terça-feira, 14 de janeiro de 2025

Índia

A formação da República da Índia

O território da Índia foi definido em 1947, após a Segunda Guerra Mundial. A colônia britânica dessa porção asiática compreendia Índia, Paquistão e Bangladesh e era habitada por etnias e grupos religiosos diversos, dois deles majoritários: os muçulmanos e os hindus. Suas fronteiras são resultantes do processo de independência, que deu origem ao Paquistão — que se dividia em Paquistão Ocidental (atual Paquistão) e Paquistão Oriental (atual Bangladesh) e abrigava a maioria muçulmana — e à Índia, de maioria hindu. Bangladesh tornou-se independente em 1971 após a luta pela libertação do Paquistão, apoiada pela Índia. Desde a independência, Paquistão e Índia não resolveram suas questões de fronteira, responsáveis por três guerras entre os dois países. A raiz dos conflitos é a Caxemira, região de maioria muçulmana, mas sob o domínio da Índia. Na primeira guerra pela disputa da Caxemira entre Paquistão e Índia, entre 1947 e 1949, a região ficou dividida. Sua maior parte, onde estão os vales férteis e as nascentes de rios importantes, ficou sob o controle do governo indiano. O grande líder da independência da Índia foi Mahatma Gandhi (figura 27), que pregava uma revolução sem violência, baseada no conceito de desobediência civil, que consistia na não obediência às leis consideradas injustas como forma de protesto e de desestabilização do poder do Estado. Apesar disso, Gandhi não conseguiu controlar a insatisfação de milhões de pessoas com a administração britânica e atos de violência e atentados terroristas foram frequentes durante a luta contra o Reino Unido.

Economia indiana

A Índia tem despertado atenção pela prosperidade de sua economia, cada vez mais importante no contexto mundial. Também chama a atenção o caminho seguido para seu desenvolvimento nas duas últimas décadas. O país fez investimentos bem-sucedidos em tecnologia e formação profissional. Formou milhões de engenheiros e soube criar oportunidades singulares na economia globalizada. A partir dos anos 1990, a Índia promoveu grandes transformações em sua estrutura econômica e integrou-se com sucesso ao mercado internacional. Os mecanismos que apoiaram o crescimento da participação indiana na economia mundial são semelhantes aos aplicados pela China: subvalorização da moeda (rúpia), baixo custo da mão de obra, criação de Zonas de Processamento de Exportação (ZPEs) e incentivos do governo. Grandes investimentos para melhorar a infraestrutura de telecomunicações e de transportes também vêm sendo realizados, sobretudo no setor rodoviário.

Exportação de serviços

Um traço de originalidade da economia indiana está relacionado ao setor de serviços. Empresas indianas contam com mão de obra com fluência na língua inglesa, qualificada para prestar serviços de natureza variada para empresas estadunidenses, inglesas e até mesmo brasileiras. Empresas de qualquer parte do mundo que não desejam criar um setor específico para atividades e processos que não pertençam a seu negócio principal (como a contabilidade, o recolhimento de impostos, a elaboração da folha de pagamentos) podem repassá-los a empresas instaladas na Índia. Os call centers, por exemplo, prestam serviços de informação ao cliente e suporte técnico ao consumidor, a distância. A prestação de serviços é um produto de exportação da Índia. Tudo é feito com a tecnologia da informação. Outro destaque da nova fase da economia indiana são as empresas de desenvolvimento de software. O setor conta com amplo apoio governamental, por meio de incentivos fiscais e investimentos públicos na formação de profissionais. Bangalore, um dos tecnopolos da Índia, tem mais engenheiros que o Vale do Silício, na Califórnia. São profissionais igualmente qualificados, mas que recebem remuneração bem inferior em comparação aos salários pagos nos Estados Unidos. Outra cidade que se destaca nesse setor é Hyderabab. A Índia é hoje o maior exportador de software do mundo.

Na área de entretenimento, o cinema tem grande destaque: é o país que mais produz filmes no mundo. Bollywood, situado em Mumbai, é a segunda maior indústria cinematográfica, superada apenas pela produção dos Estados Unidos.

Principais setores industriais

A indústria farmacêutica também faz parte do desenvolvimento econômico recente da Índia. Inicialmente produzia drogas genéricas, depois começou a desenvolver e produzir drogas de combate a aids e transformou-se no principal fornecedor desses medicamentos aos países mais pobres. Atualmente os laboratórios indianos têm investido em pesquisa e desenvolvimento e elevaram as empresas desse setor ao patamar de produção do mundo desenvolvido. A indústria automobilística é também importante e começa a ganhar maior projeção internacional. Além de diversas empresas multinacionais do setor instaladas na Índia, o país tem indústrias nacionais, como a Mahindra e a Tata Motors. Esta, de maior destaque, atende a quinta parte do mercado indiano e exporta para diversos países asiáticos. Em 2008, ela lançou o automóvel mais barato do mundo e comprou a Land Rover e a Jaguar. Em 2018, o país se tornou o quarto maior produtor mundial de veículos automotivos. A Índia também disputa a liderança mundial na produção de aço. Os dois recursos minerais básicos para a siderurgia, carvão mineral e minério de ferro, são extraídos em quantidade suficiente para atender ao consumo atual das empresas indianas. As maiores jazidas de ferro estão em Goa, que, além de suprir o mercado doméstico, é responsável por 40% das exportações do país.

A sociedade

A Índia é o segundo país em população do mundo. Apesar de ser o sétimo em extensão territorial, aproximadamente 1,3 bilhão de habitantes vivem em uma área de 3.287.263 quilômetros quadrados, equivalente a cerca da terça parte do território chinês. Tais fatores fazem da Índia o país de maior densidade demográfica, com mais de 400 habitantes por quilômetro quadrado. A maior parte dos indianos depende do trabalho agrícola, embora cerca de 75% da renda do país seja gerada por atividades urbanas: indústria e serviços. O crescimento econômico acelerado ainda está distante da possibilidade de melhorar a vida de boa parte dos indianos. Cerca de 300 milhões de pessoas vivem abaixo da linha da pobreza e lutam diariamente pela sobrevivência. A desigualdade social é alarmante.

Grupos religiosos

Dentre as religiões praticadas na Índia, destacam-se, pelo número de adeptos, o budismo e o bramanismo ou hinduísmo (figura 30). O budismo corresponde mais a um sistema ético-filosófico do que propriamente a uma religião. Surgiu na Índia, mas acabou se difundindo, com diversas ramificações, entre alguns povos asiáticos. O hinduísmo é praticado predominantemente na Índia, com adeptos também nos países vizinhos. A religião hindu é resultante de uma combinação de culturas. Essa combinação criou o sistema de castas, que, apesar de ter sido extinto por lei, até hoje é adotado em seus princípios básicos pela sociedade indiana. As castas são grupos sociais cujos membros pertencem à mesma etnia, profissão ou religião. Sendo uma classificação hereditária, que passa de pai para filho, nesse sistema são proibidos o casamento entre pessoas de castas diferentes e a mobilidade de uma casta para outra. Além disso, não há igualdade de direitos, ou seja, algumas castas gozam de privilégios, e todas obedecem a uma hierarquia que as classifica em categorias mais elevadas ou inferiores. Vários são os aspectos considerados na classificação das castas. Entre os mais importantes estão: o trabalho, o local de habitação na cidade e a língua. A sociedade hindu divide-se em quatro castas principais: os brâmanes (monges), os xátrias (guerreiros), os vaixás (comerciantes e artesãos) e, na base da pirâmide, os sudras (camponeses).

Compõem também a sociedade hindu os párias (dalits), que são considerados impuros pelas outras castas e exercem atividades de baixa remuneração, como as funções de coveiro e faxineiro. A partir da década de 1990, as castas inferiores vêm obtendo alguns avanços, como a aquisição de propriedades, aumento de renda e melhores empregos no serviço público, além de eleger representantes na política. Essas conquistas têm levado a choques com as castas superiores, que se sentem ameaçadas.

Conflitos na Índia

Muitos conflitos têm origem em rivalidades étnicas e diferenças de caráter religioso, mas, fundamentalmente, são disputas territoriais, econômicas e de poder. Diversos líderes políticos manipulam a população, apropriando-se do discurso religioso para respaldar suas ações contra outros países. Fonte: elaborado em base em Embaixada da Índia. Disponível em: . Acesso em: 17 fev. 2016. As disputas de maior projeção estão concentradas em dois estados, a Caxemira e o Punjab. A região da Caxemira, no norte da Índia, ultrapassa as fronteiras do país e estende-se por terras da China e do Paquistão. O Paquistão e a guerrilha muçulmana separatista querem anexá-la ao país. Além da localização estratégica, na fronteira da China, o controle da Caxemira significa dispor de nascentes, das águas do curso médio do rio Indo e de vales férteis apropriados à atividade agrícola. Na região do Punjab, também no norte da Índia, desenvolve-se outro foco de conflito, entre os sikhs — minoria étnica seguidora de uma seita própria que difunde elementos do islamismo e hinduísmo — e os hindus. Os sikhs lutam pela independência e pela formação do Estado do Kalistão. A perseguição aos sikhs intensificou-se em 1984, após a morte da primeira-ministra indiana Indira Gandhi, assassinada por membros de sua guarda pessoal e adeptos da seita sikh. O provável motivo do assassinato teria sido o fato de Indira Gandhi ter ordenado a invasão do Templo Dourado de Amritsar — local sagrado para os sikhs, onde se reunia a cúpula do movimento separatista — resultando na morte de 450 pessoas.

China

O território A história da China tem cerca de 5 mil anos. Há mais de 2 mil anos, o Império Chinês já apresentava 55 milhões de habitantes. Hoje mais de 1,3 bilhão de pessoas vivem na China, e há uma numerosa comunidade chinesa espalhada por todo o mundo. Com uma superfície de 9.596.960 km2 , a China é o terceiro país mais extenso do globo, superado apenas pela Rússia e pelo Canadá. É formada por cinco grandes regiões geográficas: Sinkiang, Mongólia Interior, Tibete, Manchúria e China do leste.

O povo chinês construiu duas obras monumentais: o Canal Imperial, ou Grande Canal, e a Grande Muralha. O canal foi escavado para ligar a região norte aos arrozais do vale do rio Yang-tse. Sua construção, iniciada no século V a.C., só foi concluída no século XIII da era atual. A Grande Muralha, com mais de 6 mil quilômetros de extensão, começou a ser construída no século III a.C., para impedir a entrada de invasores nômades do norte.

A República Popular da China No início do século XX (1911-1912), chegou ao fim o império mais antigo do mundo, ao se estabelecer a República da China. O Partido Nacionalista (Kuo-Min-Tang) conquistou o poder com a proposta de eliminar o domínio estrangeiro e modernizar o país. Entretanto, não conseguiu impor a independência da China diante das grandes potências imperialistas nem unificar todas as regiões chinesas. Na década de 1920, o Partido Comunista da China foi criado em oposição ao Kuo-Min-Tang.

Em 1945, com a derrota do Japão e o fim da Segunda Guerra Mundial, os dois partidos se enfrentaram, desencadeando uma guerra civil. Em 1949, o exército camponês do Partido Comunista venceu os nacionalistas e fundou a República Popular da China. As forças lideradas por Chiang Kai-shek procuraram refúgio na Ilha de Formosa (Taiwan), onde fundaram a China Nacionalista. No período de 1949 a 1976, a China foi governada por Mao Tsé-tung. No início, entre 1953 a 1957, contou com a ajuda da União Soviética e elaborou um plano econômico que deu prioridade ao desenvolvimento da indústria de base. Em 1958, a China rompeu com a URSS. A orientação econômica dos técnicos soviéticos não se adaptou às particularidades da sociedade e da economia chinesas: um país populoso e essencialmente agrário. O estímulo às atividades agropecuárias era essencial à alimentação de milhões de pessoas famintas. O governo de Mao Tsé-tung criou diversas cooperativas agrícolas e, posteriormente, formou as comunas populares, unidades administrativas praticamente autossuficientes na produção de mercadorias (agrícolas e industriais) e em outras atividades básicas, como educação e saúde, que produziam também determinadas cotas destinadas ao Estado.

A Revolução Cultural

De 1966 até a morte de Mao Tsé-tung, em 1976, com o pretexto de moralizar a administração, acabar com os privilégios e incorporar os verdadeiros ideais comunistas na sociedade, o governo chinês promoveu uma cruel perseguição política e cultural ao povo chinês. Essa fase ficou conhecida como Revolução Cultural. Os artistas só podiam realizar obras que exaltassem a revolução; livros, filmes e músicas ocidentais foram proibidos; intelectuais, professores e estudantes universitários eram obrigados a contribuir com alguns anos de trabalho no campo ou nas indústrias estatais. Muitos jovens foram engajados nas Guardas Vermelhas, que tinham como meta fiscalizar o comportamento das pessoas diante dos valores da nova sociedade que se formava. As perseguições atingiram até mesmo o Partido Comunista, com a expulsão e a prisão de muitos dos membros que não apoiavam o radicalismo imposto pela Revolução Cultural à sociedade chinesa.

A China de Deng Xiaoping

Em 1978, dois anos após a morte de Mao Tsé-tung, Deng Xiaoping assumiu a liderança do Partido Comunista Chinês e deu início a uma série de modificações na economia do país. Visando acelerar o desenvolvimento, o governo implementou um programa denominado Quatro Modernizações. Logo no primeiro ano de seu governo, Deng Xiaoping promoveu o processo de descomunalização (extinção das comunas), com o estímulo às pequenas propriedades agrárias (propriedades particulares) e às pequenas cooperativas que se formaram entre elas. A partir de 1980, a China promoveu uma série de reformas que permitiram a entrada de capital estrangeiro, admitiu o lucro como incentivo ao trabalho e ao desenvolvimento, abriu relações comerciais com praticamente todos os países do mundo e realizou acordos de cooperação técnica e científica.

Mudanças econômicas e espaciais

No início dos anos 1980, foram criadas, em alguns pontos do território chinês, as Zonas Econômicas Especiais (ZEEs), que funcionam pelas leis da economia de mercado, nos moldes capitalistas. Posteriormente (na década de 1990), esse modelo econômico foi introduzido em outras cidades. A Bolsa de Valores de Xangai, fechada desde a Revolução Socialista, foi reaberta em 1984. Desde 1978, com o programa das Quatro Modernizações, que priorizaram a produtividade em detrimento da igualdade social, as taxas de crescimento econômico da China figuram entre as maiores do mundo, cerca de 10% ao ano. A necessidade de aumento de produtividade também está relacionada ao fato de o país ter de alimentar mais de 1,3 bilhão de habitantes. Esse crescimento contou com investimentos dos Estados Unidos, de países europeus, do Japão, de Taiwan e de empresários chineses que vivem no exterior. Entre 1980 e 2000, a China recebeu meio trilhão de dólares de investimentos estrangeiros diretos.

Reformas capitalistas e controle comunista

A China viveu nas últimas décadas uma aparente contradição. As reformas econômicas não foram acompanhadas pela abertura política. O sistema político continua centralizado no Partido Comunista, e as manifestações populares têm sido severamente reprimidas. Prova disso foi a dura repressão às manifestações estudantis ocorridas em Beijing, Xangai, Guangzhou e em outras cidades chinesas no ano de 1989. Em Beijing, a manifestação da praça Tiananmen (ou praça da Paz Celestial) reuniu mais de 1 milhão de pessoas e comoveu o mundo todo. Os manifestantes exigiam reformas democráticas e participação nas transformações econômicas em curso naquele momento. Deixou um saldo de mais de mil mortos e resultou em perseguições políticas posteriores.

Atividades econômicas

Com grande disponibilidade de força de trabalho e participação cada vez maior na economia internacional, a China tem destaque em diversos setores econômicos, como veremos a seguir.

Atividade agropecuária

A atividade agrícola e a pecuária encontram condições naturais bastante favoráveis nas planícies fluviais situadas no leste (o que corresponde a cerca de 15% do território). Os chineses conseguem produzir safras anuais de mais de 500 milhões de toneladas de grãos (o que inclui trigo, arroz, milho, aveia, centeio, cevada e soja), usando técnicas intensivas de mão de obra, irrigação e terraceamento em regiões onde as condições naturais são menos adequadas às atividades de cultivo. A partir de 1978, com o processo de modernização implementado por Deng Xiaoping, o setor rural chinês passou por profundas transformações. Iniciou-se a descomunalização: a unidade de produção agrícola deixou de ser a comuna e voltou a ser o camponês e sua família. Atualmente a propriedade rural continua a pertencer ao Estado, mas é gerenciada pelos próprios agricultores mediante um contrato de uso da terra por 30 anos, que pode ser renovado. Além das unidades de produção familiar, há as fazendas do Estado, pouco numerosas e, geralmente, em áreas de difícil acesso, que funcionam como frentes pioneiras. A China é o maior produtor mundial de cereais. Apesar da grande produção agrícola, o país ainda importa alguns produtos, em razão do alto consumo de sua população. Um deles é a soja, importada do Brasil, destinada em parte para a alimentação do rebanho suíno.

A extensão territorial do país, a diversidade de solos e climas e a tradição da atividade agrícola entre os chineses contribuíram para a formação de uma grande variedade de culturas, entre as quais se destacam a de arroz, cultivado principalmente no sul, e a de trigo, cujo cultivo se concentra no norte. A China é o maior produtor mundial de arroz, cujas principais áreas de cultivo localizam-se no vale do rio Yang-tse e nos vales fluviais do sudeste. O trigo é a principal cultura do vale do Huang-Ho e da Manchúria, onde é cultivado associado à soja. A China também é o maior produtor mundial de trigo e o quarto de soja, apesar de ser importadora desses cereais. Na parte central das planícies, a cultura do trigo é associada às do algodão e do amendoim. Outros produtos de destaque são o sorgo, a cevada, a aveia, o milho (segundo maior produtor mundial), o milhete (milho miúdo), o chá e a cana-de-açúcar. Na pecuária chinesa, destaca-se a criação de suínos. Com cerca de 450 milhões de cabeças, é o maior rebanho do mundo. Mas os rebanhos de equinos, aves, caprinos, ovinos e bovinos também estão entre os maiores do mundo. A porção oeste do território é dominada por desertos e montanhas que dificultam o cultivo, predominando a atividade de criação extensiva ou nômade.

Atividade extrativista

No setor extrativista mineral, o produto mais importante é o carvão mineral, a principal fonte de energia do país. A China responde por cerca de 25% da produção mundial desse minério. Suas áreas carboníferas mais importantes estão situadas na Mongólia Interior e na Manchúria. Os principais campos de petróleo estão no mar da China Meridional e no Sinkiang, oeste da China. Até o início da década de 1990, o país mantinha autossuficiência nesse setor e, no fim da primeira década do século XXI, era o quarto maior importador mundial, atrás apenas da União Europeia, dos Estados Unidos e do Japão. A China apresenta grande potencial hidrelétrico, mas 70% de sua energia elétrica provém de usinas térmicas movidas a carvão. A hidrelétrica de Três Gargantas, no rio Yang-tse, é a maior do mundo, e quando estiver funcionando com capacidade total responderá por 10% da produção chinesa de eletricidade. No entanto, o projeto é bastante polêmico. Questiona-se não só o custo elevado, mas principalmente os problemas ambientais causados pelo represamento da água: aumento da poluição do rio, impacto na vida aquática e deslizamentos que já ocorreram no entorno da represa e soterraram casas e pessoas. Questiona-se também o impacto social provocado pela necessidade de remoção das pessoas que vivem próximo às áreas que foram inundadas. Estimava-se que essa remoção atingiria até 4 milhões de chineses até 2020. Merece ainda destaque a extração de minerais de ampla aplicação industrial, como estanho, cobre, chumbo, mercúrio, manganês, ferro, antimônio e tungstênio.

Atividade industrial

Apesar de ainda ter aproximadamente 35% da população ocupada em atividades agrárias, o motor da economia chinesa atual é movido principalmente pela atividade industrial. Os produtos industriais predominam na pauta das exportações. A China detém uma das cinco maiores indústrias siderúrgicas do globo. Produtos químicos, locomotivas, navios e tratores também ampliaram a escala de produção. As indústrias de bens de consumo conquistaram destaque no mercado internacional, principalmente a têxtil, a alimentícia, a de brinquedos, a de calçados e a de eletroeletrônicos. Esses setores receberam grandes investimentos de empresas estrangeiras, que instalaram filiais nas ZEEs.

Nos últimos anos, a China tem conquistado os setores industriais de maior desenvolvimento tecnológico. O grupo chinês Lenovo é proprietário do setor de computadores pessoais da IBM e um dos maiores fabricantes mundiais desses produtos. O setor automobilístico de capital totalmente chinês (Chery, JAC Motors, Geely e Brilliance Auto) tem se ampliado no mercado externo, com maior presença de produtos de transnacionais chinesas. A localização industrial, desde o processo de transformações econômicas adotadas por Deng Xiaoping, concentrou-se nas regiões litorâneas. Essas regiões, que abrigam a maior população urbana do país, dirigem sua produção para o mercado externo. Posteriormente, o governo chinês passou a estimular também a instalação industrial no interior do país. Desde então, diversas cidades situadas ao longo do rio Yang-tse estão se industrializando.

Indústria e meio ambiente

O forte crescimento industrial chinês apoiou-se no consumo de fontes não renováveis e bastante poluidoras. O país é o maior emissor global de gases do efeito estufa e um dos principais problemas ambientais das grandes cidades chinesas é a poluição atmosférica. Apesar de ser atualmente o país que mais investe no mundo em energias renováveis (eólica, solar e hidrelétrica), é forte a dependência do carvão mineral na geração de energia. Esse combustível fóssil, altamente poluidor, é responsável por 70% da energia total gerada no país (considerando consumo industrial, doméstico e geração de energia elétrica). Somente na geração de eletricidade o carvão mineral participa com 65%. Somando-se as emissões da China com as dos estadunidenses, chega-se a aproximadamente 40% das emissões totais no mundo. Os chineses se comprometem a atingir o ápice das emissões de gás carbônico até 2030 e, a partir desse ano, elas deverão começar a cair. Para tanto, os governantes da China anunciaram que o país vai realizar investimentos para que 20% de suas fontes energéticas sejam originárias de fontes não emissoras de gases do efeito estufa.

Comércio exterior

Nos últimos 30 anos, apesar das oscilações no ritmo de crescimento econômico, a China cresceu, em média, mais do que qualquer outro país. Os baixos salários e a subvalorização da moeda chinesa (yuan) em relação ao dólar atraem capitais de todas as partes do mundo e garantem à China elevada competitividade no mercado mundial. O potencial de consumo, em um país com mais de 1 bilhão de habitantes, é outra importante razão de seus elevados investimentos externos, que alavancaram o surpreendente crescimento econômico chinês.

Quando, em 1978, Deng Xiaoping lançou as bases da abertura da economia chinesa, o volume total do comércio externo do país posicionava-se em 32o lugar no ranking mundial. No fim de 1994, havia passado para a décima posição. Atualmente, a China é a maior potência comercial e detentora do maior superavit comercial do planeta. A admissão da China na OMC, em 2001, foi outro fator que contribuiu para a ampliação do intercâmbio comercial e a geração de superavits recorde.

Transformações sociais e demográficas na China

A China é o país mais populoso da Terra e abriga mais de um quinto da população mundial. A cada ano, nascem cerca de 20 milhões de habitantes na China. Entretanto, a taxa de crescimento vegetativo vem decaindo. Em médias anuais, no período de 1975 a 1985, esse crescimento era de 1,4%; caiu para 1,3% entre 1985 e 1995; para 0,9% entre 1995 e 2000; e para 0,7% entre 2000 e 2005. Em 2017, a taxa de crescimento vegetativo anual prevista era de aproximadamente 0,41%. O intenso crescimento da população chinesa levou à adoção da política de um filho por casal, estabelecida em 1979 e que durou até 2015, quando foi extinta devido à constatação do governo da tendência de envelhecimento da população. De acordo com essa política, casais com mais de um filho eram multados pelo Estado por excesso de contingente familiar. Na China, cerca de 85% das mulheres entre 15 e 49 anos usam métodos contraceptivos. É o maior índice do mundo, seguido pelos do Reino Unido e da Suíça. A política de controle de natalidade ocasionou sérios problemas a algumas famílias chinesas. Em um país onde predomina a população rural (a maioria vive no campo), o trabalho masculino é bastante valorizado. Para não afrontar a lei de um filho por casal, tornaram-se comuns os casos de infanticídio feminino.

Estima-se que aproximadamente 15 milhões de bebês do sexo feminino foram mortos desde 1979. Isso provocou um desequilíbrio na distribuição da população por sexo, tendendo a uma predominância da população masculina. Aproximadamente 90% dos chineses concentram-se na parte oriental do país, ao longo dos vales dos grandes rios, especialmente o Huang-Ho e o Yang- -tse, e nas planícies costeiras. A fertilidade do solo, a disponibilidade de água e o transporte fluvial favoreceram a ocupação. As duas cidades mais importantes são Xangai, uma das mais populosas do mundo, e Beijing, a capital. A porção ocidental, contrastando com a oriental, apresenta grandes vazios demográficos. Isso se deve ao maior rigor do clima (desertos de Gobi e Takla Makan) e ao relevo (altitudes elevadíssimas). Aproximadamente 49% dos chineses vivem no campo, mas o crescimento do país tem acelerado a migração para as áreas urbanas. A população chinesa é constituída de 56 etnias, com costumes e estilos de vida próprios: 92% pertencem à etnia han; os 8% restantes são compostos de tibetanos, mongóis, manchus, huis, chuans e uigures, entre outras. Alguns desses grupos étnicos minoritários reivindicam independência: os tibetanos do Tibete, os uigures de Sinkiang e os mongóis da Mongólia Interior. O idioma chinês tem muitos dialetos, com tantas diferenças na pronúncia que podem ser considerados línguas distintas. Assim, para melhorar a comunicação, o governo chinês tornou oficial o dialeto mandarim, que é falado por aproximadamente 70% da população e é atualmente ensinado nas escolas de todo o país. Na China, a maior parte da população segue os sistemas filosófico-religiosos do taoísmo, do budismo e do confucionismo.

Japão e Tigres Asiáticos

Aspectos socioeconômicos do Japão e dos Tigres Asiáticos

O Japão, a partir do fim da Segunda Guerra Mundial, transformou-se em exemplo de crescimento econômico, aumentando sua participação no comércio internacional. A partir dos anos 1960, essa situação de crescimento econômico e comercial expressivo passou a ocorrer também nos Tigres Asiáticos.

Há, evidentemente, diferenças significativas entre esses países. O Japão é um país desenvolvido e forma, com os Estados Unidos, com a União Europeia e com a China, o principal eixo de poder econômico do mundo. O país é uma grande potência econômica, exportadora de mercadorias de alta tecnologia, sede de várias empresas transnacionais com filiais espalhadas pelo mundo, além de possuir diversos centros de desenvolvimento de tecnologia avançada. Constitui também um dos principais centros das finanças globais.

Tailândia, Indonésia, Malásia, Filipinas e Vietnã — considerados os novos Tigres Asiáticos, apresentam indicadores sociais bem inferiores aos do Japão e aos dos quatro Tigres. Esses cinco países vêm se industrializando recentemente, a partir dos anos 1980, e oferecem mão de obra extremamente barata. Suas economias passam por um processo de diversificação, com aumento significativo nas exportações de bens industrializados. Mas ainda é grande a porcentagem de mão de obra empregada em atividades primárias, principalmente no setor agrário. São economias dependentes dos investimentos estrangeiros, sobretudo de capitais japoneses e dos Tigres. Os Tigres apresentam indicadores sociais próximos aos dos países desenvolvidos e economia bastante diversificada, além de exportarem grandes quantidades de bens industrializados, inclusive equipamentos de alta tecnologia. A Coreia do Sul conta com importantes grupos empresariais transnacionais, que competem com grandes empresas transnacionais nos setores de eletroeletrônicos e de automóveis. No entanto, são economias dependentes de investimentos dos países centrais do sistema capitalista, especialmente do Japão.

Apesar da diversidade, esses países apresentam uma característica comum: a economia bastante orientada para o mercado externo, com grande capacidade de competição no mercado mundial. Isso se evidencia no grande volume de exportações. Outra característica comum importante no caso do Japão e dos Tigres é a forte presença do Estado na economia. Além de direcionar investimentos, o Estado desenvolve pesquisas e análises sobre o mercado internacional, elabora sistemas de organização empresarial, cria linhas de produtos e promove o desenvolvimento tecnológico, com o objetivo de apoiar as empresas privadas. Os sistemas de organização das empresas desses países, sobretudo do Japão, passaram a servir de modelo para programas de reestruturação de empresas do mundo inteiro. Embora os investimentos japoneses estejam distribuídos por todo o mundo, boa parte deles está concentrada no Sudeste e no Leste da Ásia. O capital japonês foi fundamental para o crescimento econômico desses países asiáticos. Coreia do Sul, Taiwan, Cingapura e Hong Kong recebem investimentos japoneses há mais de 40 anos.

Desde a década de 1980, as grandes empresas do Japão têm investido em países da região que se encontram em processo de industrialização, como Malásia, Indonésia, China, Tailândia e até mesmo Vietnã. A expansão desses investimentos faz parte do contexto da globalização, caracterizado por um aumento da concorrência internacional. Essas empresas japonesas buscam diminuir o custo de produção, utilizando mão de obra mais barata oferecida por diversos países do Leste e Sudeste Asiático.

Japão: grande potência industrial

Até 1868 o Japão era um país feudal (xogunato) e agrícola. A partir daquele ano (início da Era Meiji) foi restaurado o poder imperial, e teve início um rápido processo de desenvolvimento econômico e de transformações na sociedade japonesa. A industrialização, o combate ao analfabetismo e os investimentos em infraestrutura foram a base da modernização do país. Esse período durou até 1912. A Era Meiji concluiu o processo de ruptura com o passado feudal, estabelecendo uma estrutura de produção e relações sociais capitalistas. A partir dessas mudanças o Japão deu início a um período de expansionismo imperialista, que se estendeu até a Segunda Guerra Mundial. Ao final dessa guerra, o país, derrotado, estava com parte significativa de sua infraestrutura e capacidade produtiva desestruturadas. No entanto, graças a um conjunto de fatores, o Japão atingiu uma vigorosa recuperação econômica, que chegou a elevá-lo ao posto de segunda potência econômica mundial (em 2017, o país ocupava a terceira posição). Entre esses fatores, podemos destacar:

• a mão de obra barata e abundante, submetida a longas jornadas de trabalho;

• a valorização do trabalho em grupo;

• os fortes investimentos em educação, inclusive na qualificação de mão de obra;

• o amparo do Estado à economia, com forte apoio às empresas privadas;

• a adoção de uma política econômica protecionista, que mantinha (e, de certa forma, ainda mantém) impostos de importação elevados, com o objetivo de proteger a indústria nacional (proteção também presente no setor agrícola, especialmente no caso da produção de arroz);

• a enorme capacidade de poupança interna, que fez do país um dos maiores investidores nacionais;

• o auxílio financeiro-econômico dos Estados Unidos, que estavam preocupados com a possibilidade de um avanço do socialismo no Extremo Oriente.

O arquipélago japonês

O Japão é um arquipélago vulcânico, situado no oceano Pacífico (Extremo Oriente). Esse arquipélago compreende cerca de 3,4 mil ilhas de vários tamanhos, que se estendem paralelamente ao litoral oriental da Ásia na forma de um grande arco.

Quatro ilhas do arquipélago japonês apresentam grandes dimensões, correspondendo a 97% do território do país:

• Honshu, a maior delas (230.822 km2 ), abriga a capital do país, Tóquio;

• Hokkaido (83.519 km2 ) é a mais setentrional;

• Kyushu (42.030 km2 ) situa-se ao sul de Honshu;

• Shikoku, a menor dessas ilhas (18.780 km2 ), situa-se entre Honshu e Kyushu. De modo geral, suas ilhas são resultantes do vulcanismo ocorrido no fundo do oceano Pacífico em tempos geológicos recentes (há menos de 200 milhões de anos). O vulcanismo e o tectonismo continuam ativos no Japão, provocando, em algumas ocasiões, terremotos de grande intensidade e de graves consequências materiais e humanas, como o ocorrido em Kobe, em janeiro de 1995, que causou a morte de mais de 5 mil pessoas e atingiu 7,2 pontos na escala Richter, além do trágico terremoto seguido de tsunami ocorrido no dia 11 de março de 2011.

A questão demográfica

O Japão é um dos países mais populosos do mundo. Em 2018, contava cerca de 126 milhões de habitantes. Com uma pequena extensão territorial, sua densidade demográfica é, consequentemente, muito elevada (337 hab./km2 ). Na faixa compreendida entre Tóquio e Kobe (no centro-sul da ilha de Honshu) ocorre a maior aglomeração urbana do mundo, com mais de 70 milhões de habitantes. Nessa região estão as três principais áreas conurbadas do território japonês: Tóquio, com 38 milhões de habitantes (inclusive Yokohama); Nagoya, com 8 milhões; e Osaka, com 16 milhões (inclusive Kyoto e Kobe). Observe essa distribuição no mapa da figura 6. A partir de 2020, a população absoluta de Tóquio começa a reduzir e, segundo estimativas, a cidade permanecerá como a maior aglomeração do mundo em 2030, abrigando cerca de 37 milhões de habitantes.

A redução da natalidade e o envelhecimento populacional

Há décadas o Japão vem apresentando taxas de crescimento demográfico muito baixas e em declínio: 1,2% no período de 1965 a 1975; 0,8% no de 1975 a 1985; e 0,4% entre 1985 e 1995. Atualmente essa taxa está próxima de zero. Com uma taxa de fecundidade de apenas 1,39 filho por mulher, o governo japonês chegou a desenvolver campanhas de incentivo à natalidade, sem obter resultados satisfatórios. Para os casais jovens, os custos de moradia e educação dos filhos representam um peso econômico. A escassez de terras no Japão ocasionou uma grande elevação dos preços de imóveis, obrigando as famílias jovens a alugar ou comprar apartamentos minúsculos.

O envelhecimento da população japonesa é outro aspecto que preocupa as autoridades. Em 2015, a expectativa de vida no Japão era de aproximadamente 84 anos. Nesse mesmo ano, cerca de 25% da população tinha mais de 65 anos de idade. Em decorrência, há uma elevação dos gastos sociais, como previdência e saúde. Se a situação de baixa fecundidade persistir, o governo japonês estima que haverá uma redução de 14% no número de habitantes do país até 2050. No entanto, como a esperança de vida é alta, cerca de um terço dos japoneses terá, nesse mesmo ano, mais de 65 anos.

Atividades econômicas

A agropecuária e a pesca

A política agrícola japonesa, apesar das pressões internacionais, é marcada pelos subsídios aos agricultores, por limitação das importações e pelas elevadas tarifas sobre produtos agrícolas importados. Apenas 16% do território japonês é apropriado para as práticas agrícolas. Apesar disso, o Japão consegue obter grandes colheitas de seu solo, com o auxílio de técnicas modernas, máquinas e fertilizantes. A agricultura é desenvolvida nas planícies, sendo também aproveitadas as encostas das montanhas, por meio da técnica do terraceamento. No espaço rural japonês predominam as pequenas propriedades, consequência da reforma agrária instituída logo após a Segunda Guerra Mundial (1946). O principal produto cultivado no Japão é o arroz, alimento básico da população. Sua cultura ocupa 45% das terras agrícolas (figura 8). O país é um dos maiores produtores de arroz do mundo, apresentando também o maior rendimento por hectare (cerca de 6.500 kg por hectare, enquanto a média mundial é de aproximadamente 3.800 kg por hectare). Além do arroz, cultivam-se o chá, o algodão, a soja, a cana-de-açúcar e o trigo.

Apesar da elevada produtividade, o Japão não é autossuficiente, dependendo da importação de diversos produtos como trigo, açúcar, milho e soja. O Japão é o primeiro produtor mundial de pescado, sendo considerado o país mais desenvolvido tecnologicamente no setor. Navios-fábricas percorrem milhares de quilômetros de mares em busca de pescado.

Extrativismo

Parte da cobertura vegetal do Japão é aproveitada para exploração da madeira (construção, fabricação de papel) e geração de energia. Essa exploração é controlada pelo governo, que incentiva o reflorestamento. Devido à intensa demanda interna, o Japão importa madeira de vários países do globo, especialmente da Indonésia e do Brasil, sendo um dos maiores importadores de madeira tropical do mundo. Quanto ao extrativismo mineral, seus recursos são escassos, necessitando importar praticamente todas as matérias-primas essenciais ao desenvolvimento de sua atividade industrial, tais como: petróleo, carvão, minério de ferro, cobre, níquel e bauxita.

Indústria e dinamismo econômico

Em 1868, o país começou a se modernizar, construindo os alicerces de seu processo de industrialização. Nessa ocasião, o governo estimulou a formação dos zaibatsus, grandes conglomerados industriais (familiares), verdadeiros impérios com elevado grau de competição. Logo após a Segunda Guerra Mundial, os zaibatsus, que haviam contribuído também para a grande concentração de riquezas nas mãos de poucos indivíduos, tiveram seu poder drasticamente reduzido; membros das famílias desses impérios e seus principais executivos perderam vez na vida pública, e a maior parte de suas propriedades passou para o domínio do governo. Entretanto, muitas das grandes companhias que compunham os zaibatsus continuaram a existir e tiveram um papel importante na reconstrução do país no pós-guerra.

As inovações no processo de fabricação também foram de grande importância para a transformação do Japão em uma potência industrial (figura 11). Com o objetivo de reduzir custos, ciclos de produção e prazos, priorizando a qualidade dos produtos, desenvolveu-se uma nova organização da produção: o toyotismo. Esse sistema teve origem em meados do século XX na indústria automobilística Toyota. No entanto, é preciso ressaltar os aspectos negativos, particularmente para os trabalhadores, nesse sistema, como o fato de as empresas subcontratadas pagarem salários mais baixos e exigirem mais horas de trabalho. As novas estratégias produtivas do Japão levaram esse país a se tornar uma potência industrial, disputando com os Estados Unidos a liderança na fabricação de produtos como automóveis, eletrônicos, máquinas industriais e robôs. O país obteve, principalmente nos anos 1980, um período de grande acúmulo de capitais, graças aos superavits (saldos positivos) de sua balança comercial e à poupança financeira expressiva de sua população, que transformou o país em uma poderosa fonte de investimento, uma potência financeira.

No fim dos anos 1990, a economia japonesa entrou em recessão, isto é, diminuiu seu ritmo por causa do colapso de alguns bancos (que emprestaram dinheiro de retorno duvidoso para muitas empresas), da elevação do deficit (saldo negativo) do orçamento do governo e da queda na rentabilidade das empresas mais fracas, fato que contribuiu para o aumento do desemprego no país. Ainda no início do século XXI, com a migração de fábricas globais para países que ofereciam mão de obra mais barata, a estagnação do consumo interno, o elevado deficit público e as dificuldades para dinamizar setores ligados ao setor terciário mais moderno (consultoria, produção de software, publicidade, atividades ligadas à internet), entre outros motivos, o Japão passou por outro período de recessão em sua economia. Em junho de 2002, o Japão havia ratificado o Protocolo de Kyoto, acordo entre países para diminuir a emissão de gases na atmosfera e, em 2017, ratificou o Acordo de Paris. O país é responsável pelo lançamento de 7,5% dos gases de efeito estufa do planeta.

Diversificação e distribuição espacial da indústria No Japão, onde o parque industrial é amplamente diversificado, destacam-se as seguintes indústrias:

• siderúrgica e metalúrgica, com grandes estabelecimentos localizados próximo da zona carbonífera de Kyushu; embora importem matérias-primas, superam a produção de aço de vários países europeus;

• de construção naval (primeiro produtor mundial), com grandes e modernos estaleiros situados em Nagasaki e ao redor do porto de Kobe;

• têxtil, cujo principal produto é a seda (primeiro produtor mundial), seguida pelas fibras artificiais e sintéticas;

• eletroeletrônica, que é competitiva e das mais modernas do mundo, respondendo por cerca da metade das exportações de produtos eletrônicos e eletrodomésticos do mundo (fornos de micro-ondas, televisores, etc.);

• automobilística, cujos veículos, produzidos a baixo custo, são modernos e conquistaram parte dos mercados estadunidense e europeu, além de diversos países da própria Ásia e da América Latina. A robotização da atividade industrial atinge no Japão o índice mais elevado do mundo.

Tigres Asiáticos

Entre os anos 1960 e meados da década de 1990, nenhum local do mundo teve crescimento econômico tão expressivo como o apresentado por alguns países do Leste e Sudeste da Ásia. Na liderança desse crescimento estavam Taiwan, Cingapura, Coreia do Sul e Hong Kong — os quatro Tigres Asiáticos. Em suas pautas de exportações predominam os produtos eletroeletrônicos (televisores, DVDs, aparelhos de som, fornos de micro-ondas), equipamentos para computadores e para telecomunicações, tecidos sintéticos, roupas, plásticos e veículos. O crescimento econômico dos Tigres Asiáticos foi alicerçado no estreito relacionamento entre as empresas privadas e o governo, que oferecia proteção ao mercado interno, por meio de impostos elevadíssimos para os produtos importados. Além disso, o governo ofereceu grandes incentivos às exportações, adotou estratégias para atrair investimentos externos, investiu maciçamente na educação e na qualificação da mão de obra. A mão de obra barata, se comparada à dos países desenvolvidos, foi um grande atrativo para que empresas transnacionais, principalmente japonesas, se instalassem nesses países. O processo de desenvolvimento dos Tigres Asiáticos ocorreu sob regimes políticos ditatoriais, com exceção de Hong Kong. Assim, liberdade de imprensa e de expressão e eleições para governantes não faziam parte do dia a dia dos habitantes desses países.

Crise e retomada do crescimento

Após apresentarem uma relativa desaceleração no crescimento econômico no início dos anos 1990, os Tigres acabaram mergulhando em uma profunda crise na segunda metade da década de 1990. Apesar disso, não se deve desprezar o espetacular crescimento dessas economias. Foram mais de 30 anos (desde meados da década de 1960 a 1997) de conquistas de mercados mundiais que promoveram um aumento em torno de 700% do PIB dos Tigres. A ocorrência da crise é explicada por uma série de fatores, entre eles o crescimento do endividamento de curto prazo dos países e das empresas; o aumento crescente e irreal do preço dos imóveis; a desaceleração da economia global em 1996, que provocou queda nas exportações e levou as indústrias a reduzir bastante sua produção. No entanto, já no fim do século XX, os Tigres retomaram um ritmo de crescimento mais acelerado.

Coreia do Sul

Os principais produtos exportados pela Coreia do Sul são: veículos, calçados, roupas, tecidos, chapas de aço e produtos eletrônicos. Algumas grandes empresas sul-coreanas (chaebols) constituem atualmente poderosas transnacionais: a Hyundai, que fabrica veículos e navios (os veículos Hyundai tiveram, na década de 1980, suas vendas aumentadas em 400% nos Estados Unidos); a Samsung e a LG, que produzem equipamentos eletroeletrônicos e computadores; e a Daewoo, que fabrica veículos. Com a crise, alguns desses grandes grupos industriais coreanos faliram ou tiveram de fundir-se, sendo comprados também por outros grupos. A Hyundai, por exemplo, comprou a Kia e a Asia Motors.

Taiwan

Em 1949, com a formação da República Popular da China, o líder do partido Kuo-Min-Tang, Chiang Kai-shek, acompanhado de várias divisões do exército nacionalista, atravessou o estreito de Formosa e estabeleceu-se na ilha de Taiwan a República da China Nacionalista. A política posta em prática fundamentou-se na distribuição equilibrada da riqueza, na melhor utilização da terra e em melhores condições para o povo.

A China considera Taiwan uma província rebelde, não a reconhece como Estado-nação (país) e defende uma “reunificação pacífica”. As hostilidades entre ambas existem desde a Revolução Socialista na China continental. A entrada de Taiwan na Organização Mundial do Comércio, em novembro de 2001, deu-se como território, não como país. Apesar de haver ingressado na OMC, esse país ainda luta pelo seu reconhecimento internacional como Estado-nação, uma vez que foi obrigado a se retirar da ONU em 1971, com a entrada da República Popular da China na organização. Em 2014 ocorreram manifestações no país contra um acordo comercial firmado naquele ano que poderia significar uma possível invasão econômica da China no país.

Cingapura

Situado entre o estreito de Málaca (oeste) e o estreito de Cingapura (sudeste), que ligam os oceanos Índico e Pacífico, o país situa-se em uma área geográfica estratégica, pois está no percurso de rotas marítimas que ligam a Europa ao Extremo Oriente, à Indonésia e à Austrália. Sua localização tornou-se ainda mais importante a partir do fim do século XIX, com a abertura do canal de Suez, no Egito. Atualmente, Cingapura é uma república parlamentarista, mas há apenas um partido político no país. Seu sistema político é extremamente fechado. O comércio exterior de Cingapura é muito expressivo. Seus produtos de exportação são basicamente derivados de petróleo, borracha natural e maquinaria elétrica. Seu porto é o maior da Ásia e um dos mais movimentados do mundo.

Hong Kong

Hong Kong, território chinês que permaneceu entre 1842 e 1997 sob a administração colonial do Reino Unido, tem o status de Região Administrativa Especial da China. Suas características socioeconômicas atuais são resultado de um processo histórico marcado pelo desenvolvimento da economia de mercado, com uma integração muito forte ao sistema capitalista internacional, notadamente no Leste e Sudeste da Ásia. O sistema socioeconômico capitalista de Hong Kong está previsto para ser mantido até 2047, conforme acordo de devolução firmado entre Reino Unido e China. Atualmente, Hong Kong é um dos maiores centros financeiros do mundo, contando com cerca de 140 grandes bancos e sedes de várias empresas transnacionais. Esse setor é responsável por 80% de toda a renda gerada no território. O porto de Hong Kong é um dos maiores do mundo.

Os Novos Tigres

Os Novos Tigres, como vêm sendo chamados Malásia, Tailândia, Indonésia, Filipinas e Vietnã, oferecem, além da mão de obra barata, outros atrativos às empresas transnacionais: isenção de impostos, concessão de terrenos, investimento em infraestrutura (energia, meios de transporte, portos, comunicações) e grandes incentivos às exportações. Muitas empresas que empregam relativa quantidade de mão de obra na montagem de produtos, como televisores, rádios, brinquedos, aparelhos de som, computadores, e também empresas do setor têxtil, consideram altos os salários pagos nos quatro Tigres. Por esse motivo, buscam a mão de obra extremamente barata dos Novos Tigres e da China. No Vietnã, por exemplo, foram instalados 50 bancos estrangeiros; empresas multinacionais dos mais diversos ramos (alimentício, tecnologia, automobilístico, etc.). Outro aspecto interessante nesse processo de transformação dos Novos Tigres é o grande volume de investimentos proveniente dos quatro Tigres. Nos anos 1990, na liderança dos investimentos no Vietnã estavam Taiwan, Hong Kong, Cingapura e Coreia do Sul.

Oriente Médio

Posição estratégica

O Oriente Médio está localizado em uma região estratégica entre a Europa, a África e o restante do continente asiático.
Nessa região se desenvolveram várias civilizações. A denominação “Oriente Médio” é fruto de uma visão eurocêntrica do mundo, consolidada no período das Grandes Navegações, quando os europeus estabeleceram rotas marítimas de comércio para a África, para a Ásia e para a América. Foi uma das regiões mais ricas e desenvolvidas e, a partir dela, os muçulmanos difundiram para o resto do mundo notáveis saberes científicos, artísticos e filosóficos. No século XV, a região foi dominada pelo Império Turco Otomano, permanecendo assim até o fim da Primeira Guerra Mundial, quando franceses e britânicos obtiveram o apoio dos povos árabes contra os turcos otomanos. Entretanto, Reino Unido e França já haviam acertado a partilha dessa região em um acordo secreto — o acordo Sykes-Pikot, pelo qual Síria e Líbano foram ocupados pelos franceses; Palestina, Iraque e Transjordânia (atual Jordânia), pelos ingleses. Somente no período entre as guerras mundiais e após a Segunda Guerra se consolidou o processo de independência, e as fronteiras entre os países foram sendo delimitadas. Esse processo, no entanto, não significou o fim dos conflitos. Pelo contrário, após a Segunda Guerra Mundial, eles continuaram a ocorrer em virtude principalmente da formação do Estado de Israel, dos fortes interesses das grandes potências pela região e das disputas internas pelo poder, que contribuíram para a deposição de governantes e alterações em regimes de governo.

Atividades econômicas

No Oriente Médio, com exceção de Israel, a atividade industrial é pouco expressiva. Destacam-se na Turquia a indústria siderúrgica e, nos países produtores de petróleo, refinarias e algumas indústrias petroquímicas. Acrescentam-se ainda os setores tradicionais, como o têxtil e o alimentício, que estão instalados próximo às grandes cidades. O turismo é também uma atividade com grande potencial. A região apresenta um rico e milenar patrimônio histórico e, no litoral do golfo Pérsico, os corais e a vida submarina do mar Vermelho e de toda a costa mediterrânea ainda apresentam riquezas naturais preservadas. Apesar das condições favoráveis ao turismo, os conflitos e a imagem difundida pela mídia sobre o fanatismo religioso e os valores culturais opostos aos do mundo ocidental constituem barreiras a essa atividade econômica. Abu Dhabi e Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, são hoje importantes polos turísticos mundiais. Detentores de grandes reservas de petróleo, os Emirados diversificaram sua economia em aplicações financeiras no exterior e na aquisição de empresas. Um investimento significativo está relacionado à alteração de sua paisagem natural, com a construção de hotéis luxuosos, praias e ilhas artificiais. Isso foi acompanhado pela modernização dos aeroportos e toda essa estrutura tem contribuído também para atrair turistas de todas as partes do mundo. O petróleo deixou de ser sua atividade econômica exclusiva e, no Emirado de Dubai, a renda do turismo já supera a renda do petróleo.

A Turquia, com sua arquitetura herdada de dois grandes impérios — o Otomano e o Bizantino — e seu extenso litoral nos mares Egeu e Mediterrâneo, é também outro importante destino dos turistas que se dirigem ao Oriente Médio. A agricultura está restrita a algumas áreas, uma vez que existem extensos desertos no Oriente Médio. Ela se desenvolve principalmente nas planícies fluviais, em áreas irrigadas e na costa dos mares Mediterrâneo, Negro e Cáspio. Na agricultura voltada ao mercado interno, destacam-se arroz, milhete, trigo e algumas frutas. Entre as culturas destinadas também à exportação, sobressaem oliveira, chá, fumo, algodão e tâmara.

O petróleo

No Oriente Médio está grande parte das maiores reservas e centros de produção petrolífera. O interesse pelo controle de áreas produtoras de petróleo é uma das causas de guerras e revoluções na região, uma vez que este é o principal combustível da sociedade industrial e a fonte de matéria-prima para mais de 6 mil produtos. A concentração de aproximadamente 45% das reservas mundiais de petróleo no Oriente Médio e a exploração associada às grandes empresas multinacionais ou transnacionais do setor transformaram a região em proprietária da principal fonte de riqueza natural do último século, mas também resultaram em áreas com focos de tensão, disputas e intensos conflitos. Apesar da enorme riqueza gerada pela exportação de petróleo e de gás natural, parcela considerável da população não desfruta boas condições de vida. A riqueza flui para grupos minoritários, que detêm o poder político e econômico. Os países que apresentam as maiores reservas mundiais.

Interesses externos

Na atual política de “guerra contra o terrorismo”, os Estados Unidos e outros países europeus (particularmente o Reino Unido) acentuaram sua presença no Oriente Médio e na Ásia Central e promoveram o apoio a governos pró-ocidentais. Dessa forma, garante-se certo controle sobre reservas de petróleo e gás natural, oleodutos e gasodutos existentes ou que estão em projeto e em construção nos países da região. As relações do Ocidente com os governos do Oriente Médio e os interesses econômicos das grandes potências ficam claros quando consideramos que os Estados Unidos, apesar de se declararem defensores da democracia e da liberdade de expressão, apoiam governos que não prezam esses valores, como os da Arábia Saudita e do Kuwait.

Israel: desenvolvimento econômico

Israel é o único país do Oriente Médio considerado desenvolvido, em razão de suas características socioeconômicas. Além das boas condições de vida da população, a economia é diversificada, com os setores secundário e terciário bastante desenvolvidos. Há também nesse país importantes centros de pesquisa tecnológica. Israel conta com duas fontes de recursos fundamentais para a manutenção de seu crescimento econômico e de seus gastos militares: as doações da comunidade judaica mundial e a ajuda financeira dos Estados Unidos. No atual território de Israel, uma faixa litorânea, de clima Mediterrâneo, é densamente povoada (quase 300 hab./km2 ). No sul de Israel estende-se o deserto de Neguev, que ocupa praticamente a metade de seu território e onde vivem apenas 7% da população do país. Nessa região, ocorreu uma expressiva modificação no espaço. Com a construção de um eficaz sistema de irrigação, o deserto transformou-se em área fértil ao cultivo agrícola. Vale ressaltar que Israel, para tanto, passou a controlar os suprimentos de água da bacia do rio Jordão (inclusive suas nascentes nas colinas de Golã, território sírio) e os sistemas de aquíferos, que deveriam ser partilhados com os palestinos, resultando em uma das razões de conflito deste povo com Israel. A prosperidade agrícola deve-se também ao tipo de organização produtiva, representada pelo kibutz e pelo moshav. Cerca de 3% da população do país vive nos kibutzin (plural de kibutz). O kibutz convencional é uma fazenda agrícola comunitária, cujos integrantes compartilham toda a propriedade e, de comum acordo, distribuem as tarefas, configurando um modo de vida comunal. Atualmente, ocorreram adaptações em diversos kibutzin. Dessa forma, existem kibutzin com produção industrial com os mesmos modos de vida comunal que os kibutzin convencionais.

O moshav é uma vila agrícola onde cada família é proprietária de sua terra. Com uma administração central, nos moldes de uma cooperativa, as famílias dividem os equipamentos, compram sementes e outros implementos agrícolas e realizam a comercialização de sua produção. Apesar da carência de petróleo e de outros recursos energéticos característicos de grande parte do Oriente Médio, Israel tem os setores industrial e agrícola muito bem estruturados. Os principais setores industriais de alta tecnologia são bastante diversificados e destinam-se à produção de equipamentos militares, produtos químicos e farmacêuticos, softwares, aviação, telecomunicações, etc. A renda per capita é alta e apresenta um padrão de distribuição próximo ao dos países desenvolvidos.

O islamismo e o fundamentalismo islâmico

No Oriente Médio, a população é predominantemente árabe, contando também com turcos (na Turquia), persas (no Irã) e judeus (em Israel). Além desses povos, vivem na região curdos, armênios, entre outros. A maior parte dos habitantes dessa região, conforme visto na seção Para começar, professa a religião islâmica ou muçulmana. Os judeus formam o segundo maior grupo religioso. A palavra árabe islam quer dizer resignação ou total submissão à vontade de Deus. Os termos islâmico, muçulmano e maometano têm o mesmo significado, ou seja, denominam pessoa sujeita aos desígnios de Deus, ou Alá. A religião islâmica é a que mais cresce no mundo, contando com mais de 1 bilhão de adeptos.

Apesar de o islamismo ser a religião de quase 90% da população do Oriente Médio, existe uma diversidade de segmentos dentro dessa religião, dos quais os xiitas e os sunitas são maioria da população. A principal diferença desses dois segmentos está na visão de sucessão de Maomé, criador do islamismo: os sunitas acreditam que o sucessor deveria ser eleito pelo povo e os xiitas entendem que os descendentes de Ali (genro do profeta Maomé) deveriam liderar os islãs. Com base nisso, surgiram disputas relacionadas à doutrina e também se diferenciaram as práticas religioso-culturais.

O predomínio de uma ou de outra vertente na população de cada país é um importante fator para compreender tensões e conflitos regionais. Em ambas as vertentes pode estar presente o fundamentalismo islâmico.

Atualmente, os grupos fundamentalistas, que atuam em vários países da região, no sul e no sudeste asiáticos e no norte da África, têm como objetivos principais, de modo geral, a necessidade de romper com o Ocidente – considerado o “Grande Satã” –, desestabilizar governos pró-ocidentais nos países de maioria muçulmana e substituir a lei dos homens pela Lei Divina, expressa no Corão (livro sagrado transmitido por Deus ao profeta Maomé). Alguns radicais islâmicos defendem o uso da força para expandir a religião islâmica, como os que atuam no Iraque e na Síria e que, em 2014, declararam a criação de um país, o Estado Islâmico, como veremos adiante neste capítulo. Os movimentos fundamentalistas defendem um conjunto rígido de regras para o vestuário, rituais de casamento e alimentação, princípios de justiça social, normas de educação das crianças e condutas de vida para as mulheres (que não têm os mesmos direitos dos homens). No entanto, ressalva-se que em vários países de maioria muçulmana tem havido maior participação da mulher na sociedade. Mesmo no Irã, um Estado teocrático, vem aumentando o número de mulheres que frequentam centros universitários — onde cerca de 40% dos estudantes são do sexo feminino —, participam do mercado de trabalho e da política. Na Arábia Saudita, até meados de 2018, era proibido que mulheres dirigissem veículos. Esse era o único país no mundo em que as mulheres não podiam obter habilitação de motorista. Apesar de restrições e desigualdades históricas, não há, no Corão, restrições à atuação da mulher na vida social.

A questão Palestina e o Estado de Israel

Com a criação do movimento sionista no século XIX, milhares de judeus, de todas as partes do mundo, começaram a migrar para a Palestina, transformando a região em palco de permanentes conflitos com os árabes. Em 1917, a Palestina foi ocupada pelos ingleses. Esse movimento de caráter nacionalista tinha como objetivo a criação de um Estado judaico (Israel) em um território considerado sagrado para esse povo, ou seja, a “Terra Prometida”. Durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), milhões de judeus foram mortos. Outros tiveram de abandonar seus países de origem. Essa situação foi determinante para a institucionalização de um Estado judaico e a aprovação da ONU para a criação, em 1947, de um plano de partilha da Palestina, que previa a formação de dois Estados: um árabe e outro judeu. Em 1948, os ingleses retiraram-se da Palestina, e Israel constituiu-se em Estado. A partilha da Palestina entre árabes e judeus causou grande insatisfação aos povos árabes. Logo após a criação do Estado de Israel, os exércitos dos países árabes vizinhos (Egito, Síria, Líbano, Iraque e Transjordânia) atacaram o país, dando início a uma guerra violenta. Em janeiro de 1949, terminavam os combates, que conferiam a Israel novas áreas, ampliando em 50% a área original de seu território. Ainda em 1949, foram assinados acordos de armistício, segundo os quais o Estado Árabe da Palestina seria dividido entre Israel, que conquistara a Galileia e o deserto de Neguev; Transjordânia, que ficaria com a Cisjordânia (a oeste do rio Jordão), passando a se chamar Reino Hachemita da Jordânia; e Egito, que ficaria com a Faixa de Gaza.

Em 1967, eclodiu outro conflito armado, a Guerra dos Seis Dias. No fim da guerra, Israel obteve a península do Sinai e a Faixa de Gaza, do Egito; Golã, da Síria; e a Cisjordânia (margem ocidental do rio Jordão), da Jordânia. Em 1973, o Egito, a Síria e a Jordânia envolveram-se em nova guerra com Israel para a retomada dos territórios perdidos na Guerra dos Seis Dias, porém sem sucesso. Em 1979, por meio de um acordo intermediado pelos Estados Unidos, o Acordo de Camp David, Israel concordou em devolver ao Egito a península do Sinai.

Entre judeus e palestinos o conflito teve outros desdobramentos. Em 1964, foi criada a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), que reunia diversos grupos extremistas palestinos com um alvo comum: lutar pela criação de um Estado palestino e pela destruição do Estado de Israel. Em 1969, Yasser Arafat (líder da Al Fatah — atualmente um partido, mas que foi fundada, em 1964, como uma organização política e militar) assumiu a presidência da OLP. Até 1987, a organização utilizava métodos terroristas para alcançar seus objetivos. Em 1988, o líder da OLP apresentou um “plano de paz” na Assembleia Geral da ONU, no qual reconhecia o Estado de Israel. Esse acontecimento marcou o início de uma nova fase para a OLP, que conquistou mais espaço no campo diplomático, passando a negociar com os Estados Unidos e, posteriormente, com Israel. Foi nesse mesmo período que surgiu em Gaza o Hamas, outro importante grupo de combate palestino. No dia 13 de setembro de 1993, após dois meses de negociações secretas com a mediação do governo da Noruega, Arafat, pela OLP, e o então primeiro-ministro israelense, Yitzhak Rabin, assinaram na Casa Branca (Estados Unidos) um acordo de paz. Partes da Cisjordânia e de Gaza foram devolvidas aos palestinos e se tornaram regiões autônomas e de administração palestina. Foi, então, criada a Autoridade Nacional Palestina (ANP) — representante legal dos palestinos, responsável pela administração de seus territórios. As terras palestinas encontram-se divididas. O Hamas detém o controle de Gaza, e a ANP controla a Cisjordânia. Enquanto o Hamas se nega a reconhecer o Estado de Israel e qualquer negociação, a ANP ainda acredita que consiga reconquistar parte das terras palestinas com a negociação. Observe a figura 29. Em 2005, foi concluída a desocupação israelense do território de Gaza. No entanto, até o final de 2018, Israel ainda mantinha os bloqueios aéreo, marítimo e terrestre, restringindo a circulação de mercadorias, pessoas e serviços entre o território e o mundo. Essa situação agrava a situação de pobreza e o desemprego em Gaza. São várias as questões pendentes para um acordo de paz mais duradouro entre os dois povos: a questão do “muro de proteção” que contorna boa parte da Cisjordânia; a definição dos limites entre Israel e o futuro Estado palestino; a disputa por Jerusalém; e a existência de assentamentos judaicos em territórios da Autoridade Nacional Palestina. Além dessas e de outras questões, há sempre a preocupação de como grupos extremistas judeus e palestinos enfrentarão um processo de negociação que de fato encaminhe a região para a paz.

Em 2017, o governo estadunidense do então presidente Donald Trump reconheceu Jerusalém como capital de Israel e, no ano seguinte, foi inaugurada a embaixada dos Estados Unidos nessa cidade, interferindo na questão das negociações entre a ANP e Israel. Atualmente, mais de 130 países na ONU deram reconhecimento ao Estado da Palestina, que tem condição de Estado observador, não membro, das Nações Unidas (figura 30). Apesar disso, Israel, Estados Unidos e vários países europeus ainda não reconhecem a existência desse Estado.

Irã: Revolução Islâmica, oposição ao Ocidente e transformações recentes

Até 1979, o Irã foi um dos principais aliados dos Estados Unidos entre os países do Oriente Médio. Em 1953, o governo estadunidense apoiou o golpe de Estado promovido pelo xá Reza Pahlevi. Com Reza Pahlevi, o Irã constituiu uma política econômica e social apoiada no modelo ocidental. Do ponto de vista econômico, foi um período de desenvolvimento industrial e de crescimento. Apesar disso, ocorreu um profundo questionamento das correntes mais radicais do islamismo. Líderes religiosos foram perseguidos e alguns foram expulsos do país. Em 1979, uma onda de manifestações populares depôs o governo do xá e empossou o líder xiita aiatolá Khomeini. Surgiu a República Islâmica do Irã, que se caracterizou pela busca de um caminho próprio, não alinhado a nenhuma das grandes potências, Estados Unidos e ex-União Soviética. A partir de 1980, o Irã rompeu relações com os Estados Unidos e passou a ser controlado pelos chefes religiosos (aiatolás), que estabeleceram normas sociais rígidas, de acordo com os princípios do islamismo, formalizando um Estado teocrático (o atual governo do Irã, apesar de civil, está submetido ao poder dos aiatolás). Apesar do rígido controle do governo do Irã, nos últimos anos vêm ocorrendo mudanças de comportamento por parte de alguns iranianos, especialmente dos jovens, que têm buscado acesso à informação e à cultura ocidental, por meio de filmes, músicas e internet. Atualmente, o Irã é, entre os países islâmicos, aquele que exerce maior influência no Oriente Médio e tem mantido relações estáveis com praticamente todos os países vizinhos. É o maior opositor à existência do Estado de Israel. O atual governo mantém fortes relações com a China e a Rússia. Essas relações incluem cooperação técnica, associação para a exploração de petróleo em subsolo iraniano e venda de armas e de combustível para as usinas termonucleares.

Outro motivo de enfrentamento entre o Irã e o Ocidente é o desenvolvimento de um programa nuclear. Os Estados Unidos sempre alertaram que o governo iraniano teria a ambição de produzir armas de destruição em massa e que o país estaria próximo de conquistar a tecnologia necessária para alcançar tal objetivo. Alemanha, França e Reino Unido apoiavam os argumentos estadunidenses sobre a ameaça que o programa nuclear representaria para o Oriente Médio e outras regiões do mundo. Em 2013, o Irã, que sempre defendeu que seu programa nuclear teria objetivo exclusivamente pacífico e energético, firmou um acordo visando a uma redução desse programa, em troca da diminuição de sanções econômicas que sofria por parte da comunidade internacional. No mesmo ano, com a eleição de Hassan Rohani, um governante moderado, o então presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, teve, por telefone, uma conversa histórica com o presidente iraniano, sinalizando uma reaproximação diplomática. Em 2015, foi assinado um acordo nuclear entre o Irã e o grupo de países do P5+1 (formado pelos 5 países-membros do Conselho de Segurança da ONU e a Alemanha), após mais de uma década de negociações, visando restringir a possibilidade de os iranianos desenvolverem a bomba atômica.

No entanto, em 2018, os Estados Unidos saíram do acordo e uma das alegações utilizadas pelo então presidente Trump, que restabeleceu as sanções econômicas ao país, foi a de que o governo iraniano apoiaria grupos terroristas e milícias, como o Hezbollah, o Hamas, a Al-Qaeda e o Taleban.

Iraque e Afeganistão: guerras e ocupação

Parte dos conflitos atuais no Iraque teve início em 1979, com a instauração da ditadura do governo de Saddam Hussein. O novo governo, apoiado pelos Estados Unidos, envolveu-se em uma longa guerra contra o Irã pela disputa por uma faixa de terra ao sul da fronteira entre os dois países, delimitada pelo canal Chat al-Arab, junto ao golfo Pérsico. Esse fato deflagrou a Guerra Irã-Iraque (1980-1988). No fim da década de 1980, os dois países assinaram um acordo de paz, em que o Chat al-Arab permaneceu sob o domínio do Irã. Em 1990, endividado pela guerra contra o Irã, o Iraque invadiu o Kuwait — um pequeno país da península Arábica pontuado de poços de petróleo. Em decorrência, houve uma reação imediata dos Estados Unidos, da França, do Reino Unido, da Arábia Saudita e de outros países, dando origem, em 1991, à Guerra do Golfo. As forças iraquianas renderam-se sem impor condições. Após essa guerra, foi imposto ao Iraque um embargo econômico pela ONU e a inspeção sobre o controle de armas no país. Em 1998, Saddam Hussein expulsou os funcionários da ONU e expôs novamente o país à possibilidade de um novo confronto internacional.

Guerra e ocupação do Afeganistão

No dia 11 de setembro de 2001, os Estados Unidos foram atingidos pela maior ação terrorista realizada no país. O atentado foi atribuído pelo governo estadunidense à rede terrorista internacional Al-Qaeda, liderada pelo saudita Osama Bin Laden. A Al-Qaeda mantinha naquele momento sua base no Afeganistão, que era praticamente dominado pelo grupo fundamentalista Taleban, que implantou um regime de governo islâmico repressivo, sobretudo às mulheres, entre 1996 e 2001. Elas eram obrigadas a ocultarem-se sob a burca e viverem em suas casas, praticamente confinadas, ficando proibidas de frequentar escolas e locais de trabalho.

Após o atentado de 11 de setembro, o Conselho de Segurança da ONU exigiu que o grupo entregasse Osama Bin Laden. Em 2002, diante da negativa do Taleban em entregar o terrorista, os Estados Unidos invadiram o Afeganistão, depuseram o governo Taleban, estabeleceram um novo governo e instalaram novas bases militares estadunidenses no Oriente Médio (figura 32). Em 2011, os Estados Unidos iniciaram a retirada parcial das tropas do país, comprometendo-se a fazer a retirada total até 2016. No entanto, a partir de 2017, o governo Trump passou a enviar mais soldados ao país.

Guerra e ocupação do Iraque Depois da ocupação do Afeganistão, os Estados Unidos miraram um novo alvo: o Iraque. Junto ao Reino Unido, argumentavam que o Iraque constituía um risco à segurança mundial, pois o governo iraquiano desenvolvia programas de armas de destruição em massa, mantinha armas químicas e bacteriológicas estocadas e estabelecia ligações com grupos terroristas. Em 2002, os Estados Unidos, sob o governo de George W. Bush, pressionaram o Conselho de Segurança da ONU solicitando uma revisão da questão iraquiana. A relação do Iraque com o resto do mundo ainda estava em impasse desde a expulsão dos inspetores da ONU, em 1998. O Conselho de Segurança obrigou o Iraque a aceitar a volta dos inspetores ao país. Enquanto ocorria o trabalho dos inspetores da ONU no Iraque, os Estados Unidos e o Reino Unido deslocaram milhares de soldados e equipamentos de combate para o Oriente Médio. Em 2003, foi tomada a decisão de atacar o Iraque, independentemente da posição da ONU e contra a posição de três dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança: Rússia, China e França. A guerra contra o Iraque, nesse contexto, atropelou o órgão máximo para julgar essas questões. A ofensiva militar resultou na derrubada do regime ditatorial de Saddam Hussein e em sua posterior prisão. Em 2006, Saddam Hussein foi julgado sob o governo interino iraquiano e condenado à pena de morte.

A ocupação militar não conseguiu estabilizar politicamente o país. Uma sucessão de atentados contra militares e civis (tanto estrangeiros como iraquianos), promovidos por grupos insurgentes contrários à presença estadunidense, passou a fazer parte do cotidiano. Com o pretexto de combater o terrorismo, a ocupação do Iraque estimulou esse tipo de embate. Além disso, ficou comprovado que o Iraque não produzia armas de destruição em massa, principal alegação que justificou a ação militar das tropas ocidentais. Em dezembro de 2011, os Estados Unidos retiraram oficialmente suas tropas do país.

Curdos

Exemplo da maior nação constituída sem Estado, o povo curdo soma cerca de 30 milhões de pessoas distribuídas por seis países: predominantemente na Turquia, onde estão cerca de 15 milhões de pessoas, no Iraque, no Irã, na Síria, na Armênia e no Azerbaijão. Os curdos enfrentam uma longa trajetória de perseguição e de dura repressão às tentativas de formação política do Curdistão, principalmente na Turquia e no Iraque. Isso ocorre porque o território onde pretendem construir seu país dispõe de recursos naturais, como o petróleo, e é onde se localizam as nascentes dos rios Tigre e Eufrates. Na década de 1980, os curdos foram massacrados pelo exército iraquiano de Saddam Hussein, inclusive com o uso de armas químicas. Acredita-se que tenham morrido mais de 800 mil curdos nesse período. A presença estadunidense no Iraque, a partir de 1992, beneficiou o povo curdo. Os curdos iraquianos fizeram alianças com os Estados Unidos e ganharam uma rede de proteção aérea; em troca, apoiaram a intervenção no Iraque. Os curdos pretendem manter ou mesmo ampliar a autonomia que conquistaram nessa região, rica em petróleo, na qual são maioria e têm hegemonia cultural. Eles acreditam na criação de uma república federativa que garanta sua autonomia. Em 2005, com a volta das eleições para a escolha de novos governantes no Iraque, depois da queda de Saddam Hussein, a Aliança Curda conquistou 25% das cadeiras da Assembleia Legislativa. Um sistema democrático poderia garantir maior estabilidade para o povo curdo nesse país. No entanto, entre 2014 e 2018, propriedades rurais e cidades de maioria curda no Iraque foram dominadas pelo Estado Islâmico, levando a uma nova onda de violência e destruição. Os curdos fizeram alianças vitoriosas com países do Ocidente para combater o EI, mas não conseguiram apoio posterior desses países para levar adiante a reivindicação de criação de um Estado nacional.

Em 2016, na Turquia, os grupos de guerrilheiros Falcões da Liberdade do Curdistão (TAK) e do Partido dos Trabalhadores Curdos (PKK) assumiram atentados terroristas em busca de instabilidade política para a conquista da independência. Em decorrência dos eventos, o governo do presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, abriu uma temporada de forte repressão à oposição.

Síria No Oriente Médio, as atenções dos Estados Unidos também estão focadas na Síria, país de grande diversidade populacional, majoritariamente muçulmano sunita. Segundo autoridades governamentais estadunidenses, o governo sírio financia e facilita a atuação de grupos terroristas, principalmente no Iraque e em Israel. Em 2011, a Síria foi um dos países envolvidos na onda de movimentos pró-democracia, conhecida como Primavera Árabe. Esses movimentos foram desencadeados em vários países árabes contra seus regimes ditatoriais. Desde então, a Síria vem passando por uma guerra civil que adquiriu contornos de conflito étnico-religioso, ao opor os principais grupos que habitam o país. O presidente da Síria, ditador Bashar al-Assad, pertence ao grupo alauita (uma das vertentes do grupo islâmico xiita) e é apoiado por seus integrantes que representam apenas 10% da população. Outros grupos também minoritários apoiam o regime. Essas minorias foram privilegiadas durante a ditadura da dinastia Assad. Formaram o grupo social mais rico e preencheram os principais postos de comando do Estado sírio e do Partido Baath (partido único do regime). Em contraste, mais de 70% da população do país, socialmente discriminada, é formada por muçulmanos sunitas e curdos. A ONU estima que entre o ano de 2011 e os primeiros meses de 2018 cerca de 5 milhões de sírios, especialmente mulheres e crianças, saíram do país em busca de refúgio. Nesses anos, a Turquia foi o principal destino da maioria dos refugiados.




Os radicais do Estado Islâmico

No contexto de instabilidade política na Síria e no Iraque, estruturou-se uma organização terrorista formada por radicais islâmicos sunitas desses dois países, além de estrangeiros não árabes que abraçaram a sua causa, ou seja, estabeleceu-se um califado, o Estado Islâmico (EI), regido pela lei do Islã e que teria como objetivo governar todos os muçulmanos. Na prática, esses radicais formam uma milícia: uma organização militar composta de terroristas, muitos deles vinculados a grandes redes terroristas, como a Al-Qaeda. Observe o mapa da figura 36. Os radicais muçulmanos do EI controlam trechos dos territórios da Síria e do Iraque, inclusive cidades desses países. Esses radicais, chamados de jihadistas pela imprensa internacional, dominam poços e refinarias de petróleo na Síria e no Iraque; recebem doações de células terroristas de diversos países, principalmente da Arábia Saudita e do Catar; arrecadam impostos nas cidades controladas; saqueiam bancos; e fazem reféns com o intuito de cobrar resgates e impressionar a comunidade internacional (muitas vezes, executam alguns reféns e postam os vídeos em redes sociais). É também por meio da internet que muitos jovens, que abraçam a causa dos radicais islâmicos, são cooptados.

O avanço do EI foi combatido a partir de 2015 por uma coalização liderada pelos Estados Unidos por meio de ataques aéreos, pelos curdos e pelo exército iraquiano, no Iraque, e pelo exército sírio, na Síria. O enfrentamento militar reduziu progressivamente os territórios dominados pelo EI (figura 37). Em 2017, quase quatro anos depois de o grupo terrorista ter estabelecido controle sobre áreas no Iraque, o governo iraquiano declarou o fim da guerra contra o EI. Apesar das grandes perdas militares e territoriais, os episódios não derrotaram o grupo, que ainda é considerado uma ameaça. Em 2017, combatentes se dirigiram à Líbia para formar outras bases.

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