segunda-feira, 25 de julho de 2022

PEDAGOGIA LIBERAL


     O termo liberal não tem o sentido de "avançado", ''democrático", "aberto", como costuma ser usado. A doutrina liberal apareceu como justificativa do sistema capitalista que, ao defender a predominância da liberdade e dos interesses individuais na sociedade, estabeleceu uma forma de organização social baseada na propriedade privada dos meios de produção, também denominada saciedade de classes. A pedagogia liberal, portanto, é uma manifestação própria desse tipo de sociedade.

    A educação brasileira, pelo menos nos últimos cinqüenta anos, tem sido -marcada pelas tendências liberais, nas suas formas ora conservadora, ora renovada. Evidentemente tais tendências se manifestam, concretamente, nas práticas escolares e no ideário pedagógico de muitos professores, ainda que estes não se dêem conta dessa influência. 

    A pedagogia liberal sustenta a ideia de que a escola tem por função preparar os indivíduos para o desempenho de papeias sociais, de acordo com as aptidões individuais. Para isso, os indivíduos precisam aprender a adaptar-se aos valores e às normas vigentes na sociedade de classes, através do desenvolvimento da cultura individual. A ênfase no aspecto cultural esconde a realidade das diferenças de classes, pois, embora difunda a ideia de igualdade de oportunidades, não leva em conta a desigualdade de condições. Historicamente, a educação liberal iniciou-se com a pedagogia tradicional e, por razões de recomposição da hegemonia da burguesia, evoluiu para a pedagogia renovada (também denominada escola nova ou ativa), o que não significou a substituição de uma pela outra, pois ambas conviveram e convivem na prática escolar. 

2 A designação "progressivista" vem de "educação progressiva", termo usado por Anísio Teixeira para indicar a função da educação numa civilização era mudança, decorrente do desenvolvimento científico (idéia equivalente a "evolução" em biologia). Esta tendência inspira-se no filósofo e educador norte-americano John Dewey. Cf. Anísio Teixeira, Educação Progressiva.

    Na tendência tradicional, a pedagogia se caracteriza por acentuar o ensino humanístico, de cultura geral, no qual aluno é educado para atingir, pelo próprio esforço, sua plena realização como pessoa. Os conteúdos, os procedimentos didáticos, a relação professor-aluno não têm nenhuma relação com o cotidiano do aluno e muito menos com as realidades sociais. É a predominância da palavra do professor, das regras impostas, do cultivo exclusivamente intelectual. 

 A tendência Liberal Renovada acentua, igualmente, o sentido da cultura como desenvolvimento das aptidões individuais. Mas a educação é um processo interno, não externo; ela parte das necessidades e interesses individuais necessários para a adaptação ao meio. A educação é a vida presente é parte da própria experiência humana. A escola renovada propõe um ensino que valoriza a auto-educação (o aluno como sujeito do conhecimento), a experiência direta sobre o meio pela atividade; um ensino centrado no aluno e no grupo. A tendência liberal renovada apresenta-se, entre nós, em duas versões distintas: a renovada progressivista, ou, pragmática, principalmente na forma difundida pelos pioneiros da educação nova, entre os quais se destaca Anísio Teixeira (deve-se destacar, também, a influência de MONTESSORI, DECROLY e, de certa forma, PIAGET); a renovada não-diretiva, orientada para os objetivos de auto-realização (desenvolvimento pessoal) e para as relações inter-pessoais, na formulação do psicólogo norte-americano CARL ROGERS. 

   A tendência liberal tecnicista subordina a educação à sociedade, tendo como função a preparação de "recursos humanos" (mão-de-obra para indústria). A sociedade industrial e tecnológica estabelece (cientificamente) as metas econômicas, sociais e políticas, a educação treina (também cientificamente) nos alunos os comportamentos de ajustamento a essas metas. No tecnicismo acredita-se que a realidade contém em si suas próprias leis, bastando aos homens descobri-las e aplicá-las. Dessa forma, o essencial não é o conteúdo da realidade, mas as técnicas (forma) de descoberta e aplicação. A tecnologia (aproveitamento ordenado de recursos, com base no conhecimento científico) é o meio eficaz de obter a maximização da produção e garantir um ótimo funcionamento da sociedade; a educação é um recurso tecnológico por excelência. Ela "é encarada como um instrumento capaz de promover, sem contradição, o desenvolvimento econômico pela qualificação da mão-de-obra, pela redistribuição da renda, pela maximização da produção e, ao mesmo tempo, pelo desenvolvimento da 'consciência política' indispensável à manutenção do Estado autoritário". Utiliza-se basicamente do enfoque sistêmico, da tecnologia educacional e da análise experimental do comportamento.   

1. Tendência liberal tradicional   

 Papel da escola - A atuação da escola consiste na preparação intelectual e moral dos alunos para assumir sua posição na sociedade. O compromisso da escola é com a cultura, os problemas sociais pertencem à sociedade. O caminho cultural em direção ao saber é o mesmo para todos os alunos, desde que se esforcem. Assim, os menos capazes devem lutar para superar suas dificuldades e conquistar seu lugar junto aos mais capazes. Caso não consigam, devem procurar o ensino mais profissionalizante. 

 Conteúdos de ensino - São os conhecimentos e valores sociais acumulados pelas gerações adultas e repassados ao aluno como verdades. As matérias de estudo visam preparar o aluno para a vida, são determinadas pela sociedade e ordenadas na legislação. Os conteúdos são separados da experiência do aluno e das realidades sociais, valendo pelo valor intelectual, razão pela qual a pedagogia tradicional é criticada como intelectualista e, às vezes, como enciclopédica. 

 Métodos - Baseiam-se na exposição verbal da matéria e/ou demonstração. Tanto a exposição quanto a análise são feitas pelo professor, observados os seguintes passos: a) preparação do aluno (definição do trabalho, recordação da matéria anterior, despertar interesse); b) apresentação (realce de pontos-chave, demonstração); c) associação (combinação do conhecimento novo com o já conhecido por comparação e abstração); d) generalização (dos aspectos particulares chega-se ao conceito geral, é a exposição sistematizada); e) aplicação(explicação de fatos adicionais e/ou resoluções de exercícios). A ênfase nos exercícios, na repetição de conceitos ou fórmulas na memorização visa disciplinar a mente e formar hábitos. 

    Relacionamento professor-aluno - Predomina a autoridade do professor que exige atitude receptiva dos alunos e "impede qualquer comunicação entre eles no decorrer da aula. O professor transmite o conteúdo na forma de verdade a ser absorvida; em conseqüência, a disciplina imposta é o meio mais eficaz para assegurar a atenção e o silêncio.   

 Pressupostos de aprendizagem - A idéia de que o ensino consiste em repassar os conhecimentos para o espírito da criança é acompanhada de uma outra: a de que a capacidade de assimilação da criança é idêntica à do adulto, apenas menos desenvolvida. Os programas, então, devem ser dados numa progressão lógica, estabelecida pelo adulto, sem levar em conta as características próprias de cada idade. A aprendizagem, assim é receptiva e mecânica, para que se recorre freqüentemente à coação. A retenção do material ensinado é garantida pela repetição de exercícios sistemáticos e recapitulação da matéria. À transferência da aprendizagem depende do treino; é indispensável a retenção, a fim de que o aluno possa responder às situações novas de forma semelhante às respostas dadas em situações anteriores. A avaliação se dá por verificações de curto prazo (interrogatórios, orais, exercícios de casa) e de prazo mais longo (provas escritas, trabalhos de casa). O reforço é, em geral, negativo (punição, notas baixas, apelos aos pais); às vezes, é positivo (emulação, classificações).   

 Manifestações na prática escolar - A pedagogia liberal tradicional é viva e atuante em nossas escolas. Na descrição apresentada aqui incluem-se as escolas religiosas ou leigas que adotam uma orientação clássico-humanista ou uma orientação humano-científica, sendo que esta se aproxima mais do modelo de escola predominante em nossa história educacional.   

2. Tendência liberal renovada progressivista   

 Papel da escola - A finalidade da escola é adequar as necessidadesindividuais ao meio social e, para isso, ela deve se organizar de forma a retratar, o quanto possível, a vida. Todo ser dispõe dentro de si mesmo de mecanismos de adaptação progressiva ao meio e de uma conseqüente integração dessas formas de adaptação no comportamento. Tal integração se dá por meio de experiências que devem satisfazer, ao mesmo tempo, os interesses do aluno e as exigências sociais.

    À escola cabe suprir as experiências que permitam ao aluno educar-se, num processo ativo de construção e reconstrução do objeto, numa interação entre estruturas cognitivas do indivíduo e estruturas do ambiente.   

 Conteúdos de ensino - Como o conhecimento resulta da ação a partir dos interesses e necessidades, os conteúdos de ensino são estabelecidos em função de experiências que o sujeito vivência frente a desafios cognitivos e situações problemáticas. Dá-se, portanto, muito mais valor aos processos mentais e habilidades cognitivas do que a conteúdos organizados racionalmente. Trata-se de "aprender a aprender", ou seja, é mais importante o processo de aquisição do saber do que o saber propriamente dito.   

 Método de ensino - A ideia de "aprender fazendo" está sempre presente. Valorizam-se as tentativas experimentais, a pesquisa, a descoberta, o estudo do meio natural e social, o método de solução de problemas. Embora os métodos variem, as escolas ativas ou novas (Dewey, Montessori, Decroly, Cousinet e outros) partem sempre de atividades adequadas à natureza do aluno e às etapas do seu desenvolvimento. Na maioria delas, acentua-se a importância do trabalho em grupo não apenas como técnica, mas como condição básica do desenvolvimento mental. Os passos básicos do método ativo são:

 a) colocar o aluno numa situação de experiência que tenha um interesse por si mesma; 

b) o problema deve ser desafiante, como estímulo à reflexão; 

c) o aluno deve dispor de informações e instruções que lhe permitam pesquisar a descoberta de soluções; 

d) soluções provisórias devem ser incentivadas e ordenadas, com a ajuda discreta do professor;

e) deve-se garantir a oportunidade de colocar as soluções à prova, a fim de determinar sua utilidade para a vida. 

 Relacionamento professor-aluno - Não há lugar privilegiado para o professor; antes, seu papel é auxiliar o desenvolvimento livre e espontâneo da criança; se intervém, é para dar forma ao raciocínio dela. A disciplina surge de uma tomada de consciência dos limites da vida grupal; assim, aluno disciplinado é aquele que é solidário, participante, respeitador das regras do grupo. Para se garantir um clima harmonioso dentro da sala de aula é indispensável um relacionamento positivo entre professores é alunos, uma forma de instaurar a "vivência democrática" tal qual deve ser a vida em sociedade.   

 Pressupostos de aprendizagem - A motivação depende da força de estimulação do problema e das disposições internas e interesses do aluno. Assim, aprender se torna uma atividade de descoberta, é uma autoaprendizagem, sendo o ambiente apenas o meio estimulador. É retido o que se incorpora à atividade do aluno pela descoberta pessoal; o que é incorporado passa a compor a estrutura cognitiva para ser empregado em novas situações. A avaliação é fluida e tenta ser eficaz à medida que os esforços e os êxitos são pronta e explicitamente reconhecidos pelo professor.   

 Manifestações na prática escolar - Os princípios da pedagogia progressivista vêm sendo difundidos, em larga escala, nos cursos de licenciatura, e muitos professores sofrem sua influência. Entretanto, sua aplicação é reduzidíssima, não somente por faltar de condições objetivas como também porque se choca com uma prática pedagógica basicamente tradicional. Alguns métodos são adotados em escolas particulares, como o método Montessori, o método dos centros de interesse de Decroly, o método de projetos de Dewey. O ensino baseado na psicologia genética de Piaget tem larga aceitação na educação pré-escolar. Pertencem, também, à tendência progressivista muitas das escolas denominadas "experimentais", as "escolas comunitárias” e mais remotamente (década de 60) a "escola secundária moderna", na versão difundida por Lauro de Oliveira Lima. 

3. Tendência liberal renovada não-diretiva   

 Papel da escola - Acentua-se nesta tendência o papel da escola na formação de atitudes, razão pela qual deve estar mais preocupada com problemas psicológicos do que com os pedagógicos ou sociais. Todo esforço está em estabelecer um clima favorável a uma mudança dentro do indivíduo, isto é, a uma 4 Cf. Carl ROGERS, Liberdade para aprender. Adequação pessoal às solicitações do ambiente. Rogers considera que o ensino é uma atividade excessivamente valorizada; para ele os procedimentos didáticos, a competência na matéria, as aulas, livros, tudo tem muito pouca importância, face ao propósito de favorecer à pessoa um clima de autodesenvolvimento e realização pessoal, o que implica estar bem consigo próprio e com seus semelhantes. O resultado de uma boa educação é muito semelhante ao de uma boa terapia.   

 Conteúdos de ensino - A ênfase que esta tendência põe nos processos de desenvolvimento das relações e da comunicação torna secundária a transmissão de conteúdos. Os processos de ensino visam mais facilitar aos estudantes os meios para buscarem por si mesmos os conhecimentos que, no entanto, são dispensáveis.   

 Métodos de ensino - Os métodos usuais são dispensados, prevalecendo quase que exclusivamente o esforço do professor em desenvolver um estilo próprio para facilitar a aprendizagem dos alunos Rogers explicita algumas das características do professor “facilitador": aceitação da pessoa do aluno, capacidade de ser confiável, receptivo e ter plena convicção na capacidade de autodesenvolvimento do estudante. Sua função restringe-se a ajudar o aluno a se organizar, utilizando técnicas de sensibilização onde os sentimentos de cada um possam ser expostos, sem ameaças. Assim, o objetivo do trabalho escolar se esgota nos processos de melhor relacionamento interpessoal, como condição para o crescimento pessoal. 

 Relacionamento professor-aluno - A pedagogia não-diretiva propõe uma educação centrada no aluno, visando formar sua personalidade através da vivência de experiências significativas que lhe permitam desenvolver características inerentes a sua natureza. O professor é um especialista em relações humanas, ao garantir o clima de relacionamento pessoal autêntico. “Ausentar-se” é a melhor forma de respeito e aceitação plena do aluno. Toda intervenção é ameaçadora e inibidora da aprendizagem.   

 Pressupostos de aprendizagem - A motivação resulta do desejo de adequação pessoal na busca da auto-realização; é, portanto, um ato interno. A motivação aumenta, quando o sujeito desenvolve o sentimento de que é capaz de agir em termos de atingir suas metas pessoais, isto é, desenvolve a valorização do "eu". Aprender, portanto, é modificar suas próprias percepções; daí que apenas se aprende o que estiver significativamente relacionado com essas percepções.

Resulta que a retenção se dá pela relevância do aprendido em relação ao "eu", ou seja, o que não está envolvido com o "eu" não é retido e nem transferido. Portanto, a avaliação escolar perde inteiramente o sentido, privilegiando-se a auto-avaliação.  

 Manifestações na prática escolar - Entre nós, o inspirador da pedagogia não-diretiva é C. Rogers, na verdade mais um psicólogo clínico que um educador. Suas ideias influenciam um número expressivo de educadores e professores, principalmente orientadores educacionais e psicólogos escolares que se dedicam ao aconselhamento. Menos recentemente, podem-se citar também tendências inspiradas na escola de Summerhill do educador inglês A. Neill. 

4. Tendência liberal tecnicista   

 Papel da escola - Num sistema social harmônico, orgânico e funcional, a escola funciona como modeladora do comportamento humano, através de técnicas específicas. À educação escolar compete organizar o processo de aquisição de habilidades, atitudes e conhecimentos específicos, úteis e necessários para que os indivíduos se integrem na maquina do sistema social global. Tal sistema social é regido por leis naturais (há na sociedade a mesma regularidade e as mesmas relações funcionais observáreis entre os fenômenos da natureza), cientificamente descobertas. Basta aplicá-las. A atividade da "descoberta" é função da educação, mas deve ser restrita aos especialistas; a “aplicação" é competência do processo educacional comum. A escola atua, assim, no aperfeiçoamento da ordem social vigente (o sistema capitalista), articulando-se diretamente com o sistema produtivo; para tanto, emprega a ciência da mudança de comportamento, ou seja, a tecnologia comportamental. Seu interesse imediato é o de produzir indivíduos "competentes” para o mercado de trabalho, transmitindo, eficientemente, informações precisas, objetivas e rápidas. A pesquisa científica, á tecnologia educacional, a análise experimental do comportamento garante a objetividade da prática escolar, uma vez que os objetivos instrucionais (conteúdos) resultam da aplicação de leis naturais que independem dos que a conhecem ou executam.   

 Conteúdos de ensino - São as informações, princípios científicos, leis etc., estabelecidos e ordenados numa sequência lógica e psicológica por especialistas. É matéria de ensino apenas o que é redutível ao conhecimento observável e mensurável; os conteúdos decorrem, assim, da ciência objetiva, eliminando-se qualquer sinal de subjetividade. O material instrucional encontra-se  sistematizado nos manuais, nos livros didáticos, nos módulos de ensino, nos dispositivos audiovisuais etc.   

 Métodos de ensino - Consistem nos procedimentos e técnicas necessárias ao arranjo e controle das condições ambientais que assegurem a transmissão/recepção de informações. Se a primeira tarefa do professor é modelar respostas apropriadas aos objetivos instrucionais, a principal é conseguir o comportamento adequado pelo controle do ensino; daí a importância da tecnologia educacional. A tecnologia educacional é a "aplicação sistemática de princípios científicos comportamentais e tecnológicos, a problemas educacionais, em função de resultados efetivos, utilizando uma metodologia e abordagem sistêmica abrangente” 5. Qualquer sistema instrucional (há uma grande variedade deles) possui três componentes básicos: objetivos instrucionais operacionalizados em comportamentos observáveis e mensuráveis, procedimentos instrucionais e avaliação. As etapas, básica de processo ensino aprendizagem são: a) estabelecimento de comportamentos terminais, através de objetivos instrucionais; b) análise da tarefa de aprendizagem, a fim de ordenar sequencialmente os passos da instrução; c) executar o programa, reforçando gradualmente as respostas corretas correspondentes aos objetivos. O essencial da tecnologia educacional é a programação por passos seqüenciais empregada na instrução programada, nas técnicas de microensino, multimeios, módulos etc. O emprego da tecnologia instrucional na escola pública aparece nas formas de: planejamento em moldes sistêmicos, concepção de aprendizagem como mudança de comportamento, operacionalização de objetivos, uso procedimentos científicos (instrução programada, audiovisuais, avaliações etc. inclusive a programação de livros didático) 

Relacionamento professor-aluno - São relações estruturadas e objetivas, com papeis tem definidos: o professor administra as condições de transmissão da matéria, conforme uma instrucional eficiente e efetivo em termos de resultados da aprendizagem; o aluno recebe, aprende e fixa as informações. O professor é apenas um elo de ligação entre a verdade científica e o aluno, cabendo-lhe empregar o sistema instrucional previsto. O aluno é um indivíduo responsivo, não participa da elaboração do programa educacional. Ambos são espectadores frente à verdade objetiva. A comunicação professor-aluno tem um sentido exclusivamente técnico, que garantir a eficácia da transmissão do conhecimento. Debates, discussões, questionamentos são desnecessários, assim como pouco importam as relações afetivas e pessoais dos sujeitos envolvidos no processo ensino aprendizagem.   

 Pressupostos de aprendizagem – as teorias de aprendizagem que fundamentam a pedagogia tecnicista dizem que aprender é uma questão de modificação do desempenho: o bom ensino depende de organizar eficientemente as condições estimuladoras, de modo a que o aluno saia da situação de aprendizagem diferente de como entrou. Ou seja, o ensino é um processo de condicionamento através do uso de reforçamento das respostas que se quer obter. Assim, os sistemas instrucionais visam o controle do comportamento individual face a objetivos preestabelecidos. Trata-se de um enfoque diretivo do ensino, centrado no controle das condições que cercam o organismo que se comporta. O objetivo da ciência pedagógica, a partir da psicologia, é o estudo científico do comportamento: descobrir as leis presidem as reações físicas do organismo que aprende, a fim de aumentar o controle das variáveis que o afetam. Os componentes da aprendizagem –motivação, retenção, transferência - decorrem da aplicação do comportamento operante. Segundo Skinner, o comportamento aprendido é uma resposta a estímulos externos, controlados por meio de reforços que ocorrem, cem a resposta ou após a mesma: “Se a ocorrência de um (comportamento) operante é seguida pela apresentação de um estímulo (reforçador), a probabilidade de reforçamento é aumentada". Entre os autores que contribuem para os estudos de aprendizagem destacam-se: Skinner, Gagné, Bloom e Mager. 

 Manifestações na prática escolar - A influência da pedagogia tecnicista remonta à 2° metade dos anos 50 (PABAEE - Programa Brasileiro-Americano de Auxílio ao Ensino Elementar). Entretanto foi introduzida mais efetivamente no final dos anos 60 com o objetivo de adequar o tema educacional à orientação político econômica do regime militar: inserir a escola nos modelos de racionalização do sistema de produção capitalista. É quando a orientação escolanovista cede lugar à tendência tecnicista, pelo menos no nível de política oficial; os marcos de implantação do modelo tecnicista são as leis 5.540/68 e 5.692/71, que reorganizam o ensino superior e ensino de 1° e 2° graus. A despeito da maquina oficial, entretanto, não há indícios seguros de que o professor da escola pública tenha assimilado a pedagogia tecnicista (planejamento, livros didáticos programados, procedimentos de avaliação e etc.) não configura uma postura 8 Sobre a introdução da pedagogia tecnicista no Brasil, cf. Barbara FREITAG, Escola, Estado e Sociedade; Laymert G. S. GARCIA, Desregulagem — Educação, Planejamento e Tecnologia como ferramenta Social no Brasil, entre outros.

   LIBÂNEO, José Carlos. Didática, Cortês, 1994 ________________ Democratização da escola pública, São Paulo, Edições. Loyola,1985.


sábado, 23 de julho de 2022

O TERRORISMO

 

Formalmente, terrorismo é o uso da violência sistemática, com objetivos políticos, contra civis ou militares que não estão em operação de guerra. O método básico do terrorismo é a destruição da vida humana, em nome de certos princípios ideológicos, políticos ou religiosos. O terrorismo não surgiu em nosso século, mas seu auge aconteceu durante os anos da Guerra Fria. E não foi por acaso. A Guerra Fria pode ser descrita como um sistema de equilíbrio entre dois blocos inimigos que se baseava no terror. O programa mostra como a chamada "cultura da Guerra Fria" estimulou a multiplicação de grupos terroristas. Depoimentos do jornalista José Arbex Jr. Sempre que ouvimos falar em terrorismo, lembramos logo dos atentados a bomba, dos sequestros de avião e de outras ações violentas praticadas por extremistas. E pensamos nas vítimas, em geral pessoas inocentes, muitas vezes mulheres e crianças, que apenas estavam no lugar errado na hora errada. O método básico do terrorismo é a destruição da vida humana, em nome de certos princípios ideológicos, políticos ou religiosos. 

    O terrorismo não surgiu em nosso século, mas seu auge aconteceu durante os anos da Guerra Fria, depois da Segunda Guerra Mundial. Não foi por acaso. A Guerra Fria pode ser descrita como um sistema de equilíbrio entre dois blocos inimigos que se baseava no terror. Afinal, o poder de destruição nuclear dos Estados Unidos e da União Soviética era tão grande que ninguém poderia iniciar uma guerra total. Seria o fim da espécie humana. Essa mentalidade consagrou o terror como forma de relacionamento entre Estados. Nesse sentido, a chamada "cultura da Guerra Fria" foi o grande estímulo à multiplicação de grupos terroristas.

Alguns grupos terroristas e suas motivações


Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc)

As Farc atuam na Colômbia   e em suas fronteiras e, eventualmente, na Venezuela. Fundada em 1966, essa organização era composta de mais de 10 mil homens nos primeiros anos do século XXI. Seu principal objetivo é criar um regime marxista-leninista na região e lutar contra os interesses econômicos estrangeiros considerados nocivos ao país. Dentre as ações que a organização já promoveu, estão: sequestro, assassinato daqueles que não a apoiam e ataques organizados contra forças legais, instituições e empresas. Está envolvida com o tráfico de drogas, por meio da qual arrecada fundos e armas para efetuar suas ações. Desde o acordo de paz, em 2016, 2 000 ex-combatentes das FARC retomaram as armas aumentando o número de membros ativos para 2 300 combatentes. O descontentamento perante o acordo de paz entre os líderes das FARC, acusando o governo de perseguir os seus membros

Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP)

Um dos grupos mais radicais da Organização para Libertação da Palestina (OLP), a FPLP atua no Oriente Médio, principalmente em Israel, Síria, Líbano, Faixa de Gaza, além de atuar na Europa. Fundada em 1967, tinha cerca de 800 membros no final da década de 1990. Seu principal objetivo é a libertação da Palestina e a criação de um Estado secular, sem vínculo religioso. Dentre as ações que já promoveu, estão: sequestro de aviões, explosão de bomba em locais públicos e assassinatos de figuras de destaque da vida política. A decadência da União Soviética no final da década de 1980 teria consequências negativas para a organização, já que representou a perda de um importante apoio. Ao mesmo tempo, a ascensão do Hamas faria com que o grupo perdesse adeptos e simpatizantes nos Territórios Ocupados. Em 2006 a organização participou nas eleições legislativas palestinianas como, tendo alcançado 4,2% dos votos, o que se traduziu em três lugares no Conselho Legislativo Palestiniano.

Hamas

Atua nas áreas controladas pelas autoridades palestinas: Jordânia e Israel. Fundada em 1987, tem um, número desconhecido de membros e milhares de simpatizantes. Seu objetivo principal é a criação de um Estado islâmico fundamentalista palestino e a eliminação de Israel. Dentre as ações que já promoveu, estão: o assassinato de israelenses, explosão de bombas em locais públicos, ataques a tropas legais israelenses e ataques suicida com homens bombas. Em fevereiro de 2006, o Hamas, através de Khalid Meshal, propôs um cessar-fogo duradouro - tendo sido sugerida uma trégua de 10 a 15 anos - desde que Israel devolvesse os territórios ocupados na Guerra dos Seis Dias, em 1967. Durante o governo Bush, os Estados Unidos acusaram a Arábia Saudita de financiar o Hamas. O governo saudita, por sua vez, não considera que o Hamas seja uma organização A eleição legislativa palestina de janeiro de 2006 deu ampla maioria ao Hamas, derrotando a Fatah, organização política e militar fundada por Yasser Arafat em 1959. terrorista. Portanto a solicitação do governo americano para interromper o envio de auxílio à liderança da Autoridade Palestina foi negada pelos sauditas.

Hezbollah

Atua no Líbano, em Israel, na Europa e na América Latina. Fundada entre 1982 e 1983, esse grupo terrorista tinha entre 5 mil e 10 mil membros no final dos anos 90. Seu objetivo principal é a transformação do Líbano em um Estado Xiita livre da influência ocidental. Defende também a eliminação do Estado de Israel e o controle de Jerusalém. Dentre as ações que promoveu, estão: ataques suicidas com homens-bombas, sequestro de aviões, explosão de edifícios públicos e ataques a tropas legais israelenses. Fontes ocidentais afirmam que o Hezbollah de fato recebe a maior parte de sua ajuda financeira, treinamento, armas, explosivos, ajuda política, diplomática e organizacional do Irã e da Síria.

Al Qaeda

Criada em 1988 por Osama Bin Laden, atuavam no Afeganistão e tem um número indefinido de membros, muitos deles veteranos da guerra no Afeganistão contra a URSS de fins dos anos 1970. Defensores do fundamentalismo islâmico, recebem o apoio dos muçulmanos que discordam da influência militar dos Estados Unidos sobre países árabes e do tratamento de Israel aos palestinos. Em sua organização existem muitas células de atuação, sendo utilizada a internet como instrumento de comunicação. Dentre as ações, estão: a explosão de uma bomba no World Trade Center (Nova York) em 1993, a explosão da embaixada norte-americana no Quênia e na Tanzânia e a explosão das torres gêmeas do World Trade Center (Nova York) em 2001. Na década de 1990, o financiamento da Al-Qaeda veio em parte da riqueza pessoal de Osama bin Laden. Outras fontes de renda incluíram o comércio de heroína e doações de apoiantes no Kuwait, Arábia Saudita e outros estados islâmicos do Golfo.

Dez anos após os atentados do 11 de setembro, o Presidente Barack Obama anunciou pela televisão que Osama bin Laden havia sido morto durante uma operação militar estadunidense. Seu corpo teria ficado sob a custódia dos Estados Unidos e, após passar por rituais tradicionais islâmicos, teria sido sepultado no mar.

ETA (Pátria Basca e Liberdade)

Criado em 1959 por dissidentes do Partido Nacionalista Basco, tinha como principal objetivo a autonomia da região basca na Espanha. Na luta contra a Ditadura espanhola de Francisco Franco, tornou-se mais radical nos anos 1960. Em 1973, conseguiu assassinar o sucessor de Franco, o primeiro-ministro Luiz Carrero Blanco. Nos anos 1990, passou a atuar também na França, reivindicando a anistia de integrantes do grupo presos naquele país. Estima-se que existiam cerca de duzentos membros ativos em fins dos anos 1990. Além de ataques com bombas e sequestro, o grupo assassinou cerca de trinta políticos. Apesar do abandono da luta armada, somente em 17 de março de 2017 veio o anúncio do desarmamento. Numa cerimônia em 8 de abril de 2017 marcou a entrega da geolocalização de oito depósitos de armas secretos situados nos Pirenéus Atlânticos, na França. Em 20 de abril de 2018 o grupo pediu perdão às vítimas antes de dissolver.

Em 2 de maio de 2018, foi divulgado uma carta onde foi anunciado o fim do grupo separatista

IRA (Exército Republicano Irlandês)

O grupo católico paramilitar defende a separação da Irlanda do Norte da Grã-Bretanha e sua reanexação à República da Irlanda. A divisão ocorreu em 1921, após acordo entre esses países. Calcula que as ações terroristas do IRA tenham causado, ao longo de décadas, mais de 3 600 mortes, a maioria de civis. Em 2005, as lideranças do grupo anunciaram o fim da luta armada. No entanto, novos atentados contra soldados britânicos na Irlanda ocorreram em 2009, tendo sido assumidos por um grupo autodenominado “IRA Real”, uma dissidência do antigo IRA. Grupos de dissidentes que não aceitavam a resolução pacífica da questão política continuam tentando realizar atentados terroristas, sem sucesso.

O Estado Islâmico

O Estado Islâmico do Iraque e Levante (EI) é um califado com atuação terrorista que controla regiões no Iraque e na Síria e baseia sua ideologia em interpretações radicais de determinados princípios do Islamismo. Esse califado – um Estado que é governado por uma autoridade religiosa, o califa – foi criado em 29 de junho de 2014 e espalha o terror sobre a população das regiões que controla, perseguindo minorias e organizando ataques terroristas em outras partes do mundo, como os ataques recentemente ocorridos na França.

O objetivo original do EIIL era estabelecer um califado nas regiões de maioria sunita do Iraque. Após o seu envolvimento na guerra civil síria, este objetivo se expandiu para incluir o controle de áreas de maioria sunita da Síria.

Em 29 de junho de 2014, o EIIL passou a se autodenominar simplesmente "Estado Islâmico" (EI), autoproclamando-se um califado sob a liderança de Abu Bakr al-Baghdadi. Tal Estado nunca foi reconhecido pela comunidade internacional. O EIIL afirma autoridade religiosa sobre todos os muçulmanos do mundo e aspira tomar o controle de muitas outras regiões de maioria islâmica, a começar pela região do Levante, que inclui Jordânia, Israel, Palestina, Líbano, Chipre e Hatay, uma área no sul da Turquia.

O grupo, em seu formato original, era composto e apoiado por várias organizações terroristas sunitas insurgentes, incluindo suas organizações antecessoras, como a Al-Qaeda no Iraque, o Conselho Shura Mujahideen (2006-2006) e o Estado Islâmico do Iraque (ISI) (2006-2013), além de outros grupos insurgentes, como Jeish al-Taiifa al-Mansoura, Jaysh al-Fatiheen, Jund al-Sahaba, Katbiyan Ansar al-Tawhid wal Sunnah e vários grupos tribais iraquianos que professam o islamismo sunita. O objetivo original do EIIL era estabelecer um califado nas regiões de maioria sunita do Iraque. Após o seu envolvimento na guerra civil síria, este objetivo se expandiu para incluir o controle de áreas de maioria sunita da Síria. O grupo é oficialmente considerado uma organização terrorista estrangeira por países como Estados Unidos, Brasil, Reino Unido, Austrália, Canadá, Indonésia e Arábia Saudita, além de também ter sido classificado pela Organização das Nações Unidas (ONU), pela União Europeia e pelas mídias do Ocidente e do Oriente Médio como grupo terrorista.

Em 2 de fevereiro de 2022, tropas especiais nos Estados Unidos lançaram uma operação militar em Atme, no noroeste da Síria, que terminou na morte do líder do Estado Islâmico, Abu Ibrahim al-Qurayshi. Essa ação aconteceu num período em que o grupo buscava se reorganizar e aumentar suas atividades no Oriente Médio.


quinta-feira, 23 de junho de 2022

Os índios antes de Cabral no Brasil

 Os fósseis brasileiros

 No Brasil, os mais antigos vestígios desses povos datam do período paleolítico: sambaquis, utensílios primitivos e pinturas rupestres. O conjunto de vestígios encontrados em determinada região é chamado de sítio arqueológico, e sua análise cabe à Arqueologia, a ciência que estuda os povos pré-históricos. Através desse estudo desenvolveu-se o conhecimento do período anterior à chegada de Cabral ao Brasil, em 1500.

Sambaquis são volumosos montes de conchas e esqueletos de peixes, associados a objetos de pedra, às vezes com mais de 10 metros de altura. Distribuídos por todo o litoral brasileiro, destacadamente no Sul, atestam que ali viveram grupos humanos que se alimentavam de animais marinhos há mais de 10 000 anos.

Sambaqui do Forte, Cabo Frio, Rio de Janeiro.

Utensílios primitivos também foram encontrados em diversos pontos do litoral e do interior do Brasil: pontas de flechas, machados e outros instrumentos, além de potes de barro, alguns decorados e usados como urna para os mortos, dentro dos quais foram achados esqueletos.

Pinturas rupestres, compostas de desenhos de figuras humanas e de animais, cenas de caça e pesca, foram encontradas nas paredes de grutas e cavernas e em lajes de pedras em lugares abertos. São famosas as pinturas rupestres de cavernas em Minas Gerais e em São Raimundo Nonato, no Piauí.

Pintura rupestre encontrada em caverna em São Raimundo Nonato. As descobertas nessa região estão ajudando estudiosos a reconstituir a história dos primeiros habitantes do território brasileiro. estes também deixaram suas marcas nas cavernas em que viviam, fazendo desenhos e pinturas.

Embora, para efeitos de estudo, a Pré-história tenha terminado com o surgimento da escrita, no Brasil e em alguns outros pontos no mundo, muitos grupos indígenas têm até hoje condições primitivas de vida, semelhantes às do período paleolítico.

No século XV, época das grandes navegações, conquistadores e exploradores portugueses e espanhóis aproveitaram-se das condições primitivas dos indígenas americanos para dominá-los com facilidade. Possuidores de técnicas e armas mais eficientes, os europeus subjugaram a América (incluindo o Brasil), sujeitando-a nos séculos seguintes a uma intensa exploração econômica e ligando-a definitivamente à história europeia.

Ainda hoje é comum considerarmos os índios como os europeus os enxergavam: gente incivilizada, selvagem, primitiva, atrasada, ignorante, bárbara.

Ainda há muitas perguntas sem respostas sobre essa longa história dos povos indígenas anterior à chegada dos portugueses. Os indígenas não conheciam a escrita e, para sabermos como viviam, que mudanças ocorreram entre eles, quais eram suas ideias, possuímos apenas uma forma de documento: a cultura material. Isto é, o que sobrou de suas casas, os enfeites que usavam, as ferramentas de trabalho, as armas, os restos de comidas e as fogueiras, as pinturas ou sinais que deixaram nas paredes de cavernas, os mortos que enterraram.

 Muitos povos diferentes

 Quando os portugueses chegaram à América, cerca de seis milhões de pessoas ocupavam todo o território do atual Brasil. Os portugueses conheceram primeiro os povos que viviam no litoral. Por terem traços culturais semelhantes entre si, eles receberam dos colonizadores uma denominação geral: tupi.

Os portugueses tiveram menor contato com os povos que habitavam o interior. Esses povos eram chamados pelos portugueses de tapuias.

Apesar dessas denominações, é importante destacar que a população nativa encontrada pelos portugueses estava organizada em diversos povos, com culturas muito diferentes. Cada grupo tinha, por exemplo, a sua língua, a sua crença, o seu modo de trabalho e a sua organização familiar.

As diferenças existentes entre os povos indígenas daquela época podem ser percebidas até os dias de hoje. Para isso, basta observar os descendentes desses povos que conseguiram sobreviver à colonização portuguesa e aos séculos de exploração. 

Os povos indígenas do Brasil 

Hoje, para estudar as populações indígenas, é comum agrupá-las conforme as semelhanças existentes entre suas línguas. Isso permite reunir povos com características culturais comuns. Assim, são classificados quatro troncos linguísticos principais: o tupi, o , o aruaque e o karib. Existem ainda muitas línguas, como a dos tucanos e a dos ianomâmis, que não foram classificados nesses troncos.

Quando os portugueses chegaram ao Brasil em 1500, os homens que habitavam as terras brasileiras se agrupavam em várias nações ou tribos. As principais eram:

- tupi-guarani: espalhava-se por quase todo o litoral atlântico e várias áreas do interior;

- gê ou tapuia: ocupava o Planalto Central Brasileiro;

- nuaruaque: ocupava parte da Bacia amazônica até os Andes;

- caraíba: ocupava o norte da Bacia Amazônica.

 A pintura em cavernas brasileiras, que surgido entre 12 mil e 6 mil anos atrás, retrata um pouco dessa evolução cultural e corresponde ao momento de desenvolvimento da arte de fabricar facas, raspadores, furadores e outros objetos pontiagudos.

Finalmente entre os anos 4000 a. C. e 3000 a. C., o homem do Brasil descobriu a agricultura, depois de praticar uma economia baseada na caça e na coleta de alimentos durante mais de 40 mil anos.

Com a agricultura, várias comunidades primitivas do Brasil passaram a se organizar de forma semelhante às comunidades primitivas do período Neolítico na África, Ásia e Europa.

Os meios de produção que os homens dispunham – a terra cultivável, os campos, os rios – pertenciam a todos.

 Entre os povos indígenas existem muitas diferenças. As aldeias indígenas, por exemplo, são diferentes de um povo para o outro. Os xavantes preferem construir suas aldeias em forma de ferradura, já outros povos preferem a forma circular; outros, ainda, constroem uma única habitação coletiva.

Apesar de toda essa diversidade, existem elementos culturais semelhantes, como a organização em tribos.

Uma tribo é um grupo de famílias que fazem sua aldeia numa mesma área, falam a mesma língua, tem os mesmos costumes e um sentimento de união entre si. 

Trabalho e família 

A maior parte dos povos indígenas vive da coleta de frutos da floresta (cacau, maracujá, jabuticaba, araçá, etc.), da agricultura (mandioca, milho, batata-doce, abóbora, amendoim, etc.).

Geralmente, as roças pertencentes a toda a tribo, e alimentos colhidos são distribuídos entre todos. Enquanto esperam a colheita, os índios fazem objetos de cerâmica e utensílios para o trabalho. Cada índio costuma ter seus próprios instrumentos de trabalho, bem como seu arco e suas flechas.

Cada tribo tem seu jeito de distribuir as tarefas entre seus membros. Há trabalhos que são feitos pelas mulheres e outros são feitos geralmente pelos homens. As mulheres geralmente fazem as seguintes tarefas: o trabalho agrícola, desde o plantio até a colheita; a coleta dos frutos da floresta; a fabricação de farinha; a comida e os demais serviços domésticos; o cuidado das crianças. Os homens fazem o trabalho mais pesado: a derrubada do mato e a preparação da terra; a caça e a pesca; a fabricação de canoas; a construção das casas. Além disso, são tarefas masculinas as expedições guerreiras; a proteção das mulheres, crianças e velhos.

Os casamentos quase sempre são realizados entre os membros da mesma tribo. Algumas tribos permitem apenas a monogamia, isto é, o casamento de um homem com uma só mulher e de apenas uma mulher com apenas um homem; já em outras sociedades indígenas, a poligamia – um homem casado com várias mulheres – ou a poliandria – uma mulher casada com vários homens – também são permitidas.

Os pais não castigavam os filhos, pois havia entre irmão um forte laço de amor e respeito. As meninas brincavam e ajudavam as mães nos afazeres domésticos e no cuidado com os irmãos menores. Os meninos, com seus arcos e flechas, caçavam pequenos animais, imitando os mais velhos.

Quando os meninos atingiam a puberdade, iam para a Casa Sagrada era um local eminentemente masculino e as mulheres estavam proibidas de ali entrar. 

Guerreiros e artistas 

A guerra era uma atividade sagrada, necessária e desejada. Os homens faziam guerras por vingança, para garantir a superioridade masculina na comunidade e para conquistar terras férteis e campos onde a caça era mais abundante.

Os índios também eram extraordinários artistas. Sua capacidade artística se reflete na música, na dança, na confecção de redes, esteiras e cestos com desenhos de singela beleza, na cerâmica, na pintura do corpo para festas, para rituais religiosos e guerreiros. 

Os povos da floresta 

Há cerca de 6 mil anos a imensa área ocupada hoje pelo Brasil começou a ganhar sua conformação atual: a grande floresta tropical amazônica do Norte, os campos do sul, o cerrado do Centro-Oeste, a mata Atlântica cobrindo o litoral. Durante milênios, os humanos desenvolveram uma série de recursos para enfrentar esse novo meio ambiente.

Sempre agrupados em pequenas famílias, vivendo da caça de pequenos animais e da coleta de tudo o que fosse comestível, povos diferentes criaram culturas específicas em cada área do atual território brasileiro. Mudavam sempre de lugar quando a caça ou os frutos silvestres acabavam. É o que se chama de vida nômade ou nomadismo. Como estavam sempre se mudando, carregavam poucos objetos – apenas o essencial para sobreviver.

Nas florestas do Sul, por exemplo, surgiram povos que os arqueólogos denominam umbus. Não se sabe que língua falavam nem se formavam um único povo. Entre eles havia os que habitavam as cavernas e os que moravam a céu aberto. Nos vestígios que deixaram foram encontrados instrumento de pedra fabricados com muito cuidado. Inventaram a boleadeira (arma de caça) e o arco e a flecha, que difundiram entre os povos da região.

Os povos que moravam nas florestas subtropicais do Sudeste, chamados humaitás, desconheciam o arco e a flecha (ou, pelo menos, a flecha com ponta de pedra). Gostavam das matas próximas aos rios e colhiam pinhão (fruto do pinheiro) e moluscos (animais com conchas) de água doce. Os humaitás não eram tão hábeis como os umbus na fabricação de instrumentos de pedra, mas usavam uma espécie de faca feita desse material, parecida com um bumerangue.

Na região central do território que atualmente corresponde ao Brasil, os primeiros habitantes viviam sobretudo em cavernas ou sob abrigos de rochas. Também se sabe pouco sobre eles; é muito provável que durante milênios tenha havido diversas migrações, o surgimento e o desparecimento de línguas e de uma série de outras mudanças. Em quase todas as cavernas que habitaram, contudo, deixaram pinturas nas paredes, cuja função e significado nem sempre conseguimos entender. 

Os povos das águas

Com a elevação do nível do mar, há cerca de 6 mil anos, o litoral que se estende do atual estado do Espírito Santo ao Rio Grande do Sul passou a ser ocupado por povos que se alimentavam de frutos do mar. Embora também caçassem pequenos animais (macacos, antas, gambás, tartarugas, por exemplo) e coletassem frutos silvestres, esses povos comiam principalmente peixes e moluscos (ostras, mexilhões, berbigões, etc.). Como essa fonte de alimentos nunca se esgotava, permaneciam no mesmo lugar, perto da praia e, de preferência, próximo a algum rio.

As conchas dos moluscos eram abertas no fogo e abandonadas no local, acumulando-se ao longo do tempo. O consumo era tão grande que as conchas acabaram formando pequenas montanhas chamadas sambaquis -, onde esses povos erguiam suas cabanas e enterravam seus mortos. Destruído recentemente, o sambaqui de Garopaba, em Santa Catarina, media trinta metros de comprimento e cem metros de largura.

Sambaqui na ilha do Cardoso (SP).

Para produzir seus instrumentos, os povos dos sambaquis lascavam as pedras com uma espécie de formão e as esfregavam até deixa-las lisas e regulares. A maioria de seus objetos, porém, era constituída de ossos. Com esse material faziam até mesmo uma espécie de panela, além de enfeites agulhas e anzóis.

É possível que os sambaquis tenham sido habitados por populações numerosas, que cresceram durante quase 5 mil anos. Entretanto, quando os portugueses chegaram, elas estavam desaparecendo, derrotados por povos que sabiam cultivar a terra.

 Os povos da terra

A agricultura apareceu há aproximadamente 4 mil anos nas terras do que viria a ser o Brasil. Essa mudança foi muito importante porque, para se alimentarem, cultivando a terra, os seres humanos deixaram de depender do que encontrara na natureza. Derrubando florestas, plantando raízes e sementes e esperando o momento propício de colher, as populações das aldeias melhoraram sua alimentação. Como consequência, não precisavam mais mudar constantemente de lugar e se tornaram mais numerosas.

O cultivo da terra já era conhecido por civilizações de agricultores da cordilheira dos Andes (América do Sul) e da América Central. Talvez tenham sido elas, por meio de algum contato com povos daqui que introduziram a agricultura no que viria a ser o território brasileiro. É provável que as primeiras plantas cultivadas aqui tenham vindo de fora: milho, algodão, tabaco e feijão.

Os primeiros agricultores das terras brasileiras desenvolveram também o cultivo de plantas de que se extraiam corantes, plantas medicinais e palmeiras. Mas seu principal alimento e descoberta foi a mandioca. Os índios descobriram até mesmo como extrair o veneno da espécie venenosa dessa raiz.

A cerâmica apareceu aqui há cerca de 4 mil anos. Feitos de argila cozida no fogo, os objetos cerâmicos serviam para transportar água ou guardar alimento. Alguns eram usados para cozinhar vegetais cultivados na agricultura. Vasos foram encontrados em sambaquis do Pará. Acredita-se que possam ter entre 4 mil e 5 mil anos de idade – possivelmente uma das mais antigas peças de cerâmica da América.

Mas os agricultores evitaram ocupar a densa floresta tropical. Os restos arqueológicos encontrados demonstram que permaneceram nas margens do rio Amazonas e de seus afluentes. Embora pouco estudados, é possível observar pelas peças de cerâmicas o grau de complexidade e sofisticações desses povos.

Ao longo dos rios Tapajós e Trombetas foram encontradas peças daquilo que os arqueólogos chamam tradição inciso-ponteada. O povo que produzia essas obras tinha seu centro onde atualmente se encontra Santarém. É possível que tenham vivido há 2 mil anos, talvez menos.

Para chegar a formas tão complexas, é provável que houvesse artesãos especializados em cerâmica, fato que indica a existência de uma sociedade organizada, na qual existiam pessoas que, além da agricultura, desenvolviam tarefas específicas.

Entretanto, foi na ilha de Marajó que se desenvolveu as mais complexas civilizações amazônicas. Os primeiros povos a habitá-la, chamados ananatubas pelos arqueólogos, chegaram aí há cerca de 3500 anos. Vivendo em regiões entre mata e as praias, construíram casas isoladas em que moravam de cem a 150 pessoas. Além de agricultores, foram também ceramistas e fabricavam potes, pratos e objetos decorados com linhas e pontos, de que restaram apenas fragmentos.

Há aproximadamente 1 800 anos, porém, surgiu a chamada civilização marajoara, ainda pouco estudada. Sabe-se que a maior parte de sua população se concentrava nas margens dos rios ao redor do lago Arari. Os marajoaras erguiam suas casas sobre morros chamados tesos, construídos por eles mesmos ao longo das margens dos rios. Era uma forma de se protegerem das inundações. Alguns desses morros chegaram a medir mais de duzentos metros de comprimento.

Calcula-se que, apenas ao longo do rio Camutins, tenham, tenham vivido 2 mil marajoaras e que a população total da ilha tenha chegado a 100 mil pessoas. Sua agricultura parece ter sido bastante desenvolvida; e alguns arqueólogos supõem que os marajoaras formassem uma sociedade dividida em classes sociais, em que a maioria das famílias cuidava da caça e das plantações, parte se dedicava ao artesanato e a minoria tratava do governo e da religião.

Entretanto, trata-se de uma suposição que precisa ser comprovada por achados nos tesos. Os principais vestígios deixados pelos marajoaras são objetos de cerâmica, decorados com complexidade impressionante. Quando os portugueses chegaram, essa misteriosa civilização, ainda hoje tão desconhecida, já estava desaparecendo. Mas é muito provável que tenha influenciado povos de outras regiões.


terça-feira, 21 de junho de 2022

Revolução Industrial

A substituição das ferramentas pelas máquinas, da energia humana pela energia motriz e do modo de produção doméstico pelo sistema fabril constituiu a Revolução Industrial; revolução, em função do enorme impacto sobre a estrutura da sociedade, num processo de transformação acompanhado por notável evolução tecnológica.
A Revolução Industrial aconteceu na Inglaterra na segunda metade do século XVIII e encerrou a transição entre feudalismo e capitalismo, a fase de acumulação primitiva de capitais e de preponderância do capital mercantil sobre a produção. Completou ainda o movimento da revolução burguesa iniciada na Inglaterra no século XVII.

Etapas da industrialização

 Podem-se distinguir três períodos no processo de industrialização em escala mundial

- 1760 a 1850 – A Revolução se restringe à Inglaterra, a "oficina do mundo". Preponderam a produção de bens de consumo, especialmente têxteis, e a energia a vapor.

- 1850 a 1900 – A Revolução espalha-se por Europa, América e Ásia: Bélgica, França, Alemanha, Estados Unidos, Itália, Japão, Rússia. Cresce a concorrência, a indústria de bens de produção se desenvolve, as ferrovias se expandem; surgem novas formas de energia, como a hidrelétrica e a derivada do petróleo. O transporte também se revoluciona, com a invenção da locomotiva e do barco a vapor.

- 1900 até hoje – Surgem conglomerados industriais e multinacionais. A produção se automatiza; surge a produção em série; e explode a sociedade de consumo de massas, com a expansão dos meios de comunicação. Avançam a indústria química e eletrônica, a engenharia genética, a robótica. 

Etapas do processo de produção

O artesanato, primeira forma de produção industrial, surgiu no fim da Idade Média com o renascimento comercial e urbano e definia-se pela produção independente; o produtor possuía os meios de produção: instalações, ferramentas e matéria-prima. Em casa, sozinho ou com a família, o artesão realizava todas as etapas da produção.
A manufatura resultou da ampliação do consumo, que levou o artesão a aumentar a produção e o comerciante a dedicar-se à produção industrial. O manufatureiro distribuía a matéria-prima e o artesão trabalhava em casa, recebendo pagamento combinado. Esse comerciante passou a produzir. Primeiro, contratou artesãos para dar acabamento aos tecidos; depois, tingir; e tecer; e finalmente fiar. Surgiram fábricas, com assalariados, sem controle sobre o produto de seu trabalho. A produtividade aumentou por causa da divisão social, isto é, cada trabalhador realizava uma etapa da produção.
Na maquinofatura, o trabalhador estava submetido ao regime de funcionamento da máquina e à gerência direta do empresário. Foi nesta etapa que se consolidou a Revolução Industrial. Quatro elementos essenciais concorreram para a industrialização: capital, recursos naturais, mercado, transformação agrária. 

Origens da Revolução Industrial

No decorrer do século XVIII, a Europa Ocidental passou por uma grande transformação no setor da produção, em decorrência dos avanços das técnicas de cultivo e da mecanização das fábricas, a qual se deu o nome de Revolução Industrial. A invenção e o uso da maquina permitiram o aumento da produtividade, a diminuição dos preços e o crescimento do consumo e dos lucros.
As origens da Revolução Industrial podem ser encontradas nos séculos XVI e XVII, com a política de incentivo ao comércio adotada pelos países absolutistas A acumulação de capitais nas mãos dos comerciantes burgueses e a abertura dos mercados proporcionada pela expansão marítima estimularam o crescimento da produção, exigindo mais mercadorias e preços menores. Gradualmente, passou-se do artesanato disperso para a produção em oficinas e destas para a produção mecanizada nas fábricas.

Pioneirismo Inglês

Foi a Inglaterra o pais que saiu na frente no processo de Revolução Industrial do século XVIII. Este fato pode ser explicado por diversos fatores. A Inglaterra possuía grandes reservas de carvão mineral em seu subsolo, ou seja, a principal fonte de energia para movimentar as máquinas à vapor e as locomotivas à vapor. Além da fonte de energia, os ingleses possuíam grandes reservas de minério de ferro, a principal matéria-prima utilizada neste período.

A mão-de-obra disponível em abundância (desde a Lei dos Cercamentos de Terras), também favoreceu a Inglaterra, pois havia uma massa de trabalhadores procurando emprego nas cidades inglesas do século XVIII. A burguesia inglesa tinha capital suficiente para financiar as fábricas, comprar matéria-prima e máquinas e contratar empregados. O mercado consumidor inglês também pode ser destacado como importante fator que contribuiu para o pioneirismo inglês.

Outro fator determinante, foi a existência de um Estado liberal na Inglaterra, que desde 1688 com a Revolução Gloriosa. Essa revolução que se seguiu à Revolução Puritana (1649), transformou a Monarquia Absolutista inglesa em Monarquia Parlamentar, libertando a burguesia de um Estado centralizado e intervencionista, que dará lugar a um Estado Liberal Burguês na Inglaterra um século antes da Revolução Francesa. 

Os principais recursos tecnológicos

Na segunda metade do século XVIII, foram introduzidas importantes inovações tecnológicas na Inglaterra, como a máquina de fiar, a máquina a vapor e o tear mecânico. Essas inovações acabaram provocando grandes transformações no modo de organização do trabalho.






Empresários e proletários

O novo sistema industrial transforma as relações sociais e cria duas novas classes sociais, fundamentais para a operação do sistema.   Os empresários (capitalistas) são os proprietários dos capitais, prédios, máquinas, matérias-primas e bens produzidos pelo trabalho. Os operários, proletários ou trabalhadores assalariados, possuem apenas sua força de trabalho e a vendem aos empresários para produzir mercadorias em troca de salários.

Exploração do trabalho

No início da revolução os empresários impõem duras condições de trabalho aos operários sem aumentar os salários para assim aumentar a produção e garantir uma margem de lucro crescente. A disciplina é rigorosa, mas as condições de trabalho nem sempre oferecem segurança. Em algumas fábricas a jornada ultrapassa 15 horas, os descansos e férias não são cumpridos e mulheres e crianças não têm tratamento diferenciado.

Mulheres e crianças operárias recebiam salários inferiores àqueles pagos aos homens adultos. Nesta fotografia, vemos crianças trabalhando numa fábrica de ferramentas na França, por volta de 1880.

Surgem dos conflitos entre operários, revoltados com as péssimas condições de trabalho, e empresários.

Desdobramentos sociais

A Revolução Industrial alterou profundamente as condições de vida do trabalhador braçal, provocando inicialmente um intenso deslocamento da população rural para as cidades, com enormes concentrações urbanas. A produção em larga escala e dividida em etapas irá distanciar cada vez mais o trabalhador do produto final, já que cada grupo de trabalhadores irá dominar apenas uma etapa da produção.

Na esfera social, o principal desdobramento da revolução foi o surgimento do proletariado urbano (classe operária), como classe social definida. Vivendo em condições deploráveis, tendo o cortiço como moradia e submetido a salários irrisórios com longas jornadas de trabalho, a operariado nascente era facilmente explorado, devido também, à inexistência de leis trabalhistas.

O desenvolvimento das ferrovias irá absorver grande parte da mão-de-obra masculina adulta, provocando em escala crescente a utilização de mulheres a e crianças como trabalhadores nas fábricas têxteis e nas minas. O agravamento dos problemas socioeconômicos com o desemprego e a fome, foram acompanhados de outros problemas, como a prostituição e o alcoolismo.

Os trabalhadores reagiam das mais diferentes formas, destacando-se o movimento “ludista” (o nome vem de Ned Ludlan), caracterizado pela destruição das máquinas por operários, e o movimento “cartista”, organizado pela “Associação dos Operários”, que exigia melhores condições de trabalho e o fim do voto censitário. Destaca-se ainda a formação de associações denominadas “trade-unions”, que evoluíram lentamente em suas reivindicações, originando os primeiros sindicatos modernos.

O divórcio entre capital e trabalho resultante da Revolução Industrial, é representado socialmente pela polarização entre burguesia e proletariado. Esse antagonismo define a luta de classes típica do capitalismo, consolidando esse sistema no contexto da crise do Antigo Regime.



Geografia da Paraíba

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