Após terem se libertado da Inglaterra e aprovado uma Constituição que definia os Estados Unidos como uma república federativa presidencialista, os norte-americanos elegeram George Washington como seu primeiro presidente.
domingo, 24 de setembro de 2023
Os Estados Unidos no século XIX
Ele procurou aumentar o prestígio do governo central, estimulou o crescimento da indústria e da agricultura e incentivou a colonização das terras situadas a oeste dos montes Apalaches, dando início a um gigantesco movimento de expansão territorial rumo ao Pacífico (oeste), que modificou profundamente o mapa e a história dos Estados Unidos.
A ocupação do Oeste ganhou um forte impulso a partir do início do século XIX, quando o governo passou a oferecer terras a preços muito baixos e facilidades para os que concordassem em desbravar o interior do continente.
Atendendo a esse apelo, uma verdadeira multidão – formada de imigrantes irlandeses, alemães e ingleses e de habitantes do litoral – partiu em carroças ou em pequenos navios pelo Mississipi-Missouri em direção ao Oeste. As primeiras levas de pessoas começaram a chegar ainda nas primeiras décadas do século. Vindos da Inglaterra, Alemanha e Irlanda, entre outros lugares, esses imigrantes passavam por sérias dificuldades financeiras em seus países de origem, além de perseguições políticas ou religiosas. No Novo Mundo, eles esperavam encontrar liberdade, oportunidade de trabalho e de riqueza.
A maioria das pessoas que desembarcaram nos Estados Unidos se instalou nas cidades da costa Leste, principalmente no Norte do país, que, à época, seduzia pelas oportunidades de trabalho nas fábricas. No final do século XIX, Nova York, Boston e Chicago já contavam com intensas atividades fabris e comerciais. O crescimento populacional foi tão intenso que a expansão do território passou a ser vista como uma necessidade.
As terras situadas além dos Apalaches, porém, eram ocupadas por centenas de povos indígenas que reagiram à invasão de seus territórios. Houve, então, uma série de conflitos entre esses povos e os desbravadores que, só no período entre 1800 e 1860, resultou no extermínio de cerca de 700 mil índios. Outros milhares, ainda, acabaram confinados em inúmeras reservas criadas pelo governo. Foi dessa forma que as terras dos nativos acabaram passando às mãos dos colonizadores.
Além de valer-se da desapropriação de terras indígenas, a expansão territorial norte-americano fez-se também por meio da compra de territórios de acordos diplomáticos e da guerra contra o México.
Em 1803, o governo dos Estados Unidos comprou a Louisiana da França por 5 milhões de dólares e, em 1819, para obter a Flórida, pagou à Espanha 15 milhões. Por via diplomática, conseguiu da Inglaterra o Maine e o Oregon.
A guerra contra o México explodiu em 1846 e teve como causa principal a anexação do Texas, que havia sido incorporado ao território norte-americano no ano anterior. Ao término dessa guerra, vencida pelos Estados Unidos, o México foi obrigado a ceder metade de seu antigo território. Além do Texas, perdeu a área onde é hoje a Califórnia, Nevada, Utah, Arizona, Colorado e Novo México.
Logo em seguida, descobriu-se ouro na Califórnia, fato que provocou uma nova onda migratória em direção ao Oeste. Na época dessa “corrida do ouro”, os Estados Unidos já eram donos de um território imenso, banhado por dois oceanos: o Atlântico e o Pacífico.
Na década de 1860, atendendo às necessidades criadas pela rápida industrialização do Nordeste, iniciou-se a construção das primeiras ferrovias norte-americanas. Sua principal função era garantir o transporte de matérias-primas e alimentos entre o Oeste e o Leste.
Após comprarem o Alasca da Rússia, e, 1867, os Estados Unidos adquiriram praticamente o seu atual contorno.
Com a constante chegada de imigrantes no século XIX, as cidades da costa atlântica dos Estados Unidos logo concentraram grande contingente populacional. Essa situação gerava uma pressão crescente pela expansão territorial.
As regiões a oeste do rio Mississípi, que contavam com baixa densidade demográfica e eram habitadas por indígenas, como por exemplo os Sioux, tornaram-se alvo dos governos norte-americanos.
Com o propósito de resolver a questão, o então presidente Abraham Lincoln promulgou, em 1862, a Lei de Terras (Homestead Act) de acordo com essa lei, as “terras vazias” do Oeste passaram a ser consideradas de “domínio público”, isto é, pertenciam ao governo. A posse dessas terras ficou condicionada ao trabalho e aos melhoramentos realizados nelas. Como o modo de vida tradicional das comunidades indígenas não vinha ao encontro desses objetivos, os nativos não eram considerados proprietários das terras que habitavam.
A lei autorizava chefes de famílias ou maiores de 21 anos que nunca tivessem se envolvido em luta armada contra o país a migrarem para o oeste e se apossarem de parte das terras públicas. Após cinco anos de ocupação, a posse se tornaria definitiva. Essa medida permitiu que as consideradas “terras vazias” fossem ocupadas por colonos e contribuiu para que a população de imigrantes não se concentrasse somente nas cidades próximas ao Atlântico.
Após a descoberta de ouro em Coloma, na Califórnia, em 1848, milhares de aventureiros dirigiram-se para o Oeste. Norte-americanos, europeus, mexicanos, chineses povoaram rapidamente a região. Os povoados nasceram e desapareceram conforme a descoberta e o esgotamento das minas. O auge da mineração na Califórnia ocorreu em 1855. Já em 1860, a produção caiu sensivelmente, tanto que os mineradores partiram para a exploração de novas jazidas de ouro no Colorado, em Nevada e no Arizona.
Os mineiros viviam isolados nos acampamentos, a dezenas de quilômetros das cidades. Moravam em barracões de madeira ou em tendas toscamente mobiliadas. Alimentavam-se de feijão e carne de porco, feitos em grande quantidade para vários dias para poupar o tempo gasto no preparo das refeições. Trabalhavam ao ar livre, de segunda a sábado, durante a primavera e o verão, quando o clima permitia. No inverno, consertavam as ferramentas e se preparavam para a próxima temporada. Aos domingos, iam para o vilarejo mais próximo, onde faziam as compras para a semana, recebiam correspondências e divertiam-se nos saloons.
A conquista dos territórios a oeste do rio Mississípi foi desastrosa para as populações indígenas. Os nativos não eram considerados de suas terras nem dotados de civilização e dos valores norte-americanos. Pelo contrário, eram vistos como obstáculos ao progresso e à expansão rumo ao Pacífico.
Os nativos foram gradativamente “empurrados” para o Oeste. Apesar de esse processo ter se acelerado após a promulgação da Lei de Terras, a expulsão dos indígenas de suas terras começou em 1830, com a Lei de Remoção dos Índios, que autorizava o governo norte-americano a negociar e transferir os indígenas para reservas chamadas “territórios indígenas”, em Oklahoma.
Além do argumento jurídico presente na Lei de Terras, a expulsão norte-americana era entendida como comprimento de um Destino Manifesto, uma missão civilizatória determinada pela própria Providência Divina. Essa idéia era coerente com a crença na predestinação, muito difundida nos Estados Unidos pela tradição religiosa puritana.
A expressão Destino Manifesto foi usada pela primeira vez em 1845, pelo jornalista norte-americano John O’Sullivan. Ele acreditava, assim como boa parte da sociedade norte-americana da época, que os Estados Unidos tinham como missão moral levar o progresso e a civilização para seus vizinhos “selvagens” e “atrasados”. Por conseguinte, a ampliação do território dos Estados Unidos era considerada algo natural, que isentava de culpa o povo e os governantes daquele país. A marcha para o Oeste, sobre os territórios indígenas e mexicanos era, portanto, inevitável (destino) e evidente (manifesto).
Enquanto os Estados Unidos expandiam-se até o Pacífico, os habitantes do Norte e do Sul do país divergiam cada vez mais.
Os desentendimentos entre o Norte (que se industrializava num ritmo acelerado) e o Sul (que ainda desenvolvia uma agricultura para a exportação, baseada em mão-de-obra escrava) explicam-se principalmente pelas diferenças de interesses entre as suas camadas dominantes. Tais divergências refletiam-se nos planos econômico e político. A burguesia do Norte não conseguia impor seu ponto de vista à nação porque há tempos a política do país vinha sendo dirigida por sulistas ou por pessoas que sintonizavam com os interesses do Sul.
O resultado das eleições presidenciais de 1860 trouxe uma grata surpresa para os nortistas: o presidente eleito, Abraão Lincoln, era um abolicionista moderado e um defensor intransigente das indústrias e da unidade norte-americana.
Reagindo à vitória de Lincoln, a Carolina do Sul decidiu separar-se da União e, pouco depois, foi imitada por outros dez estados escravistas. Acontecia a secessão.
Em fevereiro de 1861, os estados separatistas fundaram a República dos Estados Confederados da América, que era presidida por Jefferson Davis e tinha como capital Richmond, na Virgínia. Três meses depois, começava a guerra civil norte-americana.
No decorrer do conflito, que provocou a morte de 620 mil pessoas, os nortistas impuseram sua superioridade econômica e militar, que estava fundamentada nos seguintes pontos: uma população de cerca de 20 milhões de habitantes; um parque industrial capaz de produzir grandes quantidades de armas, munições e roupas; uma eficiente rede de transporte (ferrovias, portos); e uma ágil e poderosa Marinha. O Sul tinha uma população de aproximadamente 10 milhões de habitantes, dos quais 3,5 milhões eram escravos, e poucas indústrias.
Em fins de 1862, no auge da guerra, o presidente Lincoln decretou a abolição da escravatura, conseguindo, com isso, enfraquecer os sulistas e aumentar o seu prestígio político.
Depois de sucessivas derrotas militares e da ocupação de sua capital pelas forças nortistas, os confederados finalmente renderam-se (9/4/1865). Profundos ressentimentos, porém, continuaram opondo sulistas e nortistas. Abraão Lincoln, reeleito presidente foi assassinado por um sulista fanático; o racismo contra os negros explodiu com toda a força.
Elementos da classe dirigente sulista, de mentalidade escravista, inconformados com a possibilidade de ascensão do negro, fundaram várias associações racistas – como a violentíssima Ku-klux-klan, tristemente conhecida por perseguir, intimidar e matar negros.
O sul, região onde ocorreu a maior parte das operações militares da Guerra de Secessão foi seriamente prejudicado pelos conflitos. Suas plantações foram arrasadas, muitas cidades destruídas. Com isso, sua economia amargou uma crise resultante da escassez de mão-de-obra (libertos, os negros fugiram das fazendas) e do aumento da concorrência no mercado internacional do algodão.
Mesmo assim, nos anos que se seguiram à guerra, os Estados Unidos entraram em um período de grande prosperidade econômica, graças à especular expansão industrial do Norte.
Essa expansão foi favorecida pelo governo americano, o qual aprovou leis de proteção à indústria, estimulou a entrada de mão-de-obra e capital europeu e financiou a construção de extensas ferrovias.
Por isso, no final do século XIX, os Estados Unidos já tinham se transformado numa das maiores potências do mundo.
No início do século XIX, os Estados Unidos adotaram uma política externa voltada, principalmente, para o continente americano. E sob o pretexto de defender a liberdade, os norte-americanos passaram a intervir nos países latino-americanos e também em outras regiões do mundo.
Em 1823, o então presidente dos Estados Unidos, James Monroe, enviou uma mensagem ao Congresso afirmando que os “continentes americanos”, livres e independentes, não poderiam mais ser colonizados por potências europeias.
Essa mensagem, aprovada pelo Congresso, deu origem à política externa norte-americana conhecida como Doutrina Monroe, cujo lema era: “A América para os americanos!”.
Em linhas gerais, a Doutrina Monroe definia que:
- os países americanos não poderiam ser recolonizados;
- as potências européias não deveriam interferir na política nem na economia desses países;
- os Estados Unidos não se envolveria nos assuntos especificamente europeus.
A mensagem do presidente norte-americano era clara: os Estados Unidos deveriam se tornar os “protetores” legítimos da América. O surgimento da Doutrina Monroe esteve relacionado a dois outros processos: as emancipações políticas nas Américas espanholas e portuguesas (desde 1810) e a reorganização do continente europeu após as guerras napoleônicas e o Congresso de Viena (1815). Monroe temia que o restabelecimento do absolutismo na Europa viesse acompanhado de uma tentativa recolonizar a América.
Nos anos 1870, quando os Estados Unidos começaram a se recuperar da guerra de secessão e a aumentar o seu poder econômico e militar, a Doutrina Monroe foi retomada e isso intensificou a influência norte-americana na América.
O crescimento econômico e industrial nas décadas finais do século XIX permitiu que o governo dos Estados Unidos desse mais atenção à política internacional.
Em 1904, o presidente dos Estados Unidos, Theodore Roosevelt, leu no Congresso uma mensagem relembrando a restrição à interferência europeia na América (Doutrina Monroe) e acrescentando a necessidade da intervenção dos Estados Unidos no continente americano. Essa mensagem ficou conhecida como Corolário Roosevelt.
Dizendo-se preocupado com a crise econômica e política pela qual passavam algumas do Caribe e da América Latina, Roosevelt retomou o projeto de interferir na política interna desses países sob o argumento de protegê-los.
Sua atuação diplomática ficou conhecida como política do Big Stick ou “Grande Porrete”: “fale macio, mas tenha um porrete em mãos”. Ou seja, os Estados Unidos não relutariam em lançar mão da força caso esta fosse necessária para defender seus interesses.
Na passagem do século XIX para o XX, os Estados Unidos interferiram algumas vezes na política interna dos países da América Latina, como no processo de independência de Cuba e na Revolução Mexicana. A influência norte-americana já havia chegado ao Caribe e ao México e, com o tempo, avançaria cada vez mais na direção sul do continente. O plano expansionista também se voltou para além da América Latina. Na região do Pacífico, os norte-americanos conquistaram o arquipélago do Havaí e o Alasca, no Noroeste da América do Norte.
Essas intervenções foram interpretadas por muitos estudiosos como uma necessidade econômica para se ampliar o território e obter matérias primas e mercados consumidores. Outros pesquisadores consideram que os norte-americanos continuavam movidos pelo ideal do Destino Manifesto.
Mesmo após os processos de emancipação ocorridos no Caribe, a Espanha manteve seu domínio sobre Cuba e a ilha vizinha, Porto Rico. Os cubanos já haviam tentado a independência em uma sangrenta e longa guerra (1868-1878) e, depois, na década de 1890. Mas os espanhóis conseguiram vencer os revoltosos.
Foi somente depois da intervenção dos Estados Unidos na guerra que a independência de Cuba se efetivou, em 1898. Porém, a participação dos Estados Unidos nesse processo custou caro a Cuba. A partir de então, o governo norte-americano passou a intervir diretamente na política interna cubana.
A região do atual Panamá era estratégica para os planos norte-americanos de expansão, pois era propícia à construção de uma passagem que ligasse os oceanos Atlântico e Pacífico.
Com esse objetivo em mente, o presidente Roosevelt retomou a antiga ideia de abrir um canal no istmo do Panamá. Porém, aquela região pertencia à Colômbia, que se opôs a abertura.
A solução foi retirar a região do domínio colombiano. Para isso, o governo norte-americano estimulou uma “rebelião separatista” no Panamá e, quando o conflito se iniciou, os Estados Unidos enviaram militares para lutar ao lado dos rebeldes e garantir a independência da região. Em troca, o governo norte-americano conseguiu a autorização para a construção e para a exploração do canal.
O canal do Panamá começou a ser construído ainda na década de 1880, por uma iniciativa francesa. Porém, os Estados Unidos tomaram a frente do negócio durante o governo de Roosevelt e o canal foi inaugurado em 1914. Somente em 1999 o canal passou a ser administrado totalmente pelo Panamá.
A situação europeia no século XIX
Depois do Congresso de Viena (1815), em vários países se estabeleceram governos autoritários que tudo fizeram para eliminar as mudanças liberais obtidas pela Revolução Francesa. Essa situação descontentava vários grupos da população, que se revoltaram, chefiados pela burguesia. As revoltas foram reprimidas, mas acabaram por trazer alguns progressos para as sociedades onde ocorreram.
Os grupos liberais e nacionalistas continuaram encontrando grande apoio dos influentes setores da burguesia. Em termos ideológicos, o liberalismo e o nacionalismo desempenharam um papel de grande importância nos processos de unificação da Itália e da Alemanha.
1. As teses liberais nacionalistas do século XIX
O século XIX, na Europa, foi bastante influenciado por teses liberais e nacionalistas, que se foram constituindo desde o Iluminismo, acompanhando o desenvolvimento da burguesia europeia.
Os aristocratas podiam estar satisfeitos com a situação da Europa pós Congresso de Viena, mas grande parte da população não estava. Burgueses, intelectuais, artesãos... Tinham motivos de sobra para se sentirem oprimidos pelo absolutismo. As ideias políticas liberais conquistaram muitos adeptos entre esses grupos sociais. O liberalismo político tinha origem nas ideias dos iluministas. Os liberais defendiam em primeiro lugar as liberdades individuais: a liberdade de discordar do governo, de protestar, etc.
O Liberalismo defendia, basicamente, os seguintes princípios políticos, econômicos e religiosos:
Setor político: Regime de governo de caráter democrático. Os poderes do Estado deveriam ser limitados por uma Constituição e estar separados em Legislativo, Executivo e Judiciário. O Estado deveria servir o cidadão, respeitando sua liberdade e sua dignidade.
Setor econômico: O Estado deveria intervir na vida econômica o menos possível. As atividades econômicas deveriam ficar a cargo da iniciativa privada.
Setor religioso: O Estado deveria estar completamente separado da Igreja. Cada cidadão deveria praticar livremente sua crença religiosa. A liberdade de culto e de convicções filosóficas deveria ser um direito de todos.
Mas nem todos os liberais eram democratas. Os liberais tradicionais queriam que o voto fosse censitário, ou seja, consideravam que só as pessoas com boa posição social deveriam ter o direito de voto. Já os liberais radicais (democratas) discordavam. Eles defendiam o sufrágio universal, ou seja, o direito de voto para todos.
O Nacionalismo defendia, basicamente, os seguintes princípios;
- Respeito pela formação natural dos povos, ligados por laços étnicos, linguísticos e por outros traços culturais;
- Direito de todos os povos lutarem por sua independência como nação;
- Direito dos povos de viverem, com autodeterminação, num território unificado.
Entre 1830 e 1914 os movimentos liberais, as lutas dos trabalhadores e a influência das idéias socialistas levaram alguns governos europeus a adotar medidas liberais. Dentre essas medidas destacam-se as seguintes:
- Direito a voto secreto masculino;
- Regulamentação da jornada de trabalho;
- Igualdade de todos perante a lei;
- Legalização dos sindicatos;
- Direito de greve.
As teses liberais e nacionalistas espalharam-se fortemente por diversas regiões da Europa, através de movimentos que postulavam a unidade nacional de um determinado território. Entre esses movimentos, estudaremos os casos que levaram à unificação da Itália e da Alemanha.
2. Unificações europeias
O Congresso de Viena (1814-1815) determinou que os atuais territórios da Itália e da Alemanha fossem repartidos em diversos Estados e submetidos, em sua maior parte, ao domínio estrangeiro.
Os povos naturais desses territórios, entretanto, não aceitaram a divisão feita pelas potências conservadoras reunidas em Viena. Por isso, não demoraram a promover movimentos nacionalistas, visando transformar suas nações em Estados nacionais independentes.
A unificação italiana
Por decisão do congresso de Viena, a região onde é hoje a Itália foi dividida em pequenos Estados:
- Reino Sardo-Piemontês: governado por uma dinastia italiana. Era autônomo e soberano;
- Reino Lombardo-Veneziano: governado pela Áustria;
- Ducados de Parma, Módena e Toscana: governados por duques subservientes à Áustria;
- Estados Pontifícios: governados pelo papa;
Reino das Duas Sicílias (Sicílias e Nápoles): governado pela dinastia dos Bourbon.
As lutas pela Itália
A unidade nacional era um antigo desejo acalentado por milhares de nacionalistas italianos. Contudo, as primeiras lutas do movimento de unificação italiana só tiveram início depois da decisão do Congresso de Viena, que transformava a atual Itália numa “colcha de retalhos”.
As primeiras tentativas de libertar o território italiano da dominação estrangeira foram feitas por uma organização revolucionária denominada Jovem Itália. Liderada por Giuseppe Mazzini, republicano, a Jovem Itália defendia a independência e a transformação da Itália numa república democrática por meio da insurreição popular.
Em 1848, os seguidores de Mazzini promoveram levantes contra a dominação austríaca em diversos pontos do território italiano. Embora inicialmente tenham obtido sucessos militares, acabaram vencidos pelo poderoso exército austríaco. Apesar disso, o ideal nacionalista continuou ainda mais forte em toda a península Itálica.
A partir dessa época, a luta pela unificação passou a ser encabeçada pelo Reino Sardo-Piemontês, cujo rei era Victor Emanuel II e o primeiro-ministro, o conde de Cavour, um grande proprietário rural. Cavour, um dos líderes do Rissorgimento – movimento que pretendia fazer a Itália reviver seus tempos de glória –, representava todos os que desejavam a unificação em torno do Piemonte, com o estabelecimento de uma monarquia constitucional.
Para alcançar seu objetivo, Cavour obteve o apoio da burguesia e dos proprietários rurais e pôs em prática um plano de modernização da economia e do exército do Piemonte. Ao mesmo tempo, procurou aproximar-se da França, a fim de conseguir ajuda militar para enfrentar a Áustria.
Depois de estabelecer uma aliança secreta com a França de Napoleão III, Cavour começou a usar a imprensa para provocar a Áustria. Esta, por sua vez, respondeu declarando guerra ao reino Sardo-Piemontês.
Com a ajuda da França, o exército de Cavour obteve expressivas vitórias nessa guerra. Derrotada, a Áustria foi forçada a entregar ao Reino Sardo-Piemontês a Lombardia e os ducados de Parma, Módena e Toscana, cujos habitantes também haviam se engajado na luta pela unidade nacional.
Quase ao mesmo tempo, dando continuidade à luta pela unificação, o revolucionário Giuseppe Garibaldi, à frente de mil voluntários conhecidos como camisas vermelhas, atacou o Reino das Duas Sicílias e criou condições para sua libertação do domínio estrangeiro. A seguir, os habitantes do Reino das Duas Sicílias decidiram, por intermédio de um plebiscito, que também desejavam ser governados pelo rei Victor Emanuel II.
Com a maior parte do atual território sob seu controle, em 1861 Victor Emanuel II foi proclamado rei da Itália. Entretanto, para que a unidade italiana se completasse, era preciso efetuar ainda a conquista de Veneza e Roma. Veneza foi incorporada no ano de 1866, em conseqüência de uma guerra na qual Prússia e Itália, unidas, derrotaram a Áustria.
Roma foi anexada em 1870 e, no ano seguinte, passou a ser a capital do país. A conquista de Roma pelo exército de Victor Emanuel II efetivou-se quando as tropas francesas que a protegiam tiveram de abandoná-la, pois a França havia entrado em guerra contra a Áustria.
Com a anexação de Roma, completou-se a unificação da Itália.
O papa Pio IX, entretanto, não aceitou a perda dos domínios territoriais da Igreja. Por isso, rompeu relações com o governo italiano, considerou-se prisioneiro e fechou-se no Vaticano. Nascia assim a chamada Questão Romana, só resolvida em 1929, ano em que o papa Pio XI e Benito Mussolini assinaram o Tratado de Latrão. Por esse acordo, criou-se dentro da cidade de Roma, o minúsculo Estado do Vaticano, que é dirigido pela Igreja Católica e possui aproximadamente 0,5 Km² de superfície.
A unificação alemã
O Congresso de Viena (1815) dividiu a região onde é hoje a Alemanha em 39 Estados independentes. Todos esses Estados e a Áustria passaram a compor a chamada Confederação Germânica.
A presidência da Confederação cabia à Áustria, país que era radicalmente contrário à unificação alemã. Unida, a Alemanha seria um vizinho poderoso e, portanto, indesejável do ponto estratégico.
Já a Prússia, que depois da Áustria era o Estado mais influente da Confederação, vinha sendo palco de inúmeros movimentos nacionalistas favoráveis à unidade política desses territórios.
No início do século XIX, um dos principais obstáculos à unificação da Alemanha era a existência de uma grande quantidade de barreiras alfandegárias entre os diversos Estados alemães.
Percebendo isso, a Prússia passou a lutar pela eliminação dessas barreiras. Em 1834, deu-se um grande passo nessa direção: sob a liderança da Prússia, foi criado o zollverein, ou seja, a união alfandegária entre os diversos Estados alemães. Ao possibilitar a livre circulação de mercadorias, o zollverein estimulou o comércio entre os Estados alemães e deu um enorme impulso à indústria e ao transporte ferroviário.
Possuidora de imensas reservas de carvão e ferro e de uma burguesia vigorosa, a Prússia largou na frente: na década de 1850, tornou-se o mais industrializado de todos os Estados que compunham a Confederação Germânica e, na década seguinte, assumiu o comando do processo de unificação alemã.
Bismarck, o “Chanceler de Ferro”
Corria o ano de 1862 quando Guilherme I, rei da Prússia, confiou o cargo de primeiro-ministro ao astuto, habilidoso e determinado Otto Von Bismarck.
Como primeiro-ministro, Bismarck incentivou e modernizou o exército prussiano e propôs a liderar a unificação alemã. Conduzida por Bismarck, a unificação alemã concretizou-se por meio de três guerras: contra a Dinamarca (1864) contra a Áustria (1866) e contra a França (1868-1870).
Com o objetivo de conquistar os ducados dinamarqueses de Schleswig e Holstein, cuja população era predominantemente alemã, a Prússia aliada à Áustria, atacou e, meses depois, venceu a pequena Dinamarca. Em conseqüência dessa guerra, os vencedores dividiram os territórios conquistados: a Prússia ficou com o Schleswig e a Áustria com o Holstein.
Tempos depois, Bismarck usou como desculpa o fato de que a administração austríaca no ducado de Holstein era ineficiente e ocupou-o militarmente, com o objetivo de provocar a Áustria.
O resultado dessa provocação foi a explosão da Guerra Austro-Prussiana, na qual a Prússia, ajudada pela Itália e pelos Estados alemães do norte, venceu a Áustria em apenas sete semanas. Curvando-se ao poderio prussiano, a Áustria foi obrigada a aceitar a dissolução da Confederação Germânica e assinar o Tratado de Praga, pelo qual ficava estabelecido que:
- os Estados alemães do Norte, sob a liderança da Prússia, passavam a formar a Confederação Germânica dos Estados do Norte;
- a Áustria reconhecia o direito da Prússia sobre os ducados de Schleswig e Holstein e entregava Veneza à Itália.
Os Estados do Sul, por sua vez, recusava-se a aceitar a liderança prussiana e mantiveram-se neutros. De sua parte, Bismarck preferiu contornar a situação e evitou entrar em conflito com os alemães do Sul.
O “Chanceler de Ferro” entendia que, para completar a unificação alemã, o ideal era “fabricar” uma guerra contra um inimigo externo, pois isso uniria todos os alemães em torno do ideal nacionalista.
Essa guerra, na opinião dele, deveria ser contra a França, país que vinha dando inúmeras provas de que não desejava a união da Alemanha. Quando a França, respondendo a uma provocação de Bismarck, declarou guerra à Prússia, todos os alemães se uniram para enfrentá-la. A Guerra Franco-Prussiana teve início em 1868 e estendeu-se por dois anos.
Depois e vencerem os franceses na Batalha de Sedam, em 1º de setembro de 1870, e de aprisionarem Napoleão III, os alemães atravessaram Paris e chegaram a Versalhes, onde, em 18 de janeiro de 1871, na Sala dos Espelhos do palácio, Guilherme I foi coroado imperador do II Reich (império) alemão. Meses depois, franceses e alemães assinaram o Tratado de Frankfurt, um acordo de paz através do qual a França ficava obrigava a pagar para a Alemanha uma vultosa indenização (5 bilhões de francos-ouro) e a entregar-lhe a Alsácia-Lorena, região riquíssima em minério de ferro.
Unificada, dona de um território rico em carvão e ferro, com um governo amplamente favorável à industrialização, a Alemanha progrediu de modo espetacular a partir de 1871. Duas décadas depois, já tinha se tornado a primeira potência industrial da Europa.
3. A França de 1815 a 1870
Depois da queda de Napoleão, os Bourbons retornaram ao trono francês:
- Luís XVIII: Governou a França de 1815 a 1824. Em seu período de governo estabeleceu o chamado Terror Branco, que consistiu em violentas repressões aos bonapartistas e aos liberais.
- Carlos X: Com a morte de Luís XVIII, o trono foi ocupado por seu irmão, que governou de 1824 a 1830. Carlos X desenvolveu uma política antiliberal, provocando a forte reação das forças burguesas, que temiam o restabelecimento do absolutismo. Ele censurou a imprensa e reprimiu os opositores ao regime. Em 1830, a população se rebelou em Paris e o rei Carlos X teve de renunciar. Assumiu então um novo rei, Luís Filipe de Orléans.
O rei Luís Filipe ficou conhecido como o “rei dos banqueiros” (indica que ele favoreceu os grandes capitalistas). Durante seu reinado, a França teve um período de grandes avanços econômicos e industriais. Mas cresceu a desigualdade social. Os burgueses iam ficando milionários, enquanto os operários permaneciam na penúria.
Em 1848, houve uma grande crise econômica. Os salários baixaram e o desemprego cresceu, as colheitas foram ruins e a comida escasseou. A insatisfação popular explodiu numa grande revolução. Operários e artesãos juntaram-se a estudantes e pequenos burgueses, e tomaram as ruas da capital. O rei Luís Filipe foi derrubado. A França voltava a ser uma república.
Os principais partidos políticos de oposição organizaram um governo provisório. Esses “socialistas” defendiam reformas, como o sufrágio universal e a criação de oficinas de artesanato do Estado, que dariam trabalho aos desempregados.
Diante da grave situação econômica, os operários de Paris se rebelaram. Foram duramente reprimidos pela Guarda Nacional, e as ruas da capital ficaram tomadas por cadáveres e poças de sangue. A grande burguesia saiu vencedora.
Nessa época houve eleições para um novo presidente da República. As pessoas queriam a ordem e a tranquilidade a qualquer preço. Então, Luís Bonaparte foi eleito presidente da França. O sobrinho de Napoleão Bonaparte, Luís Bonaparte, tornou-se o primeiro presidente da Segunda República Francesa. Entretanto, Luís Bonaparte deu um golpe de Estado, proclamando-se imperador dos franceses com o título de Napoleão III.
Napoleão III governou a França de 1852 até 1870, conseguindo a expansão do país em termos econômicos e políticos. Durante o governo de Napoleão III, a França patrocinou a construção do famoso Canal de Suez, que liga diretamente o Mar Mediterrâneo ao Mar Vermelho, encurtando sensivelmente as viagens marítimas da Europa à Ásia. As obras de construção do canal de Suez duraram de 1858 a 1869, sendo dirigidas pelo engenheiro francês Ferdinand de Lesseps.
O governo de Napoleão III terminou quando seus exércitos foram derrotados pelas tropas prussianas, em 1870. Isso se deu na Batalha de Sedan, quando o próprio Napoleão foi capturado. Na França, as forças oposicionistas uniram-se para proclamar a Terceira República Francesa, com a formação de um governo de defesa nacional, em 4 de setembro de 1870.
4. A Era Vitoriana
A rainha Vitória governou a Inglaterra durante sessenta e quatro anos, de 1837 a 1901. Seu longo reinado coincidiu com o período de apogeu da política colonialista inglesa. O Império Britânico chegou a dominar um território correspondente a um quinto da superfície terrestre do planeta. No período de governo da rainha Vitória, a política interna inglesa consolidou-se sob o sistema parlamentarista.
5. A Primavera dos Povos
O ano de 1848 foi o mais revolucionário do século XIX, em muitas regiões. Por isso recebeu o apelido de o ano da Primavera dos Povos. Em vários outros países europeus eclodiram revoltas populares. Nas principais cidades homens e mulheres ocuparam as ruas, ergueram barricadas (usaram entulhos para bloquear as ruas) e enfrentaram as tropas dos governos autoritários.
6. A expansão do Nacionalismo
Este movimento se expandiu rapidamente pela Europa no início do século XX, alimentado pelas guerras perdidas, rivalidades econômicas, disputa territorial nas colônias da Ásia e da África – e a mídia, contribuiu bastante para que acontecesse a Primeira Guerra. Os cidadãos da Sérvia e do Império Austro-Húngaro clamavam por uma guerra, para defender a sua honra. Entre os principais movimentos nacionalistas que se desenvolveram na Europa, podemos destacar:
- O Pan-eslavismo: Foi liderado pela Rússia e assim foi chamado porque pregava a união de todos os povos eslavos da Europa Oriental, principalmente aqueles que se encontravam dentro do Império Austro- Húngaro. Na realidade havia interesses econômicos estratégicos, onde os governos dos czares pretendiam chegar às águas quentes(mar Mediterrâneo e oceano Atlântico) para comercializarem produtos.
- O Pan-germanismo: Liderado pela Alemanha, pregava a completa anexação de todos os povos germânicos da Europa Central. Na realidade tinham interesse em anexar as regiões das Bálcãs por onde passaria a estrada de ferro Berlim-Bagdá e chegaria aos poços de petróleo do Iraque, que na época pertencia a Inglaterra.
- Revanchismo francês: Com a derrota da França na guerra contra a Alemanha, em 1870, os franceses foram obrigados a ceder aos alemães os territórios da Alsácia-Lorena, cuja região era rica em minérios de ferro e em carvão. A partir dessa guerra, desenvolveu-se na França um movimento de cunho nacionalista-revanchista, que visava desforrar a derrota sofrida contra a Alemanha e recuperar os territórios perdidos.
7. A HEGEMONIA DA EUROPA
Apesar do desenvolvimento dos Estados Unidos e do Japão, a Europa exercia em 1914 a supremacia econômica e política sobre o resto do mundo. Econômica porque controlava a maior parcela da produção mundial, 62% das exportações de produtos fabris e mais de 80% dos investimentos de capitais no exterior, dominando e ditando os preços no mercado mundial. Era a maior importadora de produtos agrícolas e matérias-primas dos países que hoje compõem o Terceiro Mundo. Hegemonia política porque na sua, expansão o capitalismo europeu levou à necessidade de se controlar os países da Ásia, África e América Latina.
Á Europa era desigual quanto à estrutura econômica e política. Dos 23 Estados europeus, 20 eram Monarquias e só a França, Suíça e Portugal eram Repúblicas. Os regimes políticos eram constitucionais, mas o Parlamentarismo, forma típica do Liberalismo Político, só existia de fato na Grã-Bretanha, Bélgica e França, pois os demais países, apesar de constitucionais, possuíam formas autoritárias de governo, como a Áustria-Hungria e a Alemanha.
Os problemas sociais refletiam a diversidade das estruturas socioeconômicas. Nos países da Europa Centro-Oriental a nobreza predominava. Já nos países da Europa Ocidental, a industrialização colocara frente a frente a burguesia e a classe operária. Entretanto, a ameaça de uma revolução social era remota naquele momento, pois a maioria dos partidos socialistas tendia à moderação, aderindo ao jogo político do Liberalismo. As únicas exceções eram algumas facções de esquerda, como os Bolchevistas russos. Só os Estados Unidos e o Japão colocavam-se fora da influência europeia, disputando com o capitalismo europeu “áreas de influência”. Em 1914 os Estados Unidos já eram potência econômica mundial, controlando pequena parcela do mercado mundial e recebendo investimentos da Europa. O Japão, após sua “abertura ao Ocidente”, desenvolveu-se rapidamente via Revolução Meiji, passando a integrar-se ao círculo das nações imperialistas voltando suas vistas para a China e a Manchúria, na Ásia.
Revoluções de 1830 e 1848 na Europa
A reação europeia, conduzida pelo Congresso de Viena e pela Santa Aliança, não conseguiu estancar o movimento revolucionário iniciado na segunda metade do século XVIII. As revoluções da América luso-espanhola foram bem-sucedidas e a Grécia se libertou do julgo turco.
Por volta de 1830, uma nova onda revolucionária abalou a Europa: na França, Carlos X, sucessor de Luís XVIII (foto), foi obrigado a abdicar do poder; a Bélgica, dominada pela Holanda, rebelou-se, proclamando sua independência; na Itália, as associações revolucionárias impuseram uma Constituição; na Alemanha eclodiram movimentos liberais constitucionalistas; a Polônia tentou obter sua independência.
Essas revoluções provocaram um golpe violento na reação representada pela Santa Aliança, aniquilando-a. Além disso, outros fatores podem ser arrolados para explicar o problema. Entre 1846 e 1848, as colheitas na Europa Ocidental e Oriental foram péssimas. Os preços dos produtos agrícolas subiram violentamente e a situação das classes inferiores piorou.
Ao mesmo tempo, verificava-se uma crise na indústria, particularmente no setor têxtil. O aumento da produção ocasionou a superprodução. A crise na agricultura diminuiu ainda mais o consumo dos produtos manufaturados pelo empobrecimento dos camponeses. A paralisação das atividades fabris resultou em dispensa dos trabalhadores e redução nos salários, exatamente quando os preços dos gêneros de primeira necessidade subiam vertiginosamente.
Os recursos financeiros dos países europeus foram carreados para a aquisição de trigo na Rússia e Estados Unidos. Isto afetou os grandes empreendimentos industriais e a construção das estradas de ferro, em franco progresso na oportunidade. A paralisação das atividades nestes setores arrastou outros, provocando a estagnação econômica geral.
A crise variou de país para país. Na Itália e Irlanda foi mais agrária; na Inglaterra e França, industrial, bem como na Alemanha. A miséria gerou o descontentamento político. A massa dos camponeses e proletários passou a reclamar melhores condições de vida e maior igualdade de recursos.
No fundo, constituíam-se idéias socialistas, mas como não existia um partido socialista organizado que pudesse orientar estas classes, coube aos liberais e nacionalistas, compostos pela burguesia esclarecida, exercerem a oposição ao governo, contando com o apoio da massa, sem orientação própria.
França
Luís Felipe fora colocado no trono da França pela Revolução de 1830, representando os ideais da burguesia e tendo por objetivo conciliar a Revolução com o Antigo Regime. A oposição popular ao regime era manifesta. Em 1834 deu-se a insurreição dos operários de Lyon. As tendências republicanas ganhavam adeptos através das várias sociedades políticas fundadas com este propósito.
A oposição não era somente popular. Havia muitos partidários da volta de Carlos X, exilado desde 1830. Os antigos correligionários de Napoleão acercavam-se de Luís Bonaparte, seu sobrinho.
O partido socialista opunha-se ao governo, propondo reformas. Seus líderes, Louis Blanc, Flocon e Ledru-Rollin iniciaram em 1847 uma campanha em todo o país visando à reforma eleitoral. A forma encontrada para a difusão da campanha foram os banquetes nos quais os oradores debatiam a questão.
Em 22 de fevereiro, o ministro Guizot proibiu a realização de um banquete, o que provocou a eclosão da revolta. Surgiram as barricadas nas ruas com o apoio de elementos da Guarda Nacional. A revolta ganhou vulto. Guizot foi demitido em favor de Thiers, que nada resolveu. A Câmara foi invadida e os deputados fugiram. Luís Felipe abdicou. O governo provisório foi organizado e proclamou a Segunda República da França, com a participação de burgueses liberais e socialistas. No dia 23 de abril, realizou-se a primeira eleição na Europa com o voto universal masculino, direto e secreto.
A crise econômica, entretanto, não fora debelada; pelo contrário, se agravara. O governo provisório, a fim de ofertar trabalho aos desempregados, criara as "oficinas nacionais", empresas dirigidas e sustentadas pelo Estado. O pagamento dos salários era coberto com a elevação dos impostos, o que redundou em crise maior.
O fechamento destas oficinas fez voltar à rua o proletariado. Tentou-se fazer uma revolução dentro da própria revolução. A Assembléia delegou poderes excepcionais ao general republicano Cavaignac, que abafou violentamente a revolta. Dezesseis mil pessoas foram mortas e quatro mil deportadas. A questão operária foi resolvida segundo os interesses da burguesia.
Em 12 de novembro de 1848 foi promulgada uma nova Constituição. O presidente da República seria eleito por quatro anos, sendo Luís Napoleão o primeiro presidente eleito. Em 1851 deu um golpe político, implantando o II Império da França, assumindo o governo com o título de Napoleão III.
Itália
A Itália, em 1848, estava dividida em vários Estados, todos eles com governo tipicamente despótico. A crítica a este regime era conduzida pelas sociedades secretas, principalmente a Carbonária. Ao mesmo tempo, reformas liberais visavam à unificação dos Estados italianos. Para tanto, seria preciso expulsar os austríacos, que desde o Congresso de Viena adquiriram supremacia sobre a Itália.
Em janeiro deu-se uma revolta no Reino das Duas Sicílias. O rei Fernando II foi obrigado a conceder uma Constituição, o mesmo ocorrendo na Toscana e no Estado papal.
No reino de Lombardia iniciou-se séria oposição aos austríacos. O rei de Piemonte, Carlos Alberto, tomou a liderança da revolta, declarando guerra aos austríacos. Os exércitos austríacos obtiveram duas vitórias (Custozza e Novara), forçando Carlos Alberto a abdicar em nome de seu filho Victor-Emanuel II. A repressão implantada pelos austríacos foi violenta em toda a península. A tentativa liberal e nacionalista dos italianos tinha sido frustrada.
Alemanha
A Alemanha, depois do Congresso de Viena, passara a constituir uma Confederação composta por numerosos estados, cuja política exterior era coordenada por uma Assembleia que se reunia em Frankfurt. A Prússia e a Áustria lideravam esta Confederação.
Visando à maior integração entre os Estados germânicos foi criado, em 1834, o Zollverein, espécie de liga aduaneira que liberava a circulação de mercadorias nos territórios dos membros componentes, em torno da Prússia e sem a participação da Áustria.
Esta política econômica estimulou o desenvolvimento industrial, que por sua vez acentuou o nacionalismo germânico, o desejo de independência e de união política. O mesmo aspecto liberal e nacionalista que vimos aparecer na Itália também se manifestava lá.
Na Prússia, em 18 de março de 1848, verificou-se extraordinária manifestação popular diante do palácio real, provocando a reação das tropas. O movimento alastrou-se e Frederico Guilherme, rei da Prússia, teve de se humilhar prometendo uma Constituição ao povo insurgido.
Vários Estados juntaram-se ao movimento, aproveitando a oportunidade para tentar a unificação política. Em março, reuniu-se em Frankfurt uma assembleia preparatória para um Parlamento representativo, que deveria iniciar seus trabalhos legislativos em maio.
Os príncipes alemães aproveitaram-se da divisão entre os revolucionários para retomar o poder abalado. Em novembro de 1848, Berlim foi tomada e a Constituinte dissolvida pelo exército. O movimento liberal fora abafado.
A Assembleia de Frankfurt decidiu eleger como imperador o rei da Prússia, que recusou por se considerar rei por vontade de Deus. Propôs, entretanto, aos príncipes alemães a criação de um império. A Áustria, em 1850, impôs à Prússia o recuo nesses projetos e em qualquer mudança da ordem existente.
Áustria
O Império austríaco dos Habsburgos era muito heterogêneo. Estava com- posto por alemães, húngaros, tchecoslovacos, poloneses, rutenos, romenos, sérvios, croatas, eslovenos e italianos. Destes povos, somente os húngaros tinham certa autonomia. Os mais numerosos, húngaros e tchecos, conscientes de sua individualidade, buscavam reconhecimento imperial.
Os alemães da Áustria reclamavam contra o governo de Metternich. Insurgiram-se estudantes, burgueses e trabalhadores, forçando a queda do chanceler e a convocação de uma Assembleia Constituinte.
Os eslavos seguiram o exemplo. Orientados por Palcky, convocaram uma reunião dos povos eslavos em Praga para 2 de junho. O congresso paneslavita foi dissolvido militarmente. Viena foi tomada, formando-se um governo absoluto após ter sido bombardeada, sendo implantado um regime de perseguição policial.
Liberais e Nacionalistas
O Congresso de Viena
Napoleão Bonaparte comandou a invasão de muitos países europeus. Ele tentou acabar com o antigo regime. Implantou leis baseadas no Código Civil. Desse modo, a Revolução Francesa espalhava seus ideais. No entanto, ele foi vencido por uma união da forças da Inglaterra e por países ainda do Antigo Regime. Os representantes desses países (‘vencedores’) se reuniram no Congresso de Viena, com o objetivo de desfazer o que Napoleão havia feito na Europa. Esses representantes queriam apagar o passado revolucionário. Seria como se o Antigo Regime nunca tivesse sido abalado e Napoleão não tivesse nem nascido. Os antigos reis absolutistas voltaram a governar e leis que favoreciam os aristocratas foram reativadas. A fim de evitar novas revoluções, os governos formaram uma união militar, chamada Santa Aliança. Toda vez que estourasse uma revolução num país da Europa, a Santa Aliança enviaria tropas para acabar com o movimento.
Eles acreditavam que podiam manter o Antigo Regime para sempre. Mas os acontecimentos mostraram que não era possível. Quanto mais as cidades e as indústrias iam crescendo, mais fortes ficavam a burguesia, os intelectuais e os operários (forças sociais que rejeitavam o Antigo Regime).
O Liberalismo
Os aristocratas podiam estar satisfeitos com a situação da Europa pós Congresso de Viena, mas grande parte da população não estava. Burgueses, intelectuais, artesãos... tinham motivos de sobra para se sentirem oprimidos pelo absolutismo. As ideias políticas liberais conquistaram muitos adeptos entre esses grupos sociais. O liberalismo político tinha origem nas ideias dos iluministas. Os liberais defendiam em primeiro lugar as liberdades individuais: a liberdade de discordar do governo, de protestar, etc.
Mas nem todos os liberais eram democratas. Os liberais tradicionais queriam que o voto fosse censitário, ou seja, consideravam que só as pessoas com boa posição social deveriam ter o direito de voto. Já os liberais radicais (democratas) discordavam. Eles defendiam o sufrágio universal, ou seja, o direito de voto para todos.
O Nacionalismo
A Itália e a Alemanha eram compostas por dezenas de pequenos Estados. O que os alemães e os italianos queriam era a união desses pequenos Estados em um só.
O Liberalismo era o movimento político em favor da liberdade dos indivíduos, e o Nacionalismo era o movimento político em favor da liberdade e da autonomia dos povos, do direito de criarem seus próprios estados.
As revoluções na França
Nos anos de 1820, 1830 e 1848, estouraram diversas rebeliões populares. Logo após o Congresso de Viena (1815), a França foi governada pelo rei Luís XVII. Ele não foi um monarca absolutista. Perseguiu os que simpatizavam com a revolução de 1789 ou com Napoleão Bonaparte.
A partir de 1824, o rei Carlos X assumiu o trono. Ele censurou a imprensa e reprimiu os opositores ao regime. Em 1830, a população se rebelou em Paris e o rei Carlos X teve de renunciar. Assumiu então um novo rei, Luís Filipe de Orléans.
O rei Luís Filipe ficou conhecido como o “rei dos banqueiros” (indica que ele favoreceu os grandes capitalistas). Durante seu reinado, a França teve um período de grandes avanços econômicos e industriais. Mas cresceu a desigualdade social. Os burgueses iam ficando milionários, enquanto os operários permaneciam na penúria. Em 1848, houve uma grande crise econômica. Os salários baixaram e o desemprego cresceu, as colheitas foram ruins e a comida escasseou. A insatisfação popular explodiu numa grande revolução. Operários e artesãos juntaram-se a estudantes e pequenos burgueses, e tomaram as ruas da capital. O rei Luís Filipe foi derrubado. A França voltava a ser uma república.
Os principais partidos políticos de oposição organizaram um governo provisório. Esses “socialistas” defendiam reformas, como o sufrágio universal e a criação de oficinas de artesanato do Estado, que dariam trabalho aos desempregados.
Diante da grave situação econômica, os operários de Paris se rebelaram. Foram duramente reprimidos pela Guarda Nacional, e as ruas da capital ficaram tomadas por cadáveres e poças de sangue. A grande burguesia saiu vencedora.
Nessa época houve eleições para um novo presidente da República. As pessoas queriam a ordem e a tranqüilidade a qualquer preço. Então, Luís Bonaparte foi eleito presidente da França. Ele era sobrinho-neto de Napoleão Bonaparte, e usou o sobrenome ilustre para prometer dias fantásticos para a França. Apoiado pela burguesia e pelos militares, liderou em 1852 um golpe de Estado e tornou-se ditador.
A Primavera dos Povos
O ano de 1848 foi o mais revolucionário do século XIX, em muitas regiões. Por isso recebeu o apelido de o ano da Primavera dos Povos. Em vários outros países europeus eclodiram revoltas populares. Nas principais cidades homens e mulheres ocuparam as ruas, ergueram barricadas (usaram entulhos para bloquear as ruas) e enfrentaram as tropas dos governos autoritários.
A expansão do Nacionalismo
Este movimento se expandiu rapidamente pela Europa no início do século XX, alimentado pelas guerras perdidas, rivalidades econômicas, disputa territorial nas colônias da Ásia e da África e a mídia, contribuiu bastante para que acontecesse a Primeira Guerra. Os cidadãos da Sérvia e do Império Austro-Hungaro clamavam por uma guerra, para defender a sua honra. Entre os principais movimentos nacionalistas que se desenvolveram na Europa, podemos destacar:
O Pan-eslavismo: Foi liderado pela Rússia e assim foi chamado porque pregava a união de todos os povos eslavos da Europa Oriental, principalmente aqueles que se encontravam dentro do Império Austro- Húngaro. Na realidade havia interesses econômicos estratégicos, onde os governos dos czares pretendiam chegar às águas quentes(mar Mediterrâneo e oceano Atlântico) para comercializarem produtos.
O Pan-germanismo: Liderado pela Alemanha, pregava a completa anexação de todos os povos germânicos da Europa Central. Na realidade tinham interesse em anexar as regiões das Bálcãs por onde passaria a estrada de ferro Berlim-Bagdá e chegaria aos poços de petróleo do Iraque, que na época pertencia a Inglaterra.
Revanchismo francês: Com a derrota da França na guerra contra a Alemanha, em 1870, os franceses foram obrigados a ceder aos alemães os territórios da Alsácia-Lorena, cuja região era rica em minérios de ferro e em carvão. A partir dessa guerra, desenvolveu-se na França um movimento de cunho nacionalista-revanchista, que visava desforrar a derrota sofrida contra a Alemanha e recuperar os territórios perdidos.
A HEGEMONIA DA EUROPA
Apesar do desenvolvimento dos Estados Unidos e do Japão, a Europa exercia em 1914 a supremacia econômica e política sobre o resto do mundo. Econômica porque controlava a maior parcela da produção mundial, 62% das exportações de produtos fabris e mais de 80% dos investimentos de capitais no exterior, dominando e ditando os preços no mercado mundial. Era a maior importadora de produtos agrícolas e matérias-primas dos países que hoje compõem o Terceiro Mundo. Hegemonia política porque na sua, expansão o capitalismo europeu levou à necessidade de se controlar os países da Ásia, África e América Latina.
Á Europa era desigual quanto à estrutura econômica e política. Dos 23 Estados europeus, 20 eram Monarquias e só a França, Suíça e Portugal eram Repúblicas. Os regimes políticos eram constitucionais, mas o Parlamentarismo, forma típica do Liberalismo Político, só existia de fato na Grã-Bretanha, Bélgica e França, pois os demais países, apesar de constitucionais, possuíam formas autoritárias de governo, como a Áustria-Hungria e a Alemanha. Os problemas sociais refletiam a diversidade das estruturas sócio-econômicas. Nos países da Europa Centro-Oriental a nobreza predominava. Já nos países da Europa Ocidental, a industrialização colocara frente a frente a burguesia e a classe operária. Entretanto, a ameaça de uma revolução social era remota naquele momento, pois a maioria dos partidos socialistas tendia à moderação, aderindo ao jogo político do Liberalismo. As únicas exceções eram algumas facções de esquerda, como os Bolchevistas russos. Só os Estados Unidos e o Japão colocavam-se fora da influência europeia, disputando com o capitalismo europeu “áreas de influência”. Em 1914 os Estados Unidos já eram potência econômica mundial, controlando pequena parcela do mercado mundial e recebendo investimentos da Europa. O Japão, após sua “abertura ao Ocidente”, desenvolveu-se rapidamente via Revolução Meiji, passando a integrar-se ao círculo das nações imperialistas voltando suas vistas para a China e a Manchúria, na Ásia.
Independência da América Latina
Quase todos os países da América Latina têm duas características comuns: terem se emancipado politicamente nas primeiras décadas do século XIX, e terem se tornado dependentes da Inglaterra logo após a emancipação.
A crise do sistema colonial
Internamente, os principais fatores da crise do antigo sistema colonial foram o próprio crescimento das colônias e o consequente aproveitamento dos conflitos entre estas e os governos metropolitanos. Externamente, a crise se explica pela opressiva política mercantilista adotada em toda a América Latina. As metrópoles, como vimos, procuravam obter a maior renda possível por meio do monopólio do comércio colonial. Além disso, arrecadavam grandes somas por intermédio das cobranças abusivas de impostos nas colônias.
Contribuíram também para a crise do antigo sistema colonial, a Revolução Industrial e a independência dos Estados Unidos. Com a Revolução Industrial, os donos de indústria – necessitando de mercados consumidores cada vez mais amplos – passaram a se opor ao Pacto Colonial e a apoiar a emancipação política das colônias. Já a independência dos Estados Unidos serviu de exemplo para outras colônias americanas. As lutas pela independência na América Latina estão associadas, também, à enorme desigualdade social existente na região.
Desigualdades sociais
Nas sociedades hispano-americanas, era muito grande a desigualdade social entre brancos, índios, mestiços e negros, bem como entre os brancos nascidos na Europa e os nascidos na América.
Os indígenas constituíam a maioria da população; eram descriminados racialmente e duramente explorados nas fazendas e minas. Os mestiços eram vistos como “ilegítimos” e, por isso, proibidos de usar armas, jóias e tecidos de seda. Os negros escravos, numerosíssimos nas ilhas da América Central, viviam nas piores condições.
Os brancos compunham as camadas dominantes da sociedade. Entretanto, era enorme a desigualdade social, entre os chapetones (colonos nascidos na Espanha) e os criollos, mesmo sendo ricos fazendeiros, mineradores, comerciantes e possuindo muitas vezes formação universitária, eram marginalizados do poder político e da administração.
Inferiorizada social e politicamente, a elite criolla liderou a luta pela independência das colônias hispano-americanas.
O Haiti
Durante a conquista, os espanhóis dizimaram quase toda a população indígena da ilha Hispaniola, na América Central, encontrada por Colombo em 1492. Mais tarde, os franceses ocuparam a parte oeste desta ilha e a batizaram de Saint-Domingue. Ai, desenvolveram a agroindústria do açúcar, utilizando o trabalho de milhares de escravos africanos.
Em 1791, os negros, que constituíam cerca de 80% da população local, liderados pelo ex-escravo Vicent Ogé e influenciados pelos ideais da Revolução Francesa, promoveram um violento levante contra a elite branca que os explorava. Vicent Ogé foi morto em combate, mas a rebeldia negra continuou, sob o comando do líder popular Toussaint L’Ouverture. Para afugentar de vez o fantasma da escravidão e libertar sua terra da opressão colonialista, Toussaint organizou um exército popular e iniciou a luta pela independência.
Durante a luta, esse líder negro foi preso e acabou morrendo numa prisão francesa. Mesmo assim, o movimento rebelde foi adiante e saiu vitorioso, tendo à frente Jean-Jacques Dessalines, outro líder popular negro. Assim, em 1804, nasceu a República do Haiti, primeiro país livre da América Latina.
Lutas pela independência na América espanhola
A partir do século XVIII, tornaram-se frequentes as manifestações contra o abuso e as violências praticadas pela metrópole a seus representantes. Uma delas foi a gigantesca rebelião indígena ocorrida no Peru, em 1780, sob a liderança de Tupac Amaru. Foram mais de 50 mil nativos armados, exigindo o fim da escravidão indígena e a independência do Peru.
Porém, essa revolta social não conseguiu o seu intento. Soldados espanhóis prenderam e executaram Tupac Amaru, sua família e os seus principais seguidores na cidade de Cuzco. Apesar da repressão, outros movimentos de libertação continuaram a explodir em diversos pontos do território hispano-americano.
Os efeitos do expansionismo napoleônico sobre a América
Em 1808, quando Napoleão tomou o trono espanhol à força e o entregou a seu irmão José Bonaparte, os espanhóis reagiram prontamente, pegando em armas para combater os franceses. Na América, de início, as elites criollas foram estimuladas, por agentes enviados pelo próprio Napoleão Bonaparte, a lutar pelo próprio Napoleão Bonaparte, a lutar pela emancipação política no continente americano.
México
Enquanto as elites criollas preocupavam-se exclusivamente em livrar seus países do domínio espanhol, os camponeses do México – índios e mestiços basicamente – desejavam algo mais que a independência: a divisão da terra entre os pobres. Foi com essa intenção que, em 1810, o padre Miguel Hidalgo, à frente de um exército de camponeses que carregavam estandartes da Nossa Senhora de Guadalupe, iniciou uma rebelião contra a metrópole.
Os rebeldes chegaram a conquistar algumas cidades, entre elas Guadalajara. Mas acabaram sendo derrotados por forças governamentais. Miguel Hidalgo foi fuzilado a mando dos próprios criollos mexicanos que, temerosos em perder seus privilégios, uniram-se aos chapetones para reprimir o movimento.
No ano seguinte, um outro religioso, José Maria Morelos, encabeçou um novo movimento de libertação, cujos objetivos eram:
- a independência do México;
- a divisão das grandes propriedades entre os camponeses;
- o fim dos privilégios e a busca da Igualdade social e racial.
Morelos e seus seguidores chegaram a tomar o poder e a romper oficialmente com a metrópole. No entanto, mais uma vez, a elite criolla juntou-se aos espanhóis e conseguiu massacrar os rebeldes. A rebeldia, porém, continuou crescendo. Para sufocar esses movimentos, o governo espanhol confiou o comando das forças repressoras ao coronel Augustin Itúrbide, que havia se destacado na luta contra o padre Morelos.
Entretanto, o oportunista coronel aproveitou-se da situação, fez um acordo com os rebeldes e proclamou a independência do México em 1821, sagrando-se imperador com o nome de Agustin I. Mas devido ao seu autoritarismo, manteve-se no poder por pouco tempo. Em 1823, um movimento liderado pela elite criolla forçou-o a abdicar. Depois de alguns meses, foi proclamada a República.
América Central
Animados pelo exemplo do México, os criollos centro-americanos proclamaram a independência da Capitania Geral da Guatemala em 1821. Mas, no ano seguinte, ela foi anexada ao México pelo imperador Agustin Itúrbide. Reagindo às pretensões expansionistas do imperador mexicano, os centro-americanos desligaram-se de México em 1823 e formaram a República das Províncias Unidas da América Central.
Entretanto, essa união são sobreviveu por muito tempo. Foi desfeita por causa das disputas políticas entre as elites criollas e, também, porque contrariava os interesses do capitalismo inglês, que preferia a América dividida para mais facilmente dominá-la. O esfacelamento das Províncias Unidas da América Central deu origem às republicas independentes da Guatemala, Honduras, Costa Rica, Nicarágua e El Salvador.
América do Sul
Desde o início do século XIX, os países de colonização espanhola da América do Sul organizaram exércitos patrióticos para lutar pela independência. Esses exércitos eram formados, em sua maior parte, por forças populares. Já a direção militar e política da luta esteve sempre nas mãos da elite criolla, que recebeu ajuda militar e financeira da Inglaterra, fato que muito contribuiu para o sucesso da luta. Os ingleses, como vimos, tinham interesses na abertura dos mercados americanos a fim de colocar os seus produtos.
O Paraguai foi o primeiro país sul-americano a conquistar sua independência, em 1811. Para isso, foi decisiva a união entre os criollos de Asución, liderados por Gaspar Rodrigues de Francia, e um exército de libertação enviado pelos argentinos.
O Uruguai continuou fiel à Espanha até 1821, ano em que foi conquistado e incorporado ao Brasil, com o nome de Província Cisplatina. Os uruguaios só conseguiram libertar-se do domínio brasileiro graças a mediação da Inglaterra, que desejava preservar seus interesses na região. Em 1828, depois de três anos de lutas, nasceu a República Oriental do Uruguai.
Na Argentina, a luta pela independência partiu de Buenos Aires e foi comandada por San Martin. O exército de libertação que se formou nessa cidade teve de lutar em duas frentes: contra os espanhóis e contra as províncias do interior que não aceitavam a liderança da capital. Isso contribuiu para atrasar a oficialização da independência, que só ocorreu em 1816, no Congresso de Tucumã. Depois de ter garantido a independência da Argentina, San Martin avançou através dos Andes, acompanhado de 4 mil soldados e auxiliado pelas forças chilenas lideradas por Bernardo O’Higgins. Em 1818, derrotaram os espanhóis e libertaram o Chile. Depois, o chamado “Exército dos Andes” desembarcou na costa peruana, protegido por navios ingleses, e libertou o Peru (1821).
Ao mesmo tempo, um outro exército de libertação, comandado por Simon Bolívar, venceu as forças espanholas sucessivas vezes, libertando a Colômbia (18190), a Venezuela (1821) e o Equador (1822). Finalmente, em 1825, atendendo ao pedido dos habitantes da região mineira de Potosi, o general José Sucre ocupou Lapaz e proclamou a independência da Bolívia.
Simón Bolívar e o pan-americanismo
Nascido em uma família aristocrática de Caracas, Simón Bolívar aparece em posição de destaque porque é considerado um dos principais responsáveis pela organização das lutas pela independência da América espanhola, tendo liderado o processo de independência de diferentes nações, como Bolívia, Equador, Colômbia, Panamá, Peru e Venezuela, de onde foi presidente por mais de dez anos.
Bolívar tinha um projeto político de unidade latino-americana, amparado nas raízes culturais e nos interesses em comum da população que vivia no continente. Para ele, depois das lutas emancipacionistas, os povos da América deveriam se unir como forma de se livrar dos resquícios do domínio colonial no continente e, juntos, terem força no jogo das relações internacionais da época.
Esse projeto ficou conhecido como pan-americanismo, um movimento que tinha como objetivo unificar os territórios da América espanhola sob uma única liderança. Porém, ele não se transformou em realidade. Os povos dominados pela Espanha se organizaram, de acordo com suas identidades políticas e culturais, em torno de diferentes países, cada qual com seu próprio governo e com sua própria organização de Estado.
Apesar disso, em 1826, Bolívar e seus aliados organizaram um congresso no Panamá para aproximar os países da América Latina. As elites criollas, temendo perder o controle de muitas regiões, opuseram-se e inviabilizaram o projeto.
Reações externas à Independência
Nas lutas para impedir a libertação de suas colônias americanas, a Espanha contou com suas próprias armas e também com a ajuda dos exércitos da Santa Aliança. Apesar disso, foi derrotada graças à ação da Inglaterra e dos Estados Unidos, que apoiaram abertamente a emancipação política da América Latina.
A Inglaterra colocou-se ao lado dos países latino-americanos porque esperava transformá-los em mercados fornecedores de matérias-primas e consumidores de produtos industrializados. Os Estados Unidos, por sua vez, desejavam estender sua influência política e econômica sobre toda a América. Por isso, colocaram-se radicalmente contra a intervenção europeia em qualquer das nações latino-americanas. Prova dessa intenção é a Doutrina Monroe em 1823, cujo lema era a “América para os americanos”.
Negros, indígenas e mulheres
De fato, as guerras pela independência iniciadas nas regiões de Caracas (sob a liderança de Bolívar) e de Buenos Aires (lideradas por José de San Martín) foram movimentos protagonizados pelos criollos, ou seja, representantes das camadas altas da sociedade colonial, como donos de terras e comerciantes. Porém, esses movimentos se espalharam junto a outros grupos sociais, e, ao longo do continente, negros, indígenas, mestiços e camponeses tiveram grande participação nas batalhas travadas, o que foi deixado de lado na obra do artista.
Durante o período colonial, as populações negras e indígenas sofreram um processo de exclusão nos territórios coloniais. As práticas escravistas e a exploração compulsória do trabalho indígena resultaram em diversas formas de violência e limitaram a participação desses grupos em espaços de decisão política. Com o processo de independência, essa situação pouco mudou, e indígenas e negros tiveram seus direitos de cidadania negados na quase totalidade dos novos Estados.
Na região do México, o movimento emancipacionista começou justamente entre os representantes das camadas mais baixas da população. Ali, negros, camponeses, indígenas, mestiços e
mulheres, sob a liderança de religiosos como o padre Miguel Hidalgo e José Maria Morelos, protagonizaram as lutas contra a dominação espanhola. Apesar dessa grande participação popular, quando o México se tornou independente, em 1821, o país ficou sob o controle de um líder criollo.
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