terça-feira, 14 de janeiro de 2025

Oriente Médio

Posição estratégica

O Oriente Médio está localizado em uma região estratégica entre a Europa, a África e o restante do continente asiático.
Nessa região se desenvolveram várias civilizações. A denominação “Oriente Médio” é fruto de uma visão eurocêntrica do mundo, consolidada no período das Grandes Navegações, quando os europeus estabeleceram rotas marítimas de comércio para a África, para a Ásia e para a América. Foi uma das regiões mais ricas e desenvolvidas e, a partir dela, os muçulmanos difundiram para o resto do mundo notáveis saberes científicos, artísticos e filosóficos. No século XV, a região foi dominada pelo Império Turco Otomano, permanecendo assim até o fim da Primeira Guerra Mundial, quando franceses e britânicos obtiveram o apoio dos povos árabes contra os turcos otomanos. Entretanto, Reino Unido e França já haviam acertado a partilha dessa região em um acordo secreto — o acordo Sykes-Pikot, pelo qual Síria e Líbano foram ocupados pelos franceses; Palestina, Iraque e Transjordânia (atual Jordânia), pelos ingleses. Somente no período entre as guerras mundiais e após a Segunda Guerra se consolidou o processo de independência, e as fronteiras entre os países foram sendo delimitadas. Esse processo, no entanto, não significou o fim dos conflitos. Pelo contrário, após a Segunda Guerra Mundial, eles continuaram a ocorrer em virtude principalmente da formação do Estado de Israel, dos fortes interesses das grandes potências pela região e das disputas internas pelo poder, que contribuíram para a deposição de governantes e alterações em regimes de governo.

Atividades econômicas

No Oriente Médio, com exceção de Israel, a atividade industrial é pouco expressiva. Destacam-se na Turquia a indústria siderúrgica e, nos países produtores de petróleo, refinarias e algumas indústrias petroquímicas. Acrescentam-se ainda os setores tradicionais, como o têxtil e o alimentício, que estão instalados próximo às grandes cidades. O turismo é também uma atividade com grande potencial. A região apresenta um rico e milenar patrimônio histórico e, no litoral do golfo Pérsico, os corais e a vida submarina do mar Vermelho e de toda a costa mediterrânea ainda apresentam riquezas naturais preservadas. Apesar das condições favoráveis ao turismo, os conflitos e a imagem difundida pela mídia sobre o fanatismo religioso e os valores culturais opostos aos do mundo ocidental constituem barreiras a essa atividade econômica. Abu Dhabi e Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, são hoje importantes polos turísticos mundiais. Detentores de grandes reservas de petróleo, os Emirados diversificaram sua economia em aplicações financeiras no exterior e na aquisição de empresas. Um investimento significativo está relacionado à alteração de sua paisagem natural, com a construção de hotéis luxuosos, praias e ilhas artificiais. Isso foi acompanhado pela modernização dos aeroportos e toda essa estrutura tem contribuído também para atrair turistas de todas as partes do mundo. O petróleo deixou de ser sua atividade econômica exclusiva e, no Emirado de Dubai, a renda do turismo já supera a renda do petróleo.

A Turquia, com sua arquitetura herdada de dois grandes impérios — o Otomano e o Bizantino — e seu extenso litoral nos mares Egeu e Mediterrâneo, é também outro importante destino dos turistas que se dirigem ao Oriente Médio. A agricultura está restrita a algumas áreas, uma vez que existem extensos desertos no Oriente Médio. Ela se desenvolve principalmente nas planícies fluviais, em áreas irrigadas e na costa dos mares Mediterrâneo, Negro e Cáspio. Na agricultura voltada ao mercado interno, destacam-se arroz, milhete, trigo e algumas frutas. Entre as culturas destinadas também à exportação, sobressaem oliveira, chá, fumo, algodão e tâmara.

O petróleo

No Oriente Médio está grande parte das maiores reservas e centros de produção petrolífera. O interesse pelo controle de áreas produtoras de petróleo é uma das causas de guerras e revoluções na região, uma vez que este é o principal combustível da sociedade industrial e a fonte de matéria-prima para mais de 6 mil produtos. A concentração de aproximadamente 45% das reservas mundiais de petróleo no Oriente Médio e a exploração associada às grandes empresas multinacionais ou transnacionais do setor transformaram a região em proprietária da principal fonte de riqueza natural do último século, mas também resultaram em áreas com focos de tensão, disputas e intensos conflitos. Apesar da enorme riqueza gerada pela exportação de petróleo e de gás natural, parcela considerável da população não desfruta boas condições de vida. A riqueza flui para grupos minoritários, que detêm o poder político e econômico. Os países que apresentam as maiores reservas mundiais.

Interesses externos

Na atual política de “guerra contra o terrorismo”, os Estados Unidos e outros países europeus (particularmente o Reino Unido) acentuaram sua presença no Oriente Médio e na Ásia Central e promoveram o apoio a governos pró-ocidentais. Dessa forma, garante-se certo controle sobre reservas de petróleo e gás natural, oleodutos e gasodutos existentes ou que estão em projeto e em construção nos países da região. As relações do Ocidente com os governos do Oriente Médio e os interesses econômicos das grandes potências ficam claros quando consideramos que os Estados Unidos, apesar de se declararem defensores da democracia e da liberdade de expressão, apoiam governos que não prezam esses valores, como os da Arábia Saudita e do Kuwait.

Israel: desenvolvimento econômico

Israel é o único país do Oriente Médio considerado desenvolvido, em razão de suas características socioeconômicas. Além das boas condições de vida da população, a economia é diversificada, com os setores secundário e terciário bastante desenvolvidos. Há também nesse país importantes centros de pesquisa tecnológica. Israel conta com duas fontes de recursos fundamentais para a manutenção de seu crescimento econômico e de seus gastos militares: as doações da comunidade judaica mundial e a ajuda financeira dos Estados Unidos. No atual território de Israel, uma faixa litorânea, de clima Mediterrâneo, é densamente povoada (quase 300 hab./km2 ). No sul de Israel estende-se o deserto de Neguev, que ocupa praticamente a metade de seu território e onde vivem apenas 7% da população do país. Nessa região, ocorreu uma expressiva modificação no espaço. Com a construção de um eficaz sistema de irrigação, o deserto transformou-se em área fértil ao cultivo agrícola. Vale ressaltar que Israel, para tanto, passou a controlar os suprimentos de água da bacia do rio Jordão (inclusive suas nascentes nas colinas de Golã, território sírio) e os sistemas de aquíferos, que deveriam ser partilhados com os palestinos, resultando em uma das razões de conflito deste povo com Israel. A prosperidade agrícola deve-se também ao tipo de organização produtiva, representada pelo kibutz e pelo moshav. Cerca de 3% da população do país vive nos kibutzin (plural de kibutz). O kibutz convencional é uma fazenda agrícola comunitária, cujos integrantes compartilham toda a propriedade e, de comum acordo, distribuem as tarefas, configurando um modo de vida comunal. Atualmente, ocorreram adaptações em diversos kibutzin. Dessa forma, existem kibutzin com produção industrial com os mesmos modos de vida comunal que os kibutzin convencionais.

O moshav é uma vila agrícola onde cada família é proprietária de sua terra. Com uma administração central, nos moldes de uma cooperativa, as famílias dividem os equipamentos, compram sementes e outros implementos agrícolas e realizam a comercialização de sua produção. Apesar da carência de petróleo e de outros recursos energéticos característicos de grande parte do Oriente Médio, Israel tem os setores industrial e agrícola muito bem estruturados. Os principais setores industriais de alta tecnologia são bastante diversificados e destinam-se à produção de equipamentos militares, produtos químicos e farmacêuticos, softwares, aviação, telecomunicações, etc. A renda per capita é alta e apresenta um padrão de distribuição próximo ao dos países desenvolvidos.

O islamismo e o fundamentalismo islâmico

No Oriente Médio, a população é predominantemente árabe, contando também com turcos (na Turquia), persas (no Irã) e judeus (em Israel). Além desses povos, vivem na região curdos, armênios, entre outros. A maior parte dos habitantes dessa região, conforme visto na seção Para começar, professa a religião islâmica ou muçulmana. Os judeus formam o segundo maior grupo religioso. A palavra árabe islam quer dizer resignação ou total submissão à vontade de Deus. Os termos islâmico, muçulmano e maometano têm o mesmo significado, ou seja, denominam pessoa sujeita aos desígnios de Deus, ou Alá. A religião islâmica é a que mais cresce no mundo, contando com mais de 1 bilhão de adeptos.

Apesar de o islamismo ser a religião de quase 90% da população do Oriente Médio, existe uma diversidade de segmentos dentro dessa religião, dos quais os xiitas e os sunitas são maioria da população. A principal diferença desses dois segmentos está na visão de sucessão de Maomé, criador do islamismo: os sunitas acreditam que o sucessor deveria ser eleito pelo povo e os xiitas entendem que os descendentes de Ali (genro do profeta Maomé) deveriam liderar os islãs. Com base nisso, surgiram disputas relacionadas à doutrina e também se diferenciaram as práticas religioso-culturais.

O predomínio de uma ou de outra vertente na população de cada país é um importante fator para compreender tensões e conflitos regionais. Em ambas as vertentes pode estar presente o fundamentalismo islâmico.

Atualmente, os grupos fundamentalistas, que atuam em vários países da região, no sul e no sudeste asiáticos e no norte da África, têm como objetivos principais, de modo geral, a necessidade de romper com o Ocidente – considerado o “Grande Satã” –, desestabilizar governos pró-ocidentais nos países de maioria muçulmana e substituir a lei dos homens pela Lei Divina, expressa no Corão (livro sagrado transmitido por Deus ao profeta Maomé). Alguns radicais islâmicos defendem o uso da força para expandir a religião islâmica, como os que atuam no Iraque e na Síria e que, em 2014, declararam a criação de um país, o Estado Islâmico, como veremos adiante neste capítulo. Os movimentos fundamentalistas defendem um conjunto rígido de regras para o vestuário, rituais de casamento e alimentação, princípios de justiça social, normas de educação das crianças e condutas de vida para as mulheres (que não têm os mesmos direitos dos homens). No entanto, ressalva-se que em vários países de maioria muçulmana tem havido maior participação da mulher na sociedade. Mesmo no Irã, um Estado teocrático, vem aumentando o número de mulheres que frequentam centros universitários — onde cerca de 40% dos estudantes são do sexo feminino —, participam do mercado de trabalho e da política. Na Arábia Saudita, até meados de 2018, era proibido que mulheres dirigissem veículos. Esse era o único país no mundo em que as mulheres não podiam obter habilitação de motorista. Apesar de restrições e desigualdades históricas, não há, no Corão, restrições à atuação da mulher na vida social.

A questão Palestina e o Estado de Israel

Com a criação do movimento sionista no século XIX, milhares de judeus, de todas as partes do mundo, começaram a migrar para a Palestina, transformando a região em palco de permanentes conflitos com os árabes. Em 1917, a Palestina foi ocupada pelos ingleses. Esse movimento de caráter nacionalista tinha como objetivo a criação de um Estado judaico (Israel) em um território considerado sagrado para esse povo, ou seja, a “Terra Prometida”. Durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), milhões de judeus foram mortos. Outros tiveram de abandonar seus países de origem. Essa situação foi determinante para a institucionalização de um Estado judaico e a aprovação da ONU para a criação, em 1947, de um plano de partilha da Palestina, que previa a formação de dois Estados: um árabe e outro judeu. Em 1948, os ingleses retiraram-se da Palestina, e Israel constituiu-se em Estado. A partilha da Palestina entre árabes e judeus causou grande insatisfação aos povos árabes. Logo após a criação do Estado de Israel, os exércitos dos países árabes vizinhos (Egito, Síria, Líbano, Iraque e Transjordânia) atacaram o país, dando início a uma guerra violenta. Em janeiro de 1949, terminavam os combates, que conferiam a Israel novas áreas, ampliando em 50% a área original de seu território. Ainda em 1949, foram assinados acordos de armistício, segundo os quais o Estado Árabe da Palestina seria dividido entre Israel, que conquistara a Galileia e o deserto de Neguev; Transjordânia, que ficaria com a Cisjordânia (a oeste do rio Jordão), passando a se chamar Reino Hachemita da Jordânia; e Egito, que ficaria com a Faixa de Gaza.

Em 1967, eclodiu outro conflito armado, a Guerra dos Seis Dias. No fim da guerra, Israel obteve a península do Sinai e a Faixa de Gaza, do Egito; Golã, da Síria; e a Cisjordânia (margem ocidental do rio Jordão), da Jordânia. Em 1973, o Egito, a Síria e a Jordânia envolveram-se em nova guerra com Israel para a retomada dos territórios perdidos na Guerra dos Seis Dias, porém sem sucesso. Em 1979, por meio de um acordo intermediado pelos Estados Unidos, o Acordo de Camp David, Israel concordou em devolver ao Egito a península do Sinai.

Entre judeus e palestinos o conflito teve outros desdobramentos. Em 1964, foi criada a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), que reunia diversos grupos extremistas palestinos com um alvo comum: lutar pela criação de um Estado palestino e pela destruição do Estado de Israel. Em 1969, Yasser Arafat (líder da Al Fatah — atualmente um partido, mas que foi fundada, em 1964, como uma organização política e militar) assumiu a presidência da OLP. Até 1987, a organização utilizava métodos terroristas para alcançar seus objetivos. Em 1988, o líder da OLP apresentou um “plano de paz” na Assembleia Geral da ONU, no qual reconhecia o Estado de Israel. Esse acontecimento marcou o início de uma nova fase para a OLP, que conquistou mais espaço no campo diplomático, passando a negociar com os Estados Unidos e, posteriormente, com Israel. Foi nesse mesmo período que surgiu em Gaza o Hamas, outro importante grupo de combate palestino. No dia 13 de setembro de 1993, após dois meses de negociações secretas com a mediação do governo da Noruega, Arafat, pela OLP, e o então primeiro-ministro israelense, Yitzhak Rabin, assinaram na Casa Branca (Estados Unidos) um acordo de paz. Partes da Cisjordânia e de Gaza foram devolvidas aos palestinos e se tornaram regiões autônomas e de administração palestina. Foi, então, criada a Autoridade Nacional Palestina (ANP) — representante legal dos palestinos, responsável pela administração de seus territórios. As terras palestinas encontram-se divididas. O Hamas detém o controle de Gaza, e a ANP controla a Cisjordânia. Enquanto o Hamas se nega a reconhecer o Estado de Israel e qualquer negociação, a ANP ainda acredita que consiga reconquistar parte das terras palestinas com a negociação. Observe a figura 29. Em 2005, foi concluída a desocupação israelense do território de Gaza. No entanto, até o final de 2018, Israel ainda mantinha os bloqueios aéreo, marítimo e terrestre, restringindo a circulação de mercadorias, pessoas e serviços entre o território e o mundo. Essa situação agrava a situação de pobreza e o desemprego em Gaza. São várias as questões pendentes para um acordo de paz mais duradouro entre os dois povos: a questão do “muro de proteção” que contorna boa parte da Cisjordânia; a definição dos limites entre Israel e o futuro Estado palestino; a disputa por Jerusalém; e a existência de assentamentos judaicos em territórios da Autoridade Nacional Palestina. Além dessas e de outras questões, há sempre a preocupação de como grupos extremistas judeus e palestinos enfrentarão um processo de negociação que de fato encaminhe a região para a paz.

Em 2017, o governo estadunidense do então presidente Donald Trump reconheceu Jerusalém como capital de Israel e, no ano seguinte, foi inaugurada a embaixada dos Estados Unidos nessa cidade, interferindo na questão das negociações entre a ANP e Israel. Atualmente, mais de 130 países na ONU deram reconhecimento ao Estado da Palestina, que tem condição de Estado observador, não membro, das Nações Unidas (figura 30). Apesar disso, Israel, Estados Unidos e vários países europeus ainda não reconhecem a existência desse Estado.

Irã: Revolução Islâmica, oposição ao Ocidente e transformações recentes

Até 1979, o Irã foi um dos principais aliados dos Estados Unidos entre os países do Oriente Médio. Em 1953, o governo estadunidense apoiou o golpe de Estado promovido pelo xá Reza Pahlevi. Com Reza Pahlevi, o Irã constituiu uma política econômica e social apoiada no modelo ocidental. Do ponto de vista econômico, foi um período de desenvolvimento industrial e de crescimento. Apesar disso, ocorreu um profundo questionamento das correntes mais radicais do islamismo. Líderes religiosos foram perseguidos e alguns foram expulsos do país. Em 1979, uma onda de manifestações populares depôs o governo do xá e empossou o líder xiita aiatolá Khomeini. Surgiu a República Islâmica do Irã, que se caracterizou pela busca de um caminho próprio, não alinhado a nenhuma das grandes potências, Estados Unidos e ex-União Soviética. A partir de 1980, o Irã rompeu relações com os Estados Unidos e passou a ser controlado pelos chefes religiosos (aiatolás), que estabeleceram normas sociais rígidas, de acordo com os princípios do islamismo, formalizando um Estado teocrático (o atual governo do Irã, apesar de civil, está submetido ao poder dos aiatolás). Apesar do rígido controle do governo do Irã, nos últimos anos vêm ocorrendo mudanças de comportamento por parte de alguns iranianos, especialmente dos jovens, que têm buscado acesso à informação e à cultura ocidental, por meio de filmes, músicas e internet. Atualmente, o Irã é, entre os países islâmicos, aquele que exerce maior influência no Oriente Médio e tem mantido relações estáveis com praticamente todos os países vizinhos. É o maior opositor à existência do Estado de Israel. O atual governo mantém fortes relações com a China e a Rússia. Essas relações incluem cooperação técnica, associação para a exploração de petróleo em subsolo iraniano e venda de armas e de combustível para as usinas termonucleares.

Outro motivo de enfrentamento entre o Irã e o Ocidente é o desenvolvimento de um programa nuclear. Os Estados Unidos sempre alertaram que o governo iraniano teria a ambição de produzir armas de destruição em massa e que o país estaria próximo de conquistar a tecnologia necessária para alcançar tal objetivo. Alemanha, França e Reino Unido apoiavam os argumentos estadunidenses sobre a ameaça que o programa nuclear representaria para o Oriente Médio e outras regiões do mundo. Em 2013, o Irã, que sempre defendeu que seu programa nuclear teria objetivo exclusivamente pacífico e energético, firmou um acordo visando a uma redução desse programa, em troca da diminuição de sanções econômicas que sofria por parte da comunidade internacional. No mesmo ano, com a eleição de Hassan Rohani, um governante moderado, o então presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, teve, por telefone, uma conversa histórica com o presidente iraniano, sinalizando uma reaproximação diplomática. Em 2015, foi assinado um acordo nuclear entre o Irã e o grupo de países do P5+1 (formado pelos 5 países-membros do Conselho de Segurança da ONU e a Alemanha), após mais de uma década de negociações, visando restringir a possibilidade de os iranianos desenvolverem a bomba atômica.

No entanto, em 2018, os Estados Unidos saíram do acordo e uma das alegações utilizadas pelo então presidente Trump, que restabeleceu as sanções econômicas ao país, foi a de que o governo iraniano apoiaria grupos terroristas e milícias, como o Hezbollah, o Hamas, a Al-Qaeda e o Taleban.

Iraque e Afeganistão: guerras e ocupação

Parte dos conflitos atuais no Iraque teve início em 1979, com a instauração da ditadura do governo de Saddam Hussein. O novo governo, apoiado pelos Estados Unidos, envolveu-se em uma longa guerra contra o Irã pela disputa por uma faixa de terra ao sul da fronteira entre os dois países, delimitada pelo canal Chat al-Arab, junto ao golfo Pérsico. Esse fato deflagrou a Guerra Irã-Iraque (1980-1988). No fim da década de 1980, os dois países assinaram um acordo de paz, em que o Chat al-Arab permaneceu sob o domínio do Irã. Em 1990, endividado pela guerra contra o Irã, o Iraque invadiu o Kuwait — um pequeno país da península Arábica pontuado de poços de petróleo. Em decorrência, houve uma reação imediata dos Estados Unidos, da França, do Reino Unido, da Arábia Saudita e de outros países, dando origem, em 1991, à Guerra do Golfo. As forças iraquianas renderam-se sem impor condições. Após essa guerra, foi imposto ao Iraque um embargo econômico pela ONU e a inspeção sobre o controle de armas no país. Em 1998, Saddam Hussein expulsou os funcionários da ONU e expôs novamente o país à possibilidade de um novo confronto internacional.

Guerra e ocupação do Afeganistão

No dia 11 de setembro de 2001, os Estados Unidos foram atingidos pela maior ação terrorista realizada no país. O atentado foi atribuído pelo governo estadunidense à rede terrorista internacional Al-Qaeda, liderada pelo saudita Osama Bin Laden. A Al-Qaeda mantinha naquele momento sua base no Afeganistão, que era praticamente dominado pelo grupo fundamentalista Taleban, que implantou um regime de governo islâmico repressivo, sobretudo às mulheres, entre 1996 e 2001. Elas eram obrigadas a ocultarem-se sob a burca e viverem em suas casas, praticamente confinadas, ficando proibidas de frequentar escolas e locais de trabalho.

Após o atentado de 11 de setembro, o Conselho de Segurança da ONU exigiu que o grupo entregasse Osama Bin Laden. Em 2002, diante da negativa do Taleban em entregar o terrorista, os Estados Unidos invadiram o Afeganistão, depuseram o governo Taleban, estabeleceram um novo governo e instalaram novas bases militares estadunidenses no Oriente Médio (figura 32). Em 2011, os Estados Unidos iniciaram a retirada parcial das tropas do país, comprometendo-se a fazer a retirada total até 2016. No entanto, a partir de 2017, o governo Trump passou a enviar mais soldados ao país.

Guerra e ocupação do Iraque Depois da ocupação do Afeganistão, os Estados Unidos miraram um novo alvo: o Iraque. Junto ao Reino Unido, argumentavam que o Iraque constituía um risco à segurança mundial, pois o governo iraquiano desenvolvia programas de armas de destruição em massa, mantinha armas químicas e bacteriológicas estocadas e estabelecia ligações com grupos terroristas. Em 2002, os Estados Unidos, sob o governo de George W. Bush, pressionaram o Conselho de Segurança da ONU solicitando uma revisão da questão iraquiana. A relação do Iraque com o resto do mundo ainda estava em impasse desde a expulsão dos inspetores da ONU, em 1998. O Conselho de Segurança obrigou o Iraque a aceitar a volta dos inspetores ao país. Enquanto ocorria o trabalho dos inspetores da ONU no Iraque, os Estados Unidos e o Reino Unido deslocaram milhares de soldados e equipamentos de combate para o Oriente Médio. Em 2003, foi tomada a decisão de atacar o Iraque, independentemente da posição da ONU e contra a posição de três dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança: Rússia, China e França. A guerra contra o Iraque, nesse contexto, atropelou o órgão máximo para julgar essas questões. A ofensiva militar resultou na derrubada do regime ditatorial de Saddam Hussein e em sua posterior prisão. Em 2006, Saddam Hussein foi julgado sob o governo interino iraquiano e condenado à pena de morte.

A ocupação militar não conseguiu estabilizar politicamente o país. Uma sucessão de atentados contra militares e civis (tanto estrangeiros como iraquianos), promovidos por grupos insurgentes contrários à presença estadunidense, passou a fazer parte do cotidiano. Com o pretexto de combater o terrorismo, a ocupação do Iraque estimulou esse tipo de embate. Além disso, ficou comprovado que o Iraque não produzia armas de destruição em massa, principal alegação que justificou a ação militar das tropas ocidentais. Em dezembro de 2011, os Estados Unidos retiraram oficialmente suas tropas do país.

Curdos

Exemplo da maior nação constituída sem Estado, o povo curdo soma cerca de 30 milhões de pessoas distribuídas por seis países: predominantemente na Turquia, onde estão cerca de 15 milhões de pessoas, no Iraque, no Irã, na Síria, na Armênia e no Azerbaijão. Os curdos enfrentam uma longa trajetória de perseguição e de dura repressão às tentativas de formação política do Curdistão, principalmente na Turquia e no Iraque. Isso ocorre porque o território onde pretendem construir seu país dispõe de recursos naturais, como o petróleo, e é onde se localizam as nascentes dos rios Tigre e Eufrates. Na década de 1980, os curdos foram massacrados pelo exército iraquiano de Saddam Hussein, inclusive com o uso de armas químicas. Acredita-se que tenham morrido mais de 800 mil curdos nesse período. A presença estadunidense no Iraque, a partir de 1992, beneficiou o povo curdo. Os curdos iraquianos fizeram alianças com os Estados Unidos e ganharam uma rede de proteção aérea; em troca, apoiaram a intervenção no Iraque. Os curdos pretendem manter ou mesmo ampliar a autonomia que conquistaram nessa região, rica em petróleo, na qual são maioria e têm hegemonia cultural. Eles acreditam na criação de uma república federativa que garanta sua autonomia. Em 2005, com a volta das eleições para a escolha de novos governantes no Iraque, depois da queda de Saddam Hussein, a Aliança Curda conquistou 25% das cadeiras da Assembleia Legislativa. Um sistema democrático poderia garantir maior estabilidade para o povo curdo nesse país. No entanto, entre 2014 e 2018, propriedades rurais e cidades de maioria curda no Iraque foram dominadas pelo Estado Islâmico, levando a uma nova onda de violência e destruição. Os curdos fizeram alianças vitoriosas com países do Ocidente para combater o EI, mas não conseguiram apoio posterior desses países para levar adiante a reivindicação de criação de um Estado nacional.

Em 2016, na Turquia, os grupos de guerrilheiros Falcões da Liberdade do Curdistão (TAK) e do Partido dos Trabalhadores Curdos (PKK) assumiram atentados terroristas em busca de instabilidade política para a conquista da independência. Em decorrência dos eventos, o governo do presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, abriu uma temporada de forte repressão à oposição.

Síria No Oriente Médio, as atenções dos Estados Unidos também estão focadas na Síria, país de grande diversidade populacional, majoritariamente muçulmano sunita. Segundo autoridades governamentais estadunidenses, o governo sírio financia e facilita a atuação de grupos terroristas, principalmente no Iraque e em Israel. Em 2011, a Síria foi um dos países envolvidos na onda de movimentos pró-democracia, conhecida como Primavera Árabe. Esses movimentos foram desencadeados em vários países árabes contra seus regimes ditatoriais. Desde então, a Síria vem passando por uma guerra civil que adquiriu contornos de conflito étnico-religioso, ao opor os principais grupos que habitam o país. O presidente da Síria, ditador Bashar al-Assad, pertence ao grupo alauita (uma das vertentes do grupo islâmico xiita) e é apoiado por seus integrantes que representam apenas 10% da população. Outros grupos também minoritários apoiam o regime. Essas minorias foram privilegiadas durante a ditadura da dinastia Assad. Formaram o grupo social mais rico e preencheram os principais postos de comando do Estado sírio e do Partido Baath (partido único do regime). Em contraste, mais de 70% da população do país, socialmente discriminada, é formada por muçulmanos sunitas e curdos. A ONU estima que entre o ano de 2011 e os primeiros meses de 2018 cerca de 5 milhões de sírios, especialmente mulheres e crianças, saíram do país em busca de refúgio. Nesses anos, a Turquia foi o principal destino da maioria dos refugiados.




Os radicais do Estado Islâmico

No contexto de instabilidade política na Síria e no Iraque, estruturou-se uma organização terrorista formada por radicais islâmicos sunitas desses dois países, além de estrangeiros não árabes que abraçaram a sua causa, ou seja, estabeleceu-se um califado, o Estado Islâmico (EI), regido pela lei do Islã e que teria como objetivo governar todos os muçulmanos. Na prática, esses radicais formam uma milícia: uma organização militar composta de terroristas, muitos deles vinculados a grandes redes terroristas, como a Al-Qaeda. Observe o mapa da figura 36. Os radicais muçulmanos do EI controlam trechos dos territórios da Síria e do Iraque, inclusive cidades desses países. Esses radicais, chamados de jihadistas pela imprensa internacional, dominam poços e refinarias de petróleo na Síria e no Iraque; recebem doações de células terroristas de diversos países, principalmente da Arábia Saudita e do Catar; arrecadam impostos nas cidades controladas; saqueiam bancos; e fazem reféns com o intuito de cobrar resgates e impressionar a comunidade internacional (muitas vezes, executam alguns reféns e postam os vídeos em redes sociais). É também por meio da internet que muitos jovens, que abraçam a causa dos radicais islâmicos, são cooptados.

O avanço do EI foi combatido a partir de 2015 por uma coalização liderada pelos Estados Unidos por meio de ataques aéreos, pelos curdos e pelo exército iraquiano, no Iraque, e pelo exército sírio, na Síria. O enfrentamento militar reduziu progressivamente os territórios dominados pelo EI (figura 37). Em 2017, quase quatro anos depois de o grupo terrorista ter estabelecido controle sobre áreas no Iraque, o governo iraquiano declarou o fim da guerra contra o EI. Apesar das grandes perdas militares e territoriais, os episódios não derrotaram o grupo, que ainda é considerado uma ameaça. Em 2017, combatentes se dirigiram à Líbia para formar outras bases.

domingo, 12 de janeiro de 2025

Ásia: diversidade natural e questões ambientais

Localização e algumas características

A Ásia tem uma superfície de aproximadamente 44 milhões de quilômetros quadrados. Constitui com a Europa um único bloco continental, denominado Eurásia. A divisão entre a Europa e a Ásia leva em conta aspectos histórico-culturais. A Rússia, por exemplo, apresenta parte de seu território no continente europeu e parte no continente asiático.

O continente asiático apresenta 11 fusos horários e é banhado pelos oceanos Glacial Ártico, Índico e Pacífico. Há diversos mares e golfos no interior e na costa asiática. Entre eles destacam-se o mar Vermelho — que se comunica com o mar Mediterrâneo através do canal de Suez (figura 2) —, o mar Cáspio, o mar Negro, o mar da China e o do Japão.

O contorno irregular da Ásia forma penínsulas de grande importância: as penínsulas Arábica, do Decã, Malaia, Indochinesa, da Coreia, Kamtchatka e da Anatólia. No litoral do sudeste asiático, situam-se vários arquipélagos de origem vulcânica: o arquipélago da Indonésia (ilhas Java, de Bornéu, de Sumatra), o das Filipinas e o do Japão. Esses arquipélagos fazem parte do Círculo de Fogo do Pacífico, zona de intensa atividade vulcânica e sujeita a abalos sísmicos frequentes. Outra região de importância estratégica é o estreito de Taiwan, também conhecido como estreito de Formosa. Situado entre a China e Taiwan, tem intensa navegação comercial e constitui uma zona de tensão entre os dois países. Outras zonas de tensão estão presentes no mar da China Oriental e no mar da China Meridional, envolvendo Japão, Indonésia, China, Malásia, Filipinas, Vietnã e Coreia do Sul. O canal de Suez, no Egito, foi inaugurado em 1869. Trata-se de um canal artificial com 163 quilômetros que liga o mar Vermelho (cidade de Suez) ao mar Mediterrâneo (cidade portuária de Port-Said). Apesar das reformas realizadas posteriormente, a profundidade do canal não permite a passagem de grandes petroleiros. No Oriente Médio existem dois golfos de intensa navegação comercial: o golfo Pérsico e o golfo de Omã. O limite entre eles é o estreito de Ormuz. Através de suas águas, a produção de petróleo é escoada para o resto do mundo. Por essa razão, a região do golfo Pérsico é alvo de constantes conflitos e constitui uma área estratégica mundial.

O relevo e a atividade sísmica

Na Ásia são encontradas as mais elevadas montanhas e as depressões mais profundas da Terra. Entre Israel e Jordânia, na região do Oriente Médio, situa-se o mar Morto, cujas águas estão a 412 metros abaixo do nível do mar Mediterrâneo. Na cordilheira do Himalaia localiza-se o ponto culminante do relevo terrestre, o monte Everest, com 8.848 metros de altitude, na fronteira entre o Nepal e a China. Essa cordilheira é uma cadeia montanhosa de formação recente na história geológica da Terra (começou a se formar há cerca de 70 milhões de anos, enquanto a história do planeta iniciou-se há cerca de 4,6 bilhões de anos). A cordilheira do Himalaia descreve um arco de 2.800 quilômetros de extensão, constituindo uma “muralha” entre a China e a porção meridional do continente. Muitos dos picos mais altos da Terra estão localizados no Himalaia, como o K2, o Nanda-Devi, o Kanchenjunga e outros, além do Everest. Dezenas de outros picos, mais de 70, ultrapassam a altitude de 7.300 metros.

Diversos países do continente asiático estão sujeitos à instabilidade geológica. As zonas de instabilidade estão concentradas no sul e no leste do continente, próximo às regiões montanhosas e no litoral. Essa instabilidade, responsável pela ocorrência de terremotos, vulcanismo e maremotos, deve-se à colisão das placas tectônicas no continente ou no oceano. Em dezembro de 2004, um abalo sísmico de magnitude 9,15 na escala Richter (o segundo maior da História), originado no fundo do oceano Índico, provocou um tsunami (onda gigante) que causou a morte de aproximadamente 250 mil pessoas e deixou cerca de 1,8 milhão de desabrigados, a maior parte deles na Índia e no Sri Lanka. O fenômeno ocorreu em razão do choque das placas indo-australiana e euro-asiática. Nesse choque entre as duas placas, uma delas é projetada para o alto e desloca a massa de água do oceano que está sobre ela, formando as ondas gigantescas.

Entre esses planaltos e as cadeias montanhosas, situam-se extensas planícies aluviais, formadas pela acumulação de sedimentos transportados pelos rios. A planície da Sibéria, na Rússia, entre os Montes Urais e o planalto Central Siberiano, é a mais extensa do continente (7 milhões de quilômetros quadrados). No norte da Índia, ao sul do Himalaia, localiza-se a planície Indo-Gangética, que é atravessada pelos rios Indo e Ganges e tem grande importância econômica. Essa planície originou-se da acumulação de sedimentos provenientes da erosão das montanhas, trabalho realizado pelas águas que vertem para os rios Indo, Ganges e Brahmaputra. Os deltas e os vales desses rios são muito importantes para a atividade agrícola, pois são muito férteis. No leste da Ásia, destacam-se a planície Chinesa e a da Manchúria. Em parte da planície Chinesa, aparece o solo loess, de grande fertilidade, o que permite desenvolver atividade agrícola em larga escala, onde são cultivados o trigo, a soja, o milho e a batata. Excetuando-se a planície da Sibéria, todas as demais do continente concentram bastante população em função da grande fertilidade dos solos. No sudeste da Ásia, localiza-se a planície da Indochina, que também apresenta grande importância econômica em razão da fertilidade de seus solos. Entre os rios Tigre e Eufrates, em território iraquiano, localiza-se a planície da Mesopotâmia, que constitui parte da região denominada Crescente Fértil, onde se desenvolve intensa atividade agrícola. Acredita-se que foi nessa região que pela primeira vez se estruturou a prática da agricultura, há aproximadamente 10 mil anos. Outra unidade de relevo presente no continente asiático são as depressões. Além da maior depressão absoluta do mundo, o mar Morto, várias outras estão espalhadas ao redor de outros mares e lagos asiáticos, como o mar Cáspio, ao norte do Irã, e o mar de Aral, entre o Usbequistão e o Casaquistão.

A hidrografia

Apesar de haver rios e lagos de grande dimensão no continente, a escassez de água doce já é um problema para alguns países e deverá se ampliar no futuro. A Ásia abriga cerca de 60% da população mundial e apenas 36% dos recursos hídricos (figura 7). O crescimento industrial tem aumentado o consumo e, ao mesmo tempo, a poluição das águas. Além disso, a necessidade de ampliação de áreas irrigadas para agricultura e pecuária deverá comprometer outras fontes de abastecimento. O sul da Ásia concentra o maior despejo de água de esgoto não tratada do mundo. A cordilheira do Himalaia e o planalto do Tibete são os dois grandes dispersores de águas da Ásia. A maioria dos rios asiáticos nasce na parte central do continente. Os rios asiáticos, de modo geral, têm regime misto: são alimentados pelas águas provenientes tanto do derretimento das neves (nival) como das chuvas (pluvial), especialmente as de verão no sul e sudeste asiáticos, onde ocorrem as monções de verão, proporcionando elevados índices pluviométricos. Como vimos, muitas áreas densamente povoadas do continente encontram- -se nos vales e nas desembocaduras dos rios de maior extensão, como o Ganges, o Indo, o Yang-tse (rio Azul), o Huang-Ho (rio Amarelo) e o Mekong. O rio Ganges nasce no Himalaia e deságua no golfo de Bengala, onde forma o maior delta do mundo. Ele apresenta grande importância econômica, pois, na época das cheias, suas águas fertilizam as terras por onde passam. Além disso, é bastante conhecido pelo seu significado religioso. Os praticantes do hinduísmo, por exemplo, banham-se em suas águas em busca de purificação. O Ganges e seus afluentes formam uma bacia hidrográfica com aproximadamente 1 milhão de quilômetros quadrados, a mais povoada do globo, com densidade demográfica de cerca de 400 hab./km2 . O rio Indo nasce no planalto do Tibete e deságua no mar Arábico. Com a construção de uma rede de canais, as áreas secas atravessadas por seu curso médio foram transformadas em regiões agrícolas.

Dois importantes rios que banham a planície da China são o Yang-tse e o Huang-Ho. Este, com 5.200 quilômetros de extensão, atravessa áreas de solo loess e deságua no mar da China Oriental. O Yang-tse nasce no planalto do Tibete e também deságua no mar da China Oriental. Com 5.500 quilômetros, é o mais extenso rio asiático e nele foi construída a maior hidrelétrica do mundo: Três Gargantas. Na planície da Indochina, o principal rio é o Mekong, com 4.180 quilômetros de extensão. Ele nasce na China, na região do Tibete, corta a península de norte a sul e deságua no mar da China Meridional. Em suas margens cultiva-se principalmente arroz. No norte da Ásia, os rios mais importantes são os que atravessam a planície da Sibéria. Entre eles se destacam o Ienissei e o Ob. Esses rios, que têm as águas congeladas no inverno, causam grandes inundações na época do degelo. Na parte ocidental da Ásia, correm os rios Tigre e Eufrates, que cortam a planície da Mesopotâmia, no Iraque. No continente asiático, observa-se também um grande número de lagos e mares interiores. Entre eles se destacam o mar Cáspio, entre o Irã, o Turcomenistão, o Casaquistão, a Rússia e o Azerbaijão; o mar de Aral, entre o Casaquistão e o Usbequistão; o lago Baikal, na Rússia; e o lago Balkash, no Casaquistão. No fim da década de 1960, os técnicos da ex-URSS decidiram utilizar as águas dos rios Sirdaria e Amudaria e do mar de Aral para irrigar as plantações de algodão, vegetais oleaginosos, frutas e outras culturas, nas áreas secas do Casaquistão e do Usbequistão. O desastre ambiental decorrente desse projeto foi alarmante e amplamente divulgado nos anos 1990, depois do fim da URSS. Em 2001, com ajuda financeira do Banco Mundial, foi implantado um programa de recuperação do mar de Aral (em sua porção norte) que vem apresentando resultados positivos.

O clima e a vegetação

A Ásia é um continente de grandes contrastes climáticos. Nela estão localizadas tanto áreas bastante chuvosas quanto desérticas ou regiões de clima polar e regiões de clima tropical.

Para compreender os vários tipos de clima do continente, devem-se considerar os seguintes fatores:

• latitude, uma vez que as terras asiáticas estendem-se desde a linha do equador (baixa latitude) até a região polar Ártica (alta latitude);

• grande extensão territorial, que permite a atuação dominante de massas de ar continentais (secas) em seu interior e proporciona a maior influência da continentalidade, tornando os invernos mais rigorosos no interior da Ásia;

• altitude, pois é o continente que apresenta as altitudes médias mais elevadas (sem considerarmos a Antártida);

• formas de relevo, cujas montanhas muitas vezes formam barreiras que impedem a passagem das massas de ar úmido;

• ventos monçônicos na porção meridional do continente, que sopram ora do continente para o oceano (secos), ora do oceano para o continente (úmidos). De acordo com a influência desses fatores, a Ásia apresenta diversos tipos climáticos. Próximo ao oceano Glacial Ártico (altas latitudes) e nos planaltos e nas montanhas (altitudes elevadas) predomina o clima Frio.

No norte da Ásia, o clima Frio, subdividido em frio ártico (polar) e frio continental, apresenta temperaturas acima de 10 °C apenas durante cerca de quatro meses do ano. Nos outros meses, as temperaturas são bem inferiores. A cidade de Verkhoianski, na Sibéria, por exemplo, registrou as temperaturas mais frias do globo, próximas dos 70 graus abaixo de zero. As vegetações correspondentes a esse tipo de clima são a Tundra (frio ártico) e a Floresta de Taiga ou de Coníferas (frio continental), cuja espécie predominante é o pinheiro, que se desenvolve até mesmo nos solos mais secos.

Na Mongólia, na China e no Oriente Médio, existem extensas áreas de clima Desértico. Os desertos do Oriente Médio são quentes, como ocorre nos desertos da Arábia e do Irã. Os desertos da parte central são frios. É o caso do deserto de Gobi, na Mongólia e na China, e do Takla Makan, na China. Em razão da aridez desse clima, nessas porções ocorrem as vegetações de estepes e desértica. Nos desertos, em terrenos onde há alguma umidade em virtude da pequena profundidade de um lençol de água, formam-se os oásis, com diversas espécies vegetais, entre as quais se sobressai a tamareira. No sul e no sudeste da Ásia, ocorre o clima de Monções, que é influenciado pelos ventos monçônicos. A principal característica do clima de Monções (Tropical) é a variação das precipitações pluviométricas, marcando duas estações, uma seca (inverno) e outra chuvosa (verão), considerando a dinâmica das estações no hemisfério norte.

No verão, os ventos monçônicos sopram do oceano para o continente, carregando grande umidade, o que ocasiona chuvas prolongadas, indispensáveis para a irrigação da cultura do arroz e de outros produtos. Nesse período, ocorrem fortes enchentes nas planícies litorâneas do Índico e em parte do Pacífico. No inverno, os ventos monçônicos sopram do continente para o oceano. Nesse período, as temperaturas no interior do continente são mais baixas do que as do oceano, o que provoca correntes de ventos continentais secos e frios. O clima Equatorial aparece em quase todas as ilhas que compõem a Indonésia, no extremo sudeste do continente. Em razão da umidade e das altas temperaturas, a vegetação, em alguns trechos das regiões abrangidas pelos climas de monções e equatorial, é formada pelas Florestas Tropical e Equatorial.

Problemas ambientais

O crescimento econômico da Ásia — em especial da China, da Índia e de alguns países do Sudeste Asiático — tem colocado o continente no centro do debate ambiental internacional. O recente desenvolvimento econômico exigiu maior consumo de energia, maior queima de combustíveis fósseis para a produção industrial, e elevação do consumo de água, sobretudo para irrigação de lavouras. No mesmo compasso, milhões de pessoas passaram a se alimentar melhor e ingressaram na sociedade de consumo com a elevação do padrão de vida. Isso foi acompanhado por uma intensificação da ocupação e do uso da terra e, em particular, do solo em diferentes regiões do continente asiático, com diversas consequências ambientais, como contaminação de cursos d’água e do solo por agrotóxicos, compactação do solo pela utilização de máquinas agrícolas, redução da cobertura vegetal e poluição marinha e do ar.

A poluição não está associada somente ao crescimento econômico. Diversas localidades degradadas do continente são produto da pobreza, da ausência de investimento em saneamento básico e da intensa utilização de lenha como combustível doméstico, por exemplo. Atualmente, entre as cidades mais poluídas no mundo, cerca de metade está no continente asiático.

A Rússia e a CEI

Rússia: potência geopolítica

A Federação Russa, nome oficial da Rússia, é formada por 21 repúblicas, uma região autônoma, 49 regiões administrativas, seis províncias, dez distritos autônomos e duas cidades com status administrativo especial — Moscou e São Petersburgo. A Rússia detém um dos maiores arsenais nucleares mundiais. Dispõe de uma enorme área territorial, que concentra grande quantidade de recursos minerais, inclusive energéticos, como petróleo e gás natural, detendo cerca de 6% das reservas petrolíferas mundiais e aproximadamente 30% das reservas de gás natural do mundo. A exploração e a comercialização são monopólio da Gazprom, empresa estatal russa. Seu importante peso geopolítico e histórico é reforçado pela expansão econômica, verificada a partir do início do século XXI, que tem como um dos fatores fundamentais as enormes receitas obtidas com as exportações de petróleo e gás natural. Essa expansão econômica, associada a questões demográficas do país (como a reduzida taxa de natalidade), conforme discutido na seção Para começar, é um dos fatores responsáveis pelo crescente aumento da demanda de mão de obra. Diversas potências europeias dependem do petróleo e do gás natural russos. Aproximadamente 40% do gás consumido na Europa é proveniente do território russo. Outros fornecedores de petróleo e, sobretudo, de gás natural para a Europa são o Azerbaijão, o Casaquistão, o Usbequistão e o Turcomenistão, que estão na esfera de influência política e econômica da Rússia. Os gasodutos que escoam o gás natural desses países para a Europa percorrem longos trechos em território russo.

Ucrânia e Rússia

A dependência que a Ucrânia tem em relação ao gás natural russo, além do arsenal nuclear russo, é utilizada como “arma geopolítica”, ou seja, o governo da Rússia pressiona o governo ucraniano a não ingressar na Otan e não pleitear o ingresso na União Europeia. A Rússia tem estimulado o separatismo em regiões do leste e do sul da Ucrânia, inclusive como forma de desestabilizar o governo ucraniano pró-ocidental. Além disso, em março de 2014, anexou a Crimeia, uma península que pertencia à Ucrânia (figura 43). Num referendo, a população da região apoiou a decisão. Países como os Estados Unidos não concordam com essa anexação. Os problemas da transição e a integração da Rússia A transição da economia planejada (socialista) para a economia de mercado (capitalista) proporcionou uma série de mudanças na Rússia, como a gradual liberação de preços de mercadorias e serviços, a privatização das empresas estatais e a abertura para o capital estrangeiro, fundamentais para a reconstrução da economia dos novos Estados nos padrões do sistema capitalista. O crescimento econômico, nos anos de intensas transformações nas estruturas políticas, sociais e econômicas do país, rumo ao capitalismo, foi muito baixo — entre 1992 e 2002, a média anual de crescimento do PIB foi negativa (–0,9%). Tal situação, associada à concentração de riquezas nas mãos de poucas pessoas, contribuiu para piorar as condições de vida da maior parte da população .

O processo de privatização foi muito atraente para o capital estrangeiro, pois o preço das ações das antigas empresas estatais estava bem abaixo do valor real. No entanto, esses investimentos limitaram-se a setores considerados rentáveis, como os de petróleo e gás, eletrônicos, telecomunicações, lazer e hotelaria, equipamentos de transportes e alguns outros, não se difundindo pela economia como um todo. A maioria das empresas não tinha competitividade para funcionar em uma economia de mercado. No setor agropecuário, em 1992, a Rússia iniciou a instauração da propriedade privada para extinguir as fazendas coletivas. Em junho de 2002, foi aprovado um projeto de lei que criou um sistema de comercialização de terras, acabando com a proibição que vigorava desde a Revolução de 1917. Essa comercialização, no entanto, ficou restrita apenas aos russos, vetada aos estrangeiros. A transição para o capitalismo transformou a Rússia em uma nova fronteira para a expansão do capital financeiro e em um mercado emergente, com toda a dependência de capitais externos provocada por essa situação. O país é bastante dependente das exportações de alguns metais, de madeira e, sobretudo, de petróleo (figura 45) e de gás natural. Cerca de 80% das exportações russas referem-se a esses quatro itens. Dessa forma, como os preços do petróleo e do gás natural subiram significativamente em boa parte dos anos da primeira década do século XXI, a economia russa apresentou expressiva recuperação. Alguns analistas alertam sobre o perigo em ter uma economia muito dependente em relação ao petróleo, ao gás natural e a outros recursos minerais, considerando o risco da oscilação de seus preços (que caíram no decorrer de 2014, em razão da expansão da produção do óleo de xisto nos Estados Unidos) e o esgotamento futuro das reservas. Além disso, destacam a necessidade de modernização do parque industrial e de investimentos em tecnologias de ponta, não apenas em armamentos de indústrias aeroespaciais, mas também nos setores de informática, telecomunicações, químico, entre outros.

A sociedade russa também passou por grande transformação com o aumento das desigualdades econômicas. Houve bastante acumulação de riqueza por uma pequena elite, composta de líderes do antigo Estado soviético e de novos empreendedores (empresários capitalistas), particularmente os que atuam nos setores petrolífero e da construção civil.

A Comunidade dos Estados Independentes (CEI)

A estrutura da CEI tem se revelado frágil, o que pode ser comprovado pela análise de seus problemas econômicos e sociais, dos conflitos nacionalistas e das disputas étnicas, além do receio causado pela supremacia russa. A questão dos nacionalismos (disputas étnicas) tem causado violentos combates no interior das ex-repúblicas. A migração forçada promovida por Stalin nas décadas de 1930 e 1940, que levou as repúblicas a receber pessoas de diversas nacionalidades, especialmente russos, é em parte a causa desses problemas étnicos. Conforme você viu na seção Para começar, as rivalidades étnicas nos países da CEI constituem um grande foco de instabilidade política e social, sobretudo na Rússia, que conta com dezenas de grupos étnicos em seu território.

Além desses fatores, há outros sérios empecilhos à concretização da cooperação entre os países:

• o baixo nível de desenvolvimento econômico e social, principalmente nos países da Ásia Central (sobretudo no Quirguistão, no Usbequistão e no Tajiquistão). Nessa região, apenas o Casaquistão se sobressai em termos econômicos, em boa parte graças à produção e à exportação de petróleo (do qual tem enormes reservase de gás natural e à existência de um parque industrial relativamente diversificado — era a região mais industrializada da Ásia Central no período soviético. O Turcomenistão também apresenta riquezas naturais, principalmente gás natural e petróleo — é a quinta maior reserva de gás do mundo. De modo geral, esses países são bastante dependentes da exportação de produtos primários. Vale ressaltar também que a situação socioeconômica do Tajiquistão é particularmente grave, pois se trata de um dos países mais pobres do mundo;

• o número reduzido de regimes democráticos de governo, particularmente na Ásia Central;

• as fortes disparidades entre o nível de desenvolvimento econômico e o volume de comércio exterior de cada um desses países. As exportações da Rússia representam mais que o dobro das de todos os outros membros e incluem grandes quantidades de bens industrializados, enquanto na maior parte dos outros países as exportações restringem-se praticamente a matérias-primas agrícolas ou minerais;

• a preocupação da Rússia em conter o avanço do fundamentalismo islâmico na região da Ásia Central — onde a religião muçulmana é a mais praticada — e a aproximação político-militar e econômica dos países dessa região em relação a Estados-nação muçulmanos vizinhos, onde os grupos fundamentalistas têm forte presença, como no Irã, no Paquistão e no Afeganistão.

A grande extensão territorial da Rússia

O espaço geográfico ocupado pela Rússia é de aproximadamente 17 milhões de km2 , que corresponde a mais de 10% das terras emersas do planeta. É o país mais extenso do mundo, cortado por 11 fusos horários. A maior parte desse imenso território localiza-se ao norte do paralelo de 45º N, o que lhe proporciona um clima bastante rigoroso, com médias térmicas sempre abaixo de 0 ºC no inverno. Cerca de um terço do espaço geográfico da Rússia faz parte do continente europeu; o restante estende-se pela Ásia. A linha divisória entre os dois continentes é representada pelos Montes Urais, que contêm importantes jazidas minerais, principalmente de petróleo. Há 21 repúblicas autônomas, com governo próprio, indicado pelo poder central russo, onde convivem a língua russa (oficial) e os idiomas locais.

Do norte ao sul da Rússia é encontrada uma variedade de coberturas vegetais. Na região ártica, no extremo norte, no verão floresce a Tundra, cobertura vegetal descontínua e rasteira, representada por algumas gramíneas e liquens. Ainda na região ártica, a Tundra vai sendo gradualmente substituída por árvores de grande porte, que constituem a Taiga, cuja espécie principal é o pinheiro. A floresta de Taiga cobre a maior parte da Sibéria e grande extensão da parte europeia ocupada pela Rússia. Muitos de seus trechos são intensamente explorados pela indústria madeireira. Essa porção norte do território russo apresenta temperaturas médias extremamente baixas no inverno, e baixa densidade demográfica (veja o mapa da figura 52, na página 150). A população que vive nessa porção tem seu modo de viver completamente adaptado às rigorosas condições climáticas.

As florestas que cobrem grande parte da Rússia também são utilizadas como fonte de energia (lenha), principalmente no período do inverno, nos locais onde há dificuldade para o abastecimento de gás. Na faixa onde o clima se apresenta um pouco mais quente — na Rússia europeia, ao sul do paralelo de 53º N —, surgem as Pradarias, caracterizadas por vegetação rasteira. Nelas é encontrado o solo tchernoziom. Na porção oeste do território, entre a Taiga e as Pradarias, localiza-se a floresta Temperada, que já foi bastante devastada. Entre o mar de Barents e o mar Cáspio, a oeste dos Montes Urais, encontra-se a planície Russa e, a leste dos Urais, estende-se a da Sibéria. Ambas são imensas planícies cortadas por importantes rios. A leste da planície da Sibéria, localiza-se o planalto central Siberiano, e ao sul desse planalto, o lago Baikal. No extremo leste desse país, distribuem-se diversas cadeias montanhosas, como: montes Verkoiansk, cadeia Cherski, montes Kolima e montes Koryak.

A população russa e as questões étnicas

A Federação Russa é uma colcha de retalhos herdada do império czarista e da antiga União Soviética. Em seu território convivem cerca de 80 grupos étnicos distintos, dos quais o russo é o mais numeroso, que corresponde a 82% da população. Há 3,8% de tártaros, 3% de ucranianos, 0,8% de bielo-russos, 0,6% de alemães e outros grupos em menor número. A grande diversidade étnica e os desejos de independência de algumas repúblicas, sobretudo no norte do Cáucaso (entre o mar Negro e o mar Cáspio), têm provocado conflitos internos na Federação Russa. A região do Cáucaso, atravessada por diversos oleodutos, é rica em petróleo e, portanto, tem importância estratégica para o poder central em Moscou. Em meados da década de 1990, guerrilheiros separatistas da República da Chechênia — que faz parte dessa região — travaram uma guerra contra o exército russo para obter a independência. Eles acabaram conquistando autonomia para a Chechênia, sem, no entanto, atingir seus objetivos separatistas.

O governo russo tem reprimido com violência as lutas por independência, recusando-se a negociar com os separatistas. Além disso, tomou parte da guerra contra o terror empreendida pelos Estados Unidos após o 11 de setembro de 2001, como visto anteriormente. Um exemplo trágico da ação de grupos separatistas ocorreu em setembro de 2004, em Beslan, na República da Ossétia do Norte, vizinha à Chechênia, quando separatistas chechenos invadiram uma escola, fizeram reféns alunos e funcionários e exigiram a libertação de presos compatriotas. O então presidente russo, Vladimir Putin, recusou qualquer negociação e ordenou a invasão da escola por tropas militares. O desfecho foi trágico: 370 pessoas mortas, das quais 160 eram crianças (figura 51). O poder central da Rússia teme que a concessão de independência a uma das repúblicas contribua para que outras requeiram o mesmo, desencadeando processos separatistas em toda a federação. Em razão disso, sobretudo a partir do fim dos anos 1990, tem havido uma interferência maior do governo central russo na vida política das repúblicas. Essa interferência é representada frequentemente por casos de irregularidades em eleições e referendos, como no plebiscito que aconteceu na Chechênia em 2003, no qual, convocada para votar pela separação ou não, a população majoritariamente (96% dos eleitores) decidiu que a república deveria permanecer unida à Federação Russa. Na visão dos estrategistas do governo, a manutenção da Rússia como potência no cenário político-militar internacional depende também da integridade de seu território atual, com repúblicas que representam recursos naturais — sobretudo petróleo — e espaços estratégicos, como a região do Cáucaso. Com relação ao número de habitantes, a Rússia apresentava, no início de 2018, uma população de aproximadamente 143,9 milhões de habitantes (menor que a do Brasil). Nesse mesmo ano, a densidade demográfica do país era de aproximadamente 8 hab./km2 .

Em 2015, o país apresentou expectativa de vida de 70 anos. Desde os anos 1980, a expectativa de vida encontrava-se em declínio, por causa da deterioração das condições de vida da maior parte da população (em 1985 era de 70 anos; em 1991, de 69 anos).

Cerca de 74% dos habitantes vivem em áreas urbanas. Várias cidades russas têm mais de 1 milhão de habitantes. A cidade mais importante — que concentra aproximadamente 20% do PIB russo — é Moscou, capital do país, com mais de 10 milhões de habitantes. Depois dela destaca-se São Petersburgo, importante centro industrial (indústrias têxteis e metalúrgicas), com uma população de quase 5 milhões de habitantes. Além delas, são importantes Nijni Novgorod (ex-Gorki) e Novosibirsk. Na Rússia, em geral, é forte a discriminação contra os homossexuais, apesar de a homossexualidade ter sido descriminalizada em 1993. Há, por exemplo, multas contra paradas e eventos que defendem direitos desse grupo. Diversos atos violentos praticados contra homossexuais não são punidos, ao contrário do que acontece em muitos países.

Principais atividades econômicas da Rússia

Os produtos agrícolas mais importantes da Rússia são: a beterraba branca, com a qual é produzido o açúcar, e o trigo, cultivado principalmente nas terras negras (solo tchernoziom) do sudoeste da parte europeia. A Rússia é também um dos primeiros produtores mundiais de cevada. Merecem destaque ainda as produções de batata e de linho, do qual se extraem excelentes fibras têxteis. Na pecuária russa, destacam-se os rebanhos de bovinos e de ovinos, criados nas regiões de índices pluviométricos mais baixos (Estepes). O país é produtor de grande volume de pescado de água doce e destaca-se também na pesca em alto-mar, onde atuam os “navios-fábricas”, nos quais o pescado passa por um processo de industrialização.

No extrativismo mineral, sobressaem o minério de ferro, o carvão e o petróleo, além do urânio, do níquel e do diamante. A produção de carvão concentra-se em Kuzbass, na Sibéria. Cerca de três quartos da produção de petróleo são extraídos dos poços existentes na Sibéria. O restante provém da região caucasiana. Duas das maiores usinas hidrelétricas do mundo, Krasnoiarsk (no rio Ienissei) e Bratsk (no rio Angara, afluente do Ienissei), localizam-se na Rússia, o que reflete seu alto potencial energético. No setor industrial, apesar das mudanças no rumo dos investimentos, aplicados principalmente nas indústrias de bens de consumo, predominam ainda as indústrias de base.

Entre as principais áreas industriais, destacam-se:

• São Petersburgo, cujo desenvolvimento industrial foi iniciado no governo imperial, antes de 1917. Nessa cidade são importantes as indústrias metalúrgica, química, petroquímica, têxtil e alimentícia;

• Moscou, que sobressai muito mais pela disponibilidade de mão de obra, pelos recursos técnicos e pelo mercado consumidor do que por seus recursos naturais, que provêm de áreas mais distantes para serem transformados industrialmente. Outros centros industriais que merecem destaque são:

• o de Kuzbass, que se desenvolveu sobretudo a partir da Segunda Guerra Mundial;

• o siderúrgico, em estruturação ao redor do lago Baikal;

• o automobilístico, em Togliatti (cidade às margens do rio Volga, 977 km a leste de Moscou), que abriga as instalações da empresa Autovaz. Em razão de problemas de ordem natural, como litorais pouco recortados e baixos e mares com águas congeladas a maior parte do ano, a Rússia não dispõe de grandes portos marítimos. Entre os portos de maior expressão, podemos citar o de Vladivostok, no mar do Japão, e o de São Petersburgo, no mar Báltico.

Europa: realidade socioeconômica

O elevado nível de desenvolvimento da Europa ocidental

O continente europeu, berço da Revolução Industrial, é formado por alguns dos países mais desenvolvidos do mundo. Segundo o relatório de 2017 do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), que mede a qualidade de vida dos países do mundo, entre os 20 de mais alto IDH (desenvolvimento humano muito alto), 13 eram europeus, destacando-se Noruega (1o ), Suíça (2o ), Irlanda (4o ), Alemanha (5o ), Islândia (6o ), Suécia (7o ), Países Baixos (10o ) e Dinamarca (11o ). O Brasil ocupava o 79o lugar e estava entre os países considerados de alto desenvolvimento humano. Nos países de elevado nível de desenvolvimento da Europa ocidental estão localizadas várias empresas transnacionais, como a British Petroleum e a British American Tobacco, sediadas no Reino Unido; a Volkswagen, a Bayer e a Basf, com sedes na Alemanha; a Fiat, sediada na Itália; a Peugeot-Citröen, a Danone e a Renault, com sedes na França; a Shell e a Unilever (empresas transnacionais de capital inglês e holandês); a Philips, com sede nos Países Baixos (Holanda); a Ericsson, sediada na Suécia; a Nestlé, sediada na Suíça; entre outras. Os grandes grupos industriais europeus e mundiais fazem investimentos elevados em pesquisa e tecnologia, criando e desenvolvendo mercadorias, e modernizando e automatizando suas fábricas para alcançar um menor custo de produção e melhorar sua competitividade global. Os parques industriais da maioria dos países da Europa ocidental são bastante diversificados, com destaque para os ramos de produtos eletroeletrônicos, químicos, farmacêuticos, de telecomunicações, aviões, construção naval (figura 25), energia nuclear, siderurgia e automobilístico. O setor terciário desses países também é bastante diversificado, formado por grandes grupos de empresas transnacionais que atuam nas áreas comercial, como redes de hipermercados (o francês Carrefour); financeira, como bancos (o espanhol Santander, os britânicos Lloyd’s Bank e HSBC, o holandês ABN Amro Bank); de telefonia (a espanhola Telefonica, a italiana Tim).

Divisão do espaço europeu

Em nosso estudo do espaço europeu, adotamos a divisão do continente em Europa ocidental e Europa oriental, considerando o critério socioeconômico. A Europa ocidental engloba os países de elevado nível de desenvolvimento e economia diversificada: Reino Unido, Alemanha, Itália, França, Países Baixos, Bélgica, Luxemburgo, Suécia, Suíça, Dinamarca, Espanha, Finlândia, Irlanda, Áustria, Noruega, Islândia, Grécia e Portugal. A Europa oriental compreende os países que já foram considerados “economias em transição”, que deixaram o socialismo no final do século XX e que apreentam diversidade em termos de nível de desenvolvimento socioeconômico, mas, comparativamente aos países da Europa ocidental, têm indicadores sociais geralmente inferiores. São eles: Polônia, Hungria, República Tcheca, Eslováquia, Rússia, Romênia, Sérvia, Montenegro, Macedônia, Bulgária, Albânia, Estônia, Letônia, Lituânia, Croácia, Ucrânia, Moldávia, Belarus, Bósnia-Herzegovina, Eslovênia, Geórgia, Armênia e Azerbaijão. Entre os países da Europa oriental, há ainda alguns que se enquadram no grupo dos emergentes, como Rússia e Polônia. Como você constatou, para alguns países da Europa ocidental, como França, Itália e Espanha, a atividade turística é uma importante fonte de divisas. Alemanha e Reino Unido também ganham destaque como destinos turísticos no continente e no mundo. O mercado internacional da moda também movimenta um grande volume de capitais, sendo França e Itália os principais exportadores de produtos de alta-costura, além de abrigarem empresas que detêm patentes de importantes grifes. Esses países são os grandes centros europeus de eventos de divulgação do mundo da moda. Merecem destaque ainda os grandes centros universitários, sobretudo no Reino Unido, na França, na Itália, na Alemanha e na Espanha, que atraem pesquisadores e estudantes do mundo inteiro.

A União Europeia (UE)

A União Europeia, que constitui o maior projeto de integração entre países já realizado. A primeira experiência de integração comercial entre países já havia sido elaborada um pouco antes do fim da Segunda Guerra Mundial. Bélgica, Países Baixos e Luxemburgo formaram, em 1944, o Benelux, que previa a criação de uma zona de livre-comércio entre seus membros. Entrou em funcionamento em 1948 e, dez anos depois, completaria o processo de unificação econômica. A experiência vem sendo seguida por vários grupos de países e é um dos elementos que caracterizam a ordem mundial nos dias atuais. Em 1952, foi criada a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (Ceca), reunindo os países do Benelux, a Alemanha, a França e a Itália. Estabelecia um mercado comum para produtos e matérias-primas ligados à indústria siderúrgica, como carvão, ferro e aço. Em 1957, os membros dessa comunidade criaram, pelo Tratado de Roma, a Comunidade Econômica Europeia (CEE), também chamada de Mercado Comum Europeu (MCE). Mais tarde, no decorrer dos anos 1970 e 1980, uma série de países foi incorporada à CEE. Os objetivos da CEE apontavam para a formação de um bloco que pudesse assegurar aos seus integrantes a livre circulação de mercadorias, pessoas, capitais e serviços, configurando-se, assim, um mercado comum pleno. A realização desses objetivos só seria conquistada com a unificação europeia em 1993, quando as fronteiras nacionais deixaram de ser um obstáculo à expansão capitalista e ao aumento das vendas e dos lucros das grandes empresas transnacionais. No início da década de 1990, os países da CEE resolveram ampliar a abrangência desse organismo, por causa da delineação de uma nova etapa das relações internacionais, marcada pela queda do Muro de Berlim, pelo fim da União Soviética, pela unificação alemã e pelo aumento da concorrência no âmbito comercial. Reunidos em dezembro de 1991, na cidade de Maastricht, nos Países Baixos, os dirigentes dos países da CEE decidiram eliminar, num curto espaço de tempo, todas as barreiras que impediam uma definitiva integração socioeconômica, implantando o mercado único. Uma das principais decisões foi definir o uso de uma nova e única moeda na Europa unificada, com a criação de um Banco Central Europeu.

O Tratado de Maastricht, que entrou em vigor em 1o de janeiro de 1993, substituiu o Tratado de Roma e transformou a CEE em UE (União Europeia), cujo projeto de integração foi além dos limites de um mercado único ou comum, pois passou a ter como objetivo a união econômica e monetária, além do estabelecimento de uma política externa comum, ampliando a capacidade de competição de suas mercadorias e empresas em nível global. Dessa forma, um passo importante foi dado em 1o de janeiro de 2002, com a união monetária, quando o euro entrou em circulação em doze países da União Europeia: Alemanha, Áustria, Bélgica, Espanha, Finlândia, França, Grécia, Irlanda, Itália, Luxemburgo, Países Baixos e Portugal. No entanto, em junho de 2016, após consulta popular, os demais integrantes do bloco na época – Reino Unido, Dinamarca e Suécia – optaram por não adotar essa moeda única. Apesar disso, nesses países (exceto no Reino Unido), o euro serve de referência em negócios privados e pode ser utilizado em outras relações comerciais, como na abertura de contas bancárias. A adoção do euro representou a criação de uma moeda forte, que facilita o comércio e os investimentos dentro do próprio continente. Os negócios antes feitos em dólar passaram a ser realizados em euro, contribuindo para reduzir a supremacia da moeda estadunidense. No entanto, a crise econômica deflagrada em 2008 e intensificada em 2011 demonstrou como a existência de uma moeda única pode gerar entraves para a solução de problemas financeiros em alguns países. Isso porque as decisões tomadas por um país afetam os demais integrantes da união monetária. Por exemplo, se a Grécia declarasse que não tinha condições de pagar toda a dívida pública que se formou, a suspensão do pagamento implicaria problemas para o euro. As soluções encontradas pelos líderes políticos da União Europeia passavam por cortes significativos dos gastos do governo, a fim de liberar recursos para pagar as dívidas, em boa parte, com bancos privados. Isso estava determinando aumento do desemprego e corte nos benefícios sociais, ocasionando, por sua vez, aumento da pobreza.

É preciso ressaltar que uma das causas da crise está diretamente relacionada à enorme expansão da especulação financeira em nível global neste início de século, com uma escalada de empréstimos e com a comercialização de títulos sem garantias, o que ocasionou a falência de bancos e empresas. Muitos desses bancos e empresas foram socorridos, com ajudas financeiras, por governos dos países desenvolvidos. Isso provocou uma ampliação expressiva das dívidas públicas em muitos países. Conforme entendimentos iniciados nos anos 1990, a União Europeia, principal compradora das mercadorias brasileiras, e o Mercosul estão buscando um caminho para se integrarem, por meio da criação de uma zona de livre-comércio.

Expressiva ampliação do bloco

Em 1o de maio de 2004, a entrada de dez novos países na União Europeia, sendo oito oriundos do antigo bloco socialista, colocou fim à tradicional divisão do continente em ocidental e oriental. Chipre e Malta também foram admitidos na organização nessa data. Romênia e Bulgária ingressaram em 2007 e a Croácia, em 2013, quando a UE passou a ser formada por 28 países. Em 2007, a Eslovênia tornou-se o 13o país a adotar o euro. Posteriormente, outros países entraram para a zona do euro: Malta (14o ), Chipre (15o ), Eslováquia (16o ), Estônia (17o ), Letônia (18o ) e, em 2015, a Lituânia. Veja a figura 29. Os novos países-membros apresentam um nível de desenvolvimento inferior ao dos demais, infraestrutura defasada e atraso tecnológico. Comparativamente, sua contribuição ao bloco é menor do que os investimentos que devem receber. Assim, equilibrar interesses e possibilidades dos antigos e dos novos membros é um desafio para a União Europeia. Esses países, no entanto, recebem menos benefícios do que os oferecidos aos que entraram anteriormente, como subsídios agrícolas e ajuda econômica ao desenvolvimento.

Os países da Europa oriental

Os países da Europa oriental apresentam um nível de desenvolvimento socioeconômico diferente dos países da Europa ocidental. Esse conjunto é ainda marcado por uma diversidade socioeconômica e espacial que remonta ao período da Guerra Fria, quando fazia parte da zona de influência do bloco soviético. Nessa região, após a Segunda Guerra Mundial, a atividade da indústria desenvolveu-se com base no planejamento estatal, destacando-se a República Tcheca, na indústria metalúrgica, e a Polônia, na construção naval e na metalurgia. Com o surgimento do modelo industrial baseado nas novas tecnologias, o parque industrial dos antigos países socialistas ficou em grande defasagem tecnológica. A transição para a economia capitalista, a partir do início dos anos 1990, promoveu uma reestruturação industrial com a abertura dos mercados, os cortes de subsídios às empresas estatais e a liberalização dos preços, o que acarretou um surto inflacionário. Muitas dessas empresas faliram, e os países sofreram queda de produção e dos níveis de emprego. Nos últimos anos, os países de maior tradição industrial, como a República Tcheca, a Polônia e a Hungria, iniciaram uma recuperação econômica, marcada pelo aumento dos investimentos estrangeiros e pela instalação de várias empresas transnacionais. Esses três países apresentaram maior nível de industrialização e uma economia mais diversificada e, em 2017, contavam com indicadores sociais próximos aos dos países da Europa ocidental – República Tcheca, IDH 0,888 (27a posição); Hungria, IDH 0,838 (45a posição); Polônia, IDH 0,865 (33a posição). A Eslovênia (IDH 0,896 – 25a posição), a Eslováquia (IDH 0,855 – 38a posição) e a Croácia (IDH 0,831 – 46a posição), apesar de não apresentarem os mesmos níveis de industrialização e de diversificação econômica dos outros três países, contam com bons indicadores sociais.

Todos esses países enquadram-se na classificação de “desenvolvimento humano muito alto”, com IDH superior a 0,800, assim como Estônia (IDH 0,871 – 30a posição), Lituânia (IDH 0,858 – 35a posição) e Letônia (IDH 0,847 – 41a posição), que faziam parte da extinta União Soviética e são denominados países bálticos. Os demais países da Europa oriental, como Bulgária, Romênia, Bósnia-Herzegovina, Albânia e Macedônia, apresentam níveis de industrialização e de diversificação econômica inferiores aos da Polônia, da República Tcheca e da Hungria. Com o avanço do capitalismo, os países da Europa oriental, de modo geral, tornaram-se área de influência da União Europeia, principalmente por meio das relações comerciais e dos investimentos que a Alemanha passou a fazer na região.

Atividades agropecuária e extrativa na Europa

Uma importante característica da agropecuária do espaço europeu são os subsídios (figura 31) concedidos pelos governos aos agricultores, como empréstimos a juros baixos e pagamento a longo prazo, principalmente nos países que fazem parte da União Europeia. A criação, em 1962, da Política Agrícola Comum (PAC) foi uma forma de os governos europeus protegerem seus agricultores da concorrência externa, visando à manutenção da renda e do emprego nas áreas agrícolas e à estabilidade nos preços dos alimentos. Esse apoio dado à agropecuária levou a Europa a tornar-se praticamente autossuficiente nos principais produtos alimentares, mas não resolveu problemas como as disparidades entre regiões e países europeus. Essa política agrícola também é alvo de críticas internacionais, principalmente de instituições como a Organização Mundial do Comércio, dos Estados Unidos e de diversos países emergentes, entre eles o Brasil, que exercem forte pressão para que se reduza o protecionismo agrícola, pois ele bloqueia a entrada de produtos estrangeiros no mercado europeu.

A produção agrícola

A Europa apresenta importante e diversificada produção agrícola, com grande aproveitamento de seus solos, geralmente férteis, com técnicas adequadas e modernas, que proporcionam elevada produtividade. A cultura de cereais é predominante, destacando-se o trigo, produto mais importante. Sua principal área produtora é a região de solos negros da Ucrânia (tchernoziom). Os outros países que se destacam na produção de trigo são Itália, França, Alemanha e Rússia. Outros cereais cultivados são centeio, aveia e cevada — produtos agrícolas das áreas temperadas. A batata é outro importante produto da agricultura europeia. Seus principais produtores são: Alemanha, França, Países Baixos, Polônia, Reino Unido e Rússia.

Nas regiões europeias de clima Mediterrâneo, destaca-se o cultivo da oliveira, destinada à produção de azeitonas e de azeite. Portugal, Espanha, França e Itália são seus maiores produtores mundiais, cujos produtos são reconhecidos como os de melhor qualidade internacional. O cultivo da videira, destinada à produção de vinhos, também se destaca. Alguns tipos de vinho e de azeite só podem ser produzidos nesses países, em virtude das condições especiais do solo e do clima. Em razão desses aspectos geográficos, os países da Europa mediterrânea dispõem de condições especiais de mercado, uma vez que outras nações não conseguem produzir mercadorias com características similares. Nos países europeus, em particular nos da Europa ocidental, vem crescendo a prática da agricultura orgânica, que utiliza, por exemplo, métodos naturais para a correção do solo e o controle de pragas.

Atividade extrativa Na atividade extrativa, os produtos mais importantes do continente europeu são petróleo, carvão, ferro e manganês. O petróleo é explorado no continente e no oceano. Além da Rússia (parte europeia) e do Azerbaijão, outra região rica em petróleo é o mar do Norte, onde a exploração é controlada pelo Reino Unido e pela Noruega. No entanto, em razão do elevado consumo, a maior parte dos países europeus também importa o produto. Os países da Europa dependem muito do gás natural retirado dos países da Ásia central (Usbequistão e Casaquistão), que mantêm fortes relações políticas e econômicas com a Rússia, uma vez que esse gás chega ao continente europeu através de gasodutos que passam por território russo. O carvão é extraído em maior quantidade na Ucrânia, no Reino Unido, na Alemanha e na Polônia. A descoberta de sua utilidade como fonte energética e como componente para a produção de aço permitiu, no século XVIII, o desenvolvimento da atividade industrial. O ferro é explorado principalmente na parte europeia da Rússia (grande produtor mundial), na França e na Suécia. O manganês tem como principais produtores a Rússia e a Ucrânia, além da Romênia e da Hungria. Na Estônia há importantes reservas de xisto betuminoso, bastante aproveitado para a geração de energia depois de ser transformado em óleo de xisto. Em virtude do elevado grau de industrialização e das características geológicas do território, os países europeus são dependentes de uma série de minerais essenciais à atividade industrial. A maior parte importa minerais metálicos (ferro, manganês, bauxita e estanho), necessários às atividades metalúrgicas e siderúrgicas e, consequentemente, à produção de uma série de mercadorias de bens de consumo duráveis, de máquinas e de equipamentos industriais.

Transportes

A Europa é o continente que conta com a melhor rede de transportes do mundo. O transporte hidroviário é altamente utilizado, movimentando grande quantidade de cargas anualmente. Os portos fluviais europeus estão entre os mais importantes do mundo. Quanto aos portos marítimos, o mais importante é o de Roterdã, que se destaca mundialmente. Outros de intenso movimento são o de Londres, na Inglaterra; o de Antuérpia, na Bélgica; o de São Petersburgo, na Rússia; e o de Hamburgo, na Alemanha. As rodovias europeias, como as dos Estados Unidos, são consideradas as mais modernas do mundo, com destaque para as autoestradas, que contam com diversos viadutos e túneis.

Os países mais industrializados Entre os países europeus de elevado nível de desenvolvimento e economia diversificada, destacamos grandes exportadores de produtos industrializados, especialmente de bens de alta tecnologia, como Reino Unido, Alemanha, Itália, França, Países Baixos, Bélgica, Luxemburgo, Suécia, Suíça, Dinamarca, Espanha e Finlândia. O setor das tecnologias ambientais merece destaque, crescendo cerca de 8% ao ano na última década. Portugal e Grécia, países também desenvolvidos, não têm a mesma expressividade em termos de produção e diversificação da atividade industrial do que os listados no parágrafo anterior. Reino Unido: onde a atividade industrial teve início O Reino Unido é o mais antigo país industrializado do mundo. Com a Revolução Industrial, passou por transformações que o elevaram à condição de mais importante potência mundial no século XIX, detentora de vasto império colonial. No entanto, principalmente a partir do início do século XX, a economia britânica passou a enfrentar a concorrência de outros países que se industrializaram, como Estados Unidos, Alemanha, França, Itália e Japão. Desde os anos 1980/1990, para tentar se manter entre as principais potências do mundo, o Reino Unido vem procurando modernizar seu parque industrial. Para isso, tem se associado a outros países, buscando novos ramos industriais, principalmente de tecnologia de ponta, a fim de criar condições de competir com grandes potências, como Estados Unidos, Japão e Alemanha. Londres, capital da Inglaterra e do Reino Unido, é considerada a cidade mais importante da Europa e a terceira do mundo, superada apenas por Nova York e Tóquio — sedes de grandes empresas multinacionais e de grandes instituições financeiras.

Essa cidade reúne à sua volta o mais importante parque industrial do Reino Unido, como também o principal centro comercial, financeiro e portuário do território. O país vem se especializando em atividades ligadas ao setor terciário, em particular aos setores financeiro, de turismo e de entretenimento, com destaque para a música pop (um dos principais itens da pauta de exportações britânicas), o cinema e os jogos de computador.

Alemanha: a grande potência econômica da Europa

A Alemanha apresenta a maior economia da Europa, mas os gastos consideráveis (1 trilhão de dólares no decorrer dos anos 1990) com a unificação elevaram o déficit público e as taxas de juros. No entanto, no início do século XXI, a porção oriental da Alemanha já dava sinais de que começava a sair da crise, com um grupo de empresas “sobreviventes” bastante competitivas e uma população com formação cultural sólida. Aos poucos, o país se fortaleceu com a unificação, aumentando sua influência sobre os países do Leste Europeu, que se tornaram mercados importantes para os produtos alemães. A Alemanha abriga hoje um dos maiores complexos industriais do mundo. É na região do Ruhr e do Reno, também chamada de região renana, em que estão situados importantes centros industriais, como Dortmund, Essen, Düsseldorf e Duisburg. A região do vale do Ruhr vem passando por importantes transformações espaciais. Muitos prédios industriais foram reestruturados com a alteração de sua função e de seus usos: abrigam, agora, locais para lazer e atividades culturais, o que contribuiu para a ampliação da atividade turística na região.

Atualmente, grandes grupos alemães se associaram a outras empresas e a grandes grupos estrangeiros. Como exemplos, citamos a aquisição de 23% da fábrica de veículos Skoda, da República Tcheca, pela Volkswagen, e a aquisição, em 1998, da estadunidense Chrysler pela Daimler-Benz, que se tornou uma das maiores montadoras da Europa.

Entre os recursos naturais que serviram de base para o desenvolvimento industrial alemão, destacam-se as jazidas de carvão mineral (regiões do Ruhr e do Sarre) e de gás natural (regiões de Munique e Hannover). A Alemanha é uma das maiores potências comerciais do globo. O valor de suas exportações supera o das importações, e a maior parte do comércio é feita com os demais países da União Europeia. São excelentes ainda as hidrovias, interligadas por inúmeros canais. Entre elas destaca-se a do rio Reno, onde se localiza o porto fluvial de Duisburg, o mais movimentado do mundo.

A principal concentração industrial do país encontra-se no vale do rio Pó, região que apresenta grande diversidade de atividades industriais e abriga os setores mais dinâmicos, como o automobilístico, de máquinas, de equipamentos industriais e o siderúrgico. Na região do porto de Nápoles, centro industrial do sul, desenvolvem-se a indústria têxtil e a de construção naval.

França

Um dos países pioneiros na atividade industrial, a França é uma das mais importantes nações da Europa ocidental e está entre as maiores economias mundiais. Para atender às suas necessidades e competir com os demais países do continente e do mundo, a França tem passado por grandes modificações no setor industrial. Desde a década de 1960, vem sendo adotada uma política de descentralização econômica no território francês, visando diminuir a elevada concentração do poder econômico de Paris. Além disso, o país tem intensificado a produção de energia hidrelétrica, obtida principalmente dos rios que descem das áreas mais elevadas dos Alpes, bem como de energia nuclear, solar e da força das marés. A França obtém mais de 50% de sua energia elétrica de centrais ou usinas termonucleares. Somados a isso, há maciços investimentos em tecnologia de ponta. Entre os setores industriais mais importantes do país, destacam-se:

• o automobilístico, concentrado na região de Paris;

• o siderúrgico, cujo principal centro é a região de Lorena — onde se encontra a cidade de Metz —, em razão da presença de minério de ferro;

• o têxtil, localizado na parte norte do país, em Lille, importante produtora de fibras sintéticas.

No setor têxtil também merece destaque a cidade de Lyon, que durante muitos anos foi a capital mundial das indústrias de seda natural. Apesar de sua decadência, em virtude da introdução das fibras sintéticas, como o náilon e o raiom, ainda é uma notável área industrial. Em Lyon desenvolvem-se também outras atividades, como as indústrias química, metalúrgica e eletrônica. O setor ferroviário dispõe de cerca de 30 mil quilômetros de ferrovias. Um dos trens mais velozes do mundo é o TGV francês, que atinge uma velocidade de cerca de 300 km/h e cujas linhas estão se estendendo para todas as direções do país.

Outros países fortemente industrializados da Europa

Países Baixos Atualmente, o porto mais movimentado do mundo é o de Roterdã, nos Países Baixos, considerado, por seu volume de tráfego, a porta de entrada e saída comercial do continente europeu. Os Países Baixos têm grandes grupos de empresas multinacionais, como:

• a Royal Dutch Shell, que atua no setor petrolífero, possui capital misto (holandês e britânico) e é uma das dez maiores empresas do mundo;

• a Unilever, também de capital misto (holandês e britânico), que é uma das maiores empresas no ramo de alimentos e produtos de higiene e limpeza do mundo;

• a Philips, que atua no ramo de eletrônicos e eletrodomésticos. A agricultura holandesa é bastante mecanizada, o que lhe garante os mais altos índices de produtividade da Europa.

Bélgica

A capital da Bélgica (Bruxelas) é sede dos seguintes organismos internacionais:

• UE – União Europeia;

• Euratom – Comunidade Europeia de Energia Atômica;

• Otan – Organização do Tratado do Atlântico Norte.

Os principais setores industriais da Bélgica são o siderúrgico, o têxtil, o químico e o de lapidação de diamantes. As indústrias siderúrgicas estão localizadas na bacia carbonífera do rio Mosa. A indústria têxtil belga situa-se na região de Flandres, no noroeste do país.

Luxemburgo

Esse pequeno país em área territorial (2.586 quilômetros quadrados), independente desde 1867, está localizado entre a Alemanha, a Bélgica e a França. A siderurgia, sua principal atividade industrial, já teve maior destaque na economia do país. Desde a década de 1980, outros setores industriais vêm alcançando maior projeção, como é o caso da indústria química.

Suécia

A Suécia, país da Europa nórdica, conta com um parque industrial altamente evoluído e diversificado. Suas indústrias são conhecidas mundialmente, pois possuem filiais em vários países. Alguns exemplos são: a Volvo, fabricante de veículos; a Ericsson, um dos maiores fabricantes de centrais telefônicas e artigos elétricos do mundo; a SKF, de produtos metálicos (rolamentos); e a Saab-Scania, que fabrica automóveis, caminhões, aviões e instalações petrolíferas.

Suíça

A indústria suíça tem por base os setores químico, farmacêutico, relojoeiro, de laticínios e de aparelhos de precisão. Lá se situam as sedes de grandes empresas multinacionais, das quais a mais importante é a Nestlé, conhecida em todo o mundo. Sua capital é Berna, mas Zurique — importante centro financeiro europeu e global — é a cidade mais populosa. Genebra é sede de vários organismos internacionais, como a Organização Internacional do Trabalho (OIT), a Organização Mundial da Saúde (OMS), a Cruz Vermelha e a Organização Mundial do Comércio (OMC).

Dinamarca

Situa-se na península da Jutlândia, ao norte da Alemanha, mas também fazem parte de seu território algumas ilhas localizadas na península Escandinava. As indústrias de alimentos, maquinaria, equipamentos de escritório, produtos químicos são as mais importantes da Dinamarca. A exportação de produtos industrializados é a principal fonte de divisas do país, que possui escassos recursos minerais e de matérias-primas. A capital dinamarquesa é Copenhague, que abriga aproximadamente 20% da população do país.

Espanha

A partir de seu ingresso no Mercado Comum Europeu, atual União Europeia, com a injeção de capitais e a ajuda econômica visando à melhoria do padrão socioeconômico de sua população, em um curto espaço de tempo a Espanha teve um processo de crescimento econômico, que modernizou a agricultura e diversificou suas atividades industriais. O país está entre os 15 maiores produtores mundiais de aço. A partir de 1983, sua indústria automobilística ultrapassou a do Reino Unido, ficando entre as oito maiores do mundo. A produção energética espanhola aumentou consideravelmente, sobretudo a nuclear — a terceira maior produtora de urânio da Europa. Nos anos 1990, em decorrência dos processos de privatização e abertura econômica na América Latina, principalmente no Brasil e na Argentina, houve uma expressiva participação de capitais de empresas espanholas, que passaram a atuar nesses países. O país foi um dos mais fortemente afetados pela crise econômica de 2008 e, em 2014, o desemprego atingia praticamente 1/4 da população economicamente ativa, mas apresentou sinais de recuperação, atingindo uma taxa de desemprego de 15% no ano de 2018.

Finlândia

O território da Finlândia, país da Europa nórdica, é pontuado por lagos — cerca de 187 mil. A presença da floresta de coníferas possibilita o desenvolvimento da atividade extrativa madeireira e da fabricação de celulose e papel. O país era grande parceiro comercial da ex-URSS. Com o colapso da economia soviética, a economia finlandesa enfrentou sérias dificuldades. Desde então, os investimentos na economia passaram a priorizar os setores de tecnologia de ponta, particularmente o de telefonia celular. A finlandesa Nokia é uma das maiores empresas fabricantes de telefones celulares do mundo.




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