domingo, 24 de setembro de 2023

Egito Antigo

A civilização egípcia que teve início por volta de 4000 a.C., desenvolveu-se em uma faixa de terra no nordeste da África. Embora cercada por desertos, essa região apresentava fatores naturais que propiciaram a fixação do homem:

• água – o rio Nilo fornecia a água necessária à sobrevivência e ao plantio;

• solos férteis – as cheias periódicas do rio Nilo depositavam uma rica camada de húmus em suas margens, fertilizando o solo.

A história dos antigos egípcios está profundamente ligada ao Rio Nilo. Por volta de 8500 a.C., havia diversas pequenas comunidades instaladas às suas margens.
Todos os anos, o Nilo transbordava por causa das chuvas em sua nascente. Com a cheia, o húmus trazido pelo rio era depositado em suas margens. As pequenas comunidades aproveitavam a fertilidade do solo e plantavam principalmente cereais, linho e leguminosas. Por volta de 4000 a.C., os moradores desses pequenos vilarejos – chamados nomos – desenvolveram conhecimentos em engenharia e começaram a construir diques para estocar água. Dessa maneira, as comunidades podiam transportar a água para irrigar regiões mais distantes e armazená-la para períodos de seca.
O Egito era, assim, um verdadeiro oásis em meio ao deserto. Por isso, o historiador grego Heródoto afirmou: o Egito é uma dádiva do Nilo. Entretanto, somente os fatores naturais não são suficientes para explicar o desenvolvimento da civilização egípcia. Deve-se considerar a atuação humana através do trabalho, da criatividade e do planejamento. Para proteger vilas e casas das inundações, os egípcios construíram diques e barragens. Construíram diques e barragens. Construíram também canais de irrigação para levar a água do rio às regiões mais distantes. Assim, aliando esforço e criatividade, os egípcios aproveitaram os recursos naturais, fazendo surgir uma das mais antigas civilizações.
O rio fornecia aos egípcios água para beber e boas condições para as lavouras, além de peixes e aves aquáticas, usadas na alimentação. Em suas margens cresciam ainda diversas plantas, entre as quais, o papiro. 

A colheita do papiro

Com essa planta, os egípcios fabricavam uma espécie de papel, que por isso ficou conhecido também como papiro.   O Nilo era tão fundamental para a sobrevivência dos egípcios que, em sua homenagem, foram feitos muitos hinos e orações.

Evolução Política

A história egípcia costuma ser dividida em:

• Período pré-dinástico – desde a formação das primeiras comunidades até a fundação da primeira dinastia dos faraós.

• Período dinástico – abrange três fases principais: Antigo Império, Médio Império e Novo Império. Vejamos cada um desses períodos.

Período pré-dinástico (5000-3200 a. C.) 

Desde 5000 a. C., o Egito era habitado por povos que viviam em clãs, chamados nomos. Embora independentes uns dos outros, os nomos cooperavam entre si para solucionar problemas comuns, como a abertura de canais de irrigação, construção de diques etc. 

OS NOMARCAS

Com o crescimento dos nomos, o trabalho começou a ser dividido entre as pessoas. Assim, algumas passaram a cuidar da agricultura; outras, da construção de celeiros para estocar alimentos. Havia ainda os artesãos, os administradores de obras, entre outros trabalhadores.
As pessoas que conquistavam posições de destaque em suas comunidades acabavam assumindo cargos no poder local. O mais importante desses cargos era o de nomarca, uma espécie de governador.

Alguns nomarcas ampliaram seu poder para outros nomos ou regiões vizinhas. Eles eram respeitados principalmente por sua capacidade de garantir segurança e comida para a população dos nomos.

O ALTO EGITO E O BAIXO EGITO

Por volta de 3500 a.C., os diversos centros de poder do Nilo foram unificados em apenas dois reinos: o do Alto Egito (localizado nas regiões da nascente do Rio Nilo e de seu curso médio) e o do Baixo Egito (no delta do rio).
Essas relações evoluíram e levaram à formação de dois reinos: Reino do Baixo Egito, formado pelos nomos do norte; e Reino do Alto Egito, formado pelos nomos do sul. 
Por volta de 3200 a. C., Menés unificou os dois reinos, fundando, assim, a primeira dinastia dos faraós. O período pré-dinástico é, portanto, a época anterior a essa primeira dinastia. Seu líder foi coroado como faraó, uma mistura de rei e deus.
A unificação dos dois reinos pode ser considerada o marco inicial da civilização egípcia,que perdurou por mais de 3 mil anos e deixou um importante legado para a ciência moderna, em áreas como a Engenharia, a Astronomia, a Medicina, as Artes e em outros campos do conhecimento humano.

A coroa era um dos principais símbolos do faraó. Antes da unificação, o soberano do Alto Egito utilizava a coroa branca; a coroa vermelha era usada no Baixo Egito. Quando o Egito passou a ser governado por um único soberano, o faraó. A coroa tornou-se dupla: vermelha e branca. Simbolizando a união dos dois reinos. Ao comandar suas tropas na guerra, o faraó usava a coroa azul.

Período dinástico (3200-1085 a. C.)

Foi durante o período dinástico que se deu a construção das grandes pirâmides, o crescimento territorial e econômico do Egito e sua expansão militar. Vejamos as fases desse período.

ANTIGO IMPÉRIO (3200 a.C. a 2300 a.C.)

Com a unificação promovida por Menés, a capital do Egito passou a ser a cidade de Tinis. Mais tarde, a capital foi transferida para a cidade de Mênfis, atual Cairo.

Entre 2700 a.C e 2600 a.C. foram construídas grandes pirâmides (templos funerários destinados ao faraó e sua família), na região de Gizé. Os faraós da quarta dinastia, Quéops, Quéfren e Miquerinos, foram os que mais se empenharam para a construção desses monumentos.              

                        

Por longo período do Antigo Império, o Egito conheceu a estabilidade política e social. Contudo, a partir do ano de 2300 a.C., o poder dos nomarcas cresceu a ponto de se sobrepor à supremacia do faraó, determinando uma descentralização política. Nesse momento aconteceram acirradas lutas entre os nomarcas e inúmeras revoltas sociais, o que gerou crise decorrentes da desorganização da produção.

MÉDIO IMPÉRIO (2100 a.C. a 1750 a.C.)

Os faraós reconquistaram o poder. Príncipes do Alto Egito restauraram a unidade política do Império e estabeleceram em Tebas a nova Capital. A massa camponesa, através de revoltas sociais, conseguiu o atendimento de algumas reivindicações, como por exemplo, a concessão de terras, a diminuição dos impostos e o direito de ocupar cargos administrativos até então reservados às camadas privilegiadas.

Em cerca de 1800 a.C., entretanto, teve início uma onda de invasões estrangeiras: hebreus e, principalmente, hiosos estabeleceram seu domínio na região. Isso era resultado de uma série de revolta do povo e da nobreza egípcios, que tornou o império ingovernável e suscetível a invasões. Os hiosos, povos de origem asiática, possuíam superioridade Bélica sobre os egípcios, pois usavam carros de guerra, cavalos e armas de ferro, equipamentos desconhecidos no vale do Nilo.

A dominação dos hiosos despertou forte sentimento nacional e militarista entre os egípcios, os quais se uniram e, em 1580 a.C., sob o comando do faraó Amósis I, conseguiram expulsar os invasores. Assim, a unidade territorial foi restabelecida e Tebas retornou a posição de capital do Egito. Após a expulsão dos hiosos, os hebreus também invasores de origem asiática, foram dominados e escravizados. Por volta de 1250 a.C., porém, conseguiram deixar a região, sob o comando de Moisés, no chamado Êxodo.

NOVO IMPÉRIO (1580 a.C. a 525 a.C.)

Este período assiste ao apogeu da civilização egípcia, quando as conquistas militares ampliaram muito as fronteiras do império. Entre os faraós que se destacaram no período, temos os conquistadores Tutmés III e Ramsés II, e o reformador religioso Amenófis IV.

Sob o governo de Tutmés III (1480-1448 a.C.), o império estendeu-se até o rio Eufrates, na Ásia, subjugando os sírios, os fenícios e outros povos.

Já o faraó Amenófis IV (1480-1448 a.C.) tentou anular o grande poder dos sacerdotes. Seu projeto era fazer uma ampla reforma religiosa, estabelecendo o culto monoteísta a Aton, o círculo solar, excluindo os demais deuses. Entretanto, os projetos de Amenófis não se concretizaram, pois esbarraram na resistência dos sacerdotes politeístas. Estes depuseram Amenófis IV e outorgaram a Tutankhamon o título de faraó, demonstrando a sua força no Estado egípcio. 

O prosseguimento das conquistas militares deu-se no governo do faraó Ramsés II, o qual reconquistou a Síria em 1299 a.C., entretanto vários povos asiáticos que estavam unidos contra o Egito. O poderio e o esplendor alcançados eram evidenciados não apenas pelas conquistas militares, como também pelas manifestações culturais, a exemplo da construção dos templos de Karnac e Luxor.

No final do Novo Império, o Egito voltou a ser invadido, desta vez pelos assírios, que, em 662 a.C., sob o comando de Assurbanipal, conquistaram a região. Os egípcios, porém, resistiram à dominação assíria e o faraó Psamético I (655-610 a.C.) obteve a libertação da nação, iniciando um intenso florescimento econômico e cultural. Em seguida sob o comando de Necao, o Egito viveu o seu último momento de esplendor imperial, intensificando o seu comércio com a Ásia, visando unir o rio Nilo ao Mar Vermelho. Nesse sentido, Necao financiou a expedição do navegador fenício, Hamon, o qual realizou uma viagem singular para aquela época: partiu do Mar Vermelho e, em três anos, contornou a costa africana, retornando ao Egito pelo Mar Mediterrâneo.

Depois de Necao, as lutas internas entre a nobreza, os burocratas, os militares e os sacerdotes, somadas as rebeliões camponesas, determinaram o enfraquecimento do império.

O Egito e outros povos africanos

Os egípcios estabeleceram diversas relações com outros povos africanos, especialmente com as sociedades que se organizaram na região da Núbia. Esse território estava ao sul do Egito e podia ser alcançado por meio de rotas fluviais que seguiam o curso do Rio Nilo.

No comércio com a Núbia, os egípcios vendiam alimentos e ferramentas e obtinham riquezas como ouro, joias, penas, marfim, peles de animais e outras mercadorias valiosas. Parte desses produtos tinha origem na África Central e chegava ao Egito por meio de rotas terrestres que interligavam a Núbia a outras regiões do continente africano.

Além do comércio, egípcios e núbios travaram guerras e conflitos, disputando territórios ao longo do tempo.

Decadência do Egito

Depois do século XII a. C., o Egito foi sucessivamente invadido por diferentes povos. Em 670., os assírios conquistaram o Egito, dominando-os por oito anos.

Após se libertar dos assírios, o Egito iniciou uma fase de recuperação econômica e brilho cultural, conhecida como renascença saíta por ter sido impulsionada pelos soberanos da cidade de Sais.

Contudo, a prosperidade durou pouco. Em 525 a. C., os persas conquistaram o Egito. Quase dois séculos depois, os macedônios, comandados por Alexandre Magno, derrotaram os persas. Finalmente, em 30 a. C., o Egito foi dominado pelos romanos. 

Economia 

Na economia egípcia predominou o modo de produção asiático. O Estado, representado pelo faraó, controlava as atividades econômicas. Era dono da terra e comandava o trabalho agrícola. Administrava as pedreiras, as minas e a construção de canais, diques, templos, pirâmides, estradas, além de controlar o comércio exterior.

Assim, não havia no Egito pessoas atuando fora do controle do Estado. A maior parte delas vivia num regime de servidão coletiva, obrigada a sustentar o faraó e a elite dominante, pagando tributos em forma de bens ou de trabalho.

Entre as principais atividades econômicas desenvolvidas no Egito, citam-se: 

• agricultura – cultivo de trigo, cevada, linho e papiro;

• criação de animais – a criação de bois, asnos, carneiros, cabras, porcos e aves. A partir das invasões dos hiosos, começaram a criar cavalos;

• comércio exterior – importação e exportação de diversos produtos sob o controle do Estado, que enviava expedições para Creta, Fenícia, Palestina. Exportavam-se trigo, linho, cerâmicas; importavam-se marfim, perfumes, peles de animais.

Sociedade

A sociedade egípcia era estratificada, portanto, a hierarquia definia o papel que cada indivíduo desempenhava. Essa hierarquia pode ser representada em forma de pirâmide, e quanto mais perto do topo o sujeito estiver, maior sua importância social. Cada camada com suas funções bem definidas. Nessa sociedade, a mulher tinha grande prestígio e autoridade.

- O Faraó – No topo da pirâmide vem o faraó, com poderes ilimitados. Isso porque ele era visto como pessoa sagrada, divina, e aceito como filho de deus ou como o próprio deus. É o que se chama de governo teocrático, isto é, governo em nome de deus. O faraó era um rei todo-poderoso, proprietário do país inteiro. Os campos, os desertos, as minas, os rios, os canais, os homens, as mulheres, o gado e todos os animais - tudo lhe pertencia. Ele era ao mesmo tempo rei, juiz, sacerdote, tesoureiro, general. Era ele que decidia e dirigia tudo, mas, não podendo estar em todos os lugares, distribuía encargos para centenas de funcionários que o auxiliavam na administração do Egito. A sagrada figura do faraó era elemento básico para a unidade de todo o Egito. O povo via no faraó a sua própria sobrevivência e a esperança de sua felicidade.

- Os Sacerdotes – Os sacerdotes tinham enorme prestígio e poder, tanto espiritual como material, pois administravam as riquezas e os bens dos grandes e ricos templos. Eram também sábios do Egito, guardadores dos segredos das ciências e dos mistérios religiosos relacionados com seus inúmeros deuses.

- A Nobreza – A nobreza era formada por parentes do faraó, altos funcionários e ricos senhores de terras

- Os Escribas - Os escribas, provenientes das famílias ricas e poderosas, aprendiam a ler e a escrever e se dedicavam a registrar, documentar e contabilizar documentos e atividades da vida do Egito.

- Os Artesãos e Comerciantes – Os artesãos trabalhavam especialmente para os reis, para a nobreza e para os templos. Faziam belas peças de adorno, utensílios, estatuetas, máscaras funerárias. Trabalhavam muito bem com madeira, cobre, bronze, ferro, ouro e marfim. Já os comerciantes se dedicavam ao comércio em nome dos reis e nobres ou em nome próprio, comprando, vendendo ou trocando produtos com outros povos, como cretenses, fenícios, povos da Somália, da Síria, da Núbia, etc. O comércio forçou a construção de grandes barcos cargueiros.

- Os Camponeses – Os camponeses formavam a maior parte da população. Os trabalhos dos campos eram organizados e controlados pelos funcionários do faraó, pois todas as terras eram do governo. As cheias do Nilo, os trabalhos de irrigação, semeadura, colheita, armazenamento dos grãos obrigavam os camponeses a trabalhos pesados e mal remunerados. O pagamento geralmente era feito com uma pequena parte dos produtos colhidos e apenas o suficiente para sobreviverem. Viviam em cabanas humildes e vestiam-se de maneira muito simples. Os camponeses prestavam serviços também nas terras dos nobres e nos templos. O Egito era essencialmente agrícola, pois não sobrava terra e vegetação suficiente para criar muitos rebanhos. À custa da pobreza dos camponeses eram cultivados: cevada, trigo, lentilhas, árvores frutíferas e videiras. Faziam pão, cerveja e vinho. O Nilo oferecia peixes em abundância.

- Os Escravos – Os escravos eram, na maioria, capturados entre os vencidos nas guerras. Foram duramente forçados ao trabalho nas grandes construções, como as pirâmides, por exemplo.

Cultura

A cultura egípcia era profundamente influenciada pela religião; sobretudo a arte e a arquitetura. Contudo, os egípcios, buscando soluções para problemas práticos, também nos deixaram um vasto legado científico.

Religião

Os egípcios eram politeístas e adoravam seus em cerimônias patrocinadas pelo Estado (culto oficial) ou realizadas espontaneamente pelo povo (culto popular).

No culto oficial, destacava-se o deus Amon-Rá, fusão de Rá (deus do Sol e criador do mundo) e Amon (deus protetor de Tebas). No culto popular, devotavam-se sobretudo a Osíris (deus da vegetação, das forças da natureza e dos mortos), Ísis (deusa esposa e irmã de Osíris) e Hórus (deus do céu, filho de Ísis e Osíris).

Desde tempos remotos, eles prestavam culto ao Sol, considerado uma poderosa força de vida, assim como o Nilo. Além do Sol, os egípcios adoravam outros deuses e deusas, muitas vezes representados como animais ou seres com corpo humano e cabeça de animal.

Anúbis, deus dos mortos, por exemplo, era representado como um homem com cabeça de chacal (ou até mesmo somente como um chacal); o deus Hórus, que personificava a monarquia, era representado como um homem com cabeça de falcão, ou como um falcão, simplesmente. Muitas vezes, Hórus era representado apenas por seus olhos.

Cada cidade egípcia adorava seu próprio deus. Os templos erguidos em homenagem a esses deuses contavam com grande número de sacerdotes e sacerdotisas. Cabia a eles organizar tarefas como cuidar das divindades, oferecer-lhes comida, organizar festividades em sua honra e escrever ou copiar os textos sagrados.

Trechos do Livro dos Mortos

Acreditando na ressurreição da alma, os egípcios preservavam o corpo dos mortos por meio da mumificação. Os egípcios acreditavam que, para a vida continuar existindo, após o falecimento era preciso preservar o corpo dos mortos, pois somente assim a alma poderia renascer. Nos sarcófagos, junto das múmias, guardavam alimentos, roupas, joias e um exemplar do Livro dos mortos, coleção de textos religiosos para serem recitados no tribunal de Osíris.

O Livro dos mortos dos antigos egípcios não era exatamente um livro, mas um conjunto de orações e magias. Seu conteúdo variava com o passar do tempo, mas sempre manteve certos ensinamentos para garantir a ressurreição do morto e ajudá-lo em sua viagem no além-túmulo. Trechos desses ensinamentos eram pintados com uma série de ilustrações nas paredes das tumbas e nos sarcófagos dos faraós.

Mumificação

Os egípcios antigos acreditavam na vida após a morte no reino de Osíris. Lá, os mortos seriam julgados e, se fossem absolvidos, poderiam retornar a seus próprios corpos. Por isso, havia uma preocupação em conservar o corpo após a morte, o que contribuiu para o desenvolvimento de técnicas de mumificação.

A mumificação era um processo que visava preservar o corpo da pessoa que havia morrido. Para isso, retiravam-se partes internas do organismo, desidratava-se o corpo e nele eram introduzidas substâncias químicas que evitavam a decomposição.

Havia vários tipos de mumificação. Alguns eram mais simples e baratos, outros mais caros e duradouros. A escolha do tipo de mumificação dependia das possibilidades de cada família para pagar o artesão que fazia esse trabalho.

Ao realizar mumificações, os egípcios desenvolveram também estudos sobre o corpo humano que resultaram em conhecimentos médicos, como a criação de fórmulas químicas para diminuir a dor (analgésicos), tratamento dos dentes e técnicas cirúrgicas.

Deuses e templos

Geralmente, cada cidade tinha um deus principal que era cultuado em um templo. Entre os templos mais conhecidos, estão os de Luxor e de Karnak, próximos a Tebas, antiga capital egípcia.

O templo de Karnak era dedicado à principal divindade egípcia: Amon-Rá, o deus Sol, cultuado em todo o Egito, a quem eram oferecidas as conquistas militares. Para a maioria da população, também era importante o culto a Osíris (deus dos mortos e da ressurreição), a Ísis (deusa da vida, esposa e irmã de Osíris) e a Hórus (deus do céu e dos faraós, filho de Ísis e Osíris).

Os antigos egípcios prestavam homenagens aos deuses e dedicavam-lhes tributos ou oferendas. Acreditando que os deuses tinham desejos parecidos com os dos humanos, os egípcios ofereciam-lhes presentes como bebidas, comidas e festas.

Escrita egípcia

No Egito desenvolveram-se três tipos de escrita: a hieroglífica (sagrada), hierática (para documentos) e a demótica (popular). 

A escrita egípcia é, junto com a dos sumérios, uma das mais antigas do mundo, e ambas utilizavam sinais pictográficos. Os sinais egípcios ficaram conhecidos como hieróglifos (escrita sagrada), por isso é chamada escrita hieroglífica. A escrita hieroglífica é a mais antiga e tinha um uso restrito, sendo encontrada principalmente em templos e túmulos.

Os hieróglifos foram inventados na época da unificação do Alto e do Baixo Egito, por volta de 3200 a.C. Eram inicialmente escavados ou pintados em pedra, nas paredes de monumentos e em templos religiosos. Posteriormente, por volta de 3000 a.C., os egípcios desenvolveram o papiro, uma espécie de papel feito de uma planta de mesmo nome encontrada nos pântanos da região. Para escrever nos papiros, os egípcios utilizavam pincéis de junco e tintas de cores preta e vermelha.

Para registros do cotidiano, negócios e questões administrativas, foi desenvolvida uma escrita mais simples, conhecida como hierática, que vigorou por mais de 2 mil anos. A hierática, uma variação da hieroglífica, aparece em textos sagrados, administrativos e literários. E a demótica, a mais recente e popular, era empregada sobretudo para tratar das questões comerciais e cotidianas. Nesse tipo de escrita, os sinais passaram a representar os sons das palavras.

O domínio da escrita era um conhecimento hereditário, ou seja, passado de uma geração para a outra, e estava restrito a um grupo pequeno de pessoas, formado pelos membros da família do faraó, sacerdotes e escribas. Cabia aos escribas controlar tudo o que era produzido no Egito, cuidar dos projetos de construção de obras públicas – como diques, canais de irrigação, palácios e templos –, administrar a mão de obra e fazer os cálculos dos impostos que os pastores e agricultores deveriam pagar. A população em geral, por sua vez, fazia uso da oralidade para transmitir de uma geração a outra suas histórias, seus mitos e suas crenças, mantendo viva, dessa maneira, a tradição oral do povo egípcio.

A decifração destas escritas coube ao francês Champollion, que utilizou uma pedra encontrada na região de Roseta, por um soldado de Napoleão Bonaparte, em 1799. a partir daí, iniciaram-se estudos cada vez mais aprofundados sobre o Egito Antigo, inaugurando-se a Egiptologia. O registro escrito egípcio era feito em pedra, madeira ou papiro.

Artes         

A principal arte desenvolvida no Egito Antigo foi a arquitetura. Marcada pela religiosidade, arquitetura voltou-se para a construção de belos e grandes templos, como os templos de Karnac, Luxor e Abu-Simbel, e de gigantescas pirâmides como as de Quéops, Quéfren e Miquerinos. Para confundir possíveis salteadores, o interior das pirâmides era um verdadeiro labirinto, e o sarcófago do faraó ficava em uma câmara secreta.

As construções religiosas eram decoradas com estátuas e pinturas, que representam cenas do cotidiano. Os sarcófagos (túmulo em que os antigos colocavam os cadáveres que não eram cremados) eram feitos de madeira ou pedra e possuíam a feição dos mortos, para facilitar o trabalho de reconhecimento da alma em seu possível retorno após a morte.

A escultura atingiu o auge com a construção de monumentos de grandes estátuas de faraós.  

As pinturas e as esculturas eram geralmente acompanhadas de inscrições hieroglíficas que explicavam as cenas ou figuras ali representadas.

A escultura e a pintura egípcia eram diretamente influenciadas pela religião. A maior parte das estatuetas e das pinturas servia para decorar túmulos e templos. Tanto na pintura quanto na escultura, as figuras humanas eram representadas numa posição rígida e respeitosa, geralmente com a cabeça e as pernas de perfil e o tronco de frente (postura hierática). Esse tipo de representação constitui uma característica geral da arte egípcia, embora haja exceções.

Pirâmides

A crença na vida após a morte também esteve relacionada com a construção de sofisticadas tumbas, o que exigiu conhecimentos avançados de matemática e engenharia. As tumbas egípcias mais conhecidas são as pirâmides.

Na região de Gizé (próxima ao Cairo, a atual capital egípcia), estão localizadas as pirâmides dos faraós Quéops, Quéfren e Miquerinos. A maior delas é a de Quéops, com cerca de 150 metros de altura, o que corresponde a um prédio de mais ou menos 50 andares. A menor é a de Miquerinos.

Para a construção dessas pirâmides, foram utilizados blocos de pedra resistentes, como o granito ou o basalto. Calcula-se que na pirâmide de Quéops tenham sido utilizados mais de dois milhões de blocos de pedra.

À frente dessas três pirâmides, foi construída a Esfinge de Gizé. Trata-se de uma enorme escultura que tem por volta de 20 metros de altura e representa uma cabeça humana em corpo de leão. 

Acreditava-se que ela era a guardiã das pirâmides. A parte interna das pirâmides, onde ficavam os túmulos, podia ser decorada com expressões artísticas que retratavam cenas da história do morto ou as características pelas quais ele queria ser lembrado.

Ciências

Os egípcios desenvolveram o saber científico visando resolver problemas práticos e concretos. 

• Química – a manipulação de substâncias químicas surgiu no Egito e deu origem à fabricação de diversos remédios e composições. A própria palavra química vem do egípcio kemi, que significa “terra negra”.

• Matemática – as transações comerciais e administração dos bens públicos exigiam a padronização de pesos e medidas, isto é, um sistema de notação numérica e de contagem. Desenvolveu-se, assim, a Matemática, incluindo a Álgebra e a Geometria.

• Astronomia – para a navegação e as atividades agrícolas, os egípcios orientavam-se pelas estrelas. Fizeram, então, mapas do céu, enumerando e agrupando as estrelas em constelações.

• Medicina – a prática da mumificação contribuiu para o corpo humano. Alguns médicos acabaram se especializando em diferentes partes do corpo, com os olhos, cabeça, dentes, ventre.

  Mulheres no Egito antigo

As mulheres desempenhavam importantes papéis sociais e políticos no Egito antigo. O sistema jurídico garantia igualdade entre homem e mulher.

Assim, houve mulheres faraós, sacerdotisas, funcionárias do governo, artesãs e camponesas. É certo que a maioria dos faraós egípcios foram homens, mas algumas mulheres também governaram com esse título.

Uma delas foi Hatshepsut, que reinou durante cerca de duas décadas no século XV a.C. Sob o governo dela, foram construídas e restauradas edificações em várias partes do Egito. Seu reinado foi considerado pacífico e próspero. Além de Hatshepsut, outra faraó muito conhecida foi Cleópatra, que governou entre 51 a.C. e 30 a.C., época em que o Egito foi dominado pelos romanos.

 

Os primeiros habitantes da América

O povoamento da América

Segundo muitos cientistas, foi no continente africano que surgiram os “primeiros humanos”. Da África, nossos ancestrais deslocaram-se para outras regiões da Terra, ocupando os mais variados ambientes no decorrer de milhares de anos. Uma dessas regiões foi a América.

O povoamento da América é um assunto fascinante pesquisado por muitos estudiosos. Essas pesquisas apontam que os humanos habitam a América, no mínimo, há mais de 10 mil anos. Isso é demonstrado por diversos vestígios, como pontas de lança, artefatos de pedra, ossos de mulheres e homens etc. Todos esses vestígios são utilizados para formular hipóteses sobre o modo de vida dos primeiros povos americanos.

Há várias hipóteses sobre a ocupação humana da América. Estudiosos elaboraram algumas hipóteses sobre esse deslocamento. Hipóteses são suposições que os pesquisadores fazem e, depois, procuram comprovar em suas pesquisas. Vamos conhecer algumas delas.

• Hipótese asiática – segundo essa hipótese, as primeiras migrações para o continente americano ocorreram pelo Estreito de Bering. Com o volume dos oceanos mais baixo, grupos humanos teriam se deslocado da Ásia para a América atravessando uma passagem de terra e gelo que ligava a Sibéria (Ásia) e o Alasca (América). Para suportar o frio intenso da região, frequentemente abaixo de -35 °C, esses humanos teriam confeccionado roupas e sapatos com peles grossas de animais para resistir à neve. Essa versão do povoamento é conhecida como teoria de Clóvis. Ela se originou das pesquisas realizadas no sítio arqueológico de Clóvis ou Folson, no estado do Novo México, Estados Unidos, em 1937. Os vestígios deixados pelos grupos humanos que aí viveram, basicamente pontas de pedra lascada e ossadas dos animais que caçavam, constituíram a chamada cultura Clóvis.

• Hipótese malaio-polinésia – existe também a possibilidade de que os primeiros povoadores tenham construído embarcações para vir para a América pela Polinésia, que é um conjunto de ilhas situado no Oceano Pacífico.

• Hipótese da dupla origem – outros pesquisadores defendem uma terceira hipótese, que é uma combinação das anteriores: os primeiros seres humanos teriam migrado para a América atravessando o Estreito de Bering e, também, navegando pelo Oceano Pacífico.

Alguns estudiosos, com base na idade dos fósseis encontrados, afirmam que as primeiras migrações do ser humano para a América ocorreram aproximadamente entre 12 mil e 20 mil anos atrás. Entretanto, outros pesquisadores, como a arqueóloga brasileira Niéde Guidon, defendem que as mais antigas travessias foram realizadas entre 40 e 70 mil anos atrás, e que o ser humano chegou a América por diferentes vias de acesso.

Entre os principais sítios arqueológicos a fornecer dados que permitem questionar a teoria de Clóvis está o de Monte Verde, no Chile.

Em Monte Verde, no Chile, foram descobertas centenas de artefatos de pedra e restos de alimentos mais antigos que as lascas de pedra encontradas em Clóvis. Além de ferramentas de pedra, o sítio de Monte Verde reúne um vasto tesouro da arqueologia americana. Lá foram encontradas fundações de casas em madeira, ossos de animais, plantas comestíveis, como batatas selvagens, nozes e cogumelos, além de diferentes espécies de plantas medicinais.

As descobertas arqueológicas no sul do Chile fizeram surgir novas hipóteses:

• O povoamento da América do sul pode ter sido anterior ao da América do Norte.

• Os povoadores da América entraram no continente por vários caminhos, não só pelo Estreito de Bering.

• Os alimentos vegetais eram importantes em Monte Verde. 

Outros sítios arqueológicos, pesquisados em vários países da América, revelaram vestígios de datas mais antigas que os de Monte Verde, chegando talvez a cerca de 50 mil anos.

Diversidade cultural

Os primeiros grupos humanos que chegaram à América foram, aos poucos, se espalhando por esse continente. Durante um ou dois milênios, ocuparam e se adaptaram aos diversos ambientes naturais, desde o norte até o sul. Esses grupos foram povoando áreas que correspondem, atualmente, às florestas do leste dos Estados Unidos, aos desertos do México, à bacia do Rio Amazonas, aos vales das montanhas andinas e ao litoral do Brasil. Alcançaram, até mesmo, as ilhas da Terra do Fogo, no extremo sul do continente, que atualmente pertencem ao Chile e à Argentina.

O povoamento da América provocou impactos naturais e a extinção de parte da fauna original. Nessa fauna havia, por exemplo, tigres-dentes-de-sabre, mamutes, mastodontes, leões-americanos e cavalos nativos. Também havia preguiças-gigantes, que podiam pesar 8 toneladas e alcançar 6 metros de altura. No entanto, a maioria dessas espécies foidesaparecendo devido, entre outros fatores, à caça promovida pelos grupos humanos.

Ao modificar a natureza e a paisagem, cada povo desenvolveu sua cultura, que se manifestava em um conjunto de bens materiais e imateriais, como o jeito próprio de construir instrumentos, organizar a vida social e homenagear seus deuses.

A seguir, vamos estudar alguns aspectos da história dos primeiros povoadores de áreas que hoje compõem o território brasileiro. As descobertas arqueológicas que ocorreram no Brasil foram importantes para a compreensão da história dos primeiros povos que viveram nessas terras. Além disso, até agora, os fósseis humanos encontrados no atual território brasileiro estão entre os mais antigos da América.

Vestígios arqueológicos no Brasil

No Brasil, os mais antigos vestígios desses povos datam do período paleolítico: sambaquis, utensílios primitivos e pinturas rupestres. O conjunto de vestígios encontrados em determinada região é chamado de sítio arqueológico, e sua análise cabe à Arqueologia, a ciência que estuda os povos pré-históricos. Através desse estudo desenvolveu-se o conhecimento do período anterior à chegada de Cabral ao Brasil, em 1500.

Sambaquis são volumosos montes de conchas e esqueletos de peixes, associados a objetos de pedra, às vezes com mais de 10 metros de altura. Distribuídos por todo o litoral brasileiro, destacadamente no Sul, atestam que ali viveram grupos humanos que se alimentavam de animais marinhos há mais de 10 000 anos.

Utensílios primitivos também foram encontrados em diversos pontos do litoral e do interior do Brasil: pontas de flechas, machados e outros instrumentos, além de potes de barro, alguns decorados e usados como urna para os mortos, dentro dos quais foram achados esqueletos.

Pinturas rupestres, compostas de desenhos de figuras humanas e de animais, cenas de caça e pesca, foram encontradas nas paredes de grutas e cavernas e em lajes de pedras em lugares abertos. São famosas as pinturas rupestres de cavernas em Minas Gerais e em São Raimundo Nonato, no Piauí. 

As descobertas arqueológicas no Brasil

Desde o século XIX são realizadas pesquisas arqueológicas no brasil. Entre 1834 e 1846, o dinamarquês Peter Lund, pesquisando na região de Lagoa Santa, no interior de Minas Gerais, encontrou vestígios de grupos de caçadores que viveram no local há milhares de anos.

Lagoa Santa

Em 1834, o pesquisador dinamarquês Peter Lund (1801-1880) encontrou fósseis de cerca de trinta pessoas na Gruta do Sumidoro, que fica no município de Lagoa Santa, no estado de Minas Gerais.

Depois, vieram muitas outras descobertas. Uma delas foi realizada na mesma região de Lagoa Santa, entre 1974 e 1975, pela equipe coordenada pela arqueóloga francesa Annette Laming-Emperaire. Mas foi apenas na década de 1990 que um dos esqueletos descobertos em Lagoa Santa pela equipe de Annette recebeu atenção especial dos pesquisadores. O esqueleto era de uma mulher que viveu há cerca de 11 mil anos, talvez o mais antigo de toda a América. Esse achado foi batizado de “Luzia” pelo arqueólogo brasileiro Walter Neves.

Segundo Walter Neves, os estudos sobre Luzia indicam que seus antepassados chegaram à América há pelo menos 15 mil anos, possivelmente pelo Estreito de Bering. Além disso, Neves e sua equipe analisaram esse crânio e identificaram traços semelhantes aos de africanos e de nativos australianos. Entretanto, mais recentemente, outros pesquisadores questionaram essa hipótese, defendendo que Luzia apresenta traços similares aos de povos da Sibéria e do norte da China. 

Os estudos também indicam que o chamado povo de Luzia se abrigava nas grutas da região, onde também foram encontrados pinturas rupestres de peixes, veados, figuras humanas, aves, entre outros vestígios.

As pesquisas na região de Lagoa Santa permitiu conhecer os hábitos dos povos que habitavam a região há milhares de anos. Esses povos são conhecidos como Homens de Lagoa Santa.

Hoje existem muitos outros sítios arqueológicos sendo estudados. Vamos conhecer com mais detalhes os de São Raimundo Nonato e Pedra Pintada, dois dos principais sítios arqueológicos do país.

São Raimundo Nonato

Além das descobertas em Lagoa Santa. No início dos anos 1970, sob a coordenação de Niède Guidon, uma equipe de pesquisadores começou a estudar um sítio arqueológico na região de São Raimundo Nonato, no interior do piaui. O resultado das pesquisas provocou verdadeira revolução nos estudos arqueológicos brasileiros. 

Pesquisas realizadas pela arqueóloga franco-brasileira Niède Guidon, em São Raimundo Nonato e municípios adjacentes, no estado do Piauí, sugerem que homens e mulheres habitavam aquela porção do atual território brasileiro há, pelo menos, 50 mil anos. Essas pesquisas foram decisivas para a criação, em 1979, do Parque Nacional Serra da Capivara, cujo objetivo é proteger os monumentos arqueológicos e o ambiente natural da região. Em 1991, esse parque foi reconhecido como Patrimônio Cultural Mundial pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).

O parque abriga mais de mil sítios arqueológicos, onde foram encontrados diversos vestígios de ocupação humana. Entre eles, podemos destacar fósseis humanos de 10 mil anos, objetos confeccionados com pedras lascadas e polidas (como machado, pilão e ponta de flecha), além de uma significativa concentração de pinturas rupestres que têm de 6 mil a 12 mil anos.

Para a arqueóloga Niède Guidon, os grupos humanos que habitaram a região formavam comunidades de caçadores-coletores, abrigavam-se em grutas, tinham o domínio do fogo e sabiam construir instrumentos de pedra.

A análise de fósseis de plantas indicou que na região existia densa floresta tropical, habitada por cavalos, tigres dente-de-sabre, lagartos, capivaras, preguiças e tatus gigantes. Muitos desses animais podem ter sido fonte de alimentação para os povos que habitavam a região. Esses povos praticavam a caça e utilizavam o fogo para cozinhar, defender-se e atacar os inimigos.

Entre os sinais que deixaram, os arqueólogos identificaram mais de 25 mil figuras rupestres, em mais de 200 abrigos. Foram encontrados ainda fragmentos de fogueiras, machados, facas e raspadores. Acredita-se que esses vestígios podem chegar a ter 48 mil anos de idade. Segundo Niède Guidon, esses vestígios indicariam que a ocupação na América do Sul ocorreu bem antes do que se imaginava.

Muitos pesquisadores, entretanto, questionam os resultados das pesquisas realizadas em São Raimundo Nonato. Como lá não foram encontrados fósseis humanos com idade superior a 8 mil anos, eles acreditam que as fogueiras e as pedras polidas podem ter sido produzidas pela ação de incêndios ou raios e não por seres humanos. A polêmica está relacionada a algumas pedras lascadas e restos de fogueiras que podem ter mais de 50 mil anos. A dúvida vai persistir até a descoberta de um vestígio ósseo que comprove a presença humana em períodos mais remotos.

Caverna de Pedra Pintada

Em 1996, pesquisadores norte-americanos, brasileiros e franceses, sob a coordenação da arqueóloga Anna Roosevelt, comprovaram que seres humanos na região da Amazônia há pelo menos 11 200 anos.

Os vestígios foram encontrados na Caverna da Pedra Pintada, no município de Monte Alegre, à margem esquerda do rio Amazonas. Entre os inúmeros vestígios da presença humana, havia fragmentos de objetos, pinturas rupestres, lascas de cerâmica e restos de fogueiras e de ossos de animais carbonizados.

A partir desses vestígios, os pesquisadores constataram que os habitantes da Pedra Pintada dominavam o fogo e eram caçadores. Para a pesquisadora, diversos sítios no Brasil constituem provas mais do que convincentes de que a ocupação da América se deu há mais de 20 mil anos.

Inscrições rupestres

As inscrições rupestres estão entre as expressões artísticas mais antigas criadas pelos seres humanos. Essas inscrições são encontradas em superfícies rochosas, como as paredes e o teto de cavernas e grutas. Rupestre significa “feito em rocha”. A forma mais comum de arte rupestre são as pinturas. Elas eram feitas com tintas fabricadas pela mistura de certos pigmentos, obtidos de alguns minerais e vegetais. Por exemplo:

• com ferrugem (cujo nome científico é óxido de ferro) e manganês, eram produzidas as cores vermelha, amarela e ocre;

• com urucum e carvão, eram obtidas as cores vermelha, preta e marrom.

Além de revelar o senso artístico desses povos, os especialistas supõem que as pinturas rupestres também tinham função educativa. Eram provavelmente usadas para ensinar aos mais jovens como realizar as atividades do dia a dia: caçar, pescar, defender-se dos perigos etc.

Um aspecto interessante das inscrições rupestres é que elas podiam ser complementadas ao longo de várias gerações. Isso significa que uma pessoa, por exemplo, fazia um desenho ou pintura e, muitos anos depois, outra pessoa acrescentava detalhes a ele.

No continente americano, foram encontradas milhares de inscrições rupestres. O Parque Nacional Serra da Capivara, por exemplo, reúne uma das maiores concentrações de pinturas rupestres do mundo.

Povos do litoral

Por volta de 6 mil anos atrás, parte do litoral brasileiro (do Espirito Santo ao Rio Grande do Sul) foi habitada por povos seminômades, com certa unidade cultural em função da adaptação ao ambiente litorâneo. Deixaram como vestígios de sua presença os sambaquis, palavra de origem tupi que significa “monte de mariscos”.

Os sambaquis foram utilizados para enterrar os mortos com seus objetos pessoais (enfeites, utensílios e armas), o que indica uma provável preocupação religiosa com a morte.

Os estudos dos sambaquis revelam aspectos da cultura dos povos litorâneos de nossa Pré-história. Esses povos formavam aldeias com cerca de 100 a 150 habitantes em média. Viviam da coleta, da caça e principalmente da pesca. Utilizavam instrumentos feitos de pedra (enfeites, facas, flechas, machados) e de ossos (arpões, agulhas, anzóis). Tinham o domínio do fogo e assavam os alimentos, que eram divididos entre os membros do grupo.

Durante cerca de 5 mil anos, os povos do sambaquis expandiram-se com brilho e vigor. Sofreram, por fim, o ataque dos índios tupi-guaranis, vindos do interior do território brasileiro.

Primeiros povoadores

O atual território brasileiro é uma das regiões da América habitada há pelo menos 10 mil anos.

Caçadores-coletores

Os povos caçadores-coletores viviam da caça, da pesca e da coleta de alimentos. Não praticavam a agricultura, mas tinham o domínio do fogo e fabricavam instrumentos variados, feitos de pedra e de ossos.

Embora existam muitas semelhanças entre os modos de vida dos primeiros povos caçadores-coletores, também é possível identificar diferenças entre eles. Aliando trabalho e criatividade, esses povos desenvolveram culturas próprias.

A maioria das informações que temos sobre eles vem de inscrições rupestres e dos vestígios de seus instrumentos, alimentos e habitações. No estado de São Paulo, por exemplo, os pesquisadores acharam diversos tipos de ponta de flecha. Em Minas Gerais e no Piauí, descobriram uma grande quantidade de pinturas rupestres que provavelmente foram elaboradas por esses povos.

Já no Rio Grande do Sul, foram encontradas facas de pedra em forma de bumerangue e boleadeiras, que é um instrumento composto de duas ou três bolas de pedra amarradas por um cordão, feito geralmente de couro. As boleadeiras eram lançadas nas patas do animal para derrubá-lo. Até hoje elas são usadas por alguns gaúchos que vivem no campo e criam animais.

Sambaquieiros

Por volta de 8 mil anos atrás, parte do litoral brasileiro era habitada por povos seminômades. Alguns desses povos deixaram como vestígios de sua presença os sambaquis.

Sambaqui (palavra de origem tupi que significa “monte de conchas”) é um acúmulo de conchas de moluscos e restos de animais, como peixes e aves, que essas comunidades  depositaram em determinados locais ao longo do tempo.

Existem sambaquis que atingem até 30 metros de altura e 400 metros de comprimento por 100 metros de largura.

Os sambaquis eram utilizados para enterrar os mortos e seus objetos pessoais (enfeites, utensílios e armas). Isso indica que, provavelmente, já existia entre os sambaquieiros uma preocupação religiosa com a morte. Esses povos também costumavam construir suas habitações sobre os montes de conchas.

Os estudos dos sambaquis sugerem que, até por volta de mil anos atrás, muitos desses povos formavam aldeias com cerca de 150 habitantes. Viviam da coleta, da caça e, principalmente, da pesca. Utilizavam instrumentos feitos de pedra (enfeites, facas, flechas, machados) e de osso (arpões, agulhas, anzóis). Tinham também o domínio do fogo e assavam os alimentos.

A expansão territorial dos sambaquieiros durou cerca de 5 mil anos e foi interrompida pela ocupação de grande parte do litoral e parte do interior por aldeias da etnia Tupi.

Destruição dos sambaquis

No final do século XV, com a chegada dos europeus ao continente americano, muitos sambaquis foram destruídos.

Alguns portugueses tiravam as conchas dos sambaquis para fabricar cal (material usado na construção de habitações). Atualmente, a preservação dos sambaquis continua sendo ameaçada. Eles são destruídos com o objetivo, por exemplo, de abrir caminho para novas construções ou de extrair materiais para a produção agrícola. Também é comum os sambaquis se deteriorarem por causa do trânsito de pessoas e de veículos, sobretudo em áreas litorâneas exploradas pelo turismo.

Apesar desse processo de destruição, ainda existem sambaquis no litoral brasileiro, muitos deles estudados por equipes de arqueólogos e historiadores. Os sambaquis estão localizados desde o estado do Rio Grande do Sul até o Espírito Santo. Têm idades variadas, embora seja difícil dizer exatamente quando foram formados.

Alguns, como o de Capelinha (São Paulo), têm cerca de 8 mil anos. Outros, como os de Paranaguá (Paraná), têm entre 6 mil e 7 mil anos.

Agricultores

A região amazônica teve destaque na introdução da agricultura nas terras que atualmente compõem o território brasileiro. Segundo o arqueólogo Eduardo Góes Neves, é provável que povos da Amazônia tenham desenvolvido formas iniciais de agricultura a partir de 6000 a.C. Por volta de 1000 a.C., esses povos já adotavam modos de vida plenamente agrícolas. Isso contribuiu para que a população aumentasse e migrasse para outras regiões do atual Brasil.

Entre as plantas cultivadas por esses povos estavam a mandioca, a pupunha, o abacaxi, o maracujá, o cacau, o feijão, o amendoim, o tomate, a abóbora e o açaí. Atualmente, essas plantas são amplamente consumidas e comercializadas em vários continentes, como na África, na Ásia e na Europa.

Ceramistas

A região amazônica também teve um importante papel na introdução da cerâmica. Foram encontradas cerâmicas no atual estado do Pará que datam de cerca de 5000 a.C. As cerâmicas amazônicas são consideradas as mais antigas das Américas. Os povos ceramistas da Amazônia confeccionavam objetos como potes, vasos, panelas, tigelas etc.

Embora exista uma forte relação entre o desenvolvimento da cerâmica e o da agricultura, isso não quer dizer que todo povo ceramista fosse agricultor. Havia, inclusive, povos caçadores-coletores que produziam cerâmicas.

Entre os povos amazônicos, vamos destacar aqueles que viviam no atual município de Santarém e na Ilha de Marajó, ambos pertencentes ao atual estado do Pará, há cerca de 2 000 anos. Nessas regiões, foram encontradas cerâmicas originais e bem elaboradas.

Cerâmicas santarena e marajoara

Os povos santarenos e marajoaras produziram diversos objetos de cerâmica, como recipientes decorados, urnas funerárias e estatuetas com forma de seres humanos (antropomórficas) e de animais (zoomórficas).

Os santarenos criaram cerâmicas com pinturas, desenhos em relevo e esculturas que eram moldadas separadamente e aplicadas nas bordas dos vasos. Já os marajoaras produziram objetos de cerâmica enfeitados com pinturas em preto e vermelho sobre um fundo branco. Para alguns estudiosos, essas pinturas estão entre as mais belas do mundo.


Pré-história

 Investigando nossas origens

A Pré-história corresponde ao período que vai do surgimento do homem primitivo (hominídeo) até a invenção da escrita.

Começa há 3,5 milhões de anos, quando surgem os macacos hominídeos, antecessores do homem moderno. A domesticação de animais, o surgimento da agricultura, a utilização dos metais e a descoberta da escrita marcam o fim dessa fase.

O termo Pré-história tem sido criticado, pois pode sugerir que o homem desse período não deva ser incluído na História. Ora, o homem, desde seu aparecimento, é um ser histórico, ainda que ele não utilizasse a escrita. Ela não deve significar que os acontecimentos da pré-história são menos importantes do que os ocorridos em qualquer outro momento do passado; ou que uma sociedade é superior a outra, seja pelo domínio da escrita, de equipamentos técnicos seja por qualquer outro motivo.   

Fontes para estudo da Pré-história

O homem pré-histórico deixou uma série de vestígios de sua existência e de seu modo de vida: fósseis, instrumentos, pinturas etc. Entre as ciências que pesquisam essas fontes pré-históricas destacam-se a paleontologia Humana e a Arqueologia Pré-histórica.

A Paleontologia Humana estuda os fósseis dos corpos dos homens pré-históricos, geralmente ossos e dentes, partes mais resistentes, que se preservaram ao longo do tempo.

A Arqueologia Pré-histórica estuda objetos feitos pelo homem pré-histórico, procurando descobrir como eles viviam. Instrumentos de pedra e metal, peças cerâmicas, sepulturas são alguns desses objetos.

Evolução dos hominídeos

Todos os seres humanos descendem do mesmo ancestral comum, o hominídeo, cujos fósseis mais antigos foram localizados no continente africano. As primeiras espécies encontradas foram o Australopithecus e o Homo habilis.

O Australopithecus possuía uma arcada dentária e um esqueleto idênticos aos do homem atual. Além disso, já andavam sobre dois pés e possuía um cérebro pequeno. Já o Homo habilis foi o primeiro a fabricar e utilizar instrumentos para diversos fins, além de já ter domínio sobre o fogo.

Os restos de hominídeos mais antigos são os do Australopithecus afarensis, de cerca de 3 milhões de anos, encontrados em Afar (Etiópia) em 1925. A evolução do afarensis resulta em pelo menos duas outras linhagens: o Australopithecus africanus e os Paranthropus boisel e robustus. Os Paranthropus não deixam vestígios de evolução. O Australopithecus africanus evolui para o Homo erectus ou Pitecanthropus, há cerca de 2 milhões de anos.

Homo erectus

É o primeiro a usar objetos de osso e pedra como ferramentas e como arma, a empregar o fogo e, provavelmente, a falar. Parece ter sido o Homo erectus a última escala evolutiva até o homem atual. Foi ele quem primeiro abandonou a África, com seu nomadismo, espalhando-se pelo mundo. Antes de chegar à espécie atual – o Homo sapiens – , o homem passou por uma série de transformações, conforme atestam os fósseis encontrados em Neanderthal, na Alemanha, e em Cro-Magnon, na França.

 Evolui, há 700 mil anos, para o Homo neanderthalensis (o homem de Neanderthal) e, há 500 mil anos, para o Homo sapiens, do qual descende o homem atual. A evolução histórica dos hominídeos até o Homo sapiens não ocorre de forma linear. Agrupamentos inteiros do gênero Homo desaparecem em conseqüência de variações climáticas, condições geográficas e outros fenômenos naturais.

Após uma longa evolução, que se iniciou há cerca de 1 milhão de anos, os descendentes dos primeiros hominídeos espalharam-se pela Ásia, África e Europa

Regiões de origem da espécie humana

Há pelo menos duas teorias sobre o local onde surgem os antepassados do homem. A primeira sustenta, com base na descoberta do afarensis, que a origem é a África, de onde teria começado a se espalhar pelo mundo há 200 mil anos. A segunda apoia-se nos achados de restos do Homo erectus em Java, Indonésia (1,8 milhão de anos), e do Homo sapiens em Jinniushan, China (200 mil anos), e diz que a evolução de uma espécie ocorre em diferentes regiões da Terra, em momentos nem sempre coincidentes.

Divisão da Pré-história

As fontes pré-históricas indicam que, nesse período, existiram diferentes culturas. Deduz-se que os objetos inicialmente tiveram formas variadas e foram feitos de diferentes materiais: madeira, osso, pedra lascada, pedra polida, metal.

A partir de constatações dessa natureza, dividiu-se a pré-história em três grandes períodos: 

• Paleolítico ou Idade da Pedra Lascada – período em que predominou a sociedade de homens caçadores.

• Neolítico ou Idade da Pedra Polida – período em que se desenvolveu a agricultura e a criação de animais.

• Idade dos Metais – período em que se desenvolveu a fundição de metais.

Essa divisão tradicional da pré-história baseia-se em uma concepção evolucionista do processo cultural do homem. Porém essa divisão é muito criticada, pois pressupõe que todas as sociedades passaram pelas fases por ela estabelecidas, o que nem sempre ocorreu. Apesar das falhas, é uma classificação adotada no mundo inteiro.

Paleolítico
A sociedade dos caçadores-coletores

Durante o Paleolítico, o homem tinha como principais atividades para obter alimentos: a coleta de frutos, grãos e raízes; a caça e a pesca. Aprendeu a confeccionar seus primeiros instrumentos com pedaços de madeira, osso e pedra. Os instrumentos de madeira não se conservaram, restando os de osso e pedra lascada, que constituem os predecessores mais antigos de machados, facas, perfuradores e raspadeiras.

O controle do fogo foi uma das maiores realizações humanas do Paleolítico. Representou a primeira grande conquista do homem sobre o meio ambiente. Passaram então a utilizá-lo para se aquecer, iluminar a noite, defender-se dos animais, cozinhar os alimentos. Ao longo do tempo, o controle do fogo permitiu, por exemplo, a fundição de metais e o cozimento de argila. O domínio do fogo e a utilização das primeiras ferramentas possibilitaram ao homem vencer dois grandes inimigos: o frio e a fome.

Para garantir sua sobrevivência, o homem teve de aprender a cooperar e a se organizar socialmente. Da eficiência dessa cooperação social dependia, por exemplo, o sucesso de uma caçada a um animal feroz e perigoso.

O modo de vida nômade foi dominante em diversas comunidades, mas acabou evoluindo para formas sedentárias à medida que o homem desenvolveu soluções para superar as dificuldades da natureza. Surgiram, então, os primeiros clãs, formados por conjuntos de famílias cujos membros descendiam de ancestrais comuns. Cada clã era autossuficiente, produzindo o necessário para garantir a sobrevivência de seus membros. Não havia a preocupação de produzir excedente para trocar com outros clãs ou de acumular riquezas. As trocas eram realizadas apenas eventualmente. Assim, o tempo dedicado ao trabalho limitava-se ao da obtenção do alimento necessário para o grupo. O resto do tempo era preenchido com brincadeiras, festas, danças, cerimônias, rituais, refeições, banhos etc.

O homem do paleolítico desenvolveu surpreendentes manifestações artísticas: figuras entalhadas em pedra, pinturas rupestres, modelagem em barro. A atividade artística parece ligada a rituais mágicos, pois as pinturas e as esculturas, no geral, representam animais que seriam caçados. Provavelmente, o homem paleolítico acreditava que, dessa forma, poderia dominá-los antecipadamente.

Neolítico
A revolução agropastoril

A característica fundamental do Neolítico está nas novas formas de relação do homem com o meio ambiente. De modo geral, durante o Paleolítico o homem apenas colhia da natureza os bens para satisfazer suas necessidades.

No Neolítico ocorreu uma transformação radical: o homem passou a intervir decisivamente no meio ambiente. Cultivando plantas e domesticando animais, conseguiu controlar as fontes de sua alimentação. Assim, a sobrevivência humana foi se libertando das mãos coletoras, passando a depender cada vez mais das mãos produtoras.

Essa mudança de comportamento representou uma das mais extraordinárias revoluções culturais da História, pois influenciou decisivamente no modo de vida do homem. No decorrer de um longo processo, à medida que as atividades agrícolas e pastoris se consolidavam, o homem foi abandonando a vida nômade e adotando sistematicamente o modo de vida sedentário. Com a revolução agropastoril, as comunidades puderam produzir mais alimentos do que o necessário ao consumo imediato. Passaram então, a estoca-los, procurando garantir o abastecimento nos períodos de escassez. O aumento da produção alimentar impulsionou o crescimento da população, que, em relação ao Paleolítico, multiplicou-se cerca de 20 vezes.

Entre as principais transformações que marcaram o período Neolítico, podemos destacar:

• Aperfeiçoamento dos instrumentos de pedra – facas, machados, foices e enxadas, pilão para transformar o grão em farinha etc. passaram a ser feitos de pedra polida.

• Cerâmica – a necessidade de cozinhar e armazenar os alimentos levou o homem a criar recipientes que suportassem o calor do fogo e pudessem conter líquidos. Assim, ele desenvolveu a técnica de moldar argila, dando-lhe forma, e produziu os primeiros utensílios cerâmicos.

• Tecelagem – o homem do neolítico desenvolveu técnicas de fiar e tecer, acrescentando às suas vestimentas de couro roupas feitas de linho, algodão e lã.

• Casas e aldeias – utilizando madeira, barro, pedra e folhagem seca, o homem passou a construir sua moradia, o que representou um incremento no processo de sedentarização que vinha se desenvolvendo em decorrência da revolução agropastoril.

• Vida espiritual – com a intensificação das atividades agropastoris, o homem neolítico adquiriu novos temores e preocupações relacionados, por exemplo, à variação do tempo durante o ano, à fertilidade do solo, à saúde e à reprodução de rebanhos etc. Para enfrenta-los, invocava a proteção de forças “sobrenaturais”, realizando ritos mágico-religiosos. Os menires e os dolmens provavelmente foram utilizados para reverenciar essas forças.

• Uso da roda – calcula-se que foram usadas grandes toras rolantes para transportar enormes blocos de pedra dos menires e dolmens ao local desejado. Essas toras representam o início rudimentar do emprego da roda, uma das mais extraordinárias invenções humanas.

Idade dos Metais

Uma nova revolução tecnológica

A Idade dos Metais caracterizou-se pelo desenvolvimento e difusão do processo de fundição de metais (cobre, bronze e ferro).

Por volta de 4000 a. C., as primeiras sociedades do Oriente Próximo começaram a desenvolver a metalurgia, ou seja, a utilização sistemática de metais para a fabricação dos mais variados objetos. O primeiro metal foi o cobre. De início era martelado a frio, depois fundido no fogo e colocado em moldes de barro ou pedra. Cerca de 2000 anos mais tarde, desenvolveu-se a liga do cobre com o estanho, obtendo o bronze, um metal mais resistente. O bronze passou a ser utilizado na fabricação de lanças, espadas, capacetes, ferramentas e objetos de adorno. Os metais, muitas vezes, eram extraídos de terras distantes das oficinas metalúrgicas.

O desenvolvimento da metalurgia representou enorme conquista tecnológica, pois possibilitou a produção de instrumentos e objetos resistentes, das mais variadas formas. Os metais, em geral, são tão duros quanto a pedra, mas podem ser modelados na forma de se desejar, ou seja, podem ser fundidos. A fusão do metal tornou possível a confecção de vários objetos, como panelas, vasos, enxadas, machados, pregos, agulhas, facas e lanças de metal. O trabalho metalúrgico exigiu habilidade, conhecimentos especializados e disponibilidade de tempo.

Durante a Idade dos Metais, a agricultura e as pequenas vilas começaram a dar origem às sociedades de grande poder, como a do Egito e as da Mesopotâmia.

Civilização
Novo estágio do desenvolvimento social

Em várias regiões do mundo, as comunidades primitivas sofreram grandes transformações culturais a partir da revolução neolítica. O conjunto dessas transformações marca novo estágio do desenvolvimento social conhecido como civilização.

O termo civilização começou a ser utilizado na França, em meados do século XVIII, com um sentido evolucionista de progresso. Segundo esse conceito, a humanidade passaria por etapas sucessivas de evolução social. Assim, alguns cientistas montaram classificações evolutivas em que procuraram enquadrar todas as sociedades, desde o Paleolítico até os dias atuais. Nessas classificações, civilização corresponderia às “altas culturas”, que seriam superiores às culturas consideradas “primitivas”, “selvagens” ou “bárbaras”.

Grande parte dos historiadores, antropólogos e demais estudiosos da atualidade rejeitam essas noções de superioridade ou inferioridade cultural entre os povos. As sociedades humanas são diferentes, mas não podem ser hierarquizadas numa classificação linear. No entanto, o termo civilização continua bastante utilizado nos estudos históricos apenas para referir-se a uma forma própria de organização social. Nesse sentido, nas palavras do historiador Jaime Pinsky, civilização não é elogio, e pré-civilizado não pode ser tomado como ofensa.

Alguns eventos costumam ser associados ao surgimento das sociedades civilizadas, entre os quais destacamos:

• Aparecimento de classes sociais – surgem ricos e pobres, exploradores e explorados, senhores e escravos.

• Formação do Estado – organiza-se um governo que administra a sociedade e controla a força militar (exército).

• Divisão social do trabalho – divide-se cada vez mais a atividade dos membros da sociedade, surgindo trabalhadores especializados como metalúrgicos, ceramistas, barqueiros, vidraceiros, sacerdotes, comandantes militares etc.

• Aumento da produção econômica – com o desenvolvimento das técnicas agrícolas, da criação de animais e do artesanato, a produção econômica cresce bastante. Além dos bens necessários ao consumo imediato, as sociedades começam a produzir excedentes, armazenando vários produtos para a troca comercial.

• Registros escritos – acompanhando o nascimento das primeiras cidades, desenvolvem-se a escrita, a numeração, os pesos e as medidas e o calendário.

O Crescente Fértil

A principal região do planeta onde surgiram as primeiras civilizações de que temos notícia é chamada de Crescente Fértil. Conhecida por esse nome devido ao seu traçado que faz lembrar a Lua no quarto crescente, essa região abrange parte no nordeste da África, as terras do corredor mediterrâneo e a Mesopotâmia.

Na região do Crescente Fértil, situam-se parcial ou totalmente Egito, Israel, Líbano, Jordânia, Síria, Turquia e Iraque. Muitas das áreas férteis, depois de séculos de exploração, desapareceram e deram lugar a vastos desertos.

Produção de energia no Brasil

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