domingo, 18 de agosto de 2024

Redes de transporte no Brasil

As redes de transportes têm papel fundamental na integração do território de um país. Essas redes possibilitam ligações entre diferentes áreas e podem ser rodoviárias, ferroviárias, aquaviárias e aéreas. É por meio delas que ocorre a circulação de mercadorias e de pessoas.
No Brasil, adotou-se o transporte rodoviário como a principal opção para circulação de pessoas e bens. A distribuição das mercadorias pelo país ocorre predominantemente por meio de caminhões que trafegam por rodovias. Depois, vem o transporte ferroviário, que é o principal meio de deslocamento de recursos naturais. As hidrovias estão atrás das ferrovias, seguidas pelo sistema dutoviário, o qual transporta parte dos minerais, gás natural e petróleo, e o setor aéreo.

Os transportes e a integração do território brasileiro 

No Brasil, as regiões tinham poucas conexões de transportes até meados do século XX, o que limitava a circulação. Desde então, o governo federal passou a investir na ampliação das redes de transporte, principalmente o rodoviário, com a intenção de conectar centros de produção industrial (no início, muito concentrados no Sudeste) aos locais de consumo (sobretudo nas cidades do país). Também passou a priorizar a ligação entre áreas de produção agropecuária e os portos, o que influenciou o traçado das vias de transporte. Atualmente, o território encontra-se relativamente integrado, com predominância das rodovias, mas com presença importante das ferrovias, das hidrovias e do transporte aéreo. Tem-se buscado, cada vez mais, a multimodalidade, isto é, a utilização combinada de diferentes tipos de transporte para a circulação de mercadorias. Há pontos de conexão entre ferrovias, hidrovias e rodovias, de modo a reduzir custos e aproveitar as vantagens de cada tipo de transporte ao longo dos trajetos

Transporte rodoviário 

O transporte rodoviário é a principal modalidade de transporte no país, respondendo por mais de 60% do transporte de cargas. Apesar dos grandes custos de manutenção (das rodovias e dos veículos), esse modal permite flexibilidade no trânsito de veículos entre diferentes localidades. O planejamento das rodovias federais brasileiras buscou garantir a integração do território em múltiplas direções: radial (com centro em Brasília); longitudinal (direção norte-sul), transversal (direção leste-oeste) e diagonal (direção sudeste-noroeste, principalmente).
Entre os anos 1950 e 1980, os governos estaduais e federal realizaram grandes investimentos na expansão da rede de rodovias, que continua crescendo atualmente, porém em ritmo mais lento.
A utilização das rodovias como principal meio de transporte expandiu-se no Brasil ao longo do século XX como consequência do desenvolvimento industrial e do crescimento das cidades. A indústria automobilística teve um papel decisivo no modelo industrial implantado no país a partir da década de 1950. Desde então, verificou-se o aumento da circulação de automóveis e de caminhões associado ao crescimento das estradas.
Na década de 1940, a única rodovia pavimentada importante que existia era a Presidente Dutra, que liga os estados de São Paulo e Rio de Janeiro. Na década seguinte ocorreu um enorme impulso à construção de rodovias no país. Nessa época, as indústrias concentradas em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Minas Gerais procuravam vender suas mercadorias em todo o território brasileiro, por isso foram construídas estradas para a circulação de cargas e de trabalhadores.
Na década de 1960, foi construída a Rodovia Rio-Bahia, interligando os estados do Nordeste com o Centro-Sul do país. É também dessa época a construção da Rodovia Régis Bittencourt, que faz a ligação de São Paulo com o Paraná e demais estados da região Sul. A inauguração de Brasília, também na década de 1960, foi um marco no processo de expansão da rede rodoviária nacional, pois levou à construção de estradas ligando as capitais dos estados vizinhos ao Distrito Federal com as principais capitais do país (São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte) e com a Amazônia, tais como a Belém-Brasília e a Cuiabá-Porto Velho. 
Toda essa malha rodoviária federal, que continuaria crescendo nas décadas seguintes, encontra-se organizada em um Plano Rodoviário Nacional. Partindo de Brasília, estão em funcionamento ou planejadas as chamadas rodovias radiais, numeradas de 0 a 100 (a BR-50 é a Via Anhanguera, que liga Brasília a São Paulo). Traçadas no sentido norte-sul, estão as estradas numeradas de 100 a 200, como a Rodovia BR-101, que interliga capitais dos estados brasileiros litorâneos. No sentido leste-oeste, localizam-se as estradas numeradas de 201 a 300, como a Rodovia Transamazônica (BR-230). E, finalmente, traçadas diagonalmente, encontram-se as rodovias numeradas de 301 a 400, como a Rodovia BR-364, mais conhecida como Cuiabá-Porto Velho. O resultado é uma complexa malha de estradas.
Apesar disso, de acordo com a Confederação Nacional do Transporte, em 2017 apenas 12,2% das rodovias eram pavimentadas, o que correspondia a cerca de 210 mil quilômetros de um total de 1,7 milhões de quilômetros de estradas no Brasil. 
Ao mesmo tempo, verifica-se o crescimento da frota de veículos: quase 200% de 2001 a 2016. Tais dados revelam que a qualidade e o crescimento da malha rodoviária não acompanham a demanda de escoamento de cargas e o deslocamento de pessoas. Esse fato expõe os graves problemas de infraestrutura no setor, comprometendo a segurança dos usuários.

Transporte ferroviário 

As ferrovias começaram a ser implantadas no país ainda no século XIX. Voltadas sobretudo para a conexão das áreas produtoras de café com a cidade de São Paulo e o porto de Santos, aos poucos foram se expandindo e tornaram-se o principal meio de transporte de mercadorias em longas distâncias na primeira metade do século XX. Nos anos 1960, chegaram ao máximo de extensão de sua malha (38 mil km), mas problemas ligados a diferenças técnicas de cada linha dificultavam a integração entre diferentes áreas do país e acabavam limitando a circulação e dificultando a integração do território. Atualmente, a rede ferroviária tem extensão de 30 mil km, a maior parte com administração concedida pelo Estado a empresas privadas. Em 2020, as ferrovias transportaram mais de 488 mil passageiros e 486 milhões de toneladas de mercadorias, o que equivale a 21% das cargas do país.
Segundo o Ministério dos Transportes, em 2017, o sistema ferroviário brasileiro possuía cerca de 30 mil quilômetros de extensão, distribuídos em uma malha viária que se concentrava, principalmente, nos estados das regiões Sul e Sudeste. No Rio Grande do Sul e em Mato Grosso do Sul, seu traçado atinge os países vizinhos, como a Argentina, o Uruguai e a Bolívia.
Ao contrário do que aconteceu em outros países com grande extensão territorial, como os Estados Unidos, a China, a Rússia e o Canadá, no Brasil as ferrovias não foram planejadas para integrar o território. Grande parte da malha ferroviária brasileira foi construída entre o final do século XIX e a primeira metade do século XX, com o objetivo de ligar as áreas de produção de café e artigos primários aos portos exportadores. Atualmente, os trens são mais usados para transportar grãos e minérios em vagões com elevada capacidade de carga. 
No estado de São Paulo, por exemplo, a malha ferroviária é principalmente uma herança da economia cafeeira: os ramais foram abertos em forma de leque, ligando as áreas produtoras do interior do estado ao porto de Santos e avançando junto com a marcha do café. 
Com o processo de industrialização, o modelo ferroviário entrou em decadência no Brasil. Enquanto as rodovias cresciam em importância e em extensão, ligando as diferentes regiões brasileiras e articulando a troca de mercadorias e a circulação de pessoas pelo território, as ferrovias perdiam carga. Aos poucos, investidores privados abandonaram o setor e a maior parte das ferrovias foi apropriada pelo governo. 
Assim, surgiram a Rede Ferroviária Federal S.A. (RFFSA), unificando 18 linhas ferroviárias que passaram a ser controladas pelo governo federal, e a Ferrovia Paulista S.A. (Fepasa), abrangendo a malha ferroviária paulista, que passou a ser controlada pelo governo estadual. Pela Fepasa e pela RFFSA, circulavam cerca de 70% da carga transportada por ferrovia no Brasil. Isso inclui, por exemplo, derivados de petróleo, adubo, cimento, açúcar e trigo. 
Para o transporte de minério de ferro foram construídas duas linhas ferroviárias: a Estrada de Ferro Carajás, que liga as jazidas minerais de ferro do sul do Pará, na serra do Carajás, ao Terminal Marítimo de Itaqui, no Maranhão, e a Estrada de Ferro Vitória-Minas, que liga as jazidas de ferro de Minas Gerais ao porto de Tubarão, no Espírito Santo.
Porém, em meados da década de 1990, essa situação começou a mudar. Todas as malhas da RFFSA, a maior parte delas em situação de abandono total, foram cedidas em concessão para a iniciativa privada, e hoje a empresa não existe mais. O mesmo aconteceu com a Fepasa. As linhas da empresa que explora minério de ferro também foram privatizadas. 
A privatização não alterou de maneira significativa o panorama ferroviário do país. Verificou-se alguma expansão discreta em estados do Nordeste. 

Transporte aquaviário 

O transporte aquaviário pode ser fluvial ou marítimo, dividindo-se em três tipos principais: 
Marítimo: corresponde à navegação em longas distâncias. É muito utilizado para importação e exportação de produtos. 
Cabotagem: ocorre no mar, mas em águas costeiras, próximo ao continente. Serve ao transporte em pequenas e médias distâncias. No Brasil, é muito utilizada para transportar petróleo para ser refinado ou exportado. 
Hidroviário: ocorre em trechos navegáveis dos rios. É importante ressaltar que nem todos são utilizados de fato. No Brasil, o transporte de cargas e passageiros ocorre em apenas 30% deles. Os trechos dos rios utilizados para navegação são chamados de hidrovias. As principais hidrovias do Brasil são: Tocantins-Araguaia; Solimões-Amazonas; São Francisco; Madeira; Tietê-Paraná.

Hidrovias e portos 

Parte dos rios brasileiros é usada para navegação, mas, quando comparado a outros países, como os Estados Unidos, o aproveitamento do transporte fluvial é reduzido no Brasil. Já os portos mantiveram a sua importância e são a principal porta de saída e chegada de produtos. 

Hidrovias 

Durante muito tempo, os rios brasileiros representaram importantes vias de acesso ao interior do país. Pelas margens do rio São Francisco, o povoamento foi se distanciando dos engenhos de açúcar do litoral nordestino. Através dos rios do Brasil central, organizaram-se inúmeras expedições que alargaram os domínios portugueses no continente sul-americano. As necessidades da indústria estão forçando a retomada de antigos projetos voltados para o aproveitamento dos cursos fluviais navegáveis do Brasil.
A Hidrovia Tietê-Paraná interliga 2 400 quilômetros de rios de quatro entre os maiores estados produtores de grãos do país – São Paulo, Paraná, Mato Grosso do Sul e Goiás. Por ali já circulam barcaças com grãos, calcário e areia, por exemplo. À medida que esse projeto avança, torna-se necessário melhorar também os demais sistemas de transporte, como as ferrovias e rodovias, caminhando rapidamente para o funcionamento de um intenso sistema intermodal no Brasil. A Hidrovia do São Francisco parte do Porto de Pirapora, em Minas Gerais, em direção a Petrolina, em Pernambuco, e é usada para escoar a produção de milho. É o início de um sistema em que caminhões retiram o milho das grandes áreas produtoras na região de Patos de Minas (MG), levam para embarcações em Pirapora e se encarregam do transporte no trecho final. Contudo, apesar de todas essas possibilidades, muito ainda terá de ser feito para transformar a realidade dos transportes brasileiros. Por enquanto, quando se fala de portos no Brasil, o movimento é principalmente marítimo. 

Portos 

Portos são fundamentais para um país. É por eles que grande parte dos produtos exportados e importados passa antes de chegar aos consumidores. 
É pelos portos que ocorre a maior parte das exportações e das importações brasileiras, com destaque para o transporte marítimo de longo curso (entre continentes). Em 2021, 67% da carga movimentada nos portos foi destinada a esse tipo de navegação. A cabotagem também apresentou importante participação na movimentação portuária, 28% do total. Já os portos hidroviários movimentaram cerca de 3,7% das cargas. As principais cargas transportadas eram: minério de ferro, petróleo e derivados, cargas em contêineres, sementes, grãos e adubos. No Brasil, existem muitos portos que merecem destaque.
O Porto de Santos (SP) é o mais importante. De acordo com dados da Secretaria de Portos do Brasil (SEP), em 2017 ele era responsável por 45% de toda a movimentação nacional de contêineres. Outros portos importantes são o Porto do Rio de Janeiro (RJ), que movimenta, entre diversos produtos, óleos combustíveis e produtos diversos da indústria química; o Porto de Paranaguá (PR), que movimenta soja, farelo de soja e óleos vegetais; e o Porto de Pecém (CE), que movimenta calçados e frutas.

Transporte aéreo 

O transporte aéreo, por ser mais caro, é menos utilizado comparativamente às outras modalidades. Destaca-se, no Brasil, sua utilização para o transporte de passageiros, principalmente em longas distâncias. No caso de cargas, é destinado ao deslocamento daquelas de maior valor e à entrega de encomendas expressas do correio, isto é, com prazos curtos de entrega. Entre 2000 e 2019, houve um aumento significativo dos passageiros transportados, com forte queda em 2020 e 2021, durante a pandemia da covid-19. No mesmo período, o transporte de cargas e correspondências apresentou oscilações, com pequena queda em 2020 e recuperação em 2021.
O transporte aéreo tem grande importância para o deslocamento de passageiros. Em 2017, de acordo com os dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), os aeroportos brasileiros mais movimentados são os internacionais de Guarulhos e de Viracopos, em Campinas (ambos em São Paulo), Tom Jobim (no Rio de Janeiro), de Brasília e os situados nas metrópoles do Nordeste, com destaque para os aeroportos de Salvador, Fortaleza, Recife e Maceió. Na região Norte, os aeroportos de Manaus e de Belém apresentam os maiores fluxos de cargas e passageiros.

Transporte urbano 

No Brasil, o transporte urbano é muito importante dado que grande parte da população vive em cidades. Os deslocamentos para trabalhar, estudar, lazer, entre outras atividades, são realizados de maneiras diferentes.
O transporte público é ofertado em ônibus de diversos tamanhos. Existem situações em que faixas são destinadas para a circulação restrita de ônibus coletivos, o que aumenta a velocidade e reduz o tempo de deslocamento. 
Em algumas cidades trens e sistemas de metrô permitem o transporte de grande quantidade de pessoas mais rapidamente. Porém, o transporte público em geral é oferecido aquém das necessidades da população e o resultado são lotações às vezes além do limite. 
Nos últimos anos foi incentivado em algumas capitais e cidades de maior porte do país o uso da bicicleta por meio da instalação de ciclovias. Além de não emitir poluição, pedalar é uma atividade física e resulta em melhor qualidade de vida.
Porém, há um grande número de automóveis e motocicletas na maior parte das cidades. O resultado disso são congestionamentos que tomam parte do dia dos moradores, muitos dos quais destinam horas ao deslocamento. Táxis e, mais recentemente, empresas que oferecem transporte por meio de aplicativos para celulares, também são usados para deslocamentos em cidades brasileiras. 


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