O Pré-Modernismo é um movimento literário tipicamente brasileiro. Convencionou-se chamar de Pré-Modernismo o período anterior à Semana de Arte Moderna de 1922. Didaticamente, esse movimento literário tem início em 1902 com a publicação do livro Os Sertões, de Euclides da Cunha e com a publicação do livro Canaã de Graça Aranha. O Pré-Modernismo é um período de transição, pois ao mesmo tempo em que encontrávamos produções conservadoras como as poesias parnasianas e simbolistas, encontrávamos as primeiras produções de caráter mais moderno, preocupadas com a realidade brasileira da época.
O Pré-Modernismo oscilou entre:
a) produção conservadora: com características realistas/naturalistas, na
prosa e parnasiano-simbolistas, na poesia;
Contexto Histórico
Em 1917, com a Revolução Russa, o proletariado toma o poder.
Começaram, então, a delinear-se dois regimes antagônicos: o comunismo e o
capitalismo.
No Brasil, o Pré-Modernismo desenvolveu-se na época de transição
da República da Espada (marcada pela presença de militares no poder), para a
República das Oligarquias ou República do café-com-leite, em que o Brasil foi
governado ora por donos de fazenda de café de São Paulo, ora por fazendeiros de
Minas, os dois estados mais ricos do país.
Críticos da Sociedade Brasileira
* Ruptura com o passado
* Denúncia da realidade
* Regionalismo
* Tipos humanos marginalizados
Ruptura com o passado = As novas
produções rompem com o academismo e com os modelos preestabelecidos pelas
antigas estéticas.
Denúncia da realidade = A realidade não
oficial passa a ser a temática do período.
Regionalismo = São retratados o sertão
nordestino, o interior paulista, os subúrbios cariocas, entre outras regiões
brasileiras.
Tipos humanos marginalizados = Nas
obras desse período, encontram-se retratadas muitas figuras marginalizadas pela
elite, como o sertanejo nordestino, o caipira, o mulato, entre outros tipos.
Veja os principais autores do Pré-Modernismo brasileiro:
• Euclides da Cunha
• Lima Barreto
• Monteiro Lobato
• Graça Aranha
• Augusto dos Anjos *
Euclides da Cunha = retratou a miséria
do subdesenvolvido nordeste do país.
Lima Barreto = retratou a vida carioca
urbana e suburbana do início do século XX.
Monteiro Lobato = retratou a miséria
dos moradores do interior do sudeste e a decadência da economia cafeeira.
Graça Aranha = retratou a imigração alemã no Espírito Santo.
Augusto
dos Anjos = apresenta uma classificação problemática, não podendo ser
apenas estudado como um autor pré-modernista. Sua obra apresenta elementos de
várias estéticas. Mas para fins didáticos costuma-se estudá-lo como
pré-modernista.
Euclides da Cunha era engenheiro, mas se destacou no cenário brasileiro do começo do século XX como escritor.
Os Sertões é uma das primeiras obras a
romper com a visão romântica do Brasil enquanto terra paradisíaca. Nesse livro,
Euclides da Cunha construiu uma espécie de narrativa negativa de um povo
massacrado pela miséria e pela injustiça social. Segundo o autor, a realidade
da guerra era muito diferente da que o governo dizia. Aparentemente o motivo
desencadeador da revolta foi o fanatismo religioso e o cangaço, mas na
realidade os profundos motivos foram o sistema latifundiário, a servidão e o
abandono social da região.
O livro está
dividido em três partes: na primeira, Euclides descreve a terra, o cenário em
que se desenvolverá o enredo; no segundo, o autor faz uma descrição do homem,
explicando a origem dos jagunços e cangaceiros. Destaca-se nesse momento a
descrição do líder do movimento, Antônio Conselheiro. Na terceira parte,
encontra-se a grande talvez a maior riqueza do livro, nela Euclides da Cunha
apresenta o conflito em si. Somente depois de várias expedições é que os
revoltados são vencidos. Dos mais de 20 mil brasileiros em Canudos, restaram
apenas 4: um velho, dois homens feitos e uma criança na frente de um exército
de 5 mil homens.
Veja a imagem de outro importante autor pré-modernista:
Lima Barreto teve uma vida muito atribulada, principalmente por
ser pobre e negro, numa época marcada por várias formas de preconceito. Ao
contrário de Machado de Assis, que alcançou a notoriedade ainda em vida, Lima
Barreto sofreu muito com o preconceito racial, com o alcoolismo e com as frequentes
crises depressivas.
Lima Barreto, sentindo as dores do
preconceito e da pobreza, mostrou grande identificação com as pessoas
marginalizadas da sociedade da época, com as quais sempre conviveu. Sua obra é
uma literatura sobre o povo e para o povo, seus textos apresentam uma linguagem
simples e direta, assemelhando-se à linguagem jornalística, panfletária. O que
lhe causou muitas críticas.
Lima Barreto
soube como nenhum outro pré-modernista retratar com muito realismo a vida dos
subúrbios cariocas e as desigualdades sociais do Rio de janeiro do início do
século XX, uma época de grande desenvolvimento e transformações.
Entre seus
livros mais conhecidos está Triste Fim de Policarpo Quaresma.
Nesse romance narrado em terceira pessoa, através de uma forte carga humorística,
Lima Barreto conta a história do Major Policarpo Quaresma. O livro é uma
caricatura da vida política brasileira no período posterior à proclamação da
República.
Policarpo
Quaresma é um fanático, uma espécie de Dom Quixote brasileiro. Possuidor de um
nacionalismo extremo, Quaresma tenta evitar a todo custo a influência da
cultura europeia na cultura brasileira.
Entre suas várias tentativas de
preservar a cultura nacional o major chega a escrever uma carta ao Congresso
Nacional. Veja com que objetivo:
“Policarpo Quaresma, cidadão brasileiro, funcionário público, certo de
que a língua portuguesa é emprestada ao Brasil; certo também de que, por este
fato, o falar e o escrever em geral, sobretudo no campo das letras, se veem na
humilhante contingência de sofrer continuamente censuras ásperas dos
proprietários do língua; sabendo, além, que, dentro de nosso país, os
escritores, com especialidade os gramáticos, não se entendem no tocante à
correção gramatical, vendo-se, diariamente, surgir azedas polêmicas entre os
mais profundos estudiosos do nosso idioma, usando o direito que lhe confere a
Constituição, vem pedir que o Congresso Nacional decrete o tupiguarani como
língua oficial e nacional do povo brasileiro”.
Depois de
muita confusão Quaresma é internado como louco. Ao sair do hospício seu
nacionalismo parece ter diminuído um pouco, mas se lança em outra batalha,
desejava reformar a agricultura do país.
Veja outro conhecido autor do pré-modernismo brasileiro:
Monteiro Lobato foi uma figura muito polêmica, ao contrário da
impressão que a maioria das pessoas tem hoje a seu respeito. Hoje, falar em
Lobato é lembrar do escritor de livros infantis e criador do Sítio do Pica-pau
Amarelo, mas sua produção não se limita a esse gênero.
Monteiro Lobato foi um escritor que
retratou como ninguém o atraso das regiões interioranas de São Paulo. Ele foi o
criador de um dos símbolos do atraso e da ignorância do caipira. Ele é o
criador da figura do Jeca Tatu.
Lobato tinha um gênio muito forte, desde
criança mostrou-se rebelde. Foi um dos primeiros a dizer que havia petróleo em
terras brasileiras, chegando a ser preso por isso, durante o período da
ditadura militar. Seu jeito explosivo foi responsável por um dos motivadores do
movimento modernista. Monteiro Lobato, num artigo intitulado “Paranóia ou mistificação?”, faz duras
críticas ao trabalho modernista da pintora Anita Malfatti.
Veja o tom de suas palavras:
“Há duas espécies de artistas. Uma composta dos que veem normalmente as
coisas e em conseqüência fazem arte pura, guardados os eternos ritmos da vida,
e adotados, para a concretização das emoções estéticas, os processos clássicos
dos grandes mestres (...)
A outra espécie é formada dos que vêem anormalmente a natureza e a
interpretam à luz de teorias efêmeras, sob a sugestão estrábica excessiva. São
produtos do cansaço e do sadismo de todos os períodos de decadência; são frutos
de fim de estação, bichados ao nascedoiro (...) Embora eles se deem como novos
precursores duma arte a vir, nada é mais velho do que a arte anormal ou
teratológica: nasceu com a paranóia e com a mistificação (...) Sejamos
sinceros; futurismo, cubismo, impressionismo e tutti quanti não passam de
outros tantos ramos da arte caricatural (...)”
Graça Aranha é o autor de Canaã, que juntamente com Os Sertões, dá início ao Pré-Modernismo
brasileiro. Nessa obra Graça Aranha narra o processo de colonização alemã no
Espírito Santo.
Augusto dos Anjos, como já foi visto,
apresenta uma classificação problemática. Ele era conhecido como o autor do
pessimismo, do mau gosto, do escarro e dos vermes.
Psicologia de um vencido
Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênese da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.
Profundissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.
Já o verme – este operário das ruínas
– Que o sangue podre das carnificinas
Come e à vida em geral declara guerra,
Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!
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