quarta-feira, 1 de janeiro de 2025

O NEOLIBERALISMO ENTRA EM CENA

Com o fim da Guerra Fria, entrou em crise o modelo conhecido como Estado de bem-estar social, no qual o Estado deve garantir mecanismos e leis de proteção aos trabalhadores. Esse modelo criou sistemas de aposentadoria e o salário-desemprego, além de realizar investimentos em áreas sociais, como a saúde e a educação. Adotado inicialmente na União Soviética, o Estado de bem-estar social foi também um fenômeno de grande força no pós-guerra na Europa Ocidental, em alguns países capitalistas, com o objetivo de conter o avanço da influência da União Soviética.
As mudanças econômicas a que nos referimos até aqui não ocorreram de repente. Em grande parte, tiveram início na década de 1970. Foi nessa época que alguns políticos e economistas passaram a defender um conjunto de princípios econômicos conhecido como neoliberalismo. 
A partir dos anos 1990, o Estado de bem-estar social foi considerado ultrapassado por muitos políticos ocidentais que adotaram ideias neoliberais. Segundo o neoliberalismo, o Estado deve regular apenas a justiça e a segurança, deixando que o mercado atue livremente na economia, de forma que esta seja regulada pelas leis da oferta e da procura.
Uma das características dos primeiros governos neoliberais foi a redução das medidas de proteção criadas durante a vigência do Estado de bem-estar social. Para os neoliberais, o Estado deve intervir o mínimo possível na economia e restringir os gastos públicos. As empresas estatais (como as que cuidam de serviços de saneamento, telefonia e abastecimento de água) devem ser privatizadas, ou seja, vendidas à iniciativa privada. Os neoliberais afirmam que o Estado deve afrouxar as regras dos sistemas financeiros para facilitar a atuação das empresas e eliminar as barreiras alfandegárias para intensificar o comércio mundial. Essas ideias se concretizaram após a eleição de Margaret Thatcher para primeira-ministra da Inglaterra, em 1979, e de Ronald Reagan para presidente dos Estados Unidos, em 1980. Esses dois políticos e suas equipes iniciaram um amplo processo de retirada de investimentos públicos da economia e abertura para a iniciativa privada – seguido por muitas nações do mundo, inclusive o Brasil, a partir da década de 1990.
Na maior parte do mundo, a implantação de políticas neoliberais envolveu a privatização de empresas estatais, o fim do controle de preços e dos subsídios a determinados setores da economia, a redução do número de funcionários públicos, a limitação dos gastos com a previdência social, a diminuição dos encargos trabalhistas e a abertura da economia a investimentos externos. A aplicação dessa política gerou reações da sociedade civil organizada que se viu prejudicada com essas medidas. No contexto da globalização, tal política levou os países mais ricos a pressionar os países mais pobres para que extinguissem as tarifas alfandegárias protecionistas e liberassem a entrada de produtos e de investimentos estrangeiros.

A crise do capitalismo

A promessa de que as políticas neoliberais resolveriam os problemas econômicos, reduzindo a pobreza e acelerando o desenvolvimento global, não se efetivou na prática. Muitos estudos revelam que esse tipo de política deixou a população mais pobre sem a assistência do Estado, enquanto as empresas privadas e os grupos mais ricos da sociedade saíram favorecidos. Em 2016, um artigo publicado por três economistas do Fundo Monetário Internacional (FMI), um dos maiores defensores dos preceitos neoliberais, apontou que algumas políticas neoliberais acabaram por aumentar as desigualdades, o que coloca em risco uma expansão econômica mais duradoura. Observe os dados do infográfico a seguir, que evidenciam essas desigualdades.

Tais diferenças se acentuaram ainda mais com a crise econômica de proporções globais iniciada em 2007. Uma de suas causas foi justamente o afrouxamento do controle exercido pelo Estado sobre os sistemas financeiros (uma das propostas dos neoliberais). Bancos poderosos e grandes seguradoras desenvolveram formas de especulação antes proibidas. Quando esse sistema veio abaixo, empresas de financiamento, bancos e seguradoras de vários lugares do mundo decretaram falência. Bolsas de valores do mundo inteiro despencaram, e teve início uma crise mundial. A fome e o desemprego aumentaram nos países que aplicaram políticas neoliberais, inclusive nos Estados Unidos. Diante desse cenário, e contra os princípios do neoliberalismo, governos de diversos países injetaram mais de 4 trilhões de dólares na economia a fim de impedir o agravamento da crise.

Geopolítica e os organismos internacionais

Após o fim da Segunda Guerra, ganhou força a ideia de se criar organismos internacionais capazes de mediar as relações entre os países e, assim, garantir a manutenção da paz mundial. Foi nesse cenário que, em 1945, 51 nações de todos os continentes fundaram a Organização das Nações Unidas (ONU). Hoje, 193 países fazem parte da ONU. As organizações internacionais se multiplicaram e se fortaleceram nas últimas décadas, ao mesmo tempo que o processo de globalização e a integração econômica global se intensificaram. Nesse contexto, tais organizações assumiram a missão de promover o ordenamento das relações internacionais, elaborar acordos entre as nações e regular seus cumprimentos. Buscam, assim, garantir a viabilização dos interesses coletivos e promover um entendimento em torno de demandas globais.

Atualmente, além da ONU, existem diversas organizações internacionais, entre elas a Organização Mundial do Comércio (OMC), o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial e a Organização Mundial da Saúde (OMS).

No contexto da pandemia da covid-19, a OMS assumiu um papel de destaque, atuando pela integração das políticas internacionais de combate à pandemia, pela regulamentação dos protocolos adotados pelos países e pela ampla vacinação em todo o mundo. Também esforçou-se em conter a disseminação de fake news e de informações imprecisas que pudessem comprometer a prevenção contra a doença.

Os blocos econômicos Outra característica da segunda metade do século XX foi a formação de blocos econômicos. O objetivo era assegurar melhor capacidade de negociação de cada nação e eliminar barreiras alfandegárias entre os membros de cada bloco. Dessa forma, os países de um bloco poderiam comerciar entre si sem cobrar impostos sobre as importações.

O mais antigo desses blocos começou a ser criado em 1957, com a formação da Comunidade Econômica Europeia (também chamada de Mercado Comum Europeu). Em 1992, depois de várias mudanças e ampliações, esse bloco passou a se chamar União Europeia (UE). Atualmente, a UE reúne 27 Estados-membros, principalmente na Europa Ocidental. Dezenove deles adotam a mesma moeda, o euro.

Outros blocos se formaram nos anos 1990, entre eles o Acordo de Livre-Comércio da América do Norte (Nafta, na sigla em inglês), formado por Estados Unidos, Canadá e México; e o Mercado Comum do Sul (Mercosul), que reúne Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai. Em 2021, entrou em vigor um novo bloco formado por 54 dos 55 países africanos, a Zona de Livre Comércio Continental Africana (AfCFTA, na sigla em inglês).
Nos últimos anos, os blocos econômicos começaram a ser avaliados de maneira negativa por grupos nacionalistas. Movimentos de extrema direita afirmam que esses blocos são prejudiciais para as economias nacionais, e defendem que os países endureçam as barreiras alfandegárias e abandonem os acordos de livre circulação. Além disso, apoiam medidas anti-imigração, estimulando, inclusive, a expulsão de imigrantes de certos países. Um dos principais desdobramentos desse movimento contrário aos blocos econômicos deu-se em 2016, quando 52% dos eleitores britânicos decidiram que o Reino Unido deixasse a União Europeia. A saída, votada em plebiscito, se concretizou em 2020. Esse movimento ficou conhecido como Brexit, termo em inglês que combina as palavras Britain, que significa “Bretanha”, e exit, que significa “saída”.

O consumismo: o planeta ameaçado

No mundo globalizado, é cada vez maior o estímulo ao consumo. A ideologia dominante incentiva a substituição constante de produtos por outros mais avançados tecnologicamente. Adquirir produtos que acabaram de sair das fábricas ou que foram divulgados por determinado artista ou influencer tornou-se o objetivo de vida de muitas pessoas. Nessa toada, boa parte das mercadorias que as pessoas consomem se torna descartável após pouco tempo de uso. Segundo alguns especialistas, o consumismo tem se revelado um problema sério e de graves consequências para as sociedades contemporâneas, especialmente aquelas de maior poder aquisitivo. Seduzidas e embaladas pelo consumismo, algumas pessoas tendem a substituir as relações afetivas (familiares e de amizade) pela compra compulsiva.

Esse tipo de comportamento está atrelado à ansiedade e à depressão, e pode levar ao endividamento. Com o descarte cada vez maior e mais rápido dos produtos, o acúmulo de lixo, principalmente de produtos tecnológicos, tornou-se outro sério problema para o planeta. Muitos produtos (como o plástico) levam séculos para se desfazer na natureza e vários têm componentes que poluem o solo, levando substâncias tóxicas para as plantações e para os lençóis freáticos que abastecem as populações.

Estudiosos do tema afirmam que o planeta não tem condições de continuar a fornecer os recursos necessários a esse consumo desenfreado e corre o risco de entrar em colapso. Portanto, é preciso repensar urgentemente a relação com o consumo e desenvolver formas mais sustentáveis de suprir nossas necessidades cotidianas, considerando sobretudo o manejo equilibrado dos recursos naturais.

A globalização e a cultura

A globalização tem também transformado o campo cultural. As trocas culturais entre sociedades tão distintas vêm promovendo um processo que alguns sociólogos chamam de transculturação, isto é, quando traços culturais de uma sociedade passam a fazer parte de outra. Assim, elementos culturais de sociedades ocidentais, por exemplo, passam a ser observados em sociedades orientais, africanas ou indígenas. Porém, essas trocas culturais nem sempre acontecem de forma igual.

Os países com maior poder econômico disseminam seus valores, suas ideias e seus costumes de forma muito mais intensa e abrangente que os demais países. Pense, por exemplo, no grande poder de distribuição da indústria cinematográfica estadunidense. Um filme produzido nos estúdios de Hollywood pode ser lançado simultaneamente nos cinco continentes, alcançando um público de milhões de pessoas. O mesmo não ocorre com produções de outras nações que, muitas vezes, mal ultrapassam as fronteiras de seu país de origem.

A internet e as plataformas de streaming de música e de filmes também desempenham importante papel nesse processo, contribuindo para a disseminação de determinados produtos em detrimento de outros, impulsionando uma homogeneização cultural. E isso também pode ser observado em outros hábitos culturais, como na alimentação. Pense no caso das redes de fast-food: um sanduíche comprado em uma lanchonete tipo fast-food em Nova York será bem semelhante a outro sanduíche adquirido em Londres, Tóquio ou Salvador, por exemplo. A globalização e a homogeneização culturais, contudo, não implicam o fim das culturas locais.

A internet, um dos principais símbolos do mundo globalizado, tem sido usada por muitos povos tradicionais para a preservação e a difusão de seus valores culturais. Por isso, estudiosos afirmam que, ao mesmo tempo que vivemos um processo de homogeneização cultural, também atravessamos um processo de heterogeneização cultural, pois a humanidade nunca pôde travar contato com povos e culturas tão diversos quanto agora.

A GLOBALIZAÇÃO

Uma das características marcantes do mundo atual é a aceleração das comunicações e dos transportes. Informações, produtos industriais e culturais (estilos de vida, músicas, filmes ou apresentações de artistas transmitidas ao vivo), e mobilizações sociais (em torno de causas como o feminismo e o antirracismo, por exemplo) chegam rapidamente a quase todos os lugares do mundo. Atualmente, quase todos os países estão profundamente ligados. As fronteiras que separavam as economias e as culturas dos diversos povos tornaram-se praticamente inexistentes. Esse processo é conhecido como globalização. Na economia, ele tornou possível encontrar fontes de matérias-primas mais acessíveis em qualquer lugar do mundo, transportar essas matérias-primas de um lugar para outro e fabricar produtos cada vez mais sofisticados em pouco tempo.

Na sociedade, ele tem expandido a chamada cultura de massa, como estudaremos mais adiante. Assim, com a globalização, tornou-se possível o desenvolvimento de uma economia transnacional. A sede de uma empresa transnacional, por exemplo, pode estar em um país que oferece benefícios fiscais (como isenção de impostos), enquanto a equipe que projeta seus produtos pode localizar-se em outro país, geralmente em centros de inovação e alta tecnologia. A matéria-prima utilizada por essa empresa, por sua vez, é extraída em países economicamente pobres, onde é mais barata.

Às vezes, os componentes de um único produto são fabricados em países diferentes e, depois, reunidos para serem montados em fábricas instaladas em regiões pobres, onde os salários são mais baixos. Por fim, a venda do produto ao consumidor final pode ser feita em lugares do mundo que ofereçam margens de lucro mais atraentes para a empresa transnacional. Essa oferta muitas vezes tem abrangência global, o que faz com que consumidores de lados opostos do globo tenham acesso às mesmas mercadorias.

A NOVA ORDEM MUNDIAL

Em 1991, com a queda da maior parte dos regimes comunistas do planeta e a desintegração da União Soviética, a divisão do mundo em dois blocos opostos – um dos marcos do século XX – chegou ao fim. Essa nova configuração provocou uma importante reorganização das relações internacionais em um processo marcado por rupturas e permanências. De um lado, novas formas de organização de blocos de países ganharam força, especialmente os chamados blocos econômicos. Por outro lado, o fim das disputas entre os Estados Unidos e a União Soviética não afastou o perigo de um conflito nuclear. Atualmente, muitos países produzem armas nucleares, como a bomba atômica. Isso representa um sério perigo para a paz mundial, pois entre alguns desses países há rivalidades e disputas que podem levar a uma nova guerra. Ao mesmo tempo, Estados Unidos e China, as duas maiores potências econômicas da atualidade, vivem um período de rivalidade. De acordo com analistas internacionais, o principal motivo é a disputa sobre quem assumirá o protagonismo da economia global nas próximas décadas. Segundo essas análises, o governo estadunidense teme que a China ocupe um papel de liderança em muitas áreas, principalmente a tecnológica, onde o país asiático vem apresentando grande desenvolvimento nos últimos tempos. Aliada a essa situação, a Rússia, detentora de grande arsenal nuclear, busca exercer supremacia na região da antiga URSS. Tudo isso evidencia as permanências históricas do contexto da Guerra Fria nas relações internacionais na passagem do século XX para o XXI. Entretanto, não restam dúvidas de que o ano de 1991 marcou o fim de certas características do mundo contemporâneo e o começo de novos processos históricos.

O fim da Guerra Fria

Com o clima de liberdade, as manifestações contrárias ao regime intensificaram-se na União Soviética. Diante dessas manifestações, em 1991, alguns militares e dirigentes comunistas que não concordavam com as mudanças tentaram dar um golpe de Estado a fim de afastar Gorbachev do poder, barrar as mudanças e fazer o país retornar a um regime autoritário. Entretanto, o golpe não recebeu apoio de parte da população e foi rapidamente derrotado. Gorbachev manteve-se no poder, e o processo de mudanças prosseguiu. Mas a estrutura do Estado soviético era tão rígida que não suportou essa política de reformas. Assim, no fim de 1991, Gorbachev renunciou à presidência, e foi declarado o fim da União Soviética. A URSS desintegrou-se com a independência das repúblicas que formavam o país. A grande diversidade étnica do imenso território da URSS contribuiria para o surgimento de lutas de caráter nacionalista e separatista, algumas das quais permanecem até hoje. Um dos países criados nesse processo é a Federação Russa (mais comumente chamada de Rússia), que reúne algumas repúblicas e regiões autônomas da extinta União Soviética, e mantém grande parte do antigo território soviético. A desintegração da União Soviética significou também o fim da Guerra Fria.

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