quinta-feira, 25 de julho de 2024

Conflito entre Rússia e Ucrânia

O conflito entre a Rússia e a Ucrânia, iniciado em 2022, tem origem na formação histórica desses países e na disputa por territórios economicamente estratégicos. 
Entre os principais motivos para a invasão da Ucrânia pela Rússia (em fevereiro de 2022), estão:
- Conflitos separatistas no leste da Ucrânia (com maioria da população de ascendência russa) — nas províncias de Donetsk e Luhansk, reconhecidas como independentes por Putin.
- Aproximação da Ucrânia com o Ocidente — a possibilidade do país fazer parte da Otan e da União Europeia.
Ao longo dos séculos, a Ucrânia fez parte de impérios, sofreu inúmeras invasões, foi incorporada pelos russos e pelos soviéticos, se tornou independente, mas nunca resolveu por completo sua relação com a Rússia.
A queda do Muro de Berlim e o fim da Guerra Fria provocaram a diminuição da influência da URSS e a consolidação da hegemonia estadunidense. Por meio da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), os Estados Unidos aumentaram sua influência política e cultural em diversos lugares.

Nesse contexto, muitos países do leste europeu conquistaram sua independência, como a Ucrânia, em 1991. No entanto, o país continuou sob a influência da Rússia, que considera o território estratégico, tendo em vista o acesso ao Mar Negro e os oleodutos e os gasodutos que passam pela região.

A Rússia aumentou sua influência no cenário internacional a partir da década de 2000, quando Vladimir Putin assumiu a presidência do país. Ele tem como uma das estratégias de ascensão econômica do país as parcerias comerciais com os países ex-membros da URSS e a China – o último atualmente se configura como principal parceiro econômico da região – além do domínio do Mar Negro e da produção de gás natural para abastecer o continente europeu.

Em 2014, o ex-presidente da Ucrânia, o líder pró-russo Viktor Yanukovych, foi deposto após uma série de protestos. Isso levou a Rússia a buscar o aumento do controle sobre a região da Crimeia, território ucraniano. Com a independência da Ucrânia em 1991, a Rússia ficou com o controle de uma base naval na região, sede da Frota do Mar Negro.

Nesse mesmo ano, com 95,5% de aprovação dos eleitores da Crimeia, a região foi anexada ao território russo, em um referendo que foi considerado ilegal pelos Estados Unidos e pelo Reino Unido por ter sido realizado sem a presença de observadores internacionais. Desde então, as relações geopolíticas entre a Ucrânia e a Rússia ficaram mais tensionadas. Com a anexação da Crimeia, a região tem sido um ponto de disputa geopolítica entre a Rússia, a Ucrânia, países europeus e os Estados Unidos.
A região de Donbass tem minorias que pedem a separação da Ucrânia e anexação à Rússia e, por isso, é considerada outra zona de conflito. O argumento é que a formação cultural, econômica, social e política estão mais próximas à Rússia. Após a anexação da Crimeia, os movimentos separatistas se intensificaram na região de Donbass, exigindo autonomia política. Esses movimentos tiveram apoio militar da Rússia e foram fortemente reprimidos pelo governo ucraniano.

A região de Donbass

A partir de 2014, a Ucrânia passou a vivenciar um período de profunda crise econômica, social e política. Entre os motivos que contribuíram para essa instabilidade, no final de 2013, por pressões da Rússia, o governo do então presidente ucraniano Viktor Yanukovych recusou assinar um acordo de livre-comércio com a União Europeia – possibilidade que, caso fosse concretizada, a afastaria da influência russa –, optando pela assinatura de um tratado de assistência econômica oferecido pela Rússia no qual, inclusive, era proposta a redução de 30% no preço do gás russo fornecido à Ucrânia.
Tal desistência foi o estopim para que se intensificassem as manifestações contrárias ao governo do presidente Yanukovych em várias regiões da Ucrânia, e provocou, sobretudo na porção ocidental do país, a sua destituição, a realização de novas eleições e o estabelecimento de um novo governo, que contava com o apoio das potências ocidentais e, ao mesmo tempo, prometia afastamento da influência russa.
Os desdobramentos desse episódio foram graves para a Ucrânia, pois a deposição do governo pró-Rússia não foi bem recebida em todo o país, ocasionando o fortalecimento de movimentos separatistas em sua porção leste. Especificamente, isso ocorreu nas regiões de Donetsk e Lugansk, que abrangem cerca de um terço da região de Donbass, densamente povoada – com cerca de 6 a 7 milhões de habitantes –, e que é considerada o coração industrial da Ucrânia por concentrar metalúrgicas, termelétricas e empresas de extração de carvão mineral. De 2014 a 2021, nas duas regiões, ocorreram acirramento de tensões e embates militares entre as forças militares ucranianas – com o apoio dos Estados Unidos e de outros países – e os separatistas – com o apoio da Rússia –, resultando em mais de 14 mil pessoas vitimadas pelos conflitos. Nesse período, vários acordos firmados entre Rússia e Ucrânia (Acordos de Minsk I e II), com a participação de outros países, não foram capazes de colocar um fim à guerra civil.
As relações entre Rússia e Ucrânia se deterioraram ainda mais em 2019, com a eleição de Volodymyr Zelensky à presidência da Ucrânia, que sempre declarou a intenção de se alinhar à Europa.
Em 2022, o governo da Ucrânia anunciou a sua intenção de ingressar na OTAN como estratégia para se desvincular da influência russa. A Ucrânia anunciou, também, uma abertura em um dos canais fluviais mais importantes geopoliticamente para o Leste Europeu, além de abrir espaço para uma aproximação da influência estadunidense.
A presença militar da OTAN no leste da Europa ameaça a influência russa na região, o que provocou o descontentamento do presidente Vladimir Putin. Em fevereiro de 2022, o governo russo reconheceu formalmente a independência das zonas separatistas das autoproclamadas repúblicas populares de Lugansk e Donetsk e as tropas russas cruzaram a fronteira, levando a uma enorme crise diplomática internacional.

A invasão militar da Ucrânia

E apoiando-se na justificativa de que elas estavam sob a ameaça de uma invasão militar da Ucrânia e que um genocídio estaria ocorrendo contra a população civil russa, ele determinou a ofensiva militar contra a Ucrânia em larga escala, em 24 de fevereiro daquele ano, considerando esses territórios como seu principal objetivo militar.
Diante da ofensiva militar russa, Estados Unidos, Alemanha, França, Reino Unido e muitos outros países condenaram a decisão unilateral do governo russo e providenciaram de imediato sanções econômicas à Rússia. 
Assim que o conflito teve início, graves sanções foram aplicadas à Rússia, entre as quais se destacam o congelamento de bens do presidente Putin, membros do governo e empresários; restrições ao acesso da Rússia aos mercados e serviços financeiros e de capitais da União Europeia; fechamento do espaço aéreo e dos portos da União Europeia a aeronaves e navios russos; suspensão das importações de petróleo e carvão provenientes da Rússia; proibição da exportação de bens e tecnologias para a produção de petróleo e de realização de novos investimentos no setor energético russo.
O estabelecimento dessas sanções foi a maneira encontrada pelas potências ocidentais de evitar um confronto direto com a Rússia, o que certamente levaria a uma guerra de proporções sem precedentes, inclusive com a utilização de armas nucleares.
Tal situação, segundo analistas internacionais, poderia levar a reviver o ambiente de Guerra Fria, quando ainda existia a União Soviética e sua disputa com os Estados Unidos e seus aliados por áreas de influência no mundo. Na verdade, essa questão em andamento trata-se novamente de disputa geopolítica: a Rússia não quer perder a sua área de influência sobre a Ucrânia e não aceita que ela faça parte da Otan – que é entendida pelo governo russo como uma ameaça às suas fronteiras –, nem que seja integrante da União Europeia, fatos, esses, desejados pelos Estados Unidos e por muitos países da Europa.
Na opinião de vários especialistas, no entanto, esses e outros conflitos em que a Rússia tem se envolvido na região mostram claramente o projeto político e estratégico implementado pelo presidente Vladimir Putin, que, há vários anos, governa a Rússia. Esse projeto consiste em reincorporar ao território russo parte dos territórios que, no passado, formavam a antiga União Soviética.

Essas sanções levaram a economia russa a uma profunda recessão. Mas o conflito entre os dois países causou impactos no mundo todo, percebidos rapidamente. São eles:
- Crise alimentar. Em 2021, a Ucrânia produzia 15% do milho e 12% do trigo comercializados no mundo. Com a guerra, o país não pode exportar o que já havia produzido e as novas safras foram reduzidas. Como resultado, os preços dos grãos e de alimentos básicos aumentaram, levando milhões de pessoas à insegurança alimentar.
- Crise energética. Em 2021, a Rússia era um dos líderes mundiais na exportação de gás natural, petróleo e carvão. A União Europeia, que importou 45% da produção de gás e 25% de petróleo, começou a estudar possibilidades para reduzir a dependência da Rússia. O embargo ao petróleo russo fez com que os preços da commodity disparassem, aumentando o preço dos combustíveis em muitos países.

A invasão russa no território ucraniano provocou intensos conflitos armados. De acordo com a Armed Conflict Location & Event Data Project (Acled), até julho de 2022 mais de 10 mil pessoas já haviam morrido em decorrência do conflito. E, segundo o Alto-comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), o número de pessoas que fugiram da Ucrânia para escapar da invasão da Rússia passou de 6 milhões, o que configura a pior crise de refugiados na Europa desde o fim da Segunda Guerra Mundial.

OS MOVIMENTOS SEPARATISTAS

Os movimentos separatistas estão relacionados às ações de um povo em busca da sua independência, muitas vezes decorrentes de conflitos históricos atrelados aos processos de colonização.
Na Europa, como em várias partes do mundo, existem povos que nutrem o sentimento nacionalista, que os move a conquistar a independência política e territorial do Estado ao qual estão subjugados. Muitos deles são reprimidos, controlados e dominados pelo Estado e, em alguns casos, movimentos separatistas são formados. Muitos desses movimentos acabam recorrendo à violência para conquistar seus objetivos.
Esses movimentos reivindicam, por meio de protestos e referendos, a garantia de manutenção da sua nacionalidade e tradições culturais.
Assim, esses grupos lutam por novas delimitações territoriais que respeitem seus princípios identitários, pelo fim da opressão contra sua cultura, pela manutenção das tradições, pela garantia da diversidade linguística, entre outras questões.

A Eurásia é marcada por conflitos e disputas territoriais, em geral motivados pelas demandas de autodeterminação de minoriais étnicas e culturais, como é o caso da Catalunha e da Caxemira. Alguns conflitos ocorrem pelo embate direto entre os povos, o que pode levar a guerras e a mudanças territoriais; outros envolvem embates políticos devido à intervenção ou à instalação de bases militares nos territórios. Há também casos em que as tensões são motivadas ou agravadas por questões econômicas e estratégicas, como o acesso a recursos naturais e a disputa por maior influência no comércio internacional.
Catalães, bascos, galegos, andaluzes e espanhóis travam disputas geopolíticas, culturais e linguísticas existentes desde o governo de Felipe IV, em 1632. Nesse período, os reinos de Castela e de Aragão se uniram, constituindo parte das bases do Estado-nação espanhol moderno e centralizado. O mesmo caso se dá com os corsos em relação à França e os escoceses em relação ao Reino Unido.
O sentimento de pertencimento a uma nação distinta e a contestação contra a gerência dos espanhóis nos problemas regionais ampliam os movimentos autonomistas e separatistas na Espanha. Bascos e catalães constituem 25% da população espanhola e concentram-se nas duas regiões industriais mais importantes da Espanha.
A luta pelas reivindicações separatistas agravou-se durante a Guerra Civil Espanhola (1936-1939). A ditadura do general Francisco Franco instituiu diversas proibições às manifestações culturais dessas nações, como à língua, aos símbolos (presentes na bandeira), às tradições e aos costumes. Por 25 anos, Franco reprimiu as diversas formas de representação cultural de bascos, catalães e castelhanos.
Nas disputas geopolíticas desses povos, o que fica presente nas reivindicações linguísticas, culturais, religiosas e econômicas é a superação da opressão e da repressão vivenciadas por séculos. Seus idiomas eram vistos como dialetos, sendo excluídos das funções oficiais e inferiorizados.
Após a morte do ditador, em 1975, e uma nova carta constitucional, o povo catalão voltou a reivindicar seus direitos.
Vejamos as características principais de alguns conflitos e de algumas regiões da Europa em que minorias étnicas e nacionais ou outros grupos buscaram ou buscam a soberania ou a independência de diferentes formas e por diversas razões (religiosas, étnicas, territoriais, nacionalistas, etc.).

Separatismo na Espanha

A Espanha é um país muito diversificado. Esse aspecto pode ser constatado na luta de alguns grupos pela separação e por maior autonomia. 

País Basco

O povo basco reivindica a independência em relação à Espanha e o reconhecimento de um novo país – o País Basco. Com população composta de mais de 2 milhões de pessoas, ele ocupa parte do território norte da Espanha e mais uma porção sudoeste do território francês. Embora, em sua maioria, os bascos estejam fixados em território espanhol, eles falam uma língua própria, a língua basca, ou euskera, e, em sua maioria, não desejam pertencer à Espanha. Há mais de 40 anos lutam por sua autonomia política.
Na ditadura de Francisco Franco, na Espanha, que durou de 1939 a 1975, a língua basca foi proibida. Em 1959, foi fundado o grupo Euskadi Ta Askatasuna (ETA – “Pátria Basca e Liberdade”), movimento cuja finalidade é manter a língua, os costumes e as tradições culturais bascas na região. A partir de 1966, o ETA iniciou manifestações violentas para alcançar seus objetivos.
Apenas em 2011 integrantes do ETA anunciaram o cessar-fogo. Desde então, eles vêm obtendo maior êxito nas negociações com o governo espanhol pela independência da região.

Catalunha

Localizada no nordeste da Espanha, a Catalunha – anexada pelo país há 300 anos – é uma comunidade autônoma que, desde a década de 1970, está passando por um forte renascimento cultural. O idioma catalão vem ganhando maior impulso, e a cidade de Barcelona, capital da Catalunha, passou a ser considerada um dos mais importantes centros culturais da Europa.
Com o fortalecimento financeiro e a grande influência na economia nacional, essa região tem buscado autonomia com bastante relevância, embora o governo federal tenha conseguido impedir campanhas e referendos sobre o assunto.
Os cortes em serviços básicos determinados pelo governo para conter os efeitos da crise econômica enfrentada pelo país nos últimos anos fizeram aflorar o sentimento de independência tanto na Catalunha quanto no País Basco.
Em 2014 foi realizada uma votação não oficial, espécie de consulta informal, em que a separação foi aprovada por 80% dos eleitores. 
Em 2017, os separatistas organizaram um referendo para que a população pudesse votar a favor ou contra o processo de independência da região. De acordo com o governo local, 90% dos votantes queriam que a Catalunha se tornasse um Estado soberano. No entanto, o governo espanhol não reconheceu o resultado do referendo e as tratativas para o processo de independência não avançaram.
O governo da Espanha não reconheceu a consulta por não concordar com a soberania da Catalunha.

Reino Unido: a questão irlandesa e a Escócia

A Irlanda do Norte (Ulster) integra o Reino Unido. Por esse motivo, as decisõespolíticas (como a escolha de lideranças locais) são tomadas em Londres. Já a República da Irlanda (Eire) é independente do Reino Unido desde 1922.
Os católicos da Irlanda do Norte lutam há pelo menos 30 anos pela unificação com a República da Irlanda, opondo-se aos protestantes, que são a maioria e querem permanecer subordinados ao Reino Unido.
A partir da década de 1970, o Exército Republicano Irlandês (IRA, sigla em inglês de Irish Republican Army) promoveu diversos atos terroristas contra alvos ingleses com o objetivo de fazer pressão pela independência da Irlanda do Norte e sua posterior unificação com a República da Irlanda.
Em 1990, cessaram os atos violentos, e o IRA abandonou a luta armada, destruindo todo o seu arsenal; no entanto, mantém sua luta por meios políticos, mesmo existindo grupos dissidentes em ação.
Outra questão que envolve o Reino Unido são os movimentos para a independência da Escócia. Em 2014, esse sentimento foi reforçado, movido pelo desejo de maior autonomia política e pela devolução, pelo Reino Unido, de poderes ao Parlamento escocês.
Assim, foi realizado um referendo para que a população decidisse pela independência do país em relação ao Reino Unido. A rejeição foi de 55,3% dos votos.

Caxemira

A Índia e o Paquistão são países com um passado colonial comum, já que ambos foram dominados pela Inglaterra. O histórico de rivalidades, desentendimentos e guerras que os caracterizam hoje é também motivado pelas diferenças religiosas.
A formação do território indiano provocou conflitos entre os adeptos do hinduísmo e os do islamismo. Da época da independência até hoje, o problema persiste entre a Índia (hindu) e o Paquistão (islâmico). Uma área na Índia que concentra muita tensão e onde há conflitos permanentes é a Província da Caxemira, no norte do país. Embora esteja situada na Índia de maioria hindu, a Caxemira tem população islâmica, motivo pelo qual parte de sua população deseja separar-se da Índia e se integrar ao Paquistão. 
A Caxemira abriga a nascente de quatro dos cinco rios do Paquistão; por isso, é uma região em que o controle da água é bastante disputado. Na província, há conflitos armados entre grupos extremistas e o exército indiano, que reprime qualquer manifestação de independência. Esses grupos já promoveram vários atentados terroristas contra alvos hindus, no campo e nas grandes cidades.
A Índia e o Paquistão têm bombas nucleares, consequência da inimizade histórica e das relações políticas tensas. Ambos os países são muito criticados no meio internacional por gastarem importantes recursos em armamentos e investirem pouco na área social, como saúde, educação, saneamento básico etc.

Problemas habitacionais nas cidades globais

O fenômeno da urbanização intensifica-se a partir dos anos 1940 não apenas na Europa e na Ásia, mas também em vários lugares do mundo. Como estudamos anteriormente, a urbanização acelerada gerou diversos problemas sociais nas cidades, uma vez que o espaço urbano não estava preparado para receber o grande contingente de pessoas vindas do campo. Muitos desses migrantes tiveram que se instalar em áreas distantes do centro, onde as habitações eram precárias e não havia infraestrutura básica. Agora vamos abordar alguns exemplos desses problemas nos continentes europeu e asiático.

Na França, políticas públicas adotadas nos anos 1950 e 1960 ajudaram a erradicar as habitações precárias do país já na década de 1980. O governo investiu grande quantidade de recursos na construção de moradia acessível para essa população. No entanto, décadas depois, as chamadas bidonvilles são novamente uma realidade em algumas cidades francesas. As bidonvilles são um conjunto de habitações precárias construídas próximo a linhas de trens, viadutos e rodovias, semelhantes às favelas brasileiras.
As ameaças de despejo e remoção são constantes. Estima-se que, atualmente, em Paris, haja mais bidonvilles que na década de 1960, quando houve uma explosão demográfica no
país. De acordo com a Delegação Interministral do Alojamento e do Acesso à Moradia (Dihal), existem cerca de 571 de favelas pela França, onde vivem cerca de 16 mil habitantes.
Na Espanha, a capital Madrid abriga a maior favela da Europa, chamada Cañada Real. Aproximadamente 44 mil pessoas vivem no bairro onde falta saneamento básico e as moradias são precárias, geralmente de madeira ou lonas. Com a crise econômica enfrentada pela Espanha a partir de 2008, muitas pessoas perderam as suas casas e buscaram outros lugares para sobreviver, como Cañada Real.
A pandemia de covid-19 intensificou os problemas relacionados à moradia nos grandes centros urbanos. Os grupos vulneráveis, como pessoas que estão em situação de rua e que habitam moradias precárias, sofreram de maneira desproporcional os efeitos da doença, uma vez que não puderam praticar o isolamento social de maneira apropriada e, muitas vezes, não dispunham de itens de higiene de básica que os auxiliariam a evitar o contágio.
Além disso, houve o fechamento de indústrias, empresas e estabelecimentos do setor de serviços, o que aumentou o número de desempregados e, consequentemente, de pessoas em situação de vulnerabilidade social.

Os altos valores dos aluguéis, somados ao baixo valor ou até
mesmo à falta de auxílios sociais, fizeram com que milhares de pessoas fossem despejadas de suas casas e ficassem sem lugar para morar. Uma das formas encontradas por essas pessoas foi morar dentro de barracas de camping montadas no meio de locais públicos da cidade, como calçadas, embaixo de viadutos e pontes, marquises, lotes vazios, praças, entre outros lugares. Na cidade de São Paulo, dados da prefeitura revelam que 6,1 mil pontos da cidade eram ocupados por pessoas que viviam em barracas em 2021, um aumento de 330% comparado com os dados de 2019.
Na Índia, país que abriga quatro das maiores megacidades do mundo, os problemas habitacionais atingem mais de 400 milhões de pessoas segundo dados do governo indiano. Muitos deles vivem em casas com seis pessoas e apenas dois cômodos, com banheiro compartilhado com outros vizinhos. Em cidades como Délhi e Nova Délhi, muitas dessas moradias estão nos pisos superiores dos mercados de especiarias da cidade.

AS CIDADES INTELIGENTES

O desenvolvimento acelerado das tecnologias no campo da comunicação, da inteligência artificial e das engenharias de software tem feito com que muitos países planejem e construam cidades inteligentes.
Podem ser chamadas de Smart Cities (expressão em inglês) as localidades com projetos ou iniciativas de reformulação de suas áreas urbanas que empregam inovação tecnológica para melhorar a qualidade de vida de seus habitantes, ou seja, para ser considerada uma Cidade Inteligente, o projeto da localidade deve unir os avanços científicos disponíveis às necessidades urbanas em geral, fazendo com que as soluções para determinados tipos de problema sejam eficientes.
Para isso, nas Cidades Inteligentes utiliza-se a Internet das Coisas (conhecida pela sigla IoT, do inglês Internet of Things) para desenvolver e executar ações no cotidiano urbano. Isso quer dizer que, nessas cidades, objetos pessoais e equipamentos urbanos – como aparelhos celulares, semáforos, sensores de abastecimento e distribuição de água, entre outros – conectam-se uns com outros e trocam informações de maneira automatizada e em tempo real, sem que uma pessoa precise operá-los.
Um exemplo são os sensores em semáforos, que se autorregulam ao detectarem congestionamentos, por exemplo, liberando o fluxo dos veículos ou dando prioridade ao transporte público de passageiros. Outro exemplo são cidades que investiram em sistemas digitais de segurança, que monitoram e controlam o fluxo de pessoas em lugares públicos, ou, ainda, alagamentos ou deslizamentos de terra em áreas de risco.

As cidades inteligentes apresentam características para além de tecnologias digitais em boa parte do seu funcionamento, como acesso à educação de qualidade em todos os níveis de ensino, acesso a sistemas de saúde, boa conectividade de dados e utilização de diferentes modais de transporte.

A redução dos níveis de estresse, o aumento da quantidade de empregos formais e a redução do custo de vida são indicadores de boa qualidade de vida para a população. Em contrapartida, a implantação dessas cidades demanda alto custo e necessidade de mão de obra qualificada, o que faz com que se concentrem, sobretudo, em países desenvolvidos.

As cidades que comandam a economia mundial do século XXI dedicam-se às atividades do setor terciário e são as que centralizam a produção inteligente, reunidas em start-ups, escritórios organizados em coworking, verdadeiros centros estruturados para produzir inovações no setor informacional.

Melbourne, Dubai, Shenzhen, Hong Kong, entre outras, são exemplos de cidades voltadas à produção de sistemas de alta tecnologia, sobretudo aqueles relacionados à indústria da informação, da comunicação digital e de desenvolvimento de softwares e entretenimento (games).

Além do Vale do Silício, na Califórnia, os complexos industriais tecnológicos e informacionais difundiram-se para outras cidades estadunidenses e europeias desde 2010, formando o Beco do Silício (em Nova York), as Pradarias do Silício (Nebraska, Texas, Boston) e as Docas do Silício, em Dublin, Irlanda.
A cidade de Curitiba, capital do Paraná, é considerada um bom exemplo de Cidade Inteligente do país. Ela foi pioneira em implantar um sistema inteligente de transporte coletivo urbano e de monitoramento do tráfego que proporcionou maior mobilidade à população.

O VALOR DA AGRICULTURA: COMMODITIES

No mundo, o mercado de commodities é um dos maiores e pode afetar a economia de um país a depender do valor do produto. Isso acontece, por exemplo, com o trigo: se o preço aumenta, isso interfere no preço da farinha e, consequentemente, do pão, impactando a vida das pessoas.
O comércio mundial de produtos agropecuários abrange tanto os produtos alimentícios (cereais, frutas, carne, laticínios etc.) como as matérias-primas para a indústria e o setor energético. Essa comercialização acontece principalmente na forma de commodities, cujos preços são estabelecidos em escala internacional nas bolsas de mercadorias, como as de Chicago e Nova York, nos Estados Unidos, e Londres, no Reino Unido.

As commodities são mercadorias principalmente agropecuárias e minerais, que são a base de outros processos de fabricação de mercadorias. A produção é em larga escala e suas características não variam de país para país. As commodities são importantes na economia mundial, influenciando o valor dos produtos consumidos pela população. Países cuja economia é estruturada com base no setor primário e na exportação dependem da cotação elevada das commodities e do volume das exportações para manter a balança comercial positiva. Os valores são definidos nas bolsas de valores.
A variação dos preços das commodities reflete em toda a economia, já que são matérias-primas usadas para a fabricação de diversos produtos. Em caso de elevação, os alimentos ficam mais caros, prejudicando os consumidores – especialmente a população mais pobre, que, em geral, destina grande parte de seu rendimento para a aquisição de alimentos.
Os preços das commodities sofrem grandes alterações ao longo do tempo. Por exemplo, em períodos de alta da produção e grande oferta de produtos, os preços tendem a cair. Em contrapartida, quando há escassez do produto no mercado, os preços sobem. É o caso do trigo em 2022: a alta dos preços desse produto está relacionada com o conflito envolvendo a Ucrânia, pois 50% da produção de trigo ucraniana encontra-se armazenada e sem possibilidade de escoamento, uma vez que seus portos no Mar Negro se encontram sob bloqueio russo.
No entanto, as projeções econômicas de valor das commodities tendem a diminuir, uma vez que a China, principal comprador desses produtos, fechou temporariamente seus portos devido à pandemia de covid-19 e houve redução do consumo na Europa devido ao conflito na Ucrânia.
Além dos problemas que envolvem o estoque e o transporte da produção, as alterações climáticas podem interferir diretamente na produção agrícola mundial, resultando em aumento ou redução do valor desses produtos. Essas alterações no valor e na produção de commodities afetam todo o setor de alimentos, uma vez que eles são utilizados também para a produção de ração para produção pecuária.
O mercado mundial de commodities é controlado por um restrito conjunto de trading companies, que são, principalmente, transnacionais. Elas têm grande poder, influenciam a formação de preços no mercado internacional, o valor dos fretes marítimos para transportá-las etc.
No Brasil, as tradings de commodities atuam na comercialização de soja, milho, açúcar, café, algodão e outros produtos e, nos últimos anos, têm atuado na aquisição de usinas de açúcar e etanol e no financiamento de sementes, agrotóxicos e fertilizantes para o agronegócio.
Países que são grandes exportadores de produtos agropecuários, mas não se destacam como produtores e exportadores de produtos industrializados, estão mais suscetíveis e vulneráveis à oscilação dos preços das commodities. Essa característica se aplica principalmente aos países em desenvolvimento, bem como aos emergentes, que em geral são economias dependentes da produção e da exportação de commodities, como é o caso do Brasil.

A População Economicamente Ativa (PEA)

Uma contradição demográfica atual está relacionada aos índices de População Economicamente Ativa (PEA). Esse índice nos mostra a quantidade da população com potencial para vender sua força de trabalho. Com o aumento da população, tem-se um crescimento da demanda produtiva e, consequentemente, a necessidade de mão de obra. No entanto, nem sempre esse fato ocorre sem problemas e desafios socioeconômicos.

Com a transição demográfica que vem ocorrendo, principalmente nos países europeus, há muitas pessoas classificadas como população economicamente inativa, ou seja, pessoas consideradas sem potencial para vender sua força de trabalho, como jovens abaixo de 15 anos e, sobretudo, idosos acima de 60 anos. Analise o gráfico a seguir, que mostra a porcentagem da população economicamente ativa nos países do G20.
Os países pertencentes à União Europeia apresentam 64,2% da população na PEA. Como forma de reduzir os impactos da redução de mão de obra disponível, países como Itália, Portugal, Países Baixos e Alemanha, entre outros, têm investido em condições de trabalho e de vida atrativas para imigrantes, além de políticas públicas que incentivem seus cidadãos a ter filhos.
Nos Países Baixos, por exemplo, o governo oferece os itens básicos para montar o enxoval, como fraldas e leite, para famílias que optam por ter filhos, além de disponibilizar uma enfermeira para acompanhar a mãe no primeiro mês após o parto. Na Alemanha, os jovens recebem bolsas de estudo e financiamento estudantil para qualificação profissional.
Já a China, a principal economia asiática, tem quase 70% da população disponível para o mercado de trabalho, acima da média mundial, que é de 64,3%, e uma das mais altas do G20, atrás de Coreia do Sul e Arábia Saudita.

A indústria do futebol

A disseminação do futebol pelo mundo ocorreu a partir do século XX, acompanhada da expansão do modo de vida urbano, das atividades industriais e, a partir dos anos 2000, do investimento de capital da indústria de petróleo árabe no futebol mundial. A fundação da Federação Internacional de Futebol (Fifa), em 1904, em Paris, e a criação da Copa do Mundo de Futebol, em 1930, fortaleceram ainda mais o esporte como prática globalizada.

As empresas de diversos setores passaram a investir no futebol e a expor suas marcas, aumentando potenciais mercados consumidores. Também houve inovações relacionadas à ciência e à tecnologia ao fabricar uniformes e acessórios e ao construir arenas e estádios. Os jogadores passaram a ter um papel maior do que apenas em campo: suas imagens agregam valor e geram renda às marcas, o que resulta em rendimentos muito altos. Analise a fotografia a seguir.

Em 2022, o jogador francês Kylian Mbappé, de 23 anos, era o mais valioso do mundo do futebol, com valor de mercado superior a R$ 1 bilhão. 

Os principais investidores e patrocinadores dos times de futebol são empresas de telecomunicações e indústrias petroquímica e automobilística, o que reforça a influência do capital industrial sobre todos os setores da economia, incluindo as modalidades esportivas.

Grandes eventos relacionados ao futebol, como a Copa do Mundo, geram grandes impactos socioambientais nos lugares que recebem esses eventos. Eles envolvem a construção de estádios e outras infraestruturas para receber os jogos, o que muitas vezes acarreta na desapropriação da população que vive no entorno das obras e na transformação de paisagens que possuem importância histórica e cultural.
Atualmente, a cadeia produtiva relacionada a futebol integra diversos países e setores da economia. As atividades envolvem desde o desenvolvimento de designs e tecnologia para uniformes, chuteiras e meias até a produção das bolas, além de todas as matérias-primas utilizadas nos processos.
Isso resulta em um fluxo comercial e cultural intenso entre os países. Um exemplo é a cidade de Sialkot, localizada na região central do Paquistão, onde são costuradas milhões de bolas de futebol utilizadas em grandes campeonatos, como a Copa do Mundo.

Produção de energia no Brasil

Movimentar máquinas, cargas e pessoas por longas distâncias demanda muita energia. No Brasil, usam-se combustíveis derivados de fontes não r...