Neste capítulo examinaremos
como a concepção construtivista do ensino e da aprendizagem e a natureza dos
diferentes conteúdos estabelecem determinados parâmetros nas atuações e
relações que acontecem em aula. Tomadas como referenciais, permitirão nos aprofundar
no conhecimento das diferentes propostas didáticas e de nossa forma de
intervenção. Faremos uma revisão sintética do tipo de inter-relações e do papel
dos professores e dos alunos que decorre da concepção construtivista, para em
seguida examinarmos cada um dos diferentes aspectos que a configuram. Na última
parte do capítulo faremos referência às características específicas dos
conteúdos tratados.
Segundo esta concepção,
ensinar envolve estabelecer uma série de relações que devem conduzir à
elaboração, por parte do aprendiz, de representações pessoais sobre o conteúdo
objeto de aprendizagem. A pessoa, no processo de aproximação aos objetos da
cultura, utiliza sua experiência e os instrumentos que lhe permitem construir
uma interpretação pessoal e subjetiva do que é tratado. Não é necessário
insistir no fato de que em cada pessoa o resultado deste processo será
diferente, trará coisas diferentes, e a interpretação que irá fazendo da
realidade também será diferente; apesar de possuir elementos compartilhados com
os outros, terá determinadas características únicas e pessoais.
Assim, pois, a diversidade é
inerente à natureza humana, e qualquer atuação encaminhada para desenvolvê-la
tem que se adaptar a esta caraterística. Falamos, portanto, de um "ensino
adaptativo" (Miras, 1991), cuja característica distintiva é sua capacidade
para se adaptar às diversas necessidades das pessoas que o protagonizam. Esta
característica se concretiza em todas as variáveis que estão presentes nas
diferentes estratégias que podem ser postas em marcha para
"operacionalizar" a influência educativa.
Portanto, podemos falar da
diversidade de estratégias que os professores podem utilizar na estruturação
das intenções educacionais com seus alunos. Desde uma posição de intermediário
entre o aluno e a cultura, a atenção à diversidade dos alunos e das situações
necessitará, às vezes, desafiar; às vezes, dirigir; outras vezes, propor,
comparar. Porque os meninos e as meninas, e as situações em que têm que
aprender, são diferentes.
Isto tudo sugere que a
interação direta entre alunos e professor tem que permitir a este, tanto quanto
for possível, o acompanhamento dos processos que os alunos e alunas vão
realizando na aula. O acompanhamento e uma intervenção diferenciada, coerentes
com o que desvelam, tornam necessária a observação do que vai acontecendo. Não se
trata de uma observação "desde fora", mas de uma observação ativa,
que também permita integrar os resultados das intervenções que se produzam.
Portanto, na boa lógica construtivista, parece mais adequado pensar numa
organização que favoreça as interações em diferentes níveis: em relação ao
grupo-classe, quando de uma exposição; em relação aos grupos de alunos, quando
a tarefa o requeira ou o permita; interações individuais, que permitam ajudar
os alunos de forma mais específica; etc. Assim se favorece a possibilidade de
observar, que é um dos pontos em que se apoia a intervenção. O outro ponto de
apoio é constituído pela plasticidade, a possibilidade de intervir de forma
diferenciada e contingente nas necessidades dos alunos.
Uma interpretação construtivista
do ensino se articula em torno do princípio da atividade mental dos alunos - e,
portanto, também da diversidade. Apesar disso, situar no eixo o aluno ativo não
significa promover uma atividade compulsiva, reativa, tampouco situar os
professores num papel secundário.
Promover a atividade mental
auto estruturante, que possibilita estabelecer relações, a generalização, a
descontextualização e a atuação autônoma, supõe que o aluno entende o que faz e
por que o faz e tem consciência, em qualquer nível, do processo que está
seguindo. Isto é o que lhe permite dar-se conta de suas dificuldades e, se for
necessário, pedir ajuda. Também é o que lhe permite experimentar que aprende, o
que, sem dúvida, o motiva a seguir se esforçando.
Mas que isto aconteça não é
uma casualidade. Que o aluno compreenda o que faz depende, em boa medida, de
que seu professor ou professora seja capaz* de ajudá-lo a compreender, a dar
sentido ao que tem entre as mãos; quer dizer, depende de como se apresenta, de
como tenta motivá-lo, na medida em que lhe faz sentir que sua contribuição será
necessária para aprender. O fato de que possa estabelecer relações depende,
também, do grau em que o professor lhe ajuda a recuperar o que possui e destaca
os aspectos fundamentais dos conteúdos que se trabalham e que oferecem mais
possibilidades de relacionar com. o que conhece. Evidentemente, também depende
da organização dos conteúdos, que os torne mais ou menos funcionais. Que os
meninos e meninas possam seguir o processo e situar-se nele depende também do
grau de contribuição do professor, com sínteses e recapitulações, com
referências ao que já se fez e ao que resta por fazer; os critérios que pode
transmitir acerca do que constitui uma relação adequada contribui, sem dúvida,
para que os alunos possam avaliar a própria competência, aproveitar as ajudas
que lhes são oferecidas e, se for necessário, pedi-las.
É todo um conjunto de
interações baseadas na atividade conjunta dos alunos e dos professores, que
encontram fundamento na zona de desenvolvimento proximal, que, portanto, vê o
ensino como um processo de construção compartilhada de significados, orientados
para a autonomia do aluno, e que não opõe a autonomia - como resultado de um
processo - à ajuda necessária que este processo exige, sem a qual dificilmente
se poderia alcançar com êxito a construção de significados deveriam
caracterizar a aprendizagem escolar.
A INFLUÊNCIA DA CONCEPÇÃO CONSTRUTIVISTA NA FORMA DE AÇÃO DAS INTERAÇÕES EDUCATIVAS NA AULA
Do conjunto de relações
interativas necessárias para facilitar a aprendizagem se deduz uma série de
funções dos professores, que tem como ponto de partida o próprio planejamento.
Podemos caracterizar pessoas
funções da seguinte maneira:
a) Planejar a atuação docente de uma maneira suficientemente flexível
para permitir a adaptação às necessidades dos alunos em todo o processo de
ensino/aprendizagem.
b) Contar com as contribuições e os conhecimentos dos alunos, tanto
no início das atividades como durante sua realização.
c) Ajudá-los a encontrar sentido no que estão fazendo para que
conheçam o que têm que fazer, sintam que podem fazê-lo e que é interessante
fazê-lo.
d) Estabelecer metas ao alcance dos alunos para que possam ser
superadas com o esforço e a ajuda necessários.
e) Oferecer ajudas adequadas, no processo de construção do aluno,
para os progressos que experimenta e para enfrentar os obstáculos com os quais
se depara.
f) Promover atividade mental auto estruturante que permita
estabelecer o máximo de relações com o novo conteúdo, atribuindo-lhe significado
no maior grau possível e fomentando os processos de meta- cognição que lhe
permitam assegurar o controle pessoal sobre os próprios conhecimentos e
processos durante a aprendizagem.
g) Estabelecer um ambiente e determinadas relações presididos pelo
respeito mútuo e pelo sentimento de confiança, que promovam a autoestima e o
autoconceito.
h) Promover canais de comunicação que regulem os processos de
negociação, participação e construção.
i) Potencializar progressivamente a autonomia dos alunos na definição
de objetivos, no planejamento das ações que os conduzirão a eles e em sua
realização e controle, possibilitando que aprendam a aprender.
j) Avaliar os alunos conforme suas capacidades e seus esforços,
levando em conta o ponto pessoal de partida e o processo através do qual
adquirem conhecimento e incentivando a autoavaliação das competências como meio
para favorecer as estratégias de controle e regulação da própria atividade.
Planejamento e plasticidade na aplicação
A complexidade dos processos
educativos faz com que dificilmente se possa prever com antecedência o que
acontecerá na aula. Agora, este mesmo inconveniente é o que aconselha que os
professores contem com o maior número de meios e estratégias para poder atender
às diferentes demandas que aparecerão no transcurso do processo de ensino/
aprendizagem. Este fato recomenda duas atuações aparentemente contraditórias:
por um lado, poder contar com uma proposta de intervenção suficientemente
elaborada; e por outro, simultaneamente, com uma aplicação extremamente
plástica e livre de rigidez. Trata-se de uma aplicação que nunca pode ser o
resultado da improvisação, já que a própria dinâmica da aula e a complexidade
dos processos grupais de ensino/aprendizagem obrigam a dispor previamente de um
leque amplo de atividades que ajudem a resolver os diferentes problemas que a
prática educativa coloca.
É imprescindível prever
propostas de atividades articuladas e situações que favoreçam diferentes formas
de se relacionar e interagir: distribuições grupais, com organizações internas
convenientemente estruturadas através de equipes fixas e móveis com atribuições
de responsabilidades claramente definidas; espaços de debate e comunicação
espontâneos e regrados, como resultado da resolução de um conflito determinado
nas assembleias periódicas; trabalhos de campo, excursões e visitas que situem
os alunos frente à necessidade de resolver situações de convivência diferentes
das que habitualmente lhes oferece a escola, a família ou o grupo de amigos;
conjuntos de atividades e tarefas que gerem e favoreçam uma multiplicidade de
situações comunicativas e de inter-relação que possam ser orientadas e
utilizadas educativamente por parte dos professores.
Ao mesmo tempo, o planejamento tem que ser suficientemente diversificado para incluir atividades e momentos de observação do processo que os alunos seguem. É preciso propor aos alunos exercícios e atividades que ofereçam o maior número de produções e condutas para que sejam processadas, a fim de que oportunizem todo tipo de dados sobre as ações a empreender. Mover-se nos parâmetros de referências metodológicas extremamente abertas à participação do aluno para conhecer o processo que cada um segue. Procurar fórmulas organizativas que permitam a atenção individualizada, o que implica o planejamento estruturado de atividades em pequenos grupos ou individualmente, para que exista a possibilidade de atender a alguns alunos enquanto os demais estão ocupados em suas tarefas. Tudo isso deve permitir a individualização do tipo de ajuda, já que nem todos aprendem da mesma forma nem. no mesmo ritmo e. portanto, tampouco o fazem com as mesmas atividades.
Tem que ser um planejamento
suficientemente flexível para poder se adaptar às diferentes situações da aula,
como também deve levar em conta as contribuições dos alunos desde o princípio.
É importante que possam participar na tomada de decisões sobre o caráter das
unidades didáticas e a forma de organizar as tarefas e seu desenvolvimento, a
fim de que não apenas aumentem o nível de envolvimento no ritmo da classe em
geral, como em seus próprios processos de aprendizagem, entendendo o porquê das
tarefas propostas e responsabilizando-se pelo processo autônomo de construção
do conhecimento.
Quer dizer, um planejamento
como previsão das intenções e como plano de intervenção, entendido como um
marco flexível para a orientação do ensino, que permita introduzir modificações
e adaptações, tanto no planejamento mais a longo prazo como na aplicação
pontual, segundo o conhecimento que se vá adquirindo através das manifestações
e produções dos alunos, sou acompanhamento constante e a avaliação continuada
de seu progresso.
Levar em conta as
contribuições dos alunos tanto no início das atividades como durante o
transcurso das mesmas
Para poder estabelecer os
vínculos entre os novos conteúdos e os conhecimentos prévios, em primeiro lugar
é preciso determinar que interesses, motivações, comportamento, habilidades,
etc., devem constituir o ponto de partida. Para conseguir que os alunos se
interessem é preciso que os objetivos de saber, realizar, informar-se e
aprofundar sejam uma consequência dos interesses detectados; que eles possam
saber sempre o que se pretende nas atividades que realizam e que sintam que o
que fazem satisfaz alguma necessidade. Mas para isso é indispensável que os
meninos e meninas tenham a oportunidade de expressar suas próprias ideias e, a
partir delas, convém potencializar as condições que lhes permitam revisar a
fundo estas ideias e a ampliar as experiências com outras novas, fazendo com
que se deem conta, também, de suas limitações, situando-os em. condição de
modificá-las se for necessário, ao mesmo tempo que se buscam outras
alternativas.
Estas condições obrigam a que
uma das primeiras tarefas dos professores consista em levar em conta os
conhecimentos prévios dos meninos e meninas, não aperras em relação aos
conteúdos, como também aos papéis de todas as instâncias que participam nos
processos de ensino/aprendizagem e, portanto, é preciso examinar a disposição,
os recursos e as capacidades gerais com que conta cada aluno em relação à .
tarefa proposta.
Para conseguir esta
informação, será necessário, em primeiro lugar gerar um ambiente em que seja
possível que os alunos se abram, façam
perguntas e comentem o
processo que seguem, através de situações de diálogo e participação, como meio
para a exploração dos conhecimentos prévios.
Para que tudo isto possa se
realizar, os professores devem acreditar sinceramente nas capacidades dos
alunos, ganhando a confiança deles a partir do respeito mútuo. Tem que avaliar
o aluno pelo que é, confiando nele e dando condições para que aprenda a confiar
em si mesmo. Neste sentido, dado o importante papel que desempenham as
expectativas dos professores para com os alunos, será preciso encontrar em
todos os alunos aspectos positivos (posto que sem dúvida existem) e que as
expectativas se expressem convenientemente. Os alunos respondem e se adaptam de
maneira diversa às propostas educacionais, mostrando maior ou menor interesse e
dedicação nas tarefas, entre outros motivos, em função do que se espera, o que
influi na intervenção do professor. Assim, aqueles que sentem que se espera
deles um bom rendimento e que receberam ajuda e atenção por parte do professor,
provavelmente confirmarão as expectativas gerais; por sua parte, meninos e
meninas dos quais se esperavam poucos êxitos e que podem ter recebido uma ajuda
educacional de menor qualidade também responderão às expectativas geradas ao
não encontrar as condições apropriadas para melhorar seu rendimento (Solé,
1993).
Para poder levar em conta as
contribuições dos alunos, além de criar o clima adequado, é preciso realizar
atividades que promovam o debate sobre suas opiniões, que permitam formular
questões e atualizar o conhecimento prévio, necessário para relacionar uns
conteúdos com outros. Quer dizer, apresentar os conteúdos relacionados com o
que já sabem, com seu mundo experiencial, estabelecendo, ao mesmo tempo, certas
propostas de atuação que favoreçam a observação do processo que os alunos seguem
para poder assegurar que seu nível de envolvimento é o adequado. Sem este ponto
de partida, dificilmente será possível determinar os passos seguintes.
Ajudá-los a encontrar sentido
no que fazem
Para que os alunos vejam
sentido no trabalho que irão realizar é necessário que conheçam previamente as
atividades que devem desenvolver, não apenas como são, como também o motivo
pelo que foram selecionadas essas e não outras; que sintam que o trabalho que
lhes é proposto está ao alcance deles e que seja interessante fazê-lo. Levando
em conta estas condições, será necessário ajudar os meninos e meninas para que
saibam o que têm que se fazer, a que objetivos responde, que finalidade se
persegue, com que se pode relacionar e em que projeto global pode se inserir. Trata-se
de condições não muito habituais, dada a tendência a dar por bom e
inquestionável, e, portanto, com certo grau de imposição, o trabalho escolar e
determinados conteúdos, também como resposta às demandas, muitas vezes
arbitrárias, dos programas oficiais. É habitual encontrar propostas de
exercícios em que os alunos atuam sem ter outra visão do trabalho do que a
exclusiva resolução pontual da atividade. Dificilmente pode se produzir uma
aprendizagem profunda se não existe uma percepção das razões que a justificam,
além da necessidade de superação de alguns exames.
Assim, pois, será necessário
comunicar os objetivos das atividades aos alunos, ajudá-los a ver de forma
clara os processos e os produtos que se espera que adquiram ou produzam,
introduzindo, no maior grau possível, a atividade pontual no âmbito de marcos
ou objetivos mais amplos, a fim de que esta atividade adquira um significado
adequado. É condição indispensável que vejam a proposta como atrativa, que
estejam motivados para realizar o esforço necessário para alcançar as
aprendizagens. Vale a pena considerar que, em geral, é preciso provocar o
interesse e que este exige atenção para que ao longo do processo de
aprendizagem não se dilua. Assim, é fundamental ajudar a tomar consciência dos
próprios interesses e buscar o interesse geral, assim como aproveitar a
participação e o envolvimento no planejamento, organização e realização de
todas as atividades que se desenvolvem em classe, como meio para assegurar que
o que fazem responde a uma necessidade.
De qualquer forma, não se deve
esquecer que o melhor incentivo ao interesse é experimentar que se está aprendendo
e que pode se aprender. A percepção de que a gente mesmo é capaz de aprender
atua como requisito imprescindível para atribuir sentido a uma tarefa de
aprendizagem. A maneira de ver o aluno e de avaliá-lo é essencial na
manifestação do interesse por aprender. O aluno encontrará o campo seguro num
clima propício para aprender significativamente, num clima em que se valorize o
trabalho que se faz, com explicações que o estimulem a continuar trabalhando,
num marco de relações em que predomine a aceitação e a confiança, num clima que
potencializa o interesse por empreender e continuar o processo pessoal de
construção do conhecimento.
Estabelecer metas alcançáveis
Para aprender não basta que o
aluno participe na definição dos objetivos e no planejamento das atividades se
estes objetivos e atividades não
representam, em primeiro lugar, desafios que o ajudem a avançar e, em segundo,
se não são metas a seu alcance.
Será necessário provocar
desafios que questionem os conhecimentos prévios e possibilitem as modificações
necessárias na direção desejada, segundo os objetivos educacionais
estabelecidos. Isto quer dizer que o ensino não deve se limitar ao que o aluno
já sabe, mas que a partir deste conhecimento tem que conduzi-lo à aprendizagem
de novos conhecimentos, ao domínio de novas habilidades e à melhora de
comportamentos já existentes, pondo-o em situações que o obriguem a realizar um
esforço de compreensão e trabalho.
Agora, os desafios têm que ser
alcançáveis, já que um desafio tem sentido para o aluno quando este sente que
com seu esforço e a ajuda necessária pode enfrentá-lo e superá-lo. Nesse
momento sua tarefa será significativa. Assim, é necessário prestar atenção à
adequação entre as- propostas e as possibilidades reais de cada menino e
menina. Esta necessidade de adequação diversificada dos desafios obriga a
questionar a excessiva homogeneidade das propostas que facilmente, pelo fato de
implicar para todos o mesmo trabalho, podem excluir aqueles que não encontrem
sentido num processo que, supostamente, não lhes trará nenhuma satisfação.
Também induz a pensar que a diversificação se estende à maneira de responder
dos diferentes alunos: uns com mais facilidade, outros com mais dificuldade;
uns mais autonomamente, outros com necessidade de mais ajuda ou de uma ajuda
qualitativamente diferente.
Oferecer ajudas contingentes
A elaboração do conhecimento
exige o envolvimento pessoal, o tempo e o esforço dos alunos, assim como ajuda
especializada, estímulos e afeto por parte dos professores e dos demais
colegas. Ajuda pedagógica ao processo de crescimento e construção do aluno para
incentivar os progressos que experimenta e superar os obstáculos que encontra.
Ajuda necessária, porque sem ela os alunos por si sós dificilmente conseguiriam
aprender, e aprender o mais significativamente possível. Mas sabendo, ao mesmo
tempo, que deve ser só ajuda, já que o ensino não pode substituir os processos
singulares e individuais que deve seguir cada um dos meninos e meninas em sua
formação como pessoas.
Oferecer ajudas contingentes
supõe intervir e oferecer apoio em atividades ao alcance dos meninos e meninas
para que, graças ao esforço no trabalho e a estas ajudas, possam modificar os
esquemas de conhecimento e atribuir novos significados e sentidos que lhes
permitam adquirir progressivamente mais possibilidades de atuar de forma
autônoma e independente em situações novas e cada vez mais complexas.
O apoio e a assistência que
têm que acompanhar as exigências e os desafios devem ser instrumentos de todo
tipo, tanto intelectuais como emocionais. Ajudas que se refletirão nas
características das tarefas e na organização das mesmas e do grupo/classe em
geral, de forma que seja possível a intervenção individualizada dos
professores, e também como medidas ligadas ao tipo de avaliação, mas
fundamentalmente vinculadas à maneira de comunicar e manifestar o conhecimento
sobre o processo e os resultados alcançados.
Dada a diversidade dos alunos,
o ensino não pode se limitar a proporcionar sempre o mesmo tipo de ajuda nem
intervir da mesma maneira em cada um dos meninos e meninas. É preciso
diversificar os tipos de ajuda; fazer perguntas ou apresentar tarefas que
requeiram diferentes níveis de raciocínio e realização; possibilitar, sempre,
respostas positivas, melhorando-as quando inicialmente são mais
insatisfatórias; não tratar de forma diferente os alunos com menos rendimento;
estimular constantemente o progresso pessoal. Mas também é imprescindível
diversificar as atividades, a fim de que os alunos possam escolher entre
tarefas variadas e propor diversas atividades com diferentes opções ou níveis
possíveis de realização.
Para que tudo isso seja
possível é preciso tomar medidas de organização do grupo, de tempo e de espaço
e, ao mesmo tempo, de organização dos próprios conteúdos, que possibilitem a
atenção às necessidades individuais. Agrupamentos flexíveis, equipes fixas ou
variáveis, trabalho individual, oficinas e "cantos", contratos de
trabalho, etc., com o objetivo de dispor de tempo e oportunidades para
proporcionar em todo
momento a ajuda de que cada
aluno necessita. Organização dos conteúdos que possibilite um trabalho adequado
às características experimentais e pessoais dos alunos, oferecendo diversos
graus de compreensão que permitam distintas aproximações ao conhecimento e
diferentes níveis de utilização dos conteúdos de aprendizagem.
Promover a atividade mental
auto-estruturante
Aprender significa elaborar
uma representação pessoal do conteúdo objeto da aprendizagem, fazê-lo seu,
interiorizá-lo, integrá-lo nos próprios esquemas de conhecimento. Esta
representação não inicia do zero, mas parte dos conhecimentos que os alunos já
têm e que lhes permitem fazer conexões com os novos conteúdos, atribuindo-lhes
certo grau de significância. As relações necessárias a estabelecer não se
produzem automaticamente - são o resultado de um processo extrema mente ativo
realizado pelo aluno, o que há de possibilitar a organização e o enriquecimento
do próprio conhecimento. Atividade que não significa fazer coisas
indiscriminadamente, quer dizer, fazer por fazer - erro que cometem muitas
propostas progressistas baseadas na simples realização de atividades em que o
aluno está em constante movimento -, mas ações que promovam uma intensa
atividade de reflexão sobre o que propõem as aprendizagens, diretamente
proporcional a sua complexidade e dificuldade de compreensão. No entanto, é
óbvio que para que esta atividade possa ter lugar, e segundo o nível de
conhecimento cognitivo, os meninos e meninas terão que ver, tocar,
experimentar, observar, manipular, exemplificar, comparar, etc., e a partir
destas ações será possível ativar os processos mentais que lhes permitam
estabelecer as relações necessárias para a atribuição de significado. Atividade
mental que não pode se limitar à ação compreensiva exclusiva, pois para que
essa aprendizagem seja o mais profunda possível, será necessário que,-além
disso, exista uma reflexão sobre o próprio processo de aprendizagem.
Para poder realizar este
processo mental auto-estruturante, os meninos e meninas necessitam de uma série
de estratégias metacognitivas que lhes possibilite assegurar o controle pessoal
dos conhecimentos que vão construindo, assim como dos processos que se realizam
na aprendizagem. Poderemos considerar que existe um controle pessoal quando se
dispõem de estratégias que lhes oferecem a oportunidade de planejar as
atividades, regular as atuações, a partir dos resultados que obtêm durante sua
realização, e revisar e avaliar a efetividade das ações desenvolvidas.
Esta intensa atividade mental
não se realiza facilmente. É preciso que os meninos e meninas sintam a
necessidade de se fazer perguntas, de questionar suas ideias, de estabelecer
relações entre fatos e acontecimentos, de revisar suas concepções. E para
promover todas estas ações será necessário propor aquelas atividades que
possibilitem este intenso processo mental. Aqui é preciso considerar a
complexidade do conteúdo objeto de aprendizagem e as capacidades de que dispõem
os alunos para compreendê-lo e dominá-lo, para planejar as atividades que
favoreçam e promovam o esforço mental necessário para estabelecer vínculos
entre suas concepções e o novo material de aprendizagem. Conforme as dificuldades
do novo conteúdo, haverá que oferecer atividades nas quais os meninos e meninas
se sintam cômodos em relação ao processo de compreensão e, portanto, será
necessário partir de situações o mais próximas possível do seu mundo
experiencial, através de atividades que apresentem referenciais que favoreçam
este processo de compreensão. Convém levar em conta que em muitos casos não
poderão ser unicamente atividades passivas, serão necessários o debate e o
diálogo, quando não os trabalhos de observação, experimentação e manipulação.
Atividades que exigem dos
alunos, além do mais, aplicar, analisar, sintetizar e avaliar o trabalho
realizado e a eles mesmos; que promovam a reflexão conjunta dos processos
seguidos, ajudando-os a pensar, para que sejam constantemente partícipes das
próprias aprendizagens. Atividades que fomentem a tomada de decisões quanto às
aprendizagens que devem ser realizadas, levando em conta o ponto pessoal de
partida; que tornem possível pôr sobre a mesa as habilidades que utilizarão ou
requererão; que orientem seus pensamentos mediante a interrogação e a
formulação de hipóteses, solicitando aos alunos explicações sobre seus I
próprios processos e sobre o processo a partir do qual chegam ao conhecimento e
utilizando a linguagem para a generalização em diferentes situações e contextos
e a reconceitualização das experiências vividas.
Verbalização também em
situações de atividade compartilhada com outros e na resolução de problemas de
maneira cooperativa, que permitam, a confrontação de ideias, a resolução de
dúvidas e o uso funcional em outras ocasiões em que seja necessário.
Estabelecer um ambiente e
determinadas relações que facilitem a auto-estima e o autoconceito
Para aprender é indispensável
que haja um clima e um ambiente adequados, constituídos por um marco de
relações em que predominem a aceitação, a confiança, o respeito mútuo e a
sinceridade. A aprendizagem é potencializada quando convergem as condições que
estimulam o trabalho e o esforço. E preciso criar um ambiente seguro e
ordenado, que ofereça a todos os alunos a oportunidade de participar, num clima
com multiplicidade de interações que promovam a cooperação e a coesão do grupo,
interações essas presididas pelo afeto, que contemplem a possibilidade de se
enganar e realizar as modificações oportunas; onde convivam a exigência de
trabalhar e a responsabilidade de realizar o trabalho autonomamente, a emulação
e o companheirismo, a solidariedade e o esforço; determinadas interações que
gerem sentimentos de segurança e contribuam para formar no aluno uma percepção
positiva e ajustada de si mesmo.
E isto é assim porque na
aprendizagem intervêm numerosos aspectos do tipo afetivo e relacional, de
maneira que o processo seguido e os resultados obtidos adquirem um papel
definitivo na construção do conceito que se tem de si mesmo, na maneira de se
ver e se avaliar e, em geral, no autoconceito. Ao mesmo tempo, este
autoconceito influi na maneira de se situar frente à aprendizagem: com mais ou
menos segurança, ilusão, expectativas.
Uma das tarefas dos
professores consistirá em criar um ambiente motivador, que gere o autoconceito
positivo dos meninos e meninas, a confiança em sua própria competência para
enfrentar os desafios que se apresentem na classe. Estas representações serão o
resultado do grau de adequação dos desafios que são propostos aos alunos e da
avaliação que se faz de seu trabalho. Como já se disse, as características das
atividades que se propõem serão essenciais, mas o que determina em maior ou
menor grau a própria imagem serão os tipos de comentários de aceitação ou de
rejeição por parte dos professores durante as atividades e, sobretudo, o papel
que se atribui à avaliação. Assim, pois, as avaliações centradas exclusivamente
nos resultados, e especialmente em relação a alguns objetivos gerais ou à média
da classe, não ajudarão em absoluto a melhorar a auto-imagem de todos aqueles
que, apesar do esforço realizado, não conseguem superar esta média. Para manter
e melhorar uma auto-imagem que facilite a atitude favorável à aprendizagem,
será necessário que estas avaliações sejam feitas conforme as possibilidades
reais de cada um dos meninos e meninas, para que a aceitação das competências
pessoais não ocorra cm detrimento de uma auto-imagem positiva.
Promover canais de comunicação
Entender a educação como um
processo de participação orientado, de — construção conjunta, que leva a
negociar e compartilhar significados, faz com que a rede comunicativa que se
estabelece na aula, quer dizer, o tecido de interações que estruturam as
unidades didáticas, tenha uma importância crucial. Para construir esta rede, em
primeiro lugar é necessário compartilhar uma linguagem comum, entender-se,
estabelecer canais fluentes de comunicação e poder intervir quando estes canais
não funcionem. Utilizar a linguagem da maneira mais clara e explícita possível,
tratando de evitar e controlar possíveis mal-entendidos ou incompreensões.
Para facilitar o
desenvolvimento do aluno é preciso utilizar o grupo- classe, potencializando o
maior número de intercâmbios em todas as direções. Para isso será
imprescindível promover a participação e a relação entre os professores e os
alunos e entre os próprios alunos, para debater opiniões e ideias sobre o trabalho
a ser realizado e sobre qualquer das atividades que se realizam na escola,
escutando-os e respeitando o direito de intervirem nas discussões e nos
debates. E importante aceitar as contribuições dos meninos e meninas, mesmo que
se expressem de forma pouco clara ou parcialmente incorreta, e estimular
especificamente a participação dos alunos com menor tendência espontânea a
intervir, através do oferecimento de espaços de trabalho em pequenos grupos ou
da relação e de contato pessoais com alguns alunos em momentos pontuais. A
diversificação dos tipos de atividades para tornar possível que num momento
determinado os alunos possam escolher entre atividades diferentes e a
proposição, em alguns casos, de atividades com opções ou alternativas
diferentes para possibilitar a participação do conjunto de alunos no maior grau
possível.
A rede comunicativa será mais
ou menos rica conforme as possibilidades veiculadas pelas diferentes sequências
didáticas e as que se decorrem do tipo de estruturação do grupo e do papel que
outorga aos diversos membros do grupo. Pode se escolher uma estrutura
praticamente linear, cujas relações sejam fundamentalmente unidirecionais de
professor a aluno e cujos níveis de comunicação se limitem a uma aceitação
acrítica das exposições e critérios do primeiro. Ou também se pode promover que
os canais comunicativos, e, portanto, da aprendizagem, se ampliem graças a
modelos cuja estrutura organizativa obrigue a corresponsabilizar todo o
grupo-classe com o objetivo de conviver e aprender e, assim, abrir o leque de
possibilidades de relações entre os diferentes membros do grupo. Atividades
comunicativas que fomentem a bidirecionalidade das mensagens e aproveitem a
potencialidade educativa que oferece a aprendizagem entre iguais.
Potencializar a autonomia e possibilitar que os alunos aprendam a aprender
O crescimento pessoal dos
alunos implica como objetivo último serem autônomos para atuar de maneira
competente nos diversos contextos em que haverão de se desenvolver. Impulsionar
esta autonomia significa tê-la presente em todas e cada uma das propostas
educativas, para serem capazes de utilizar sem ajuda os conhecimentos
adquiridos em situações diferentes da que foram aprendidos. Para poder alcançar
esta autonomia será necessário que ao longo de todas as unidades didáticas os
professores e os alunos assumam responsabilidades distintas, exercendo um
controle diferente conforme os conteúdos tratados, com o objetivo de que no
final os alunos possam aplicar e utilizar de maneira autônoma os conhecimentos
que adquiriram.
Será necessário oportunizar
situações em que os meninos e meninas participem cada vez mais intensamente na
resolução das atividades e no processo de elaboração pessoal, em vez de se
limitar a copiar e reproduzir automaticamente as instruções ou explicações dos
professores. Numa primeira fase, os alunos seguirão os modelos ou as diferentes
ações propostas pelos professores, com uma ajuda intensa por parte deste. Nas
fases seguintes será retirada esta ajuda de maneira progressiva, usando pouco a
pouco os conteúdos que ainda são utilizados pelo professor ou professora e
assegurando a passagem progressiva de competências do nível interpessoal
inicial, quando todos trabalham juntos, para o nível intrapessoal, quer dizer,
quando o aluno é capaz de utilizá-las de forma autônoma.
Isto supõe levar a cabo uma
ação de observação do processo de cada aluno para retirar as ajudas e
assegurar-se, assim, de que o aluno atua de forma autônoma não apenas na
compreensão, no domínio ou na interiorização dos conteúdos, procedimentais ou
atitudinais, como também na definição de objetivos, no planejamento das ações
que lhe permitam alcançá-los e em sua realização e controle. Enfim, em tudo o
que envolve ter adquirido estratégias metacognitivas que possibilitem a
autodireção e a auto-regulação do processo de aprendizagem.
Haverá que promover o trabalho
independente através de situações em que possam se atualizar e utilizar
autonomamente os conhecimentos construídos, assegurando a atividade construtiva
do aluno e sua autonomia, a fim de que possa aprender por si mesmo. Frente aos
entraves que se apresentam ao aprender, é possível recorrer à ajuda externa.
Mas só na medida em que os meninos e meninas sejam capazes de se dar conta dos
próprios erros e de buscar os recursos necessários para superá-los, poderemos
falar de aprender a aprender, o que quer dizer que para aprender a aprender
eles também devem aprender a se dar conta do que sabem e do que não sabem e a
saber o que podem fazer quando encontram um obstáculo. Será necessário
ensinar-lhes que, quando aprendem, devem levar em conta o conteúdo de aprendizagem,
assim como a maneira de se organizar e atuar para aprender.
Avaliá-los conforme suas
possibilidades reais e incentivar a auto-avaliação de suas competências
Pudemos ver a importância da
percepção que cada um tem de si mesmo para encontrar interesse na aprendizagem.
Também vimos a necessidade de que os meninos e meninas sejam partícipes do
próprio processo de aprendizagem, que sejam conscientes de como se desenvolveu.
Do papel que tem para a aprendizagem a avaliação que os professores fazem de
seus alunos e da necessidade de que as ajudas que ofereçam sejam adequadas a
suas possibilidades reais, decorre que a função básica dos professores deve ser
incentivar os alunos a realizar o esforço que lhes permita continuar
progredindo. E isto só será possível quando a avaliação dos resultados que se
transmite ao aluno for feita com relação a suas capacidades e ao esforço
realizado. Este é provavelmente o único conhecimento que é preciso saber com
justiça, já que é o que permite promover a autoestima e a motivação para
continuar aprendendo.
Assim, pois, será preciso
confiar, e demonstrar esta confiança, no esforço dos meninos e meninas,
devolvendo-lhes a avaliação de seu próprio progresso, levando em conta a
situação pessoal de partida, os obstáculos que tiveram que superar e os tipos
de ajuda com que contaram, quer dizer, o conjunto de variáveis que intervêm em
cada um dos trajetos realizados. Trata-se de reconhecer o trabalho bem feito,
mas sobretudo o esforço realizado, fazendo-os ver as dificuldades que tiveram que
solucionar e os meios de que dispuseram. Enfim, respeitar o fato diferencial é
uma medida-chave para promover a atitude favorável para continuar aprendendo e
para melhorar o conhecimento dos processos pessoais de aprendizagem. Com esta
finalidade será necessário apresentar atividades de avaliação nas quais seja
possível atribuir os êxitos e os fracassos da aprendizagem a motivos
modificáveis e controláveis, como fórmula para entender que é possível avançar
quando se realiza o trabalho e o esforço suficientes para consegui-lo.
E necessário que os alunos
conheçam e se apropriem dos critérios e dos instrumentos que os professores
utilizam para avaliá-los. Que possam conhecer desde o princípio o que se quer
deles, que sentido tem este objetivo, de que meios de ajuda disporão, que
pautas e instrumentos são utilizados para, conhecer suas aprendizagens e que
critérios- avaliativos serão aplicados. Neste sentido, ganha uma importância
crucial a integração de atividades que promovam a auto-avaliação dos alunos. E preciso
recusar fórmulas em que o controle e a avaliação recaem exclusivamente nos
professores, sobretudo em situações e momentos alheios aos processos
individuais de aprendizagem. Por outro lado, as situações de atuação conjunta
favorecem o processo de autonomia progressiva e, portanto, a aquisição
progressiva de estratégias de controle e regulação da própria atividade,
imprescindíveis para promover a capacidade de aprender a aprender.
A INFLUÊNCIA DOS TIPOS DE
CONTEÚDOS NA ESTRUTURAÇÃO DAS INTERAÇÕES EDUCATIVAS NA AULA
Do conhecimento de como se
produzem os processos de aprendizagem se deduz, como vimos, uma série de
relações que os incentiva: Estas condições são generalizáveis, referem-se a
qualquer aprendizagem, independentemente do tipo de conteúdo. No entanto, todas
elas são especialmente adequadas para o ensino dos conteúdos de caráter
conceituai. Por outro lado, também, neste caso as características dos
diferentes conteúdos fazem com que o tipo de atuação do professorado, e as
relações interativas que tenham que se promover, sejam de uma maneira ou de
outra conforme os conteúdos sejam de um ou outro tipo. Portanto, haverá que
matizar os critérios gerais descritos anteriormente ou acrescentar outros
novos, conforme os conteúdos a serem trabalhados sejam de caráter procedimental
ou atitudinal.
A condição ativa dos conteúdos
procedimentais e o fato de que os meninos e meninas realizem a aprendizagem com
estilos diferentes, mas sobretudo com ritmos diferentes, obriga a incluir, em
primeiro lugar, atividades suficientes que permitam realizar as ações que
comportam estes conferidos tantas vezes quantas for necessário e, em segundo
lugar, formas organizativas que facilitem as ajudas adequadas às necessidades
específicas de cada um dos alunos. A realização de ações deve ser precedida, em
termos gerais, da observação de modelos indicados pelos professores, adequados
às possibilidades reais de cada menino e menina. Assim, pois, é preciso
oferecer modelos da maneira de realizar o procedimento ou a técnica, é preciso
oferecer um apoio constante na realização de cada um dos passos e é preciso
retirar progressivamente estas ajudas até que os alunos sejam capazes de atuar
de forma autônoma.
Para poder oferecer esta ajuda
e apoio segundo as características particulares de cada menino e menina, será
necessário adotar, entre outras coisas, medidas organizativas e meios materiais
que facilitem uma atenção o mais individualizada possível: grupos fixos e
móveis ou flexíveis, trabalho em dupla ou individual, com propostas de atividades
e disposição de materiais que permitam o trabalho progressivo e sistemático na
exercitação indispensável para o domínio da estratégia, procedimento ou
técnica.
A aprendizagem dos conteúdos
atitudinais, no entanto, requer uma reflexão mais profunda a respeito das
relações interativas que devem ser promovidas. Relações que neste caso estão
determinadas tanto pelas características gerais destes conteúdos - dada a
importância que tem seu componente afetivo -, como pelos traços próprios de
cada um dos valores, atitudes e normas que se propõem.
O fato de que para a
aprendizagem dos conteúdos atitudinais seja preciso articular ações formativas,
nas quais estes conteúdos sejam "vividos" pelos alunos, obriga a
integrar em aula não apenas tarefas concretas, como principalmente formas
específicas de desenvolvê-las em um clima e em. relações adequadas entre
professores e alunos e entre os próprios alunos. O ambiente geral, as
avaliações que se faz e as relações que se estabelecem têm que traduzir os
valores que se quer ensinar. Assim, por exemplo, se um dos valores que se quer
transmitir é a solidariedade, não basta propor atividades de debate e reflexão
sobre comportamento de cooperação em diferentes ambientes e espaços sociais,
mas será necessário que na aula se viva num clima de solidariedade onde existam
possibilidades de atuar segundo estes princípios. Uma observação, este clima
será o resultado das imagens que os próprios professores transmitem.
Se lembramos alguns dos
valores mais relevantes e algumas das atitudes que decorrem dos mesmos, nos
daremos conta de que sua aceitação como conteúdos de aprendizagem obriga os
professores e os alunos a adotarem certos papéis determinados. Se como exemplo
tomamos qualquer dos valores de tolerância, justiça, cooperação, solidariedade,
liberdade, respeito mútuo, responsabilidade, participação, diversidade - que
todo mundo aceita que é preciso promover nas escolas e pensamos as implicações
educacionais que têm, poderemos ver que tipo de relações deve se propor na
aula. Em primeiro lugar, observamos que dificilmente pode se cultivar algum
destes valores se os próprios professores não têm, defendem e demonstram
atitudes de tolerância, justiça, cooperação, etc. Isto, que é uma condição
indispensável, não substitui as atuações educativas adequadas para que o valor
em questão seja progressivamente incorporado pelos alunos.
Querer que os alunos assumam
como valores a tolerância com os demais e a aceitação da diversidade, suas
opiniões, suas maneiras de ser e suas crenças exige a presença em aula de um
clima em que se atue de acordo com estes princípios. E este clima deve se
traduzir em atividades que impliquem comover, que não se limitem à simples
realização de trabalhos mais ou menos acadêmicos, mas que proponham tarefas em
que seja necessário aceitar a diferença: trabalho em grupos heterogêneos,
visitas, passeios, atividades recreativas, etc. Requer-se um conjunto de
atividades e situações em que se produzirão conflitos, em que se deverá levar
em conta os demais e renunciar à imposição dos próprios pontos de vista.
Atividades, enfim, que obriguem a manifestar o contraste entre os colegas como
ponto de partida para analisar os próprios comportamentos e fazer as avaliações
que permitam interiorizar os princípios da tolerância.
Estreitamente vinculado à
tolerância, conseguir que o respeito mútuo seja assumido como princípio de
atuação supõe um ambiente que possibilite o diálogo e a abertura aos demais, um
clima de participação em que se avaliem as opiniões, em que seja. possível
defender os diferentes pontos de vista, em que exista a possibilidade de
debater o que cada um pensa, aceitando que há diversas perspectivas sobre um
mesmo fato, e a conivência harmoniosa de opiniões discrepantes. Implica fazer
com que os alunos vejam ao que conduz a falta de respeito e sobre que
princípios se sustenta. Os debates, a expressão das ideias, os diálogos, o
trabalho em equipe ou a convivência são instrumentos tão necessários como os
que decorrem do clima institucional que existe, da maneira de resolver os
conflitos que possam se produzir ao nível de equipe por parte dos professores,
de como se relacionam entre eles e com outros profissionais e pais, etc.
Para que os alunos sejam cada
vez mais cooperativos e solidários será necessário promover atividades que os
obriguem a trabalhar em diferentes tipos de grupos, que proponham situações que
requeiram compartilhar materiais, trabalhos e responsabilidades, que lhes
permitam se ajudar entre eles e nas quais se avalie sua conduta em relação a
seu grau de participação. Atividades em que as relações entre os colegas
potencializem a colaboração em vez da competição. Vivência dos brinquedos em
equipe e esportes, não com o objetivo-chave de submeter o outro, mas de
compartilhar um tempo agradável em grupo. Também convém trabalhar a
potencialidade do grupo cooperativo como ajuda a aprendizagem e como
instrumento de apoio emocional e situar o trabalho conjunto num marco em que o
êxito de um implique o êxito dos outros, renunciando á situação habitual na
qual o êxito costuma apoiar-se no fracasso mais ou menos encoberto do
companheiro/adversário.
Formar na liberdade supõe
considerá-la como uma possibilidade de expressão e ação (exercício responsável
ao direito à liberdade); portanto, será necessário poder viver sensações em que
se tenha cada vez mais a possibilidade de exercê-la. Trata-se de criar um clima
em que os meninos e meninas percebam que são levados em conta; em que haja
espaços onde possam atuar sentindo que o fazem segundo seus próprios critérios.
São atividades em que as relações pessoais e coletivas são entendidas como
vínculos de reciprocidade que fomentam a elaboração de projetos pessoais
adequados às próprias necessidades e interesses em complementaridade com os dos
demais. Neste sentido, convém evitar situações enganosas em que se dá liberdade
aos alunos para que decidam o que convém que decidam; em que não se deixa que
se enganem. Com os limites necessários para assegurar sua formação pessoal,
educar na liberdade supõe assumir alguns riscos: os que decorrem de ter que
renunciar à regulação externa exaustiva das decisões e dos comportamentos dos
alunos. Portanto, educar na liberdade é educar nos critérios que tornam
possível seu exercício responsável e respeitoso em relação aos demais.
Conseguir que a responsabilidade
seja considerada como um valor próprio e se atue de acordo com ela implica
promover, progressivamente, o trabalho autônomo. Há que possibilitar que os
alunos, desde pequenos, sintam que há confiança em suas capacidades para
assumir responsabilidades, que são capazes de tomar decisões de forma autônoma,
que vejam que suas valorações e opiniões contam. Por tudo isso, é necessário
que na aula se compartilhem cada vez em maior grau a gestão da escola, as
decisões cruciais na vida do grupo, na avaliação cie seu trabalho e seu
progresso.
Para que a participação,
entendida como o compromisso pessoal para com o coletivo, seja um fato, será
necessário dar oportunidades de participação em todos os níveis. Oferecer
oportunidades de tomada de decisões que afetem a todo o grupo-classe, deixar
espaços onde nem tudo esteja regulado externamente ou sujeito a mecanismos de
controle. A participação não envolve tanto "fazer sua parte" num
projeto pensado e compartimentado desde fora, mas definir um projeto compartilhado
e estabelecer o compromisso pessoal para a realização de objetivos comuns.
Enfim, a complexidade do
trabalho das atitudes e dos valores na escola é determinada por diversos
fatores. Um deles, muito importante, decorre da contradição que seguido se
torna evidente entre o que se tem que trabalhar em aula e o que está presente
em nível social, nos meios de comunicação, nos interesses dos grupos de
pressão, nos outros sistemas onde os alunos vivem. O segundo é a consideração
que estes conteúdos devem, necessariamente, impregnar as relações
institucionais em seu conjunto. E, o terceiro, a dificuldade para achar
"procedimentos" claramente estabelecidos para trabalhá-los, ao
contrário do que acontece com outros conteúdos. Acrescentamos, também, desde o
ponto de vista do docente: haver refletido sobre os valores, haver adotado
pontos de vista e opções e ser beligerante quando necessário. Tudo isso coloca
alguns desafios suficientemente importantes para os professores, que requerem
respostas individuais e coletivas.
Conclusões
Para concluir este capítulo
devemos dizer que os princípios da concepção construtivista do ensino e da
aprendizagem escolar proporcionam alguns parâmetros que permitem orientar a
ação didática e que, de maneira específica, ajudam a caracterizar as interações
educativas que estruturam a vida de uma classe. O resultado da análise destes
parâmetros apresenta um marco complexo. Ensinar é difícil e não dá para esperar
que a explicação das variáveis que intervêm possa ser feita por um discurso
simplista.
Agora, tampouco devemos perder
de vista que, em grande parte, poder trabalhar desde este marco implica uma
atitude construtivista - baseada no conhecimento e na reflexão -, que contribui
para que nossas intervenções, talvez de forma intuitiva em grande parte, se
ajustem às necessidades dos alunos que temos em frente, nos levem a
incentivá-los, a ver seus aspectos positivos, a avaliá-los conforme seus
esforços e a atuar como o apoio de que necessitam para seguir adiante. Esta
atitude, que mobiliza diversos recursos, se concretiza de forma diferente
conforme o trabalho que realizam se centra mais em conteúdos conceituais,
procedimentais ou atitudinais. Que todos façam parte do que temos que ensinar
na escola não se deduz tanto de uma exigência burocrática da administração
educacional, mas da necessidade de educar de modo íntegro as pessoas. De nosso
ponto de vista, esta reflexão, talvez mais ideológica, se articula com a
reflexão anterior, talvez mais psicopedagógica, para estabelecer as bases de um
ensino que possa ajudar os alunos a se formarem como pessoas no contexto da
instituição escolar.
Antoni Zabala - A Prática Educativa