segunda-feira, 14 de novembro de 2022

Digestão - Fisiologia Animal

Conceito

Digestão é o conjunto de transformações fisioquímicas ou físico-químicas que os alimentos orgânicos sofrem para se transformarem em moléculas menores, hidrossolúveis e absorvíveis.

 Alimentos 

A matéria orgânica que constitui o alimento de um animal deve conter diversos tipos de substâncias nutrientes: carboidratos, lipídios, proteínas, sais minerais, vitaminas e água.

Carboidratos e lipídios: alimentos energéticos

Carboidratos e lipídios são nutrientes orgânicos cuja função principal é fornecer energia às células. Alimentos ricos desses nutrientes costumam ser chamados de alimentos energéticos.

Proteínas: alimentos plásticos 

Proteínas são nutrientes orgânicos cuja função principal é fornecer aminoácidos às células. A maior parte dos aminoácidos absorvidos é empregada na fabricação das proteínas específicas do animal. Uma vez que as proteínas são os principais constituintes estruturais (plásticos) das células animais, costuma-se dizer que alimentos ricos desse tipo de nutriente são alimentos plásticos. 

Sais Minerais

 Sais minerais são nutrientes inorgânicos que fornecem ao animal elementos químicos como o cálcio, o fósforo, o ferro ou o enxofre, entre outros. Exemplos de sais minerais são os cloretos (de sódio, de cálcio, de magnésio, férrico etc.), os fosfatos (de cálcio, de magnésio etc.) e diversos outros tipos de sais. O cálcio, por exemplo, é um elemento químico de fundamental importância na estrutura dos ossos de animais vertebrados e das conchas de moluscos. O ferro, presente na hemoglobina do sangue de diversos animais, é fundamental para o transporte de oxigênio para as células. Elementos químicos como o fósforo, por sua vez, fazem parte das moléculas de ATP, que são as responsáveis pelo fornecimento de energia a todas as reações químicas fundamentais à vida. 

Água 

A água não é propriamente um nutriente, embora seja fundamental à vida. Todas as reações vitais ocorrem no meio aquoso presente no interior das células. Além de ser ingerida na forma líquida, a água geralmente faz parte da composição de todos os alimentos. 

Vitaminas 

Vitaminas são substâncias orgânicas essenciais à vida, mas que determinada espécie animal não consegue fabricar. Consequentemente, as vitaminas precisam ser obtidas no alimento ingerido.

A maioria das vitaminas atua como co-fatores enzimáticos, isto é, como fatores acessórios de reações catalisadas por enzimas. Na ausência de certas vitaminas, determinadas enzimas não funcionam, com prejuízo para as células.

Principais vitaminas humanas

Vitaminas

Uso no corpo

Deficiência

Principais fontes

A

Necessária para o crescimento normal e

Cegueira noturna,

Vegetais amarelos (cenoura,

(vitamina

para o funcionamento normal dos olhos,

xeroftalmia, olhos secos

abóbora,  batata-doce, milho),

da visão)

do nariz da boca, dos ouvidos e dos

em crianças, cegueira

pêssego, nectarina,  abricó,

 

pulmões. Previne resfriados e várias

total. Pele áspera e seca

gema de ovo, manteiga,

 

infecções. Evita a cegueira noturna.

facilidade para infecções.

fígado.

B2

Auxilia a oxidação dos alimentos.

Ruptura  da mucosa da boca,

Vegetais de folhas (couve,

(riboflavina)

Essencial à respiração  celular. Mantém a

dos lábios, da língua e das

repolho, espinafre etc.), carnes

 

tonalidade saudável da pele. Atua na

bochechas.

magras, ovos, fermento de

 

coordenação  motora.

 

padaria, fígado,  leite.

B1

Auxilia na oxidação dos carboidratos.

Perda de apetite,  fadiga

Cereais na forma integral e

(tiamina)

estimula o apetite. Mantém o tônus

muscular, nervosismo,

pães, feijão, fígado, carne

 

muscular e o bom funcionamento do

beribéri.

de porco, ovos, fermento

 

sistema nervoso. Previne o beribéri.

 

de padaria, leite.

B

Mantém o tônus nervoso e muscular e o

Inércia e falta de energia,

Levedo de cerveja, carnes

(PP) (niacina)

bom funcionamento do aparelho

nervosismo extremo,

magras, ovos, fígado, leite.

 

digestivo. Previne a pelagra.

distúrbios digestivos, pelagra.

 

B6

Auxilia  a oxidação dos alimentos.

Doenças da pele, distúrbios

Levedo de cerveja, cereais

(piridoxina)

Mantém a pele  saudável.

nervosos, inércia e  extrema

integrais, fígado, carnes

 

 

apatia.

magras, peixe, leite.

C

Previne infecções. Mantém a integridade

Inércia e fadiga em adultos,

Frutas cítricas (limão, lima,

 

dos  vasos sanguíneos e a saúde dos

insônia e nervosismo em

laranja) tomate, couve,

 

dentes. Previne o  escorbuto.

crianças, sangramentos das

repolho e outros vegetais de

 

 

gengivas, dores nas juntas, dentes alterados, escorbuto.

folha, pimentão.

D*

Atua no metabolismo do cálcio  e do

Problemas nos dentes, ossos

Óleo de fígado de bacalhau,

 

fósforo. Mantém os ossos e os dentes em

fracos, contribui para os

fígado, gema de ovo.

 

bom  estado. Previne o raquitismo.

sintomas de artrite, raquitismo.

 

E

Promove a fertilidade. Previne o aborto.

Esterilidade do macho,

Óleo de germe de trigo,

 

Atua no sistema nervoso involuntário, no

aborto.

carnes magras, laticínios,

 

sistema muscular e nos músculos involuntários.

 

alface, óleo de amendoim.

K

Atua na coagulação do sangue. Previne

Hemorragias.

Vegetais verdes, tomate,

 

hemorragias.

 

castanha.

* A vitamina D não é encontrada pronta na maioria dos alimentos; estes contêm, em geral, um precursor que se transforma na vitamina quando exposto aos raios ultravioleta da luz solar.

As principais enzimas digestivas

Substâncias Auxiliares da Digestão

Tecido Secretor

Secreção

Substância

Ação

glândula salivar

saliva

mucina

Lubrificação e proteção das mucosas.

glândulas gástricas

suco gástrico

mucina

 

Lubrificação e proteção das mucosas.

ácido clorídrico

Ativação do pepsinogênio.

mucosa gástrica

 

gastrina*

Estimula a secreção  gástrica.

fígado

bile

sais biliares

Emulsificação das gorduras.

mucosa intestinal

 

mucina

Lubrificação e proteção da mucosa.

enteroquinase (enzima)

Ativação do tripsinogênio.

secretina*

Secreção e liberação do suco pancreático.

colecistoquinina*

Estimula contração da vesícula biliar.

enterogastrona*

Inibine a secreção do suco gástrico.

* Gastrina, secretina, colecistoquinina e enterogastrona são hormônios não-glandulares,  ao contrário dos hormônios mais conhecidos, que são produzidos nas glândulas endócrinas.

Ação dos Hormônios que atuam na Digestão

Hormônio

Local de produção

Órgão-alvo

Função

Gastrina

Estômago

Estômago

Estimula a produção de suco gástrico.

Secretina

Intestino

Pâncreas

Estimula a liberação de bicarbonato.

Colecistoquinina

Intestino

Pâncreas e vesícula

Estimula a liberação de bile pela

 

 

biliar

vesícula e a liberação de enzimas pelo pâncreas.

Enterogastrona

Intestino

Estômago

Inibe o peristaltismo estomacal.


A - Chegada do alimento
B - Estimulação da mucosa gástrica
C - Gastrina na corrente sanguínea
D - Estimulação das glândulas gástricas
E - Liberação das enzimas.

    A entrada do alimento no estômago induz a secreção do hormônio gastrina pela parede estomacal. A gastrina atua sobre o próprio estômago estimulando a produção de suco gástrico. A entrada de alimento no duodeno induz células da parede intestinal a secretar os hormônios secretina e colecistoquinina (CCK). A secretina induz o pâncreas a liberar bicarbonato de sódio, que neutraliza a acidez do quimo estomacal, enquanto a colecistoquinina estimula a liberação de enzimas pancreáticas e de bile pela vesícula biliar.



Cadeias e Teias Alimentares

 

O termo cadeia alimentar refere-se à sequência em que se alimentam os seres de uma comunidade. É a sequência linear de alimentação desde os produtores até os diversos tipos de consumidores. É pela cadeia que a energia e a matéria passam aos diferentes seres vivos. Porém as relações alimentares de um ecossistema não são simples cadeias alimentares. Em geral cada nível trófico é representado por diversas espécies, podendo cada qual alimentar-se de organismos pertencentes a dois ou mais níveis tróficos, estabelecendo-se assim teias alimentares. Teia alimentar é, portanto, o conjunto das relações alimentares entre populações de um ecossistema. Sua representação demonstra a complexidade das transferências de matéria e energia.

Autotróficos x Heterotróficos

Seres que transformam substâncias minerais ou inorgânicas como água, CO2, NH4 em moléculas orgânicas são denominados autotróficos e são responsáveis pela produção de toda a matéria orgânica consumida pelos seres heterotróficos.

Produtores x Consumidores

Dentro de uma cadeia alimentar os seres autotróficos são denominados produtores e os seres heterotróficos consumidores. Dentre os heterotróficos podemos ainda distinguir os consumidores primários (herbívoros), secundários, terciários e quaternários (carnívoros), dependendo do nível trófico.

Teias alimentares

Em uma comunidade, o conjunto de cadeias alimentares interligadas forma uma teia alimentar, que se completa com os decompositores quebrando e oxidando matéria orgânica para obter energia e devolvendo ao ambiente sais minerais que serão reaproveitados pelos vegetais.

Pode-se estudar uma comunidade, as relações entre seres vivos de várias espécies diferentes, agrupando-os em níveis de alimentação: os níveis tróficos (de trofi, nutrição em grego). O primeiro nível sempre será ocupado pelos produtores porque não há cadeia alimentar sem alimentos, o segundo nível será ocupado pelos consumidores primários, herbívoros, o terceiro pelos consumidores secundários, carnívoros, e assim sucessivamente.

Os decompositores (fungos e bactérias) ocupam o último nível de transferência de energia entre organismos de um ecossistema. Formam um grupo especial, nutrindo-se de elementos mortos provenientes de diferentes níveis tróficos, degradando tanto produtores como consumidores; seu nível trófico será o seguinte ao nível dos organismos que decompõem. Não devemos confundir o nível trófico, que é a posição da espécie na cadeia, com o seu nicho ecológico, que é a sua função ou "profissão".


sábado, 10 de setembro de 2022

Os seres vivos - Os cinco Reinos

 CLASSIFICAÇÃO ATUAL DOS SERES VIVOS

Até a metade do século XX, os seres vivos são classificados em apenas duas categorias: reino animal e reino vegetal. Com o progresso da biologia, a classificação se amplia para incluir organismos primitivos que não têm características específicas só de animais ou de vegetais. A partir da década de 60, o critério internacionalmente aceito divide os organismos em cinco reinos:

Os cinco Reinos (características gerais)

1 - Reino Monera 

 O Reino Monera é formado por organismos procariontes, representados pelas bactérias e algas azuis (cianofíceas ou cianobactérias). São unicelulares ou coloniais. Possuem célula procariótica, onde não encontramos organelas citoplasmáticas delimitadas por membranas e o material nuclear não está envolto pela carioteca. Nessas células encontramos somente os ribossomos, responsáveis pela síntese de proteína. 

2 - Reino Protista São representados pelos protozoários - como amebas e paramécios - e certas algas unicelulares - como euglenofíceas, pirrofíceas e crisofíceas. Apresentam célula eucariótica, ou seja, com núcleo envolvido pela carioteca e organelas citoplasmáticas envolvidas por membranas. 

 3 - Reino Fungi 

 Os fungos são organismos eucariontes, heterótrofos e, em sua maioria, multicelulares. Suas células apresentam reforço celulósico externo, como nas algas e vegetais, porém é comum a presença de depósitos de quitina, substância característica dos animais. Os fungos executam nutrição externa (são heterótrofos por absorção), ou seja, vertem enzimas sobre o alimento (substrato) e absorvem as partículas previamente digeridas. 

 4 - Reino Animalia 

 Organismos eucariontes, multicelulares e heterótrofos. Nutrem-se primariamente por ingestão. Algumas poucas formas alimentam-se por absorção. Este reino compreende os animais, desde as esponjas e o homem. 

5 - Reino Plantae 

 Os seres vivos incluídos no reino Plantae ou Metaphyta são os vegetais verdadeiros, pluricelulares, autotróficos fotossintéticos, com cloroplastos e parede celular composta essencialmente de celulose, um polímero de glicose. A substância de reserva característica é o amido, outro polímero de glicose. 

 Obs: Os vírus não constam nessa classificação porque não são células, mas por possuírem material genético e capacidade de se reproduzir, mesmo que dependendo de outro organismo, são considerados seres vivos por alguns cientistas.

SISTEMA DOS CINCO REINOS 

A primeira grande classificação dos seres vivos reconhecia dois reinos (Vegetal e Animal), pelo menos desde que Aristóteles estabeleceu a primeira taxonomia no século IV a.C. As plantas com raízes são tão diferentes em sua forma de vida e em sua linha evolutiva dos animais, que se movimentam e ingerem alimentos, que o conceito de dois reinos permaneceu em vigor durante muito tempo. 

Foi só no século XIX, quando já estava mais do que evidente que os organismos unicelulares não se enquadravam em nenhuma das duas categorias, que se propôs a conceituação de um terceiro reino para abrigá-los, o reino Protista. Muito tempo depois de se descobrir que a fotossíntese é a forma básica de nutrição das plantas, os fungos, que se alimentam por absorção, ainda eram classificados no reino vegetal por causa de seu aparente modo de crescimento mediante raízes. 

Atualmente, devido ao grande desenvolvimento das técnicas de estudo da célula, está claro que a divisão principal dos seres vivos não é entre vegetais e animais, mas entre organismos cujas células carecem de membrana nuclear e organismos cujas células têm essa membrana. Os primeiros são chamados de procariotos e os segundos, eucariotos. As células procarióticas também carecem de organelas, mitocôndrias, cloroplastos, flagelos especializados e outras estruturas especiais que aparecem em células eucarióticas. As bactérias e as algas verde-azuladas são células procarióticas, e a taxonomia moderna as agrupou num quarto reino, o Monera, também conhecido como reino Procariota. 

As células eucarióticas provavelmente derivaram de associações simbióticas de células procarióticas. O reino Protista é formado por diversos eucariotos unicelulares que vivem isolados ou formam colônias. Acredita-se que cada um dos reinos multicelulares se desenvolveu a partir de ancestrais protistas. O reino Animal compreende os organismos multicelulares, que têm suas células organizadas em diferentes tecidos, são móveis ou têm mobilidade parcial graças a tecidos contráteis, e digerem alimentos em seu interior. 

O reino Vegetal ou das Plantas é formado por organismos multicelulares que, em geral, têm paredes celulares e contêm cloroplastos, nos quais produzem seu próprio alimento mediante a fotossíntese. O reino Fungos, o quinto reino, inclui os organismos multicelulares ou multinucleados (isto é, com mais de um núcleo celular), que digerem os alimentos externamente e os absorvem através de superfícies protoplasmáticas tubulares denominadas hifas (as quais formam seus corpos). 

A classificação dos seres vivos em cinco reinos baseia-se em três níveis de organização: o primitivo nível procariota; o eucariota unicelular e o eucariota multicelular. Nesse último nível, as três linhas evolutivas principais se baseiam no tipo de nutrição e se expressam nos diferentes tipos de organização tissular característicos de animais, vegetais e fungos.



REINO FUNGI

Os fungos são um grande grupo de organismos que vivem como parasitas, alimentando-se de outros organismos vivos, ou como saprófitas, alimentando-se de matéria morta. Nesta última forma, juntamente com os seus parentes próximos, as bactérias, são muito importantes na decomposição da matéria orgânica formando compostos mais simples, inorgânicos; de outro modo, o mundo ficaria coberto com os restos de animais e plantas mortas que não seriam reciclados. Alguns anos atrás, os cientistas consideravam os fungos como plantas não verdes dentro do Reino Vegetal. Entretanto, apresentam uma parede celular rica em quitina, substância presente no exoesqueleto dos artrópodos, e acumulam glicogênio como substância de reserva, duas características típicamente animais. Atualmente este grupo é classificado num Reino separado, o Reino Fungi.

Os fungos não possuem o pigmento clorofila necessária à fotossíntese. O corpo do fungo consiste em delicadas estruturas filamentosas chamadas hifas, as quais, quando em conjunto compacto, se dá o nome de micélio. Alguns fungos não produzem um micélio e consistem numa única célula (leveduras) ou grupos de células. Os fungos podem-se reproduzir assexuadamente a partir de fragmentos do micélio ou através de estruturas microscópicas chamadas esporos, cuja função é equivalente à das sementes nas plantas superiores. Existem várias maneiras para que os esporos sejam libertados para o exterior quando atingem a maturidade; devido ao seu tamanho ser muito pequeno, eles são facilmente transportados por correntes de ar. O seu tamanho, forma e ornamentação são extremamente variadas e estão certamente relacionados com o seu método de distribuição. Os fungos também podem reproduzir-se sexuadamente através da formação de células sexuais especiais chamadas gametas. Nos fungos inferiores, os esporos e gametas possuem frequentemente flagelos, o que lhes permite deslocar-se dentro de água; neste aspecto assemelham-se às algas, das quais se pensa terem sido originados. Os esporos e a maneira como estes são formados são usados como a base principal para a classificação dos fungos.

Distinguimos dois filos no reino Fungo: Eumycota (fungos verdadeiros) e Mixomycota (fungos gelatinosos), hoje incluídos no Reino Protista ou Protoctista.

O filo Eumycota apresenta maior variedade de espécies, aproximadamente 100 mil, distribuídas em quatro classes: Phycomycetes (ficomicetos), Ascomycetes (ascomicetos), Basidiomycetes (basidiomicetos) e Deuteromycetes (deuteromicetos).

 Phycomycetes 

Exemplares típicos: Rhizopus spp.; Mucor spp (Bolor negro do pão). Usualmente saprófitos. Corpo tipicamente miceliano, sem septos, e haplóide. Parede celular com quitina + citosanas. Talo geralmente sifonado. Têm o talo unicelular nas formas mais primitivas, formado de filamentos (chamados hifas) tubulares, multinucleados, não septados, ramificados, nas mais adiantadas. Guardam analogia com as algas verdes com respeito á estrutura e a sua reprodução. A esta classe pertencem os mofos, como o mofo pão e outros que atacam os tecidos em ambiente úmido. São saprófitos. Alguns são parasitas de plantas. Os mofos produzem tal quantidade de esporos, que sempre existem alguns deles no ar. Como exemplos de ficomicetes, pode-se citar: Plasmodiophora brassicae, causador da "hérnia da couve"; Rhizopus nigricans, o mofo preto do pão; Saprolegnia, que é um gênero de ficomicetes aquáticos vivendo sobre detritos e peixes; e Empusa muscae, que prolifera sobre as moscas, matando-as à maneira de uma epidemia. A importância desse grupo advém de seu significado econômico, porquanto atacam especialmente, plantas e animais (peixes), causando perda de alimentos e desperdício de esforços. Exemplo significativo da obra destruidora destes fungos é a doença denominada "podridão" ou "míldio da batateira", causadora da destruição das plantações de batata na Irlanda, em 1845-46, que matou de fome milhares de pessoas. O agente ocasionador deste míldio é o ficomicete Phytophtora infestans, que passa o inverno nos tubérculos doentes e desenvolve-se na primavera, matando os jovens. Contribuem, por outro lado, de modo benéfico para os processos de mineralização da matéria orgânica que restituem aos solos substâncias molecularmente pouco complicadas e que ajudam a conservar-lhes a fertilidade. Produzem esporos sempre imóveis em número indefinido. A reprodução assexuada é assegurada pela diferenciação de esporângios pedunculados. Os esporângios são esféricos e suportados por hifas eretas ou esporangióforos. A porção central do esporângio torna-se altamente vacuolizada, constituindo a columela. A zona periférica é a zona do esporângio que suporta os esporos. No interior do esporângio o citoplasma fragmenta-se em porções em regra plurinucleadas, os esporos. Quando os esporos atingem a maturidade dá-se a ruptura da parede do esporângio e a libertação dos esporos.

A reprodução sexuada é assegurada por pares de filamentos sexuais de sexos opostos. Quando as hifas de sexos opostos + e - entram em contato há dilatação das suas extremidades, diferenciando-se os progametângios. Seguidamente há a formação de um septo perto da extremidade do progametângio separando-se duas células: o gametângio terminal e o suspensor. Quando os gametângios entram em contato, as paredes dissolvem-se e os conteúdos plurinucleares dos gametângios fundem-se num zigoto por cistogamia. Inicialmente, o zigoto fica com pares de núcleos de sexos opostos. Os núcleos que não emparelham degeneram. Os núcleos emparelhados fundem-se por cistogamia mas a seguir todos os núcleos diplóides degeneram à exceção de um que depois se divide no momento da germinação, por meiose, degenerando 3 dos 4 núcleos resultantes. Entretanto, a nova célula resultante da cistogamia aumenta de tamanho, aumenta a espessura da parede e esta torna-se ornamentada. A esta célula dá-se o nome de zigósporo. A germinação do zigósporo ocorre quando as condições se tornam favoráveis e processa-se em regra por diferenciação de um tubo germinativo com aspecto de hifa, formando um esporângio pediculado no qual se formam esporos haplóides que germinam num novo gametófito haplóide.

Deuteromycetes 

Exemplares: Aspergillus spp.; Penicilium spp. Estes Fungos, também chamados Fungos Imperfeitos, não possuem (porque não se conhece) reprodução sexuada. A sua única forma de se reproduzirem é a forma assexuada (produção de esporos exógenos). Algumas das espécies pertencentes a esta sub-divisão têm uma grande importância a nível da indústria da produção do vinagre (Aspergillus nigra) e na indústria farmacêutica, na produção de antibióticos (Penicilium notatum e P. crysogenum). Esporângios de um Penicilium. O gênero Penicillium (fungo azul-verde) é utilizado na manufatura de queijos, na produção de antibióticos, e na produção de enzimas.

 Ascomycetes 

Exemplares típicos: Peziza spp.; Talaromyces spp.; Sordaria spp. Não produzem zoóides. Geralmente filamentosos (são exceção as leveduras). Hifas septadas com septos perfurados. Células uni ou multinucleadas. Parede celular quitinosopéctica sem celulose. Reprodução assexuada geralmente por conídios enquanto que a sexuada envolve a formação de ascos.

A gamia destes fungos origina em regra um aparelho esporífero (ascocarpo) no qual se formam esporos em número definido (4-8). Este aparelho esporífero designa-se de ascocarpo e é produtor de ascósporos (esporos endógenos). Os ascósporos são produzidos por meiose no interior de um esporângio especial, o asco. Neste o núcleo divide-se por meiose seguida de mitoses. A conjugação é, nas formas mais evoluídas, uma tricogamia ou somatogamia. Na tricogamia o ascogônio (em regra plurinucleado) é fecundado pelos núcleos masculinos do anterídeo. Os núcleos masculinos e femininos emparelham não havendo cariogamia (só plasmogamia ) e constituem o dicarion. A partir do ascogônio fecundado desenvolvem-se hifas constituídas por células providas de um dicarion; são as hifas dicarióticas ou ascogênicas (cujo crescimento resulta de divisões simultâneas e conjugadas dos dicarions), visto que é na sua extremidade que se vão diferenciar os ascos. Assim, nas células terminais das hifas dicarióticas os núcleos fundem-se e essa célula é a célula mãe dos ascos que aumenta de tamanho, alongando-se. À cariogamia segue-se a meiose seguida de mitose. Formam-se 8 núcleos que ficam rodeados por uma porção de citoplasma que depois segregam uma parede, não havendo formação de septos, e formam-se assim 8 ascósporos haplóides. Os ascos são geralmente formados em aparelhos esporíferos ou corpos frutíferos chamados de ascocarpos que podem tomar formas diversas: apotécio, com forma de taça (Peziza), cleistotécio, fechado e esférico (Talaromyces) e peritécio, com forma de frasco (Sordaria).

Basidiomycetes 

Não produzem zoóides. Diferenciam um tipo especial de esporos (basidiósporos) que são meióticos ou sexuados e de natureza externa. Micélio septado, podendo passar por três fases. Os fungos deste grupo incluem os cogumelos (Homo) e as ferrugens (Hetero).

Sub-Classe Homobasidiomycetidae - Exemplar típico: Agaricus spp

Produzem basidiocarpos. Quase todos os fungos comestíveis conhecidos e também inúmeros fungos venenosos pertencem a essa subclasse. Entre os primeiros, podemos citar o tão apreciado champignon (Agaricus sp.) e o parasol (Macrolepiota procera), entre os venenosos as espécies de Amanita ou Inocybe patoullardi. Psilocybe mexicana produz os alucinógenos psilocibina e psilocina, usados em rituais religiosos indígenas. Além destes, as orelhas-de-pau, muitos fungos de micorriza (associados a raízes) e importantes fungos de madeira, muitos dos quais causam enormes prejuízos econômicos. Basídios sem septos em forma de clava. Produzem 4 basidiósporos sobre projeções do basidio (os esterigmas). O talo é um micélio constituído por células uninucleadas (micélio primário ou unicariótico) que constitui a geração gametofítica com um desenvolvimento reduzido. Este micélio pode multiplicar-se por formação de conídios ou oídios.

A reprodução sexuada ocorre por somatogamia ou espermatização e assim se formam células com um par de núcleos de sexos opostos (dicarion). A partir destes e por divisões conjugadas dos núcleos do dicarion diferenciam-se as hifas dicarióticas que constituem o micélio secundário que corresponde à geração esporofítica pois irá produzir os basídios com basidiósporos. Esta geração é muito mais desenvolvida que a gametofítica e todo o corpo frutífero (basidiocarpo) é constituído por hifas dicarióticas. Durante a divisão das células do micélio secundário ocorre a diferenciação de ansas de anastomose. Uma célula prestes a dividir-se emite uma curta saliência lateral encurvada para a base. Um dos núcleos migra para essa saliência e o outro mantém-se na célula inicial. Dividem-se simultaneamente. Um dos núcleos fica na saliência e isola-se por um septo. Diferencia-se outro com 2 núcleos de sexos opostos. Por fusão das 2 células uninucleadas, o núcleo que estava na saliência migra para a célula subterminal que fica binucleada. O micélio secundário ou dicariótico irá produzir o corpo frutífero ou basidiocarpo em regra macroscópico (micélio terciário). Neste, e na extremidade de algumas hifas dicarióticas diferenciam-se os basídios.

A célula terminal da hifa aumenta de tamanho e os 2 núcleos fundem-se. O núcleo diplóide resultante migra para a extremidade do basidio. Aí divide-se por meiose. No ápice do basidio desenvolvem-se 4 finas ramificações, os esterigmas. Estes dilatam-se na extremidade e cada núcleo haplóide migra para cada uma dessas dilatações. Forma-se depois um septo na sua base e a célula assim formada é um basidiósporo. Este germina num micélio primário. Os basídios, em regra, dispõem-se em paliçada constituindo o himênio.

 O grupo tem grande importância econômica. Os basidiomicetes superiores se separam em dois grupos; de um lado os himenomicetes, com membrana esporófora exposta, e de outro os gasteromicetes, com membrana esporófora inclusa. Entre os primeiros estão os mais importantes fungos comestíveis e venenosos conhecidos. Também aí figuram os fungos destruidores de madeira. Psalliota campestris é o cogumelo de campo, ou cogumelo cultivado (champignon do comércio). Entre os venenosos ou repugnantes ao paladar podem ser citados Amanita phalloides, o mais tóxico de todos, capaz de causar acidentes mortais, Russula emetica, de sabor picante, os Dictyophora, de cheiro e gosto desagradáveis. Sub-Classe Heterobasidiomycetidae - Exemplar típico: Puccinia spp. Basidios septados.

Compreende espécies causadoras de sérias doenças em plantas cultivadas, como sejam as ferrugens e os carvões. Ustilago maydis produz o carvão do milho. Puccinia graminis é a ferrugem do trigo.

Muitos não formam basidiocarpos (produzem esporos em grupos - os soros). Ciclos de vida complexos envolvendo frequentemente mais do que um hospedeiro (no caso dos parasitas) e a produção de diversos tipos especializados de esporos.

A "ferrugem" do trigo, uma linhagem de Puccinia graminis, cresce parasiticamente nas folhas e caules do trigo (outras linhagens ocorrem em outros cereais), absorvendo materiais do protoplasma do hospedeiro. Na maturidade, as hifas de P. graminis irrompem em lesões localizadas nas folhas e caules do hospedeiro, produzindo um grande número de esporos ferrugíneos (uredósporos) que repetem o ciclo, infectando assim muitas novas plantas. Pelo menos quatro tipos adicionais de células reprodutoras são produzidos no ciclo de vida deste fungo. Alguns Fungos produzem substâncias tóxicas e alucinógenos.



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