quinta-feira, 26 de maio de 2022

PRÉ-MODERNISMO - LITERATURA

 

O Pré-Modernismo é um movimento literário tipicamente brasileiro. Convencionou-se chamar de Pré-Modernismo o período anterior à Semana de Arte Moderna de 1922. Didaticamente, esse movimento literário tem início em 1902 com a publicação do livro Os Sertões, de Euclides da Cunha e com a publicação do livro Canaã de Graça Aranha. O Pré-Modernismo é um período de transição, pois ao mesmo tempo em que encontrávamos produções conservadoras como as poesias parnasianas e simbolistas, encontrávamos as primeiras produções de caráter mais moderno, preocupadas com a realidade brasileira da época.

O Pré-Modernismo oscilou entre:

a)  produção conservadora: com características realistas/naturalistas, na prosa e parnasiano-simbolistas, na poesia;

    b) produção inovadora: profundo interesse e preocupação em registrar, na prosa, os desequilíbrios sociais da época. Na poesia, Augusto dos Anjos usa palavras antipoéticas que insultam a sensibilidade parnasiana.

Contexto Histórico

    As primeiras décadas do século XX foram marcadas por um notável desenvolvimento técnico e científico. As inúmeras invenções e descobertas realizadas de 1900 a 1920 alteraram profundamente a face do mundo, criando novas maneiras de pensar e um novo ritmo de vida para a humanidade. Os novos tempos, guiados pela ciência, entravam definitivamente na vida quotidiana do homem.

   O início do século XX foi marcado pelo acirramento das rivalidades internacionais, que resultou na Primeira Guerra Mundial (1914-18) e no surgimento de uma nova potência: os Estados Unidos da América.

Em 1917, com a Revolução Russa, o proletariado toma o poder. Começaram, então, a delinear-se dois regimes antagônicos: o comunismo e o capitalismo.

No Brasil, o Pré-Modernismo desenvolveu-se na época de transição da República da Espada (marcada pela presença de militares no poder), para a República das Oligarquias ou República do café-com-leite, em que o Brasil foi governado ora por donos de fazenda de café de São Paulo, ora por fazendeiros de Minas, os dois estados mais ricos do país.

Críticos da Sociedade Brasileira

    Nas primeiras décadas do século XX, surgiram no Brasil alguns escritores que, diferentemente da grande maioria, tiveram uma outra atitude perante a nossa realidade sociocultural.
    Expressando uma visão mais crítica e penetrante dos problemas brasileiros, autores como Euclides da Cunha, Monteiro Lobato, Graça Aranha e Lima Barreto, em maior ou menor grau, acabaram por antecipar uma das tendências que marcaram decisivamente o Modernismo, que é justamente a criação de uma literatura que investigasse e questionasse mais profundamente o Brasil. Por essa característica, portanto, esses autores podem ser considerados pré-modernos.
    Como já vimos anteriormente, o desenvolvimento do regionalismo contribuiu para que aumentasse o interesse pela descrição da "realidade" brasileira. No entanto, ainda não existia um agudo senso crítico, pois os escritores regionalistas, de modo geral, preocuparam-se apenas em "retratar" o interior do Brasil no que ele apresentava de pitoresco e curioso, sem intenções de analisá-lo profundamente.
    Portanto, podemos dizer que a diferença principal entre esses autores e os considerados pré-modernos está em que estes últimos expressaram em suas obras a consciência de alguns dos problemas que afetavam a realidade nacional, fazendo a denúncia de certos desequilíbrios socioculturais importantes, tais como: a dramática situação do sertanejo nordestino; o contrastante nível de vida das diversas camadas da população brasileira; a decadência e pobreza de muitas regiões isoladas do interior etc.
    Veja as principais características do Pré-Modernismo brasileiro:

*  Ruptura com o passado

*  Denúncia da realidade

*  Regionalismo

*  Tipos humanos marginalizados

Ruptura com o passado = As novas produções rompem com o academismo e com os modelos preestabelecidos pelas antigas estéticas.

Denúncia da realidade = A realidade não oficial passa a ser a temática do período.

Regionalismo = São retratados o sertão nordestino, o interior paulista, os subúrbios cariocas, entre outras regiões brasileiras.

Tipos humanos marginalizados = Nas obras desse período, encontram-se retratadas muitas figuras marginalizadas pela elite, como o sertanejo nordestino, o caipira, o mulato, entre outros tipos.

Veja os principais autores do Pré-Modernismo brasileiro:

      Euclides da Cunha

      Lima Barreto

      Monteiro Lobato

      Graça Aranha

      Augusto dos Anjos *

Euclides da Cunha = retratou a miséria do subdesenvolvido nordeste do país.

Lima Barreto = retratou a vida carioca urbana e suburbana do início do século XX.

Monteiro Lobato = retratou a miséria dos moradores do interior do sudeste e a decadência da economia cafeeira.

Graça Aranha = retratou a imigração alemã no Espírito Santo.

Augusto dos Anjos  = apresenta uma classificação problemática, não podendo ser apenas estudado como um autor pré-modernista. Sua obra apresenta elementos de várias estéticas. Mas para fins didáticos costuma-se estudá-lo como pré-modernista.

 


     
Euclides da Cunha era engenheiro, mas se destacou no cenário brasileiro do começo do século XX como escritor.
     Euclides da Cunha também era jornalista e foi mandado a Canudos, na Bahia como correspondente do jornal “O Estado de São Paulo”, com a tarefa de registrar as operações do exército na revolta baiana. 
    Essa imagem retrata a grande quantidade de prisioneiros refugiados. A Guerra de Canudos será o tema principal de seu livro mais famoso: Os Sertões.
    O Livro Os Sertões é um livro que se localiza entre a sociologia e a literatura, tamanha a riqueza de detalhes e a preocupação em retratar a realidade da maneira em que ela se apresentava.

Os Sertões é uma das primeiras obras a romper com a visão romântica do Brasil enquanto terra paradisíaca. Nesse livro, Euclides da Cunha construiu uma espécie de narrativa negativa de um povo massacrado pela miséria e pela injustiça social. Segundo o autor, a realidade da guerra era muito diferente da que o governo dizia. Aparentemente o motivo desencadeador da revolta foi o fanatismo religioso e o cangaço, mas na realidade os profundos motivos foram o sistema latifundiário, a servidão e o abandono social da região.

O livro está dividido em três partes: na primeira, Euclides descreve a terra, o cenário em que se desenvolverá o enredo; no segundo, o autor faz uma descrição do homem, explicando a origem dos jagunços e cangaceiros. Destaca-se nesse momento a descrição do líder do movimento, Antônio Conselheiro. Na terceira parte, encontra-se a grande talvez a maior riqueza do livro, nela Euclides da Cunha apresenta o conflito em si. Somente depois de várias expedições é que os revoltados são vencidos. Dos mais de 20 mil brasileiros em Canudos, restaram apenas 4: um velho, dois homens feitos e uma criança na frente de um exército de 5 mil homens.

Veja a imagem de outro importante autor pré-modernista:

 


Lima Barreto teve uma vida muito atribulada, principalmente por ser pobre e negro, numa época marcada por várias formas de preconceito. Ao contrário de Machado de Assis, que alcançou a notoriedade ainda em vida, Lima Barreto sofreu muito com o preconceito racial, com o alcoolismo e com as frequentes crises depressivas.

Lima Barreto, sentindo as dores do preconceito e da pobreza, mostrou grande identificação com as pessoas marginalizadas da sociedade da época, com as quais sempre conviveu. Sua obra é uma literatura sobre o povo e para o povo, seus textos apresentam uma linguagem simples e direta, assemelhando-se à linguagem jornalística, panfletária. O que lhe causou muitas críticas.

Lima Barreto soube como nenhum outro pré-modernista retratar com muito realismo a vida dos subúrbios cariocas e as desigualdades sociais do Rio de janeiro do início do século XX, uma época de grande desenvolvimento e transformações.

Entre seus livros mais conhecidos está Triste Fim de Policarpo Quaresma. Nesse romance narrado em terceira pessoa, através de uma forte carga humorística, Lima Barreto conta a história do Major Policarpo Quaresma. O livro é uma caricatura da vida política brasileira no período posterior à proclamação da República.

Policarpo Quaresma é um fanático, uma espécie de Dom Quixote brasileiro. Possuidor de um nacionalismo extremo, Quaresma tenta evitar a todo custo a influência da cultura europeia na cultura brasileira.

Entre suas várias tentativas de preservar a cultura nacional o major chega a escrever uma carta ao Congresso Nacional. Veja com que objetivo:

“Policarpo Quaresma, cidadão brasileiro, funcionário público, certo de que a língua portuguesa é emprestada ao Brasil; certo também de que, por este fato, o falar e o escrever em geral, sobretudo no campo das letras, se veem na humilhante contingência de sofrer continuamente censuras ásperas dos proprietários do língua; sabendo, além, que, dentro de nosso país, os escritores, com especialidade os gramáticos, não se entendem no tocante à correção gramatical, vendo-se, diariamente, surgir azedas polêmicas entre os mais profundos estudiosos do nosso idioma, usando o direito que lhe confere a Constituição, vem pedir que o Congresso Nacional decrete o tupiguarani como língua oficial e nacional do povo brasileiro”.

Depois de muita confusão Quaresma é internado como louco. Ao sair do hospício seu nacionalismo parece ter diminuído um pouco, mas se lança em outra batalha, desejava reformar a agricultura do país.

Veja outro conhecido autor do pré-modernismo brasileiro:

 

Monteiro Lobato foi uma figura muito polêmica, ao contrário da impressão que a maioria das pessoas tem hoje a seu respeito. Hoje, falar em Lobato é lembrar do escritor de livros infantis e criador do Sítio do Pica-pau Amarelo, mas sua produção não se limita a esse gênero.



Monteiro Lobato foi um escritor que retratou como ninguém o atraso das regiões interioranas de São Paulo. Ele foi o criador de um dos símbolos do atraso e da ignorância do caipira. Ele é o criador da figura do Jeca Tatu.

 Lobato tinha um gênio muito forte, desde criança mostrou-se rebelde. Foi um dos primeiros a dizer que havia petróleo em terras brasileiras, chegando a ser preso por isso, durante o período da ditadura militar. Seu jeito explosivo foi responsável por um dos motivadores do movimento modernista. Monteiro Lobato, num artigo intitulado “Paranóia ou mistificação?”, faz duras críticas ao trabalho modernista da pintora Anita Malfatti.

Veja o tom de suas palavras:

“Há duas espécies de artistas. Uma composta dos que veem normalmente as coisas e em conseqüência fazem arte pura, guardados os eternos ritmos da vida, e adotados, para a concretização das emoções estéticas, os processos clássicos dos grandes mestres (...)

A outra espécie é formada dos que vêem anormalmente a natureza e a interpretam à luz de teorias efêmeras, sob a sugestão estrábica excessiva. São produtos do cansaço e do sadismo de todos os períodos de decadência; são frutos de fim de estação, bichados ao nascedoiro (...) Embora eles se deem como novos precursores duma arte a vir, nada é mais velho do que a arte anormal ou teratológica: nasceu com a paranóia e com a mistificação (...) Sejamos sinceros; futurismo, cubismo, impressionismo e tutti quanti não passam de outros tantos ramos da arte caricatural (...)”

Graça Aranha é o autor de Canaã, que juntamente com Os Sertões, dá início ao Pré-Modernismo brasileiro. Nessa obra Graça Aranha narra o processo de colonização alemã no Espírito Santo.

Augusto dos Anjos, como já foi visto, apresenta uma classificação problemática. Ele era conhecido como o autor do pessimismo, do mau gosto, do escarro e dos vermes.

Veja um de seus textos:

Psicologia de um vencido

Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênese da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.

Profundissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.

Já o verme – este operário das ruínas
– Que o sangue podre das carnificinas
Come e à vida em geral declara guerra,

Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!

SIMBOLISMO EM PORTUGAL E NO BRASIL

 

O Simbolismo, assim como o Realismo-Naturalismo e o Parnasianismo, é um movimento literário do final do século XIX.
No Simbolismo, ao contrário do Realismo, não há uma preocupação com a representação fiel da realidade, a arte preocupa-se com a sugestão.
O Simbolismo é justamente isso, sugestão e intuição. É também a reação ao Realismo/Naturalismo/Parnasianismo, é o resgate da subjetividade, dos valores espirituais e afetivos. Percebe-se no Simbolismo uma aproximação com os ideais românticos, entretanto, com uma profundidade maior, os simbolistas preocupavam-se em retratar em seus textos o inconsciente, o irracional, com sensações e atitudes que a lógica não conseguia explicar. Veja as comparações:
Parnasianismo
1. Preocupação formal que se revela na busca da palavra exata, caindo muitas vezes no preciosismo; o parnasiano, confiante no poder da linguagem, procura descrever objetivamente a realidade.
2. Comparação da poesia com as artes plásticas, sobretudo com a escultura.
3. Atividade poética encarada como habilidade no manejo do verso.
4. Frequentes alusões a elementos da mitologia grega e latina.
5. Preferência por temas descritivos — cenas históricas, paisagens, objetos, estátuas etc.
6. Enfoque sensual da mulher, com ênfase na descrição de suas características físicas.
Simbolismo
1. Preocupação formal que se revela na busca de palavras de grande valor conotativo e ricas em sugestões sensoriais; o simbolista não pretende descrever a realidade, mas sugeri-la.
2. Comparação da poesia com a música.
3. A poesia é encarada como forma de evocação de sentimentos e emoções.
4. Frequentes alusões a elementos evocadores de rituais religiosos (incenso, altares, cânticos, arcanjos, salmos etc.), impregnando a poesia de misticismo e espiritualidade.
5. Preferência por temas subjetivos, que tratem da Morte, do Destino, de Deus etc.
6. Enfoque espiritualista da mulher, envolvendo-a num clima de sonho onde predomina o vago, o impreciso e o etéreo.

O leitor não deveria tentar entender os textos, mas se deixar levar pelas sensações.

Em Portugal, esse movimento literário tem início, em 1890, com a

publicação do poema Oaristos, de Eugênio de Castro. (Oaristo é um termo grego que significa “diálogo íntimo” ou “diálogo amoroso”).

Entre as principais características parnasianas estão:

*

Espiritualismo e Misticismo

*

Sugestão

*

Imprecisão

*

Sinestesias

*

Musicalidade

 

Maiúsculas alegorizantes

Espiritualismo e Misticismo = Para os simbolistas a arte era uma forma de religião. Os textos simbolistas apresentam muitas vezes uma visão cristã. Era comum a distinção entre corpo e alma e o desejo de purificação, de sublimação: anulação da matéria para a libertação da alma. Era também comum a utilização de vocábulos ligados ao místico e ao religioso, como missal, breviário, hinos, salmos, entre outros.

Sugestão = Para a arte simbolista mais importante que nomear as coisas era sugeri-las. Segundo os simbolistas os leitores é que deveriam adivinhar o enigma de cada poema.

Imprecisão = Atrelada à característica anterior, a realidade deveria ser expressa de maneira vaga e imprecisa. O Simbolismo buscava a essência do ser humano, os estados da alma, o inconsciente.

Sinestesias = Na poesia simbolista era comum a presença de sinestesias. A sinestesia é uma figura de linguagem que consiste na fusão de várias sensações, sem que necessariamente haja lógica:

“Nasce a manhã, a luz tem cheiro ... Ei-la que assoma Pelo ar sutil ... Tem cheiro a luz, a manhã nasce ...

Oh sonora audição colorida do aroma!”

                                                              Alphonsus de Guimaraens

Musicalidade = A poesia deveria se aproximar da música. Para conseguirem essa aproximação os simbolistas usaram em grande escala as figuras de linguagem associadas à sonoridade, como as rimas, o eco, a aliteração, entre outras. Daí a expressão simbolista: “A música antes de qualquer coisa”.

 Veja um exemplo de aliteração. Lembre-se de que a aliteração é a repetição de sons consonantais:

“E as cantinelas de serenos sons amenos fogem fluidas fluindo à fina flor dos fenos”.

                                                                      Eugênio de Castro

Maiúsculas alegorizantes = Correspondem à utilização de letras maiúsculas no meio do texto sem que haja alguma razão gramatical para o seu uso. Elas são usadas para enfatizar as palavras:

“Indefiníveis músicas supremas, 

Harmonias da Cor e do Perfume ...

Horas do Ocaso, trêmulas, extremas,

Réquiem do Sol que a Dor da Luz resume ...”

 

Cruz e Souza

Procure identificar as características simbolistas no próximo texto:

Arte Poética

Paul Verlaine (tradução de Augusto de Campos)

Antes de tudo, a Música. Preza
Portanto, o Ímpar. Só cabe usar
O que é mais vago e solúvel no ar,
Sem nada em si que pousa ou que pesa.

Pesar palavras será preciso,
Mas com algum desdém pela pinça:
Nada melhor do que a canção cinza
Onde o Indeciso se une ao Preciso.
(...)
Pois a Nuance é que leva a palma,
Nada de Cor; somente a nuance!
Nuance, só, que nos afiance
O sonho ao sonho e a flauta na alma!
(...)
Que teu verso seja a aventura
Esparsa ao árdego ar da manhã
Que enchem de aroma o timo e a hortelã...
E todo o resto é literatura.

Nesse poema encontramos várias características simbolistas, entre elas a musicalidade, a presença do sonho e a imprecisão na forma de expressar a realidade.

 SIMBOLISMO EM PORTUGAL – AUTORES

 

Veja os três maiores representantes do Simbolismo português:

-Eugênio de Castro

-Antônio Nobre

-Camilo Pessanha

A importância de Eugênio de Castro para o Simbolismo português deve-se mais ao fato de ter sido ele o autor do marco inicial do movimento. Antônio Nobre publicou um único livro, com um nome bem sugestivo . é um livro marcado pelo saudosismo e sentimentalismo, além de apresentar uma rica musicalidade.

Mas Camilo Pessanha é o grande representante do Simbolismo português:


    Camilo Pessanha morou muito tempo em Macau, colônia portuguesa na China. Contam os historiadores que ele era viciado em ópio e que retornou a Portugal para tratar da saúde debilitada. Ele foi um dos poetas que mais influenciou o Modernismo português.
   Seus textos apresentavam uma linguagem moderna e precisa, com temas ligados à fugacidade da vida. Eram comuns imagens de naufrágios, rios e água. A frequente recorrência à brevidade da vida, deixou em seus textos um forte pessimismo.

Veja um fragmento de um de seus textos:

“Passou o Outono já, já torna o frio ...
_ Outono de seu riso magoado.
Álgido Inverno! Oblíquo o sol, gelado ...
_ O sol, e as águas límpidas do rio.

Águas claras do rio! Águas do rio,
Fugindo sob o meu olhar cansado,
Para onde me levais meu vão cuidado?
Aonde vais, meu coração vazio?(...)”

 SIMBOLISMO NO BRASIL – AUTORES

    No Brasil, o Simbolismo tem início em 1893, com a publicação de Missal (textos em prosa) e Broquéis (poesias), de Cruz e Souza. Didaticamente, permaneceu no cenário literário até 1902 quando ocorre a publicação do livro Os Sertões, de Euclides da Cunha, considerado o texto introdutor do Pré-Modernismo.

   Missal é o nome de um livro que contém orações utilizadas nas missas e broquéis vem de broquel, tipo de um escudo espartano, numa clara aproximação com o parnasianismo e seu gosto por objetos antigos.

O Simbolismo surgiu como reação à objetividade e descritivismo parnasianos. Entre nós, no entanto, foi abafado pela produção parnasiana que correspondia mais intensamente aos anseios da burguesia em ascensão.

À confiança ilimitada na ciência, sucederam um descrédito e um desânimo sem formas definidas; ao racionalismo e ao materialismo, a valorização da intuição e as manifestações espirituais e metafísicas.

    O Simbolismo no Brasil não teve muita aceitação por parte do público leitor. A maior parte dos leitores preferia os textos parnasianos. Os parnasianos tinham a imprensa como aliada, pois seus poemas vendiam muito mais. É por isso que se costuma dizer que o Brasil não teve um momento tipicamente simbolista, ele ficou meio à margem da literatura oficial da época.

Veja os maiores representantes do Simbolismo brasileiro:

*  Cruz e Sousa

*  Alphonsus de Guimaraens

 Cruz e Sousa é considerado não só o maior poeta do Simbolismo brasileiro, mas também um dos maiores representantes do Simbolismo mundial:

    Cruz e Sousa era chamado de “O cisne negro” ou “Dante negro”. Por ser negro foi vítima de muitos preconceitos.
    Partindo de seus sofrimentos enquanto homem negro, alcançou a dor e o sofrimento do ser humano. Suas poesias eram marcadas por um forte misticismo e religiosidade, na busca de um mundo mais espiritualizado. Outra característica interessante de sua obra é a recorrência direta e indireta à cor branca, vista na maioria das vezes como símbolo da pureza. Cruz e Sousa escrevia muito sobre “véus brancos”, “neve”, “luar”, “virginais brancores”, entre outras sugestões.
Veja um fragmento de um de seus textos mais conhecidos:

Violões que choram

Ah! Plangentes violões dormentes, mornos,
Soluços ao luar, choros ao vento...
Tristes perfis, os mais vagos contornos,
Bocas murmurejantes de lamento.
(...)
Sutis palpitações à luz da lua.
Anseio de momentos mais saudosos,
Quando lá choram na deserta rua
As cordas vivas dos violões chorosos.

Quando os sons dos violões vão soluçando.
Quando os sons dos violões nas cordas gemem,
E vão dilacerando e deliciando,
Rasgando as almas que nas sombras tremem.
(...)
Vozes veladas, veludosas vozes,
Volúpias dos violões, vozes veladas,
Vagam nos velhos vórtices velozes
Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas (...)”

Alphonsus de Guimaraens (1870-1921)

Na obra de Afonso Henriques da Costa Guimarães, o tema constante é a morte da mulher amada ao qual os outros — natureza, religião, arte — se relacionam. Influenciado pelo poeta simbolista francês Verlaine, Alphonsus privilegia a camada sonora do signo, trabalhando as aliterações, onomatopeias, repetições. Em versos simples manifesta uma constante preocupação mística atestada, também, em seus poemas dedicados à Virgem Maria em Setenário das dores de Nossa Senhora. “Ismália” é um de seus poemas mais conhecidos:


Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava longe do mar...
E como um anjo pendeu

As asas para voar...
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...
As asas que Deus lhe deu

Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar...

PARNASIANISMO NO BRASIL

 

O Parnasianismo, manifestação poética do Realismo, ocorreu só na França (onde nossos poetas foram buscar todos os modelos) e no Brasil. Contemporâneo do Realismo-Naturalismo, o Parnasianismo não pode ser entendido apenas como a manifestação em poesia das características realistas e naturalistas presentes na prosa. Embora existam alguns aspectos comuns, há uma grande diferença: o Parnasianismo não se preocupava com a temática do cotidiano, com a descrição dos costumes da época e com o cientificismo, características marcantes do Realismo. As primeiras poesias parnasianas datam de 1870 e, teoricamente, terminam em 1922, com a Semana de Arte Moderna. Não foi o que ocorreu na prática, pois nas primeiras décadas do século XX ainda ocorreram manifestações parnasianas.

  O Parnasianismo foi um movimento literário essencialmente poético, contemporâneo do Realismo-Naturalismo. É interessante destacar, que ao contrário de outros movimentos que ocorreram em Portugal e no Brasil, o Parnasianismo apresentou características significativas somente no Brasil e na própria França, onde teve origem.

    A palavra parnasianismo vem de Parnaso, nome de um monte grego, que segundo a mitologia era a morada de Apolo, deus das artes.

Entre as principais características parnasianas estão:

      Esteticismo

      Impassibilidade

      Poesia descritiva

      Retomada dos modelos clássicos

      Perfeição formal

Esteticismo = A poesia parnasiana estava preocupada com o belo, com a parte estética, daí a palavra esteticismo. Era uma poesia descompromissada com os problemas sociais. Sua única preocupação era a arte pela arte, ou seja, a arte deveria existir em função dela mesma.

Impassibilidade = A impassibilidade é a negação do sentimentalismo exagerado presente no Romantismo. Os parnasianos negavam qualquer expressão de subjetividade em favor da objetividade temática.

Poesia descritiva = A poesia parnasiana é marcadamente descritiva, frequentemente aparecem descrições pormenorizadas de objetos e cenas da natureza.

Retomada dos modelos clássicos = O Parnasianismo, assim como fez o Classicismo, também se voltou para a Antiguidade greco-romana, tida como modelo de perfeição e beleza.

Perfeição formal = A maior preocupação dos poetas parnasianos era a forma, o conteúdo ficava num segundo plano. O importante era a palavra, a aparência e a sonoridade. Tamanha era a preocupação formal que os parnasianos ficaram conhecidos como “poetas de dicionário”.

        Ao contrário da liberdade romântica, em que apareciam os versos livres e brancos, ou seja, não rimados, os parnasianos valorizaram a utilização das rimas, buscando principalmente as rimas ricas e raras.

 

            

                         -POBRES

*RIMAS            -RICAS

                         -RARAS

As rimas pobres ocorrem quando as palavras rimadas pertencem à mesma classe gramatical:

“Entre as ruínas de um convento,

De uma coluna quebrada

Sobre os destroços, ao vento

Vive uma flor isolada

                                      Alberto de Oliveira

Nessa estrofe, a palavra convento, do primeiro verso, rima com a palavra vento, do terceiro verso, e ambas são substantivos. Já a palavra quebrada, do segundo verso, rima com a palavra isolada, do quarto verso, e ambas são adjetivos.

As rimas ricas ocorrem quando as palavras rimadas pertencem a classes gramaticais diferentes:

“Sonha ... Porém de súbito a violento Abalo acorda. Em torno as folhas bolem ...

É o vento! E o ninho lhe arrebata o vento”.

                                                  Alberto de Oliveira

Nessa estrofe, a palavra violento, do primeiro verso, é um adjetivo e rima com a palavra vento, do terceiro verso, que é um substantivo.

As rimas raras ou perfeitas ocorrem quando as palavras rimadas apresentam terminações incomuns:

“Que ouço ao longe o oráculo de Elêusis.

 Se um dia eu fosse teu e fosses minha,

 O nosso amor conceberia um mundo  E de teu ventre nasceriam deuses.

                                                 Raul de Leôni

Nessa estrofe, o substantivo próprio Elêusis, do primeiro verso, rima com o substantivo comum deuses, do quarto verso. Mas atenção: o que importa na rima é o som e não a letra, por isso, não há nenhum problema em Elêusis com i e deuses com e.

Ao lado da utilização das rimas, os poetas parnasianos retomaram as formas fixas, principalmente o soneto e elegeram o verso alexandrino (verso composto por 12 sílabas poéticas) como modelo de métrica.

Veja os três maiores representantes do Parnasianismo brasileiro:

TRINDADE PARNASIANA

*Alberto de Oliveira

*Raimundo Correia

*Olavo Bilac

Alberto de Oliveira é considerado o representante mais fiel do Parnasianismo, pois mostrou em sua obra uma grande preocupação com a descrição objetiva e com a forma. Seus textos são marcados por uma sintaxe bem rebuscada. Veja sua imagem:


 

Alberto de Oliveira também foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras.

Vários textos de Alberto de Oliveira apresentam uma poesia visual, essencialmente descritiva, tendo por tema desde cenas naturais até a pura descrição de objetos antigos. Veja um exemplo dessa poesia descritiva a partir do conhecido poema Vaso Grego:

      Vaso Grego

Esta de áureos relevos, trabalhada
De divas mãos, brilhante copa, um dia,
Já de aos deuses servir como cansada,
Vinda do Olimpo, a um novo deus servia.

Era o poeta de Teos que a suspendia
Então, e, ora repleta ora esvazada,
A taça amiga aos dedos seus tinia,
Toda de roxas pétalas colmada.

Depois ... Mais o lavor da taça admira,
Toca-a, e do ouvido aproximando-a, à bordas
Finas hás de lhe ouvir, canora e doce.

Ignota voz, qual se da antiga lira
Fosse a encantada música das cordas,
Qual se essa voz de Anacreonte fosse.

                             Alberto de Oliveira

Perceba que nesse poema não há subjetividade, pelo contrário, há um predomínio da descrição objetiva. Há também uma grande quantidade de inversões sintáticas, pois segundo os parnasianos a ordem inversa dava mais requinte ao poema.

O segundo poeta da Trindade Parnasiana é Raimundo Correia. Raimundo Correia foi acusado de plagiador, devido ao grande contato que manteve com os parnasianos franceses. Mas para alguns estudiosos na realidade o que fazia não era um plágio, uma cópia, mas sim uma recriação dos textos em francês, imprimindo-lhes características pessoais. Veja sua imagem: 


Raimundo Correia destacou-se pela concisão e escolha vocabular. Fugindo um pouco das características parnasianas, construiu poemas em que a temática social e política se faziam presentes.

Veja um de seus poemas:

Plena Nudez

Eu amo os gregos tipos de escultura;
Pagãs nuas no mármore entalhadas;
Não essas produções que a estufa escura
Das modas cria, tortas e enfezadas.

Quero em pleno esplendor, viço e frescura
Os corpos nus; as linhas onduladas
Livres: da carne exuberante e pura
Todas as saliências destacadas ...

Não quero, a Vênus opulenta e bela
De luxuriantes formas, entrevê-la
Da transparente túnica através:

Quero vê-la, sem pejo, sem receios,
Os braços nus, o dorso nu, os seios
Nus ... toda nua, da cabeça os pés!

                                      Raimundo Correia

Repare que nesse texto além da descrição, Raimundo Correia também apresenta um caráter mais erótico, mais sensual, ao contrário dos românticos, a figura feminina deixa de ser idealizada, aproximando-se mais dos relacionamentos humanos. O Parnasianismo apresenta uma visão mais carnal do amor.

Veja a imagem do maior representante do parnasianismo

Brasileiro:



 

Olavo Bilac também participou da fundação da Academia Brasileira de Letras. Embora poucos saibam, ele também é o autor do nosso Hino à Bandeira.

Desde o início da sua produção, Olavo Bilac sempre se manteve fiel aos preceitos parnasianos, buscando a perfeição formal e a retomada dos ideais clássicos. Bilac também se dedicou à produção de obras didáticas, que durante muito tempo foram utilizadas nas escolas brasileiras. Veja um fragmento de seu poema mais famoso, fundamental para a compreensão dos princípios parnasianos:

Profissão de Fé

(...)
Invejo o ourives quando escrevo:
Imito o amor
Com ele, em ouro, o alto-relevo
Faz de uma flor.

Imito-o. E, pois, nem de Carrara
A pedra firo:
O alvo cristal, a pedra rara,
O ônix prefiro.

Por isso, corre, por servir-me,
Sobre o papel
A pena, como em prata firme
Corre o cinzel.

Corre; desenha, enfeita a imagem,
A ideia veste:
Cinge-lhe ao corpo a ampla roupagem Azul-celeste.

Torce, aprimora, alteia, lima
A frase; e, enfim,
No verso de ouro engasta a rima,
Como um rubim.

Quero a estrofe cristalina,
Dobrada ao jeito
Do ourives, saia da oficina
Sem um defeito.(...)
Assim, procedo.

Minha pena
Segue esta norma,
Por te servir,
Deusa serena,
Serena Forma!”

                             Olavo Bilac

Olavo Bilac nesse poema faz uma comparação entre o trabalho do poeta e o trabalho do ourives. Escrever poesia era para ele um trabalho artesanal. A rima era comparada a uma pedra preciosa, como um rubi, reafirmando assim, a ideia parnasiana de que o poeta era o artesão da palavra.


REALISMO – NATURALISMO NO BRASIL

 


O Realismo e o Naturalismo, surgidos como reação ao sentimentalismo romântico, iniciaram-se em 1881, respectivamente, com a publicação de Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, e O mulato, de Aluísio de Azevedo; manifestações poéticas do Parnasianismo já se faziam sentir desde 1870. Assinala-se o ano de 1893 como início do simbolismo e final, portanto, do Realismo. No entanto, essa data é puramente didática, uma vez que, até as duas primeiras décadas deste século, é possível encontrar produções orientadas por todas essas estéticas.

Contexto Histórico

    A Europa, na segunda metade do século XIX, foi marcada por novos inventos (telefone, telégrafo, locomotiva a vapor), pela utilização de novas fontes de energia (petróleo, eletricidade) e pelas novas descobertas científicas, que explicaram ao homem o, até então, inexplicável. No entanto, a acelerada industrialização, resultado da Segunda Revolução Industrial e do capitalismo, determinaram o aparecimento de uma nova classe, o proletariado, constituída por uma massa de trabalhadores miseráveis, sem direito a nenhuma vantagem trazida por esse progresso.
    Criticando o misticismo, a religião, o sentimentalismo e o subjetivismo, o homem passou a basear-se na observação e na experimentação para estudar os mais diversos fenômenos. Valeu-se para isso de algumas doutrinas:

1) positivismo: filosofia de Augusto Comte, segundo a qual só importava o que podia ser medido e provado, isto é, todos os fenômenos deviam ser explicados pela ciência;

2) evolucionismo: teoria de Charles Darwin, que colocava em xeque a origem divina do homem, defendida pela Igreja, e explicava a evolução das espécies pelo processo de seleção natural, pela sobrevivência do mais forte e do mais apto;

3) determinismo: teoria de Hipólito Taine que explicava a obra de arte como conseqüência de três fatores: raça (hereditariedade), meio e momento histórico. Segundo ele, o homem era produto do meio em que vivia;

4) socialismo científico: Engels e Karl Marx denunciaram a exploração do proletariado;

5) experimentalismo: o médico Claude Bernard deu bases científicas à medicina (observação, investigação) e demonstrou a importância da Fisiologia no comportamento humano.

O Brasil viveu, nesse período, as consequências da Guerra do Paraguai, o movimento abolicionista e a perspectiva da República. O surto modernizador sustentado pela exportação cafeeira fez surgirem comerciantes e pequenos empresários que aderiram às novas ideias. A economia fortalecida exigia trabalho livre e começaram, então, as primeiras imigrações. 

    A partir da segunda metade do século XIX, a sociedade brasileira sofreu grandes transformações. De sociedade agrária, latifundiária, escravocrata e aristocrática passou a ser uma civilização burguesa e urbana. A mão-de-obra escrava aos poucos foi substituída pelos imigrantes europeus assalariados que vinham trabalhar na lavoura cafeeira. A década de 80 corresponde ao período de intensificação da campanha abolicionista que culminou com a Lei Áurea de 1888; ao período da Guerra do Paraguai e ao período da decadência da monarquia e estabelecimento da República.

    Foi em plena época realista que ocorreu a Fundação da Academia Brasileira de Letras, em 1897, e um processo que pode ser chamado de oficialização da literatura. O escritor que antes era meio discriminado, marginalizado, começou a ter prestígio e a participar mais ativamente da vida social. Essas transformações socioeconômicas apressaram o fim da Monarquia: federalistas, abolicionistas e positivistas opunham-se à centralização do poder e lutavam pela República. Em 1888, a escravatura foi abolida e, em 1889, proclamada a República.

No Brasil, a literatura realista encontrou boa expressão nas obras dos seguintes autores: Machado de Assis, Raul Pompéia, Aluísio Azevedo, Adolfo Caminha, Domingos Olímpio, Manuel de Oliveira Paiva e Inglês de Sousa.

NATURALISMO

Nas obras dos autores realistas podemos distinguir, frequentemente, algumas características que definem uma tendência chamada Naturalismo.
O Naturalismo enfatiza o aspecto materialista da existência, vendo o homem como um produto biológico, cujo comportamento é resultado da pressão do ambiente social e da hereditariedade psicofisiológica. O homem passa a ser encarado como um ser impulsionado pelos instintos (por isso são frequentes as comparações com animais), que, por sua vez, são despertados pelas condições do meio social.
No Brasil, os autores que mais claramente apresentam características naturalistas são Aluísio Azevedo, Inglês de Sousa e Adolfo Caminha.

Veja os principais autores do Realismo-Naturalismo no Brasil:

REALISMO – NATURALISMO NO BRASIL

- Machado de Assis

- Aluísio Azevedo

- Raul Pompéia*

- Adolfo Caminha

Machado de Assis e Raul Pompéia dedicaram-se mais ao romance realista. Mas sobre esse último é importante fazermos uma ressalva, pois graças à diversidade de elementos em sua obra, sua classificação é problemática.

Aluísio Azevedo foi o grande representante do Naturalismo brasileiro. Para esse autor o homem era fruto dos elementos biológicos (raça) e das circunstâncias do tempo e do meio em que vivia. Veja sua imagem:



Aluísio Azevedo era um escritor profissional, escrevendo de acordo com o gosto do público leitor da época. Sua obra era bem diversificada, apresentando romances românticos e romances naturalistas. Mas ao contrário de outros escritores que apresentavam fases, Aluísio Azevedo produzia os dois tipos de romance simultaneamente.

Para o público escrevia romances românticos, chamados por ele de “comerciais” e também escrevia os romances naturalistas, chamados de “artísticos”. Aluísio Azevedo foi um grande caricaturista e conta a história que ele possuía um método bem original de escrita. Primeiro ele desenhava as personagens, depois começava a escrever as cenas. Entre seus principais romances destacam-se os naturalistas:

Casa de pensão conta a história de Amâncio Vasconcelos, um jovem maranhense que parte para o Rio de Janeiro para cursar medicina e acaba metido numa série de confusões, principalmente depois que vai morar na pensão de João Coqueiro.

Mas seus livros mais importantes são O cortiço e O mulato, neles encontramos suas principais características: a forte ligação com o determinismo e o romance social, preocupado em retratar as camadas marginalizadas.

Em O mulato, Aluísio Azevedo faz uma forte crítica à sociedade corrompida e preconceituosa de São Luís do Maranhão. O livro conta a história do amor proibido de Raimundo e Ana Rosa. Raimundo era um rapaz mulato de pele branca e olhos azuis, filho de um português com uma escrava. Ele foi mandado para Coimbra e depois de formado voltou para o Maranhão para viver na casa do tio, onde se apaixona pela prima Ana Rosa. Todos na cidade sabiam de sua origem bastarda, menos ele. Raimundo só ficou conhecendo toda a verdade quando ao pedir a prima em casamento recebe a recusa do tio:

“ ... Uma só palavra boiava à superfície dos seus pensamentos: “Mulato”. E crescia, crescia, transformando-se em tenebrosa nuvem, que escondia todo o seu passado. Ideia parasita, que estrangulava todas as outras ideias.

_ Mulato!

Esta só palavra explica-lhe agora todos os mesquinhos escrúpulos, que a sociedade do Maranhão usara para com ele”.

Mas é O cortiço o seu livro mais significativo, considerado o melhor romance naturalista da nossa literatura. Aluísio soube retratar como ninguém a realidade dos agrupamentos humanos:

 


Os cortiços são habitações coletivas e foram muito comuns no final do século XIX, habitados principalmente pelos trabalhadores não-qualificados que vinham para as cidades em busca de melhores empregos. Segundo os historiadores, o marido da princesa Isabel foi dono de um dos maiores cortiços brasileiros, onde viviam mais de 4 mil pessoas.

É justamente essa temática a matéria-prima de Aluísio Azevedo, que fala das misérias, dos vícios e da promiscuidade das pessoas que habitavam o cortiço. Entre as personagens principais destacam-se: a negra Bertoleza e João Romão, o dono do cortiço. O livro conta a história de João Romão, um ambicioso comerciante português que busca riqueza e status social. João constrói o cortiço com a ajuda da negra, que por ele foi traída.

Mas ao contrário do que muitos pensam, a personagem central do romance de Aluísio Azevedo não é João Romão, mas sim o próprio cortiço. O cortiço é o núcleo gerador de todas as ações do romance. Várias vezes, a começar da cena inicial que mostra o seu despertar, o cortiço é apresentado como se tivesse vida e acompanhasse o desenvolvimento de seu proprietário. A esse processo dá-se o nome de antropomorfismo, processo que consiste na atribuição de características humanas a seres inanimados. Influenciado pelas novas descobertas da biologia e do determinismo, Aluísio Azevedo inova a literatura brasileira, fazendo o processo inverso, reduzindo muitas vezes os seres humanos ao nível dos animais, é o chamado zoomorfismo. Frequentemente aparecem aproximações como: Rita Baiana apresentada como uma cadela no cio, Leandra com ancas de animal do campo. Aluísio também inova por ser um dos primeiros autores a tratar do homossexualismo feminino, representado pelas personagens Leoni e Pombinha.

Raul Pompéia é outro importante autor desse período, entretanto, sua classificação como um autor naturalista é muito complicada e reducionista.

Em seu romance O Ateneu, há uma superposição de características de vários movimentos literários e não é possível dizer que há um estilo que predomina.

Durante a leitura encontramos elementos impressionistas, parnasianos, simbolistas, expressionistas e elementos naturalistas, principalmente ao tratar do homossexualismo masculino e da influência do meio na conduta das pessoas. Em O Ateneu, Raul Pompéia ao contar uma história de um garoto que entra num colégio interno chamado O Ateneu, soma autobiografia e ficção.

Não há um enredo linear, o livro, narrado em primeira pessoa, está construído a partir das recordações da personagem Sérgio, já adulto:

“Vais encontrar o mundo, disse-me meu pai à porta do Ateneu. Coragem para a luta”. Bastante experimentei depois a verdade deste aviso, que me despia, num gesto, das ilusões de criança educada exoticamente na estufa de carinho que é o regime do amor doméstico, diferente do que se encontra fora, tão diferente (...)”

Como já antecipava seu pai, no Ateneu, Sérgio, ainda criança, conhece o mundo através de um ambiente marcado pela corrupção, pelo autoritarismo das instituições escolares e pela promiscuidade adolescente.

Adolfo Caminha, embora com o brilho ofuscado pelos naturalistas Aluísio Azevedo e Raul Pompéia, também escreve nesse período, apresentando uma tendência mais regionalista; seu principal livro é O Bom Crioulo, em que retrata com grande maturidade o homossexualismo entre os marinheiros.

Mas, a grande figura do final do século XIX, e talvez a figura literária mais importante do Brasil, foi o inigualável Machado de Assis.

 MACHADO DE ASSIS

 

O Realismo brasileiro tem início em 1881, com a publicação de Memórias Póstumas de Brás Cubas, romance realista de Machado de Assis. 

Machado de Assis está acima de qualquer classificação, tamanha a grandiosidade de sua obra. Ele é considerado o escritor mais ousado da literatura brasileira antes dos escritores modernistas. Veja sua imagem:

 



Machado de Assis teve uma origem pobre, era mulato gago e epilético. Mas graças ao seu esforço pessoal e seu poder autodidata, soube vencer esses obstáculos e tornar-se um dos nossos maiores escritores.  


Machado de Assis foi um dos principais responsáveis pela fundação da Academia Brasileira de Letras, sendo o seu primeiro presidente. 

Considerado o mais carioca de nossos autores, buscou na sociedade do Rio de Janeiro de seu tempo a inspiração para a sua vasta produção.

 

DIVISÃO DA SUA OBRA

 

A produção literária de Machado é muito grande, ele dedicou-se a quase todos os gêneros literários:

Dedicou-se aos mais variados gêneros, chegando até a escrever uma crítica sobre o livro O Primo Basílio de Eça de Queirós, mas acima de tudo, Machado foi um grande crítico de sua própria obra. Também escreveu poesias, mas nesse gênero não obteve grande destaque. O melhor de sua produção realmente se encontra nos contos e nos romances realistas.

Alguns autores falam que os seus romances podem ser divididos em duas fases: uma mais romântica e outra realista. Mas na realidade o mais correto é afirmarmos que seus primeiros romances são “convencionais”, pois não se enquadram perfeitamente nos moldes nos romances românticos, principalmente por não apresentarem uma idealização estereotipada das personagens.

Sua poesia apresenta uma aproximação com os valores parnasianos. Veja o soneto A Carolina que ele escreveu no prefácio de Relíquias de Casa Velha e dedicou ao seu grande amor:

A Carolina

Querida, ao pé do leito derradeiro

Em que descansas dessa longa vida, 

Aqui venho e virei, pobre querida, 

Trazer-te o coração do companheiro.


Pulsa-lhe aquele afeto verdadeiro

Que, a despeito de toda a humana lida, 

Fez a nossa existência apetecida 

E num recanto pôs um mundo inteiro.


Trago-te flores, — restos arrancados

Da terra que nos viu passar unidos 

E ora morto nos deixa separados.


Que eu, se tenho nos olhos malferidos 

Pensamentos de vida formulados, 

São pensamentos idos e vividos.

PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS

Dois dos vários exemplos de ironia de Machado de Assis encontram-se no livro Memórias Póstumas de Brás Cubas, no trecho em que Brás Cubas narra o seu primeiro envolvimento amoroso. Ele fala que Marcela, seu amor, era “amiga de rapazes e de dinheiro”, ou seja, ela era uma prostituta de luxo. Segundo o narrador esse amor durou 

O discurso metalinguístico ocorre em vários momentos da ficção machadiana. É muito comum o narrador interromper a narração da história para comentar com o leitor o próprio processo de escrita do romance:

Capítulo LXXI

“Começo a arrepender-me deste livro. Não que ele me canse, eu não tenho que fazer (...) Mas o livro é enfadonho, cheira a sepulcro, traz certa contração cadavérica; vício grave, e aliás ínfimo, porque o maior defeito deste livro és tu, leitor. Tu tens pressa de envelhecer e o livro anda devagar; tu amas a narração direta e nutrida, o estilo regular e fluente, e este livro e o meu estilo são como ébrios (...)”

Machado de Assis rompe com a linearidade tradicional, as ações das personagens não são guiadas pelo aspecto cronológico ou pela lógica, elas seguem uma ordem interna. Os fatos são narrados a partir da memória e da consciência do narrador.

O pessimismo também está presente em sua produção. Machado, em vários momentos, mostrava-se descrente com a vida e com o homem, como sugere o próximo capítulo de Memórias Póstumas de Brás Cubas:

Capítulo CLX

“Este último capítulo é todo de negativas. Não alcancei a celebridade de emplasto, não fui ministro, não fui califa, não conheci o casamento (...) ao chegar a este outro lado do mistério, achei-me com um pequeno soldo, que é a derradeira negativa deste capítulo: - Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa miséria.”

 

A concisão vocabular e universalismo são outras características marcantes. 

Entre seus romances mais importantes estão:

Em Memórias Póstumas de Brás Cubas, encontramos o rompimento com os romances românticos a começar pela própria dedicatória:

AO VERME

QUE PRIMEIRO ROEU AS FRIAS CARNES

DO MEU CADÁVER

DEDICO COM SAUDOSA LEMBRANÇA

ESTAS

MEMÓRIAS PÓSTUMAS

Este pequeno texto está diagramado na forma de um epitáfio, ou seja, de uma inscrição tumular. Mas por que será? Por que na realidade Brás Cubas era um defunto. Veja o próximo fragmento:

“Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio, ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento, duas considerações me levaram a adotar diferente método: a primeira é que eu não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para quem a campa foi outro berço; a Segunda é que o escrito ficaria assim mais galante e mais novo. Moisés, que também contou a sua morte, não pôs no intróito, mas no cabo: diferença radical entre este livro e o Pentateuco.

Dito isto, expirei às duas horas da tarde de uma Sexta-feira do mês de agosto de 1869, na minha bela chácara de Catumbi. Tinha uns sessenta e quatro anos, rijos e prósperos, era solteiro, possuía cerca de trezentos contos e fui acompanhado ao cemitério por onze amigos. Onze amigos! (...)”

Outro importante livro de Machado de Assis é Dom Casmurro.

 

    O livro é narrado em primeira pessoa por Bentinho, personagem que tenta atar as duas pontas de sua vida. 

Um dos trechos mais conhecidos do livro é o velório de Escobar, quando as atitudes de Capitu reforçam as desconfianças de Bentinho em relação ao possível adultério da esposa.

Quincas Borba, personagem que já apareceu em Memórias Póstumas de Brás Cubas, dá nome a outro grande romance de Machado de Assis.


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