domingo, 24 de setembro de 2023

A Questão judaico-palestina

 Uma região de conflitos

A maior parte do Oriente Médio pertencia, até a Primeira Guerra Mundial, ao Império Otomano. Com a derrota desse império, a região tornou-se principalmente zona de influência da França e da Inglaterra.
Os conflitos no Oriente envolviam o nacionalismo árabe, a questão judaico-palestina e os interesses internacionais pelo controle do petróleo. Por essas características, o Oriente Médio tornou-se, durante a Guerra Fria, um dos maiores focos de tensão entre as superpotências, principalmente após a criação do Estado de Israel.

Criação do Estado de Israel

No início da era cristã, uma rebelião na Judéia, província dominada por Roma(mais tarde chamada de Palestina), desencadeou a forte repressão das forças romanas. Depois disso, a maior parte dos judeus se refugiou em vários outros territórios, mantendo, porém, sua identidade cultural. 
A partir daí, os judeus foram forçados a migrar para outras regiões da Europa e para a África. Esse movimento ficou conhecido como Diáspora, ou seja, a dispersão dos judeus pelo mundo. Desde o final do século XIX, muitos judeus imigraram para a Palestina, território onde existiu o Reino de Israel até 70 d.C., quando os romanos destruíram o Templo de Jerusalém e a população local teve de se exilar. Esses judeus eram guiados pelos ideais do movimento sionista (de Sion, uma colina situada em Jerusalém), que, inspirado nos fenômenos nacionalistas da Europa, defendia o retorno à chamada Terra Prometida e a criação de uma pátria que abrigasse os judeus de todo o mundo.
No século XX, os judeus realizaram intensa migração para a Palestina, impulsionados pelo sionismo e pela Segunda Guerra Mundial:

  • Sionismo: doutrina política criada no século XIX, favorável à reunião de todos os judeus do mundo em um só Estado judaico, Israel. 
  • Os horrores praticados pelos nazistas contra os Judeus na Segunda Guerra Mundial, o holocausto, também criaram uma situação favorável à criação do Estado de Israel. 
Ao fim da Segunda Guerra Mundial, o trauma causado pelas perseguições nazistas aumentou o fluxo migratório de judeus europeus em direção à Palestina, e a divulgação dos horrores praticados nos campos de extermínio fez com que parte da opinião pública internacional se tornasse favorável ao sionismo.

Judeus comemoram criação do Estado de Israel
Em 1947, a ONU aprovou a divisão da Palestina em dois Estados: um árabe e outro judeu. Em 14 de maio de 1948, os judeus criaram unilateralmente o Estado de Israel, com o apoio dos Estados Unidos e da União Soviética. O plano de divisão da Palestina proposto pela ONU foi bem aceito pelos judeus, mas foi recusado pelas nações árabes, que invadiram Israel, iniciando a primeira Guerra Árabe-Israelense.
O resultado disso foi a guerra deflagrada, naquele mesmo ano, entre árabes e israelenses. Após 15 meses de lutas, Israel venceu os árabes e expandiu seus territórios sobre as terras antes ocupadas por palestinos. 
As tropas de Israel lutaram contra as forças da Transjordânia (atual Jordânia), do Egito, da Síria, do Líbano e do Iraque. Após vencer essa guerra, Israel expulsou quase 750 mil palestinos, que passaram a viver como refugiados em nações vizinhas.
Apesar de derrotados nesse conflito, que ficou conhecido como a Primeira Guerra Árabe-Israelense, os Estados árabes do Oriente Médio mantiveram-se contrários à existência de Israel. A região tornou-se um foco de tensão constante.
Desde sua criação, o Estado de Israel adotou uma política expansionista, avançando sobre territórios reservados aos palestinos na proposta original da ONU.

Desenrolar dos conflitos

Sucessivas guerras têm sido travadas entre palestinos e israelenses desde essa época, muitas das quais envolvendo países vizinhos. Durante o período da Guerra Fria, a situação explosiva na região causou o receio de uma intervenção direta das superpotências mundiais, sobretudo porque os Estados Unidos auxiliaram militarmente Israel, tornando-o porta-voz de seus interesses no Oriente Médio, aliança que ainda se mantém.
A Primeira Guerra Árabe-Israelense (1948), foi o primeiro de uma série de conflitos na região, conhecidos como Guerra de Suez (1956), Guerra dos Seis Dias (1967) e Guerra do Yom Kippur (1973), em que os Estados Unidos apoiaram Israel e a União Soviética apoiou os árabes. Essas guerras terminaram com a ocupação por Israel de todo o território destinado pela ONU aos palestinos.



A Questão Palestina

Antes de 1948, a Palestina era habitada principalmente por povos de origem árabe, os palestinos. Com a criação do Estado de Israel, os palestinos passaram a viver em campos de refugiados mantidos pela ONU. Desde então, eles passaram a lutar pela recuperação de seus antigos territórios e pela criação de um Estado independente conforme resolução da ONU.
Na luta pela afirmação da soberania palestina surgiu a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), criada em 1964 e liderada por Yasser Arafat, que se tornou o principal representante dos palestinos em sua luta contra o Estado de Israel.

A expansão de Israel

Em 1967, eclodiu uma nova guerra, dessa vez entre o Estado israelense e o Egito, a Síria e a Jordânia. Em apenas seis dias, Israel derrotou os exércitos dos três países árabes. Em seis dias, os israelenses conquistaram o Sinai, a Faixa de Gaza, a Cisjordânia, as colinas de Golã e a parte oriental de Jerusalém
Como resultado, mais palestinos foram expulsos de suas terras, e Israel ocupou vários territórios, incluindo a cidade de Jerusalém.
Chamado de Guerra dos Seis Dias, o conflito serviu também para consolidar a Guerra Fria na região: Síria e Egito aproximaram-se da União Soviética, ao passo que Israel obteve o apoio dos Estados Unidos. No final do conflito, além do grande número de mortos e feridos, os países derrotados tiveram parte de seus territórios ocupada, e cerca de 500 mil palestinos tiveram de se refugiar
Na Guerra do Yom Kippur(feriado judaico do dia do perdão), em 1973, os exércitos do e da Síria avançaram em direção ao Sinai e as colinas de Golã. Israel com a ajuda dos Estados Unidos, conseguiu deter a ofensiva árabe, e ganhou a guerra.
Em resposta à vitória de Israel na Guerra de Yom Kippur, os países árabes cortaram o fornecimento de petróleo aos países simpatizantes de Israel, gerando a chamada crise do petróleo, com graves consequências econômicas no mundo todo, principalmente nos países capitalistas.

A RESISTÊNCIA PALESTINA

Quando o primeiro conflito se iniciou, em 1948, viviam na região cerca de 1,4 milhão de palestinos. Um ano depois, metade deles já tinha deixado suas casas para viver em terras
da Palestina ainda não controladas por Israel e em países árabes vizinhos. Desde então, os palestinos passaram a lutar pela recuperação de seus antigos territórios e pela criação de um Estado independente.
Muitos palestinos, fugindo das guerras e da perseguição israelense, dirigiram-se a países vizinhos da Palestina, onde frequentemente instalaram-se em campos de refugiados. Grupos de refugiados se uniram e fundaram, em 1964, a Organização para a Libertação da Palestina (OLP).
De início, essa organização atuou como força auxiliar das nações que lutavam pela criação de um Estado palestino. Com a derrota dos exércitos árabes na Guerra dos Seis Dias, a OLP passou a atuar isoladamente, promovendo atentados terroristas a alvos israelenses.
Liderada de 1969 a 2004 por Yasser Arafat (1929-2004), a OLP passou a agir principalmente na Síria e no Líbano, de onde promovia ataques a Israel. As ofensivas motivaram a invasão do Líbano pelas forças israelenses, em 1982. Essa invasão, que praticamente destruiu o sul do território libanês e sua capital, atingindo duramente a população civil, teve êxito na tarefa de expulsar a OLP, mas levou a opinião pública internacional a se posicionar contra os israelenses.
A Intifada
Em 1987, moradores da Cisjordânia e da Faixa de Gaza, zonas palestinas ocupadas por Israel desde 1967, iniciaram uma rebelião contra a ocupação israelense. Esse primeiro movimento espontâneo, levou o nome de Intifada (guerra das pedras), pois eram assim que os palestinos enfrentavam o exército israelense. Esse movimento era formado principalmente por jovens palestinos, que compunham a população civil e reuniam-se para protestar contra Israel, atacando os soldados israelenses e seus veículos com pedras, paus e bombas caseiras.
Esse confronto provocou grande repercussão. A morte de milhares de palestinos e centenas de israelenses chamou a atenção de todo o mundo para os conflitos no Oriente Médio.

Intifada (guerra das pedras)

Em 2000, eclodiria uma nova Intifada, que só terminaria em 2005.

Negociações para a paz

Na tentativa de se estabelecer a paz, foram debatidos acordos em que os pontos fundamentais em questão se baseiam no princípio da troca de terras por paz, ou seja, que haja a devolução de territórios ocupados por Israel como meio para colocar um fim nos conflitos. Esses pontos são, basicamente:
• o reconhecimento recíproco dos dois Estados, por parte de Israel e da Palestina;
• a restituição de territórios ocupados por israelenses durante as guerras;
• a disputa por Jerusalém, cidade sagrada tanto para judeus quanto para muçulmanos e cristãos.
Após as guerras que resultaram na expansão israelense, os governos de Israel e dos países árabes tomaram algumas iniciativas para reverter a tensão e negociar a paz:

 Acordo de Camp David (1978)

Em 1979, Israel e Egito assinaram os acordos de Camp David, com mediação dos Estados Unidos, pelos quais determinou-se a devolução do Sinai (região invadida por Israel desde 1967) ao Egito e previu-se a retirada israelense da Cisjordânia (ocupada desde 1967), restabelecendo-se as relações diplomáticas entre os dois países. Em contrapartida, os palestinos conquistaram o apoio das demais nações árabes, que repudiaram os acordos.

O Acordo de Oslo
No início da década de 1990, após anos de conflitos, parecia ser possível a paz entre árabes e israelenses. Desgastado por anos de atentados terroristas e pressionado pelos Estados Unidos, o governo israelense tomou a decisão histórica de negociar com a OLP.
Somente em 1993, as negociações de paz avançaram e deram origem ao Acordo de Oslo, assinado pelo então primeiro-ministro israelense Yitzhak Rabin e por Yasser Arafat, líder da OLP. O lema do então primeiro-ministro de Israel, Yitzhak Rabin, era “Terra em troca de paz”, ou seja, devolver aos palestinos parte das terras invadidas na guerra de 1967 em troca do fim dos ataques da OLP. Ao assinar o acordo, que foi intermediado pelo então presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, os palestinos reconheciam o Estado de Israel e os israelenses se comprometiam a retirar seus exércitos da Faixa de Gaza e da Cisjordânia, aceitando o direito dos palestinos a um Estado livre e autônomo na região. Essa foi a base para o Acordo de Oslo, ratificado por Yitzhak Rabin e por Yasser Arafat em Washington D.C., em setembro de 1993.
O Acordo de Oslo previa a criação de um Estado palestino, retomando parcialmente o projeto da ONU de 1947. Em uma fase intermediária, os territórios palestinos teriam autonomia relativa e seriam administrados pela Autoridade Palestina, órgão que iria preceder o futuro Estado.
Desde 1993, autoridades palestinas e o governo de Israel vinham discutindo a criação de um Estado palestino. O resultado concreto dessas negociações foram a criação da Autoridade Nacional Palestina, entidade responsável pela administração dos territórios palestinos, e o controle palestino sobre a cidade de Jericó e a Faixa de Gaza.
O acordo de paz logo enfrentou oposição. Grupos radicais israelenses, por exemplo, opunham-se a qualquer acordo com os palestinos, exigindo a expulsão deles e a ocupação definitiva da região por Israel. Um desses grupos orquestrou o assassinato de Yitzhak Rabin, morto em 1995.
Os pontos de desacordo são a divisão de Jerusalém entre israelenses e palestinos, a retirada dos colonos israelenses de terras palestinas, o retorno de refugiados das guerras árabe-israelenses a suas antigas terras e o reconhecimento da Palestina como Estado independente.
Não havia consenso também entre os palestinos, e ainda não há. No Acordo de Oslo, o Fatah, grupo que controla a OLP, abandonou o objetivo de destruir Israel e, em 1995, a Autoridade Palestina, sob o comando do Fatah, passou a administrar a Faixa de Gaza e a Cisjordânia. Contudo, grupos radicais palestinos, como o Hamas e a Jihad Islâmica, opuseram-se à política de reconciliação com Israel, pois defendiam a completa destruição do Estado israelense, e não reconheceram o acordo de paz.
A paz, no entanto, durou pouco. Na década de 2000, a tensão voltou a crescer com atentados comandados por grupos terroristas palestinos, como o Hamas. Em 2002, com a justificativa de proteger-se dos atentados, o governo de Israel deu início à construção de um muro na divisa do país com a Cisjordânia, separando o território judaico do palestino.
Em 2003, os Estados Unidos, Rússia, União Européia e ONU divulgaram um novo plano para a região, o chamado Mapa de Estrada, que promoveria, até 2005, a criação de um Estado palestino, que conviveria pacificamente com Israel. Também esse plano fracassou.
Em agosto de 2005, o governo de Israel decretou o fechamento da Faixa de Gaza aos israelenses e a retirada dos colonos judeus que lá viviam e de quatro colônias do norte da Cisjordânia, facilitando a ocupação da região por palestinos.
Ao mesmo tempo em que tomava uma iniciativa que poderia auxiliar a paz, o governo israelense continuava a construção, iniciada em junho de 2002, de um “muro de proteção” entre Israel e a Cisjordânia. A construção gerou, desde o início, tensões políticas internas e muitas críticas palestinas e da comunidade internacional.
A construção do “muro de proteção”, separando judeus e palestinos, começou a ser reivindicada depois do início da nova Intifada, em 2000, quando uma onda de atentados terroristas atingiu cidadãos israelenses.
Com extensão prevista de 350 quilômetros, o muro deixa sob domínio israelense Jerusalém Oriental, anexada por Israel em 1967 e onde os palestinos pretendem a capital de seu futuro Estado.
Em 2017, completaram-se 50 anos da Guerra dos Seis Dias, que envolveu Israel, palestinos e países árabes vizinhos. Nesse período, as principais negociações de paz e de criação de uma estrutura política que fosse satisfatória tanto para israelenses quanto para palestinos fracassaram.
A oscilação nas negociações e as constantes mudanças no cenário político internacional e local mostram que a situação permanece explosiva na região e a paz parece distante.

O futuro da Autoridade Palestina

A Organização para a Libertação da Palestina (OLP), criada em 1964 e liderada por Yasser Arafat, gerou a Autoridade Nacional Palestina (ANP) após as negociações de paz de 1994 em Oslo, na Noruega. A ANP se tornou desde então a principal representante dos interesses palestinos.
Com a morte de Arafat, em 2004, iniciou-se um período de disputa entre diversos grupos palestinos pelo controle da ANP. Em janeiro de 2005, Mahmoud Abbas, do Fatah, grupo ao qual pertencia Arafat, venceu as eleições para a Presidência da ANP. Nas eleições parlamentares de janeiro de 2006, porém, o grupo radical Hamas conseguiu vitória. 
Pela primeira vez na história da Autoridade Palestina, o presidente e o primeiro-ministro pertencem a grupos diferentes e têm posições distintas: enquanto Abbas defende negociações com Israel, o Hamas é contrário a qualquer aproximação com o Estado judeu que implique fazer concessões.
As divergências entre o Fatah e o Hamas levaram os territórios palestinos a uma situação de permanente instabilidade.
Em 2007, o Hamas, que havia vencido as eleições palestinas no ano anterior, expulsou as lideranças do Fatah da Faixa de Gaza, o que deu início a constantes atritos entre as duas organizações.
Apesar de alguns avanços, como a retirada de moradores judeus da Faixa de Gaza (em 2005) e o reconhecimento da Autoridade Palestina e do conjunto de seus territórios como Estado não membro da ONU (em 2012), grupos radicais palestinos e israelenses continuam a promover a violência.
Um novo cenário do conflito na região surgiu em 2017. O Fatah e o Hamas assinaram um acordo de reconciliação prevendo a formação de um governo de união nacional para os palestinos. O governo de Israel reagiu afirmando que, caso os dois grupos de fato se juntassem, as negociações com os palestinos só seriam possíveis se o Hamas dissolvesse seu braço armado e reconhecesse o Estado de Israel, condições que o Hamas não tendia a cumprir.
Em 2018, o governo de Donald Trump, nos Estados Unidos, reconheceu Jerusalém, objeto de disputa entre palestinos e israelenses, como a capital de Israel, transferindo para a cidade a embaixada estadunidense, antes fixada em Tel Aviv. O episódio gerou enfrentamentos que resultaram em 55 pessoas mortas e pelo menos 2 mil feridas.
Entre 2020 e 2021, já em um contexto marcado pela pandemia da covid-19, os confrontos entre Israel e Palestina diminuíram sensivelmente em relação aos anos anteriores. Além disso, no início de 2020, diversos Estados-membros da União Europeia pediram a garantia de direitos iguais para palestinos e israelenses, em uma tentativa de apaziguar os confrontos na região.
O fundamentalismo religioso
O fundamentalismo religioso tem como base a defesa da interpretação literal dos livros sagrados. Os fundamentalistas acreditam que seguir à risca os preceitos religiosos é o único meio de garantir o retorno à fé original.
No Oriente Médio, existem grupos fundamentalistas islâmicos e judaicos. Na Palestina, desde a década de 1980, os fundamentalistas do grupo Hamas defendem a criação de um Estado islâmico palestino e não reconhecem a legitimidade do Estado de Israel. Eles promovem ataques terroristas contra militares e civis israelenses.

Militantes do Hamas
Hamas é a abreviatura de Harakat Al-Muqawama Al-islamia (Movimento de Resistência Islâmica). O movimento ficou conhecido em 1987, quando se tornou mais atuante na Faixa de Gaza e na Cisjordânia, ao questionar a política da OLP de aproximação com Israel. O Hamas promove atos beneficentes em regiões de ocupação palestina e foi responsável por diversos atos terroristas contra alvos judeus e em defesa do islamismo.

Ataque terrorista do Hamas

"O ataque terrorista do Hamas no sábado (7 de outubro de 2023) deu início ao conflito mais mortal dos últimos anos entre Israel e o grupo terrorista, que comanda o território da Palestina na Faixa de Gaza. Milhares de pessoas morreram, outras milhares foram feridas e há civis sequestrados.
A primeira ação do Hamas se deu ainda nas primeiras horas de sábado, ao passar pelos muros de ferro que dividem Israel do território palestino. São quase 65 km de barricadas duplas, com seis metros de altura e equipadas com tecnologia para detectar qualquer violação – como câmeras, sensores e arame farpado em suas estruturas. Ainda há uma barreira de concreto enterrada abaixo do muro com sensores para identificar a escavação de túneis."
"Em Israel, foram convocados 300 mil reservistas, um número sem precedentes na história do país, para uma possível invasão em resposta ao ataque. O Hamas disse que vai executar um civil refém para cada bombardeio em Gaza."
Fonte:
https://g1.globo.com/mundo/noticia/2023/10/10/israel-x-hamas-infografico-confronto.ghtml

A história recente do Oriente Médio

No passado, a região que designamos hoje por Oriente Médio foi o berço da civilização. Foi lá, de acordo com os estudiosos, que a humanidade conheceu a agricultura, o uso de metais, a urbanização, a escrita e tantos outros elementos que fazem parte do nosso modo de vida. Entre esses outros elementos se encontram a religião monoteísta e o Estado organizado.

Situado entre três continentes, o Oriente Médio foi o ponto de encontro entre Oriente e Ocidente e sede de grandes impérios na Antiguidade (Bizantino), na Idade Média (Islâmico) e nos tempos modernos (Otomano).
Região rica em petróleo, o Oriente Médio tem sido palco de muitos conflitos após a Primeira Guerra Mundial, quando desapareceu o Império Otomano. A situação ficou ainda mais grave depois da Segunda Guerra. Em 1947, mesmo ano em que teve início a Guerra Fria, a ONU realizou a partilha da Palestina, evento que está na origem do mais antigo e mais duradouro dos conflitos que assolaram a região. Seus protagonistas são os israelenses, de um lado, e os árabes (entre eles, os palestinos), de outro. Os conflitos, no entanto, estendem-se entre os próprios árabes, envolvendo questões econômicas, políticas e religiosas.

A presença dos imperialismos britânicos e francês

Uma das consequências da Primeira Guerra Mundial foi o desaparecimento do Império Otomano, constituído pelos turcos mais de seis séculos antes. Com isso, a Sociedade das Nações, surgida em 1920, colocou sob a autoridade da França e da Grã-Bretanha amplas áreas do Oriente Médio, até então governadas por esse império. Esse arranjo ficou conhecido como sistema de mandatos. As duas potências europeias ficaram também encarregadas de preparar os respectivos povos para se tornarem Estados independentes em um futuro próximo.
Por esse sistema, a França ficou responsável pelos territórios da Síria e do Líbano, enquanto a Grã-Bretanha assumiu a responsabilidade pela Mesopotâmia e pela Palestina.

Os mandatos franceses

Na Síria, com o fim do domínio otomano, Damasco foi ocupada por tropas comandadas por Faisal, que seria depois coroado rei do Iraque. Mas seu reinado durou pouco, pois a Síria havia passado para o mandato francês. Em 1925, em meio a uma insurreição contra o domínio francês, Damasco foi submetida a um bombardeio que deixou um saldo de 5 mil vítimas. O movimento rebelde continuou nos anos seguintes, bem como os bombardeios.
O domínio francês encontrou forte resistência popular na Síria, resultando em muitos atos de violência. Em 1936, o governo francês concordou em negociar um tratado de independência, mas o tratado não chegou a Ser colocado em prática. Em 1944, a independência da Síria foi reconhecida pelas novas potências mundiais, a União Soviética e os EUA, mas a França continuava resistindo. Finalmente em 1946, sob pressão, os franceses tiveram de retirar suas tropas, ficando a Síria sob um governo republicano.
No caso do Líbano, os franceses promoveram, em 1926, uma Constituição que instituiu uma república parlamentarista. As cadeiras do Parlamento foram divididas basicamente de acordo com um critério religioso. A diversidade religiosa era grande, com destaque para os drusos, cuja religião reúne elementos do islamismo, judaísmo e cristianismo; os islâmicos, divididos em diversos grupos, sendo os mais numerosos e principais aliados dos franceses (e beneficiados na divisão das cadeiras do parlamento). A independência do Líbano foi proclamada em 1943, mas as tropas francesas somente se retiraram quatro anos depois.

O mandato britânico sobre o Iraque

Durante a Primeira Guerra, forças britânicas haviam invadido o Iraque (que preferiam chamar de Mesopotâmia) e ocupado Bagdá. O controle dessa região havia se tornado importante para os britânicos, desde que tinham começado a explorar petróleo no vizinho Irã alguns anos antes.
Em busca de ajuda contra os turcos Otomanos, nessa ocasião o governo da Grã-Bretanha prometeu apoiar o estabelecimento de governos árabes independentes após a guerra. A promessa não foi cumprida; ao contrário, a Sociedade das Nações Unidas converteu o Iraque num mandato britânico. O descontentamento causado por essa decisão provocou uma grande revolta popular, o que obrigou os britânicos a conceder certa autonomia ao país. O Iraque se tornou uma monarquia, e o trono foi entregue ao Emir Faisal (da dinastia hackemita). Ele ganhou esse benefício por ser filho do prefeito de Meca que fora aliado dos britânicos contra os turcos Otomanos.
Em 1932, o Iraque foi admitido na Liga das Nações e conquistou a independência com algumas condições. O governo iraquiano assinou um tratado de “aliança permanente”, pelo qual a Grã-Bretanha adquiria o direito de participar de todas as questões de política externa do país; utilizar estradas de ferro, rios portos, campos de aviação e meios de transportes; e ocupar militarmente alguns aeroportos.

O mandato britânico sobre a Palestina

Outro mandato britânico era a Palestina, nome que nessa época se aplicava a uma ampla região que incluía os territórios correspondentes atualmente a Israel, Cisjordânia, Faixa de Gaza, Jerusalém e Transjordânia (ou seja, a parte que ficava a leste do rio Jordão).
Em 1921, a Transjordânia foi separada da Palestina e concedida ao príncipe hackemita abdula. Alguns anos depois,, converteu-se em Estado independente sob a tutela britânica e, em 1941, assumiu o nome de Jordânia. Ao terminar oficialmente o mandato britânico, Abdula fez-se coroar rei da Jordânia, em 1946.
Portanto, nos anos que se seguiram ao final da Primeira Guerra Mundial, os elementos de uma combinação explosiva estavam dados o Oriente Médio:

Chegava ao fim o Império Otomano, que assegurou alguma unidade política até aquele momento e era substituído por novas potências hegemônicas, agora européias – Grã-Bretanha e França;
Emergia o nacionalismo árabe, embora os projetos de formação de nações fossem frustrados pelo sistema de mandatos que repartia e subordinava os territórios ao controle dos novos impérios;
Entreva em cena outro nacionalismo, o judeu, tendo como objetivo a fundação de um Estado na Palestina, contando com o apoio britânico;
Começava a ser explorado o petróleo, que se tornou, posteriormente, a matéria-prima mais comercializada do mundo.

A questão do Estado judeu e dos palestinos

Desde a segunda metade do século XIX, era cada vez maior a imigração de judeus para a Palestina, estimulada pela Sociedade dos Amigos de Sion (Sion é o nome de uma das colinas de Jerusalém). O objetivo dessa entidade era a formação de um estado judeu (ou judaico).
O sionismo era um movimento nacionalista, como tantos outros que atuavam na Europa naquela época – final do século XIX. Os judeus não tinham um Estado próprio nem um território. E esta passou a ser a principal meta do sionismo desde a realização de seu primeiro congresso, a Suíça, em 1897.
O jornalista e sociólogo Cláudio Camargo relata que, após o Congresso sionista, alguns rabinos de Viena enviaram dois mensageiros à Palestina para verificar a viabilidade da fundação de um Estado judeu. Lá chegando, os emissários teriam remetido um telegrama com a mensagem: A noiva é bela, mas esta casada com outro homem (CAMARGO Cláudio. Guerras árabe-israelenses. In: MAGNOLLI, Demétrio (Org.). História das guerras. São Paulo: Contexto, 2008. p. 427.), referindo-se à presença da população árabe.
A imigração, porém, continuou, com a instalação de mil pessoas por ano na Palestina. O movimento sionista intensificou a ida de judeus que compravam terras pobres e não rentáveis, o que era favorecido pelos próprios árabes que viam nisso um bom negócio. Em 1909, foi fundada a cidade de Telavive, que se tornaria capital após a independência de Israel.
Durante a Primeira Guerra, Londres tornou-se o principal centro do Sionismo. Em 1917, James Balfour, ministro das Relações Exteriores da Grã-Bretanha, associou seu nome àquela que ficaria conhecida como “Declaração de Balfour”, segundo a qual o governo britânico estava disposto a apoiar o estabelecimento de um Estado judeu na Palestina.
Durante a década de 1930, com a ascensão do nazismo na Alemanha e a perseguição aos judeus, a imigração para a Palestina cresceu muito. Começaram a ocorrer, então, rebeliões árabes reivindicando a limitação da entrada dos judeus e a interdição da venda de terras árabes.

A partilha da Palestina

No final da Segunda Guerra, a Grã-Bretanha transferiu o problema da Palestina para a ONU. Em 1947, a Comissão Especial da ONU para a Palestina recomendou, em seu relatório final, a partilha do território em dois Estados: um judeu e um palestino, ficando a cidade de Jerusalém e seus arredores sob controle internacional. O estado judeu ficaria com 53,5% do território, sendo que sua população correspondia a 30% do total, enquanto ao Estado palestino caberia 45,4% das terras para acomodar 70% da população da região. A proposta Foi aprovada pela Assembleia Geral da ONU, em 29 de novembro de 1947, presidida pelo brasileiro Oswaldo Aranha. A proposta transformou-se na Resolução 181, que foi aceita pela Organização Sionista Mundial e rejeitada pelos árabes.

A primeira guerra árabe-israelense

Tão logo a resolução foi aprovada, os judeus fundaram o Estado de Israel, em maio de 1948, o que foi imediatamente reconhecido pelos EUA e pela URSS. Os árabes, porém, reagiram de forma bem diferente: no dia seguinte á proclamação do Estado judeu, os exércitos da Síria, da Jordânia, do Iraque e do Egito invadiram a Palestina para apoiar as populações árabes. Começava a primeira guerra árabe-israelense.
Os judeus vinham organizando suas milícias, e a principal delas, a Haganá (Defesa, em hebraico), contava com 30 mil combatentes no começo da guerra, efetivos que subiram para 94 mil no final de 1948. Os israelenses conseguiram resistir aos ataques árabes. Em junho de 1948 ocorreu um cessar-fogo, mas foi de curta duração. A luta prosseguiu até janeiro de 1949, quando os dois lados aceitaram os apelos da ONU em favor de um cessar-fogo. A guerra terminou formalmente em 20 de julho de 1949, com a vitória de Israel, que aproveitou para ampliar seu próprio território.
Essa guerra foi desastrosa para o povo palestino. Mais de 400 vilarejos foram evacuados e destruídos. O número de palestinos (no que passou a ser o território de Israel) caiu drasticamente: de 750 mil para 165 mil. Grande parte buscou refúgio nos países vizinhos: Jordânia, Síria, Líbano e na Faixa de Gaza (território então sob o controle do Egito). Hoje, os palestinos compõem o maior grupo de refugiados do mundo: mais de mais de 4 milhões oficialmente registrados na Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados.

O Oriente Médio e a Guerra Fria

Com a Segunda Guerra Mundial, o nacionalismo árabe fortaleceu-se, tendo como causas:

O enfraquecimento e a retirada dos antigos impérios (França e Grã-Bretanha).

A independência de nações de maioria árabe.

O nacionalismo judeu também ficou mais robusto, tornando-se política de Estado. A importância do petróleo como fonte de energia cresceu ainda mais.
Em nome de seus interesses estratégicos, Estados Unidos e União Soviética buscaram aliados no Oriente Médio durante o período chamado de Guerra Fria e, com isso, influenciaram a tomada de decisões e a evolução dos conflitos entre as forças locais.
Nas últimas duas décadas do século XX, com o fim da URSS e da Guerra Fria, os Estados Unidos passaram a intervir como potência hegemônica, tentando redefinir a situação do Oriente Médio em função de seus interesses globais.

A guerra do Canal de Suez em 1956

O principal líder do nacionalismo árabe foi Gamal Abdel Nasser. Ele defendia a união dos países árabes para combater o imperialismo das potências ocidentais no Oriente Médio.
Nasser apareceu com destaque no cenário político do Oriente Médio em 1952, ao comandar um grupo de militares que tomou o poder no Egito. Quatro anos depois, sua liderança entre os árabes cresceu ainda mais quando ele nacionalizou o Canal de Suez, até então explorado por franceses e britânicos. O gesto de Nasser foi uma represália à recusa dos governos dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha de concederem empréstimos para a reconstrução da represa de Assuã – que afinal foi construída com a ajuda da URSS.
Três meses após a nacionalização, em outubro de 1956, França, Grã-Bretanha e Israel organizaram uma ação militar conjunta para retomar o controle do canal. Entretanto, a ação de franceses, britânicos e israelenses não obteve apoio das superpotências. A URSS chegou a ameaçar com o uso de força militar para acabar com a agressão. As tropas agressoras foram, então, retiradas e o Canal de Suez permaneceu nacionalizado.
A vitória do Egito fortaleceu não apenas a liderança de Nasser, mas também o nacionalismo no mundo árabe, contando com o apoio da União Soviética. A organização coordenadora desse nacionalismo era a Liga Árabe, criada em março de 1945. A Liga adotou uma postura anti-imperialista e, na Conferência do Cairo, em 1964, declarou que seu objetivo final era a destruição do Estado de Israel.

A guerra dos Seis Dias

A meta de destruir o Estado de Israel, adotada na Conferência do Cairo, se traduziria em ações militares. A partir de fevereiro de 1966, com a tomada do poder na Síria pelo partido de Baath, começaram a ocorrer ataques sírios e palestinos contra Israel a região de fronteira. Em abril de 1967, a força aérea israelense abateu diversos aviões sírios. Nasser foi, então, pressionado pelos governos da Síria e da Jordânia a dar uma resposta e enviou grande quantidade de tropas para o Deserto do Sinai, região entre o Egito e Israel. Além disso, enviou embarcações para fechar o estreito de Tiran, impedindo a passagem de navios israelenses para o mar Vermelho.
Contando com o apoio do governo dos Estados Unidos, Israel iniciou sua reação no dia 5 de junho de 1967. Em uma sequência de ações fulminantes, os israelenses destruíram quase toda a aviação militar do Egito, da Síria e da Jordânia, conquistaram a cidade velha de Jerusalém, até então sob o controle dos jordanianos, assumiram o controle da Cisjordânia e conquistaram o Canal de Suez. Com o Egito e a Jordânia fora de combate, Israel atacou as colinas de Golan, território pertencente à Síria.
O conflito se encerrou no dia 10 e ficou conhecido como a Guerra dos Seis Dias. Israel saiu-se plenamente vitorioso ao triplicar seu território, com a anexação da parte oriental da Cisjordânia e da Faixa de Gaza.
A ONU, através da Resolução 242, apelou para que Israel se retirasse dos territórios ocupados, mas a resposta foi negativa. O governo israelense se recusava a aceitar qualquer negociação que não se bastasse nos termos impostos por Israel.

A Guerra do Yom Kippur

Um novo conflito explodiu em 6 de outubro de 1973. Enquanto os judeus comemoravam o Yom Kippur (Dia do Perdão), forças egípcias e sírias atacaram conjuntamente contra Israel. O ataque egípcio se deu a península do Sinai e o sírio nas colinas de Golan.
Israel foi surpreendido e sofreu pesadas e baixas. Mas conseguiu reverter a situação a partir de 14 de outubro, com uma contraofensiva no Sinai que acabou deixando a capital do Egito à mercê das tropas israelenses. O avanço sírio também foi contido e as forças israelenses chegaram a ameaçar Damasco. Foi então que o conflito quase se transformou em uma guerra atômica: a URSS ameaçou deslocar forças para a região e os Estados Unidos responderam com um alerta militar de âmbito mundial, incluindo as forças nucleares. Finalmente foi firmada em trégua em 22 de outubro.
Uma das consequências dessa guerra foi o aumento do preço do petróleo. Os países árabes, donos de grandes reservas de petróleo e organizado na Opep, resolveram utilizar o produto como arma política em represália ao apoio que os EUA e a Europa Ocidental haviam dado a Israel. Rapidamente, o preço desse produto mais que triplicou, causando dificuldades econômicas aos países importadores em geral – entre eles o Brasil.

A luta dos palestinos por um Estado nacional

A partir de 1959, os palestinos começaram a se organizar militarmente para reconquistar sua pátria. Formaram várias organizações para lutar contra Israel. Uma das mais importantes foi a Al-Fatah, liderada por Yasser Arafat. O passo seguinte foi a criação, em 1964, da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), que reuniu diversos movimentos guerrilheiros, inclusive a Al-Fatah. A sede da OLP foi estabelecida na Jordânia.
Nos anos seguintes, a OLP passou a ser reconhecida pelos países árabes como representante do povo palestino. Seu poder não parou de crescer. No caso da Jordânia, isso acabou se tornando um problema, pois o governo desse país sentiu-se ameaçado e, em 1970, iniciou uma violenta ofensiva contra os militantes palestinos. A OLP foi expulsa do território jordaniano, que transferiu seu quartel-general para Beirute, capital do Líbano.

O Líbano e o problema palestino

A chegada dos refugiados palestinos minou o equilíbrio político em que vivia o Líbano desde a independência. Embora frágil, esse arranjo havia permitido que o país se tornasse um próspero centro financeiro.
As divergências políticas entre os grupos cristãos e mulçumanos cresceram. Cada grupo tinha sua própria milícia, e o conjunto delas chegou a formar uma força mais poderosa do que o próprio exército acional. Uma guerra civil explodiu em 1975. O exército libanês se fragmentou em facções rivais e o governo praticamente parou de funcionar. O Líbano foi invadido por tropas sírias e israelenses.
A intervenção síria refreou temporariamente a violência, mas não pôs fim à guerra. A situação libanesa complicou-se em 1982, quando tropas de Israel invadiram o sul do país. O objetivo da invasão era eliminar a OLP, cujos militantes promoviam insistentemente ataques ao território israelense. Beirute foi bombardeada pelas forças de Israel e parcialmente ocupada. A OLP foi obrigada mais uma vez a mudar de endereço, saiu do Líbano, transferindo seu quartel-general para a Tunísia.
Uma força armada enviada pela ONU supervisionou a saída da OLP, mas em seguida se retirou. Ocorreu então, um massacre de civis palestinos que viviam em campos de refugiados localizados em uma área próxima de Beirute, controlada pelo exército de Israel. O massacre foi executado por milicianos maronitas, em represália à morte do presidente cristão.
Os conflitos prosseguiram até 1989, quando a Assembleia Nacional Libanesa aprovou um acordo de paz, que contou com o apoio de diversas potências (Estados Unidos, URSS, França e Grã-Bretanha) e dos principais governos árabes. O acordo pôs fim à guerra civil que havia durado quinze anos e matado cerca de 5% da população libanesa, além dos estragos materiais causados ao país.
Os termos do acordo determinavam o desarmamento das forças em conflito e dividiram o governo: os cristãos ficaram com a Presidência da República; os mulçumanos sunitas ficaram com o cargo de primeiro-ministro; e os mulçumanos xiitas ficaram com a presidência do Parlamento.

Hezbollah contra Israel

Durante a guerra civil os combatentes da OLP haviam sido expulsos do sul do Líbano pelas forças israelenses. O lugar da OLP, no sul do Líbano, foi ocupado pelo Hezbollah (Partido de Deus, em árabe), um grupo religioso, político e militar libanês que havia se organizado oficialmente em 1982.
O Hezbollah, formado por mulçumanos xiitas, não abandonou as armas mesmo quando um acordo havia posto fim à guerra civil libanesa, em 1989. A justificativa era a luta contra as forças de Israel, que continuavam ocupando o sul do Líbano. A retirada das tropas israelenses ocorreu somente em 2000.
A violência, entretanto, continuou e em 2006 a situação se agravou novamente. No início do mês de julho, militantes do Hezbollah mataram oito soldados israelenses e capturaram outros dois. Em resposta, Israel realizou um ataque em grande escala contra o Líbano, além de impor um bloqueio aéreo e marítimo àquele país. O conflito prolongou-se por mais de um mês. No dia 14 de agosto, entrou em vigor um cessar-fogo, tendo por base uma resolução aprovada pelo Conselho de Segurança da ONU, órgão que tem poder de impor sanções econômicas e militares. A decisão foi acompanhada do envio de uma força internacional ao Líbano. A guerra foi suspensa, mas a violência não cessou por completo.

Avanços e recuos no caminho para a paz

Durante esses anos, apesar da violência, não deixou de haver iniciativas em favor da paz para o conflito entre árabes e israelenses. Uma dessas iniciativas ocorreu em 1977, quando Anuar Sadat, sucessor de Nasser na Presidência do Egito, discursou no Parlamento israelense. Esse esforço teve efeitos positivos: foram abertas negociações que resultaram no acordo de paz de Camp David, nos Estados Unidos, em 1979. Este acordo previa a devolução das terras tomadas ao Egito e abria novas perspectivas para o convívio entre árabes e israelenses no Oriente Médio. As tensões, entretanto, não diminuíram. Muitos árabes não aprovaram o reconhecimento do Estado de Israel e Anuar Sadat acabou assassinado em 1981.
Outro passo significativo para estabelecer um acordo de paz foi dado em 1988. Na ocasião, o Conselho Nacional Palestino renunciou ao terrorismo e decidiu aceitar a Resolução 181 da ONU (1947), que tinha proposto a divisão da Palestina entre judeus e palestinos.

O surgimento da Autoridade Nacional Palestina

Graças a essa decisão, a década de 1990 iniciou com grandes esperanças de paz. Em 1993, autoridades israelenses e palestinas firmaram uma declaração de princípios, conhecida como Acordo de Oslo, na qual se previa a autonomia gradativa dos palestinos na Cisjordânia e em Gaza.
No ano seguinte, tropas israelenses começaram a se retirar dos territórios ocupados. Formou-se, então, a Autoridade Nacional Palestina, instituição estatal que exerceria autoridade sobre parte da Cisjordânia e da Faixa de Gaza. Seu governo ficou a cargo de um Poder Legislativo, com 132 deputados eleitos, e um Poder Executivo, exercido por um presidente, e, desde 2003, passou a existir também o cargo de primeiro-ministro.
Em 1996, Yasser Arafat foi eleito o primeiro presidente da Autoridade Nacional Palestina e seu grupo, o Al-Fatah, conquistou a maioria no Legislativo.

Intifada, a revolta palestina

Apesar desses avanços, as relações entre árabes e israelenses continuaram tensas. Em setembro de 2000 teve início a segunda Intifada (a primeira tinha sido em 1987), nome pelo qual ficou conhecida a revolta dos palestinos das regiões ocupadas. Essa nova foi muito mais radical que a anterior, e ficou marcada por ataques terroristas suicidas de jovens palestinos contra alvos israelenses. Em resposta, Israel passou a invadir cidades das quais já havia se retirado e a destruir esconderijos de organizações terroristas, provocando terror e mortes entre a população e Yasser Arafat foi situado em seu quartel-general, em Ramallah.

Um “roteiro para a paz”

Em abril de 2003, o chamado “Quarteto de Madri” (União Europeia, ONU, Estados Unidos e Rússia) entregou aos governos israelense e palestino o texto de um plano de paz.
Conhecido como “roteiro para a paz”, o plano previa a criação de um Estado palestino em 2005. Para que isso se tornasse possível, porém, os extremistas palestinos deveriam pôr fim aos atentados contra Israel. Em contrapartida, os israelenses deveriam desmantelar os assentamentos (colônias agrícolas) criados nos territórios ocupados.
Como parte da iniciativa estadunidense para implementar o plano de paz, em junho de 2003 o presidente Bush viajou para o Oriente Médio, onde se reuniu com o premiê israelense, Ariel Sharon, e o primeiro-ministro da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas. No encontro, os dois governantes se comprometeram a apoiar o plano de paz.

Novos problemas no caminho de paz

Uma nova mudança de rumo ocorreu em agosto de 2003: o governo de Israel deu início à construção de uma cerca para separar israelenses de palestinos na Cisjordânia. Caso fosse erguida em território judeu, a cerca talvez pudesse ser considerada medida defensiva legítima, mas boa parte de seu traçado avançava em território palestino. A medida foi condenada pela Corte Internacional de Justiça, pela ONU e pela União Europeia, sob o argumento de que violava as leis internacionais.
Apesar dessas condenações, o governo israelense continuo contando com o decisivo apoio dos Estados Unidos. Em março de 2004, o primeiro-ministro Ariel Sharon anunciou a intenção de retirar colonos israelenses da Faixa de Gaza – o chamado “plano de desengate”. Ao mesmo tempo, reafirmou o direito de Israel manter colônias na Cisjordânia ocupada, região onde vivem cerca de 240 mil israelenses em meio a 2,3 milhões de palestinos.
Sharon admitiu que Israel não seguiria adiante com o “roteiro da paz”. Esse governante confirmou a intenção de Israel em permanecer nos territórios restantes após a execução do plano de retirada dos assentamentos de Gaza.
Essa atitude provocou a resposta imediata dos grupos palestinos radicais, que, em setembro de 2004, intensificaram os ataques contra Israel. À violência dos palestinos, Israel respondeu com mais violência ainda. No início de outubro, o exército israelense realizou novas incursões na Faixa de Gaza, que resultaram na morte de dezenas de palestinos.

A paz fica mais distante

A tensão no Oriente Médio tornou-se ainda maior com a morte de Yasser Arafat, presidente da ANP, em 11 de setembro de 2004. Arafat havia representado um ponto de equilíbrio entre as facções moderada e radical dos palestinos. Sua morte deixou um vazio político que desencadeou disputas pelo poder entre as duas tendências. Mesmo antes de sua morte, o prestígio da Autoridade Nacional Palestina já vinha decaindo, sofrendo acusações de corrupção, incompetência e fraqueza na luta contra Israel. Apesar disso, Mahmud Abbas, ex-primeiro-ministro e membro do Fatah, foi eleito presidente em janeiro de 2005.
Um ano depois, o quadro político sofreu uma mudança radical. A causa disso foi a derrota do Fatah nas eleições para o legislativo da Autoridade Palestina. O vitorioso foi o Hamas, que ganhou, assim, o direito de indicar o primeiro-ministro. O Hamas não reconhece o Estado de Israel e é classificado como organização terrorista pelos EUA e pela União Europeia.
Apesar da derrota eleitoral, o Fatah não deixou o poder, e a hostilidade entre os dois grupos explodiu em uma luta aberta. O resultado disso foi o surgimento de dois governos palestinos: um, representado pelo Hamas, ficou com o controle de Gaza; o outro, controlado pelo Fatah, com a Cisjordânia.

Revolução no Irã

O Irã é o herdeiro da antiga Pérsia. Foi o berço do zoroastrismo, mas sua população converteu-se ao islamismo depois que esse país foi conquistado pelos árabes no século VII. Em 1935, o governo iraniano solicitou aos governos ocidentais que não mais se referissem ao seu país pelo nome Pérsia, mas sim Irã, que era como seus habitantes o chamavam.
O Irã foi um caso raro no Oriente Médio, pois não chegou a ser colonizado pelas potências europeias. A descoberta do petróleo em 1908 atraiu o interesse de capitalistas britânicos. Durante a Segunda Guerra Mundial, o governo iraniano revelou simpatia pelo nazismo e o país foi ocupado por soldados britânicos e soviéticos. Nesse tempo, o Irã era uma monarquia, e desde 1941 seu soberano era o xá Reza Pahlevi (xá era um antigo título dos reis da Pérsia). Em 1951, o primeiro-ministro Mohammad Mossadegh passou a controlar o governo. Ele nacionalizou as companhias britânicas que exploravam o petróleo iraniano e colocou o país na área de influência da União Soviética.
O governo de Mossadegh, porém, durou pouco. Ao fim de dois anos, ele foi afastado por um golpe de Estado, apoiado pelos Estados Unidos e pela Grã-Bretanha. Reza Pahlevi retomou o poder e nele permaneceu ate 1979.
As características mais visíveis do governo de Pahlevi foram: a adoção de um programa de reformas, que incluiu a distribuição das terras; a redução do analfabetismo; a concessão de maiores direitos para as mulheres; o afastamento da religião sobre a educação e uma maior aproximação com os países ocidentais, em particular com os Estados Unidos.

Uma república islâmica no Irã

Essa política, entretanto, não era bem vista por todos os iranianos. Desagradava, por exemplo, aos que viam a ocidentalização como uma traição às tradições do islamismo e, também, aos setores mais sensíveis às denunciais de corrupção. O descontentamento cresceu e o governo reagiu aumentando a repressão. Os diversos setores da oposição (religiosos tradicionalistas, socialistas, comunistas e liberais) se uniram contra a política adotada pelo xá sob a liderança de um líder religioso que vivia exilado em Paris, o aiatolá Ruhollah Khomeini.
A campanha da oposição triunfou em 1979. M janeiro, Reza Pahlevi deixou o país. No mês seguinte, Khomeini assumiu o poder e inaugurou um novo regime: o Irã foi proclamado república islâmica. Isso significou uma mudança radical no equilíbrio das forças da região. Os Estados Unidos, até então aliados, passaram a ser vistos pelos iranianos como inimigos devido ao apoio que davam ao governo de Reza Pahlevi.
Em 1980, explodiu a guerra com o vizinho Iraque. A guerra durou oito anos e deixou um legado de 800 mil soldados mortos nos dois países. Além da disputa por áreas produtoras de petróleo, o conflito opôs duas tendências islâmicas distintas: a xiita, do aiatolá Khomeini, e a sunita, de Saddam Hussein, do Iraque. Sem vitória, os dois países assinaram um cessar-fogo em 1988, com a mediação da ONU.

O Irã depois de Khomeini

Khomeini morreu em 1989, mas isso não favoreceu o restabelecimento das relações com o governo dos Estados Unidos. Em 2002, o então presidente estadunidense, George W. Bush, acusou o Irã de manter um programa secreto para a produção de armas nucleares e colocou ao lado do Iraque e da Coreia do Norte como integrantes do que chamou de “eixo do mal”.
Em 2005, Mahmoud Ahmedinejad, um seguidor ortodoxo da linha inaugurada por Khomeini, foi eleito para a Presidência do Irã, contando com os votos dos setores mais pobres e mais religiosos da população. Sob seu governo, o Irã continua dando decidido apoio ao grupo xiita libanês Hezbollah, que combate Israel e continua também desenvolvendo seu programa nucler.
Em dezembro de 2006, o Conselho de Segurança da ONU aprovou uma resolução proibindo a transferência de tecnologia nuclear ao Irã e exigindo a suspensão do programa. O governo iraniano, ate 2009, se negava a acatar a determinação, sob a alegação de que esse programa tinha fins pacíficos e se destinava à produção de energia.

A guerra contra ao terror

Na manhã de 11 de setembro de 20001, os Estados Unidos sofreram o mais grave ataque a seu território desde a Segunda Guerra Mundial. Neste dia, aviões sequestrados por terroristas suicidas foram atirados contra dois principais símbolos do poderio econômico e militar estadunidense: as torres gêmeas do Word Trade Center, em Nova York, e o Pentágono, em Washington. Outro avião caiu nos arredores de Pittsburg (nordeste dos EUA) antes de atingir seu alvo. Quase 3 mil pessoas morreram no atentado.
A ação foi atribuída pelo governo estadunidense a uma organização extremista de mulçumanos radicais, conhecida como Al-Qaeda. Seu líder, Osama Bin Laden, estaria escondido no Afeganistão, país do centro-oeste da Ásia e governado pelo Talibã, partido islâmico igualmente radical.
Com base nessas informações, os Estados Unidos formaram uma coalizão com outros países (entre os quais Grã-Bretanha, França, Rússia e Canadá) e, a 7 de outubro de 2001, lançaram uma fulminante ofensiva militar contra o Afeganistão. A guerra terminou com a derrubada do governo do Talibã, em fevereiro do ano seguinte. Osama Bin Laden, porém conseguiu escapar. Nos anos seguintes, o Talibã se refez da derrota e retomou a luta contra as tropas dos países ocidentais que permaneceram no Afeganistão.

A guerra contra Saddam Hussein

Após afastar o Talibã do poder no Afeganistão, Bush passou a hostilizar o governo do ditador iraniano Saddam Hussein, que em anos anteriores havia sido aliado dos Estados Unidos.
Assim como o Talibã, que havia recebido ajuda militar estadunidense para combater a ocupação soviética no Afeganistão (1979-1988), Saddam Hussein também recebera ajuda dos Estados Unidos na guerra contra o Irã (1980-1988). Em 2002, entretanto, esse quadro tinha mudado radicalmente. George W. Bush passou a acusar Hussein de prestar armas de destruição em massa em solo iraquiano.
As acusações nunca foram provadas, mas Bush as utilizou amplamente para convencer a opinião pública estadunidense de que Hussein representava um perigo para o mundo. Seus argumentos, contudo, não foram suficientes para persuadir o Conselho de Segurança da ONU, que não aprovou o lançamento de uma ofensiva militar contra o Iraque. Dos membros do Conselho, apenas a Grã0Bretanha apoiou a proposta estadunidense.

A guerra do Iraque

Inconformado com a posição da ONU, Bush e Tony Blair (então primeiro-ministro britânico) optaram pela guerra imediata e ordenaram o bombardeio do Iraque com mísseis e aviões a partir da noite de 19 de março de 2003.
O desequilíbrio entre as forças em confronto era gritante. De um lado, cerca de 300 mil soldados anglo-estadunidenses, equipados com os armamentos mais sofisticados e destrutivos do mundo. Do outro, as tropas iraquianas, mal equipadas e incapazes de deter o avanço inimigo.
Menos de um mês depois, no dia 12 de abril de 2003, as forças anglo-estadunidenses entraram em Bagdá. Saddam Hussein, entretanto, conseguiu escapar. Ele só seria encontrado e preso em fins de 2003 (ele foi julgado pelo Tribunal Penal Iraquiano, condenado à morte e enforcado em 20 de dezembro de 2006).
Derrubar o frágil governo de Saddam Hussein havia sido uma tarefa relativamente fácil. Mas as forças de ocupação logo descobririam que o mais difícil estava por vir. De fato, um mês depois de terminada a guerra, começaram as ações de guerrilha de resistência iraquiana contra as tropas de ocupação. Uma das vítimas desses atentados foi o brasileiro Sérgio Vieira de Mello, enviado especial da ONU ao Iraque e morto em agosto de 2003.

A transferência do poder aos iraquianos

Em junho de 2004, o poder foi transferido para um governo provisório formado por iraquianos, sob a chefia de Iyad Allawi. Mas nem todos os iraquianos aceitaram o novo governo.
Na verdade, este só conseguiu se manter graças à presença dos 140 mil soldados das forças de ocupação no Iraque.
De toda forma, foram adotadas medidas no sentido de criar condições para a organização e a estabilização de um novo poder político, formado pelos próprios iraquianos. Em 2004, a Autoridade Provisória de Coalizão transferiu a administração do país para um governo interino. Em janeiro de 2005, foram organizadas eleições parlamentares, para as quais se inscreveram 14,3 milhões de eleitores, com o objetivo de eleger os 275 deputados responsáveis pela elaboração de uma nova Constituição. O documento foi elaborado entre maio e agosto de 2005 e aprovado por um referendo popular em 15 de outubro de 2005.
No dia 15 de dezembro de 2005, ocorreram eleições parlamentares para formar o Conselho de Representantes, única Câmara legislativa do Iraque. Os principais partidos que participaram das eleições foram: Aliança Unida Iraquiana, xiita, que conseguiu 128 deputados; a Aliança Curda, que ficou com 53 cadeiras e, finalmente, a Frente do Consenso Nacional, sunita, com 44 cadeiras. Depois de 15 meses de negociações, os deputados conseguiram indicar o primeiro-ministro: Jauad Al Maliki, da Aliança Unida Iraquiana. Jalal Talabani, do Partido Curdo, foi eleito presidente.
Outro passo importante na transferência do poder a um governo iraquiano foi dado em novembro de 2008. Nessa data, o Parlamento desse país aprovou um acordo com o governo dos Estados Unidos pelo qual as tropas estadunidenses deverão retirar-se até o final de 2011.


Os dilemas na América Latina

 A origem do termo América Latina

O termo América Latina foi cunhado na primeira metade do século XIX, no contexto do imperialismo. Enquanto os Estados Unidos ampliavam sua influência sobre o continente americano, Napoleão III, na França, propagandeava a ideologia panlatinismo com o propósito de alçar um lugar de liderança no mundo latino e projetar-se no cenário político interacional.
Na época, a valorização de uma identidade assentada a origem latina foi bem recebida por muitos intelectuais e chefes políticos hispano-americanos. Estes, temerosos das ambições norte-americanas, viam uma possibilidade de neutralidade a força dos Estados Unidos na região. Além disso, oferecia ás jovens nações americanas uma referência cultural distinta da ibérica, permitindo-lhes que se afastassem de seu passado colonial e se afirmassem como identidades autônomas.
O fracasso de uma tentativa de intervenção francesa no México, em 1861, acabou por solapar o projeto alimentado por Luís Bonaparte. O termo, todavia, sobreviveu ao projeto francês, tendo se difundido mais intensamente após a Segunda Guerra Mundial.
Desde sua concepção até o presente, o termo América Latina passou por diversas transformações. Questionou-se, inclusive, sua pertinência, uma vez que se pressupõe uma homogeneidade (de fato, inexistente) entre os países ditos latino-americanos, e criticou-se o uso de uma terminologia que, simplesmente, desconsiderava a influência africana em diversas nações da América do Sul e da central. A despeito disso, o termo ganhou força nos últimos anos em virtude dos esforços de integração regional dos espaços.

A busca da integração

O sonho de integração é antigo. Durante o processo de independência da América hispânica, Simon Bolívar já alimentava o sonho de unir todas as ex-colônias espanholas – do México até a Argentina – numa grande confederação. Entretanto, seu projeto esfacelou-se sob os interesses das oligarquias regionais.
No final do século XIX, ideia de integração renasceu na forma de pan-americanismo, só que dessa vez sob a influência dos Estados Unidos. Derivado da Doutrina Monroe, o ovo projeto tinha como objetivo aproximar todas as nações do continente sob a liderança norte-americana e esteve na base da criação da Organização dos Estados Americanos (OEA), em 1948.
Durante grande parte do século XIX, o pan-americanismo serviu como ideologia de sustentação da penetração dos interesses econômicos norte-americanos no continente e, depois da Segunda da Guerra Mundial, no contexto da Guerra Fria, orientou a política dos países da região na direção de um alinhamento aos estados Unidos. Contudo, já nessa ocasião, vários líderes locais criticavam a ação imperialista norte-americana e buscavam um fator de união que libertasse os países dela.
Na segunda metade do século XX, a emergência de governos populistas na região – ancorados em uma retórica nacionalista e contrários aos interesses norte-americanos – alimentou o receio dos Estados Unidos de que as ideias socialistas encontrassem terreno fértil para proliferar. Assim, o governo de Washington não titubeou em apoiar a derrubada desses governos por meio de golpes de Estado e respaldar ditaduras em vários países, desde que as posições norte-americanas fossem preservadas.
No final da década de 1970 e no início da de 1980, o desgastes dos governos ditatoriais e o acirramento dos problemas econômicos e sociais na maioria dos países latino-americanos alavancaram as lutas pela redemocratização. A ordem democrática foi acompanha pela ascensão de políticos filiados ao pensamento neoliberal.
Tendo como meta o controle da inflação e o saneamento da economia, os governos desta região tomaram medidas bastante impopulares, orientados principalmente pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). Iniciativas como a redução dos gatos com programas sociais, a alteração nas leis trabalhistas e a adoção de programas de privatização fizeram crescer a insatisfação popular e alimentaram grandes manifestações de oposição aos novos governos.
O fracasso das políticas neoliberais – que aprofundaram ainda mais os problemas sociais – favoreceu, no final da década de 1990 e no início do novo século, a vitória nas urnas de líderes filiados às ideologias de esquerda. Como consequência dessa mudança, os governos da América do Sul e da América Central têm estreitado suas relações e procurado promover maior integração regional, fugindo da esfera de influência dos estados Unidos. Tais metas encontram expressão concreta, por exemplo, no fortalecimento do Mercosul e do Pacto Andino.

Novos ventos na América

No final da década de 1990, houve na América Latina a ascensão ao poder de vários líderes cujas posições políticas os analistas costumas associar às ideologias e às práticas de esquerda. Iniciativas como a nacionalização de empresas de setores estratégicos da economia, a realização de reforma agrária e o investimento em áreas sociais, sobretudo saúde e educação, tornaram-se a marca desses governos na última década.
No plano externo, vários desses governos têm adotado uma posição de contestação da liderança norte-americana e de afirmação da soberania nacional. Ao mesmo tempo, têm procurado estabelecer laços políticos e comerciais com outros parceiros, inclusive com desafetos tradicionais dos Estados Unidos, como o Irã, a Líbia e a China. Essa tendência vem delineando a constituição de um novo jogo de forças no continente.
Entretanto, em muitas ocasiões, a implantação dessas medidas tem sido acompanhada pela resistência de vários setores da sociedade, não raramente desdobrando-se em situações de conflito, que coloca em risco a sobrevivência das jovens democracias latino-americanas.

Hugo Chávez e a Revolução Bolivariana

A mais de dez anos no poder, Hugo Chávez é um dos mais controversos líderes latino-americanos da atualidade. Eleito presidente da Venezuela em 1998 com quase 57% dos votos, vem enfrentando desde então vários protestos dos opositores e até uma tentativa fracassada de golpe, em 2002. Em contrapartida, conta com significativo respaldo popular: foi reeleito em 2002 e 2006, e tem se saído vitorioso em todos os referendos a que submete seus projetos mais polêmicos, a exemplo da emenda constitucional de 2009 que permite a reeleição indeterminada do presidente da República.
A política de Hugo Chávez está articulada na chamada revolução Bolivariana, programas de reformas estruturais de cunho socialista que visa implantar uma democracia popular participativa e consolidar um Estado voltado para o atendimento das necessidades da maioria da população carente, em especial a indígena. Externamente, a política de Chávez procura favorecer a integração das nações latino-americanas, fortalecendo-as o cenário de negociações internacionais.
Para concretizar seus objetivos, o presidente venezuelano tem ampliando continuamente os poderes do Executivo, o que lhe dá margem bastante larga da intervenção da economia. Isso tem lhe permitido reverter os lucros obtidos com as exportações do petróleo, principal produto da economia venezuelana, em programas sociais – as chamadas misiones sociales – e em auxílio a países alinhados com sua política. Ao mesmo tempo, vem fortalecendo e multiplicando os canais de participação por meio dos comitês e das frequentes consultas populares.
Todavia, as reformas propostas por Hugo Chávez são duramente criticadas por seus opositores que o acusam de estar levando a indústria venezuelana ao colapso, de afugentar os investimentos externos do país e, principalmente, de conduzir a Venezuela na direção de uma ditadura, com todas as esferas da vida pública controladas pelo Executivo e com o crescimento da censura e da repressão.

O movimento dos cocaleiros e a eleição de Evo Morales na Bolívia

Apesar de possuir a maior reserva de gás da América (a primeira pertence a Venezuela), a Bolívia está entre os países mais pobres da América Latina. Parte significativa de sua população é de origem indígena ou mestiça, e está assentada nas áreas rurais.
Quando o governo boliviano, seguindo a cartilha neoliberal, promoveu a privatização das minas de cobre, petróleo e gás em 1985, muitos trabalhadores desempregados deslocaram-se para a região de Chapare, para procurar ocupação nas lavoras de coca.
Porém, uma lei aprovada em 1988, por pressão dos estados Unidos, passou a impor limites para o plantio da coca, planta utilizada para o fabrico de drogas, mas também largamente utilizada pela população andina.
Diante do cerco que se formava ao plantio de coca, os trabalhadores organizaram-se para defender seu estilo de vida. Fundaram-se sindicatos e, sob a liderança do índio aimará Evo Morales, criou-se em 1997, o movimento ao socialismo (MAS), que liderou protestos contra a política de substituição da cultura de coca defendida pelo governo boliviano e dos Estados Unidos.
Em 2002, o MAS elegeu um número expressivo de deputados para o Congresso e, nos anos seguintes, desempenhou papel importante na articulação de manifestações populares em favor da nacionalização de hidrocarbonetos (gás natural e petróleo) e contrárias às intenções do presidente Gonzalo Sánches de Lozada de exportar gás natural boliviano para os estados Unidos por meio dos portos chilenos.
As revoltas na Bolívia chegaram ao ápice depois da repressão violenta aos movimentos populares. Sobre forte pressão, Lozada foi abrigado a fugir do país. Seu vice, Carlos Mesa, não resistiu na Presidência por mais de 20 meses. Diante da reação violenta da população ao seu governo, também renunciou em junho de 2005. No mesmo ano, Evo Morales foi eleito presidente em primeiro turno, com mais de 53% dos votos.
Cumprindo uma de suas principais promessas de campanha, Morales nacionalizou a exploração dos hidrocarbonetos e elevou os impostos sobre a exploração destes recursos. Nos aos seguintes, estatizou diversas empresas no setor da metalurgia, das telecomunicações e derivados de petróleo. Em 2006, deu início à reforma agrária e, em 2007, promulgou uma legislação que acelera os processos de expropriação de terras consideradas improdutivas.
As reformas implantadas pelo governo de Evo Morales não agradaram em nada a elite boliviana, que reagiu logo em seguida. Em 2008, um movimento de oposição ao governo eclodiu na região conhecida como Meia Lua, onde se concentram as produções de hidrocarbonetos e de soja, e que reúne os departamentos mais ricos do país: Santa Cruz, Tarija, Pando, Beni.
Os governantes dessa região, que contestavam a legitimidade da constituição aprovada no ano anterior sem a participação da oposição, defenderam, com apoio das populações locais, a autonomia dos seus respectivos distritos.
O governo respondeu com dureza ao movimento, ao mesmo tempo que convocou um referendo para legitimar a posição de Evo Morales na Presidência. Sua vitória, com 67% dos votos, fez crescer a divisão interna, levando a sociedade local a uma situação de extrema tensão.
Para controlar a situação, o presidente aceitou rever vários artigos da constituição, aprovada num plebiscito realizado no início de 2009. A nova Carta assegura proteção federal ao cultivo de coca, limita o tamanho dos latifúndios, preserva o controle do estado sobre os recursos naturais do país e obriga empresas estrangeiras a reinvestir seus lucros na Bolívia, entre outros pontos. Porém, amplia a autonomia dos distritos, o que significa a manutenção da parte do poder das elites locais, e limita o direito à reeleição do presidente.

O afastamento de Fidel Castro do governo e a posição de Cuba

No início da década de 1990, a população cubana enfrentava a crise. Para enfrentar a situação, o governo de Fidel Castro decidiu pela abertura de algumas estatais para investimentos privados e adotou medidas para atrair turistas para a ilha. Todavia, as mudanças econômicas não foram acompanhadas de nenhuma iniciativa em favor de uma abertura política o que alimentava as críticas internacionais de seu governo.
Em 2006, enfraquecido pela idade e doença, Fidel anunciou seu afastamento temporário do poder, delegando o governo a seu irmão, Raúl Castro. No mesmo ano, o governo passou a contar com o auxílio de Hugo Chávez, presidente da Venezuela, para recuperar a economia local. Desde então, a Venezuela assegura aos habitantes da ilha combustíveis a preços camaradas e contrata serviços de saúde e educação.
A renúncia de Fidel Castro ocorreria dois anos depois, oficializando a transição do governo para Raúl. Na ocasião, vários analistas entenderam que a situação era favorável à realização de reformas mais significativas na economia cubana, mas se mostraram céticos em relação a uma possível abertura política.
Confirmando as previsões, Raúl Castro flexibilizou as regas da economia cubana: liberou a venda de eletrônicos (antes proibidos ou de comercialização restrita o país), como computadores e telefones celulares; fez concessões de terras do Estado e produtores privados e eliminou as limitações impostas aos salários do funcionalismo público, permitindo que eles sejam estabelecidos de acordo com a produtividade. Todavia, não deu sinais convincentes de que pretende fazer as mudanças no regime político.
Diante das mudanças econômicas têm crescidos as pressões pelo fim do embargo econômico à ilha, comandado pelos Estados Unidos. Contudo, na mesma medida, aumentaram as exigências em relação ao fim do regime ditatorial que ainda vigora em Cuba.

Tensão na América Latina

Apesar dos esforços de integração regional, muitos conflitos e choques de interesses perduram na América Latina. As razões são várias e de naturezas distintas. Passam pela pobreza que assola alguns países e dificultam a sua estabilização política; envolvem disputas por regiões fronteiriças e o controle sobre os recursos naturais; esbarraram na resistência dos grupos dominantes e em orientações ideológicas conflitantes adotadas por este ou aquele governante.
Ainda que estes embates não tenham impedido os países latino-americanos de estabelecerem acordos econômicos e políticos importantes, criam pontos de estrangulamento nas relações intercontinentais e dificultam a implantação de projetos mais amplos.

Colômbia: as Farc e a presença norte-americana


Dentre os países latino-americanos, a Colômbia e o México são os que mantêm relações mais estreitas com os Estados Unidos. Na Colômbia, essa parceria tem resultado em alguns enfrentamentos sérios com os países vizinhos, em especial com a Venezuela.
Cumprindo seu segundo mandato (o primeiro foi em 2002 e 2006), o presidente colombiano Álvaro Uribe mantém altos índices de aprovação, em grande medida assentados nos bons resultados da política econômica. Estabeleceu ainda uma cooperação estreita com os Estados Unidos no combate ao narcotráfico, um dos maiores problemas da Colômbia.
Paralelamente ao problema do tráfico internacional de drogas, o governo enfrenta há décadas movimentos guerrilheiros, dos quais o mais expressivo são as Forças Armadas Revolucionárias Colombianas (Farc). De orientação marxista, sua fundação data de 1964, inspirada no modelo revolucionário cubano.
Desde 1996, as Farc adotaram como estratégia de luta a prática de sequestros de políticos, funcionários do Estado e executivos de grandes empresas que atuam no país. Por causa dessa prática, os Estados Unidos incluíram as Farc numa lista de grupos e organizações terroristas a serem combatidas.
Contudo, a situação se torna mais complexa em função do cruzamento de todos esses problemas: tanto os grupos paramilitares de direita quanto as Farc são acusados de manter relações com o narcotráfico.

Tensão na fronteira

Nos últimos anos, o combate promovido pelo governo colombiano à guerrilha e ao narcotráfico rendeu algumas situações diplomáticas delicadas. Em 2008, durante uma operação de captura de um dos principais líderes das Farc, forças militares colombianas invadiram o território do Equador, onde mataram o guerrilheiro Raúl Reyes. A situação a reação do presidente equatoriano, Rafael Correa, que considerou a violação da fronteira uma agressão. Em resposta, autoridades colombianas acusaram Correa e Hugo Chávez de proteger e fornecer auxílio as farc. As trocas de acusações só foram solucionadas com a mediação de outros líderes políticos do continente, incluindo o Brasil.
No ano seguinte, o clima de tensão voltou à região, em função da possibilidade de um acordo militar entre os governos da Colômbia e dos Estados Unidos, permitindo que os norte-americanos instalassem três bases militares em solo colombiano.
Vários países sul-americanos questionaram a presença de contingentes militares dos Estados Unidos na região. Todavia, os presidentes Uribe e Obama negaram que o plano escondesse qualquer intenção de hostilizar outros países da região e afirmaram que o objetivo é intensificar o combate ao terrorismo e ao narcotráfico na Colômbia.

Honduras: o fantasma do golpismo

O ano de 2009 foi marcado também por um golpe de Estado também em Honduras, na América Central: em junho, o presidente Manuel Zelaya, eleito pelo voto popular em 2005, foi afastado do poder e teve de sair do país em direção à Costa Rica.
O golpe, conduzido pelo Exército, levou ao poder o presidente do Congresso hondurenho, Roberto Micheletti.
A razão alegada pelos golpistas para afastarem o presidente foi sua intenção de realizar um plebiscito com a finalidade de alterar a Constituição para poder se reeleger, o que não é permitido pela atual Carta Magna hondurenha. Contudo, Zelaya negou que essa fosse sua intenção, afirmando que a reeleição seria assegurada apenas ao seu sucessor.
O golpe foi criticado por todos os países americanos, que temem que o caso hondurenho abra um precedente perigoso para as democracias recentemente estabelecidas no continente.

Haiti: a pobreza como inimigo

Entre 1957 e 1986, o Haiti viveu sob um regime ditatorial imposto pela família Duvalier. Françoies Duvalier, o Papa Doc, e seu filho Jean-Claude, o Baby Doc, lideraram governos corruptos, marcados pelo nepotismo e pelo uso da violência contra seus opositores.
Porém, em 1986, uma insurreição popular forçou a família a se exilar, deixando um país miserável e afundado na violência perpetrada pelas milícias armadas que a ditadura dos Duvalier alimentaram por décadas.
Nos quatro anos seguintes, o Haiti viveu um período de reorganização de suas instituições políticas, ao fim do qual o ex-sacerdote Jean-Bertrand Aristide foi eleito para ocupar a Presidência. Porém,, suas tentativas de reforma foram interrompidas por um golpe militar liderado pelo general Raoul Cédras. Aristides só retornou ao país para reassumir o poder em 1994, depois que sanções impostas pela ONU e uma intervenção militar liderada pelos estados Unidos obrigaram o governo golpista a recuar.
Aristide foi reeleito em 2000, mas sua popularidade foi sendo corroída por sucessivas crises sociais, políticas e econômicas, até que uma violenta insurreição popular o obrigou a abandonar mais uma vez o governo haitiano em 2004.
Aristides foi substituído pelo chefe de Poder Judiciário, Alexandre Boniface, em meio a um cenário de tumultos. Para controlar a situação, tropas da ONU, sob comando do Brasil, foram enviadas ao Haiti, e, em 2006, René Préval venceu as eleições num pleito no qual não faltaram denúncias de fraude e corrupção.
Atualmente, o grande desafio dos haitianos é conseguir estabilizar a economia e atrair investimentos estrangeiros que permitiam ao governo reduzir o desemprego, melhorar a débil infraestrutura do país e superar a pobreza avassaladora que recai sobre a população, sem a qual uma estabilidade duradoura não será possível.
Para piorar a situação, em janeiro de 2010 um terremoto atingiu o país, provocando enorme destruição e a morte de mais de 300 mil pessoas. 

Produção de energia no Brasil

Movimentar máquinas, cargas e pessoas por longas distâncias demanda muita energia. No Brasil, usam-se combustíveis derivados de fontes não r...