quinta-feira, 26 de maio de 2022

ARCADISMO NO BRASIL

 Situação Cultural

A segunda metade do século XVIII na Europa apresenta, de modo geral, uma importante fase de transformação cultural.
Seu ponto de partida foi a França, onde, em 1751, é publicada a Enciclopédia, símbolo de renovação cultural que tinha à frente D'Alembert, Diderot e Voltaire. Os enciclopedistas deram grande impulso ao desenvolvimento das ciências, valorizando a razão como agente propulsor do progresso social e cultural. Essa onda de racionalismo opôs-se às ideias religiosas da época, que são atacadas e consideradas retrógradas.
    Todo esse movimento de renovação, chamado Iluminismo, espalhou-se pela Europa e atingiu Portugal. Coube ao marquês de Pombal, ministro de D. José I, levar a cabo a tarefa de renovação cultural, tentando colocar Portugal em dia com o progresso do resto da Europa.
    Em 1759, os jesuítas são expulsos de Portugal e o ensino, que estava quase todo em suas mãos, torna-se então leigo. Fundam-se escolas e academias, e respira-se em Portugal um clima de novidade e mudanças no campo da arte, da ciência e da filosofia.

O Novo Estilo Literário

    Dentro desse panorama de renovação cultural, surge um novo estilo poético: o Arcadismo.
    Reagindo contra os exageros do estilo barroco, os autores da segunda metade do século XVIII propõem uma literatura que seja mais simples e espontânea. Vivendo numa época de euforia e confiantes no progresso científico, esses novos autores não foram tão religiosos nem expressaram tantos problemas metafísicos quanto os barrocos.
    O Arcadismo expressa uma visão mais sensualista da existência, propondo uma volta à natureza e um contato maior com a vida simples do campo. Em pleno século XVIII, os poetas arcádicos recriam em seus textos as paisagens campestres de outras épocas, com pastores e pastoras cantando e vivendo uma existência sadia e amorosa, preocupados apenas em cuidar de seus rebanhos; esse tipo de recriação da vida é chamado de bucolismo e constitui uma das características marcantes da poesia arcádica. Aliás, o desejo de identificação com a figura de pastores levou os poetas arcádicos a adotarem para si pseudônimos gregos e latinos e a se referirem, em suas poesias, a elementos da mitologia clássica (ninfas, deuses etc.). O próprio nome Arcadismo foi tirado de Arcádia, região da Grécia onde, segundo a mitologia, pastores e poetas viveriam uma existência de amor e poesia.
    Valorizando a razão e a simplicidade, os arcádicos inspiraram-se na sobriedade dos poetas clássicos do Renascimento (sobretudo Camões) e da antiguidade grega e latina. Daí o nome de Neoclassicismo com que também se costuma designar esse período.

O Arcadismo no Brasil CONTEXTO HISTÓRICO

   O Arcadismo brasileiro tem como marco inicial a publicação das Obras Poéticas de Cláudio Manuel da Costa, em 1768, e se estende até 1836 com a publicação de Suspiros poéticos e Saudades, de Gonçalves de Magalhães, obra que instaura o Romantismo brasileiro. A cidade de Vila Rica, atual Ouro Preto em Minas Gerais foi sede dos principais acontecimentos do século XVIII, assistiu ao ciclo da mineração, à Inconfidência, à grande produção dos poetas árcades.
Vila Rica também foi palco do grande artista plástico, arquiteto e escultor brasileiro desse período – Antônio Francisco Lisboa, o nosso Aleijadinho. Lembre-se de que o Barroco no Brasil compreende duas grandes manifestações: o Barroco Literário e arquitetônico do século XVII, principalmente na Bahia e o Barroco mineiro do século XVIII, conhecido como o Barroco tardio. Com o passar do tempo Portugal perdeu grande parte de suas colônias no Oriente, passando a depender cada vez mais da exploração do Brasil.
    A decadência da economia canavieira e a descoberta de ouro em Minas Gerais provocaram o deslocamento do eixo econômico, político e cultural para o Sudeste do país. (Lembre-se de que antes o centro de todas as atividades era o Nordeste, principalmente os estados de Pernambuco e Bahia). Os aumentos frequentes dos impostos pagos pelos brasileiros sobre os minérios e as mercadorias em geral, provocaram uma insatisfação generalizada e fizeram com que os brasileiros começassem a manifestar os primeiros desejos de emancipação, que culminaram com a Inconfidência Mineira, da qual muitos do poetas árcades participaram.
    Em nosso país, o movimento arcádico encontrou expressão num grupo de poetas que viveram em Minas Gerais, na época o principal centro econômico do Brasil em razão da descoberta do ouro e diamante. Na obra desses poetas podemos reconhecer a presença não só de alguns elementos típicos da natureza brasileira(o que os distingue, portanto, dos poetas portugueses) como também certa tendência para a confissão de dramas sentimentais e amorosos, antecipando assim o estilo romântico que surgiria plenamente no século seguinte.
    Dos poetas do nosso Arcadismo, merecem destaque Cláudio Manuel da Costa, Tomás Antônio Gonzaga, Silva Alvarenga, Alvarenga Peixoto, Basílio da Gama e Santa Rita Durão.

CARACTERÍSTICAS

    Esses fatos foram responsáveis por um grande sentimento nativista, o índio aparece pela primeira vez como herói literário. O Arcadismo brasileiro assinala o início da busca de uma identidade nacional para a nossa literatura, o que só será alcançado, segundo alguns estudiosos no movimento posterior, ou seja, no Romantismo.

Os principais autores do Arcadismo brasileiro foram:

*  Cláudio Manuel da Costa

*  Tomás Antônio Gonzaga

*  Basílio da Gama

*  Santa Rita Durão

    Dos quatro, apenas Tomás Antônio Gonzaga não era brasileiro. Além de apresentarem semelhanças quanto à produção árcade, todos tiveram envolvimento com a Inconfidência Mineira. Eles escreveram nos mais variados gêneros literários.

        Vejamos as principais vertentes do Arcadismo brasileiro:

                            - POESIA LÍRICA

*ARCADISMO

BRASILEIRO           - POESIA SATÍRICA

                             -POESIA ÉPICA

    A poesia lírica ora apresenta resíduos do Barroco, ora apresenta antecipações do Romantismo. Seus principais representantes são Cláudio Manuel da Costa e Tomás Antônio Gonzaga. Esse último, Tomás Antônio Gonzaga, foi também a figura central da poesia satírica. E na poesia épica destacam-se Cláudio Manuel da Costa, Basílio da Gama e Santa Rita Durão.

Cláudio Manuel da Costa(1729-1789)

    Escritor de transição entre o estilo barroco cultista e as novas tendências, nasceu no Brasil, mas, como a maioria dos nossos escritores, foi para Portugal, tendo estudado Direito em Coimbra. Em 1768 lança o livro Obras, que iniciou o Arcadismo entre nós. Nesse mesmo ano fundou a Arcádia Ultramarina. Participou da Inconfidência Mineira, foi preso e enforcou-se na prisão em 1789.
    Ele foi o primeiro e mais acabado poeta árcade. Suas poesias anteriores a Obras são ainda barrocas. Depois de 1768, voltou-se para motivos bucólicos e a natureza brasileira foi pano-de-fundo de seus textos e também sua confidente (traço que antecipa o Romantismo). Sua musa era Nise e seus sonetos têm da influência de Camões.
    Seu pseudônimo árcade era Glauceste Satúrnio e sua musa inspiradora era Nise. Sua obra lírica foi muito influenciada pelo Classicismo português, embora também apresentasse em alguns momentos resíduos do Barroco. Os temas mais comuns de sua poesia lírica são: o sentimento amoroso e a descrição da natureza.
    É frequente em seus textos uma tentativa de conciliação das características do Arcadismo e a paisagem mineira. Mas apesar dessa identidade com a região mineira, mostra em vários momentos um grande apego à metrópole portuguesa. A paisagem mineira aparece em sua obra através de referências à natureza áspera da região. Palavras como: pedras, rochedos, penhascos e penhas são recorrentes em sua obra, como vemos neste fragmento:

“... Destes penhascos fez a natureza

O berço, em que nasci! oh quem cuidara

Que entre penhas tão duras se criara

Uma alma terna, um peito sem dureza!”

Cláudio Manuel da Costa também escreveu um poema épico chamado Vila Rica, em que narra a história da fundação da cidade, enaltecendo os feitos dos bandeirantes.

          Tomás Antônio Gonzaga(1744-1810)

    Nasceu em Portugal. Viveu a infância e a adolescência no Brasil. Voltou a Portugal e estudou Direito em Coimbra. Voltou ao Brasil já com 38 anos e apaixonou-se por Maria Dorotéia Joaquina de Seixas, a Marília, com quem pretendia casar-se. Mas, durante a Inconfidência Mineira, foi preso e condenado ao degredo em Moçambique, onde se casou com uma rica viúva e morreu em 1810, sem ter voltado ao Brasil.

Seu pseudônimo árcade era Dirceu e sua musa inspiradora era Marília. Entre suas principais obras estão Cartas Chilenas e Marília de Dirceu.

Cartas Chilenas são poemas satíricos escritos em decassílabos, mas com uma estrutura epistolar, ou seja, em formato de cartas. Esses textos eram manuscritos e circularam na cidade de Vila Rica, pouco tempo antes da Inconfidência Mineira, eles contavam a história de Fanfarrão Minésio, um governador arbitrário, imoral e narcisista. O emissor das cartas era Critilo e o destinatário era Doroteu. Após vários estudos, descobriu-se que Critilo era o próprio Tomás Antônio Gonzaga e que Doroteu era Cláudio Manuel da Costa. Mas por que Cartas Chilenas? Na realidade o Chile era Minas Gerais e Santiago era Vila Rica; Tomás Antônio Gonzaga estava criticando o próprio governador da época. (Luís da Cunha Meneses). Suas sátiras em geral criticavam pessoas especificas e não instituições.

Essas cartas são um importante documento histórico da época da mineração. Observe a descrição ferina que faz do governador:

Tem pesado semblante, a cor é baça
O corpo de estatura um tanto esbelta,
Feições compridas e olhadura feia,
Tem grossas sobrancelhas, testa curta,
Nariz direito e grande, fala pouco
Em rouco, baixo som de mau falsete,
Sem ser velho, já tem cabelo ruço
E cobre este defeito a fria calva
A força de polvilho que lhe deita.
Ainda me parece que estou vendo
No gordo rocinante escarranchado
As longas calças pelo umbigo atadas,
Amarelo colete e sobre tudo
Vestida uma vermelha e justa farda.
De cada bolso da fardeta, pendem
Listadas pontas de dois brancos lenços;
Na cabeça vazia se atravessa
Um chapéu desmarcado, nem sei como
Sustenta o pobre só do laço o peso.

As liras de Marília de Dirceu, inspiradas romance do poeta com Maria Dorotéia, tornaram-se uma das obras mais publicadas em língua portuguesa (liras são composições poéticas em que se repete, a cada estrofe, um estribilho, um refrão).

A obra está dividida em duas partes: na primeira, encontramos a felicidade proporcionada pelo amor. Na Segunda, num tom mais negativo, provocado pelos sofrimentos advindos da prisão, encontramos uma série de reflexões sobre a justiça humana e a lembrança da amada. 

a) na primeira, usando uma linguagem simples, quase ingênua, descreve a amada, fala sobre o namoro e traça planos de felicidade conjugal:

Lira XXI
Não sei, Marília, que tenho
Depois que vi o teu rosto;
Pois quanto não é Marília
Já não posso ver com gosto.
Noutra idade me alegava,
Até quando conversava
Com o mais rude vaqueiro:
Hoje, ó bela, me aborrece
Inda o trato lisonjeiro
Do mais discreto pastor.
Que efeitos são os que sinto!
Serão efeitos de Amor?
Saio da minha cabana
Sem reparar no que faço;
Busco o sítio aonde moras,
Suspendo defronte o passo.
Fito os olhos na janela
Aonde, Marília bela,
Tu chegas ao fim do dia;
Se alguém passa, e te saúda,
Bem que seja cortesia,
Se acende na face a cor.
Que efeitos são os que sinto!
Serão efeitos de Amor?

b) na parte final, escrita na prisão, quando seus sonhos foram desfeitos, revela amargura, abatimento e revolta: 

Lira XV

Eu, Marília, não fui nenhum Vaqueiro,
Fui honrado Pastor da tua aldeia;
Vestia finas lãs, e tinha sempre
A minha choça do preciso cheia.
Tiraram-me o casal, e o manso gado, casa
Nem tenho, a que me encoste, um só cajado.
Para ter que te dar, é que eu queria
De mor rebanho ainda ser o dono;
Prezava o teu semblante, os teus cabelos
Ainda muito mais que um grande Trono.
Agora que te oferte já não vejo
Além de um puro amor, de um são desejo.
Se o rio levantado me causava,
Levando a sementeira, prejuízo,
Eu alegre ficava apenas via
Na tua breve boca um ar de riso.
Tudo agora perdi; nem tenho o gosto
De ver-te ao menos compassivo o rosto.
Propunha-me dormir no teu regaço
As quentes horas da comprida sesta,
Escrever teus louvores nos olmeiros,
Toucar-te de papoulas na floresta.
Julgou o justo Céu, que não convinha
Que a tanto grau subisse a glória minha.
Ah! Minha Bela, se a Fortuna volta,
Se o bem, que já perdi, alcanço, e provo;
Por essas brancas mãos, por essas faces
Te juro renascer um homem novo;
Romper a nuvem, que os meus olhos cerra,
Amar no Céu a Jove, e a ti na terra
    

Tomás Antônio Gonzaga realmente foi preso e degredado para Moçambique por sua participação na Inconfidência Mineira.

 Basílio da Gama(1740-1795)

     Outro grande árcade foi Basílio da Gama. Brasileiro, estudou no Colégio dos Jesuítas no Rio de Janeiro. Em 1768, quando estava em Lisboa, foi acusado de ligação com os jesuítas. Julgado pelo Tribunal da Inquisição, foi condenado ao degredo em Angola. Mas o poeta soube atrair as simpatias e o perdão do Marquês de Pombal, dedicando um epitalâmio (poema que celebra o casamento de alguém) a sua filha.

Agradecido ao Marquês, escreveu o poema épico e antijesuítico O Uruguai, em 1769. O assunto é a luta entre os índios dos Sete Povos das Missões (no Uruguai) contra o exército luso-espanhol que deveria transferir as missões para os domínios portugueses na América e a Colônia do Sacramento para a Espanha.

Sua obra mais importante é sem dúvida o poema épico, O Uraguai, que narra as lutas dos índios de Sete Povos das Missões, no Uruguai contra o exército luso-espanhol. Basílio da Gama não fica preso ao modelo camoniano, o poema apresenta apenas cinco cantos e os versos são brancos, ou seja, sem rimas e não estão divididos em estrofes. As personagens mitológicas são substituídas por elementos da cultura indígena. Aparece a figura do índio como “bom selvagem” e a descrição da natureza brasileira, numa espécie de antecipação romântica. Entre as personagens destacam-se: Gomes Freire Andrada, o herói português; Balda o vilão, uma caricatura dos jesuítas e os índios Cacambo, Lindóia, sua esposa, Caitutu e Tanajura, a vidente.

Basílio da Gama quebra a estrutura da epopeia clássica e começa seu poema pela narração. Ele constitui-se de cinco cantos, em versos decassílabos brancos (sem rima) e sem divisão em estrofes. No primeiro canto, as tropas espanholas juntam-se às portuguesas. No segundo, descreve a batalha entre índios e as tropas, com a derrota dos primeiros. No terceiro, Cacambo, o indígena marido de Lindóia, ateia fogo ao acampamento dos brancos. Balda, o vilão jesuíta, prende e envenena o índio. Lindóia tem visões, mero pretexto para Basílio da Gama contar os feitos do Marquês de Pombal, que reconstrói Lisboa após o terremoto. No quarto canto, vemos a preparação para o casamento forçado de Lindóia com Baldetta (sucessor de Cacambo) e a seguir o suicídio de Lindóia. No último canto descrevem-se os crimes dos jesuítas e sua prisão. O episódio mais famoso do poema é a morte de Lindóia, que se deixa ser picada por uma serpente venenosa, depois da morte do marido.

Leia este fragmento da morte de Lindóia, em que, estando todos reunidos para o casamento, estranham a demora da noiva. Seu irmão, o índio Caitutu, vai procurá-la no jardim onde se refugiara:

Morte de Lindóia (fragmento)

Este lugar delicioso e triste,
Cansada de viver, tinha escolhido
Para morrer a mísera Lindóia.

Lá reclinada, como que dormia,
Na branda relva e nas mimosas flores,
Tinha a face na mão, e a mão no tronco
De um fúnebre cipreste, que espalhava
Melancólica sombra. Mais de perto
Descobrem que se enrola em seu corpo
Verde serpente, e lhe passeia, e cinge
Pescoço e braços, e lhe lambe o seio.

Fogem de a ver assim, sobressaltados,
E param cheios de temor ao longe,
E nem se atrevem a chamá-la, e temem
Que desperte assustada, e irrite o monstro
E fuja, e apresse no fugir a morte.

Porém o destro Caitutu, que treme
Do perigo da irmã, sem mais demora
Dobrou as pontas do arco, e quis três vezes
Soltar o tiro, e vacilou três vezes
Entre a ira e o temor. Enfim sacode
O arco e faz voar a aguda seta,
Que toca o peito de Lindóia, e fere
A serpente na testa, e a boca e os dentes
Deixou cravados no vizinho tronco.

Açouta o campo coa ligeira cauda
O irado monstro, e em tortuosos giros
Se enrosca no cipreste, e verte envolto
Em negro sangue o lívido veneno.

Leva nos braços a infeliz Lindóia
O desgraçado irmão, que ao despertá-la
Conhece, com que dor! no frio rosto
Os sinais do veneno, e vê ferido
Pelo dente sutil o branco peito.

Os olhos, em que Amor reinava, um dia,
Cheios de morte; e muda aquela língua
Que ao surdo vento e aos ecos tantas vezes
Contou a larga história de seus males.

Nos Olhos Caitutu não sofre o pranto.
E rompe em profundíssimos suspiros,
Lendo na testa da fronteira gruta
De sua mão já trêmula gravado
O alheio crime e a voluntária morte.

É por todas as partes repetido
O suspirado nome de Cacambo.
Inda conserva o pálido semblante
Um não sei quê de magoado e triste;
Que os corações mais duros enternece.
Tanto era bela no seu rosto a morte!

Santa Rita Durão(1722-1784)

Embora fosse brasileiro, ainda jovem foi para Portugal e nunca mais voltou ao Brasil. Publicou em 1781 o poema épico Caramuru.
Denotando considerável influência camoniana, seu poema compõe-se de dez cantos, versos decassílabos, oitava rima (ABABABCC) e, embora não utilize a mitologia pagã, tem a divisão da epopeia clássica: proposição, invocação, dedicatória, narração e epílogo. Santa Rita foi o primeiro autor brasileiro a utilizar uma lenda nacional como assunto: o naufrágio de Diogo Álvares Correia, o Caramuru, na costa baiana, seu amor por Paraguaçu e a partida dos dois para a Europa, momento em que várias índias apaixonadas perseguem o navio a nado. Dentre elas, destaca-se Moema, a amante preterida no casamento.
Caramuru, poema épico que narra a descobrimento da Bahia, é a sua obra mais importante desse autor, mas segundo histórias, Caramuru não foi bem aceito na época, o que fez Santa Rita Durão rasgar todos os outros poemas que já havia escrito.
    O poema, escrito nos moldes da épica camoniana, caracteriza-se pela exaltação da paisagem brasileira. Entre as personagens destacam-se: o português Diogo Alves Correia, o Caramuru; e as índias Moema e Paraguaçu. Moema era apaixonada por Diogo, mas é Paraguaçu quem se casa com ele. Quando os dois estão indo para Paris, Moema se lança ao mar nadando atrás do navio e acaba morrendo afogada.
O episódio mais famoso é a morte de Moema. Vejamos a ilustração: 

                A Morte de Moema, Vitor Meireles (1832 – 1903)

Leia um fragmento do episódio da morte de Moema: 

Perde o lume dos olhos, pasma e treme,

Pálida a cor, o aspecto moribundo;

Com mão já sem vigor, soltando o leme,

Entre as salsas escumas desce ao fundo.

Mas na onda do mar, que, irado, freme,

Tornando a aparecer desde o profundo,

—” Ah! Diogo cruel!” — disse com mágoa,

E sem mais vista ser, sorveu-se na água.

Outros autores do Arcadismo, porém de menor expressão, foram:

Alvarenga Peixoto (1744-1793) – participou da Inconfidência Mineira e propôs o lema Libertas quae sera tamen (Liberdade ainda que tardia) que deveria figurar na bandeira republicana. Preso, é deportado para Angola. Em seus versos, de extremado apuro formal, combateu o colonialismo.

Silva Alvarenga (1749-1814) – reorganizou a Academia Científica do Rio de Janeiro, que passou a chamar-se Sociedade Literária (1786). Acusado de propagar idéias subversivas, foi preso e depois perdoado pela rainha D. Maria. Para sua musa escreveu os rondós e madrigais de Glaura. Compôs ainda Poesias diversas e O desertor da letras, poema herói-cômico, satirizando o sistema escolástico de Coimbra.

Período De Transição (1808-1836)

No início do século XIX, Portugal achava-se numa situação difícil: optar entre a dependência econômica inglesa e o poderio militar francês. Afugentada pelas tropas de Napoleão, que invadiram Portugal no início do século XIX, a Família Real portuguesa chegou ao Brasil em 22 de janeiro de 1808.

O Brasil foi, subitamente, elevado da condição de Colônia à de Reino Unido a Portugal e Algarve e, o Rio de Janeiro transformou-se em sede política, econômica e cultural da Monarquia. Estava próxima nossa emancipação política, apressada pelas reformas de D. João VI. Ele remodelou a cidade do Rio de Janeiro e o Brasil começou a ganhar os contornos de uma nação. A abertura dos portos brasileiros às “nações amigas” permitiu que circulassem novas ideias, gostos e hábitos. Fundaram-se escolas de ensino superior e academias, liberou-se a imprensa.

Contratada por D. João VI, chegou ao Brasil, em 1816, a Missão Francesa com a tarefa de ensinar artes e ofícios aos brasileiros. O arquiteto Montigny, os escultores Auguste-Marie Taunay e Marc Ferrez, os pintores Nicolas Antoine Taunay e Jean-Baptiste Debret introduziram no Brasil o Neoclassicismo e inauguraram o gosto pelos temas históricos e nacionais (em oposição ao Barroco das igrejas). Com eles o Brasil ganhou imagem própria, distanciando-se da matriz. Em 1821, D. João VI voltou para Portugal e aqui ficou o príncipe regente D. Pedro I, que proclamou nossa independência em 1822.

Produção Literária

A literatura desse período, chamado também de Pré-Romantismo, caracterizou-se pela tentativa de abolir os modelos clássicos. No entanto, numa época em que ocorreram mudanças tão intensas em todos os setores da sociedade, floresceu uma poesia de segunda linha, uma poesia retórica, cujo objetivo era ensinar, persuadir, moralizar: o poema sacro, em que se destacaram Elói Ottoni, Sousa Caldas e Américo Elísio (pseudônimo de José Bonifácio de Andrada e Silva, o Patriarca da Independência).

Desenvolveram-se também nesse período os gêneros públicos: sermão, discurso, artigo e ensaio de jornal. Neste último campo destacaram-se Hipólito da Costa Pereira, fundador do jornal Correio Braziliense, e Evaristo da Veiga. Ambos foram indispensáveis para a formação e expansão de um público leitor no Brasil.

É na oratória, porém, que se prenuncia o Romantismo. Frei Monte Alverne, em seus sermões, funde à fé, ao sentimento religioso as “harmonias da natureza” e as “glórias da pátria”.

As ladeiras de Ouro Preto, antiga Vila Rica, hoje patrimônio cultural da humanidade, guardam as lembranças do século do ouro. Poetas, inconfidentes, músicos, pintores e escultores deixaram suas marcas na cidade-símbolo do desenvolvimento urbano brasileiro.

A Igreja São Francisco de Paula foi a última igreja levantada em Ouro Preto durante o período colonial. Sua construção demorou um século, de 1804 a 1904.

    O Arcadismo brasileiro foi o movimento que assinalou o início da busca de uma identidade nacional para a nossa literatura.


ARCADISMO EM PORTUGAL

 

CONTEXTO HISTÓRICO

 

Arcadismo vem da palavra Arcádia, nome de uma região montanhosa do Peloponeso, na Grécia. Essa região era considerada, no plano mitológico, como o lugar de morada dos deuses. E no plano real, Arcádia era uma região habitada por pastores, que além do pastoreio, dedicavam-se à poesia.

Em Portugal, o Arcadismo corresponde ao período literário que marca a segunda metade do século XVIII. Didaticamente, ele tem início em 1756 com a fundação da Arcádia Lusitana e se estende até 1825 com a publicação do poema Camões, de Almeida Garrett, considerado o texto inicial do Romantismo português.

O Arcadismo corresponde a um período de mudanças marcantes na vida europeia como um todo. Essas mudanças fazem parte de um movimento cultural chamado Iluminismo. O Iluminismo, como o próprio nome já sugere, era a tentativa iluminar, de atualizar os conceitos e as verdades da época a partir da razão e da ciência. Por isso o século XVIII é conhecido como o “século das luzes”. E, ao contrário da tensão do período anterior, do Barroco, em muitos momentos, a produção literária da época parece ter encontrado a síntese entre a fé e a razão.

 Nesse momento surgem as primeiras arcádias, reuniões, grupos de poetas que se encontravam com o objetivo de restaurar a simplicidade e a sobriedade da Antiguidade clássica e renascentista. Daí o Arcadismo também ser chamado de Neoclassicismo (neo = novo + classicismo)

A fundação da Arcádia Lusitana representou, entre outros aspectos, um movimento rebeldia contra o Barroco. Vejamos o seu símbolo:


“Inutilia truncat” é uma frase latina que significa “cortar as inutilidades”, como sugere o desenho de um instrumento cortante, numa clara referência aos exageros do Barroco.

CARACTERÍSTICAS

 Os poetas árcades buscavam a recuperação dos ideais clássicos, e como já vimos, os clássicos, foram considerados fontes de equilíbrio e sabedoria.  Daí o nome Arcadismo, pois a Arcádia, morada dos pastores, representava o lugar ideal para a obtenção do equilíbrio e da sabedoria. É por esse motivo que muitas vezes os poetas árcades se autodenominavam pastores e adotavam pseudônimos gregos e latinos.

É a partir da clara reação contra os exageros do Barroco que surgem os principais temas do Arcadismo:

EQUILÍBRIO

BUCOLISMO

CONVENCIONALISMO

CARPE DIEM

Os árcades propunham o retorno aos modelos clássicos, porque neles encontravam o equilíbrio dos sentimentos por meio da razão, que seria a força controladora dos excessos. Buscavam, ao contrário do Barroco, uma linguagem simples, com períodos diretos e vocabulário fácil, sem o uso exagerado de figuras de linguagem, cortando tudo o que fosse inútil, desnecessário. Para eles, a literatura deveria ter um caráter mais didático, contribuindo para a formação da consciência. Os árcades exaltavam a virtude, a humildade, o comedimento. Seus heróis eram sempre pastores anônimos e felizes. Essa felicidade era basicamente conseguida através da segunda característica do Arcadismo.

Inspirados pelo preceito do poeta latino Horácio “fugere urbem” = “fugir da cidade, da civilização” os árcades acreditavam que somente no contato com a natureza, com o “locus amoenus”, “lugar ameno” o homem poderia alcançar o equilíbrio e a espiritualidade. Numa época em acontecia o crescimento das cidades, através do acelerado processo de industrialização, o Arcadismo pregava a volta à vida simples do campo. Daí a frequência de temas pastoris e cenas campestres durante todo esse período. É importante observar que essa natureza correspondia a um cenário artificial, criado pelo poeta, que fala de riachos cristalinos, lindos campos, relva verde, mas que se encontra em pleno centro urbano, é o chamado “fingimento poético no Arcadismo”, observado por vários estudiosos.

Outra característica é o convencionalismo, ou seja, as frases feitas, os clichês e os lugares comuns. Como: as ovelhas, os pastores e as pastoras, os montes, as ninfas e todos os demais elementos da natureza artificial criada pelo poeta árcade. Esse convencionalismo torna a poesia árcade, de uma maneira geral, marcada pela pouca expressividade e artificialismo. Além da monotonia provocada pela repetição, por vezes exaustiva, de temas bucólicos e pastoris.

Um último aspecto marcante dessa poesia é a filosofia do Carpe Diem“aproveitar o dia”, o “viver intensamente os momentos”. O tema da fugacidade da vida é muito comum em toda a literatura ocidental, o próprio Barroco o utilizou, mas visto por um ângulo negativo, próximo da idéia da morte. Agora o poeta árcade vai utilizá-lo como um convite amoroso, como insinuação erótica. O pastor, o poeta, consciente da brevidade da vida chama a pastora, a amada para que juntos aproveitem a vida.

Dentre os vários poetas árcades de Portugal, o que mais se destacou foi Manuel Maria Barbosa du Bocage, ou simplesmente Bocage. Vejamos sua imagem:


Bocage teve uma vida muito conturbada, após alguns anos de estudo dedica-se a vida boêmia e passa a frequentar os bares portugueses e a conviver com prostitutas, marinheiros, vagabundos e com algumas poucas pessoas de nível social e literário mais elevado. Era conhecido com arruaceiro e aventureiro e, assim como Camões, foi soldado e durante alguns anos viveu e viajou pelas colônias portuguesas no Oriente. Há várias semelhanças entre sua vida e a de Camões, a tal ponto que em muitos momentos Bocage traça um paralelo entre elas, como nesse soneto:

“Camões, grande Camões, quão semelhante Acho teu fado ao meu, quando os cotejo!

Igual causa nos fez, perdendo o Tejo, Arrostar co’o sacrilégio gigante;

Como tu, junto ao Ganges sussurrante,

Da penúria cruel no horror me vejo; Como tu, gostos vãos, que em vão desejo, Também carpindo estou, saudoso amante.

Ludíbrio, como tu, da Sorte dura

Meu fim demando ao Céu, pela certeza De que só terei paz na sepultura.

Modelo meu tu és ... Mas, oh tristeza! ... Se te imito nos transes da Ventura,

Não te imito nos dons da Natureza.”

Bocage, assim como outros tantos poetas árcades adotou um pseudônimo pastoril, assinava suas poesias como o nome de Elmano Sadino. Elmano é um anagrama de Manuel, seu primeiro nome, ou seja, uma nova palavra formada pela troca das letras de uma primeira palavra. E Sadino é uma referência ao rio Sado, que corta a cidade de Setúbal, onde o poeta nasceu.

Os estudiosos costumam dividir a obra de Bocage em dois momentos: um lírico e um satírico.

Sua poesia lírica mostra-se presa aos modelos do Arcadismo, povoada por pastores e imagens campesinas. Também se dedicou à poesia encomiástica, que como já vimos, era destinada à exaltação, à bajulação dos poderosos da época. Conta-se que Bocage, assim como outros poetas da época, viveu à sombra dos nobres, como faziam os bobos da corte durante a Idade Média.

Como poeta satírico, Bocage tinha por alvos principais os habitantes das colônias portuguesas, o absolutismo político e religioso, e muitas vezes os seus próprios colegas árcades.

Como poeta erótico, Bocage foi censurado em sua época e até hoje, muitos livros escolares não trazem exemplos dessa poesia erótica, marcada pela força poética e pela força em ser grosseira, vulgar, e referindo-se, muitas vezes, a atos obscenos.

Mas é sua poesia pré-romântica, contrária ao impessoalismo e ao convencionalismo, que o distingue dos demais árcades. Bocage valorizou o subjetivo, o sentimental através de uma frequente luta entre a razão e a emoção, luta essa, que muitas se reflete numa visão pessimista e fatalista da existência. Em vários poemas os riachos e os pastores são substituídos por imagens fúnebres e sentimentos negativos. Como nos mostra o famoso soneto “Sobre estas duras, cavernosas fragas”.

Sobre estas duras, cavernosas fragas,

Que o marinho furor vai carcomendo, Me estão negras paixões n’ alma fervendo Como fervem no pego as crespas vagas.

Razão feroz, o coração me indagas,

De meus erros a sombra esclarecendo,

E vás nele (ai de mim!) palpando, e vendo De agudas ânsias venenosas chagas.

Cego a meus males, surdo a teu reclamo, Mil objetos de horror co’a ideia eu corro, Solto gemidos, lágrimas derramo.

Razão; de que me serve o teu socorro?

Mandas-me não amar, eu ardo, eu amo; Dizes-me que sossegue, eu peno, eu morro.


                 

BARROCO NO BRASIL

 

DIVISÃO DA LITERATURA BRASILEIRA

 

Como já vimos em outras aulas, as manifestações literárias são dividas didaticamente, em grandes eras e em períodos menores, chamados estilos de época, escolas ou ainda movimentos literários. Tal divisão também acontece com a Literatura Brasileira que apresenta duas grandes eras:

ERA COLONIAL

ERA NACIONAL

      A primeira grande era, a ERA COLONIAL, tem início com a vinda dos primeiros portugueses, em 1500, e se estende até 1808 com a chegada da família real ao Rio de Janeiro. A ERA NACIONAL tem início em 1836, com o Romantismo e se estende até os dias de hoje. O período entre 1808 a 1836 é conhecido como Período de Transição e envolve todo o processo de independência política.

Essas eras também apresentam subdivisões. Vejamos como está dividida a era colonial.

ERA COLONIAL

Quinhentismo (século XVI)

                                               Barroco (século XVII)

Arcadismo (século XVIII)

Os primeiros textos produzidos em solo brasileiro não são considerados como exemplos de manifestações literárias, caracterizam-se mais como textos históricos. Eram textos informativos voltados para a conquista material, para as descobertas da nova terra, ou textos escritos pelos jesuítas, voltados para a catequese. Esses textos fazem parte do chamado Quinhentismo brasileiro.

Não há um consenso quanto à primeira manifestação de uma literatura realmente brasileira. Alguns consideram o Barroco essa primeira manifestação de uma literatura realmente brasileira. Outros estudiosos preferem falar em literatura brasileira somente a partir do Romantismo, ou seja, a partir do século XVIII. Mas num aspecto todos concordam, é no Barroco que encontramos não só um o primeiro, mas um dos mais talentosos poetas brasileiros – Gregório de Matos.

O movimento Barroco compreende um longo período que se estende de 1601, com a publicação do poema Prosopopeia, de Bento Teixeira até meados do século XVIII (1768), com a fundação da Arcádia Ultramarina, em Vila Rica, Minas Gerais e a publicação do livro Obras Poéticas de Cláudio Manuel da Costa.

 O termo Barroco no Brasil compreende duas grandes manifestações: o Barroco Literário e Arquitetônico do século XVII, principalmente na Bahia, e o Barroco mineiro do século XVIII, conhecido como Barroco tardio, contemporâneo do Arcadismo.

O que nos interessa é esse Barroco Literário. Vejamos esta imagem:

 


Casa de Engenho, Frans Post (1612-1680)

As manifestações brasileiras desse período refletem a visão de mundo e a estrutura de um país-colônia, marcado pelo ciclo econômico açucareiro. As poucas atividades culturais concentravam-se em Salvador, Bahia e em Recife, Pernambuco.

A produção barroca no Brasil foi muito influenciada pelo Barroco europeu. E você se lembra do que foi o Barroco?

 O Barroco, como já vimos, foi o movimento estético literário do conflito, dos impulsos contraditórios, do contraste entre claro/escuro, alma/corpo, céu/inferno, bom/mau. O Barroco foi arte do jogo de palavras e de ideias, que visavam surpreender o leitor não só através da construção cuidadosa do texto, marcado várias vezes por uma linguagem excessivamente rebuscada, mas também através de um alto poder de raciocínio lógico.

Esse jogo, essa atitude lúdica nos faz lembrar das duas faces barrocas:

        CARACTERÍSTICAS: rebuscamento da forma (gongorismo) rebuscamento do conteúdo (conceptismo) tentativa de conciliação de opostos

CULTISMO ou Gongorismo= Corresponde ao jogo de palavras e imagens visando ao rebuscamento da forma do texto, à ornamentação e à erudição vocabular. Nessa vertente barroca é comum o uso exagerado das figuras de linguagem, como metáforas, antíteses, hipérboles, hipérbatos, entre outras. O cultismo também é chamado de Gongorismo, por ter sido muito influenciado pelo poeta espanhol Luís de Gôngora.

CONCEPTISMO ou Quevedismo = Corresponde ao jogo de ideias e de conceitos, pautado no raciocínio lógico, visando ao convencimento à argumentação. O conceptismo também é chamado de Quevedismo, por ter sido muito influenciado pelo também espanhol, Francisco Quevedo.

O cultismo e o conceptismo também influenciaram nossos escritores. Vejamos os principais autores do Barroco no Brasil:

Bento Teixeira

Padre Antônio Vieira

Gregório de Matos

Manuel Botelho de Oliveira

Bento Teixeira, assim como o Padre Antônio Vieira não era brasileiro, ao contrário do que se pensou durante muito tempo, ambos eram portugueses que passaram algum tempo no Brasil. Bento Teixeira destaca-se por ser o autor do marco inicial do Barroco no Brasil, mas seu poema épico Prosopopeia não provocou muito reconhecimento na colônia. É uma imitação de Os Lusíadas, o que era muito comum na época, também escrito em decassílabos e dispostos em oitava rima.

Padre Antônio Vieira, como já vimos, embora escrevendo no Brasil apresentava a visão de mundo do homem europeu.
O Barroco brasileiro foi fruto de manifestações isoladas, visto que a Colônia ainda não dispunha de um grupo intercomunicante de escritores, nem de um público leitor influente, nem de vida cultural intensa, situação agravada pela proibição da imprensa e pela falta de liberdade de expressão.
Reflexo da literatura escrita na Península Ibérica, a produção dessa época também revela a crise do homem do século XVII, dividido entre os valores antropocêntricos do Renascimento e as amarras do pensamento medieval reabilitado pela Contra-Reforma. Essa tensão manifesta-se no confronto pecado/perdão, terreno/celestial, vida/morte, amor platônico/amor carnal, fé/razão, céu/inferno.

Observe essa dualidade neste último terceto do soneto A Jesus Cristo crucificado estando o poeta para morrer, de Gregório de Matos:

Esta razão me obriga a confiar, que, por mais que pequei,
neste conflito espero em vosso amor de me salvar.

Como as outras artes, a literatura empregou uma linguagem adequada à monumentalidade e à ostentação, exagerando no rebuscamento formal ao abusar de:

a)    antíteses, que refletem a contradição do homem barroco, seu dualismo. Dessa vez o exemplo é do soneto A instabilidade das cousas do mundo, do mesmo Gregório:

Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,

Depois da luz, se segue a noite escura,

Em tristes sombras morre a formosura,

Em contínuas tristezas, a alegria.

     b) metáforas, que revelam as semelhanças subjetivas que o poeta descobre na realidade e a tentativa de apreendê-la pelos sentidos. O último terceto do soneto A Jesus Cristo Nosso Senhor de Gregório de Matos nos fornece o exemplo:

Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada,

Cobrai-a; e não queirais, pastor divino,

Perder na vossa ovelha a vossa glória.

    c) hipérboles, que traduzem a pompa, a grandiosidade do Barroco. Também de Gregório é o exemplo que vem do soneto Aos afetos e lágrimas derramadas na ausência da dama a quem queria bem, referindo-se o poeta ao pranto:

Ardor em firme coração nascido;

Pranto por belos olhos derramado;

Incêndio em mares de água disfarçado;

Rio de neve em fogo convertido. 

   d) utilização frequente de interrogações, que revelam incerteza e inconstância. Outra vez Gregório em A instabilidade das cousas do mundo:

Porém, se acaba o Sol, por que nascia?

Se é tão formosa a luz, por que não dura?

Como a beleza assim se transfigura?

Como o gosto da pena assim se fia? 

Há duas correntes barrocas em literatura:

a) cultismo – estilo marcado pelo rebuscamento formal que abusa de antíteses, paradoxos, hipérboles, jogos de palavras, ordem inversa. Essa tendência é também chamada de gongorismo, devido à influência do poeta espanhol Luís de Gôngora. Outro exemplo de Gregório de Matos, neste fragmento do soneto Ao braço do mesmo Menino Jesus quando appareceo:

O todo sem a parte não é todo,

A parte sem o todo não é parte,

Mas se a parte o faz todo, sendo parte,

Não se diga, que é parte, sendo todo.

b) conceptismo – estilo desenvolvido sobretudo na prosa, preocupado em expor ideias e conceitos por meio do raciocínio lógico. O seguinte fragmento do Sermão da Sexagésima, de Vieira, exemplifica essa tendência:
Fazer pouco fruto a palavra de Deus no Mundo, pode proceder de um de três princípios: ou da parte do pregador, ou da parte do ouvinte, ou da parte de Deus. Para uma alma se converter por meio de um sermão, há de haver três concursos: há de concorrer o pregador com a doutrina, persuadindo; há de concorrer o ouvinte com o entendimento, percebendo; há de concorrer Deus com a graça, alumiando. Para um homem se ver a si mesmo, são necessárias três coisas: olhos, espelho e luz. Se tem espelho e é cego, não se pode ver por falta de olhos; se tem espelho e olhos, e é de noite, não se pode ver por falta de luz. Logo, há mister luz, há mister espelho e há mister olhos. Que coisa é a conversão de uma alma, senão entrar um homem dentro em si e ver-se a sim mesmo? Para esta vista são necessários olhos, é necessária luz e é necessário espelho. O pregador concorre com o espelho, que é a doutrina; Deus concorre com a luz, que é a graça; o homem concorre com os olhos, que é o conhecimento. Ora suposto que a conversão das almas por meio da pregação depende destes três concursos: de Deus, do pregador e do ouvinte, por qual deles devemos entender que falta? Por parte do ouvinte, ou por parte do pregador, ou por parte de Deus?

GREGÓRIO DE MATOS 

Gregório de Matos - o grande representante do Barroco no Brasil. 

         Gregório de Matos, filho de uma família abastada nasceu na Bahia, mas foi para Portugal, onde se diplomou em Direito. De volta ao Brasil firma-se como o primeiro poeta brasileiro. Assim como outros poetas, também teve uma vida atribulada e polêmica, sempre metido em desavenças com pessoas poderosas e influentes.

Graças às suas sátiras, marcadas pela linguagem maliciosa, direta e muitas vezes ferina, recebeu o apelido de Boca do Inferno.

Existem muitas dúvidas quanto à autenticidade de sua obra, isto porque Gregório de Matos não publicou nada em vida, não deixou nenhum texto autografado ou produzido de próprio punho. Sua obra permaneceu praticamente inédita até o início do século XX quando a Academia Brasileira de Letras publicou seis volumes com sua produção.

A diversidade e o antagonismo do espírito Barroco também estão presentes em Gregório de Matos. Vejamos as principais características de sua obra.

DUALISMO = Refletindo o dualismo barroco oscilou entre o sagrado e o profano. Ora demonstrava aversão pelo sagrado, pelo religioso, escrevendo textos sensuais e pornográficos, ora seus poemas apresentavam uma profunda devoção a Deus e aos santos.

     INSATISFAÇÃO = Vários textos mostram sua insatisfação com a vida na colônia e sua inadaptação ao ambiente baiano, frequentemente criticado.

    FUGACIDADE = Gregório de Matos deixou claro sua consciência sobre a transitoriedade da vida. Seus textos mostram frequentemente as vaidades humanas como insignificantes e passageiras.

     OUSADIA = Ao contrário do Padre Antônio Vieira que apresentava um caráter mais conservador, com uma visão europeia, Gregório de Matos é considerado um poeta inovador e irreverente. Mesmo adepto do cultismo, também cultivou o jogo de ideias presente no conceptismo.

Embora conhecido como poeta satírico, criticando não só as pessoas, mas também as instituições da época, Gregório de Matos apresenta uma obra vasta:

                                -SACRA

*POESIA LÍRICA          -AMOROSA

                                -ENCOMIÁSTICA

*POESIA SATÍRICA

POESIA SACRA = Ou religiosa é marcada pelo conflito gerado entre a vida mundana e o a vida espiritual. Entre a consciência do pecado e o desejo de salvação. Vejamos um fragmento de sua poesia religiosa:

“ ... Esta razão me obriga a confiar,

Que, por mais que pequei, neste conflito

Espero em vosso amor de me salvar.”

POESIA AMOROSA = Na poesia amorosa, também encontramos a dualidade barroca oscilando entre o amor elevado, espiritual e o sensualismo e o erotismo do amor carnal. Vejamos dois fragmentos de sua poesia amorosa, em que o autor define o amor:

“ Ardor em firme coração nascido;
Pranto por belos olhos derramado;
Incêndio em mares de água disfarçado;
Rio de neve em fogo convertido:

Tu, que em um peito abrasas escondido;
Tu, que em um rosto corres desatado;
Quando fogo, em cristais aprisionado;
Quando cristal, em chamas derretido.

                    ------XXXXXX------

 “O Amor é finalmente um embaraço de pernas, uma união de barrigas, um breve tremor de artérias.

Uma confusão de bocas,
Uma batalha de veias, um rebuliço de ancas;
Quem diz outra coisa, é besta.”


Gregório de Matos também escreveu textos de circunstância, laudatórios, destinados a elogiar pessoas importantes da época, é a chamada POESIA ENCOMIÁSTICA. Em suas sátiras, criticou os vários tipos humanos de sua época, os costumes, os primeiros colonos nascidos no Brasil, conhecidos como “caramurus” e principalmente o relaxamento moral da Bahia, numa posição de recusa em relação à exploração da colônia. Vejamos um exemplo de sua sátira:


“Que os brasileiros são bestas
E estão sempre a trabalhar
Toda a vida por manter
Maganos de Portugal”


Padre Antônio Vieira (1608-1697) 

Vieira nasceu em Portugal e aos seis anos veio para o Brasil. Aqui ordenou-se padre jesuíta e, em 1640, quando terminou o período de dominação espanhola, voltou a Portugal. Atacado pela Inquisição por defender cristãos-novos (judeus convertidos ao catolicismo), voltou ao Brasil em 1652. Expulso do Maranhão por criticar a escravidão a que os colonos submetiam os indígenas, foi proibido de pregar e condenado a prisão domiciliar. Suspensa a pena, Vieira seguiu para Roma para pedir a anulação do processo. Voltou ao Brasil, onde morreu.

Missionário, homem de ação, político doutrinador e mestre no uso da palavra, Vieira talvez tenha vivido na época ideal, pois a Colônia não dispunha de imprensa, o público leitor era extremamente reduzido, sendo a linguagem oral o meio mais adequado para divulgar ideias e persuadir auditórios.

Sua obra divide-se em:

1) obras de profecia: em que conjuga seu estilo alegórico de interpretação da Bíblia à crença no Sebastianismo, segundo a qual um futuro de glórias estaria reservado a Portugal: História do futuro, Esperanças de Portugal e Clavis Prophetarum.

2) cartas: em que discorre sobre sua atuação, a situação da Colônia e a política da época — as relações entre Portugal e Holanda, a Inquisição, os cristãos-novos.

3) sermões (cerca de 200): longos e elaborados segundo raciocínios claros. Seus sermões compõem-se de:

intróito ou exórdio: a parte introdutória, de apresentação;

desenvolvimento ou argumento: defesa da idéia, com base, quase sempre, na exemplificação bíblica;

peroração: a conclusão, a parte final do sermão.

Seus principais sermões são:

a) Sermão pelo bom sucesso das armas de Portugal contra as de Holanda (Igreja Nossa Senhora da Ajuda, Salvador, 1640): nele Vieira conclama o povo a combater os holandeses que cercam a cidade;

b) Sermão do Mandato (Capela Real de Lisboa, 1645): nele o pregador desenvolve o tema do amor divino em oposição ao humano;

c) Sermão de Santo Antônio aos Peixes (Maranhão, 1654): aqui Vieira critica os colonos do Maranhão e pede que libertem os índios escravizados;

d) Sermão da Sexagésima (Capela Real de Lisboa, 1655): em que resume a arte de pregar.

Observe, neste fragmento do Sermão da Sexagésima, o uso das metáforas para os quatro tipos de corações e sua opinião sobre a efemeridade das coisas no mundo (tema barroco por excelência): 

Sêmen est verbum Dei (A semente é a palavra de Deus)

O trigo, que semeou o pregador evangélico, diz Cristo que é a palavra de Deus. Os espinhos, as pedras, o caminho e a terra boa em que o trigo caiu, são os diversos corações dos homens. Os espinhos são os corações embaraçados com cuidados, com riquezas, com delícias; e nestes afoga-se a palavra de Deus. As pedras são os corações duros e obstinados; e nestes seca-se a palavra de Deus, e se nasce, não cria raízes. Os caminhos são os corações inquietos e pertubados com a passagem e tropel das coisas do Mundo, umas que vão, outras que vêm, outras que atravessam, e todas passam; e nestes é pisada a palavra de Deus, porque a desatendem ou a desprezam. Finalmente, a terra boa são os corações bons ou os homens de bom coração; e nestes prende e frutifica a palavra divina, com tanta fecundidade e abundância, que se colhe cento por um: Et fructum fecit centuplum.

Manuel Botelho de Oliveira (1636-1711) 

Brasileiro, estudou em Coimbra e foi amigo de Gregório de Matos. Publicou Música do Parnaso, uma coletânea de poemas escritos em português, castelhano, italiano e latim. Foi o primeiro poeta brasileiro a editar seus poemas. Dessa obra consta o poema “Ilha da Maré”, em que se percebem traços de nativismo:

Frutas do Brasil

E, tratando das próprias, os coqueiros
Galhardos e frondosos
Criam cocos gostosos,
E andou tão liberal a natureza
Que lhes deu por grandeza,
Não só para bebida, mas sustento,
O néctar doce, o cândido alimento.
De várias cores são os cajus belos;
Uns são vermelhos, outros amarelos,
E, como são vários nas cores
Também se mostram vários nos sabores,
E criam castanha,
Que é melhor que a de França, Itália, Espanha. (...)

No período barroco apareceram entre nós as primeiras academias literárias centralizadas na Bahia: em 1724, é fundada a Academia Brasílica dos Esquecidos e, em 1759, a Academia Brasílica dos Renascidos. Elas foram importantes porque, além de intensificarem o sentimento nativista, representaram a primeira tentativa de intercomunicabilidade literária (reuniram intelectuais e escritores e estabeleceram uma aproximação cultural entre os principais centros urbanos de então) e de contato com o público. As academias também fizeram um importante trabalho de pesquisa histórica. Sebastião da Rocha Pita, cujo pseudônimo era Vago, pertenceu à Brasílica dos Esquecidos e escreveu História da América Portuguesa.


BARROCO EM PORTUGAL E LITERATURA INFORMATIVA


Barroco em Portugal


Em Portugal, o Barroco ou também chamado Seiscentismo (por ter sido estilo que teve início no final do século XVI), tem como marco inicial a Unificação da Península Ibérica sob o domínio espanhol em 1580 e se estenderá até por volta da primeira metade do século XVIII, quando ocorre a Fundação da Arcádia Lusitana, em 1756 e tem início o Arcadismo.
O Barroco corresponde a um período de grande turbulência político-econômica, social, e principalmente religiosa. A incerteza e a crise tomam conta da vida portuguesa. Fatos importantes como: o término do Ciclo das Grandes Navegações, a Reforma Protestante, liderada por Lutero (na Alemanha) e Calvino (na França) e o Movimento Católico de Contra Reforma, marcam o contexto histórico do período e colaboram com a criação do “Mito do Sebastianismo”, crença segundo a qual D. Sebastião, rei de Portugal (aquele a quem Camões dedicou Os Lusíadas), não havia morrido, em 1578, na Batalha de Alcácer Quibir, mas que estava apenas “encoberto” e que voltaria para transformar Portugal no Quinto Império de que falam as Escrituras Sagradas). D. João é visto como o novo messias, o novo salvador.

Mas o que vem a ser a palavra Barroco? Não há um consenso quanto à sua origem. A mais aceita diz que o termo deriva da palavra Barróquia, nome de uma região da Índia, grande produtora de uma pérola de superfície irregular e áspera com manchas escuras, conhecida pelos portugueses como barroco. Aproximando-se assim do estilo, que segundo os clássicos era um estilo “irregular”, “defeituoso”, de “mau gosto”. Lembre-se de que a tradição clássica era marcada pela busca da perfeição e do equilíbrio.

Vejamos quais são as principais características barrocas:

Dualismo = O Barroco é a arte do conflito, do contraste. Reflete a intensificação do bifrontismo (o homem dividido entre a herança religiosa e mística medieval e o espírito humanista, racionalista do Renascimento). É a expressão do contraste entre as grandes forças reguladoras da existência humana: fé x razão; corpo x alma; Deus x Diabo; vida x morte, etc. Esse contraste será visível em toda a produção barroca, é frequente o jogo, o contraste de imagens, de palavras e de conceitos. Mas o artista barroco não deseja apenas expor os contrários, ele quer conciliá-los, integrá-los. Daí ser frequente o uso de figuras de linguagem que buscam essa unidade, essa fusão.

Fugacidade = De acordo com a concepção barroca, no mundo tudo é passageiro e instável, as pessoas, as coisas mudam, o mundo muda. O autor barroco tem a consciência do caráter efêmero da existência.

Pessimismo = Essa consciência da transitoriedade da vida conduz frequentemente à ideia de morte, tida como a expressão máxima da fugacidade da vida. A incerteza da vida e o medo da morte fazem da arte barroca uma arte pessimista, marcada por um desencantamento com o próprio homem e com o mundo.

Feísmo = No Barroco encontramos uma atração por cenas trágicas, por aspectos cruéis, dolorosos e grotescos. As imagens frequentemente são deformadas pelo exagero de detalhes. Há nesse momento uma ruptura com a harmonia, com o equilíbrio e a sobriedade clássica. O barroco é a arte dos contrastes, do exagero.

Tensão religiosa = Intensifica-se no Barroco, aspectos que já vinham sendo percebidos no Humanismo e no Classicismo:


ANTROPOCENTRISMO X TEOCENTRISMO = TENSÃO


A igreja católica, através da Contra Reforma, tenta recuperar o teocentrismo medieval (Deus como centro de todas as coisas) e o homem barroco não deseja perder a visão antropocêntrica renascentista (O homem como o centro de todas as coisas), assim o Barroco tenta atingir a síntese desses valores, ou seja, tenta conciliar razão e fé, corpo e alma, espiritualismo e materialismo. Poderíamos dizer que seria, em outras palavras, a racionalização da fé, a busca da salvação através da lógica.

O Barroco apresenta duas faces. Vejamos quais são:


- Cultismo

- BARROCO

- Conceptismo


CULTISMO = Corresponde ao jogo de palavras e imagens visando ao rebuscamento da forma do texto, à ornamentação e à erudição vocabular. Nessa vertente barroca é comum o uso exagerado das figuras de linguagem, como metáforas, antíteses, hipérboles, hipérbatos, entre outras. O cultismo também é chamado de Gongorismo, por ter sido muito influenciado pelo poeta espanhol Luís de Gôngora.

CONCEPTISMO = Corresponde ao jogo de ideias e de conceitos, pautado no raciocínio lógico, visando ao convencimento à argumentação. O conceptismo também é chamado de Quevedismo, por ter sido muito influenciado pelo também espanhol, Francisco Quevedo.

O jogo não só de ideias, mas também de palavras pode ser compreendido sob dois aspectos: um primeiro e mais visível se relaciona ao próprio espírito de contradição do Barroco e um segundo e mais sutil, relaciona-se à necessidade que os poetas tinham de escapar da rígida censura da Inquisição, daí o uso exagerado das metáforas (figura de linguagem usada para sugerir ideias de maneira sutil).

Padre Antônio Vieira é sem dúvida o grande nome do Barroco em Portugal. Por ter passado boa parte de sua vida no Brasil, alguns estudiosos costumam dizer que ele, juntamente com Gregório de Matos, é representante do Barroco brasileiro. Entretanto, como mostram outros autores, não podemos esquecer que mesmo escrevendo no e sobre o Brasil, o seu ponto de vista era sempre o do defensor dos interesses do intelectual europeu.

O Sermão da Sexagésima é uma de suas principais obras. Nela, Padre Antônio Vieira faz uma série de reflexões a respeito da arte de pregar, constituindo-se assim uma obra metalinguística, ou seja, se utiliza do próprio sermão para ensinar como fazê-lo, sempre condenando os exageros do cultismo. Vieira era contrário aos que se preocupavam apenas com as palavras, esquecendo-se da Palavra de Deus, com letra maiúscula.
Literatura Informativa


                                  A Primeira Missa, Vítor Meireles (1832-1903).

Quando chegaram aqui os portugueses encontraram uma grande população indígena:

A Dança dos Tapuias, Albert Eckhout (1610-1655)

No Brasil, a população de alfabetizados era pequena e a vida urbana era ainda muito precária. Não se costuma falar de Literatura brasileira propriamente dita neste período. A produção escrita do século XVI limitava-se a um conjunto de relatos escritos registrando as características físicas, étnicas e culturais da nova terra, relaciona-se mais às crônicas históricas que ao gênero literário. A esses relatos dá-se o nome de Literatura de Informação ou Literatura de Viagens.
Ao lado dessa produção começaram a surgir, pelas mãos dos jesuítas, as primeiras ocorrências de prosa, poesia e teatro em solo brasileiro, mas ainda, a partir da visão do europeu.

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