O Parnasianismo, manifestação poética do Realismo, ocorreu só na França (onde nossos poetas foram buscar todos os modelos) e no Brasil. Contemporâneo do Realismo-Naturalismo, o Parnasianismo não pode ser entendido apenas como a manifestação em poesia das características realistas e naturalistas presentes na prosa. Embora existam alguns aspectos comuns, há uma grande diferença: o Parnasianismo não se preocupava com a temática do cotidiano, com a descrição dos costumes da época e com o cientificismo, características marcantes do Realismo. As primeiras poesias parnasianas datam de 1870 e, teoricamente, terminam em 1922, com a Semana de Arte Moderna. Não foi o que ocorreu na prática, pois nas primeiras décadas do século XX ainda ocorreram manifestações parnasianas.
O Parnasianismo foi um movimento literário essencialmente poético, contemporâneo do Realismo-Naturalismo. É interessante destacar, que ao contrário de outros movimentos que ocorreram em Portugal e no Brasil, o Parnasianismo apresentou características significativas somente no Brasil e na própria França, onde teve origem.
A palavra parnasianismo vem de Parnaso, nome de um monte grego, que segundo a mitologia era a morada de Apolo, deus das artes.
Entre as principais
características parnasianas estão:
•
Esteticismo
•
Impassibilidade
•
Poesia
descritiva
•
Retomada dos
modelos clássicos
•
Perfeição
formal
Esteticismo = A
poesia parnasiana estava preocupada com o belo, com a parte estética, daí a
palavra esteticismo. Era uma poesia descompromissada com os problemas sociais.
Sua única preocupação era a arte pela arte, ou seja, a arte deveria existir em
função dela mesma.
Impassibilidade = A
impassibilidade é a negação do sentimentalismo exagerado presente no
Romantismo. Os parnasianos negavam qualquer expressão de subjetividade em favor
da objetividade temática.
Poesia descritiva = A
poesia parnasiana é marcadamente descritiva, frequentemente aparecem descrições
pormenorizadas de objetos e cenas da natureza.
Retomada dos modelos
clássicos = O Parnasianismo, assim como fez o Classicismo, também se voltou
para a Antiguidade greco-romana, tida como modelo de perfeição e beleza.
Perfeição formal = A
maior preocupação dos poetas parnasianos era a forma, o conteúdo ficava num
segundo plano. O importante era a palavra, a aparência e a sonoridade. Tamanha
era a preocupação formal que os parnasianos ficaram conhecidos como “poetas
de dicionário”.
Ao contrário
da liberdade romântica, em que apareciam os versos livres e brancos, ou seja,
não rimados, os parnasianos valorizaram a utilização das rimas, buscando
principalmente as rimas ricas e raras.
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As rimas
pobres ocorrem quando as palavras rimadas pertencem à mesma classe
gramatical:
“Entre as ruínas de um convento,
De uma coluna quebrada
Sobre os destroços, ao vento
Vive uma flor isolada”
Alberto de Oliveira
Nessa estrofe, a palavra convento, do
primeiro verso, rima com a palavra vento, do terceiro verso, e ambas são
substantivos. Já a palavra quebrada, do segundo verso, rima com a palavra
isolada, do quarto verso, e ambas são adjetivos.
As rimas
ricas ocorrem quando as palavras rimadas pertencem a classes gramaticais
diferentes:
“Sonha ... Porém de súbito a violento Abalo
acorda. Em torno as folhas bolem ...
É o vento! E o ninho lhe arrebata o vento”.
Alberto de Oliveira
Nessa estrofe, a palavra violento, do
primeiro verso, é um adjetivo e rima com a palavra vento, do terceiro verso,
que é um substantivo.
As rimas
raras ou perfeitas ocorrem
quando as palavras rimadas apresentam terminações incomuns:
“Que ouço ao longe o oráculo de Elêusis.
Se um dia eu fosse teu e fosses
minha,
O nosso amor conceberia um
mundo E de teu ventre nasceriam deuses”.
Raul de Leôni
Nessa estrofe, o substantivo próprio
Elêusis, do primeiro verso, rima com o substantivo comum deuses, do quarto
verso. Mas atenção: o que importa na rima é o som e não a letra, por isso, não
há nenhum problema em Elêusis com i e
deuses com e.
Ao lado da utilização das rimas, os
poetas parnasianos retomaram as formas fixas, principalmente o soneto e
elegeram o verso alexandrino (verso composto por 12 sílabas poéticas) como
modelo de métrica.
Veja os três maiores representantes do Parnasianismo
brasileiro:
TRINDADE PARNASIANA
*Alberto de Oliveira
*Raimundo Correia
*Olavo Bilac
Alberto
de Oliveira é considerado o representante mais fiel do Parnasianismo, pois
mostrou em sua obra uma grande preocupação com a descrição objetiva e com a
forma. Seus textos são marcados por uma sintaxe bem rebuscada. Veja sua imagem:
Alberto de Oliveira também foi um dos fundadores da Academia
Brasileira de Letras.
Vários textos de Alberto de Oliveira
apresentam uma poesia visual, essencialmente descritiva, tendo por tema desde
cenas naturais até a pura descrição de objetos antigos. Veja um exemplo dessa
poesia descritiva a partir do conhecido poema Vaso Grego:
Vaso Grego
De divas mãos, brilhante copa, um dia,
Já de aos deuses servir como cansada,
Vinda do Olimpo, a um novo deus servia.
Era o poeta de Teos que a suspendia
Então, e, ora repleta ora esvazada,
A taça amiga aos dedos seus tinia,
Toda de roxas pétalas colmada.
Depois ... Mais o lavor da taça admira,
Toca-a, e do ouvido aproximando-a, à bordas
Finas hás de lhe ouvir, canora e doce.
Ignota voz, qual se da antiga lira
Fosse a encantada música das cordas,
Qual se essa voz de Anacreonte fosse.
Alberto de Oliveira
Perceba que nesse poema não há
subjetividade, pelo contrário, há um predomínio da descrição objetiva. Há
também uma grande quantidade de inversões sintáticas, pois segundo os
parnasianos a ordem inversa dava mais requinte ao poema.
O segundo poeta da Trindade Parnasiana é Raimundo Correia. Raimundo Correia foi acusado de plagiador, devido ao grande contato que manteve com os parnasianos franceses. Mas para alguns estudiosos na realidade o que fazia não era um plágio, uma cópia, mas sim uma recriação dos textos em francês, imprimindo-lhes características pessoais. Veja sua imagem:
Raimundo Correia destacou-se
pela concisão e escolha vocabular. Fugindo um pouco das características
parnasianas, construiu poemas em que a temática social e política se faziam presentes.
Plena Nudez
Eu amo os gregos tipos de escultura;
Pagãs nuas no mármore entalhadas;
Não essas produções que a estufa escura
Das modas cria, tortas e enfezadas.
Quero em pleno esplendor, viço e frescura
Os corpos nus; as linhas onduladas
Livres: da carne exuberante e pura
Todas as saliências destacadas ...
Não quero, a Vênus opulenta e bela
De luxuriantes formas, entrevê-la
Da transparente túnica através:
Quero vê-la, sem pejo, sem receios,
Os braços nus, o dorso nu, os seios
Nus ... toda nua, da cabeça os pés!
Raimundo Correia
Repare que nesse texto além da
descrição, Raimundo Correia também apresenta um caráter mais erótico, mais
sensual, ao contrário dos românticos, a figura feminina deixa de ser
idealizada, aproximando-se mais dos relacionamentos humanos. O Parnasianismo
apresenta uma visão mais carnal do amor.
Veja a imagem do maior representante do parnasianismo
Brasileiro:
Olavo Bilac também
participou da fundação da Academia Brasileira de Letras. Embora poucos saibam,
ele também é o autor do nosso Hino à Bandeira.
Desde o início da sua produção, Olavo Bilac sempre se manteve fiel aos preceitos parnasianos, buscando a perfeição formal e a retomada dos ideais clássicos. Bilac também se dedicou à produção de obras didáticas, que durante muito tempo foram utilizadas nas escolas brasileiras. Veja um fragmento de seu poema mais famoso, fundamental para a compreensão dos princípios parnasianos:
Profissão de Fé
(...)
Invejo o ourives quando escrevo:
Imito o amor
Com ele, em ouro, o alto-relevo
Faz de uma flor.
Imito-o. E, pois, nem de Carrara
A pedra firo:
O alvo cristal, a pedra rara,
O ônix prefiro.
Por isso, corre, por servir-me,
Sobre o papel
A pena, como em prata firme
Corre o cinzel.
Corre; desenha, enfeita a imagem,
A ideia veste:
Cinge-lhe ao corpo a ampla roupagem Azul-celeste.
Torce, aprimora, alteia, lima
A frase; e, enfim,
No verso de ouro engasta a rima,
Como um rubim.
Quero a estrofe cristalina,
Dobrada ao jeito
Do ourives, saia da oficina
Sem um defeito.(...)
Assim, procedo.
Minha pena
Segue esta norma,
Por te servir,
Deusa serena,
Serena Forma!”
Olavo Bilac
Olavo Bilac nesse poema faz uma
comparação entre o trabalho do poeta e o trabalho do ourives. Escrever poesia
era para ele um trabalho artesanal. A rima era comparada a uma pedra preciosa,
como um rubi, reafirmando assim, a ideia parnasiana de que o poeta era o
artesão da palavra.
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