Durante a primeira década do século XXI, de modo geral, os países da América Latina passaram por um período de desenvolvimento social e crescimento econômico. Um dos crescimentos mais marcantes ocorreu na Venezuela durante o governo de Hugo Chávez, entre 1999 e 2013. Em parte, seu governo foi caracterizado pelo aumento da presença do Estado na economia e no desenvolvimento de programas sociais para redução da pobreza em seu país. Chávez nacionalizou empresas privadas que exploravam setores estratégicos, como petrolíferas, siderúrgicas, elétricas e de telecomunicações.
Embora Hugo Chávez seja lembrado por suas políticas nacionalistas e de combate à pobreza, ele também foi visto por muitos como um ditador, com um governo marcado pela centralização do poder, pela perseguição aos seus opositores e pela censura aos meios de comunicação.
Outros países da América Latina, como Argentina, Chile e Brasil, iniciaram governos caracterizados como centro-esquerda no início do século XXI. Esses governos foram marcados pela busca do equilíbrio entre a realização de políticas sociais e a boa relação com os setores neoliberais, compostos principalmente pelas elites industriais e empresariais, com destaque para o agronegócio. Assim, ao mesmo tempo em que esses governos promoviam programas de combate à pobreza e às desigualdades sociais, favoreciam também as elites, oferecendo-lhes subsídios, isenção de impostos, renegociação ou perdão de dívidas, entre outros, visando também atrair investidores e o capital estrangeiro, promovendo o desenvolvimento econômico na região.
A crise econômica Apesar do desenvolvimento econômico e social alcançado pelos países latino- americanos, no final da primeira década do século XXI, apareceram os primeiros sinais de crise, iniciada já nos EUA desde 2008. Países importadores europeus e os EUA passaram a comprar menos matéria-prima, prejudicando a principal atividade econômica da América Latina, a exportação de produtos agrícolas (soja, milho, trigo, cana-de-açúcar etc.), e de produtos minerais (carvão, minério de ferro, petróleo etc.).
O aumento dos problemas sociais
Com a sua principal atividade econômica prejudicada, vários países latino-americanos entraram em crise. De modo geral, sem capital, muitos investimentos na área social foram reduzidos ou cortados, prejudicando a população mais pobre, gerando grande insatisfação. As elites também se sentiram prejudicadas, pois, com a queda do poder de consumo da população, muitas empresas e indústrias passaram a produzir e vender menos. Assim, os governos de centro-esquerda ou de esquerda moderada passaram a sofrer cada vez mais críticas, principalmente dos setores mais ricos da sociedade e da classe média.
A crise política e econômica na Venezuela
Embora o fenômeno da crise econômica e política tenha atingido toda a América Latina, um dos países que mais sofreu com essa situação foi a Venezuela. O sucessor de Hugo Chávez, Nicolás Maduro, não conseguiu atenuar os efeitos da crise. A principal commodity produzida na Venezuela era o petróleo, que apresentou preços muito baixos durante seu governo. Em 2018, mesmo com uma inflação de mais de 800% ao ano, insumos básicos como alimentos, produtos de higiene pessoal e remédios faltavam nas prateleiras de farmácias e mercados.
Esse contexto de crise gerou, na Venezuela, e em outros países da América Latina, uma situação de grande insatisfação popular, e de polarização política, uma vez que permitiu o fortalecimento da oposição, formada por partidos de centro direita e direita, dividindo a população entre apoiadores e opositores do governo.
A crise na Venezuela
Em 1998 foi eleito para a Presidência da Venezuela Hugo Chávez, defensor do bolivarianismo que adotava uma postura de oposição aos Estados Unidos e às políticas neoliberais. Ao longo de
seu governo, Chávez baseou a economia do país principalmente na
exploração do petróleo e estabeleceu várias ações assistencialistas.
Com suas estratégias políticas e econômicas, Chávez conseguiu
diminuir a pobreza no país, mas sofreu grandes perdas com a queda
no preço do petróleo e, ao longo dos anos, comprometeu a estrutura
democrática do país e reprimiu fortemente a oposição. Para manter-se na liderança, o presidente alterou a constituição, sendo reeleito em
2006 e 2012, em votações marcadas por diversas denúncias de fraude.
Com a morte de Chávez, em 2013, foram realizadas eleições, que
foram vencidas por seu vice, Nicolás Maduro. Nesse contexto, a crise
econômica do país piorou, e o governo passou a perseguir e torturar
opositores. Em 2013, o país começou a enfrentar uma grave crise
humanitária, com falta de alimentos, baixos salários e elevação do
nível de pobreza. Diante dessa situação, milhares de venezuelanos
abandonaram o país, dirigindo-se para o Brasil e outros locais.
Em 2016, Maduro retirou poderes da Assembleia Nacional e, em
2019, Juan Guaidó, presidente da Assembleia e líder da oposição,
autoproclamou-se presidente interino do país. Maduro manteve-se
no poder e a crise política afetou ainda mais a população. Em virtude
dessa situação, o país foi suspenso do Mercosul em 2016, por descumprimento do protocolo de adesão, e em 2017, por ruptura da
ordem democrática.
América Latina hoje
Os processos de integração econômica tratados neste capítulo
não atingiram de maneira igual todos os países nem todas as pessoas de um país. Com a globalização, o processo de concentração da
riqueza acentuou-se em razão, entre outros fatores, da formação
dos conglomerados que controlam as atividades econômicas.
Na América Latina, a concentração de renda característica da globalização somou-se a processos históricos de exclusão social. Além disso,
os efeitos da globalização são agravados por questões políticas.
A Argentina, por exemplo, tem enfrentado fortes recessões econômicas desde o início do século XXI. Em 2015, os argentinos elegeram
para a Presidência do país Maurício Macri, conservador e defensor do
neoliberalismo e de políticas de austeridade. Ao longo de seu mandato, Macri cortou os investimentos públicos, baixou os impostos para
as exportações de produtos e liberou reajustes gigantescos no preço
de serviços e bens que antes eram subsidiados pelo Estado. As medidas, no entanto, não alcançaram os resultados almejados e o país
entrou em profunda crise, com desvalorização histórica de sua moeda,
o peso argentino, pondo em xeque o modelo neoliberal e sua eficiência
na região e no contexto atual.
Em 2019, Macri foi derrotado nas eleições pelo candidato peronista Alberto Fernández, que prometeu melhorar a assistência social
aos argentinos. No entanto, até o meio de seu mandato, o país ainda
estava em recessão econômica.