Ao contrário de Portugal que teve três
momentos distintos em todos os gêneros. No Brasil, o fenômeno das gerações só
ocorreu na poesia. Veja no próximo quadro essas gerações:
– AS GERAÇÕES ROMÂNTICAS
Primeira GERAÇÃO - Nacionalista/Indianista
Segunda GERAÇÃO - Ultra-romântica – “Mal-do-século”
Terceira GERAÇÃO - Social e Libertária – “condoreira”
Na
PRIMEIRA GERAÇÃO, como o próprio nome já sugere, encontramos um forte nacionalismo e uma grande aversão à
influência portuguesa (ou seja, lusofobia). Como já vimos, o nacionalismo foi
uma das principais características românticas, através dele há uma valorização
da pátria, dos heróis nacionais e do passado histórico. Veja os principais autores
dessa primeira geração:
Gonçalves de
Magalhães 1ª GERAÇÃO Gonçalves Dias |
Enquanto Gonçalves de Magalhães é
considerado o introdutor do Romantismo brasileiro, a Gonçalves Dias atribui-se
a sua consolidação.
A produção literária de Gonçalves de Magalhães é considerada
fraca por muitos críticos, sua importância se deve ao fato de ter sido ele o introdutor do Romantismo em terras
brasileiras. É dele também o primeiro manifesto romântico sobre o Brasil,
escrito na Revista Niterói. Veja um fragmento do seu “Ensaio sobre a história da literatura brasileira”:
“Não, oh! Brasil! No meio do geral merecimento tu não deves ficar
imóvel e tranquilo, como o colono sem ambição e sem esperança. O germe da
civilização, depositado em teu seio pela Europa, não tem dado ainda todos os
frutos que deveria dar, vícios radicais têm tolhido o seu desenvolvimento. Tu
afastaste do teu colo a mão estranha que te sufocava, respira livremente,
respira e cultiva as ciências, as artes, as letras, as indústrias, e combate
tudo o que entrevá-las pode.”
INDIANISMO
Canção do Exílio
Minha terra tem palmeiras,Onde canta o Sabiá,
As aves que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá,
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar – sozinho, à noite –
Mais prazer encontro eu lá,
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá,
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Gonçalves Dias
Gonçalves Dias é a grande figura desse primeiro momento, trabalhou em sua vasta obra com todos os temas iniciais do Romantismo. Veja sua imagem:
Gonçalves Dias escreveu poesias líricas fiéis às características românticas; poesias medievais, escritas em português arcaico e poesias nacionalistas. Mas é na descrição e exaltação da figura indígena que Gonçalves Dias se destaca, sendo considerado por muitos, o maior poeta indianista da literatura brasileira. O poema I-Juca Pirama é um dos seus textos indianistas mais famosos. “I-Juca Pirama” significa aquele que vai morrer. Este texto conta a história de um índio tupi que iria ser sacrificado pelos timbiras, outro povo indígena, mas pensando no pai que era cego e que dele dependia implora para não morrer. Os timbiras achando-o covarde acabam por soltá-lo. Veja agora, prestando muita atenção no ritmo, um fragmento do conhecidíssimo trecho Canto da Morte:
Canto da Morte
Meu canto de morte,
Guerreiros, ouvi:
Sou filho das selvas,
Nas selvas cresci;
Guerreiros, descendo
Da tribo tupi.
Da tribo pujante,
Que agora anda errante
Por fado inconstante,
Guerreiros, nasci:
Sou bravo, sou forte,
Sou filho do Norte;
Meu canto de morte,
Guerreiros ouvi (...)
Gonçalves Dias
Álvares de
Azevedo 2ª GERAÇÃO Casimiro de
Abreu |
Influenciados
pelos românticos europeus, sobretudo Byron e Musset, esses poetas representam o Ultra Romantismo (também chamado "mal do século"), cuja poesia
é extremamente egocêntrica e sentimental, exprimindo um pessimismo doentio, uma
descrença generalizada, um tédio pela vida e uma obsessão pela morte que
impregna tudo de tristeza e desilusão. Escrita, na maioria das vezes, por
poetas adolescentes, a poesia dessa geração é quase sempre superficial e
artificial, servindo, antes, como desabafo das próprias tristezas e
frustrações, procurando envolver emocionalmente o leitor. E esse envolvimento,
conseguido efetivamente por alguns autores, acabou criando entre eles e o
público uma ressonância afetiva que é responsável pela grande popularidade
obtida por certos poetas dessa época.
Álvares de Azevedo foi o maior representante do Mal-do-século, seguido
de Casimiro de Abreu. Há ainda nesse
período outros autores, como Junqueira
Freire e Fagundes Varela, que
também levaram ao extremo as características românticas.
Contam as más línguas que os jovens poetas dessa geração, basicamente estudantes de Direito do Largo São Francisco, em São Paulo, amavam umas festinhas. Até aí tudo normal, qual o jovem que não gosta? Mas sabe onde aconteciam essas festinhas? Nos cemitérios da cidade. Conta-se que numa dessas festas, no cemitério da Consolação, os jovens coroaram uma prostituta como a Rainha dos Mortos, com caixão e tudo mais que uma rainha tinha direito, mas no final da festa, qual não foi a surpresa dos jovens? A pobre infeliz realmente tinha morrido de tanto medo. Coincidência ou não, todos os autores mais significativos desse período morreram antes dos 24 anos de idade.
Álvares de Azevedo
Brincadeiras à parte, veja agora um dos textos mais conhecidos dessa
segunda geração romântica:
Se eu morresse amanhã
Se eu morresse amanhã, viria ao menosFechar meus olhos minha triste irmã;
Quanta glória pressinto em meu futuro,
Que aurora de porvir e que manhã!
Eu perdera chorando essas coroas
Se eu morresse amanhã! (...)
Álvares de Azevedo
Casimiro de Abreu é outro importante autor desse momento. Em sua obra destacaram-se o pessimismo característico do mal-do-século e o saudosismo, não só da terra da terra natal, mas também da infância. Foi um dos poetas mais populares do Romantismo, principalmente pela linguagem fácil e pelo lirismo ingênuo de seus poemas. Seus temas são os mesmos dos outros poetas de sua geração, enfatizando a temática da saudade (da pátria, família, infância), marcada, portanto, pela evasão no tempo e no espaço. Leia esta estrofe de um de seus mais conhecidos poemas, também alvo de paráfrase de Oswald de Andrade no Modernismo:
Meus oito anos
Oh! Que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não
trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais! (...)
Casimiro de Abreu
Casimiro de Abreu escreveu Primaveras,
uma coletânea de versos, e o drama Camões
e o Jaú.
POESIA SOCIAL
O Navio Negreiro
‘Estamos em pleno mar...Do firmamento
Os astros saltam como espumas de ouro...
O mar em troca acende as ardentias
Constelações do líquido tesouro (...)
Era um sonho dantesco...
O tombadilho
Que das luzernas avermelha o brilho,
Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros...estalar do açoite...
Legiões de homens negros como a noite, Horrendos a dançar...
Negras mulheres, suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães:
Outras, moças...nuas e espantadas,
No turbilhão de espectros arrastadas,
Em ânsia e mágoa vãs(...)
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo...
Andrada! arranca este pendão dos ares!
Colombo! fecha a porta de teus mares!
Castro Alves
O Romantismo, em nosso país, foi o
movimento responsável pela manifestação de uma literatura genuinamente
brasileira.
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