terça-feira, 21 de junho de 2022

Revolução Industrial

A substituição das ferramentas pelas máquinas, da energia humana pela energia motriz e do modo de produção doméstico pelo sistema fabril constituiu a Revolução Industrial; revolução, em função do enorme impacto sobre a estrutura da sociedade, num processo de transformação acompanhado por notável evolução tecnológica.
A Revolução Industrial aconteceu na Inglaterra na segunda metade do século XVIII e encerrou a transição entre feudalismo e capitalismo, a fase de acumulação primitiva de capitais e de preponderância do capital mercantil sobre a produção. Completou ainda o movimento da revolução burguesa iniciada na Inglaterra no século XVII.

Etapas da industrialização

 Podem-se distinguir três períodos no processo de industrialização em escala mundial

- 1760 a 1850 – A Revolução se restringe à Inglaterra, a "oficina do mundo". Preponderam a produção de bens de consumo, especialmente têxteis, e a energia a vapor.

- 1850 a 1900 – A Revolução espalha-se por Europa, América e Ásia: Bélgica, França, Alemanha, Estados Unidos, Itália, Japão, Rússia. Cresce a concorrência, a indústria de bens de produção se desenvolve, as ferrovias se expandem; surgem novas formas de energia, como a hidrelétrica e a derivada do petróleo. O transporte também se revoluciona, com a invenção da locomotiva e do barco a vapor.

- 1900 até hoje – Surgem conglomerados industriais e multinacionais. A produção se automatiza; surge a produção em série; e explode a sociedade de consumo de massas, com a expansão dos meios de comunicação. Avançam a indústria química e eletrônica, a engenharia genética, a robótica. 

Etapas do processo de produção

O artesanato, primeira forma de produção industrial, surgiu no fim da Idade Média com o renascimento comercial e urbano e definia-se pela produção independente; o produtor possuía os meios de produção: instalações, ferramentas e matéria-prima. Em casa, sozinho ou com a família, o artesão realizava todas as etapas da produção.
A manufatura resultou da ampliação do consumo, que levou o artesão a aumentar a produção e o comerciante a dedicar-se à produção industrial. O manufatureiro distribuía a matéria-prima e o artesão trabalhava em casa, recebendo pagamento combinado. Esse comerciante passou a produzir. Primeiro, contratou artesãos para dar acabamento aos tecidos; depois, tingir; e tecer; e finalmente fiar. Surgiram fábricas, com assalariados, sem controle sobre o produto de seu trabalho. A produtividade aumentou por causa da divisão social, isto é, cada trabalhador realizava uma etapa da produção.
Na maquinofatura, o trabalhador estava submetido ao regime de funcionamento da máquina e à gerência direta do empresário. Foi nesta etapa que se consolidou a Revolução Industrial. Quatro elementos essenciais concorreram para a industrialização: capital, recursos naturais, mercado, transformação agrária. 

Origens da Revolução Industrial

No decorrer do século XVIII, a Europa Ocidental passou por uma grande transformação no setor da produção, em decorrência dos avanços das técnicas de cultivo e da mecanização das fábricas, a qual se deu o nome de Revolução Industrial. A invenção e o uso da maquina permitiram o aumento da produtividade, a diminuição dos preços e o crescimento do consumo e dos lucros.
As origens da Revolução Industrial podem ser encontradas nos séculos XVI e XVII, com a política de incentivo ao comércio adotada pelos países absolutistas A acumulação de capitais nas mãos dos comerciantes burgueses e a abertura dos mercados proporcionada pela expansão marítima estimularam o crescimento da produção, exigindo mais mercadorias e preços menores. Gradualmente, passou-se do artesanato disperso para a produção em oficinas e destas para a produção mecanizada nas fábricas.

Pioneirismo Inglês

Foi a Inglaterra o pais que saiu na frente no processo de Revolução Industrial do século XVIII. Este fato pode ser explicado por diversos fatores. A Inglaterra possuía grandes reservas de carvão mineral em seu subsolo, ou seja, a principal fonte de energia para movimentar as máquinas à vapor e as locomotivas à vapor. Além da fonte de energia, os ingleses possuíam grandes reservas de minério de ferro, a principal matéria-prima utilizada neste período.

A mão-de-obra disponível em abundância (desde a Lei dos Cercamentos de Terras), também favoreceu a Inglaterra, pois havia uma massa de trabalhadores procurando emprego nas cidades inglesas do século XVIII. A burguesia inglesa tinha capital suficiente para financiar as fábricas, comprar matéria-prima e máquinas e contratar empregados. O mercado consumidor inglês também pode ser destacado como importante fator que contribuiu para o pioneirismo inglês.

Outro fator determinante, foi a existência de um Estado liberal na Inglaterra, que desde 1688 com a Revolução Gloriosa. Essa revolução que se seguiu à Revolução Puritana (1649), transformou a Monarquia Absolutista inglesa em Monarquia Parlamentar, libertando a burguesia de um Estado centralizado e intervencionista, que dará lugar a um Estado Liberal Burguês na Inglaterra um século antes da Revolução Francesa. 

Os principais recursos tecnológicos

Na segunda metade do século XVIII, foram introduzidas importantes inovações tecnológicas na Inglaterra, como a máquina de fiar, a máquina a vapor e o tear mecânico. Essas inovações acabaram provocando grandes transformações no modo de organização do trabalho.






Empresários e proletários

O novo sistema industrial transforma as relações sociais e cria duas novas classes sociais, fundamentais para a operação do sistema.   Os empresários (capitalistas) são os proprietários dos capitais, prédios, máquinas, matérias-primas e bens produzidos pelo trabalho. Os operários, proletários ou trabalhadores assalariados, possuem apenas sua força de trabalho e a vendem aos empresários para produzir mercadorias em troca de salários.

Exploração do trabalho

No início da revolução os empresários impõem duras condições de trabalho aos operários sem aumentar os salários para assim aumentar a produção e garantir uma margem de lucro crescente. A disciplina é rigorosa, mas as condições de trabalho nem sempre oferecem segurança. Em algumas fábricas a jornada ultrapassa 15 horas, os descansos e férias não são cumpridos e mulheres e crianças não têm tratamento diferenciado.

Mulheres e crianças operárias recebiam salários inferiores àqueles pagos aos homens adultos. Nesta fotografia, vemos crianças trabalhando numa fábrica de ferramentas na França, por volta de 1880.

Surgem dos conflitos entre operários, revoltados com as péssimas condições de trabalho, e empresários.

Desdobramentos sociais

A Revolução Industrial alterou profundamente as condições de vida do trabalhador braçal, provocando inicialmente um intenso deslocamento da população rural para as cidades, com enormes concentrações urbanas. A produção em larga escala e dividida em etapas irá distanciar cada vez mais o trabalhador do produto final, já que cada grupo de trabalhadores irá dominar apenas uma etapa da produção.

Na esfera social, o principal desdobramento da revolução foi o surgimento do proletariado urbano (classe operária), como classe social definida. Vivendo em condições deploráveis, tendo o cortiço como moradia e submetido a salários irrisórios com longas jornadas de trabalho, a operariado nascente era facilmente explorado, devido também, à inexistência de leis trabalhistas.

O desenvolvimento das ferrovias irá absorver grande parte da mão-de-obra masculina adulta, provocando em escala crescente a utilização de mulheres a e crianças como trabalhadores nas fábricas têxteis e nas minas. O agravamento dos problemas socioeconômicos com o desemprego e a fome, foram acompanhados de outros problemas, como a prostituição e o alcoolismo.

Os trabalhadores reagiam das mais diferentes formas, destacando-se o movimento “ludista” (o nome vem de Ned Ludlan), caracterizado pela destruição das máquinas por operários, e o movimento “cartista”, organizado pela “Associação dos Operários”, que exigia melhores condições de trabalho e o fim do voto censitário. Destaca-se ainda a formação de associações denominadas “trade-unions”, que evoluíram lentamente em suas reivindicações, originando os primeiros sindicatos modernos.

O divórcio entre capital e trabalho resultante da Revolução Industrial, é representado socialmente pela polarização entre burguesia e proletariado. Esse antagonismo define a luta de classes típica do capitalismo, consolidando esse sistema no contexto da crise do Antigo Regime.



O poder da Igreja na Idade Média

A religião cristã nasceu durante o Império Romano. Por séculos se expandiu, conquistando poder e grande número de adeptos. Em 313 obteve do governo romano o direito ao culto; em 391 foi transformada em religião oficial do império.
Entretanto, o poder da Igreja só se consolidaria com a conversão dos povos germânicos ao catolicismo. Com isso, a Igreja sobreviveria à desagregação do Império Romano do Ocidente, ao mesmo tempo que se transformava na mais poderosa instituição de seu tempo.

            Igreja Católica - instituição basilar da Idade Média

Em uma sociedade fragmentada, a Igreja católica garantia não só a unidade religiosa, mas também a política e cultural. Com o controle da fé, ela ditava a forma de nascer, morrer, festejar, pensar, enfim, de todos os aspectos da vida dos seres humanos no mundo medieval.

No tempo das catedrais

A Igreja católica foi a instituição mais poderosa da Idade Média. Numa época em que a riqueza era medida pela quantidade de terras, a Igreja chegou a ser proprietária de quase dois terços das terras da Europa ocidental. Era a grande senhora feudal, participando das relações de suserania e vassalagem e controlando a servidão dos camponeses.
Todos os bispos dominavam porções significativas de terras. Aliás, ser bispo podia significar o controle de muita riqueza.
Ao contrário da nobreza – que tinha seus bens repartidos por heranças, casamentos, lutas pela posse da terra, etc. –, a Igreja só acumulava riquezas, já que os bens não pertenciam aos religiosos, mas a própria instituição.
Assim, usufruindo do poder que tinha sobre as consciências, a Igreja católica pôde acumular grande riqueza material. À medida que essa riqueza crescia, o alto clero, constituído por aqueles que ocupavam cargos mais elevados na hierarquia interna da Igreja, distanciava-se dos assuntos religiosos.
Controlando o poder espiritual e material, a Igreja foi responsável por manter, em grande parte, a ordem social da Idade Média.

Organização do clero

Os sacerdotes da Igreja dividiam-se em duas grandes categorias:
Clero secular – formado por sacerdotes que viviam fora dos mosteiros, hierarquizados em padres, bispos, arcebispos etc. No ponto mais alto dessa hierarquia estava o papa, que era o bispo de Roma e, segundo a tradição católica, o sucessor de São Pedro – um dos doze apóstolos de Cristo e considerado pela Igreja Católica como o primeiro papa. Nem sempre a autoridade papal foi aceita por todos os membros da Igreja, mas em fins do século VI ela acabou se firmando, em grande parte, devido ao talento político-administrativo do papa Gregório Magno (540-604).
Clero regular – formado por sacerdotes que viviam nos mosteiros e obedeciam às regras de sua ordem religiosa (beneditinos, franciscanos, dominicanos, carmelitas, agostinianos). Afastados do contato direto com o cotidiano das pessoas não consagradas exclusivamente à religião, os monges dedicavam seu tempo à vida religiosa e a realização de atividades agrícolas, pastoris e artesanais, bem como aos trabalhos intelectuais.

A vida nos mosteiros

Nem todos os cristãos eram a favor de a Igreja acumular riquezas e criticavam a vida luxuosa que muitos bispos e padres levavam. Procurando retomar os ensinamentos e a vida pobre de Cristo, muitos religiosos optaram por uma vida mais simples, recusando os bens materiais. Surgiram assim as ordens monásticas.
Dentre as novas ordens, destacaram-se as criadas por São Bento, em 529, por São Francisco de Assis, em 1210, e por São Domingos de Gusmão, em 1217. As ordens compreendiam mosteiros que abrigavam homens ou mulheres.
A ordem dos beneditinos defendia que os monges deveriam levar uma vida simples, rezando, trabalhando, estudando e obedecendo a seus superiores.
Os membros dessa ordem eram eruditos. Foram eles que transcreveram a maior parte das obras literárias gregas e romanas, sendo, em grande parte, responsáveis por sua preservação.
Inspirados no Evangelho, os franciscanos procuravam ajudar os pobres e professavam votos de pobreza, castidade e obediência. O mesmo ocorria com os membros da ordem dominicana.
Desta forma, essas ordens passaram a representar uma oposição às práticas do alto clero medieval.

Abadias: centros de oração, trabalho e produção intelectual

Na Idade Média foram fundadas inúmeras abadias. Algumas tornaram-se muito famosas e existem até hoje, como a de Melk, na Áustria.
Recebe o nome de abadia a residência de monges ou de monjas governados por um abade ou por uma abadessa.
As abadias medievais eram praticamente autossuficientes. Tinham geralmente igrejas, bibliotecas, muitos quartos (celas), oficinas para a produção e conserto de ferramentas e carroças, estrebarias e cocheiras, cozinhas, etc.
Localizavam-se sempre no centro de uma grande propriedade, onde eram cultivados trigo, cevada, centeio, videiras, frutas, etc. eram também criados porcos, galinhas, perus, patos, bois, vacas, cavalo, etc.
Os próprios monges trabalhavam no cultivo e na criação. Alguns, porém, passavam todo o tempo na biblioteca, copiando e estudando as obras dos gregos e romanos. Eram os monges copistas. Eles produziram verdadeiras obras de arte. Nas margens das páginas, desenhavam ilustrações, chamadas iluminuras, utilizando um tipo de letra que hoje, conhecemos como gótica.
Nas abadias, além do trabalho, grande parte do tempo era dedicada à oração e ao canto sacro.
As abadias contavam também com numerosos servos, que executavam os trabalhos mais pesados.

As heresias

Apesar de todo o seu poder, a Igreja católica encontrava resistência por parte de grupos ou pessoas que se opunham a alguns de seus dogmas. O ato de se opor à Igreja era chamado de heresia; quem a praticava era considerado herege e condenado pela Igreja. É importante destacar que na Europa medieval não se questionava a existência de Deus, mas apenas a forma como essa fé deveria ser manifestada.
Um exemplo de heresia era a seita dos valdenses, surgidas no século XII. Eles adotavam a pobreza absoluta, não aceitavam os juramentos e a pena de morte. Defendiam ainda que qualquer pessoa podia rezar a missa.
Para combater seitas e pessoas hereges, a Igreja católica adotou uma série de medidas que culminou com a criação dos Tribunal do Santo Ofício, no século XIII. Esses tribunais mandavam investigar os casos suspeitos, havia julgamentos e castigos, muitas vezes a condenação à morte. Para obter a confissão, os inquisidores faziam uso da tortura física.

Questão das Investiduras

A quem caberia nomear sacerdotes para os cargos eclesiásticos: ao papa ou ao imperador?
Esse problema, conhecido como Questão das Investiduras, remonta a meados do século X, quando o imperador Oto I, do Sacro Império Romano Germânico, passou a intervir nos assuntos da Igreja. Fundou bispados e abadias, nomeou seus titulares e, em troca da proteção que concedia à Igreja, controlava as ações do papa. As investiduras (nomeações) feitas pelo imperador visavam interesses pessoais e do reino, dando margem a corrupção entre os membros do clero. Bispos e padres colocavam seu compromisso com o soberano acima da fidelidade ao papa.
No século XI surgiu um movimento reformista liderado pela Ordem Religiosa de Cluny, que pretendia recuperar o poder da Igreja. Em 1703, os ideais de Cluny ganharam força, com a eleição do papa Gregório VII. Ele adotou uma série de medidas reformistas, entre as quais: a instituição do celibato (1074) e a proibição da investidura de sacerdotes a cargos eclesiásticos pelo Imperador (1075).
Reagindo à atitude do papa, Henrique IV, imperador do Sacro Império, considerou-o deposto. Gregório VII, em resposta, excomungou-o. Desenvolveu-se, então um conflito aberto entre o Imperador e o papa. Esse conflito só foi resolvido em 1122, pela Concordata de Worms, que adotou uma solução de meio termo: caberia ao papa a investidura espiritual dos bispos, e ao imperador, a investidura temporal – antes de assumir a posse da região que lhe foi designada (bispado), o bispo também deveria jurar fidelidade ao Imperador.


segunda-feira, 20 de junho de 2022

Pré-história brasileira

1- As culturas do Pleistoceno (até 12 mil anos atrás)

Uma periodização da Pré-história brasileira muito aceita pelos arqueólogos leva em consideração principalmente os aspectos culturais dos grupos que habitavam o Brasil na Pré-história. Essa periodização, que adotaremos aqui, apresenta dois grandes períodos: cultura do Pleistoceno e culturas do Holoceno.

Na geologia, Pleistoceno é o nome dado ao período em que ocorreram as glaciações e que se estende de 1,8 milhão de anos até 12 mil anos atrás.

As culturas brasileiras do Pleistoceno correspondem às mais antigas do Brasil. São encontrados vestígios dessas culturas em Minas Gerais, goiás, Piauí, Pernambuco e Rio Grande do Norte. Os grupos pleistocenos eram nômades e mais ou menos coesos, sendo formados por um número reduzido de membros. Viviam em cavernas e abrigos sob rochas no topo de colinas ou próximas a rios. Produziam ferramentas em pedras para abater os animais e retirar sua pele.

No período pleistoceno, o clima era mais frio e seco. A natureza oferecia fauna abundantes, fornecendo caça de pequeno e médio porte, que podia ser apanhada com porretes e armadilhas.

Nessa época também encontramos a chamada megafauna, composta por grandes animais, como o cliptodonte (tatu gigante) e a preguiça-gigante. A megafauna também era alvo da caça dos homens pré-históricos, mas em menor grau, tanto pela dificuldade na captura quanto pelo fato de esses animais competirem com os humanos os mesmos recursos.

O que dizem as evidencias

As pesquisas arqueológicas feitas em sítios do Pleistoceno descobriram ossadas humanas, artefatos de pedra (como seixos lascados, batedores e lascas) restos de fogueiras contendo detritos alimentares. Esses restos orgânicos mostram o consumo de carne de anta, capivara, veado, paca, tatu, tamanduá, lagarto, ema e peixe. Além de caça, esses grupos se alimentavam de frutos, raízes e tubérculos, que eram abundantes no período.

Os fósseis humanos mais antigos já encontrados no Brasil datam do pleistoceno. Eles foram encontrados no século XIX em uma caverna na região de Lagoa Santa, em Minas Gerais. No mesmo local, na década de 1970, foram encontrados ossos e o crânio de uma mulher, batizada pelos arqueólogos de Luzia, em referência a Lucy, o mais antigo fóssil humano encontrado na África.

A análise do crânio de Luzia indica que ela tem parentesco com grupos ligados às correntes migratórias da Austrália e do Pacífico do que com grupos das estepes asiáticas que vieram pelo Estreito de Bering, o que reforça o debate sobre a antiguidade do homem na América.

2-As culturas do Holoceno (de 12 mil anos atrás até o presente)

O Holoceno divide-se em duas fases, a pré-ceramista (entre 12mil e 5 mil anos atrás) e a ceramista (a partir de 5 mil anos atrás). Essa divisão tem como critério a produção de cerâmica, considerada uma evolução tecnológica muito importante em qualquer cultura.

Nesse período, com o domínio da agricultura, as populações pré-históricas tiveram um crescimento demográfico sensível e alguns grupos deixaram de ser nômades para se tornar sedentários. O cultivo da terra proporcionou uma mudança nas atividades econômicas e no nível tecnológico dessas populações pré-históricas, acarretando mudanças em todos os aspectos do seu modo de vida.

As culturas pré-ceramistas

Por volta de 12 mil anos atrás, ocorreu uma mudança climática global, que marcou o fim da era glacial. O aumento da temperatura e o derretimento da camada de gelo que cobria grande parte da superfície terrestre levaram a destruição de muitas savanas, que eram o habitat dos grandes animais, e a formação de amplas florestas. Na América, a destruição das savanas levou a extinção de muitos animais, como o mamute, o mastodonte e a preguiça-gigante.

Nas regiões Centro-Oeste e Nordeste do Brasil, as culturas pré-ceramistas ainda são pouco conhecidas, mas se sabe que no cerrado e na caatinga havia uma concentração forte de caçadores-coletores em sítios a céu aberto e abrigos sob rochas. Os instrumentos em pedra desses grupos, utilizados para raspar couro ou madeira, eram lascados em apenas uma das faces, dentro da tradição Itaparica. Mais tarde, a partir de 8 mil anos atrás, esses instrumentos em pedra foram substituídos por lascas simples.

Na região Sul do país destacam-se outras duas tradições: a umbu e a humaitá. A tradição umbu é associada à presença de caçadores-coletores das regiões de planalto, que se espalharam mais tarde pelos vales. Seus utensílios em pedra, principalmente pontas de flechas e lascas, tinham como característica serem adornados em ambos os lados, sendo produzidos a partir de vários tipos de pedras.

Da tradição umbu à tradição humaitá

Existem indícios claros de que os grupos da tradição umbu sepultavam seus mortos, colocando-os sobre cinzas de fogueiras e enterrando o corpo com alguns objetos, como colares e conchas. Além de utilizarem pedras e conchas, essa tradição também produzia objetos com ossos (furadores retocados, agulhas e anzóis curvos) e adornos de dentes de tubarão.

Pouco mais tarde, percebemos que a tradição umbu desapareceu em algumas regiões, dando lugar à tradição humaitá, correspondente a grupos que habitavam os barrancos e terraços próximos a rios, tendo uma economia baseada ainda na coleta de vegetais e na pesca. Seus instrumentos de pedra eram mais pesados, compostos por machados bifaces e pedras com lascamento simples, mais sem ponta de flecha.

A cultura dos sambaquis

Um traço comum da ocupação do litoral marítimo e fluvial brasileiro são elevações formadas por areia, conchas e moluscos, por vezes de grandes dimensões. Essas elevações são conhecidas como sambaquis, palavra que em tupi significa “amontoado de conchas”.

Os sambaquis são encontrados em boa parte do Sul e do Sudeste do país (Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e São Paulo), bem como em alguns estados do Nordeste (Maranhão, Bahia e Rio Grande do Norte). A formação dos sambaquis se deve à presença de grupos coletores marinhos que viveram no litoral entre 8 mil anos atrás, e que se alimentavam de moluscos e peixes, abundante nas costas brasileiras. Os sambaquis eram morros artificiais erguidos por esses grupos, com finalidade ainda não definida pelos estudiosos. Suas dimensões variavam de dois a dez metros de altura, mas existem alguns em Santa Catarina que chegam a atingir 70 metros de altura.

Os povos dos sambaquis baseavam seu sustento principalmente da coleta de moluscos, que eram abundantes nas lagoas do litoral do Brasil. Alguns arqueólogos consideram que os sambaquis podiam servir de área de acampamento, pela quantidade de restos de caça e de alimentação escavados.

Nos sambaquis são encontradas esculturas de pedra e ossos que sugerem algum tipo de organização social rígida. Algumas sepulturas mostram também quantidades de objetos e cuidados diferenciados com os corpos, o que indicaria certa diferenciação social.

Os sambaquis sofreram por muito tempo danos causados pelo vandalismo e pela exploração econômica do material, rico em cálcio, utilizado na produção de cal. Outros ainda foram destruídos pata construção de rodovias ou por imobiliárias. Essa depredação só foi interrompida na década de 1960, quando os sambaquis foram reconhecidos como sítios arqueológicos a serem preservados pela Constituição Federal.

As culturas ceramistas

Por volta de 5 mil anos atrás, boa parte dos grupos que habitavam o Brasil passou a cultivar produtos agrícolas, especialmente a mandioca e o milho. A cerâmica tornou-se importante para esses grupos porque permitiu a preservação dos alimentos, a criação de novas técnicas de preparação de alimentos cozidos em panelas, sem ter de coloca-los diretamente sobre o fogo. Além disso, ela passou a ser usada por alguns povos como urna para enterrar os mortos.

Uma das maiores culturas agrícolas desse período foi a tupi-guarani, formada pela associação de dois ramos diferentes de povos, os tupinambás e os guaranis. Os tupi-guaranis eram povos agricultores e ceramistas que, por volta de 2mil anos atrás, se espalharam por boa parte do território brasileiro, acompanhando principalmente o litoral, estendendo-se também por países vizinhos, como o Paraguai.

A população tupi-guarani se difundiu de tal maneira que no século XVI chegava a um milhão de indivíduos, sendo até hoje uma das populações indígenas mais significativas no país. Por ser uma cultura que ainda estava presente na época da chegada dos europeus, há diversos relatos de cronistas estrangeiros que tiveram contato com esses grupos e descreveram suas crenças e costumes.

Na Amazônia podemos encontrar vários indícios de culturas expressivas da pré-história brasileira. Desde o período pré-ceramista, por volta de 12 mil anos atrás, há sinais de ocupação da Bacia Amazônica por populações de caçadores, pescadores e coletores. As culturas mais marcantes dessa região são a marajoara e a tapajônica, associadas a duas tradições ceramistas.

A cultura marajoara está ligada à tradição policroma, ou seja, que utilizava uma gama de diferentes cores em suas peças. Essa tradição surgiu na ilha de Marajó, criada pelo povo que ali habitava por volta de 3,5 mil anos atrás. A cerâmica marajoara possuía uma decoração composta por sinais padronizados que expressava mitos desse povo.

A cultura tapajônica está associada à tradição inciso-ponteada, da qual a cerâmica tapajônica é apenas a representante mais destacada. Ela é composta de vasos com figuras humanas e de animais bem modeladas e bastante estabilizadas, dos quais os vasos de cariátides (com suportes em forma de figura humana e de animal) e os de gargalo são os exemplos mais famosos.

3- As descobertas arqueológicas no Brasil

Desde o século XIX são realizadas pesquisas arqueológicas no brasil. Entre 1834 e 1846, o dinamarquês Peter Lund, pesquisando na região de Lagoa Santa, no interior de Minas Gerais, encontrou vestígios de grupos de caçadores que viveram no local há milhares de anos.

No século XX, as pesquisas se multiplicaram. Em 1975, no sítio arqueológico de Lapa Vermelha, próximo a Lagoa Santa, foi encontrado o esqueleto mais antigo da América. Com 11 500, esse esqueleto pertence a uma mulher de mais ou menos 20 anos e 1,50 m. Com traços negroides, ela ganhou o nome de Luzia.

As pesquisas na região de Lagoa Santa permitiram conhecer os hábitos dos povos que habitavam a região há milhares de anos. Esses povos são conhecidos como Homens de Lagoa Santa.

Hoje existem muitos outros sítios arqueológicos sendo estudados. Vamos conhecer com mais detalhes os de São Raimundo Nonato e Pedra Pintada, dois dos principais sítios arqueológicos do país.

Vestígios arqueológicos no Brasil

No Brasil, os mais antigos vestígios desses povos datam do período paleolítico: sambaquis, utensílios primitivos e pinturas rupestres. O conjunto de vestígios encontrados em determinada região é chamado de sítio arqueológico, e sua análise cabe à Arqueologia, a ciência que estuda os povos pré-históricos. Através desse estudo desenvolveu-se o conhecimento do período anterior à chegada de Cabral ao Brasil, em 1500.

Sambaquis são volumosos montes de conchas e esqueletos de peixes, associados a objetos de pedra, às vezes com mais de 10 metros de altura. Distribuídos por todo o litoral brasileiro, destacadamente no Sul, atestam que ali viveram grupos humanos que se alimentavam de animais marinhos há mais de 10 000 anos.

Utensílios primitivos também foram encontrados em diversos pontos do litoral e do interior do Brasil: pontas de flechas, machados e outros instrumentos, além de potes de barro, alguns decorados e usados como urna para os mortos, dentro dos quais foram achados esqueletos.

Pinturas rupestres, compostas de desenhos de figuras humanas e de animais, cenas de caça e pesca, foram encontradas nas paredes de grutas e cavernas e em lajes de pedras em lugares abertos. São famosas as pinturas rupestres de cavernas em Minas Gerais e em São Raimundo Nonato, no Piauí.

O Homem de Lagoa Santa

Desde o século XIX são realizadas pesquisas arqueológicas no Brasil. Muitos artistas e estudiosos europeus vinham pesquisar a natureza exótica do Brasil. Entre eles, o dinamarquês Peter Lund, que veio estudar nossas plantas e animais tropicais.

A descobertas dos primeiros fósseis humanos no Brasil se deve às pesquisas do naturalista dinamarquês Peter Lund. Considerado o pioneiro da paleontologia brasileira. Lund trabalhou nas grutas de Lagoa Santa, em Minas Gerais, entre 1835 e 1845. Lund, ficou fascinado com as pinturas rupestres que viu no município de Lagoa Santa. Essas pinturas retratavam animais já extintos. Escavando no interior das cavernas de Lagoa Santa, encontrou fósseis de tigres-dente-de-sabre, de megatérios e de outros animais desaparecidos há muito tempo.

Em 1840, Lund fez sua maior descoberta: desenterrou as ossadas de trinta pessoas. Junto estavam ossos de animais, machados, pontas de flecha, furadores e outros instrumentos de pedra lascada. Esses achados foram datados em cerca de 11 mil anos e ficaram conhecidos como os fósseis do Homem de Lagoa Santa.

As pesquisas permitiram conhecer os hábitos dos povos que viveram na região de Lagoa Santa, há milhares de anos. Hoje existem muitos outros sítios arqueológicos sendo estudados. Em 1975, no sítio arqueológico de Lapa Vermelha, próximo a Lagoa Santa, foi encontrado o esqueleto mais antigo da América, com 11500 anos. Esse esqueleto pertenceu a uma mulher (de mais ou menos 20 anos e 1m50cm de altura), com traços negroides, que recebeu o nome de Luzia.

O Sítio Arqueológico de Pedra Furada

A serra da Capivara, localizada no município de São Raimundo Nonato, no Piauí, é considerada um dos sítios arqueológicos mais importantes do Brasil.

As descobertas arqueológicas nessa região motivaram a criação do Parque Nacional da Serra da Capivara e a Fundação Museu do Homem Americano. Em 1991, a UNESCO tombou o parque como patrimônio da humanidade.

O sítio de Pedra Furada, foi encontrado na década de 1960. Vem sendo estudado desde o início da década de 1970, por uma equipe de estudiosos coordenada por Niède Guidon, arqueóloga franco-brasileira.

A equipe de arqueólogos, pesquisa supostos vestígios da presença humana, que teriam entre 48 mil e 40 mil anos. No local, foram encontrados além de pinturas rupestres, instrumentos de pedras lascadas, vestígios de fogueiras e cacos de cerâmicas de diferentes épocas. Submetidos ao Carbono 14, esses indícios foram datados em até 50 mil anos. Portanto, as pesquisas arqueológicas dirigidas por Niède Guidon, sugerem que os homens pré-históricos habitavam o Brasil há, aproximadamente, 50 mil anos.

Entretanto, existem dúvidas em relação aos vestígios encontrados em Pedra Furada. Como não encontraram fósseis humanos da mesma época, alguns críticos alegam que as pedras lascadas e as fogueiras podem ser resultados de causas naturais (consequência de raios, por exemplo). Caso sejam comprovadas essas estimativas sobre a antiguidade da presença humana no local, feitas pela equipe de Niède Guidon, será preciso rever as teorias sobre as rotas de imigração e de datação da presença humana no continente americano.

Povos do litoral

Por volta de 6 mil anos atrás, parte do litoral brasileiro (do Espirito Santo ao Rio Grande do Sul) foi habitada por povos seminômades, com certa unidade cultural em função da adaptação ao ambiente litorâneo. Deixaram como vestígios de sua presença os sambaquis, palavra de origem tupi que significa “monte de mariscos”.

Os sambaquis foram utilizados para enterrar os mortos com seus objetos pessoais (enfeites, utensílios e armas), o que indica uma provável preocupação religiosa com a morte.

Os estudos dos sambaquis revelam aspectos da cultura dos povos litorâneos de nossa Pré-história. Esses povos formavam aldeias com cerca de 100 a 150 habitantes em média. Viviam da coleta, da caça e principalmente da pesca. Utilizavam instrumentos feitos de pedra (enfeites, facas, flechas, machados) e de ossos (arpões, agulhas, anzóis). Tinham o domínio do fogo e assavam os alimentos, que eram divididos entre os membros do grupo.

Durante cerca de 5 mil anos, os povos do sambaquis expandiram-se com brilho e vigor. Sofreram, por fim, o ataque dos índios tupi-guaranis, vindos do interior do território brasileiro.


Pré-história - Investigando nossas origens

 Investigando nossas origens

    A Pré-história corresponde ao período que vai do surgimento do homem primitivo (hominídeo) até a invenção da escrita.

    Começa há 3,5 milhões de anos, quando surgem os macacos hominídeos, antecessores do homem moderno. A domesticação de animais, o surgimento da agricultura, a utilização dos metais e a descoberta da escrita marcam o fim dessa fase.

    O termo Pré-história tem sido criticado, pois pode sugerir que o homem desse período não deva ser incluído na História. Ora, o homem, desde seu aparecimento, é um ser histórico, ainda que ele não utilizasse a escrita. Ela não deve significar que os acontecimentos da pré-história são menos importantes do que os ocorridos em qualquer outro momento do passado; ou que uma sociedade é superior a outra, seja pelo domínio da escrita, de equipamentos técnicos seja por qualquer outro motivo.

Fontes para estudo da Pré-história

    O homem pré-histórico deixou uma série de vestígios de sua existência e de seu modo de vida: fósseis, instrumentos, pinturas etc. Entre as ciências que pesquisam essas fontes pré-históricas destacam-se a paleontologia Humana e a Arqueologia Pré-histórica.

    A Paleontologia Humana estuda os fósseis dos corpos dos homens pré-históricos, geralmente ossos e dentes, partes mais resistentes, que se preservaram ao longo do tempo.

    A Arqueologia Pré-histórica estuda objetos feitos pelo homem pré-histórico, procurando descobrir como eles viviam. Instrumentos de pedra e metal, peças cerâmicas, sepulturas são alguns desses objetos.

Evolução dos hominídeos

    Todos os seres humanos descendem do mesmo ancestral comum, o hominídeo, cujos fósseis mais antigos foram localizados no continente africano. As primeiras espécies encontradas foram o Australopithecus e o Homo habilis.

    O Australopithecus possuía uma arcada dentária e um esqueleto idênticos aos do homem atual. Além disso, já andavam sobre dois pés e possuía um cérebro pequeno. Já o Homo habilis foi o primeiro a fabricar e utilizar instrumentos para diversos fins, além de já ter domínio sobre o fogo.

    Os restos de hominídeos mais antigos são os do Australopithecus afarensis, de cerca de 3 milhões de anos, encontrados em Afar (Etiópia) em 1925. A evolução do afarensis resulta em pelo menos duas outras linhagens: o Australopithecus africanus e os Paranthropus boisel e robustus. Os Paranthropus não deixam vestígios de evolução. O Australopithecus africanus evolui para o Homo erectus ou Pitecanthropus, há cerca de 2 milhões de anos.

Homo erectus

    É o primeiro a usar objetos de osso e pedra como ferramentas e como arma, a empregar o fogo e, provavelmente, a falar. Parece ter sido o Homo erectus a última escala evolutiva até o homem atual. Foi ele quem primeiro abandonou a África, com seu nomadismo, espalhando-se pelo mundo. Antes de chegar à espécie atual – o Homo sapiens –, o homem passou por uma série de transformações, conforme atestam os fósseis encontrados em Neanderthal, na Alemanha, e em Cro-Magnon, na França.

     Evolui, há 700 mil anos, para o Homo neanderthalensis (o homem de Neanderthal) e, há 500 mil anos, para o Homo sapiens, do qual descende o homem atual. A evolução histórica dos hominídeos até o Homo sapiens não ocorre de forma linear. Agrupamentos inteiros do gênero Homo desaparecem em conseqüência de variações climáticas, condições geográficas e outros fenômenos naturais.

    Após uma longa evolução, que se iniciou há cerca de 1 milhão de anos, os descendentes dos primeiros hominídeos espalharam-se pela Ásia, África e Europa

Regiões de origem da espécie humana

    Há pelo menos duas teorias sobre o local onde surgem os antepassados do homem. A primeira sustenta, com base na descoberta do afarensis, que a origem é a África, de onde teria começado a se espalhar pelo mundo há 200 mil anos. A segunda apoia-se nos achados de restos do Homo erectus em Java, Indonésia (1,8 milhão de anos), e do Homo sapiens em Jinniushan, China (200 mil anos), e diz que a evolução de uma espécie ocorre em diferentes regiões da Terra, em momentos nem sempre coincidentes.

Divisão da Pré-história

    As fontes pré-históricas indicam que, nesse período, existiram diferentes culturas. Deduz-se que os objetos inicialmente tiveram formas variadas e foram feitos de diferentes materiais: madeira, osso, pedra lascada, pedra polida, metal.

    A partir de constatações dessa natureza, dividiu-se a pré-história em três grandes períodos:

Paleolítico ou Idade da Pedra Lascada – período em que predominou a sociedade de homens caçadores.

Neolítico ou Idade da Pedra Polida – período em que se desenvolveu a agricultura e a criação de animais.

•Idade dos Metais – período em que se desenvolveu a fundição de metais.

    Essa divisão tradicional da pré-história baseia-se em uma concepção evolucionista do processo cultural do homem. Porém essa divisão é muito criticada, pois pressupõe que todas as sociedades passaram pelas fases por ela estabelecidas, o que nem sempre ocorreu. Apesar das falhas, é uma classificação adotada no mundo inteiro.

Paleolítico
A sociedade dos caçadores-coletores

    Durante o Paleolítico, o homem tinha como principais atividades para obter alimentos: a coleta de frutos, grãos e raízes; a caça e a pesca. Aprendeu a confeccionar seus primeiros instrumentos com pedaços de madeira, osso e pedra. Os instrumentos de madeira não se conservaram, restando os de osso e pedra lascada, que constituem os predecessores mais antigos de machados, facas, perfuradores e raspadeiras.

    O controle do fogo foi uma das maiores realizações humanas do Paleolítico. Representou a primeira grande conquista do homem sobre o meio ambiente. Passaram então a utilizá-lo para se aquecer, iluminar a noite, defender-se dos animais, cozinhar os alimentos. Ao longo do tempo, o controle do fogo permitiu, por exemplo, a fundição de metais e o cozimento de argila. O domínio do fogo e a utilização das primeiras ferramentas possibilitaram ao homem vencer dois grandes inimigos: o frio e a fome.

    Para garantir sua sobrevivência, o homem teve de aprender a cooperar e a se organizar socialmente. Da eficiência dessa cooperação social dependia, por exemplo, o sucesso de uma caçada a um animal feroz e perigoso.

    O modo de vida nômade foi dominante em diversas comunidades, mas acabou evoluindo para formas sedentárias à medida que o homem desenvolveu soluções para superar as dificuldades da natureza. Surgiram, então, os primeiros clãs, formados por conjuntos de famílias cujos membros descendiam de ancestrais comuns. Cada clã era autossuficiente, produzindo o necessário para garantir a sobrevivência de seus membros. Não havia a preocupação de produzir excedente para trocar com outros clãs ou de acumular riquezas. As trocas eram realizadas apenas eventualmente. Assim, o tempo dedicado ao trabalho limitava-se ao da obtenção do alimento necessário para o grupo. O resto do tempo era preenchido com brincadeiras, festas, danças, cerimônias, rituais, refeições, banhos etc.

    O homem do paleolítico desenvolveu surpreendentes manifestações artísticas: figuras entalhadas em pedra, pinturas rupestres, modelagem em barro. A atividade artística parece ligada a rituais mágicos, pois as pinturas e as esculturas, no geral, representam animais que seriam caçados. Provavelmente, o homem paleolítico acreditava que, dessa forma, poderia dominá-los antecipadamente. 

Neolítico
A revolução agropastoril

    A característica fundamental do Neolítico está nas novas formas de relação do homem com o meio ambiente. De modo geral, durante o Paleolítico o homem apenas colhia da natureza os bens para satisfazer suas necessidades.

    No Neolítico ocorreu uma transformação radical: o homem passou a intervir decisivamente no meio ambiente. Cultivando plantas e domesticando animais, conseguiu controlar as fontes de sua alimentação. Assim, a sobrevivência humana foi se libertando das mãos coletoras, passando a depender cada vez mais das mãos produtoras.

    Essa mudança de comportamento representou uma das mais extraordinárias revoluções culturais da História, pois influenciou decisivamente no modo de vida do homem. No decorrer de um longo processo, à medida que as atividades agrícolas e pastoris se consolidavam, o homem foi abandonando a vida nômade e adotando sistematicamente o modo de vida sedentário. Com a revolução agropastoril, as comunidades puderam produzir mais alimentos do que o necessário ao consumo imediato. Passaram então, a estoca-los, procurando garantir o abastecimento nos períodos de escassez. O aumento da produção alimentar impulsionou o crescimento da população, que, em relação ao Paleolítico, multiplicou-se cerca de 20 vezes.

    Entre as principais transformações que marcaram o período Neolítico, podemos destacar:

•Aperfeiçoamento dos instrumentos de pedra – facas, machados, foices e enxadas, pilão para transformar o grão em farinha etc. passaram a ser feitos de pedra polida.

•Cerâmica – a necessidade de cozinhar e armazenar os alimentos levou o homem a criar recipientes que suportassem o calor do fogo e pudessem conter líquidos. Assim, ele desenvolveu a técnica de moldar argila, dando-lhe forma, e produziu os primeiros utensílios cerâmicos.

•Tecelagem – o homem do neolítico desenvolveu técnicas de fiar e tecer, acrescentando às suas vestimentas de couro roupas feitas de linho, algodão e lã.

•Casas e aldeias – utilizando madeira, barro, pedra e folhagem seca, o homem passou a construir sua moradia, o que representou um incremento no processo de sedentarização que vinha se desenvolvendo em decorrência da revolução agropastoril.

Vida espiritual – com a intensificação das atividades agropastoris, o homem neolítico adquiriu novos temores e preocupações relacionados, por exemplo, à variação do tempo durante o ano, à fertilidade do solo, à saúde e à reprodução de rebanhos etc. Para enfrenta-los, invocava a proteção de forças “sobrenaturais”, realizando ritos mágico-religiosos. Os menires e os dolmens provavelmente foram utilizados para reverenciar essas forças.

Uso da roda – calcula-se que foram usadas grandes toras rolantes para transportar enormes blocos de pedra dos menires e dolmens ao local desejado. Essas toras representam o início rudimentar do emprego da roda, uma das mais extraordinárias invenções humanas,

Idade dos Metais
Uma nova revolução tecnológica

    A Idade dos Metais caracterizou-se pelo desenvolvimento e difusão do processo de fundição de metais (cobre, bronze e ferro).

    Por volta de 4000 a. C., as primeiras sociedades do Oriente Próximo começaram a desenvolver a metalurgia, ou seja, a utilização sistemática de metais para a fabricação dos mais variados objetos. O primeiro metal foi o cobre. De início era martelado a frio, depois fundido no fogo e colocado em moldes de barro ou pedra. Cerca de 2000 anos mais tarde, desenvolveu-se a liga do cobre com o estanho, obtendo o bronze, um metal mais resistente. O bronze passou a ser utilizado na fabricação de lanças, espadas, capacetes, ferramentas e objetos de adorno. Os metais, muitas vezes, eram extraídos de terras distantes das oficinas metalúrgicas.

    O desenvolvimento da metalurgia representou enorme conquista tecnológica, pois possibilitou a produção de instrumentos e objetos resistentes, das mais variadas formas. Os metais, em geral, são tão duros quanto a pedra, mas podem ser modelados na forma de se desejar, ou seja, podem ser fundidos. A fusão do metal tornou possível a confecção de vários objetos, como panelas, vasos, enxadas, machados, pregos, agulhas, facas e lanças de metal. O trabalho metalúrgico exigiu habilidade, conhecimentos especializados e disponibilidade de tempo.

    Durante a Idade dos Metais, a agricultura e as pequenas vilas começaram a dar origem às sociedades de grande poder, como a do Egito e as da Mesopotâmia. 

Civilização
Novo estágio do desenvolvimento social

  Em várias regiões do mundo, as comunidades primitivas sofreram grandes transformações culturais a partir da revolução neolítica. O conjunto dessas transformações marca novo estágio do desenvolvimento social conhecido como civilização.

    O termo civilização começou a ser utilizado na França, em meados do século XVIII, com um sentido evolucionista de progresso. Segundo esse conceito, a humanidade passaria por etapas sucessivas de evolução social. Assim, alguns cientistas montaram classificações evolutivas em que procuraram enquadrar todas as sociedades, desde o Paleolítico até os dias atuais. Nessas classificações, civilização corresponderia às “altas culturas”, que seriam superiores às culturas consideradas “primitivas”, “selvagens” ou “bárbaras”.

    Grande parte dos historiadores, antropólogos e demais estudiosos da atualidade rejeitam essas noções de superioridade ou inferioridade cultural entre os povos. As sociedades humanas são diferentes, mas não podem ser hierarquizadas numa classificação linear. No entanto, o termo civilização continua bastante utilizado nos estudos históricos apenas para referir-se a uma forma própria de organização social. Nesse sentido, nas palavras do historiador Jaime Pinsky, civilização não é elogio, e pré-civilizado não pode ser tomado como ofensa.

    Alguns eventos costumam ser associados ao surgimento das sociedades civilizadas, entre os quais destacamos:

Aparecimento de classes sociais – surgem ricos e pobres, exploradores e explorados, senhores e escravos.

Formação do Estado – organiza-se um governo que administra a sociedade e controla a força militar (exército).

Divisão social do trabalho – divide-se cada vez mais a atividade dos membros da sociedade, surgindo trabalhadores especializados como metalúrgicos, ceramistas, barqueiros, vidraceiros, sacerdotes, comandantes militares etc.

Aumento da produção econômica – com o desenvolvimento das técnicas agrícolas, da criação de animais e do artesanato, a produção econômica cresce bastante. Além dos bens necessários ao consumo imediato, as sociedades começam a produzir excedentes, armazenando vários produtos para a troca comercial.

Registros escritos – acompanhando o nascimento das primeiras cidades, desenvolvem-se a escrita, a numeração, os pesos e as medidas e o calendário.

O Crescente Fértil

         A principal região do planeta onde surgiram as primeiras civilizações de que temos notícia é chamada de Crescente Fértil. Conhecida por esse nome devido ao seu traçado que faz lembrar a Lua no quarto crescente, essa região abrange parte no nordeste da África, as terras do corredor mediterrâneo e a Mesopotâmia.



    Na região do Crescente Fértil, situam-se parcial ou totalmente Egito, Israel, Líbano, Jordânia, Síria, Turquia e Iraque. Muitas das áreas férteis, depois de séculos de exploração, desapareceram e deram lugar a vastos desertos.



 

Geografia da Paraíba

    Localização e Área Territorial  da Paraíba     A população paraibana chegou a 4.059.905 em 2021, segundo nova estimativa divulgada pelo ...