quinta-feira, 26 de maio de 2022

REALISMO – NATURALISMO NO BRASIL

 


O Realismo e o Naturalismo, surgidos como reação ao sentimentalismo romântico, iniciaram-se em 1881, respectivamente, com a publicação de Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, e O mulato, de Aluísio de Azevedo; manifestações poéticas do Parnasianismo já se faziam sentir desde 1870. Assinala-se o ano de 1893 como início do simbolismo e final, portanto, do Realismo. No entanto, essa data é puramente didática, uma vez que, até as duas primeiras décadas deste século, é possível encontrar produções orientadas por todas essas estéticas.

Contexto Histórico

    A Europa, na segunda metade do século XIX, foi marcada por novos inventos (telefone, telégrafo, locomotiva a vapor), pela utilização de novas fontes de energia (petróleo, eletricidade) e pelas novas descobertas científicas, que explicaram ao homem o, até então, inexplicável. No entanto, a acelerada industrialização, resultado da Segunda Revolução Industrial e do capitalismo, determinaram o aparecimento de uma nova classe, o proletariado, constituída por uma massa de trabalhadores miseráveis, sem direito a nenhuma vantagem trazida por esse progresso.
    Criticando o misticismo, a religião, o sentimentalismo e o subjetivismo, o homem passou a basear-se na observação e na experimentação para estudar os mais diversos fenômenos. Valeu-se para isso de algumas doutrinas:

1) positivismo: filosofia de Augusto Comte, segundo a qual só importava o que podia ser medido e provado, isto é, todos os fenômenos deviam ser explicados pela ciência;

2) evolucionismo: teoria de Charles Darwin, que colocava em xeque a origem divina do homem, defendida pela Igreja, e explicava a evolução das espécies pelo processo de seleção natural, pela sobrevivência do mais forte e do mais apto;

3) determinismo: teoria de Hipólito Taine que explicava a obra de arte como conseqüência de três fatores: raça (hereditariedade), meio e momento histórico. Segundo ele, o homem era produto do meio em que vivia;

4) socialismo científico: Engels e Karl Marx denunciaram a exploração do proletariado;

5) experimentalismo: o médico Claude Bernard deu bases científicas à medicina (observação, investigação) e demonstrou a importância da Fisiologia no comportamento humano.

O Brasil viveu, nesse período, as consequências da Guerra do Paraguai, o movimento abolicionista e a perspectiva da República. O surto modernizador sustentado pela exportação cafeeira fez surgirem comerciantes e pequenos empresários que aderiram às novas ideias. A economia fortalecida exigia trabalho livre e começaram, então, as primeiras imigrações. 

    A partir da segunda metade do século XIX, a sociedade brasileira sofreu grandes transformações. De sociedade agrária, latifundiária, escravocrata e aristocrática passou a ser uma civilização burguesa e urbana. A mão-de-obra escrava aos poucos foi substituída pelos imigrantes europeus assalariados que vinham trabalhar na lavoura cafeeira. A década de 80 corresponde ao período de intensificação da campanha abolicionista que culminou com a Lei Áurea de 1888; ao período da Guerra do Paraguai e ao período da decadência da monarquia e estabelecimento da República.

    Foi em plena época realista que ocorreu a Fundação da Academia Brasileira de Letras, em 1897, e um processo que pode ser chamado de oficialização da literatura. O escritor que antes era meio discriminado, marginalizado, começou a ter prestígio e a participar mais ativamente da vida social. Essas transformações socioeconômicas apressaram o fim da Monarquia: federalistas, abolicionistas e positivistas opunham-se à centralização do poder e lutavam pela República. Em 1888, a escravatura foi abolida e, em 1889, proclamada a República.

No Brasil, a literatura realista encontrou boa expressão nas obras dos seguintes autores: Machado de Assis, Raul Pompéia, Aluísio Azevedo, Adolfo Caminha, Domingos Olímpio, Manuel de Oliveira Paiva e Inglês de Sousa.

NATURALISMO

Nas obras dos autores realistas podemos distinguir, frequentemente, algumas características que definem uma tendência chamada Naturalismo.
O Naturalismo enfatiza o aspecto materialista da existência, vendo o homem como um produto biológico, cujo comportamento é resultado da pressão do ambiente social e da hereditariedade psicofisiológica. O homem passa a ser encarado como um ser impulsionado pelos instintos (por isso são frequentes as comparações com animais), que, por sua vez, são despertados pelas condições do meio social.
No Brasil, os autores que mais claramente apresentam características naturalistas são Aluísio Azevedo, Inglês de Sousa e Adolfo Caminha.

Veja os principais autores do Realismo-Naturalismo no Brasil:

REALISMO – NATURALISMO NO BRASIL

- Machado de Assis

- Aluísio Azevedo

- Raul Pompéia*

- Adolfo Caminha

Machado de Assis e Raul Pompéia dedicaram-se mais ao romance realista. Mas sobre esse último é importante fazermos uma ressalva, pois graças à diversidade de elementos em sua obra, sua classificação é problemática.

Aluísio Azevedo foi o grande representante do Naturalismo brasileiro. Para esse autor o homem era fruto dos elementos biológicos (raça) e das circunstâncias do tempo e do meio em que vivia. Veja sua imagem:



Aluísio Azevedo era um escritor profissional, escrevendo de acordo com o gosto do público leitor da época. Sua obra era bem diversificada, apresentando romances românticos e romances naturalistas. Mas ao contrário de outros escritores que apresentavam fases, Aluísio Azevedo produzia os dois tipos de romance simultaneamente.

Para o público escrevia romances românticos, chamados por ele de “comerciais” e também escrevia os romances naturalistas, chamados de “artísticos”. Aluísio Azevedo foi um grande caricaturista e conta a história que ele possuía um método bem original de escrita. Primeiro ele desenhava as personagens, depois começava a escrever as cenas. Entre seus principais romances destacam-se os naturalistas:

Casa de pensão conta a história de Amâncio Vasconcelos, um jovem maranhense que parte para o Rio de Janeiro para cursar medicina e acaba metido numa série de confusões, principalmente depois que vai morar na pensão de João Coqueiro.

Mas seus livros mais importantes são O cortiço e O mulato, neles encontramos suas principais características: a forte ligação com o determinismo e o romance social, preocupado em retratar as camadas marginalizadas.

Em O mulato, Aluísio Azevedo faz uma forte crítica à sociedade corrompida e preconceituosa de São Luís do Maranhão. O livro conta a história do amor proibido de Raimundo e Ana Rosa. Raimundo era um rapaz mulato de pele branca e olhos azuis, filho de um português com uma escrava. Ele foi mandado para Coimbra e depois de formado voltou para o Maranhão para viver na casa do tio, onde se apaixona pela prima Ana Rosa. Todos na cidade sabiam de sua origem bastarda, menos ele. Raimundo só ficou conhecendo toda a verdade quando ao pedir a prima em casamento recebe a recusa do tio:

“ ... Uma só palavra boiava à superfície dos seus pensamentos: “Mulato”. E crescia, crescia, transformando-se em tenebrosa nuvem, que escondia todo o seu passado. Ideia parasita, que estrangulava todas as outras ideias.

_ Mulato!

Esta só palavra explica-lhe agora todos os mesquinhos escrúpulos, que a sociedade do Maranhão usara para com ele”.

Mas é O cortiço o seu livro mais significativo, considerado o melhor romance naturalista da nossa literatura. Aluísio soube retratar como ninguém a realidade dos agrupamentos humanos:

 


Os cortiços são habitações coletivas e foram muito comuns no final do século XIX, habitados principalmente pelos trabalhadores não-qualificados que vinham para as cidades em busca de melhores empregos. Segundo os historiadores, o marido da princesa Isabel foi dono de um dos maiores cortiços brasileiros, onde viviam mais de 4 mil pessoas.

É justamente essa temática a matéria-prima de Aluísio Azevedo, que fala das misérias, dos vícios e da promiscuidade das pessoas que habitavam o cortiço. Entre as personagens principais destacam-se: a negra Bertoleza e João Romão, o dono do cortiço. O livro conta a história de João Romão, um ambicioso comerciante português que busca riqueza e status social. João constrói o cortiço com a ajuda da negra, que por ele foi traída.

Mas ao contrário do que muitos pensam, a personagem central do romance de Aluísio Azevedo não é João Romão, mas sim o próprio cortiço. O cortiço é o núcleo gerador de todas as ações do romance. Várias vezes, a começar da cena inicial que mostra o seu despertar, o cortiço é apresentado como se tivesse vida e acompanhasse o desenvolvimento de seu proprietário. A esse processo dá-se o nome de antropomorfismo, processo que consiste na atribuição de características humanas a seres inanimados. Influenciado pelas novas descobertas da biologia e do determinismo, Aluísio Azevedo inova a literatura brasileira, fazendo o processo inverso, reduzindo muitas vezes os seres humanos ao nível dos animais, é o chamado zoomorfismo. Frequentemente aparecem aproximações como: Rita Baiana apresentada como uma cadela no cio, Leandra com ancas de animal do campo. Aluísio também inova por ser um dos primeiros autores a tratar do homossexualismo feminino, representado pelas personagens Leoni e Pombinha.

Raul Pompéia é outro importante autor desse período, entretanto, sua classificação como um autor naturalista é muito complicada e reducionista.

Em seu romance O Ateneu, há uma superposição de características de vários movimentos literários e não é possível dizer que há um estilo que predomina.

Durante a leitura encontramos elementos impressionistas, parnasianos, simbolistas, expressionistas e elementos naturalistas, principalmente ao tratar do homossexualismo masculino e da influência do meio na conduta das pessoas. Em O Ateneu, Raul Pompéia ao contar uma história de um garoto que entra num colégio interno chamado O Ateneu, soma autobiografia e ficção.

Não há um enredo linear, o livro, narrado em primeira pessoa, está construído a partir das recordações da personagem Sérgio, já adulto:

“Vais encontrar o mundo, disse-me meu pai à porta do Ateneu. Coragem para a luta”. Bastante experimentei depois a verdade deste aviso, que me despia, num gesto, das ilusões de criança educada exoticamente na estufa de carinho que é o regime do amor doméstico, diferente do que se encontra fora, tão diferente (...)”

Como já antecipava seu pai, no Ateneu, Sérgio, ainda criança, conhece o mundo através de um ambiente marcado pela corrupção, pelo autoritarismo das instituições escolares e pela promiscuidade adolescente.

Adolfo Caminha, embora com o brilho ofuscado pelos naturalistas Aluísio Azevedo e Raul Pompéia, também escreve nesse período, apresentando uma tendência mais regionalista; seu principal livro é O Bom Crioulo, em que retrata com grande maturidade o homossexualismo entre os marinheiros.

Mas, a grande figura do final do século XIX, e talvez a figura literária mais importante do Brasil, foi o inigualável Machado de Assis.

 MACHADO DE ASSIS

 

O Realismo brasileiro tem início em 1881, com a publicação de Memórias Póstumas de Brás Cubas, romance realista de Machado de Assis. 

Machado de Assis está acima de qualquer classificação, tamanha a grandiosidade de sua obra. Ele é considerado o escritor mais ousado da literatura brasileira antes dos escritores modernistas. Veja sua imagem:

 



Machado de Assis teve uma origem pobre, era mulato gago e epilético. Mas graças ao seu esforço pessoal e seu poder autodidata, soube vencer esses obstáculos e tornar-se um dos nossos maiores escritores.  


Machado de Assis foi um dos principais responsáveis pela fundação da Academia Brasileira de Letras, sendo o seu primeiro presidente. 

Considerado o mais carioca de nossos autores, buscou na sociedade do Rio de Janeiro de seu tempo a inspiração para a sua vasta produção.

 

DIVISÃO DA SUA OBRA

 

A produção literária de Machado é muito grande, ele dedicou-se a quase todos os gêneros literários:

Dedicou-se aos mais variados gêneros, chegando até a escrever uma crítica sobre o livro O Primo Basílio de Eça de Queirós, mas acima de tudo, Machado foi um grande crítico de sua própria obra. Também escreveu poesias, mas nesse gênero não obteve grande destaque. O melhor de sua produção realmente se encontra nos contos e nos romances realistas.

Alguns autores falam que os seus romances podem ser divididos em duas fases: uma mais romântica e outra realista. Mas na realidade o mais correto é afirmarmos que seus primeiros romances são “convencionais”, pois não se enquadram perfeitamente nos moldes nos romances românticos, principalmente por não apresentarem uma idealização estereotipada das personagens.

Sua poesia apresenta uma aproximação com os valores parnasianos. Veja o soneto A Carolina que ele escreveu no prefácio de Relíquias de Casa Velha e dedicou ao seu grande amor:

A Carolina

Querida, ao pé do leito derradeiro

Em que descansas dessa longa vida, 

Aqui venho e virei, pobre querida, 

Trazer-te o coração do companheiro.


Pulsa-lhe aquele afeto verdadeiro

Que, a despeito de toda a humana lida, 

Fez a nossa existência apetecida 

E num recanto pôs um mundo inteiro.


Trago-te flores, — restos arrancados

Da terra que nos viu passar unidos 

E ora morto nos deixa separados.


Que eu, se tenho nos olhos malferidos 

Pensamentos de vida formulados, 

São pensamentos idos e vividos.

PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS

Dois dos vários exemplos de ironia de Machado de Assis encontram-se no livro Memórias Póstumas de Brás Cubas, no trecho em que Brás Cubas narra o seu primeiro envolvimento amoroso. Ele fala que Marcela, seu amor, era “amiga de rapazes e de dinheiro”, ou seja, ela era uma prostituta de luxo. Segundo o narrador esse amor durou 

O discurso metalinguístico ocorre em vários momentos da ficção machadiana. É muito comum o narrador interromper a narração da história para comentar com o leitor o próprio processo de escrita do romance:

Capítulo LXXI

“Começo a arrepender-me deste livro. Não que ele me canse, eu não tenho que fazer (...) Mas o livro é enfadonho, cheira a sepulcro, traz certa contração cadavérica; vício grave, e aliás ínfimo, porque o maior defeito deste livro és tu, leitor. Tu tens pressa de envelhecer e o livro anda devagar; tu amas a narração direta e nutrida, o estilo regular e fluente, e este livro e o meu estilo são como ébrios (...)”

Machado de Assis rompe com a linearidade tradicional, as ações das personagens não são guiadas pelo aspecto cronológico ou pela lógica, elas seguem uma ordem interna. Os fatos são narrados a partir da memória e da consciência do narrador.

O pessimismo também está presente em sua produção. Machado, em vários momentos, mostrava-se descrente com a vida e com o homem, como sugere o próximo capítulo de Memórias Póstumas de Brás Cubas:

Capítulo CLX

“Este último capítulo é todo de negativas. Não alcancei a celebridade de emplasto, não fui ministro, não fui califa, não conheci o casamento (...) ao chegar a este outro lado do mistério, achei-me com um pequeno soldo, que é a derradeira negativa deste capítulo: - Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa miséria.”

 

A concisão vocabular e universalismo são outras características marcantes. 

Entre seus romances mais importantes estão:

Em Memórias Póstumas de Brás Cubas, encontramos o rompimento com os romances românticos a começar pela própria dedicatória:

AO VERME

QUE PRIMEIRO ROEU AS FRIAS CARNES

DO MEU CADÁVER

DEDICO COM SAUDOSA LEMBRANÇA

ESTAS

MEMÓRIAS PÓSTUMAS

Este pequeno texto está diagramado na forma de um epitáfio, ou seja, de uma inscrição tumular. Mas por que será? Por que na realidade Brás Cubas era um defunto. Veja o próximo fragmento:

“Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio, ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento, duas considerações me levaram a adotar diferente método: a primeira é que eu não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para quem a campa foi outro berço; a Segunda é que o escrito ficaria assim mais galante e mais novo. Moisés, que também contou a sua morte, não pôs no intróito, mas no cabo: diferença radical entre este livro e o Pentateuco.

Dito isto, expirei às duas horas da tarde de uma Sexta-feira do mês de agosto de 1869, na minha bela chácara de Catumbi. Tinha uns sessenta e quatro anos, rijos e prósperos, era solteiro, possuía cerca de trezentos contos e fui acompanhado ao cemitério por onze amigos. Onze amigos! (...)”

Outro importante livro de Machado de Assis é Dom Casmurro.

 

    O livro é narrado em primeira pessoa por Bentinho, personagem que tenta atar as duas pontas de sua vida. 

Um dos trechos mais conhecidos do livro é o velório de Escobar, quando as atitudes de Capitu reforçam as desconfianças de Bentinho em relação ao possível adultério da esposa.

Quincas Borba, personagem que já apareceu em Memórias Póstumas de Brás Cubas, dá nome a outro grande romance de Machado de Assis.


REALISMO – NATURALISMO EM PORTUGAL

 

  

 

Falaremos sobre o Realismo português. Mas para começarmos é importante que você saiba o que é realismo. Veja:

                        REAL (do Latim res) = fato

REAL+ISMO                                                 = REALISMO

                        ISMO = crença, doutrina

 

Assim, Realismo é a doutrina do fato, é o movimento literário pautado na realidade. O Realismo é considerado a estética de reação aos ideais românticos, principalmente contrária ao seu idealismo e subjetivismo exagerados. Como pregava um de seus principais autores:

        “... a tendência agora é manter-se dentro do campo dos fatos e de nada mais do que fatos”.

Gustave Flaubert

Como fizemos com o Romantismo, é preciso diferenciarmos o Realismo enquanto escola literária da atitude realista. A atitude realista, entendida como a tentativa do artista em reproduzir o fato de maneira objetiva, sempre existiu em maior ou menor intensidade e sempre existirá. O que nos interessa neste curso é o Realismo com letra maiúscula, o Realismo enquanto estética literária.

Veja a próxima imagem:

 


“As fábricas na sociedade europeia”

A Revolução Industrial, iniciada no século anterior, entra numa segunda fase, marcada pelo crescente aumento das fábricas e da mão-de-obra assalariada, do proletariado. É o período da utilização do petróleo, da eletricidade, do aço, da construção das estradas de ferro, da invenção do telégrafo, entre outras transformações. É o início da estruturação do capitalismo.

O Realismo também reflete uma série de doutrinas filosóficas que eram muito difundidas na época. Entre elas, destacam-se, cronologicamente, o Positivismo de Augusto Comte, que rejeitava interpretações metafísicas da vida e defendia o pensamento científico; o Socialismo de Marx, através de seu Manifesto Comunista e o Evolucionismo de Charles Darwim, através da teoria da origem das espécies que punha em xeque as verdades pregadas pela igreja.

De acordo com os estudiosos, o marco inicial do Realismo na literatura universal é a publicação de Madame Bovary de Gustave Flaubert.

A grande característica do Realismo, como o próprio nome já sugere, era a preocupação com a realidade, com a expressão da verdade, mesmo que essa não fosse a desejada, mas também se caracterizava por muitos outros aspectos.

 – CARACTERÍSTICAS

 Veja as principais características do Realismo:

*    OBJETIVISMO – Preocupado principalmente com a verdade, o autor realista devia manter-se distante dos fatos narrados, buscando o máximo de imparcialidade e impessoalismo.

*    UNIVERSALISMO – Ao contrário do subjetivismo e individualismo da estética romântica, o Realismo buscava o que era universal. O “eu” neste período cede lugar ao “não-eu”.

*    PERSONAGENS ESFÉRICAS – Também ao do Romantismo, o

Realismo apresentava personagens mais complexas e dinâmicas, pois evoluíam psicologicamente ao longo da narrativa. Lembre-se de que no Romantismo quase todas as personagens eram lineares, ou seja, eram previsíveis, construídas a partir de um aspecto, ou eram os heróis ou eram os vilões.

*    CONTEMPORANEIDADE – O que interessa ao autor realista é o tempo presente, o hoje. Daí a frequente crítica social, procurando desmascarar a imoralidade da igreja e da burguesia da época.

*    DETALHISMO – As personagens e os locais são descritos detalhadamente pelo autor que buscava um retrato mais fiel da realidade.

O Realismo apresentou uma outra vertente, que representava a intensificação de algumas de suas características. É o chamado Naturalismo, em encontramos o Realismo levado ao extremo, principalmente no que diz respeito ao cientificismo da época e ao determinismo.

Embora dependentes, Realismo e Naturalismo, apresentam algumas diferenças:

Quadro Comparativo entre Realismo e Naturalismo:

REALISMO

NATURALISMO

      Romance documental

      Análise exterior e interior

      Ênfase psicológica

      Classes sociais dominantes

      Interpretação indireta

      Romance experimental

      Análise exterior

      Ênfase biológica

      Classes sociais inferiores

      Interpretação direta

Realismo em Portugal tem como marcos inicial a famosa Questão Coimbrã. Vamos entendê-la:


 
                             Lisboa

Mesmo com todas as transformações do período, Lisboa se mantinha como palco dos grandes escritores românticos, representados por Antônio Feliciano de Castilho.

Coimbra, por sua vez, abrigou um grupo de jovens estudantes, que representados por Antero de Quental, identificava-se mais com as novas ideias realistas.

A Questão Coimbra foi justamente o choque de ideias entre esses dois grupos.

Tudo começou quando Antônio Feliciano de Castilho fez algumas referências irônicas aos jovens escritores de Coimbra, atacando principalmente a obra de Antero de Quental.

Anos depois, praticamente o mesmo grupo de escritores realistas participou das chamadas Conferências Democráticas Lisbonense. Essas conferências eram reuniões em que se discutiam as novas tendências realistas, livres do conservadorismo português.

A grande figura da prosa realista portuguesa foi sem dúvida alguma Eça de Queirós.

EÇA DE QUEIRÓS E O REALISMO

 

Nós já vimos que o Realismo foi a estética literária da segunda metade do século XIX, considerado como um movimento de reação aos ideais românticos. Sua principal característica foi a preocupação com a realidade, buscando reproduzi-la através do objetivismo. Eça de Queirós foi o autor que, como nenhum outro, conseguiu trabalhar a temática realista. Veja sua imagem:


Eça de Queirós é considerado o maior romancista português de todo o século XIX.

 

Eça de Queirós, assim como os jovens escritores realistas, também estudou na Universidade de Coimbra, mas não participou com eles da polêmica Questão Coimbrã, que como já vimos, foi o choque entre os novos escritores, mais identificados com as novas tendências realistas, e os velhos escritores românticos de Lisboa. Eça assistiu a tudo com distância.

Mas, anos mais tarde, participou ativamente das Conferências Democráticas do Cassino Lisbonense:

Dez conferências estavam programadas, mas apenas cinco foram proferidas, pois o governo português fechou o cassino e proibiu qualquer reunião. Segundo ele, elas atacavam a religião e as instituições do Estado. Mesmo assim, elas foram responsáveis pela consolidação da nova estética.

Eça de Queirós proferiu a 4ª conferência, nela atacou diretamente o Romantismo e apresentou as principais características realistas, destacando o papel da literatura enquanto veículo de denúncia dos desequilíbrios da sociedade. Nessa ocasião, influenciado pelas idéias deterministas Eça afirmou:

“ O homem é um resultado, uma conclusão e um procedimento das circunstâncias que o envolvem. Abaixo os heróis!”.

Eça de Queirós

Segundo o determinismo, o homem era influenciado por três grandes forças: o meio, a raça e o momento. Eça nesse trecho reafirma a posição determinista ao dizer que o homem é resultado de seu meio e a amplia numa clara oposição aos românticos, daí a expressão: “Abaixo os heróis”.

Para Eça de Queirós o Realismo era uma nítida oposição ao Romantismo:

“O Realismo é uma reação contra o Romantismo: o Romantismo era a apoteose do sentimento: - o Realismo é a anatomia do caráter. É a crítica do homem. É a arte que nos pinta a nossos próprios olhos – para condenar o que houver de mau na nossa sociedade”.

Eça de Queirós

Realismo é crítica. Crítica é a palavra síntese de Eça de Queirós. O grande autor realista denunciou, como nunca fora visto, sociedade portuguesa.

Frequentemente os grandes vestibulares do Brasil incluem livros de Eça de Queirós em suas bibliografias e elaboram questões sobre as características de sua obra. Veja um exemplo de uma questão extraída de um desses exames vestibulares:

Para buscarmos a resposta é preciso verificar como sua obra esta dividida:

DIVISÃO DE SUA OBRA

Divisão da obra de Eça de Queirós

1ª Fase

(influência romântica)

O mistério da estrada de Sintra

2ª Fase

(caráter realista/naturalista)

      O crime do Padre Amaro

      O primo Basílio

      Os Maias

3ª Fase

(pós-realista)

      A ilustre casa de Ramires

      A cidade e as serras

      A relíquia

       A obra de Eça é comumente dividida em três fases. Numa primeira fase encontramos um autor ainda preso aos ideais românticos. É dessa fase o livro O Mistério da Estrada de Sintra, escrito em parceria com o amigo dos tempos de escola, Ramalho Ortigão.

       Na segunda fase encontramos a consolidação das características realistas. Essa fase tem início com a publicação de O crime do padre Amaro, considerado o primeiro romance realista português, e se estende até a publicação de Os Maias.

Já na terceira fase, encontramos um autor mais preocupado com os valores tradicionais da vida portuguesa, com a existência humana e a vida campestre. São dessa fase os livros A ilustre casa de Ramires e A cidade e as serras.

A Segunda fase é a melhor parte de sua produção literária, nela Eça de Queirós monta um amplo painel da sociedade portuguesa, retratando-a sob vários aspectos, criticando principalmente a decadência dos valores morais, a burguesia e o clero.

Eça dedicou-se ao romance de tese, muito popular na época. Esse tipo de romance parte de uma ideia central, de uma tese que vai ser demonstrada pela ação das personagens.

Foi isso que ele fez ao elaborar a trilogia dessa segunda fase:

TRILOGIA –“Cenas Portuguesas”

     O crime do Padre Amaro

     O primo Basílio

     Os Maias

Ao elaborar um painel da sociedade portuguesa, através de minuciosas descrições, Eça analisa e critica os comportamentos femininos, as ambições masculinas, a corrupção do clero, entre outros aspectos da sociedade lisboeta do século XIX.

 

LIVROS

O crime do padre Amaro tem como enredo a história de sedução de Amélia pelo padre Amaro. Amélia era uma moça solteira que acreditava em tudo o que os padres diziam. Tanto que ironicamente, Eça subtitulou o romance como cenas da vida devota. A história se passa numa cidade provinciana do norte de Lisboa, fortemente influenciada pela igreja católica. O livro foi um escândalo na época em que foi escrito.

Veja dois fragmentos do livro em que Amaro e Amélia falam sobre seus sentimentos:

 

“ Era este um dos grandes gozos de Amaro – ouvir gabar aos colegas a beleza de Amélia, que era chamada entre o clero “a flor das devotas”. Todos lhe invejavam aquela confessada. Por isso insistia muito com ela em que se ajano tasse aos domingos, à missa; zangara-se mesmo ultimamente de a ver quase sempre entrouxada num vestido de merino escuro, que lhe dava um ar de velha penitente.

(...)

            Cessaria as suas relações com Amaro, se o ousasse; mas receava quase tanto a sua cólera como a de Deus. Que seria dela se tivesse contra si Nossa Senhora e o senhor pároco? Além disso, amavao. Nos seus braços, todo o terror do céu, a mesma idéia do céu desapareceria; refugiada ali, contra o seu peito, não tinha medo das iras divinas; o desejo, o furor da carne, como vinho muito alcoólico, davamlhe uma coragem colérica; era com um brutal desafio ao céu que se enroscava furiosamente ao seu corpo”.

Existem três versões sobre O crime do padre Amaro, nas duas primeiras Amaro mata o filho assim que ele nasce. Na última versão, Amaro não mata a criança, mas essa morre misteriosamente pouco antes de Amélia, sua mãe.

Outra obra significativa é O primo Basílio, que tem como subtítulo – episódio da vida doméstica. Ao contrário de O crime do padre Amaro, ambienta-se na cidade. Nesse livro, como o próprio autor afirma está uma crítica à família lisboeta. O livro conta a história de Luisa, mulher sentimental e ociosa, que ficava a maior parte do tempo lendo romances românticos. Numa viagem do marido ela  entrega-se a um caso amoroso com seu primo Basílio. Basílio era um malandro que buscava apenas mais uma aventura, ao contrário de Luisa que estava realmente apaixonada.

Uma das partes mais conhecidas do romance corresponde à chantagem da empregada Juliana ao descobrir o adultério da patroa:

“ – Seiscentos mil-réis! Onde quer você que eu vá buscar seiscentos mil-réis?

               _ Ao inferno!_ gritou Juliana. _ Ou me dá seiscentos mil-réis, ou tão certo como eu estar aqui, o seu marido há de ler as cartas!

              Luísa deixou-se cair numa cadeira, aniquilada.

              _ Que fiz eu para isto, meu Deus? Que fiz para isto?                 Juliana plantou-se-lhe diante, muito insolente”.

Os Maias, último livro da trilogia “Cenas portuguesas” conta a história do amor incestuoso dos irmãos Carlos Eduardo da Maia e Maria Eduarda. Os dois foram separados enquanto crianças e cresceram em países diferentes. Mas acabam se apaixonando. Ao lado dessa trama central, Eça critica a futilidade e o falso moralismo da alta sociedade lisboeta.

 Veja um trecho da cena em que Carlos Eduardo descobre que Maria Eduarda era sua irmã:

“ _ E tu acreditas que isso seja possível? Acreditas que suceda a um homem como eu, como tu, numa rua de Lisboa? Encontro uma mulher, olho para ela, conheço-a, durmo com ela e, entre todas as mulheres do mundo, essa justamente há-de ser minha irmã! É impossível ... Não há Guimarães, não há papéis, não há documentos que me convençam!”.

Na terceira fase de sua obra, considerada pós-realista, Eça de Queirós identifica-se com outros ideais, como o resgate dos valores tradicionais e o elogio da vida no campo, temas tratados em A ilustre casa de Ramires e A cidade e as serras.

Já o livro A relíquia, tem como temas a crítica à hipocrisia religiosa e à falsidade humana. O romance conta a história de Teodorico Raposo, o Raposão, que faz de tudo para agradar a tia rica e herdar sua fortuna, inclusive se fingindo de beato.

A resposta correta seria não, pois mesmo falando de certas injustiças sociais, prioritariamente, a obra de Eça de Queirós critica o clero e a sociedade burguesa.

 Para finalizarmos nossa aula, nada melhor do que um fragmento do próprio Eça a respeito de sua obra, numa carta que escreveu a Teófilo Braga:

“A minha ambição seria pintar a sociedade portuguesa, e mostrar-lhe, como num espelho, que triste país eles formam - eles e elas. É o meu fim nas Cenas portuguesas. É necessário acutilar o mundo oficial, o mundo sentimental, o mundo literário, o mundo agrícola, o mundo supersticioso - e, com todo respeito pelas instituições de origem eterna, destruir as falsas interpretações e falsas realizações que lhe dá uma sociedade podre. Não lhe parece você que um tal trabalho é justo?”

Eça de Queirós

 

 

 

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