer (...) Mas o livro é enfadonho, cheira a sepulcro, traz certa contração
cadavérica; vício grave, e aliás ínfimo, porque o maior defeito deste livro és
tu, leitor. Tu tens pressa de envelhecer e o livro anda devagar; tu amas a
narração direta e nutrida, o estilo regular e fluente, e este livro e o meu
estilo são como ébrios (...)”
Machado de Assis rompe com a linearidade tradicional, as
ações das personagens não são guiadas pelo aspecto cronológico ou pela lógica,
elas seguem uma ordem interna. Os fatos são narrados a partir da memória e da
consciência do narrador.
O pessimismo também está
presente em sua produção. Machado, em vários momentos, mostrava-se descrente
com a vida e com o homem, como sugere o próximo capítulo de Memórias
Póstumas de Brás Cubas:
Capítulo CLX
“Este último capítulo é todo de negativas. Não alcancei a celebridade de
emplasto, não fui ministro, não fui califa, não conheci o casamento (...) ao
chegar a este outro lado do mistério, achei-me com um pequeno soldo, que é a
derradeira negativa deste capítulo: - Não tive filhos, não transmiti a nenhuma
criatura o legado de nossa miséria.”
A concisão vocabular e
universalismo são outras características marcantes.
Entre seus romances mais importantes estão:
Em Memórias Póstumas de Brás Cubas, encontramos o rompimento com os romances românticos a começar pela própria dedicatória:
AO VERME
QUE PRIMEIRO ROEU AS FRIAS CARNES
DO MEU CADÁVER
DEDICO COM SAUDOSA LEMBRANÇA
ESTAS
MEMÓRIAS PÓSTUMAS
Este pequeno texto está
diagramado na forma de um epitáfio, ou seja, de uma inscrição tumular. Mas por
que será? Por que na realidade Brás Cubas era um defunto. Veja o próximo
fragmento:
“Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio, ou
pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte.
Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento, duas considerações me
levaram a adotar diferente método: a primeira é que eu não sou propriamente um
autor defunto, mas um defunto autor, para quem a campa foi outro berço; a
Segunda é que o escrito ficaria assim mais galante e mais novo. Moisés, que
também contou a sua morte, não pôs no intróito, mas no cabo: diferença radical
entre este livro e o Pentateuco.
Dito isto, expirei às duas horas da tarde de uma Sexta-feira do mês de
agosto de 1869, na minha bela chácara de Catumbi. Tinha uns sessenta e quatro
anos, rijos e prósperos, era solteiro, possuía cerca de trezentos contos e fui
acompanhado ao cemitério por onze amigos. Onze amigos! (...)”
Outro
importante livro de Machado de Assis é Dom Casmurro.
O
livro é narrado em primeira pessoa por Bentinho, personagem que tenta atar as
duas pontas de sua vida.
Um dos trechos mais
conhecidos do livro é o velório de Escobar, quando as atitudes de Capitu
reforçam as desconfianças de Bentinho em relação ao possível adultério da
esposa.
Quincas Borba, personagem
que já apareceu em Memórias Póstumas de Brás Cubas, dá nome a outro grande romance
de Machado de Assis.