quinta-feira, 26 de maio de 2022

REALISMO – NATURALISMO EM PORTUGAL

 

  

 

Falaremos sobre o Realismo português. Mas para começarmos é importante que você saiba o que é realismo. Veja:

                        REAL (do Latim res) = fato

REAL+ISMO                                                 = REALISMO

                        ISMO = crença, doutrina

 

Assim, Realismo é a doutrina do fato, é o movimento literário pautado na realidade. O Realismo é considerado a estética de reação aos ideais românticos, principalmente contrária ao seu idealismo e subjetivismo exagerados. Como pregava um de seus principais autores:

        “... a tendência agora é manter-se dentro do campo dos fatos e de nada mais do que fatos”.

Gustave Flaubert

Como fizemos com o Romantismo, é preciso diferenciarmos o Realismo enquanto escola literária da atitude realista. A atitude realista, entendida como a tentativa do artista em reproduzir o fato de maneira objetiva, sempre existiu em maior ou menor intensidade e sempre existirá. O que nos interessa neste curso é o Realismo com letra maiúscula, o Realismo enquanto estética literária.

Veja a próxima imagem:

 


“As fábricas na sociedade europeia”

A Revolução Industrial, iniciada no século anterior, entra numa segunda fase, marcada pelo crescente aumento das fábricas e da mão-de-obra assalariada, do proletariado. É o período da utilização do petróleo, da eletricidade, do aço, da construção das estradas de ferro, da invenção do telégrafo, entre outras transformações. É o início da estruturação do capitalismo.

O Realismo também reflete uma série de doutrinas filosóficas que eram muito difundidas na época. Entre elas, destacam-se, cronologicamente, o Positivismo de Augusto Comte, que rejeitava interpretações metafísicas da vida e defendia o pensamento científico; o Socialismo de Marx, através de seu Manifesto Comunista e o Evolucionismo de Charles Darwim, através da teoria da origem das espécies que punha em xeque as verdades pregadas pela igreja.

De acordo com os estudiosos, o marco inicial do Realismo na literatura universal é a publicação de Madame Bovary de Gustave Flaubert.

A grande característica do Realismo, como o próprio nome já sugere, era a preocupação com a realidade, com a expressão da verdade, mesmo que essa não fosse a desejada, mas também se caracterizava por muitos outros aspectos.

 – CARACTERÍSTICAS

 Veja as principais características do Realismo:

*    OBJETIVISMO – Preocupado principalmente com a verdade, o autor realista devia manter-se distante dos fatos narrados, buscando o máximo de imparcialidade e impessoalismo.

*    UNIVERSALISMO – Ao contrário do subjetivismo e individualismo da estética romântica, o Realismo buscava o que era universal. O “eu” neste período cede lugar ao “não-eu”.

*    PERSONAGENS ESFÉRICAS – Também ao do Romantismo, o

Realismo apresentava personagens mais complexas e dinâmicas, pois evoluíam psicologicamente ao longo da narrativa. Lembre-se de que no Romantismo quase todas as personagens eram lineares, ou seja, eram previsíveis, construídas a partir de um aspecto, ou eram os heróis ou eram os vilões.

*    CONTEMPORANEIDADE – O que interessa ao autor realista é o tempo presente, o hoje. Daí a frequente crítica social, procurando desmascarar a imoralidade da igreja e da burguesia da época.

*    DETALHISMO – As personagens e os locais são descritos detalhadamente pelo autor que buscava um retrato mais fiel da realidade.

O Realismo apresentou uma outra vertente, que representava a intensificação de algumas de suas características. É o chamado Naturalismo, em encontramos o Realismo levado ao extremo, principalmente no que diz respeito ao cientificismo da época e ao determinismo.

Embora dependentes, Realismo e Naturalismo, apresentam algumas diferenças:

Quadro Comparativo entre Realismo e Naturalismo:

REALISMO

NATURALISMO

      Romance documental

      Análise exterior e interior

      Ênfase psicológica

      Classes sociais dominantes

      Interpretação indireta

      Romance experimental

      Análise exterior

      Ênfase biológica

      Classes sociais inferiores

      Interpretação direta

Realismo em Portugal tem como marcos inicial a famosa Questão Coimbrã. Vamos entendê-la:


 
                             Lisboa

Mesmo com todas as transformações do período, Lisboa se mantinha como palco dos grandes escritores românticos, representados por Antônio Feliciano de Castilho.

Coimbra, por sua vez, abrigou um grupo de jovens estudantes, que representados por Antero de Quental, identificava-se mais com as novas ideias realistas.

A Questão Coimbra foi justamente o choque de ideias entre esses dois grupos.

Tudo começou quando Antônio Feliciano de Castilho fez algumas referências irônicas aos jovens escritores de Coimbra, atacando principalmente a obra de Antero de Quental.

Anos depois, praticamente o mesmo grupo de escritores realistas participou das chamadas Conferências Democráticas Lisbonense. Essas conferências eram reuniões em que se discutiam as novas tendências realistas, livres do conservadorismo português.

A grande figura da prosa realista portuguesa foi sem dúvida alguma Eça de Queirós.

EÇA DE QUEIRÓS E O REALISMO

 

Nós já vimos que o Realismo foi a estética literária da segunda metade do século XIX, considerado como um movimento de reação aos ideais românticos. Sua principal característica foi a preocupação com a realidade, buscando reproduzi-la através do objetivismo. Eça de Queirós foi o autor que, como nenhum outro, conseguiu trabalhar a temática realista. Veja sua imagem:


Eça de Queirós é considerado o maior romancista português de todo o século XIX.

 

Eça de Queirós, assim como os jovens escritores realistas, também estudou na Universidade de Coimbra, mas não participou com eles da polêmica Questão Coimbrã, que como já vimos, foi o choque entre os novos escritores, mais identificados com as novas tendências realistas, e os velhos escritores românticos de Lisboa. Eça assistiu a tudo com distância.

Mas, anos mais tarde, participou ativamente das Conferências Democráticas do Cassino Lisbonense:

Dez conferências estavam programadas, mas apenas cinco foram proferidas, pois o governo português fechou o cassino e proibiu qualquer reunião. Segundo ele, elas atacavam a religião e as instituições do Estado. Mesmo assim, elas foram responsáveis pela consolidação da nova estética.

Eça de Queirós proferiu a 4ª conferência, nela atacou diretamente o Romantismo e apresentou as principais características realistas, destacando o papel da literatura enquanto veículo de denúncia dos desequilíbrios da sociedade. Nessa ocasião, influenciado pelas idéias deterministas Eça afirmou:

“ O homem é um resultado, uma conclusão e um procedimento das circunstâncias que o envolvem. Abaixo os heróis!”.

Eça de Queirós

Segundo o determinismo, o homem era influenciado por três grandes forças: o meio, a raça e o momento. Eça nesse trecho reafirma a posição determinista ao dizer que o homem é resultado de seu meio e a amplia numa clara oposição aos românticos, daí a expressão: “Abaixo os heróis”.

Para Eça de Queirós o Realismo era uma nítida oposição ao Romantismo:

“O Realismo é uma reação contra o Romantismo: o Romantismo era a apoteose do sentimento: - o Realismo é a anatomia do caráter. É a crítica do homem. É a arte que nos pinta a nossos próprios olhos – para condenar o que houver de mau na nossa sociedade”.

Eça de Queirós

Realismo é crítica. Crítica é a palavra síntese de Eça de Queirós. O grande autor realista denunciou, como nunca fora visto, sociedade portuguesa.

Frequentemente os grandes vestibulares do Brasil incluem livros de Eça de Queirós em suas bibliografias e elaboram questões sobre as características de sua obra. Veja um exemplo de uma questão extraída de um desses exames vestibulares:

Para buscarmos a resposta é preciso verificar como sua obra esta dividida:

DIVISÃO DE SUA OBRA

Divisão da obra de Eça de Queirós

1ª Fase

(influência romântica)

O mistério da estrada de Sintra

2ª Fase

(caráter realista/naturalista)

      O crime do Padre Amaro

      O primo Basílio

      Os Maias

3ª Fase

(pós-realista)

      A ilustre casa de Ramires

      A cidade e as serras

      A relíquia

       A obra de Eça é comumente dividida em três fases. Numa primeira fase encontramos um autor ainda preso aos ideais românticos. É dessa fase o livro O Mistério da Estrada de Sintra, escrito em parceria com o amigo dos tempos de escola, Ramalho Ortigão.

       Na segunda fase encontramos a consolidação das características realistas. Essa fase tem início com a publicação de O crime do padre Amaro, considerado o primeiro romance realista português, e se estende até a publicação de Os Maias.

Já na terceira fase, encontramos um autor mais preocupado com os valores tradicionais da vida portuguesa, com a existência humana e a vida campestre. São dessa fase os livros A ilustre casa de Ramires e A cidade e as serras.

A Segunda fase é a melhor parte de sua produção literária, nela Eça de Queirós monta um amplo painel da sociedade portuguesa, retratando-a sob vários aspectos, criticando principalmente a decadência dos valores morais, a burguesia e o clero.

Eça dedicou-se ao romance de tese, muito popular na época. Esse tipo de romance parte de uma ideia central, de uma tese que vai ser demonstrada pela ação das personagens.

Foi isso que ele fez ao elaborar a trilogia dessa segunda fase:

TRILOGIA –“Cenas Portuguesas”

     O crime do Padre Amaro

     O primo Basílio

     Os Maias

Ao elaborar um painel da sociedade portuguesa, através de minuciosas descrições, Eça analisa e critica os comportamentos femininos, as ambições masculinas, a corrupção do clero, entre outros aspectos da sociedade lisboeta do século XIX.

 

LIVROS

O crime do padre Amaro tem como enredo a história de sedução de Amélia pelo padre Amaro. Amélia era uma moça solteira que acreditava em tudo o que os padres diziam. Tanto que ironicamente, Eça subtitulou o romance como cenas da vida devota. A história se passa numa cidade provinciana do norte de Lisboa, fortemente influenciada pela igreja católica. O livro foi um escândalo na época em que foi escrito.

Veja dois fragmentos do livro em que Amaro e Amélia falam sobre seus sentimentos:

 

“ Era este um dos grandes gozos de Amaro – ouvir gabar aos colegas a beleza de Amélia, que era chamada entre o clero “a flor das devotas”. Todos lhe invejavam aquela confessada. Por isso insistia muito com ela em que se ajano tasse aos domingos, à missa; zangara-se mesmo ultimamente de a ver quase sempre entrouxada num vestido de merino escuro, que lhe dava um ar de velha penitente.

(...)

            Cessaria as suas relações com Amaro, se o ousasse; mas receava quase tanto a sua cólera como a de Deus. Que seria dela se tivesse contra si Nossa Senhora e o senhor pároco? Além disso, amavao. Nos seus braços, todo o terror do céu, a mesma idéia do céu desapareceria; refugiada ali, contra o seu peito, não tinha medo das iras divinas; o desejo, o furor da carne, como vinho muito alcoólico, davamlhe uma coragem colérica; era com um brutal desafio ao céu que se enroscava furiosamente ao seu corpo”.

Existem três versões sobre O crime do padre Amaro, nas duas primeiras Amaro mata o filho assim que ele nasce. Na última versão, Amaro não mata a criança, mas essa morre misteriosamente pouco antes de Amélia, sua mãe.

Outra obra significativa é O primo Basílio, que tem como subtítulo – episódio da vida doméstica. Ao contrário de O crime do padre Amaro, ambienta-se na cidade. Nesse livro, como o próprio autor afirma está uma crítica à família lisboeta. O livro conta a história de Luisa, mulher sentimental e ociosa, que ficava a maior parte do tempo lendo romances românticos. Numa viagem do marido ela  entrega-se a um caso amoroso com seu primo Basílio. Basílio era um malandro que buscava apenas mais uma aventura, ao contrário de Luisa que estava realmente apaixonada.

Uma das partes mais conhecidas do romance corresponde à chantagem da empregada Juliana ao descobrir o adultério da patroa:

“ – Seiscentos mil-réis! Onde quer você que eu vá buscar seiscentos mil-réis?

               _ Ao inferno!_ gritou Juliana. _ Ou me dá seiscentos mil-réis, ou tão certo como eu estar aqui, o seu marido há de ler as cartas!

              Luísa deixou-se cair numa cadeira, aniquilada.

              _ Que fiz eu para isto, meu Deus? Que fiz para isto?                 Juliana plantou-se-lhe diante, muito insolente”.

Os Maias, último livro da trilogia “Cenas portuguesas” conta a história do amor incestuoso dos irmãos Carlos Eduardo da Maia e Maria Eduarda. Os dois foram separados enquanto crianças e cresceram em países diferentes. Mas acabam se apaixonando. Ao lado dessa trama central, Eça critica a futilidade e o falso moralismo da alta sociedade lisboeta.

 Veja um trecho da cena em que Carlos Eduardo descobre que Maria Eduarda era sua irmã:

“ _ E tu acreditas que isso seja possível? Acreditas que suceda a um homem como eu, como tu, numa rua de Lisboa? Encontro uma mulher, olho para ela, conheço-a, durmo com ela e, entre todas as mulheres do mundo, essa justamente há-de ser minha irmã! É impossível ... Não há Guimarães, não há papéis, não há documentos que me convençam!”.

Na terceira fase de sua obra, considerada pós-realista, Eça de Queirós identifica-se com outros ideais, como o resgate dos valores tradicionais e o elogio da vida no campo, temas tratados em A ilustre casa de Ramires e A cidade e as serras.

Já o livro A relíquia, tem como temas a crítica à hipocrisia religiosa e à falsidade humana. O romance conta a história de Teodorico Raposo, o Raposão, que faz de tudo para agradar a tia rica e herdar sua fortuna, inclusive se fingindo de beato.

A resposta correta seria não, pois mesmo falando de certas injustiças sociais, prioritariamente, a obra de Eça de Queirós critica o clero e a sociedade burguesa.

 Para finalizarmos nossa aula, nada melhor do que um fragmento do próprio Eça a respeito de sua obra, numa carta que escreveu a Teófilo Braga:

“A minha ambição seria pintar a sociedade portuguesa, e mostrar-lhe, como num espelho, que triste país eles formam - eles e elas. É o meu fim nas Cenas portuguesas. É necessário acutilar o mundo oficial, o mundo sentimental, o mundo literário, o mundo agrícola, o mundo supersticioso - e, com todo respeito pelas instituições de origem eterna, destruir as falsas interpretações e falsas realizações que lhe dá uma sociedade podre. Não lhe parece você que um tal trabalho é justo?”

Eça de Queirós

 

 

 

ROMANTISMO NO BRASIL PROSA

 



O fenômeno das três gerações românticas na poesia: a primeira era a geração nacionalista ou indianista, em que predominavam um forte nacionalismo e uma grande aversão à influência portuguesa; na segunda, também conhecida como ultrarromântica ou geração do “mal-do-século”, em que as características românticas eram levadas às últimas consequências. A angústia, a dor, o escapismo, a infância e a morte eram a temática central e a última geração, conhecida como “condoreira”, marcada pelo aprofundamento do espírito nacionalista, do liberalismo e da poesia social e libertária.

A formação de um público leitor que buscava distração, entretenimento, estimulou o aparecimento da prosa literária romântica. A esse público, composto por moços e moças das classes mais altas, profissionais liberais e pessoas da aristocracia rural, agradavam o enredo cheio de peripécias, a descrição da paisagem nacional, o final feliz.

A primeira tentativa de romance, no Brasil, foi O Filho do Pescador, de Teixeira e Sousa, publicado em 1843, uma obra de valor secundário, simples imitação de folhetins estrangeiros de segunda categoria.

Em 1844, Joaquim Manuel de Macedo inaugurou o romance brasileiro com A Moreninha, livro que teve maior receptividade do público em função da trama e da linguagem acessível.


Tendências do Romance Romântico
Floresceram no Romantismo vários tipos de romance, segundo a temática e o ambiente:

ROMANCE URBANO

São os que desenvolvem temas ligados à vida social, principalmente do Rio de Janeiro. Focaliza situações da burguesia que habita a Corte (a cidade do Rio de Janeiro), apresentando conflitos sentimentais. A variedade dos tipos humanos, os problemas sociais e morais decorrentes do desenvolvimento da cidade, tudo serviu de fonte para os nossos romancistas, dentre os quais se destacam: José de Alencar (Senhora; Lucíola), Joaquim Manuel de Macedo (A Moreninha; O moço loiro) e Manuel Antônio de Almeida (Memórias de um sargento de milícias).

ROMANCE SERTANEJO OU REGIONALISTA

Espelha a realidade (sempre idealizada) de diferentes regiões do Brasil. A atração pelo pitoresco e o desejo de explorar e investigar o Brasil do interior fizeram o autor romântico se interessar pela vida e hábitos das populações que viviam distante das cidades. Abria-se assim para o Romantismo o campo fecundo do romance sertanejo, que até hoje continua a fornecer matéria à nossa literatura. Nessa linha, destacam-se José de Alencar (O sertanejo; O gaúcho; O tronco do ipê), Taunay (Inocência) e Bernardo Guimarães (A escrava Isaura; O seminarista).

ROMANCE HISTÓRICO

Relata fatos de nosso passado colonial. Foi um dos principais meios encontrados pelos românticos para a reinterpretação nacionalista de fatos e personagens de nossa História, numa revalorização (e idealização) de nosso passado. Nessa linha, os autores mais importantes são: José de Alencar (O Guarani; As minas de prata; A Guerra dos Mascates), Bernardo Guimarães {Lendas e romances; Histórias e tradições da província de Minas Gerais) e Franklin Távora (O matuto; Lourenço).

ROMANCE INDIANISTA

Descreve costumes e tradições do índio brasileiro e o contato com o colonizador. Esse tipo de romance reflete o caráter nacionalista da literatura da época (como o Brasil não teve Idade Média, o indianismo foi a saída para a criação do herói nacional). Ainda na perspectiva de valorização de nossas origens, surge o romance indianista, que encontrou sua melhor realização nas obras de José de Alencar, que idealizou a figura do índio, exaltando lhe a nobreza e valentia (Ubirajara; Iracema; O Guarani).
Estudaremos agora, as manifestações românticas na prosa brasileira.

                TIPOS DE ROMANCE

AMBIENTAÇÃO

TIPO DE ROMANCE (TEMÁTICA)

Corte

         *Urbano

Província

*Regionalista

         *Histórico

         *Indianista

                 Romance Urbano – autores

Romance Urbano

    Joaquim Manuel de Macedo

    José de Alencar

    Manuel Antônio de Almeida

O romance urbano retratava a vida social da época sem grande aprofundamento psicológico. Tinha como cenário a cidade grande, na época a corte. Esse romance falava da vida social do Rio de Janeiro, de suas festas (os famosos saraus), passeios no campo ou no litoral.

Romance Regionalista – autores

Romance Regionalista

  José de Alencar

   Bernardo Guimarães

   Visconde de Taunay

   Franklin Távora

O romance regionalista mostrava o relacionamento do homem com o ambiente físico, descrevendo várias partes da paisagem brasileira. Alguns escritores românticos procuraram, a partir do forte sentimento nacionalista do período, retratar os lugares do Brasil que ainda não tinham sofrido a influência do contato com o colonizador. Esses escritores buscavam retratar a natureza e os traços peculiares da nossa cultura e da nossa gente.

 Romance Histórico – autores

Romance Histórico

   José de Alencar

    Visconde de Taunay

No romance histórico predominava mais a imaginação do autor do que propriamente os fatos reais. Os autores que se dedicaram a essa temática propunham uma retomada do passado, uma volta ao período da conquista definitiva das terras brasileiras e da ambição do colonizador.

Romance Indianista – autor

Romance Indianista

        José de Alencar

O indianismo, grande tema dos romances românticos no Brasil, trazia a preocupação de valorizar as nossas origens, transformando as personagens em grandes heróis. O índio era visto como o “bom selvagem”, sempre amável, bom, bonito e muito forte.

Durante a leitura dos quadros você deve ter reparado que há um nome que apareceu em todos os tipos de romance. Veja quem é o grande nome da prosa romântica no Brasil:


 

José de Alencar foi o maior representante da prosa romântica no Brasil, escrevendo livros que tratavam de toda a temática do período. Escreveu romances históricos como As minas de prata, em que ao falar dos inesgotáveis recursos do Brasil, a nova terra, narra a história de um tesouro escondido que atraia imigrantes e aventureiros. Também escreveu romances regionalistas como O gaúcho, em que retrata a vida nos pampas da região sul do Brasil.

José de Alencar produziu uma obra muito vasta, mas dados os limites do nosso curso não poderemos estudar todos os seus livros. Entre os mais conhecidos destacam-se: o romance urbano Senhora e o romance indianista Iracema.

O romance Senhora conta a história de Aurélia e Fernando Seixas, dois jovens apaixonados que sofrem pelo poder do dinheiro, pelo jogo de interesses. Aurélia e Fernando Seixas eram namorados, mas Fernando, que era muito ambicioso a abandona para se casar com uma moça mais rica. Quando já estava preste a casar com a outra, Aurélia recebe uma herança e fica muito rica e, para vingar-se do rapaz acabou oferecendo um dote muito maior para que o rapaz se casasse com ela. Ele cheio de dívidas acaba aceitando. Mas o casamento não se consuma, na realidade viviam apenas um casamento de aparências. No final, como um bom romance romântico, Fernando Seixas consegue devolver o dinheiro do dote, Aurélia confessa que sempre o amou e os dois acabam vivendo felizes para sempre...

Veja um fragmento de um outro conhecidíssimo livro de José de Alencar:

“Além, muito além daquela serra, que ainda azula no horizonte, nasceu Iracema.

Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna, e mais longos que seu talhe de palmeira.

O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado....”

Iracema é considerado o livro indianista mais estruturado de José de Alencar. Também pertencem a essa temática O Guarani e Ubirajara. No fragmento acima, o autor nos apresenta uma das índias mais conhecidas de toda a literatura brasileira. O nome da índia dá o título a obra e traz em si aspectos importantes:


IRACEMA           =            AMÉRICA                            

Iracema é um termo de origem tupi e significa “lábios de mel” é também o anagrama da palavra América. Anagrama é a formação de uma palavra a partir da troca da posição das letras de uma primeira palavra. Iracema representava a própria América, com suas belezas virgens e riquezas e também representava o contato da nova terra com o colonizador. O livro conta a história de amor da índia Iracema e de Martin, o fidalgo português. Dessa história de amor nasce Moacir, o primeiro cearense, fruto do amor de duas raças.

Outros nomes importantes da prosa romântica brasileira são: Joaquim Manuel de Macedo e Manuel Antônio de Almeida. A importância de Macedinho como era chamado, deve-se mais ao fato de ter sido ele o autor do marco inicial do Romantismo brasileiro.

Segundo a crítica literária, o livro A Moreninha é uma obra ingênua e extremamente sentimental. O livro, de enredo simples, conta a história do romance de Augusto e Carolina, a Moreninha. O obstáculo à união dos dois era uma promessa de amor feita por Augusto, ainda menino a uma garota desconhecida. Depois de várias idas e vindas, o leitor descobre que Carolina era a tal menina a quem Augusto jurou fidelidade. No final os dois ficam juntos e vivem felizes para sempre...

    Memórias de um sargento de milícias, de Manuel Antônio de Almeida é um romance em desacordo com o seu tempo. É uma obra inovadora, apresentando-se como uma verdadeira crônica de costumes. O livro conta a história de Leonardinho, considerado um anti-herói, se comparado aos heróis românticos e introduz nos romances a presença das camadas mais populares da sociedade, como os barbeiros, as parteiras, entre outros tipos.

    Embora inovador o livro não pode ser considerado como um precursor do Realismo, como o de Machado de Assis, seu realismo é ainda muito espontâneo e despretensioso.
    Ao lado da prosa romântica, nesse período temos a consolidação do teatro popular brasileiro, graças ao trabalho de Martins Pena.
    Martins Pena, em suas comédias de costumes, registrou e criticou muitos aspectos da vida brasileira da época. A linguagem simples e direta e a rapidez de suas cenas conquistaram o público. Ele preferia as comédias sobre os costumes da sociedade carioca. Era das ruas do Rio de Janeiro que surgiam seus vários tipos irônicos: as moças casadoiras, as velhas solteironas, as viúvas e os charlatões. Entre suas peças mais conhecidas está O Noviço, que até hoje é muito encenada.

AS GERAÇÕES ROMÂNTICAS NO BRASIL

 


Para efeitos didáticos, o Romantismo brasileiro tem início em 1836, com a publicação de Suspiros Poéticos e Saudades de Gonçalves de Magalhães e da Revista Niterói, em Paris e permanece no cenário literário até 1881, quando ocorre a publicação de Memórias Póstumas de Brás Cubas, romance realista de Machado de Assis e a publicação de O Mulato, romance naturalista de Aluísio Azevedo.

Ao contrário de Portugal que teve três momentos distintos em todos os gêneros. No Brasil, o fenômeno das gerações só ocorreu na poesia. Veja no próximo quadro essas gerações:

– AS GERAÇÕES ROMÂNTICAS         

Primeira GERAÇÃO - Nacionalista/Indianista
Segunda GERAÇÃO - Ultra-romântica – “Mal-do-século”
Terceira GERAÇÃO - Social e Libertária – “condoreira”
 

Na PRIMEIRA GERAÇÃO, como o próprio nome já sugere, encontramos um forte nacionalismo e uma grande aversão à influência portuguesa (ou seja, lusofobia). Como já vimos, o nacionalismo foi uma das principais características românticas, através dele há uma valorização da pátria, dos heróis nacionais e do passado histórico. Veja os principais autores dessa primeira geração:

                            Gonçalves de Magalhães

1ª GERAÇÃO

                              Gonçalves Dias

Enquanto Gonçalves de Magalhães é considerado o introdutor do Romantismo brasileiro, a Gonçalves Dias atribui-se a sua consolidação.

A produção literária de Gonçalves de Magalhães é considerada fraca por muitos críticos, sua importância se deve ao fato de ter sido ele o introdutor do Romantismo em terras brasileiras. É dele também o primeiro manifesto romântico sobre o Brasil, escrito na Revista Niterói. Veja um fragmento do seu “Ensaio sobre a história da literatura brasileira”:

“Não, oh! Brasil! No meio do geral merecimento tu não deves ficar imóvel e tranquilo, como o colono sem ambição e sem esperança. O germe da civilização, depositado em teu seio pela Europa, não tem dado ainda todos os frutos que deveria dar, vícios radicais têm tolhido o seu desenvolvimento. Tu afastaste do teu colo a mão estranha que te sufocava, respira livremente, respira e cultiva as ciências, as artes, as letras, as indústrias, e combate tudo o que entrevá-las pode.”

INDIANISMO

    Enquanto na Europa os escritores voltavam-se para os tempos da Idade Média, valorizando os heróis que ajudaram a libertar e constituir suas nações, no Brasil desenvolveu-se o Indianismo, que é uma das formas significativas assumidas pelo nacionalismo romântico.
    Sempre retratado como valente e nobre, livre das corrupções sociais e dos vícios da civilização branca, o índio surge como digno representante da nação brasileira, símbolo da nossa liberdade.
    Dentre os autores que exploraram o tema do índio em suas poesias, destaca-se Gonçalves Dias, poeta da primeira geração romântica e que será estudado a seguir.
Veja agora um dos textos mais conhecidos dessa primeira geração romântica:

Canção do Exílio

Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá,
As aves que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.

Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá,
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar – sozinho, à noite –
Mais prazer encontro eu lá,
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá,
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

                             Gonçalves Dias

    Antônio Gonçalves Dias nasceu no Maranhão em 1823 e morreu em um naufrágio em 1864. Embora seja um dos melhores poetas líricos de nossa literatura, seu nome é frequentemente associado ao Indianismo, pois foi o único a dar realmente uma dimensão poética ao tema do indígena. . Nessa linha, destacam-se os poemas "I-Juca Pirama"; "Canção do Tamoio"; "Marabá"; "Leito de folhas verdes"; "Canto do Piaga" "Deprecação".
    Como poeta lírico-amoroso, cantou os temas consagrados pelo Romantismo (amor, saudade, melancolia), mas nunca se deixou levar pelo excesso de sentimentalismo. De seus poemas, destacam-se "Se se morre de amor?", "Ainda uma vez — adeus!", "Seus olhos", "Como? és tu?".
    Sua obra poética compõe-se dos seguintes livros: Primeiros cantos (1846); Segundos cantos (1848); Sextilhas do Frei Antão (1848); Últimos cantos (1851); Os Timbiras (incompleto — 1857); Cantos (1857).

Gonçalves Dias é a grande figura desse primeiro momento, trabalhou em sua vasta obra com todos os temas iniciais do Romantismo. Veja sua imagem:

Gonçalves Dias escreveu poesias líricas fiéis às características românticas; poesias medievais, escritas em português arcaico e poesias nacionalistas. Mas é na descrição e exaltação da figura indígena que Gonçalves Dias se destaca, sendo considerado por muitos, o maior poeta indianista da literatura brasileira. O poema I-Juca Pirama é um dos seus textos indianistas mais famosos. “I-Juca Pirama” significa aquele que vai morrer. Este texto conta a história de um índio tupi que iria ser sacrificado pelos timbiras, outro povo indígena, mas pensando no pai que era cego e que dele dependia implora para não morrer. Os timbiras achando-o covarde acabam por soltá-lo. Veja agora, prestando muita atenção no ritmo, um fragmento do conhecidíssimo trecho Canto da Morte:

Canto da Morte

Meu canto de morte, 

Guerreiros, ouvi:

Sou filho das selvas,

Nas selvas cresci; 

Guerreiros, descendo 

Da tribo tupi.

Da tribo pujante,

Que agora anda errante

Por fado inconstante,

Guerreiros, nasci:

Sou bravo, sou forte,

Sou filho do Norte;

Meu canto de morte,

Guerreiros ouvi (...)

                  Gonçalves Dias

A SEGUNDA GERAÇÃO é também conhecida como Ultra Romântica. Nela, as características românticas são levadas às últimas consequências. A angústia, a dor, o escapismo, a infância e a morte tornam-se a temática central. Daí a expressão Mal-do-século. Veja os principais autores dessa segunda geração:

                              Álvares de Azevedo

2ª GERAÇÃO

                               Casimiro de Abreu

Influenciados pelos românticos europeus, sobretudo Byron e Musset, esses poetas representam o Ultra Romantismo (também chamado "mal do século"), cuja poesia é extremamente egocêntrica e sentimental, exprimindo um pessimismo doentio, uma descrença generalizada, um tédio pela vida e uma obsessão pela morte que impregna tudo de tristeza e desilusão. Escrita, na maioria das vezes, por poetas adolescentes, a poesia dessa geração é quase sempre superficial e artificial, servindo, antes, como desabafo das próprias tristezas e frustrações, procurando envolver emocionalmente o leitor. E esse envolvimento, conseguido efetivamente por alguns autores, acabou criando entre eles e o público uma ressonância afetiva que é responsável pela grande popularidade obtida por certos poetas dessa época.

Álvares de Azevedo foi o maior representante do Mal-do-século, seguido de Casimiro de Abreu. Há ainda nesse período outros autores, como Junqueira Freire e Fagundes Varela, que também levaram ao extremo as características românticas.

Contam as más línguas que os jovens poetas dessa geração, basicamente estudantes de Direito do Largo São Francisco, em São Paulo, amavam umas festinhas. Até aí tudo normal, qual o jovem que não gosta? Mas sabe onde aconteciam essas festinhas? Nos cemitérios da cidade. Conta-se que numa dessas festas, no cemitério da Consolação, os jovens coroaram uma prostituta como a Rainha dos Mortos, com caixão e tudo mais que uma rainha tinha direito, mas no final da festa, qual não foi a surpresa dos jovens? A pobre infeliz realmente tinha morrido de tanto medo. Coincidência ou não, todos os autores mais significativos desse período morreram antes dos 24 anos de idade. 

Álvares de Azevedo

    Manuel Antônio Álvares de Azevedo nasceu em 1831 em São Paulo e faleceu no Rio de Janeiro em 1852. Não teve nenhum livro publicado em vida e sua obra mais importante é Lira dos vinte anos. Escreveu ainda: Poema do frade; O Conde Lopo; Noite na taverna (contos de ambiência tétrica); Macário (obra dramática).
Apesar da curta vida, Álvares de Azevedo é o melhor representante da poesia ultra-romântica brasileira. Leitor ávido dos românticos europeus, sobretudo de Byron, conseguiu transmitir uma vibração muito grande em suas poesias, que logo encontraram eco na sensibilidade popular, fazendo dele um dos poetas mais lidos de nosso Romantismo.
    Seus poemas expressam um concepção do amor que ora idealiza a mulher, identificando-a com um anjo, ora a representa envolvida por um grande erotismo e sensualidade; nos dois casos, porém, ela é sempre inacessível, distante do poeta. O intenso sentimento da morte e o tema da evasão (fuga da vida real para um mundo de sonhos e fantasias) são outras constantes de sua poesia. Os contos de Noite na taverna se desenrolam numa ambiência tétrica e o tema do satanismo está presente nas histórias contadas pelas personagens, todos seres marginalizados (prostitutas, devassos, loucos, bêbados) que expressam descrença pelos valores sociais, morais e religiosos.

Brincadeiras à parte, veja agora um dos textos mais conhecidos dessa segunda geração romântica:

Se eu morresse amanhã

Se eu morresse amanhã, viria ao menos
Fechar meus olhos minha triste irmã; 
Minha mãe de saudades morreria 
Se eu morresse amanhã!
Quanta glória pressinto em meu futuro,
Que aurora de porvir e que manhã!
Eu perdera chorando essas coroas
Se eu morresse amanhã! (...)

                 Álvares de Azevedo

Casimiro de Abreu é outro importante autor desse momento. Em sua obra destacaram-se o pessimismo característico do mal-do-século e o saudosismo, não só da terra da terra natal, mas também da infância. Foi um dos poetas mais populares do Romantismo, principalmente pela linguagem fácil e pelo lirismo ingênuo de seus poemas. Seus temas são os mesmos dos outros poetas de sua geração, enfatizando a temática da saudade (da pátria, família, infância), marcada, portanto, pela evasão no tempo e no espaço. Leia esta estrofe de um de seus mais conhecidos poemas, também alvo de paráfrase de Oswald de Andrade no Modernismo:

Meus oito anos

Oh! Que saudades que tenho

Da aurora da minha vida, 

Da minha infância querida 

Que os anos não trazem mais!

Que amor, que sonhos, que flores,

Naquelas tardes fagueiras

À sombra das bananeiras,

Debaixo dos laranjais! (...)

                            Casimiro de Abreu

Casimiro de Abreu escreveu Primaveras, uma coletânea de versos, e o drama Camões e o Jaú.

POESIA SOCIAL

    A partir de 1860, começam a aparecer alguns autores que, embora revelem acentuada influência dos poetas das gerações anteriores (notadamente Álvares de Azevedo, Gonçalves Dias e Casimiro de Abreu), já trazem algumas novidades para a poesia do Romantismo.
    Acompanhando a crescente difusão das ideias liberais e democráticas, a poesia dessa fase expressará de modo bem evidente sua ligação com questões políticas e sociais. O desejo de igualdade e de reformas sociais encontrará eco principalmente na poesia abolicionista de Castro Alves, o melhor poeta desse momento. Além dele, que será estudado à parte, merecem destaque:
Fagundes Varela (1841-1875) — Levou uma vida tumultuada, encarnando na própria existência o modelo de poeta romântico. Deixou as seguintes obras: Noturnas; O estandarte auriverde; Vozes da América; Cantos e fantasias (que contém o famoso poema "Cântico do calvário", feito em memória do filho morto); Cantos meridionais; Cantos do ermo e da cidade; Anchieta ou o Evangelho nas selvas; Cantos religiosos; Diário de Lázaro.
Sousândrade (Joaquim de Sousa Andrade, 1833-1902) — Permaneceu obscuro em seu tempo e modernamente vem sendo valorizado, principalmente por seu estilo diferente e arrojado, distinto de tudo o que se fazia na época. Sua obra mais importante é o longo poema Guesa, nome também da personagem principal. Reunindo lendas indígenas com fatos da civilização moderna, essa obra representa, através do sacrifício do herói, segundo o crítico Alfredo Bosi, o "símbolo do selvagem que o branco mutilou".

    E para concluirmos temos a TERCEIRA GERAÇÃO ROMÂNTICA, marcada pelo aprofundamento do espírito nacionalista, do liberalismo e da poesia social e libertária. Esse período era também chamado de condoreiro. E de onde vem essa palavra?
    O condor é uma ave que consegue voar acima da Cordilheira dos Andes, assim como eram os ideais dessa geração. Os poetas condoreiros tinham ideais tão elevados que, semelhantes ao voo da ave, podiam alcançar grandes alturas.
    O grande poeta desse período é Castro Alves, que tinha como temas principais: a escravidão, a república e o amor erótico. Veja sua imagem:

 

Castro Alves

    Antônio de Castro Alves nasceu em 1847 e faleceu em 1871 na Bahia. Pode ser considerado o último grande poeta do Romantismo. Vindo após o Indianismo de Gonçalves Dias e os exageros sentimentais do Ultra Romantismo, escreveu poesias que mostram uma libertação do egocentrismo absoluto, abrindo-se para a compreensão dos grandes problemas sociais e expressando sua indignação contra as tiranias e as opressões. Cantou também a confiança no progresso e na técnica, construtores do novo mundo ("O livro e a América"). Por sua poesia abolicionista, de denúncia das injustiças e repudio pela escravatura, Castro Alves até hoje é conhecido como o poeta dos escravos.
A poesia abolicionista é sua melhor realização nessa linha social (ver "Navio negreiro", "Vozes d'África"), em que atribui ao poeta a missão de denunciar as injustiças sociais e de clamar pela liberdade (por exemplo: "Adeus, meu canto").
Esse tipo de poesia se realiza num estilo vibrante, em que predominam as comparações, metáforas, antíteses, hipérboles, apóstrofes, empregadas quase sempre em função de elementos grandiosos da natureza, que sugerem imensidão, força, majestade, como: montanhas, cordilheiras, oceanos, tempestades, furacões, astros, cachoeiras etc., configurando assim o estilo chamado Condoreirismo.
Veja um fragmento de um de seus textos mais famosos:

O Navio Negreiro

‘Estamos em pleno mar...Do firmamento
Os astros saltam como espumas de ouro...
O mar em troca acende as ardentias
Constelações do líquido tesouro (...)

Era um sonho dantesco...

O tombadilho 

Que das luzernas avermelha o brilho,
Em sangue a se banhar.

Tinir de ferros...estalar do açoite...
Legiões de homens negros como a noite, Horrendos a dançar...
Negras mulheres, suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães:
Outras, moças...nuas e espantadas,
No turbilhão de espectros arrastadas,
Em ânsia e mágoa vãs(...)
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo...
Andrada! arranca este pendão dos ares!
Colombo! fecha a porta de teus mares!

                             Castro Alves

O Romantismo, em nosso país, foi o movimento responsável pela manifestação de uma literatura genuinamente brasileira.


ROMANTISMO EM PORTUGAL E NO BRASIL

  

Em Portugal, o Romantismo é a estética literária que dá início à chamada Era Moderna ou Romântica. Didaticamente, o Romantismo Português tem início em 1825, com a publicação do poema Camões de Almeida Garrett e permanece no cenário literário até as primeiras atitudes de rebeldia de um grupo de estudantes de Coimbra, 1865, – na famosa Questão Coimbrã que abre caminho para um novo movimento: o Realismo.

A partir de suas principais características e da variedade temática, toda a produção literária desse período, divide-se em três gerações ou momentos:

No primeiro momento encontramos autores ainda presos a certos valores neoclássicos. Mas foram eles os responsáveis pela incorporação do novo estilo. As duas grandes figuras são: Almeida Garrett e Alexandre Herculano.

No segundo momento temos a intensificação das características românticas, ou seja, essas características são levadas ao exagero. É o chamado ultra-romantismo. Soares de Passos e Camilo Castelo Branco são os poetas mais populares.

Já no terceiro momento, encontramos um prenúncio do

Realismo, com os autores se distanciando das características românticas do período inicial. Destacam-se nesse momento João de Deus e Júlio Dinis.

Veja agora a imagem do primeiro grande poeta romântico português – Almeida Garrett:

 


Em seus primeiros textos encontramos um Garrett, que mesmo livre da influência árcade ainda não escreve plenamente dentro das vertentes românticas. Sua obra Camões conta a história da grande figura do Renascimento Português, da sua vida atribulada, das suas paixões e do seu amor pela pátria.

Já em Folhas Caídas (poesia) e Viagens na minha terra (prosa), encontramos um autor tipicamente romântico, voltado para o amor, para suas experiências pessoais, suas dores e angústias.

Garrett também se dedicou ao teatro, sendo considerado o fundador do teatro “nacional português”. Não confunda: Gil Vicente foi o fundador do “teatro português”. Lembre-se de que nesse momento a burguesia detinha o poder econômico e era para essa burguesia que Garrett escrevia, não para a nobreza como fez Gil Vicente em vários momentos de sua produção literária.Garrett chegou a escrever uma peça chamada Um auto de Gil Vicente, homenageandoo. Também, baseado no passado histórico, escreveu um grande drama retomando o Mito do Sebastianismo e as situações ligadas à Batalha de Alcácer-Quibir (século XII), é a peça Frei Luís de Sousa.

 Nesse período temos também a presença de outro importante autor:

Alexandre Herculano foi ativista político e ao lado de Garrett, participou das lutas liberais em Portugal. Podemos falar que Alexandre Herculano é o iniciador do romance histórico em Portugal, ele soube como ninguém, aliar as características do Romantismo ao registro histórico.

 Eurico, o presbítero, um romance histórico, é sua grande obra (presbítero é sinônimo de padre). Nessa obra, além da história do amor impossível, encontramos retratado o período das lutas da Reconquista em plena Idade Média e uma forte crítica ao celibato clerical. Nessa época estava acontecendo a expulsão dos árabes que dominaram grande parte da Península Ibérica. E quanto ao celibato, Alexandre Herculano criticava o fato do padre, do religioso de uma maneira em geral não poder se casar. Eurico e Hermengarda eram apaixonados, mas viviam um amor impossível. Os pais da moça não aceitavam o casamento e os dois, não tendo outra saída, acabam entrando para a vida religiosa. A certa altura da história, Eurico se disfarça como um Cavaleiro Negro para proteger a amada, libertando-a dos invasores árabes. Depois Hermengarda descobre que seu Cavaleiro Negro era o próprio Eurico, mas devido ao celibato, acabam se separando.

Veja o grande representante do 2º momento romântico em Portugal:

Camilo Castelo Branco foi primeiro escritor português a viver e sobreviver exclusivamente da Literatura, isto porque ele escrevia por encomenda e de acordo com o gosto popular.

O que hoje seria escrever de acordo com o nosso Ibope. Se o público estivesse gostando da personagem, ela crescia e ganhava mais destaque. Se o público não estivesse gostando a personagem acabava indo fazer uma longa viagem e não voltava mais, e às vezes, até morria.

Sua agitada vida amorosa serviu de inspiração para sua produção. Acredita-se que Camilo Castelo Branco tenha vivido inúmeros casos amorosos, inclusive com mulheres casadas da alta sociedade portuguesa. O mais conhecido desses relacionamentos é o seu romance com Ana Plácido, jovem recém-casada que abandonou o marido para viver com ele. Este amor é que o inspira em Amor de Perdição.

Amor de Perdição conta a história de amor de Simão e Teresa. Os pais dos jovens não aceitavam o relacionamento dos dois fazendo de tudo para que eles se separem. Teresa é mandada para um convento e Simão, acusado de um crime acaba sendo preso e degredado para a Índia. Porém antes de ser preso acaba conhecendo Mariana que fica apaixonada por ele, formando um triângulo amoroso. Mesmo longe, Teresa e Simão permanecem comunicando-se através de cartas. É interessante notar que, fiel às características desse segundo momento, marcado pelos exageros do amor, no final, em poucas páginas, as personagens principais acabam morrendo uma seguida da outra.

Soares de Passos é o outro representante desse período, suas poesias de são marcadas pelo sentimentalismo exagerado, pela solidão e por um lirismo fúnebre, mórbido. A morte, outra característica desse 2º momento, é uma constante, nesta direção é famoso o seu poema “O noivado no sepulcro”.

No 3º momento encontramos João de Deus, autor de uma única obra lírica, Campo de flores. Mas o grande representante desse período é Júlio Dinis, autor de uma famosa obra que já foi adaptada para uma novela de televisão. As pupilas do senhor reitor – crônica da aldeia, obra que conta a história de duas moças órfãs que vivem sob os cuidados do senhor reitor e que se apaixonam por dois irmãos, Pedro, o lavrador e Daniel, o médico recém formado, que volta para a aldeia. Há todo um conflito romântico durante o desenrolar da história, mas no final tudo acaba bem e todos vivem felizes para sempre – é o típico final feliz.

Tudo o que falamos até agora diz respeito a Portugal. Mas como foram as manifestações românticas aqui no Brasil?

O Romantismo brasileiro marca o início de uma verdadeira literatura nacional e está intimamente ligado ao processo de independência da colônia. Didaticamente, o Romantismo brasileiro tem início em 1836, com a publicação de Suspiros Poéticos e Saudades, de Gonçalves de Magalhães e da revista Niterói e permanece no cenário literário até 1881, quando ocorre a publicação de Memórias Póstumas de Brás Cubas, romance realista de Machado de Assis e a publicação de O Mulato, romance naturalista de Aluísio Azevedo.

O Romantismo brasileiro foi um movimento extremamente fértil, produziu-se muito e nos mais variados gêneros. Veja os principais gêneros cultivados:

-POESIA

-ROMANCE

-TEATRO

A poesia foi marcada pelo fenômeno das gerações; o romance destacou-se por uma grande amplitude temática e o teatro ficou conhecido por suas comédias de costumes.


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