quinta-feira, 2 de junho de 2022

Revolução Tecnológica

 


A expressão Revolução Tecnológica compreende as mudanças profundas e radicais que estão ocorrendo aceleradamente, nos modernos sistemas de produção de bens e serviços.

Para muitos historiadores, a Revolução Tecnológica teve início logo após a Segunda Guerra Mundial. Ela está intimamente ligada à invenção do computador e ao desenvolvimento científico, aliados às aplicações práticas de novos conhecimentos, particularmente ao desenvolvimento da indústria química.

Com ela, surgiram os materiais sintéticos, propiciando novos produtos e aperfeiçoando outros, dando-lhe mais resistência, maior durabilidade, economia de energia e outras qualidades mais. É o caso, por exemplo, das fibras, colas e resinas sintéticas, que encontram aplicações nos mais variados setores, do esporte à Medicina, da Odontologia à indústria têxtil; ou dos materiais plásticos, que tomam o lugar de produtos metálicos, transformando inteiramente o setor industrial; ou, ainda, o caso da petroquímica, revolucionando as embalagens, os cosméticos e inúmeros outros setores.

Como acontecia na Revolução Industrial, e numa escala muito maior cada novo invento da Revolução Tecnológica estimula o surgimento de outros, num ritmo acelerado e em campos diversificados. Novos materiais e produtos são criados e desenvolvidos rapidamente, gerando novos produtos e novas indústrias, capazes de repetir o mesmo ciclo, indefinida vezes. Como exemplos, podem ser lembradas as indústrias de semicondutores e de circuitos impressos, que viabilizam a indústria de informática, a qual, por sua vez, deu origem a robótica. Ou a indústria de vidros metálicos, ligada ao surgimento da fibra ótica. Com tanta mudança tecnológica, não é de admirar que, segundo pesquisas efetuadas em países mais desenvolvidos, cerca de 80% dos produtos utilizados hoje eram desconhecidos no início do século XX.

O desenvolvimento da eletrônica e a miniaturização de componentes eletrônicos originaram uma nova indústria: a microeletrônica. Graças a ela foi possível criar máquinas que multiplicaram as capacidades do cérebro humano de maneira fantástica.

Para se ter uma ideia do que representou a miniaturização, convém recordar alguns marcos da história da informática. O primeiro computador digno desse nome, ou seja, o primeiro a utilizar o sistema binário, em cálculos integrados, foi o Electronic Numeric Integrator and Computer (Eniac), desenvolvido nos Estados Unidos, como arma de guerra, para fazer cálculos de tabelas balísticas no fim da Segunda Guerra Mundial. Analisando suas características, é difícil considerar que aquele foi o “avô” das máquinas modernas, cada vez mais poderosas. O Eniac ocupava 96 m², ou seja, a área de um apartamento médio de três quartos. Para funcionar, precisava de 17 mil válvulas e exigia três ou quatro operadores.

Com o desenvolvimento da eletrônica, as coisas mudaram rapidamente, a partir da invenção do transistor que substituía as válvulas com grande vantagem. O segundo avanço veio com a invenção do circuito integrado, que conseguiu reunir vantajosamente, numa pequena placa, diversos transistores, resistências e outros componentes, com ligações entre eles.

A realidade virtual, que já existe como diversão, promete façanhas incríveis, que poderão resultar em grandes progressos, por exemplo, nos campos de Engenharia, Educação e Medicina.

E os computadores continuam evoluindo, no sentido de se tornarem de uso mais simples, serem mais baratos, terem memórias mais possantes e combinarem diferentes funções num único equipamento, que pode funcionar como computador, telefone, vídeo telefone e fax.

Problemas à vista

A capacidade extraordinária de armazenamento de informações, de manipulação de dados e de efetuação rápida de complicados cálculos explica o interesse despertado pelos computadores e sua rápida difusão em inúmeras atividades. Em trabalhos de escritório, por exemplo, um computador bem operado pode substituir vários trabalhadores, efetuando registros, buscando informações, realizando cálculos, transcrevendo dados, atualizando informações…

No comando de outras máquinas, os computadores podem realizar atividades diversas, desde a exploração submarina às tarefas de linha de produção ou à realização de atividades perigosas, como desativação de bombas.

Essa versatilidade e a capacidade de produção, aliadas às economias que o computador proporciona, explicam a ampla difusão dessas máquinas. Não é de estranhar que, cada vez mais, ocupem o lugar de trabalhadores, nos mais diversos setores de atividades.

Eles têm suprimido postos de trabalho e vão continuar fazendo isso, à medida que são automatizados os processos fabris, simplificadas e agilizadas as tarefas de vários serviços. Estarão, também, tornando ultrapassado inúmeros trabalhadores, desde operários não especializados até altos administradores.

Por outro lado, é preciso reconhecer que os computadores criam numerosos empregos nos vários campos de sua atuação, na produção e manutenção de equipamentos, na criação de programas, na comercialização, na operação de equipamentos.

Uma rede de informações

 A presença do computador no mundo atual torna-se ainda mais evidente através da Internet. A palavra inglesa net significa rede. No mundo da informática, diz respeito à interligação de computadores, para que um possa compartilhar dados com outro, trocar informações, acessar equipamentos comuns, como banco de dados, impressoras, etc. Esse tipo de ligação existe desde a década de 60.

Em 1969, uma agência do governo dos Estados Unidos interligou os computadores de vários centros de pesquisa, que já funcionavam como redes locais. Criou-se, assim, uma rede entre redes, que foi subdividida, mais tarde, em segmentos: um voltado para o uso militar (Milnet) e outro para a pesquisa científica (Arpanet). A interligação criada entre essas redes é que se chamou Internet, e que seria mais tarde, ampliada para uma rede mundial, servindo às comunicações de todos os tipos, não apenas às pesquisas científicas.

Hoje, a internet tornou-se uma super-rede, envolvendo países de todos os continentes. Na internet, circulam informações sobre os mais diversos assuntos, desde discussões filosóficas e religiosas até jogos, lazer, carnaval, receitas culinárias, etc., etc., etc.

A utilização depende do interesse de cada um dos milhões de usuários. Pode-se conversar sobre inúmeros temas, compartilhar jogos, visitar museus, fazer roteiros turísticos, estudar, atualizar-se em conhecimentos profissionais, e por aí afora.

Na interminável lista de possibilidades oferecidas pela Internet, uma das mais importantes é a atuação em prol da cidadania. Associações, grupos e pessoas estão cada vez mais fazendo da rede mundial um instrumento poderoso de defesa da cidadania, comunicando-se com autoridades e órgãos governamentais, trocando informações, relatando experiências, promovendo campanhas, denunciando crimes., etc.

O poder da informação

A Guerra do Golfo usou maciçamente as novas tecnologias de informação. Com computadores participaram de inúmeras operações de guerra, desde o recrutamento de soldados até o lançamento de mísseis, passando pelo planejamento de munições e de alimentos, o atendimento a feridos e outras atividades estratégicas. Ao final, ficou bem claro que possui informação, associada ao conhecimento científico e ao domínio de tecnologia, é ter poder.

Fonte: Gleuso Damasceno Duarte – Jornada Para o Nosso Tempo; Editora Lê.


 

terça-feira, 31 de maio de 2022

PRODUÇÕES CONTEMPORÂNEAS - EM PORTUGAL E NO BRASIL

 

As principais produções contemporâneas em Portugal e no Brasil.

Agustina Bessa-Luís é considerada pela crítica uma das grandes revelações da moderna Literatura Portuguesa. Ficou conhecida no meio literário a partir de sua vitória num concurso promovido por um importante editora portuguesa, seu livro foi escolhido por unanimidade entre mais de trinta outros concorrentes.

O livro A Sibila conta a história de três gerações da família Teixeira, com destaque para as figuras femininas da casa, em especial para Quina, uma mulher forte e decidida. A palavra sibila do título refere-se à Quina e significa, pessoa com inquietação espiritual, uma espécie de feiticeira.

Veja a imagem de José Saramago, outro importante autor português contemporâneo:

 

Nos últimos tempos, José Saramago é um dos escritores portugueses mais lidos e traduzidos para outras línguas, tanto que em 1999, ganhou o Prêmio Nobel de Literatura. Entre suas principais obras estão: O evangelho segundo Jesus Cristo e Memorial do Convento.

O livro O evangelho segundo Jesus Cristo, provocou um grande escândalo na época em que foi publicado, dizem as más línguas que Saramago só não foi excomungado pela igreja católica porque era ateu. Nesse livro, Saramago reconta o evangelho de Jesus Cristo, sob um outro prisma, a narrativa é toda construída a partir de um processo de humanização da figura de Jesus Cristo, em detrimento de seu caráter divino.

O livro Memorial do Convento é uma narrativa histórica que investiga o período da Inquisição (séculos XVII e XVIII) em Portugal. De uma maneira geral, predominam na obra de Saramago os parágrafos longos e uma extrema preocupação vocabular.

Veja as principais Vanguardas da poesia modernista no Brasil:

VANGUARDAS MODERNISTAS

Concretismo

Poesia-Práxis

Poesia Social

Poesia Marginal

A poesia concreta, acreditando que o verso tradicional já estava ultrapassado, propôs uma poesia voltada para os aspectos materiais da palavra, ou seja, para seus recursos gráficos. Nessa concepção a palavra é tida como objeto, como coisa concreta.

Veja os três representantes dessa poesia:

 

Décio Pignatari, Haroldo de Campos e Augusto de Campos.

Décio Pignatari, Haroldo de Campos e Augusto de Campos foram os idealizadores da poesia concretista. Suas ideias começaram a circulara a partir da revista Noigandres (palavra de origem provençal que significa “antídoto contra o tédio”). Mas essa poesia só foi lançada oficialmente em 1956, por ocasião da Exposição Nacional de Arte Concreta, realizada no Museu de Arte Moderna de São Paulo.

O poema Beba Coca-Cola é um dos símbolos da poesia concretista:

O poema de Décio Pignatari transforma, a partir do jogo de palavras e significados, uma das mais conhecidas propagandas do mundo numa antipropaganda.

A poesia-práxis surgiu em consequência de alguns desentendimentos entre os concretistas. Alguns poetas abandonaram o grupo e voltaram-se para a força energética da palavra. Segundo eles, a palavra era capaz de gerar outras palavras e significados. Nessa concepção a palavra é tida como energia, como um corpo vivo. O  termo práxis vem do grego e significa ação.

Mário “Chami” foi o principal representante da poesia- práxis, veja um de seus textos:

Agiotagem

um

dois

três

o  juro: o prazo

o  pôr / o cento/ o mês/ o ágiop o r c e n t á g i o.

dez

cem mil

o  lucro: o dízimoo ágio/ a moral/ a monta em péssimo e m p r é s t i m o.

muito nada

tudo

a quebra: a sobra

a monta/ o pé/ o cento/ a quota h a j a  n o t a agiota.

                                                                 Mário Chamie

Os poetas que se dedicaram à poesia social, contrários aos exageros formais do concretismo, buscaram um retorno ao verso mais tradicional, à linguagem simples e às questões sociais da época.

Veja o poema Não há vagas, de Ferreira Gullar.

                        Não há vagas

O preço do feijão não cabe no poema. O preço

do arroz não cabe no poema. Não cabem no poema o gás

a luz o telefone

a sonegação do leite da carne do açúcar do pão.

O funcionário público não cabe no poema com seu salário de fome sua vida fechada em arquivos.

Como não cabe no poema o operário

que esmerila seu dia de aço e carvão

nas oficinas escuras - porque o poema, senhores, está fechado: “não há vagas” Só cabe no poema o homem sem estômago a mulher de nuvens a fruta sem preço

O poema, senhores, não fede nem cheira.

                         Ferreira Gullar

A poesia marginal recebe essa denominação porque não era publicada pelas grandes editoras, ou seja, estava à margem delas. Na maioria das vezes os próprios poetas produziam as cópias para serem distribuídas em locais públicos. Com o passar do tempo muitos dos chamados poetas marginais tiveram suas obras aceitas pelas mesmas editoras que no passado recusavam-nas.

Veja o poema O assassino era o escriba, de Paulo Leminski, um ex-marginal:

O assassino era o escriba

Meu professor de análise sintática era do tipo sujeito inexistente.

Um pleonasmo, o principal predicado da sua vida, regular com paradigma da 1ª conjugação.

Entre uma oração subordinada e um adjunto adverbial, ele não tinha dívidas: sempre achava um jeito assindético de nos torturar com um aposto.

Casou com a regência.

Foi infeliz.

Era possessivo como um pronome.

E ela era bitransitiva.

Tentou ir para os EUA.

Não deu.

Acharam um artigo indefinido em sua bagagem.

A interjeição do bigode declinava partículas expletivas, conectivos e agentes da passiva, o tempo todo.

Um dia, matei-o com um objeto direto na cabeça.

Paulo Leminski


MODERNISMO NO BRASIL – TERCEIRA FASE

 


A terceira fase do Modernismo brasileiro é conhecida como a fase da reflexão e da universalidade temáticaApós a deposição de Getúlio Vargas e o término da Segunda Guerra Mundial, a literatura brasileira entra numa fase a que muitos chamam de Pós-Modernismo.
Na poesia, autores da “geração de 45”, os neoparnasianos, rejeitam as propostas de 22. Concomitante a eles surge um poeta inclassificável: João Cabral de Melo Neto. A intensa produção de romances e contos marcam a prosa, que se orienta para o regionalismo, com Guimarães Rosa e, para a sondagem psicológica, com Clarice Lispector. As décadas 1960 a 1990 veem surgir uma prosa multifacetada.
Três escritores destacam-se pela pesquisa de linguagem na terceira fase do Modernismo: Guimarães Rosa e Clarice Lispector na prosa, e João Cabral de Melo Neto na poesia. No entanto, a “geração de 45”, representada por Péricles Eugênio da Silva Ramos, Ledo Ivo, Geir Campos, Mário Quintana, é neoparnasiana. Negando o ideário de 1922, esses poetas revalorizaram a rima, a métrica e usaram um vocabulário mais erudito, afastando-se do coloquialismo.
Em primeiro lugar, destaca-se o interesse na análise psicológica das personagens, levando a uma abordagem penetrante dos problemas gerados pela tensão existente entre os indivíduos e o contexto social em que vivem. Essa característica está presente nos romances e contos de Clarice Lispector, Osman Lins, Lygia Fagundes Telles, Nélida Pinon, Autran Dourado, Luiz Vilela e Raduan Nassar entre outros.* Essa abordagem, por vezes, realiza-se de forma direta, numa linguagem objetiva e forte, conduzindo o leitor ao âmago das misérias do quotidiano e aos mecanismos de opressão do mundo contemporâneo. É o que ocorre, em diferentes níveis, nas obras de Dalton Trevisan, Rubem Fonseca, João Antônio, Antônio Callado, Ignácio de Loyola Brandão, Márcio Souza e outros.
Outro caminho trilhado é o chamado realismo fantástico, que expressa uma visão crítica das relações humanas e sociais por meio de narrativas que transfiguram a realidade, fazendo coexistir o lógico e o ilógico, o fantástico e o verossímil. Destacam-se, nessa linha, as obras de Murilo Rubião e José J. Veiga.
Por último, devemos fazer referência ao regionalismo, tendência que desde o Romantismo constitui fonte preciosa para a literatura brasileira. A intenção de representar a realidade do interior do país, com seus tipos humanos e problemas sociais, é comum a Herberto Sales, Mário Palmério, Bernardo Élis, José Cândido de Carvalho, Adonias Filho e, sobretudo, Guimarães Rosa, autor que constitui verdadeiro marco na história da prosa regionalista moderna pelo alto nível de elaboração estética que conseguiu atingir.

Veja os principais representantes dessa 3ª fase Modernista:

3ª Fase (1945 em diante) REFLEXÃO

Guimarães Rosa

Clarice Lispector

João Cabral de Melo Neto

Destacam-se nesse período: Guimarães Rosa, Clarice Lispector, na prosa e João Cabral de Melo Neto, na poesia.

A partir das novas contribuições da Linguística, da atração pelo místico e do introspectivo os autores dessa geração 45 instauraram novos caminhos na Literatura Brasileira. Nessa fase, o texto literário deixa de ser apenas a representação da realidade e adquiri um valor em si mesmo.

Veja a imagem do primeiro e grande representante da terceira geração modernista:

 


Guimarães Rosa foi um grande estudioso, principalmente de línguas. Alguns estudiosos de sua obra afirmam que ele aprendeu sozinho o russo e o alemão. Essa paixão por línguas se reflete em quase todos os seus textos. Ele faleceu três 
dias depois de ter tomado posse na Academia Brasileira de Letras.

Veja as principais características de sua obra:

REGIONALISMO

UNIVERSALISMO

CRIAÇÃO LINGÜÍSTICA

Assim como outros autores, Guimarães utiliza a relação do homem com a paisagem árida do sertão mineiro como matéria-prima de seus textos. Entretanto seu regionalismo apresenta um novo significado extrapola os limites da realidade brasileira, atingindo o plano universal. Como dizia o próprio autor, “o sertão é o mundo”. Tanto que podemos interpretá-lo de várias maneiras: como realidade geográfica, social, política e até mesmo numa dimensão metafísica. 
    Outra característica fundamental de Guimarães Rosa é o seu poder inovador, sua habilidade em trabalhar e inventar palavras. Seus textos são repletos de neologismos (neo= novo, logismo vem de logos que significa palavra), ou seja, neologismos são palavras novas. Dizem que Guimarães sempre andava com um caderninho no bolso anotando palavras e expressões características do falar do povo brasileiro e a partir delas criava outras tantas.

Veja alguns exemplos de seus famosos neologismos:

“desafogaréu” – “cigarrando” – “justinhamente”

“êssezinho”         “ossoso”           “retrovão”

“agarrante”       “bisbrisa”          “desfalar”

Outra característica é o seu poder de fusão dos gêneros literários. Guimarães Rosa não ficou preso a um único gênero. Segundo a crítica literária, ele e Clarice Lispector conseguiram desromancizar o romance, aproximando-o da poesia.

Veja o que o próprio autor diz sobre a sua obra:

        “Não, não sou romancista; sou um contista de contos críticos.

Meus romances e ciclos de romances são na realidade contos nos quais se unem a ficção poética e a realidade. Sei que daí pode facilmente nascer um filho ilegítimo, mas justamente o autor deve ter um aparelho de controle: sua cabeça. Escrevo, e creio que este é o meu aparelho de controle: o idioma português, tal como usamos no Brasil; entretanto, no fundo, enquanto vou escrevendo, extraio de muitos outros idiomas. Disso resultam meus livros, escritos em um idioma próprio, meu, e pode-se deduzir daí que não me submeto à tirania da gramática e dos dicionários dos outros. A gramática e a chamada filologia, ciência linguística, foram inventadas pelos inimigos da poesia”.

Guimarães Rosa

Veja a capa de Sagarana, seu primeiro livro:

Sagarana é um livro composto por nove contos escritos à moda das fábulas. Note que o próprio título do livro também é um neologismo criado pelo autor. A palavra saga, de origem germânica, significa um canto heroico, uma lenda, e rana, de origem indígena, significa à maneira de, à espécie de.

Veja o índice de Primeiras Estórias, outro importante livro desse autor:

                                                             

Esse índice ilustrativo, feito por Luís Jardim, foi ideia do próprio Guimarães. Cada sequência de desenho sintetiza o enredo das 21 estórias que formam o livro. Essas estórias foram retiradas de fatos corriqueiros, de situações fantásticas ou engraçadas, numa proximação com as estórias narradas pelos contadores de “causos” muito comuns no sertão mineiro.

Entre os principais contos de Primeiras Estórias, destacam-se: “A terceira margem do rio”, “O espelho” e “A menina de lá”.

Mas somente a partir de 1956, ano de publicação da sua obra-prima, que o autor alcança a notoriedade.

Veja a capa de Grande Sertão: Veredas:

Grande Sertão: Veredas foi traduzido para muitas línguas, sendo muito vendido em vários países. E é considerado a expressão máxima do regionalismo universalista de Literatura Brasileira.

O romance Grande Sertão: Veredas é construído a partir da narrativa de Riobaldo, um ex-jagunço, que questiona a existência do diabo. O narrador conta a história de sua vida, marcada por vinganças, disputas e mortes. O espaço físico é o sertão. Entre as personagens destacam-se o próprio Riobaldo e o valente Diadorin. Depois de muitas idas e vindas, no final da história Riobaldo descobre que na realidade Diadorin, por quem sempre nutriu um forte sentimento, era uma mulher.

Veja a imagem da representante feminina da terceira fase modernista:

Clarice Lispector aprofunda-se num caminho já percorrido por outros autores no início do movimento modernista, a literatura de caráter introspectivo e intimista. Clarice sempre foi muito mística e supersticiosa, tanto que em 1976, representou o Brasil num Congresso de Bruxaria, na Colômbia.

Clarice Lispector dedicou-se à prosa de sondagem psicológica, à análise das angústias e crises existenciais, ou seja, dedicou-se à análise do mundo interior de suas personagens. Clarice rompeu com a linearidade da estrutura do romance, seus textos baseiam-se no fluxo de consciência (na expressão direta dos estados mentais), na memória. Tempo, espaço, começo, meio e fim deixaram de ser importantes. Segundo a própria autora “o importante é a repercussão do fato no indivíduo” e não o fato em si. Outra característica de Clarice Lispector é o frequente uso do monólogo interior, técnica em que o narrador conversa consigo mesmo, como se estivesse divagando. Entre seus livros mais conhecidos estão: Perto do Coração Selvagem, Laços de Família e A Hora da Estrela, último livro publicado em vida.

Veja a imagem de João Cabral de Melo Neto, outra importante figura dessa geração:

Embora frequentemente estudado como um poeta da geração de 45, João Cabral de Melo Neto apresenta características bem diversas dos escritores dessa fase. Guiado pelo raciocínio lógico, voltou-se para a concretude, para a análise objetiva da realidade.

João Cabral de Melo apresentava uma grande preocupação com a construção formal de seus textos, procurando eliminar tudo o que fosse supérfluo. Caracterizou-se pela linguagem direta e precisa, contrária ao subjetivismo. Para ele os poemas não eram fruto de inspiração, mas de construção. Daí ser conhecido como o “engenheiro das palavras”.

João Cabral de Melo Neto conquistou notoriedade internacional graças ao longo poema Morte e Vida Severina – um auto de natal pernambucano, que em 1969, foi encenado por um grupo de jovens atores do TUCA, Teatro da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

Morte e Vida Severina narra a história de um retirante pernambucano que deixa sua terra castiga pela seca e parte em busca de uma vida melhor, mas ao longo de suas andanças só encontra a fome, a miséria e a morte.

Veja alguns fragmentos da grande obra-prima desse autor:

                Morte e vida Severina

O retirante explica ao leitor quem é e a que vai.

_ O meu nome é Severino, não tenho outro de pia. Como há muitos Severinos, que é santo de romaria, deram então de me chamar Severino de Maria; como há muitos Severinos com mães chamadas Maria, fiquei sendo o da Maria do finado Zacarias

                 (...)

Somos muitos Severinos iguais em tudo na vida: na mesma cabeça grande que a custo é que se equilibra, no mesmo ventre crescido sobre as mesmas pernas finas, e iguais também porque o sangue que usamos tem pouca tinta. E se somos Severinos iguais em tudo na vida, morremos de morte igual, mesma morte severina: que é a morte de que se morre de velhice antes dos trinta, de emboscada antes dos vinte, de fome um pouco por dia (de fraqueza e de doença que é a morte Severina ataca em qualquer idade, e até gente não nascida)

             (...)

                    João Cabral de Melo Neto


MODERNISMO NO BRASIL - PROSA

 SEGUNDA FASE (PROSA)

       Passada a fase mais agressiva da luta modernista, observamos, a partir do decênio de 1930, que a literatura brasileira começa a caminhar em direção a seu amadurecimento, sobretudo com a estreia de uma nova geração de escritores que iriam se firmar como autenticamente modernos, preocupados com os problemas humanos e sociais de seu tempo. A prosa da 2ª fase modernista caracteriza-se pelo regionalismo, pela relação do homem com o meio em que vive.

 A Literatura Brasileira já apresentava uma tendência regionalista. Desde o Romantismo, a busca de traços particulares da realidade brasileira já estava presente em algumas obras, entretanto, neste período, a partir das conquistas da primeira fase modernista e das ideias socialistas, os autores dão um novo tom a esse regionalismo. O livro A bagaceira de José Américo é considerado o primeiro romance regionalista do Modernismo. Mas seu valor deve-se mais à temática histórica da seca, dos retirantes e ao aspecto social do que aos aspectos literários.

O ROMANCE NEO-REALISTA MODERNO

    Refletindo as preocupações sociais e políticas que agitavam o Brasil na época, desenvolveu-se um tipo de ficção que enveredou para o documentário social e o romance político. A publicação, em 1928, de A bagaceira, de José Américo de Almeida, costuma ser indicada como marco inicial dessa série de obras cuja intenção básica foi a denúncia dos problemas econômicos do Nordeste, dos dramas dos retirantes das secas e da exploração do homem num sistema social injusto. Nessa linha neo-realista, destacaram-se Graciliano Ramos, José Lins do Rego, Jorge Amado, Rachel de Queiroz e Amando Fontes.

Veja os principais autores da prosa dessa segunda fase:

2ª FASE MODERNISTA (1930-1945) PROSA:

Raquel de Queirós
Graciliano Ramos
Jorge Amado
Érico Veríssimo
José Lins do Rego

         Quase todos esses autores voltaram-se basicamente para os temas do Nordeste, como a seca, o cangaço e o ciclo açucareiro. Com exceção de Érico Veríssimo que apresentou uma obra voltada para as relações do homem e a paisagem do Sul do Brasil.

Veja a imagem da representante feminina da prosa dessa 2ª fase:

 

Raquel de Queirós foi a primeira mulher a se “eleger imortal” na Academia Brasileira de Letras. Suas obras regionalistas destacam-se pela reflexão sobre a figura feminina numa sociedade patriarcal.

Em seu livro O quinze, conta a história da luta de um povo contra a seca e a miséria,  tema marcante da prosa modernista da segunda geração.  A força da mulher nordestina também é tratada em toda sua obra. Entre as suas figuras femininas destacam-se: Conceição em O quinze e Maria Bonita em O Lampião.

Veja a imagem de Graciliano Ramos, outro importante autor desse momento:

Graciliano Ramos é considerado pela crítica literária o melhor ficcionista dessa segunda fase.

Sua obra é marcada pela ausência de sentimentalismo e por um forte poder de síntese, refletida na linguagem direta e precisa. Entre seus livros destacam-se Memórias do Cárcere e São Bernardo. Memórias do Cárcere é uma narrativa autobiográfica que analisa as atrocidades cometidas pela Ditadura Vargas. Por suas ligações com o partido comunista Graciliano Ramos foi realmente preso durante um ano. Em São Bernardo, Graciliano Ramos ao contar a história de Paulo Honório, rico proprietário da fazenda São Bernardo, que se casa com a professora Madalena, personagem fortemente influenciada por ideias progressistas, faz uma reflexão sobre o processo de coisificação do ser humano, (“muitas vezes mais preocupado com o ter e do que com o ser”).

Mas é com outro livro que Graciliano Ramos alcança maior notoriedade. Veja as próximas imagens:

 

Menino Morto, de Cândido Portinari.

 

Família de Retirantes, de Cândido Portinari.

Menino Morto e Família de Retirantes apresentam o tema central de Vidas Secas - grande livro de Graciliano Ramos.

Vidas Secas é um romance que narra a história de uma família de retirantes que abandona sua terra atingida por uma forte seca. A família é formada por Sinhá Vitória, a mãe; Fabiano, o pai; seus dois filhos, denominados apenas como menino mais velho e menino mais novo e os animais: o papagaio e a cachorra Baleia.

Veja um fragmento de Vidas Secas em que a família inicia a viagem em busca de uma vida melhor:

“A caatinga estendia-se, de um vermelho indeciso salpicado de manchas brancas que eram ossadas. O voo negro dos urubus fazia círculos altos em redor dos bichos moribundos.

- Anda, excomungado.

O pirralho não se mexeu, e Fabiano desejou matá-lo. Tinha o coração grosso, queria responsabilizar alguém pela sua desgraça. A seca aparecia-lhe como um fato necessário – e a obstinação da criança irritava-o. Certamente esse obstáculo miúdo não era culpado, mas dificultava a marcha, e o vaqueiro precisava chegar, não sabia onde.

                                                 (...)

 Pelo espírito atribulado do sertanejo passou a ideia de abandonar o filho naquele descampado. Pensou nos urubus, nas ossadas, coçou a barba ruiva e suja, irresoluto, examinou os arredores. Sinhá Vitória estirou o beiço indicando vagamente uma direção e afirmou com alguns sons guturais que estavam perto. Fabiano meteu a faca na bainha, guardou-a no cinturão, acocorou-se, pegou no pulso do menino, que se encolhia, os joelhos encostados no estômago, frio como um defunto. Aí a cólera desapareceu e Fabiano teve pena. Impossível abandonar o anjinho aos bichos do mato. Entregou a espingarda a Sinhá Vitória, pôs o filho no cangote, levantou-se, agarrou os bracinhos que caíam sobre o peito, moles, finos como cambitos. Sinhá Vitória aprovou esse arranjo, lançou de novo a interjeição gutural, designou os juazeiros invisíveis.        E a viagem prosseguiu, mais lenta, mais arrastada, num silêncio grande”.

Graciliano Ramos

A secura do ambiente e a dureza da vida aos poucos iam embrutecendo as personagens.

Veja outro importante nome dessa fase:

Jorge Amado é talvez um dos autores mais conhecidos pelo público jovem. Isto porque, muitos de seus livros foram adaptados para a TV e o cinema. E ainda hoje, é um dos escritores brasileiros que mais vendeu livros.

Seus livros traçam um verdadeiro e completo quadro do povo brasileiro, em especial do povo baiano. A linguagem simples, marcada por expressões populares, a preocupação com os costumes e as tradições populares e o bom humor fizeram de Jorge Amado um dos mais queridos escritores brasileiros.

Sua vasta produção é comumente dividida em função da temática. Assim encontramos:

DIVISÃO TEMÁTICA DA OBRA DE JORGE AMADO

Romances da Bahia
Romances ligados ao ciclo do cacau
Crônicas de costumes

Romances da Bahia= Que retratam a vida das classes oprimidas na urbana Salvador. São livros de denúncia das desigualdades sociais. Entre eles destaca-se: Capitães da Areia.

Romances ligados ao ciclo do cacau= Que retratam a exploração dos trabalhadores rurais, pela economia latifundiária no Nordeste. Segundo o próprio Jorge Amado, foi a luta do cacau que o tornou romancista. Entre esses romances destacam-se: Cacau e Terras do Sem Fim.

Crônicas de costumes= Que partem dos cenários do agreste e da zona cacaueira para uma reflexão sobre a vida, os amores e os costumes da sociedade. São desse ciclo as conhecidíssimas figuras femininas de Jorge Amado, como Gabriela, cravo e canela; Dona Flor e seus dois maridos, Tieta do Agreste e Teresa Batista cansada de guerra.

Érico Veríssimo é o grande representante da região Sul do Brasil nessa segunda fase. E assim como Jorge Amado, também foi muito querido pelo público leitor.

Sua obra é frequentemente dividida em romances urbanos, históricos e políticos. Em seus romances urbanos analisa os conflitos e os valores de uma sociedade em crise. Entre os principais livros dessa categoria estão: Clarissa e Olhai os lírios do campo. A sua grande obra prima é a trilogia histórica O tempo e o vento, que narra a disputa pelo poder político entre importantes famílias na região Sul. Entre as personagens principais estão Ana Terra e Rodrigo Cambará.

O livro Incidente em Antares, é um romance político em que Érico Veríssimo explora o absurdo e o fantástico. Num dado momento do romance os coveiros da cidade entram em greve e os mortos por sua vez, resolvem ressuscitar e denunciar a corrupção e a podridão moral existente na cidade. Ocorre uma fusão entre o plano real e o imaginário.

E para concluirmos a aula, veja a imagem de José Lins do Rego:

 

José Lins do Rego, à direita sem chapéu e de óculos, foi um apaixonado por futebol, nessa foto, tirada no Maracanã, ele assistia ao jogo do seu time predileto, o Flamengo do Rio de Janeiro.

José Lins do Rego foi um autor muito identificado com os costumes do povo e sua obra pautou-se fundamentalmente nas recordações de um menino que conviveu com as fazendas produtoras de cana. Seus principais temas são: da decadência dos engenhos produtores de açúcar e da estrutura patriarcal, as disputas políticas na região nordeste e o cangaço. Entre seus livros destacam-se: Menino de Engenho e Fogo Morto.

Veja um fragmento do livro Menino de engenho:

“Coitado do Santa Fé! Já o conheci de fogo morto. E nada é mais triste do que engenho de fogo morto. Uma desolação de fim de vida, de ruína, que dá à paisagem rural uma melancolia de cemitério abandonado. Na bagaceira, crescendo, o mata-pasto de cobrir gente, o melão entrando pelas fornalhas, os moradores fugindo para outros engenhos, tudo deixado para um canto, e até os bois de carro vendidos para dar de comer aos seus donos. Ao lado da prosperidade e da riqueza do meu avô, eu vira ruir, até no prestígio de sua autoridade, aquele simpático velhinho que era o Coronel Lula de Holanda, com seu Santa

Fé caindo aos pedaços (...)”


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