Entre o final da década de 1960 e o início da década de 1970, uma nova filosofia econômica começou a ganhar força em oposição à política de bem-estar social, que predominou na Europa após a Segunda Guerra. Essa filosofia procura revisar as ideias liberais e defende menor participação do Estado na economia, a liberdade de ação das grandes empresas e a especulação financeira. Como essa filosofia econômica promoveu uma espécie de resgate do liberalismo clássico, ela passou a ser conhecida como neoliberalismo. Uma das primeiras e mais conhecidas experiências neoliberais do século XX foi implementada nos anos 1970 no Chile, durante a ditadura do general Augusto Pinochet. Em seu governo, o Chile implementou políticas de privatização de serviços públicos, como educação, saúde e previdência, e de empresas estatais. O neoliberalismo chileno opnha-se à política de bem-estar social praticada na Europa, onde o Estado possuía uma forte presença na economia e na oferta de serviços voltados à população.
Os políticos neoliberais
Como vimos nas páginas iniciais desta trilha, durante a Guerra Fria, diante do medo do avanço do socialismo e em meio à crise social, os países considerados mais desenvolvidos do bloco capitalista viram-se obrigados a garantir condições que promovessem o bem-estar social, a recuperação econômica e a prosperidade. Mas, com o declínio do socialismo e o fim da polarização política, os líderes ocidentais declararam a vitória do capitalismo e implementaram reformas neoliberais. Nos anos 1980, Ronald Reagan (1911-2004), nos Estados Unidos, e Margaret Thatcher (1925- -2013), no Reino Unido, despontavam como políticos de uma nova era, promovendo um avanço mundial da economia neoliberal. Os programas de privatizações de serviços públicos e indústrias básicas (como as que fornecem água, gás e eletricidade) implementados pelos governos de Reagan e Thatcher foram seguidos por diversos países e representaram um significativo avanço do neoliberalismo durante o período.
Ronald Reagan
Nos Estados Unidos, as crises internas e internacionais dos anos 1970 abriram espaço para o avanço das políticas neoliberais. Ronald Reagan foi eleito presidente em 1981 com o slogan “Vamos tornar a América grande novamente”. Reagan tinha forte adesão entre os eleitores brancos e conservadores. Diversos historiadores estadunidenses apontam para a centralidade das relações raciais nesse contexto. A expressão “reação branca” foi usada para caracterizar a resposta negativa de pessoas brancas ao progresso de outros grupos étnicos, que conquistavam direitos, oportunidades e uma crescente paridade cultural desde as lutas pelos direitos civis nos anos 1960. Reagan construiu uma estratégia de governo que desestruturava as políticas direcionadas a esses grupos e fomentava as rivalidades e os preconceitos étnico-raciais nos Estados Unidos.
Margaret Thatcher
Thatcher se tornou primeira-ministra do Reino Unido em 1979, com as promessas de restaurar a competitividade econômica inglesa, restringir o poder dos sindicatos, reduzir os impostos e promover privatizações. Ela se manteve no cargo até 1990. Foi a primeira mulher a ocupar essa posição na história inglesa e ficou conhecida como a “dama de ferro” por causa de suas decisões inflexíveis e ações contundentes.
O avanço das políticas neoliberais na América Latina O Consenso de Washington foi um conjunto de medidas neoliberais formuladas por economistas do Fundo Monetário Internacional (FMI), do Banco Mundial e do Departamento do Tesouro dos Estados Unidos, reunidos em Washington, D.C., nos Estados Unidos, em 1989. O objetivo era estimular o desenvolvimento econômico dos países subdesenvolvidos, que possuíam um padrão de vida baixo ou médio e baixo crescimento da economia. Na década de 1980, a América Latina atravessou um período de profunda crise econômica, caracterizada pela diminuição da renda, pelo aumento do desemprego e pela hiperinflação em diversos países, além do crescimento descontrolado da dívida externa. Em 1982, o México declarou moratória devido a sua incapacidade de arcar com sua dívida externa.
O temor de que outros países latino-americanos seguissem o caminho do México fez com que investidores do mundo todo parassem de investir na região. Esse cenário aprofundou a crise e teve como resultado o aumento da pobreza e da fome na América Latina. Assim, o Consenso de Washington defendeu a implementação de medidas neoliberais como a solução para os problemas econômicos e sociais latino-americanos. Entre elas, estavam a redução dos gastos com políticas sociais, a privatização de empresas estatais e de serviços públicos e a maior abertura da economia. No entanto, a implementação do Consenso de Washington em países como Argentina, México e Brasil teve resultados contraditórios.
De uma perspectiva mais ampla, trouxe certa estabilidade para a economia, mas o crescimento ficou abaixo do esperado. No Brasil, o aumento na entrada de empresas e produtos estrangeiros fez com que empresas nacionais falissem por não conseguirem concorrer com os produtos importados. Assim, ao longo dos anos 1990, a indústria brasileira diminuiu consideravelmente. A redução do investimento em políticas públicas e sociais voltadas à população mais pobre teve um enorme impacto na América Latina. A pobreza aumentou consideravelmente em toda a região, além da diminuição do acesso a direitos básicos, como educação e saúde pública.
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